segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Juca Paranhos: bon vivant... - Alexandre Belmonte

Há diversos equívocos neste artigo, a começar pelo título: Juca Paranhos nunca foi barão; quando este "surgiu', o personagem já não era mais o Juca Paranhos, e sim o cônsul-historiador, filho do seu pai, ou seja, o Visconde...
Não vamos nos enganar, nem exagerar, nem misturar as coisas...
Esta matéria, aliás, já foi postada aqui, em outro formato...
Paulo Roberto de Almeida
Juca Paranhos: o barão bon-vivant

Patrono da diplomacia brasileira, o Barão do Rio Branco - cujo centenário da morte é lembrado este ano - curtiu muito a vida até ter atuação fundamental na consolidação do território nacional

Alexandre Belmonte
Revista de História da Biblioteca Nacional6/2/2012
Corre o ano de 1862 e a boemia acadêmica está no seu apogeu: o Romantismo está em toda a parte. No quarto de uma república na esquina do Beco dos Cornos, em São Paulo, o futuro barão dorme com a cabeça apoiada num velho paletó, enfiado a socos numa fronha, após uma noite de algazarra. A luz é de velas, postas em gargalos de garrafa. Uma ruidosa comemoração acaba de acontecer.
Sim, estamos falando de José Maria da Silva Paranhos Junior, o barão do Rio Branco – ou Juca Paranhos, para os íntimos. Como lembra Marcio Tavares D’Amaral, em "O Barão do Rio Branco" (Editora Três, 1974), as bagunças aconteciam “a qualquer propósito ou sem propósito algum”. Nada que um banho frio não curasse: Juca costumava se banhar, nu em pelo, no rio Tamanduateí.
Saraus literários, serenatas noturnas com flauta, violão e cavaquinho, e um jovem pela primeira vez longe dos pais, numa cidade estranha. O futuro barão vivia numa república com outros jovens, que o definiam como um “colega agradável, sempre alegre, pronto para as festas e brincadeiras”. A cavalo, ia até a Penha, a Pinheiros e ao Ipiranga. Presença constante em teatros, circos, corridas de cavalo, bailes, e também em procissões e missas cantadas. Na livraria Garraux ou em alguma confeitaria, passava horas a conversar. Vai para o Recife, conclui o bacharelado e parte para a Europa, com um prêmio de loteria de 12 contos de réis nos bolsos!

'Uma vida perdida de boêmio'
Seus hábitos pareciam incomodar muita gente. Era vaidoso, usava cabelos longos, penteados para trás, e uma solene sobrecasaca. Gostava de vestir-se bem, e dizem que era elegante e polido, de uma beleza quase feminina. Luís Viana Filho, um de seus biógrafos, chega a dizer que “nada o deliciava mais do que a indiscrição de um decote, permitindo-lhe avançar o olhar sobre um belo colo”. Ainda no Colégio Pedro II, o futuro barão iniciava sua vida sentimental de mãos dadas com uma menina da sua idade – mas era ainda tão criança que seu pai, o visconde do Rio Branco, ia buscá-lo na saída da escola.
No Rio, o barão passava várias noites em teatros e cafés, e muitos diziam que levava “uma vida perdida de boêmio”. Almoçava às 3 da tarde e jantava de madrugada, na companhia das atrizes do Teatro Alcazar. É aí que, em 1872, apaixona-se pela atriz belga Marie Stevens. O primeiro filho do casal nasce um ano depois, em Paris, e Juca faz com que ela regresse prontamente ao Brasil. Somente após dois anos é que sua mãe aceita batizar o pequeno Raul, e mesmo assim por procuração.
Nascem mais filhos, e a princesa Isabel, valendo-se da ausência do pai, assina seu ato de nomeação de cônsul em Liverpool. Marie vai para Paris com as crianças, enquanto Juca se prepara para ir a Liverpool. Nesse ínterim, apaixona-se pela sobrinha do Duque de Caxias, Maria Bernardina, “um anjo de beleza” de apenas 15 anos. Vai para Liverpool e passa seu tempo entre seus afazeres na cidade inglesa e sua vida familiar em Paris. Escreve a um amigo italiano, em 1877, dizendo que a situação não vai bem com a “marechala”: não consegue romper seu casamento com Marie e desposar Maria Bernardina. “É muito difícil, muito doloroso para um pai não saber qual será o destino e o futuro dos seus filhos”, desabafa.
Na edição impressa você confere um artigo sobre a atuação fundamental do barão na consolidação do nosso território no início da República, incluindo ainda uma foto pouco conhecida do jovem Juca Paranhos, aos 17 anos. Veja também as homenagens ao barão marcadas para este ano no Rio de Janeiro e em Brasília.
Alexandre Belmonte é pesquisador da Revista de História da Biblioteca Nacional
Grande orador, Rio Branco discursa na abertura da 3ª Conferência Pan-Americana, no Palácio Monroe, em agosto de 1906.
Foto: Wikimedia Commons
Foto: Wikimedia Commons











Adivinhem quem vai pagar?

Os mesmos de sempre, caro leitor: os clientes dos bancos...
Ou alguém acha -- talvez o Obama ache isso -- que os pobres banqueiros vão ficar mais pobres recolhendo impostos para o governo?
Alguém aqui acha isso?
Paulo Roberto de Almeida


From the Editors of American Banker
The White House plans to ask the largest U.S. firms to pay a $61 billion 'bank tax,' part of which will be used to pay for the administration's massive refinancing plan.

Privataria, PT style...: nothing to add, nothing to comment...


Matéria de um entendido...
Claro, não precisamos ficar preocupados: se trata de mera concessão, não de privatização.
Há uma ENORME diferença entre as duas coisas, sobretudo entre as COISAS...
Paulo Roberto de Almeida 
A "Concessão" dos aeroportos


Dilma entendeu de cara, a fria em que estava entrando.
Acompanhou o leilão em tempo real mas, em vez de comemorar os R$ 24,5 bilhões “angariados” – muito, mas muito mesmo a mais do que qualquer pessoa séria esperava que oferecessem pelo que estava à venda – saiu murmurando entre dentes:
 Vocês sabem como é governo: faz uma etapa e tem de fazer todas as outras. Agora tem que fazer com que as outras etapas aconteçam“.
Deve ter passado a noite em claro sonhando acordada com os instrumentos medievais de tortura que gostaria de usar em Wagner Bittencourt, o Secretário de Aviação Civil da Presidência da República que a enfiou nessa enrascada.

São 30% dos passageiros e 57% da carga do transporte aéreo nacional entregues a uma empresa africana de credenciais duvidosas que ficou com nada mais nada menos que Guarulhos; um trambiqueiro argentino de extensa folha corrida que, muito adequadamente, ficou com Brasília; e uma operadorazinha francesa especializada em negociar com genocidas africanos que levou Viracopos.
Se os dois outros vencedores são duvidosos, o argentino que levou Brasília é explícito. Daqueles que não regula mixaria. “Pagou” nada menos que 673,39% de ágio! R$ 4,5 bi pela outorga mais compromissos contratuais de R$ 2,8 bi de investimentos.
Andou fazendo coisa parecida na Argentina, onde opera aeroportozinhos regionais. Prometeu mundos e fundos. Quando as contas começaram a indicar que seria mais caro para o governo retomar os aeroportos que renegociar o contrato com o espertalhão, ele começou a cutucar o palácio.

Tentou com Duhalde em 2003. Não conseguiu. Empurra daqui, empurra dali, acabou arrancando uma renegociação de Nestor Kirshner.
Em vez dos royalties anuais devidos (equivalentes às nossas prestações pela outorga), devolveu ao governo 15% das receitas, quaisquer que fossem elas. E evidentemente elas são muito menores do que os royalties devidos. Repactuou também os planos de investimentos e emitiu títulos para pagar com papéis o resto do que devia.
Ainda assim, continua devendo US$ 104 milhões para a Casa Rosada, segundo o jornal Valor.  Como um tipo desses leva o aeroporto da capital do Brasil com a simples promessa de pagar quase sete vezes o que foi pedido pela concessão é coisa que o PT terá de explicar logo logo à Nação…
  
Já Guarulhos, o maior aeroporto do país, fica para uma obscura companhia da África do Sul que se apresenta à frente dos – adivinhem? – fundos de pensão das estatais (leia-se, o próprio PT). Esse consórcio Invepar é da onipresente Previ, que tem 38% do capital, da Funcef e da Petros, seus fiéis escudeiros representando os funcionários da “nossa” Caixa e do “nosso” petróleo (o Brasil bem que merece!), e ainda da OAS (19,4%), aquela empreiteira da família do finado Antônio Carlos Magalhães que andou encolhendo desde que ele se foi deste mundo.
Pois é. O dinheiro tem o condão de enterrar ideologias…
O governo não esperava obter por Guarulhos mais que R$ 6 bi. Quando o leilão chegou aos R$ 12 bi, um adviser das companhias mais sérias e experientes do mundo na administração de aeroportos já garantia aos presentes que “essa conta não fecha“. Pois depois disso ela aumentou mais um terço. Foi a R$ 16,2 bi, mais R$ 4,6 bi em reformas contratuais para a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016!
A receita total do aeroporto de Guarulhos calculada pelo governo para os 20 anos da concessão é de R$ 17 bi, apenas 5% a mais do que os fundos do PT pagaram só pela outorga.

As prestações por essa outorga, posto esse número, sobem a R$ 800 milhões por ano. Hoje o faturamento total de Guarulhos é de R$ 500 milhões…
Como fechar a conta se o contrato diz que as tarifas aeroportuárias não podem subir?
 Com receitas não tarifárias como estacionamentos e restaurantes“, diz candidamente Gustavo Rocha, presidente da Invepar . (E com financiamentos do BNDES, é claro).
Nada, enfim, como fazer contas com dinheiro “nosso”…
Ao fim e ao cabo, a proposta mais “pé no chão” foi a do endividado Grupo Triunfo com seus franceses misteriosos, que pagou “apenas” 159% de ágio por Viracopos. É o mesmo grupo que, em 2008, “levou” as rodovias Ayrton Senna e Carvalho Pinto, em São Paulo, mas acabou sendo desabilitado porque não conseguiu cumprir o que prometeu. Pelo menos ele devolveu o que não conseguiu pagar.

Compras da China na AL: graos, em lugar de terras?

Alguém, minimamente informado sobre economia e relações internacionais, poderia me informar qual é a diferença entre deixar os chineses comprar terras para produzir grãos, e exportar para a China, e comprar grãos para exportar para a China?
Seria apenas o impedimento de possuir terras?
Se os chineses comprarem as terras eles poderão fazer alguma coisa errada com essas terras, seria isso?
Por exemplo, produzir grãos e exportar 100% da produção, sem deixar nada para os pobres nacionais?
Mas, eles não estão proibidos de comprar 100% da produção de nacionais, certo?
Então, preferimos não ter o dinheiro da compra, e os investimentos novos na produção, e investir nós mesmos, sem receber nada permanente, e apenas vender a produção, certo?
Que inteligente, não é mesmo?
Paulo Roberto de Almeida 



China 'troca' infraestrutura por grãos na América do Sul 
Assis Moreira | De Genebra
Valor Econômico, 13/02/2012

A China está mudando seu modelo de investimentos na agricultura da América do Sul. Diante das restrições a estrangeiros para a aquisições de terras no Brasil e na Argentina, os chineses passaram a privilegiar aportes em infraestrutura em troca do direito exclusivo de comprar a colheita. 

Para o Rabobank, banco holandês líder em financiamentos ao setor de agronegócios, a China tende a aumentar exponencialmente seus investimentos na América do Sul como forma de garantir seu abastecimento, sobretudo de soja, e aumentar cada vez mais as compras de milho. 

O banco menciona que estimativas da consultoria Deloitte sobre investimentos chineses no Brasil indicam que, em geral, o montante poderá alcançar US$ 40 bilhões até 2014. Em 2007, o estoque era inferior a US$ 100 milhões. Na Argentina, os aportes passaram de US$ 10 bilhões desde 2009. Outros US$ 3 bilhões a 4 bilhões foram anunciados em novos projetos agrícolas. 

Renato Rasmussen, economista do Rabobank e um dos autores do estudo do banco sobre a expansão chinesa no agronegócio da América do Sul, nota que o plano inicial de Pequim era comprar terras e produzir. Agora, para evitar problemas depois que Brasil e Argentina impuseram restrições à aquisição ou leasing de terras por estrangeiros, grupos chineses partiram para um modelo que corresponde, em parte, ao desejo desses países em atrair investimentos em infraestrutura e exportar produtos de maior valor agregado. 

Para o Rabobank, provavelmente o primeiro grande investimento chinês nesse novo modelo ocorrerá em Barreiras, na Bahia. É onde a companhia Chongqing Grain passará a processar 2 milhões de toneladas de soja já nesta safra 2011/12, produzida por parceiros em joint venture em 100 mil hectares de terra. Rasmussen voltou de Pequim com a convicção de que o projeto em Barreiras será maior do que o previsto inicialmente. Em 2011, o plano era de investimentos de US$ 2 bilhões. 

Conforme o banco, outro grande projeto pelo novo modelo pode envolver US$ 7,5 bilhões em investimentos em Goiás pela companhia Hopeful Sanhe. O plano é investir em transporte e armazenamento de soja para assegurar o suprimento anual de 6 milhões de toneladas para a China, o equivalente a 80% de toda a produção de soja de Goiás, que foi de 8,2 milhões de toneladas no ciclo 2010/11. Pequim também poderá fornecer fertilizantes, defensivos e sementes para aumentar a produção agrícola no Estado e viabilizar o comércio. 

O mesmo modelo está sendo proposto na Argentina. O Beidahuang Group fez um acordo com o governo da Província de Rio Negro para investir US$ 1,5 bilhão durante dez anos na irrigação de vales que atualmente não têm produção agrícola. Em troca, a empresa garante exclusividade para comprar a produção local de soja, milho e trigo. O projeto envolve 300 mil hectares de terra. 

Companhias chinesas também investem em insumos. A Tierra Del Fuego Energia y Química quer construir uma planta na área, e a Sinochem International está abrindo uma subsidiária na Argentina focada em agroquímicos. 

O banco vê potencial também para a expansão de acordos, por meio dos quais as companhias chinesas asseguram o acesso à produção na América do Sul através de financiamento barato das colheitas. Pequim tem centenas de bilhões de dólares em reservas e pode financiar a custos bem mais baixos do que a maioria dos concorrentes. 

A China tanto assegura contratos de longo prazo para reduzir sua exposição a vulnerabilidades no abastecimento agrícola, como torna-se menos dependentes das grandes companhias tradings e evita custos de intermediação. 

O país é o maior consumidor desses produtos e não pode atender sua demanda com a produção doméstica. Por isso, é o maior importador do complexo soja para atender sua indústria de suínos e aves, representando metade do volume negociado internacionalmente. Suas importações podem alcançar 58 milhões de toneladas de soja em grão em 2011/12, mais do que a produção da Argentina (53 milhões)

Que tal um Premio Darwin para o MDIC?; o caso da defesa comercial nao protecionista...

Um caso para os Darwin Awards, se o MDIC conhece o prêmio, claro, que distingue coisas como essas que andam sendo feitas.
Reparem no que está sendo dito: o mundo não nos compreende, não fazemos protecionismo, só adotamos medidas de defesa comercial. E isso porque aumentou o comércio, vocês compreendem: aumenta o comércio, aumentam os problemas e só por isso, aumentaram as medidas de defesa comercial.
Isso é para resolver os problemas, vocês compreendem, temos de ter competitividade e para isso precisamos de mais defesa comercial, são essas as medidas que nos dão competitividade, não lhes parece lógico isso? Tudo é simples e ninguém precisa ficar preocupado, nem os mexicanos, mesmo se nós sempre queremos comércio positivo para nós, mas não para eles, isso vocês compreendem, não é?
Aumentar tarifas até 35%, quando a TEC do Mercosul só vai até 20%, não é protecionismo, é só medida de defesa comercial, e isso precisa ficar claro.
Da mesma forma, exigir conteúdo local de 65% não é protecionismo, só estamos valorizando a proteção local, isso é competitividade, legítima, lógico, não?
Ou não?
Paulo Roberto de Almeida 


Entrevista / Fernando Pimentel
Darwinismo comercial
Luiz Antonio Cintra
Carta Capital, 13/02/2012

O ministro do Desenvolvimento defende as medidas protecionistas, explica as frentes de batalha do Brasil e afirma: "O mundo mudou"

Embora o livre-comércio tenha vigorado por poucos anos na história e o atual momento da humanidade não seja exatamente de triunfo das ideias liberais, o governo brasileiro tem sido fortemente criticado internamente por suas medidas de defesa comercial, que incluem a revisão do acordo com o México e o retorno de velhas pendengas com a Argentina. Ou por seu protecionismo démodé, como preferem os opositores das politicas adotadas.

Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, está no comando da batalha que se desenrola em frentes e continentes diversos. Nas últimas semanas, ele trocou farpas com a ministra argentina, Débora Giorgi, negociou insensamente com os mexicanos, respondeu ao aumento do IPI para carros importados e preparava-se para uma nova rodada de conversas com os chineses. “ Há uma certa incompreensão do que está ocorrendo no Brasil e no mundo", afirma Pimentel na entrevista a seguir.

CartaCapital: Nos últimos dias, surgiram críticas ao governo por uma  suposta "escalada protecionista". Como o senhor responde a essas críticas?
Fernando Pimentel: Há certa incompreensão, não das medidas adotadas, mas do que está acontecendo no mundo e no Brasil nos últimos anos. O Brasil aumentou sua inserção internacional de maneira notável. Há cinco ou seis anos, tínhamos uma corrente de comércio, ou seja, somando as exportações e importações, na casa de 120 bilhões ou 130 bilhões de dólares ao ano. O valor saltou para 400 bilhões de dólares, quase 500 bilhões: 260 bilhões de exportação e 240 bilhões de importação. Mais que duplicou a corrente de comércio, com a mesma estrutura, o mesmo arcabouço jurídico, institucional, de infraestrutura, com portos sobrecarregados, aeroportos sobrecarregados... Tudo em decorrência de um trabalho feito pelo País no comércio internacional. Não só no trânsito de mercadorias, mas também no fluxo de pessoas, de serviços, tudo aumentou numa proporção muito grande. Esse aumento acelerado da inserção brasileira tem de ser acompanhado de adaptações da estrutura de comércio, legislação e fiscalização. É natural. Evidentemente, quando existe um fluxo tão grande de importações, aumenta a demanda do setor privado sobre o governo, pedindo medidas de defesa comercial. Mas isso não é protecionisrno, a defesa comercial está nas regras da Organização Mundial do Comércio. O ministério passou anos com uma média de 30 a 50 investigações antidumping ao ano. Em 2011, tivemos 127 investigações abertas. Alguém poderia dizer que estamos em um surto de protecionismo, mas não é verdade. É apenas uma adaptação da estrutura de governo a essa realidade nova. Se aumentou a corrente comercial, evidentemente as investigações antidumping vão crescer dentro da mesma proporção. Quando uma parte da mídia falar de protecionismo, ele desconhece que mudou  a conjuntura comercial. Em paralelo, temos um grande esforço para estabelecer na indústria um novo tipo de atividade, adequado a esse aumento da exposição para o mundo. Na medida em que se abre a economia, é preciso tornar-se mais competitivo. Essas medidas tomadas recentemente buscam aumentar a capacidade de competição da nossa indústria. Queremos incentivar a inovação, usar os instrumentos de tributação e desoneração, no sentido de melhorar as condições de competitividade industrial.

CC: E no caso da revisão do acordo com o México?
FP: O acordo do México foi assinado em 2002, ou seja, dez anos atrás. Note a mudança que houve no mundo e na economia brasileira no período. Vamos manter o acordo intocado, como se nada tivesse acontecido? Não, vamos rever, estamos propondo aos mexicanos uma revisão para torná-lo mais adequado, mais comtemporâneo, tanto para a nossa realidade como para a deles.

CC: Surgiram várias medidas de defesa comercial mundo afora e outras para dinamizar as indústrias nacionais.Opresidente Obama recentemente colocou esse objetivo no topo da agenda norte-americana. Qual o peso dessa conjuntura? 
FP: Sem dúvida, ela pesa. Temos de acompanhar e responder ao movito dos países do chamado G-8. Todos eles estão extremamente cautelosos em relação às suas próprias economias e claramente preocupados com a mesma coisa que nós, ou seja, com a possível perda de competitividade. Temos um mercado muito ativo, dinâmico, em expansão. É preciso defender esse mercado, principalmente de práticas comerciais desleais. Não é protecionismo, mas defesa comercial, eu volto a insistir. E os americanos também fazem isso. A preocupacão dos Estados Unidos, que é a mesma do Brasil, é adaptar a indústria, dar um choque de competitividade, para que ela se adapte ao século XXI. A indústria brasileira é poderosa, sólida, mas é do século XX. E a mudança tecnológica foi muito forte nos últimos 15 ou 20 anos. Se não houver um esforço de acompanhamento, de dar esse salto tecnológico, aí sim começam a surgir sinais de envelhecimento, a indústria fica velha antes da hora.

CC: No caso das negociações com o México, em que sentido vai a proposta brasileira?
FP: Não será um processo muito fácil, não vamos resolver em uma semana. O Brasil quer basicamente expandir o acordo para além dos carros de passeio. Queremos incluir também os caminhões. Digo isso para afastar a ideia de que queremos reduzir o comércio como restante do mundo. Nós queremos ampliar o comércio, mas em condições mais equilibradas. Houve um desequilíbrio muito forte, especialmente no ano passado, quando ficamos claramente desfavorecidos no acordo. E queremos uma nova regra de aferição do conteúdo regional na fabricação de automóveis. Do jeito qUe está lá não ficou bom. Importam carros do México com 15% de autopeças mexicanas ou brasileiras, o que é muito pouco.

CC: Qual seria o índice desejável? 
FP: Não vamos fechar questão, depende muito de quanto o México pode atingir. Podemos estabelecer metas móveis, começar com 20%, subir a 30%, mas aí é a negociação que vai dizer. E com revisões periódicas.

CC: E no caso argentino?
FP: Dei uma entrevista em janeiro, reproduzida no mundo inteiro, em que eu dizia que a Argentina era um problema permanente para o Brasil. Eles reagiram de forma um tanto áspera, mas depois liguei para a ministra argentina (Decora Gíorgí, da indústria e Comércio) e expliquei a ela. A palavra "problema" foi usada no sentido de questão, não no sentido negativo. A Argentina é uma questão permanente para o Brasil, assim como o Brasil é uma questão permanente para a Argentina.

CC: Qual a prioridade do governo neste momento?
FP: Estamos combinando ações de curto prazo, essas de defesa comercial, de acompanhamento dos acordos bilaterais, para preservar a capacidade de competir da nossa indústria. E preservar também o nosso mercado. Então, as ações de curto prazo são fundamentais para que a indústria tenha fôlego para continuar investindo e se beneficiar das ações de médio e longo prazo, que incluem os incentivos à inovação, a desoneração das exportações... Às vezes, vejo críticas dizendo que o governo está fazendo só o "varejo" e não teríamos estratégia de alterar as condições, mas é o contrário. O varejo está sendo feito justamente para que a estratégia de longo prazo possa acontecer. Somos o primeiro governo com ousadia de começar o processo de desoneração da folha de pagamento. Fizemos em quatro setores. Com isso, estamos de fato reduzindo o Custo Brasil. Agora os efeitos não são imediatos. O governo também está fazendo um esforço muito forte para que o setor privado possa inovar. E isso não só com financiamento, mas com programas de longo prazo. A presidenta lançou, no fim de 2011, um programa importantíssimo de bolsas de pós-graduaçâo no exterior. Hoje temos só 5,5 mil bolsistas fora do País, neste ano chegaremos a 18 mil, até chegar a 100 mil. E isso para que a gente tenha capacidade de dar o salto tecnológico. O "varejo" é fundamental para que a nossa indústria consiga atravessar os próximos três ou quatro anos e se beneficiar dos efeitos positivos da estratégia traçada.

CC: Existem outros acordos que o governo pretende rediscutir?
FP: Não, mas na segunda-feira 13 chegará ao Brasil o více-primeiro-ministro da China, o terceiro homem na hierarquia politica chinesa. Ele é uma espécie de coordenador do gabinete do primeiro-ministro. Ainda que seja uma visita de Estado, estamos aproveitando para, a partir de algumas premissas, começar a construção de um acordo de longo prazo, estratégico, com a China. É nisso que queremos trabalhar ao longo deste ano, ainda que esteja por enquanto muito embrionário. Ainda não temos metas nem nada, vamos apenas abrir a discussão com eles e provavelmente vamos fazer mais uma ou duas missões à China, já que ela se tornou um parceiro muito importante para o Brasil. Nós queremos que essa relação prossiga, mas, volto a dizer, de forma mais equilibrada. Não queremos ser apenas fornecedores de matérias-primas para a China, queremos fornecer também manufaturados. Isso é algo estratégico que vamos começar a tratar com os chineses neste ano.

Desequilibrio nas transacoes correntes? Crise em vista? Editorial do Estadao


Perigo nas contas externas
Editorial O Estado de S.Paulo, 12 de fevereiro de 2012


As contas externas vão piorar neste ano, segundo todas as previsões, e uma luz amarela já se acendeu em Brasília. Mais uma vez a economia nacional vai ser puxada pelo mercado interno, isto é, pelos gastos do governo, pelo consumo das famílias e pelo investimento das empresas - se nenhum grande susto levar a um adiamento dos projetos. Autoridades têm chamado a atenção para o mercado interno como uma das vantagens do Brasil em relação a muitos outros países. É esse o mais importante ativo econômico brasileiro, já disseram alguns ministros em momentos de grande entusiasmo. Mas esse tipo de crescimento envolve riscos. Quando a demanda avança bem mais velozmente que a oferta doméstica, é preciso importar mais para compensar a diferença. Sem isso, o resultado é mais inflação. Mas há limites para a capacidade de importar e é preciso administrar com prudência as transações com o exterior. O governo sabe disso, mas deu pouca importância - até agora, pelo menos - à expansão do déficit na conta corrente do balanço de pagamentos.
As principais projeções para as contas externas variam amplamente, mas todas apontam para uma deterioração. Segundo o Banco Central (BC), o superávit comercial vai diminuir este ano dos US$ 29,8 bilhões do ano passado para US$ 23 bilhões. As exportações aumentarão apenas 4,3%, para US$ 267 bilhões, enquanto as importações crescerão 7,9%, para US$ 244 bilhões. Como o déficit em serviços continuará em expansão e as transferências pouco deverão mudar, o buraco na conta corrente se ampliará de US$ 52,6 bilhões para US$ 65 bilhões - de 2,1% para 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB).
Economistas do mercado financeiro e de consultorias são um pouco mais pessimistas. Projetam um superávit comercial de US$ 19,5 bilhões neste ano e um déficit em conta corrente de US$ 67,9 bilhões. Além disso, já arriscam projeções para 2013 - superávit de US$ 14,5 bilhões na conta de mercadorias e um rombo de US$ 70 bilhões nas transações correntes.
A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) tem previsões muito mais sombrias: exportações de apenas US$ 236,6 bilhões - menores, portanto, que as do ano passado - e importações de US$ 233,5 bilhões, 3,2% maiores que as de 2011. O saldo, pouco superior a US$ 3 bilhões, será o menor em dez anos.
Apesar da ampla diferença entre os números, todas as projeções são baseadas em pressupostos comuns: a Europa continuará em grave crise, a situação pouco deverá melhorar nos Estados Unidos e o crescimento chinês, embora ainda exuberante, será menor do que foi nos últimos anos. A estagnação geral, agravada com a perda de impulso da economia chinesa, resultará em preços menores para os produtos básicos, tanto agrícolas quanto minerais. Como as commodities - matérias-primas e produtos com baixo grau de processamento - têm representado mais de 60% da receita comercial brasileira, o valor das exportações será muito afetado, se as previsões de baixa das cotações se confirmarem.
O temor de um desempenho comercial muito fraco neste ano já contamina os formuladores da política econômica. No Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, a projeção do superávit na conta de mercadorias está na faixa de US$ 10 bilhões a US$ 12 bilhões. O cenário inclui tanto um aumento de importações causado pelo excesso da demanda interna quanto uma expansão medíocre das exportações, por causa do arrefecimento da economia chinesa e da queda de preços das commodities.
Todos os cenários apontam para um déficit maior na conta corrente. Quanto maior esse déficit, piores deverão ser as condições de seu financiamento, mais dependente de endividamento e de capitais especulativos. O sinal ainda é de alerta e é bom agir antes de se acender alguma luz vermelha. O governo dará um bom passo adiante se reconhecer, afinal, a insuficiência de seu Plano Brasil Maior e começar a pensar seriamente em como fortalecer a indústria para competir em todos os mercados. Para isso, precisará confiar menos em remendos fiscais e em barreiras protecionistas e cuidar mais da produtividade e dos custos.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Associacao Chavez-Lula-Dilma: refinaria da Petrobras

O editorial do Estadão não conta a história toda dessa refinaria da Petrobras.
Em primeiro lugar, que ela não precisaria necessariamente estar sendo construída em Pernambuco, pois outros estados a disputavam e também ofereceram condições excelentes: Bahia, Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará.
A escolha de Pernambuco NÃO foi feita em bases técnicas, econômicas, objetivas, colocando no papel todos os dados técnicos e econômicos dos diferentes lugares possíveis.
Ela foi feita em bases inteiramente políticas, e não por estadistas, economistas ou simples políticos brasileiros, em total soberania, como deveria ser.
Ela foi feita pessoalmente por Hugo Chávez, com base em suas opiniões pessoais, não com base a um julgamento bem informado no plano técnico.
O ex-presidente Lula, a ex-ministra das Minas e Energia, logo em seguida convertida em ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, concordaram imediatamente, sem discutir, com a proposta de Hugo Chávez, o que é uma tremenda renúncia de soberania, e uma demonstração da falta de critérios técnicos na escolha do local.
Agora, independentemente de todos os atrasos do processo, como descreve esse editorial, a Petrobras ainda aguarda decisão da PDVSA (ou seja, de Chávez, pois nada, hoje, na Venezuela, repito NADA, se faz sem a palavra do caudilho). Lamentável...
Paulo Roberto de Almeida 

PDVSA falha, outra vez

Editorial O Estado de S.Paulo

11 de fevereiro de 2012 | 3h 08

Terminou, em 31 de janeiro, mais um prazo que complacentemente a Petrobrás vem concedendo à estatal venezuelana PDVSA para que cumpra, afinal, sua parte na sociedade para a construção da Refinaria Abreu e Lima, em Ipojuca (PE). Há muito tempo está mais do que evidente que a empresa controlada pelo governo bolivariano de Hugo Chávez não é sócia confiável. A PDVSA deveria se responsabilizar por 40% do custo da obra, mas, até agora, não colocou nenhum centavo.
A diretoria da Petrobrás, mesmo assim, anuncia que "nos próximos dias" decidirá se prorroga o prazo mais uma vez ou se cancela a parceria. Nunca foram explicitadas as razões técnicas para essa parceria - de inspiração político-ideológica -, e a incapacidade da parte venezuelana de cumprir o que foi acertado já deveria ter levado a Petrobrás a desistir da parceria. A empresa brasileira tem outra grande oportunidade para fazer isso. Não deveria desperdiçá-la novamente.
Estabelecida em 2005, por iniciativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - então vivamente interessado em estabelecer alianças com governos de inspiração esquerdista e de discurso antiamericano, como o do venezuelano Hugo Chávez, certamente imaginando que tais alianças fortaleceriam sua liderança regional -, a parceria entre o Brasil e a Venezuela para a construção da refinaria em Pernambuco não saiu do papel.
O acordo previa que a Petrobrás se responsabilizaria por 60% dos custos da obra e a PDVSA, pelos restantes 40%. A refinaria foi projetada para processar 230 mil barris de petróleo por dia, uma parte proveniente do Campo de Carabobo, na Venezuela, e outra do complexo de Marlim, na Bacia de Santos, em partes iguais. Cada uma delas exigiria equipamentos específicos, por causa da diferença dos óleos desses campos.
O BNDES concedeu financiamento de R$ 10 bilhões para a construção da Refinaria Abreu e Lima. As duas sócias deveriam se responsabilizar por esse empréstimo, na proporção de sua participação na sociedade.
Mas, envolvida em uma crise operacional e financeira - que se agrava à medida que o governo de Chávez a utiliza cada vez mais para a execução de programas de cunho assistencialista -, a PDVSA vem encontrando dificuldades para oferecer as garantias bancárias exigidas para assumir sua parcela no financiamento.
Do início de 2011 até agora, a PDVSA deixou de cumprir três prazos (o primeiro venceu em agosto; o segundo, em novembro; e o terceiro, em janeiro) para se responsabilizar por sua parte no empréstimo e, desse modo, formalizar sua parceria com a Petrobrás na refinaria em construção em Pernambuco. Mais uma vez, a estatal chavista não conseguiu comprovar as garantias exigidas pelo BNDES.
Mesmo que, na hipótese de a Petrobrás lhe conceder novo prazo, a PDVSA consiga se habilitar a assumir sua parte no empréstimo do BNDES, a questão não estará resolvida. Será necessário fechar os contratos financeiros, o que implicará a aceitação, pela PDVSA, dos valores já gastos na obra. Como manobra meramente protelatória, a estatal controlada por Chávez já questionou publicamente os valores anunciados pela Petrobrás como tendo sido aplicados na Refinaria Abreu e Lima, tendo informado até mesmo que contrataria uma consultoria independente para auditar o custo das obras já realizadas. Poderia, na hipótese otimista de ter aprovadas pelo BNDES as garantias oferecidas, lançar mão dessa manobra mais uma vez, para retardar sua entrada na sociedade, pois isso exige colocar dinheiro na refinaria.
As obras da Abreu e Lima começaram em setembro de 2007 e estima-se que 50% delas já tenham sido executadas, tudo bancado pela sócia brasileira. Por isso, a Petrobrás ainda não encomendou a unidade que processará o óleo proveniente da Venezuela. Com ou sem a participação da PDVSA, a Petrobrás mantém a previsão de que a refinaria estará pronta em 2013.

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