segunda-feira, 2 de abril de 2012

STF suspende investigação contra ministro (ininvestigavel)

Faz sentido: um ministro não é uma pessoa normal. Ele não pode ser investigado como eu e você.
Só com autorização divina...
Trata-se de alguém com comportamentos anormais.
Só pode ser tratado de maneira anormal...
Querem apostar uma coisa? O ministro em questão NUNCA será investigado.
Com a ajuda do Supremo, claro...
Paulo Roberto de Almeida

STF suspende investigação contra Mantega sobre Casa da Moeda

Ministro da Fazenda alegou foro privilegiado para suspender a investigação em 1ª instância

02 de abril de 2012 | 20h 00
O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reclamou para o Supremo Tribunal Federal (STF) e conseguiu suspender nesta segunda-feira, 2, uma investigação por suspeita de improbidade administrativa.
Na tarde desta segunda, o Ministério Público Federal chegou a anunciar a abertura de uma investigação para apurar se Mantega foi omisso em relação a um suposto esquema de corrupção na Casa da Moeda. Em meio às suspeitas, o então presidente da Casa da Moeda, Luiz Felipe Denucci, foi demitido em janeiro.
No entanto, no início da noite, a Procuradoria Geral da República divulgou uma nota informando que a pedido da Advocacia Geral da União (AGU) o ministro Luiz Fux, do STF, concedeu uma liminar determinando que a investigação fique a cargo do procurador-geral, Roberto Gurgel.
Atos de improbidade administrativa são investigados em procedimentos civis. A legislação brasileira garante a autoridades como ministros de Estado o direito de investigação criminal perante o STF. No entanto, as matérias civis, como as investigações por improbidade administrativa, ficam normalmente a cargo da 1a. Instância.
O Supremo deverá analisar em breve pedidos para que o foro privilegiado previsto para os inquéritos e as ações criminais também seja estendido aos processos civis. Enquanto não for tomada a decisão, a situação de Mantega fica em suspenso, informou a Procuradoria
No último dia 16, Roberto Gurgel tinha seguido a orientação tradicional no Judiciário e no Ministério Público e encaminhado aos procuradores da República que atuam na 1a. Instância uma representação na qual senadores pediam uma investigação contra Mantega.
"Não detém o procurador-geral da República atribuição para a análise desta representação, uma vez que a presente iniciativa não veicula pretensão de natureza criminal, mas exclusivamente de enfoque civil, sob a perspectiva da improbidade administrativa", disse o procurador na ocasião.
A Procuradoria da República no Distrito Federal divulgou nestaa informação de que foi instaurada no dia 29 de março uma investigação cível preliminar para avaliar se de fato ocorreu a omissão.
"Em tese, o reportado ministro de Estado admitiu ter sido advertido acerca da conduta ilícita de Denucci; entretanto, permitiu que este continuasse na presidência daquela empresa pública", afirmou o procurador Julio Castro Junior na portaria que determinou o início da investigação.
De acordo com a Procuradoria, Castro não sabia da liminar do STF. "O fato é que não houve ainda um só ato que se traduzisse em investigação do ministro Guido Mantega e, em cumprimento à liminar do Supremo Tribunal Federal, os autos retornarão ao gabinete do Procurador-Geral da República", afirmou a Procuradoria na nota.
Texto atualizado às 20h30.

As FARC: amigos dos companheiros (e como...)


Liberación de secuestrados por las FARC

Colombia: la muerte llegó antes que la libertad para 27 rehenes de las FARC desde 2003

Infolatam/Efe
Un gobernador, un exministro de Defensa, once diputados y catorce militares y policías han muerto desde 2003 hasta la fecha siendo rehenes de las FARC, que hoy pusieron en libertad a los últimos diez policías y militares en su poder, pero se cree que pueden tener cautivos todavía a más de 400 civiles.
Con la liberación de los militares Luis Alfonso Beltrán Franco, Luis Arturo Arcia, Robinson Salcedo Guarín y Luis Alfredo Moreno Chagüeza, y los policías Carlos José Duarte, César Augusto Lasso Monsalve, Jorge Trujillo Solarte, Jorge Humberto Romero, José Libardo Forero y Wilson Rojas Medina se cierra un largo capítulo del conflicto armado colombian
Otros 27 rehenes no tuvieron la suerte de regresar a la libertad como estos diez, pues perdieron la vida, en la mayoría de los casos ejecutados y de éstos casi todos en represalia por reales o supuestas operaciones de rescate de las fuerzas de seguridad.
“Si los señores de las Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia (FARC) hubieran asumido posturas más humanas y consideradas habrían podido evitar la muerte de esos secuestrados”, dijo en unas declaraciones a Efe la congresista Consuelo González, antigua rehén del grupo guerrillero.
La legisladora tuvo la suerte de ser liberada por decisión unilateral de la guerrilla en 2008, tras seis años de secuestro.
González formó parte de los llamados “canjeables”, un grupo de alrededor de un centenar de políticos, policías y militares, así como tres estadounidenses que trabajaban para empresas contratadas por el Pentágono, que las FARC tomaron como rehenes desde 1997 y pretendieron canjear por medio centenar de guerrilleros presos.
Como Consuelo González, otros catorce pudieron salir de las selvas por gestiones de la exsenadora Piedad Córdoba, líder de Colombianas y Colombianos por la Paz (CCP) y mediadora en las liberaciones de hoy.
CCP convenció a las FARC de que terminaran con la crisis de rehenes y también que renunciaran al secuestro, decisiones que la guerrilla anunció el pasado 26 de febrero, trece meses después de que ejecutaran a cuatro uniformados que retenían en el departamento del Caquetá.
“Los que han muerto son ángeles que cuidan de los otros secuestrados y los desaparecidos”, dijo a Efe la adolescente Natalia Duarte, hija de Carlos José Duarte, intendente jefe de la Policía, que fue liberado hoy.
Duarte cayó en manos de los rebeldes en un asalto a la población de Puerto Rico (sur), en julio de 1999, cuando Natalia, que ahora quiere ser policía, tenía cuatro años.
El de Natalia es el caso contrario al de Vladimiro Bayona, de 67 años y padre de Alexander Vladimir Bayona, universitario al que las FARC secuestraron en 2000 en el departamento del Cauca junto a su compañero de estudios Alberto González.
“Espero que mi hijo venga a sepultarme y que no sea yo quien lo entierre en vida”, dijo Bayona, quien no acepta que el caso de Vladimir y Alberto, cuya suerte es un enigma, haya caído hasta en el olvido judicial.
Y es que estos universitarios están en el grupo de 405 personas secuestradas desde 2002 hasta 2011 de las que nada se sabe, según la Fundación País Libre, dedicada a registrar el drama del secuestro en Colombia.
Pero la Fundación Nueva Esperanza de Secuestrados, creada con los mismos fines, sostiene que son muchos más y eleva la cifra a 725 desde 1995.
“Creo que no pasan de cien las personas que continúan con vida”, indicó a Efe el director de esta fundación, Gustavo Adolfo Muñoz, un abogado que vivió en 2001 la experiencia del secuestro, a manos de las FARC, en el Valle del Cauca.
Son secuestrados en el olvido por tratarse de “hijos del pueblo, hijos de nadie, que no tienen ningún precio político, ninguna validez histórico política para las partes”, criticó este jurista.
Muñoz, que asegura tener documentado en detalle cada caso, reclamó al Gobierno y a las FARC por la suerte de estos centenares de cautivos.
El secuestro, dijo, es una experiencia amarga y tortuosa en la que están en juego la integridad física y, aun, la vida misma, y, por ese mismo hecho pasa a ser un evento postraumático cuya marca se llevará por siempre.

O frustrante exercicio do ecologismo na Rio+20 - Rubens Ricupero


Rio+20 e Amazônia
Rubens Ricupero
 Folha de S. Paulo, 2/04/2012

Quando o presidente Sarney tomou a surpreendente decisão de oferecer o Brasil como sede da Rio 92, sua motivação tinha tudo a ver com a Amazônia. O fim dos anos 1980 coincidiu com o agravamento da destruição da floresta e da campanha internacional de denúncias.
A reunião se realizou sob o governo Collor, ocasião em que se conseguiu fazer da Rio 92 a "finest hour", o momento mais alto da diplomacia ambiental brasileira.
Atuamos como país em desenvolvimento, sem esquecer a perspectiva dos interesses da humanidade, ameaçada por fenômeno global que afeta o planeta e a atmosfera acima das fronteiras.
Se o governo brasileiro sob Sarney ou Collor não fugiu do problema amazônico, impõe-se agora seguir linha semelhante, enfrentando de forma proativa a ameaça que a mudança climática faz pesar sobre a região.
O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) estimou que os aumentos da temperatura e as reduções na água provocarão a substituição da floresta tropical úmida por savana mais pobre que a do cerrado, de início na Amazônia oriental, onde mais intensa tem sido a deflorestação.
No pior cenário, a elevação da temperatura pode chegar até a enormidade de 8ºC! Além da destruição da floresta, do aumento de frequência das secas e dos incêndios, uma elevação desse tipo nos arrastaria a terreno desconhecido, fora da experiência histórica da humanidade.
Um dos efeitos seria o impacto sobre o regime de chuvas desde Mato Grosso até Buenos Aires. São elas que contribuem para fazer da área uma das mais produtivas concentrações de produção agropecuária do planeta.
A deterioração do balanço hídrico teria o potencial de aniquilar a principal vantagem comparativa do Brasil, da Argentina e de outros sul-americanos no comércio mundial. Reduziria a capacidade de produção de alimentos no momento em que a expansão da população torna cada vez mais crítica a oferta de calorias e proteínas.
A fim de enfrentar o perigo, falta-nos, no âmbito do Tratado Amazônico, um acordo para criar uma espécie de IPCC regional, a fim de analisar o conhecimento científico e chegar a um consenso sobre ações para combater a mudança do clima na região.
Como na Amazônia o maior problema é a falta e inadequação do conhecimento científico, impõe-se também instituir uma rede de coleta de dados e pesquisa em todos os países da bacia.
Precisamos nos antecipar ao que certamente ocorrerá se nada fizermos: as cobranças, as críticas, os juízos condenatórios do resto do planeta.
Nada melhor para aproveitar a oportunidade da Rio +20 do que demonstrar que o Tratado de Cooperação Amazônica está mais vivo do que nunca na sintonia com as preocupações de toda a comunidade internacional.
Uma decisão dos países amazônicos de estabelecer mecanismo para fomentar e sistematizar as pesquisas, o conhecimento e as propostas sobre a Amazônia será a prova mais irrefutável da determinação das nações amazônicas de proteger a Amazônia contra a destruição.

A ingloria missao de ser protecionista - Editorial OESP


Alto custo de produção
Editorial O Estado de S. Paulo, 2/04/2012

Consideradas satisfatórias pelo governo, por alguns setores da indústria e pelo movimento sindical - mas não, certamente, pelos consumidores -, as mudanças no acordo comercial entre o Brasil e o México, para a redução da entrada de veículos mexicanos no mercado interno nos próximos três anos, apenas contornam um grave problema estrutural da economia brasileira. Os automóveis mexicanos estavam conquistando espaços maiores no mercado brasileiro não por causa de eventuais imperfeições no acordo entre os dois países, mas por uma razão muito mais simples, e que o consumidor identificou rapidamente: eles custam menos do que os similares produzidos no Brasil.
O custo de produção de veículos no Brasil é um dos mais altos do mundo, como mostrou reportagem de Cleide Silva publicada no Estado (25/3), fato que, combinado com o câmbio favorável às importações, fez crescer nos últimos tempos a participação dos automóveis importados nas vendas no mercado doméstico.
É muito mais barato produzir um veículo no México do que no Brasil. Enquanto aqui o custo de manufatura de um modelo compacto é de cerca de US$ 1,4 mil, no México é de US$ 600, menos da metade. Os países asiáticos conseguem produzir a custos ainda menores (US$ 500 na Tailândia e US$ 400 na China), de acordo com dados compilados pela empresa internacional de consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC).
Apesar do alto custo da produção no País - equivalente ao dos Estados Unidos e do Japão, países com padrões de vida e de renda muito mais elevados do que os nossos -, grandes investimentos têm sido anunciados e realizados na expansão da capacidade da indústria automobilística brasileira. No entanto, praticamente nenhum dos novos projetos tem como meta a transformação do Brasil em plataforma de exportações para outros países do hemisfério, porque, como mostram os números acima, é muito baixa a competitividade do País.
O que as grandes corporações internacionais pretendem é conquistar fatias no mercado brasileiro, que continua a crescer rapidamente e ainda tem muito espaço para se expandir, ao contrário do que ocorre nos países ricos, cujos mercados já estão saturados e, agora, enfrentam as dificuldades decorrentes da crise financeira internacional. Além disso, as medidas protecionistas adotadas pelo governo brasileiro, como o aumento da taxação das importações de veículos de montadoras ainda não instaladas no País, estão forçando a vinda de novos grupos.
O alto custo da produção de veículos é parte de um problema muito mais amplo, que afeta toda a produção brasileira. Os novos investidores no setor automobilístico, bem como as empresas que operam no País há mais tempo, têm consciência das imensas dificuldades para a realização de negócios no Brasil - apontadas seguidamente em relatórios internacionais.
A qualificação em muitos casos insuficiente do trabalhador e a rigidez das regras trabalhistas estão entre as causas do alto custo de produção da indústria automobilística brasileira. O responsável internacional pela pesquisa da PwC, Dietmar Ostermann, lembra que os trabalhadores americanos e chineses levam em média de 15 a 19 horas para produzir um automóvel. No Brasil, são necessárias de 26 a 30 horas, nas mesmas condições tecnológicas e para o mesmo padrão de produto. Isso eleva o peso do fator trabalho no custo de produção. Ainda no item das relações de trabalho, os encargos da folha de salários e a falta de flexibilidade das jornadas encarecem ainda mais o custo de produção.
Os impostos sobre equipamentos e máquinas, o alto preço da matéria-prima, que encarecem também os componentes, e as deficiências de infraestrutura, que elevam os custos logísticos, também contribuíram para encarecer o produto final.
As empresas que, apesar disso, investem no Brasil, fazem-no "porque não têm outra opção", adverte Ostermann. Quando as opções começarem a surgir, como certamente surgirão, ficará cada vez mais difícil atrair investimentos para uma economia de tão baixa competitividade.

A dificilima missao de ser liberal na América Latina - Mariano Grondona


A contraofensiva liberal
Mariano Grondona
O Globo, 2/04/2012

Mariano Grondona é colunista do La Nación (Argentina)/ GDA.

Junto com a década de 90, que supostamente representa, o liberalismo foi demonizado entre nós. Esta condenação ideológica, que não é exclusiva do kirchnerismo porque convoca inclusive partidos supostamente opositores, como a União Cívica Radical (UCR), parte de premissas falsas. É falso como considerar que o menemismo, também demonizado por identificação com os anos 90, foi autenticamente “liberal”. Ele o foi apenas parcialmente na área econômica, tanto por sua política de privatizações como por sua aliança com a UCeDe dos Alsogaray. Mas não o foi na área política, já que as reeleições de Menem pouco tiveram a ver com a ideia liberal de que os mandatos presidenciais não se devem alongar no tempo, na maneira chavista ou kirchnerista.
Também é falso que a ofensiva antiliberal seja, na América Latina, majoritária. Crer nisso é supor que a demonização do liberalismo que campeia entre nós encarna uma corrente regional, quando seu eixo está centrado unicamente no governo kirchnerista e outros governos afins, como os que imitam a Venezuela de Chávez, francamente minoritários se comparados com o que ocorre no México, Brasil, Chile, Colômbia e no próprio Peru, onde o giro à centro- direita de seu presidente, Ollanta Humala, já é manifesto.
 Que a guinada à centro-direita predomina em nossa região foi visível durante os últimos dias em dois acontecimentos. O primeiro ocorreu, paradoxalmente, em Buenos Aires, quando a Universidade Argentina da Empresa (Uade) outorgou ao ex-presidente do governo espanhol José María Aznar, do Partido Popular que governa a Espanha, o título de forte impacto. O segundo aconteceu na Universidade de Lima, que acolheu mês passado um seminário internacional promovido pelo Prêmio Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa, de notável irradiação no Peru e além. Passo a resumir suas conclusões, não sem antes advertir que a suposição de que o que hoje ocorre nas esferas oficiais de nosso país seja representativo do pensamento regional responde a um paroquialismo que às vezes nos aflige por supor que o mundo e a América Latina se espelham em nós e não, ao inverso, que o governo argentino é percebido hoje, no resto da região, como uma exceção bizarra ao curso que seguem a Europa e os EUA.
 A jornada da última terça-feira na Universidade de Lima, convocada pela Fundação Internacional para a Liberdade, de Vargas Llosa, reuniu um notável conjunto de políticos e intelectuais, entre os quais os ex-presidentes da Colômbia, Alvaro Uribe; da Bolívia, Jorge Quiroga; do Uruguai, Luis Alberto Lacalle; do Peru, Alejandro Toledo, além do economista chileno José Piñera, irmão do atual presidente, da mexicana Josefina Vázquez, candidata presidencial do PAN, e de intelectuais e escritores do porte do cubano Carlos Alberto Montaner, do mexicano Enrique Krauze, do chileno Maurício Rojas e do argentino Marcos Aguinis.
 Chamou-me a atenção o entusiasmo contagiante que demonstraram os participantes ante a doutrina liberal. Vindo de um país cujo oficialismo condena tudo que assuma um ar liberal, e onde o liberalismo é chamado pejorativamente de neoliberalismo para agravar sua condenação, porque com esse neologismo faz-se com que pareça reincidente num velho erro, o surpreendente fervor dos presentes demonstrou que consideram a doutrina em pleno apogeu, instalada mais no futuro que no passado. É fácil esquecer, em nosso país, em meio ao clima de repulsa que o rodeia, que o liberalismo triunfa hoje no mundo e na América Latina.
 Impressionou-me a exposição do chileno Rojas, um ex-comunista que, em sua longa passagem pela Suécia, converteu- se à liberdade e cuja palestra se concentrou na denúncia do populismo como causa dos graves problemas que hoje enfrenta nada menos que a Europa, por essa espécie de “facilitário” em que caiu ao exagerar a ilusão do estado de bem-estar, por causa do qual os homens são tentados pelo enganoso direito de receber tudo grátis, sem a contrapartida do trabalho e do esforço. Uma deformação a que Rojas atribuiu as enormes dificuldades que hoje enfrenta o Velho Continente. Aguinis dedicou sua exposição ao “neopopulismo”, mais que uma doutrina uma forma contemporânea de demagogia que já havia denunciado, com uma linguagem surpreendentemente “moderna”, o próprio Aristóteles.
 O ex-presidente Uribe foi recebido com extraordinários aplausos porque, tendo-se alçado em seu país contra todas as formas de demagogia, numa atitude supostamente suicida, cansou-se de ganhar eleições. Um parágrafo à parte merece o historiador Enrique Krauze, discípulo de Octavio Paz e autor de um livro notável e recente, “Redentores”, no qual descreve a patologia de uma série de caudilhos latino-americanos, de Eva Perón a Che Guevara e de Fidel Castro ao próprio Chávez. Todos fundaram sua atração na ideia semirreligiosa com que se apresentaram ante o povo latino-americano como os novos profetas, os novos “redentores” de uma salvação que nunca chegou nesse novo mundo que se caracteriza, ao contrário, pela eficiência e competitividade.
 A chave do êxito de uma ideologia consiste em convencer os contemporâneos de que nela pulsa o futuro. Assim se expandiu por décadas o marxismo quando difundiu a ideia de que o futuro pertence ao socialismo. Através dessa imagem “redentora”, o marxismo pôde condenar o liberalismo como seu próprio passado, como reacionário. Segundo essa premissa, que se impôs entre nós, ser liberal era ser “anti-histórico” e ser socialista era ser progressista. Mas a reunião de Lima difundiu entre seus participantes um entusiasmo de sinal invertido, já que o que prova o mundo moderno, não com ideologias mas com fatos, é que o futuro começa a coincidir cada dia mais com a liberdade política da democracia e a liberdade econômica da iniciativa privada. Esta dupla convicção brilhou na reunião de Lima.
 Se esta é a perspectiva histórica que deveria caracterizar a Europa e a América, não só à luz de seus inegáveis resultados mas também à sombra dos penosos fracassos do coletivismo, que começou a naufragar na União Soviética para culminar em todas as sociedades submetidas ao estatismo, é porque o papel principal do Estado nas sociedades modernas é estimular a concorrência política entre os partidos e a concorrência econômica entre as empresas. Que lugar então ocupam hoje na caravana das nações o chavismo e o kirchnerismo? Onde estamos os argentinos sob a condução de Cristina Kirchner, dona de 54% dos votos? Estamos na vanguarda ou na retaguarda da história? Estamos acompanhando o mundo ou isolados? O grande problema que enfrentamos os argentinos hoje talvez não resida em nossos recursos, mas em nossas mentes, que continuam confundindo o passado com o que chamam de “futuro” e um “futuro” que ainda chamam de “passado”.

O atroz encanto de ser (decadente) argentino - Gabriel Saez-

Caso raro no mundo, a Argentina está em completo descompasso com o mundo, justamente, tanto que um grupo imenso de mais de 40 países membros da OMC pensam iniciar uma reclamação formal contra o país, por protecionismo exagerado (eu até diria exacerbado, sem nenhuma vergonha).
Esse "atroz encanto" vem do título do livro do psicanalista argentino Marcos Aguinis. Quando um país tem mais psicanalistas do que economistas ou advogados (sei que não é verdade, mas não custa brincar), só pode dar nisso: m...
Paulo Roberto de Almeida 

Aos EUA, as nossas lições sobre decadência
Gabriel Saez
Folha de S. Paulo, 2/04/2012

O assunto é a Argentina segundo os Argentinos

GABRIEL SAEZ, 38, mestre em relações internacionais pela Faculdade Latinoamericana de Ciências Sociais (Argentina), é assessor na Câmara dos Deputados do país

Tony Soprano: "É bom fazer parte de algo desde o começo. Cheguei tarde para isso, eu sei. Mas ultimamente sinto a sensação de que cheguei no fim. A melhor parte já terminou."
Dra. Melfi: "Acho que muitos americanos têm essa sensação."
Por mais de uma década eu tinha ouvido falar sobre como a série americana "Família Soprano" ("The Sopranos", no original) era ótima. Então finalmente decidi experimentar.
Fiquei chocado quando, após quatro minutos de episódio piloto, o diálogo acima aconteceu. Soou tão familiar... Afinal, é um sujeito de origem italiana reclamando que o presente, apesar de ser mais rico e confortável, é pior que o passado. Era a encarnação do espírito argentino.
Crescer na Argentina implica continuamente praticar o revisionismo histórico e ceder à nostalgia de nossa grandeza passada.
Na realidade, é uma nostalgia da grandeza à qual sentimos ter direito, mas da qual, por alguma razão, fomos privados. A psique argentina reside na terra do "deveria, teria, poderia ter". Se o Brasil é o eterno país do futuro, a Argentina é o país do passado perenemente dourado.
Nós somos obcecados em olhar para trás, para um tempo (há um século, digamos) em que nosso PIB era comparável ao das potências europeias. Coçamos nossas cabeças tentando entender como pudemos fazer tudo errado desde então. Ah, se...
A Argentina é a decana do clube de nações totalmente obcecadas por seu declínio. Logo, é um grande prazer para nós receber os Estados Unidos em nossa irmandade mal-humorada. Isso mesmo, podem ocupar seu lugar ali ao lado da França.
Sejam bem-vindos, mas se preparem para muitos comentários sarcásticos. Pessoalmente, estou farto de ouvir que "o Japão é um exemplo do quanto é possível fazer com tão pouco; a Argentina é o contrário". Há o igualmente irritante "a Austrália é o que a Argentina poderia ter sido". Os brasileiros me dão aflição com o seu convite sutil para que a Argentina se torne "o seu Canadá".
Mas os tempos globais difíceis fazem a nossa experiência parecer relevante. Por isso, nossa presidente aproveita toda oportunidade para pregar sobre o "modelo argentino". Não é um modelo de desenvolvimento. É um modelo de resiliência.
Sabe por que? Quando olhamos a Grécia, sorrimos. Sabemos imediata e instintivamente o que é aquela confusão toda. Vemos os "indignados" espanhóis como irmãos. "Ocupe Wall Street" nos parece ser a versão de Hollywood de "Que se vayan todos", movimento que afastou o presidente De La Rúa, há uma década, e nos permitiu o privilégio raro de ter cinco presidentes em uma semana.
Tá vendo, América? Vocês ainda têm muito chão pela frente.
Não se preocupem: um declínio obsessivo não é de todo ruim. É uma dádiva para livreiros, psicanalistas e analistas políticos pessimistas. Converte taxistas em filósofos. Parece fazer maravilhas também pelo consumo de carne vermelha e vinho, sem falar nas conversas de café de final de noite, cheias de angústia existencial. Buenos Aires curte final de noite e angústia existencial como ninguém. Quem sabe o Kansas assista ao surgimento de sua própria dança melancólica que lembre o tango.
Mas, para que vocês americanos possam entrar para o clube das nações em declínio obsessivo, ainda há algo que precisam fazer. Guerras sem sentido, política fiscal insensata e decadência cultural não bastam.
Vocês também precisam se livrar da sua fé na possibilidade de reinvenção. Sim, precisam desistir daquilo que Mangabeira Unger e Cornel West descreveram como "a religião americana da possibilidade".
A ordem natural das coisas é que a democracia realize um ideal e que os próprios indivíduos se realizem? Esqueçam. Isso é um obstáculo ao gozo pleno do declínio, sempre acompanhado de fatalismo resignado.
A religião americana da possibilidade é o que nós, de outras partes do mundo, mais admiramos nos EUA ao longo da história. Nós, argentinos, estamos tão envolvidos em nosso drama histórico que é difícil perceber quão grandes fomos de fato.
Mas pessoas de todo o mundo vieram para cá, sim, em busca de felicidade e realização. A maioria dos filhos delas ainda ama esta terra. Nossos vizinhos gostam de nós mais do que se dispõem a admitir. Quem sabe algum dia ainda possamos conquistar a grandeza -ou ao menos um ponto de equilíbrio entre humor e angústia existencial, tornando os nossos "poderíamos-ter-sidos" mais folclóricos e menos dolorosos.
Não seria exatamente reinventar a noção de reinvenção, algo que ainda pode estar ao alcance dos EUA, mas pode ser o suficiente para fazer com que o Tony Soprano que existe em nós se sinta um pouco melhor. / Tradução de CLARA ALLAIN

Brasil ja vai a guerra, e escolheu os inimigos...

Sim, tem aquela velha canção do Juca Chavez, dos tempos aparentemente saudosos do JK, quando tínhamos até comprado um Porta Aviões, uma velha banheira reformada dos ingleses, que deveria servir, supostamente para aviões da Aeronáutica ou da Marinha (pois é, não se entenderam na época).
Hoje o Brasil também vai à guerra, pelo menos na linguagem belicosa daquela que é chamada de "presidenta", pelos linguistas do Planalto (ou seriam linguarudos?).
Aparentemente, os inimigos são as velhas potências coloniais, que já não se aguentam mais de déficits, e ainda encontram maneira de inundar o mundo com seus dólares e euros.
Não tenho certeza de que os indianos vejam americanos e europeus como inimigos, mas a presidenta sim...
Acho que essa batalha não vai dar em nada, se não fizermos o dever de casa.
Paulo Roberto de Almeida

Texto atualizado em 02/04/2012 - 00:33
Brasil e Índia têm ‘sólidas credenciais’ para lutar contra política monetária expansionista, diz Dilma
por Redação *
publicado originalmente no Blog do Planalto
A presidenta Dilma afirmou que Brasil e Índia têm “sólidas credenciais” para lutar contra as políticas monetárias expansionistas dos países desenvolvidos, durante o Seminário Empresarial Brasil-Índia, na última semana, em Nova Délhi.
“Nós, Brasil e Índia, temos sólidas credenciais para lutar contra os efeitos das políticas monetários expansionistas do mundo desenvolvido que não tem tomado as providências necessárias para garantir uma expansão das suas economias. Somos, sem sombra de dúvida, favoráveis à superação da crise na Europa. Achamos que houve uma melhora na medida em que foi evitada uma crise mais aguda, uma crise monetária mais aguda e acreditamos que é imprescindível que os países desenvolvidos tomem medidas efetivas para garantir a retomada da economia mundial”.
Para a presidenta, não resta dúvida que os dois países podem, juntos, enfrentar e superar de forma mais efetiva os efeitos da crise econômica internacional.
“Quando nós exploramos as nossas complementaridades, respeitando, cada um, a característica do outro, nós podemos enfrentar juntos, de forma muito mais efetiva, todos os desafios que a conjuntura nos apresenta. Por isso, eu tenho certeza que o dinamismo característico das nossas economias permitirá que superemos no melhor sentido esta fase crítica da economia internacional. Por isso é com alegria que eu vejo a nossa relação comercial se tornar cada vez mais expressiva. O Brasil permanece com principal parceiro comercial da Índia na América Latina”.
Dilma afirmou aos empresários que o comércio entre Brasil e Índia, hoje concentrado no petróleo e nos seus derivados, deve ser diversificado e defendeu a ampliação da parceria na área de medicamentos. Já no setor de combustíveis, Dilma afirmou que o Brasil está disposto a contribuir com o governo indiano na busca de alternativas energéticas sustentáveis.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...