sábado, 14 de julho de 2012

Uma reflexao baseada em George Kennan - Paulo Roberto de Almeida


Grande estratégia e idiossincrasias corporativas:
uma reflexão a partir da experiência de George Kennan

Paulo Roberto de Almeida

Lendo a biografia de John Lewis Gaddis, sobre o grande diplomata e historiador americano, que dominou a segunda metade do século XX, George F. Kennan: An American Life (New York: The Penguin Press, 2011), deparo-me com um trecho, relativo ao ano de 1943, quando Kennan era encarregado de negócios na legação dos Estados Unidos em Lisboa; negociações eram conduzidas na capital portuguesa para assegurar o uso, por forças americanas, dos Açores, como plataforma absolutamente indispensável para conduzir as operações europeias da Segunda Guerra Mundial em sua vertente norte-atlântica:
“[George Kennan] began to develop... a new sense of responsibility within the duties assigned to him: at several points over the next few years Kennan took risks that jeopardized his own Foreign Service career because he thought that the national interest demanded that he do so. Obliged to operate for the first time at the level of grand strategy, he found the rules oh his profession falling short. He chose, successfully but dangerously, to violate them.” [Loc 3387 of 18204; Kindle edition, Amazon].
Gaddis informa ainda, na sequência dessa passagem, as circunstâncias em que Kennan decidiu assumir vários riscos em sua carreira, violando deliberadamente várias regras do jogo, tal como definidas por instituições excessivamente burocráticas ou muito conservadoras, quanto o Departamento de Estado ou o comando das Forças Armadas, como se pode depreender desta transcrição adicional:
During the Azores base negotiations [com o próprio Primeiro-Ministro português Antonio de Oliveira Salazar], Kennan violated at least four rules, any one of which could have him sacked from the Foreign Service. He exceeded his instructions in a conversation with a foreign head of government. He refused to carry out a presidential order. He lied, to another government, about the position of his own. And he went over the heads of his superiors in the State Department – as well as the secretary of war and the Joint Chiefs of Staff – to make direct appeal to the White House.” (Loc 3436 of 18204).

Estas passagens chamaram-me obviamente a atenção, ou “struck a cord on me”, como diria o próprio Gaddis, provavelmente o maior historiador vivo da Guerra Fria e o único biógrafo autorizado de George Kennan. Explico por que, já que isso tem a ver com a mesma sensação de barreiras burocráticas e conservadoras, em assuntos que demandariam uma visão mais larga dos processos diplomáticos, que eu já enfrentei na carreira. Não querendo me comparar a George Kennan, possivelmente o maior especialista diplomático americano em assuntos russos que jamais existiu nos anais daquele serviço diplomático, mas eu também adquiri, ainda antes de ingressar no serviço diplomático, uma percepção histórica e estrutural de muitos dos temas que compõem, burocraticamente, a agenda diplomática corrente.
Tendo começado a estudar os assuntos brasileiros desde muito cedo – compulsando uma bibliografia de nível universitário, ou de pesquisa especializada, ainda quando estava em meio aos estudos do ciclo médio – desenvolvi provavelmente de maneira muito precoce um cuidado com a análise do contexto, dos precedentes históricos, e dos impactos estruturais ou implicações políticas de cada um dos problemas com que me deparava em minhas leituras ou pela leitura dos jornais de maior qualidade em suas edições dominicais (invariavelmente o velho jornal conservador O Estado de São Paulo, ainda quando discordasse profundamente de seus editoriais, que julgava representativos das opiniões da “classe dominante”). Foram anos, em meados da década de 1960, em que eu lia os grandes mestres da teoria social brasileira, entre eles os representantes da “escola paulista de Sociologia” – que pouco depois se tornaria minha alma mater, ao ter ingressado no curso de Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP – e através dos quais eu filtrava minhas reações aos editoriais “reacionários” do Estadão, combinando todas essas leituras para refletir sobre os caminhos do desenvolvimento econômico e político brasileiro, no quadro das crises contínuas que agitavam o período que se tinha iniciado com o golpe de 1964, e que eu imaginava combater pela via do socialismo e de um governo comprometido com a “ditadura do proletariado”.
Independentemente dessas ilusões e descaminhos ideológicos – que foram sendo corrigidos tão pronto eu deixei o país, no final de 1970, para conhecer o triste cenário do socialismo real do leste europeu e as nuances dos capitalismos realmente existentes na Europa, durante quase sete anos – eu adquiri, a partir desses hábitos juvenis de leitura, um sentido de abrangência analítica e de inserção contextual que me acompanharia pelo resto da vida, sobretudo no domínio profissional, quando ingressei na carreira diplomática, poucos meses depois de voltar da Europa em 1977. Mas o que isso quer dizer, no quadro desta seleção de trechos da biografia de Kennan por Lewis Gaddis? Explico-me agora mais detalhadamente.
Ingressei no Itamaraty ainda na era militar, quando ainda pensava em derrubar o regime, embora não mais pela via das armas e sim pela via da pressão democrática. Tampouco pretendia converter o Brasil em uma nova Cuba ou uma nova China, como talvez fosse a intenção em meados dos anos 1960; mas o modelo ainda seria algo bem próximo do socialismo democrático europeu, que eu julgava bem mais propenso a empreender a correção das tremendas injustiças sociais em vigor no Brasil, desde sempre, do que, alternativamente, a visão mais pró-mercado que não tenho hesitação em defender atualmente. Nessa época, eu ainda era obrigado a escrever artigos com algum nom de plume, já que minhas “convicções radicais” provavelmente chocariam meus colegas e superiores diplomáticos – que eu considerava todos alinhados ao regime – e chamariam a atenção dos órgãos de segurança, especialmente ativos naquela conjuntura, quando a repressão física tinha amainado, mas o controle de inteligência continuava atento a todas as manobras da oposição ao governo militar.
Tendo iniciado minha carreira no Itamaraty por uma divisão secundária, a do Leste Europeu (então todo ele dominado pela União Soviética), pude distinguir-me rapidamente em alguns trabalhos analíticos, inclusive porque, ademais dos boletins da Radio Free Europe e da Radio Liberty – ambas financiadas pela CIA, obviamente – que líamos na DE-II, eu possuía um conhecimento interno, se ouso dizer, sobre o funcionamento desses regimes autoritários, já que tinha militado na esquerda marxista durante tempo suficiente para aprender – e apreender – todos os trejeitos vocabulares e as muitas peculiaridades políticas do mundo comunista. Recordo-me, em todo caso, de uma informação que preparei sobre o quadro político no leste europeu, em especial sobre a situação da Polônia, no imediato seguimento, em 1978, da surpreendente eleição do cardeal Karol Wojtila como o novo papa, de nome João Paulo II. Ao que parece, minha análise abrangente das implicações dessa escolha para todo o leste europeu e para o poder comunista foi devidamente apreciada pelos meus superiores, para ascender ao conhecimento do Gabinete do ministro, o que constitui, no Itamaraty, uma marca de distinção a dividir os assuntos que permanecem na “senzala”—como sempre foram depreciativamente chamados os serviços setoriais das divisões, no Anexo – e os que ascendem ao conhecimento da Casa Grande, como se designavam, respeitosamente, os dois gabinetes do Palácio.
Não exatamente por esse episódio específico, mas talvez mais pelo meu jeito histórico-intelectual de interpretar cada iniciativa ou resposta do serviço diplomático brasileiro, em função de um contexto mais vasto, no tratamento dos assuntos da agenda corrente, fui sendo considerado um diplomata especial, ou diferente, talvez bizarro, em todo caso colocado num clube à parte, não necessariamente melhor, dessa tribo de elite dos servidores do Estado. De um lado, nunca tive que mendigar postos ou posições no curso da carreira, já que em geral recebia convites para servir em tal posto ou tal unidade da Secretaria de Estado; de outro lado, jamais me dediquei a “pescar” votos de colegas ou implorar apoio de chefes para ser promovido na escala funcional, o que ofenderia meus princípios pessoais, ou minha maneira de ser, mas que pode ter irritado muita gente da corporação.
Tampouco pedia permissão para escrever à minha maneira – e não naquele burocratês diplomático que tanto desprezo – ou sequer me desculpava por pensar de forma muito diferente da maior parte dos colegas ou mesmo dos superiores, e mais de uma vez ousei contestar opiniões de chefes em reuniões de coordenação, quando os fundamentos de minha posição me pareciam suficientemente sólidos para levantar o dedo e exclamar – algumas vezes na estupefação dos colegas e alguns superiores – uma frase do tipo: “Não é bem assim [Fulano]!” Acho que isso talvez não tenha ajudado no curso ulterior, ou superior, da carreira. Já ao ingressar na carreira, revoltei-me contra a exigência, que sempre julguei absurda – e anticonstitucional, em todo caso violadora dos direitos individuais, que invariavelmente coloco acima dos interesses do Estado –, de ter de pedir permissão às autoridades pertinentes para contrair matrimônio com minha esposa: um abuso e uma indignidade, a que meu espírito anarquista jamais consentiu por princípio. Numa etapa intermediária, cansado do ritual de ter de pedir permissão para publicar que fosse uma simples resenha de livro sobre temas da diplomacia, deixei de submeter textos à apreciação superior, e passei a publicar o que julgava apropriado e conveniente (ainda que exercendo algum grau de autocensura no que era cabível dizer de público sobre tão augusta Casa e tão distinguido Serviço Exterior).
De fato, se ouso julgar, agora, as características do serviço em prol do qual exerci meus talentos nas últimas três décadas e meia, eu diria que o Itamaraty tem uma cultura muito especial, em todo caso diferente das demais corporações a serviço do Estado. Confessadamente, eu nunca fui muito adepto das manias e trejeitos dos meus colegas diplomatas: trata-se de uma carreira ultra competitiva, com altas doses de autocontenção, marcada por dogmas de disciplina e hierarquia que nunca se encaixaram bem ao meu natural libertário, exigindo ainda certo enquadramento nos rituais internos para que essa competição seja bem sucedida no plano individual, ou seja, para que ela se reflita na progressão funcional, na atribuição de postos e outras distinções. Visivelmente, eu nunca pretendi me enquadrar no estilo de rigor. Sempre mantive meus hábitos de trabalho, em parte isolado, estudando e escrevendo, de outra parte falando com sinceridade aquilo que me parecia negativo do ponto de vista da pura racionalidade instrumental dos objetivos diplomáticos. Ainda que tal tipo de atitude possa suscitar admiração em certas áreas, acredito que essas não são as qualidades requeridas para se triunfar numa Casa que faz da obediência estrita aos superiores a pedra de toque para a inserção no inner circle dos premiados oficiais.
Tomando como base o que acima vai descrito, não tenho qualquer restrição mental em confessar que, em diversas ocasiões, dissenti das opiniões oficiais da Casa – ou seja, aprovadas em alguma instância superior – no tratamento de temas específicos ou na condução de algumas negociações para as quais eu me julgava especialmente preparado, em função, justamente, dos estudos que eu conduzia paralelamente à carreira, para aprofundar-me nos assuntos que me eram atribuídos. Uma atitude desse tipo não é fácil de ser assumida, quando se trata, não das preliminares para a formulação de uma posição negociadora, mas de instruções formais, consubstanciadas em telegrama da série, com base na qual a resposta invariável do diplomata obediente deve ser: “Cumpri instruções”, e o chefe do posto passa a relatar como ele se ateve fielmente às ordens emanadas da Santa Casa.
Pessoalmente, já passei por esse tipo de situação, envolvendo uma negociação internacional de um tratado multilateral. Tendo me ocupado do tema durante meses e meses, eu literalmente dominava o assunto, técnica e diplomaticamente, e as instruções formuladas em Brasília, de nítido corte tradicional, eram claramente inadequadas. Os argumentos que poderiam ser mobilizados em favor de teses diferentes ou alternativas, por mais racionais ou “probatórios” que sejam (com base numa análise histórica, nos dados da economia, numa visão de longo prazo), nem sempre são convincentes ou suficientes para “dobrar” o burocrata na outra ponta do processo ou até fazer com que a instituição como um todo se mova em outra direção. Esse tipo de situação pode ser terrível, pois aparentemente (ou concretamente) o diplomata em causa pode estar se colocando contra as instruções da sua instituição.
Não tive medo de fazê-lo, naquele momento preciso, assim como em outras circunstâncias posteriores. De certa forma, esse tipo de atitude me prejudicou, pois fiquei com fama de rebelde, de dissidente, de arrogante, de pretencioso “sabe-tudo” e outros qualificativos mais, que nem são do meu conhecimento. Se insisto em certas teses é, contudo, com base num estudo profundo das problemáticas das quais me é dado ocupar. Sou por excelência um estudioso compulsivo, e não costumo me dobrar a nenhum argumento de autoridade, e sim à autoridade do argumento. Numa casa “feudal”, como é o Itamaraty, isso é quase um crime de lesa-majestade.
Mas o assunto supera as atitudes individuais de um diplomata, para adentrar no terreno mais complicado das questões macro-políticas, ou se quisermos, no eterno debate sobre como interpretar o chamado “interesse nacional”, um conceito altamente difuso para permitir qualquer tipo de argumento não fundamentado ou especioso. Não vou tratar das bases epistemológicas do que, exatamente, constituiria o interesse nacional nos limites desta reflexão, mas vou tratar da questão no contexto da própria formação e educação dos diplomatas. Acredito, com base numa avaliação puramente subjetiva, que poucos diplomatas têm uma cultura econômica verdadeira, ou seja, o instrumental analítico de cunho histórico e econômico que poderia levá-los a analisar uma questão qualquer de política externa do ponto de vista daquilo que os economistas chamam de custo-oportunidade do capital, ou seja, a eficiência paretiana dos meios e fins, que não se restringe ao melhor emprego dos recursos, ou a um cálculo sobre o retorno dos investimentos, mas envolve todos os “fatores de produção” de um determinado assunto diplomático. Tudo, ou quase tudo, na diplomacia, é feito de forma muito politizada e, por vezes, de forma irracional, já que levando em conta circunstâncias imediatas e as preferências políticas de quem manda, não necessariamente os interesses de mais longo prazo da nação.
Teríamos inúmeros exemplos de decisões claramente absurdas, no contexto mais vasto das tradições diplomáticas brasileiras, tomadas em certo período, e que no entanto foram tomadas, ao arrepio de qualquer racionalidade administrativa ou mesmo política; eximo-me, por razões diversas, mas claramente compreensivas, de discorrer sobre elas neste momento. O fato é que, em momentos como esses, o ator em questão tem várias escolhas, todas elas difíceis: submeter-se passivamente a instruções que ele pode julgar prejudiciais ao país ou ao serviço, no contexto dos interesses de mais longo prazo; negar cumprimento e argumentar alternativamente ao que julga contrário a suas convicções ou avaliação do tema em apreço; afastar-se do processo, com prejuízo pessoal ou fricção funcional.
Minhas próprias atitudes sempre foram pautadas em função de minha trajetória habitual de estudos e de busca de coerência lógica no processo decisório, esforçando-me por manter minha indispensável integridade intelectual, em face de eventuais adversidades momentâneas, que sempre julgo devam ser afrontadas com serenidade e com a dignidade funcional que devem guiar o comportamento de membros de uma corporação como esta à qual pertenço. Em tempos difíceis de submissão a vocações autoritárias essas atitudes cobram um preço por vezes difícil em termos pessoais, mas a coerência e a honestidade na defesa de certos princípios, que reputamos mais elevados do que a acomodação servil, e a consciência de se estar defendendo causas mais altas do que as escolhas sectárias do momento constituem os prêmios mais gratificantes que se possa ter num itinerário de vida.
Vale persistir, como aliás demonstrou o próprio George Kennan, ao abandonar a carreira diplomática, para ingressar numa categoria à parte da história intelectual de seu país, como um grande pensador das relações internacionais dos Estados Unidos. Sem aspirar a tanto, e sem renunciar a uma carreira que me trouxe tantos benefícios intelectuais e pessoais, vou persistir na defesa da coerência com o livre pensamento mesmo nos tempos sombrios e tristes de um outro regime autoritário.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 2409: 14 de julho de 2012.

A deterioracao da democracia na Europa - editorial do Washington Post

Excelente editorial do Washington Post, que nos lembra que a democracia e as instituições públicas de modo geral enfrentam um processo sustentado e deliberado de deterioração de suas qualidades, em função de populistas de esquerda que visam consolidar poder, não apenas na América Latina, mas na própria Europa, onde a UE foi solícita demais, e tolerante em excesso, em acomodar demandas de ingresso na comunidade, por rebentos ainda não estabilizados como essas satrapias do ex-império soviético, ou de adesão, a exemplo da Grécia, numa zona monetária que deveria possuir mecanismos mais estritos de conformidade com as regras de estabilidade macroeconômica.
O preço a pagar são todas essas violações das regras democráticas e a erosão da estabilidade macroeconômica, a que se assiste atualmente na Europa, mas que também já foram vistas na América Latina em países pateticamente chamados de bolivarianos.
Paulo Roberto de Almeida 

The Post’s View

Romania’s repressive moves



COVERAGE OF THE crisis in Europe has tended to focus on economic questions, such as whether Greece or other governments will default on their debts or whether the euro currency will survive. The growing political damage to institutions, and to democracy itself, is sometimes overlooked. But in several countries there has been an alarming erosion of political comity and constitutional checks and balances, driven by populists who exploit the public’s dissatisfaction with economic hardship.
The latest example is Romania, where a new left-wing prime minister has been pressing to remove checks on his government while trying to force the country’s president from office. Victor Ponta, who took power last May without an election after two successive right-of-center coalitions collapsed, has alarmed other European Union governments as well as the Obama administration by quickly seeking to consolidate power.
In a matter of weeks the parliamentary majority controlled by the new prime minister has replaced the leaders of the two chambers — one of whom is now in line to succeed the president — as well as an ombudsman who had sole authority to appeal the government’s decrees. The Parliament also sought to strip the Constitutional Court of authority to review its decisions, and Mr. Ponta spoke of replacing court members who ruled against him.
The Parliament then impeached President Traian Basescu, a right-of-center rival of Mr. Ponta. The vote mandated a July 29 referendum on whether Mr. Basescu will remain in office. But a government emergency decree and parliamentary legislation changed the rules for the vote so that impeachment could be ratified by a majority of those voting, rather than a majority of all registered voters.
Faced with an outcry from E.U. leaders, some of whom hinted that Romania could face sanctions, Mr. Ponta has appeared to retreat slightly. This week he said he supported aConstitutional Court ruling that would require a turnout of a majority of voters in the impeachment referendum in order for the results to be valid. That could ensure that Mr. Basescu remains in office, since many Romanians appear likely to skip the dog-days voting.
The revised voting rules must still be approved by Parliament, however, and Mr. Ponta’s campaign is not over: He will seek his own mandate in a general election this year. He is promising to reverse the stringent austerity Romania has endured since 2009, when it was forced to seek a bailout from the International Monetary Fund. Though relatively effective, the program prompted a popular backlash and street demonstrations that caused the downfall of the previous center-right coalition.
Contrarily, Mr. Ponta is also promising his E.U. interlocutors that he will stick to Romania’s international agreements, including one with the IMF. But the financial market’s view of his rhetoric has been reflected in the plunging value of Romania’s currency and a rise in its borrowing costs. Sooner or later, Romanians will discover that, as in the rest of Europe, there is no quick or easy solution to their economic problems — especially when it involves short-circuiting democracy.

O financiamento de longo prazo no Brasil - IEDI, Instituto Talento


A Reforma do Financiamento de Longo Prazo


Sumário

A Carta IEDI apresenta trechos de estudo recentemente concluído em parceria com o Instituto Talento Brasil e que foi apresentado na semana passada ao Ministro da Fazenda Guido Mantega e ao Presidente do BNDES Luciano Coutinho. A íntegra do trabalho pode ser acessada no site do Instituto.

Para dizer o mínimo, o financiamento no Brasil é inadequado. O crédito corrente é um dos mais caros do mundo, o que vale para as famílias, onde a taxa média de juros chega a 38,8% ao ano, e também para as empresas, que pagam em média 25% ao ano. Isto significa que os dois principais agentes econômicos carregam dívidas excessivamente inchadas pela renda capturada na intermediação financeira por intermediários financeiros e o próprio governo. Por consequência, o comprometimento da renda familiar necessário para honrar as dívidas rapidamente se torna excessivo, o que em certos momentos, como agora, retarda a evolução do crédito e restringe o aumento do consumo.

Do lado das empresas, em razão do alto custo do capital de terceiros, estas se veem obrigadas a fugir das dívidas, limitando investimentos ou balizando por meio de elevado autofinanciamento o seu acesso às linhas convencionais do sistema financeiro. Nesse sentido, as ações da atual política econômica para reduzir tanto a taxa básica de juros quanto os “spreads” bancários são importantes. Em tendo êxito, elas abrirão caminho para que um novo ciclo de crédito facilite a retomada do consumo e dos investimentos na economia.

Não se esgota nesses pontos a inadequação do modelo de financiamento. As fontes voluntárias voltadas a amparar os investimentos em capital fixo praticamente não existem internamente, o que aprofunda a dependência aos recursos oficiais e ao endividamento externo. As empresas brasileiras têm pouco acesso ao mercado de ações, o crédito bancário com recursos domésticos de prazo mais longo é escasso e é flagrante a limitação da colocação de títulos corporativos (debêntures). Para ilustrar, como proporção do PIB, o estoque de títulos corporativos em 2010 era de 20% nos EUA, 17% no Japão, 11% na Alemanha, 9% na China e 3,4% no México. No Brasil, mal chegava a 0,5%.

A conclusão é que, praticamente só no BNDES estão disponíveis fundos a longo prazo, o que é muito pouco por mais que esta instituição tenha aumentado suas operações nos últimos anos. Em razão deste deficiente modelo de financiamento o investimento e o desenvolvimento das empresas do país ficam para trás. Setores pesados da indústria e a infraestrutura são segmentos na linha de frente dentre os mais atingidos.

O estudo realizado pelo IEDI e pelo ITB procura indicar caminhos para potencializar o mercado de debêntures, antecipando oportunidades abertas com a redução da taxa Selic. É proposto um “Programa de Emissões de Títulos Corporativos Incentivados” tendo como meta a colocação de R$ 50 bilhões em debêntures de empresas de qualquer setor de atividade lastreadas em bons programas de investimento ou de pesquisa tecnológica e inovação. Esses títulos usufruiriam de incentivos fiscais já existentes (muito embora hoje restritos ao setor de infraestrutura, uma limitação que precisaria ser removida) e contariam com especial atuação dos bancos públicos para dar garantia firme a uma parcela substantiva dos lançamentos, que só seria exercida caso as emissões não sejam totalmente distribuídas aos investidores. É um passo na direção da reforma do financiamento da economia brasileira.

Aulas legendadas das melhores universidades do mundo

Portal oferece aulas legendadas das melhores universidades do mundo

O Globo, 12/07/2012
Assistir aulas das melhores universidades do mundo através da internet já é uma realidade desde 2002, quando o renomado Massachussets Institute of Techonology (MIT) disponibilizou alguns de seus conteúdos de graça na rede. O movimento foi seguido por diversas instituições e agora ficou ainda mais acessível aos brasileiros: o portal Veduca, criado este ano, disponibiliza os vídeos legendados para quem tiver interesse.
 
O projeto nasceu da vontade de um grupo de engenheiros formados no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) de tocar um negócio que ajudasse a melhorar a vida das pessoas. Perceberam que as principais instituições de ensino no mundo caminhavam nesta direção, mas que havia pouquíssimas experiências no País. Quando o portal entrou no ar, em março, rapidamente bateu a marca dos 100 mil acessos. Isso sem investimento em publicidade e divulgação. Hoje, já são 500 mil acessos e quase cinco mil vídeos disponibilizados.
 
Carlos Souza, um dos fundadores, conta que, para colocar o portal no ar, eles contrataram 10 tradutores. No entanto, muitas pessoas começaram a procurá-los com o intuito de colaborar. Foi desenvolvida então uma plataforma no próprio site para os legendários voluntários. Hoje, cerca de 100 ajudam com as legendas dos vídeos e o trabalho é todo supervisionado por especialistas, para evitar erros.
 
"O movimento do open course começa no MIT três anos antes de existir o YouTube. Só que apenas 2% dos brasileiros fala inglês bem. Então, havia um conteúdo enorme que as pessoas não tinham acesso. Temos uma carência muito grande na educação, há uma demanda enorme por parte das pessoas. Tem várias pessoas que entram em contato contando que estudam uma coisa, mas através do portal conheceram outras. Isso abre a cabeça das pessoas. Das pessoas que acessam a internet no País, 66% busca educação. Nossa meta é chegar a um milhão de acessos por mês até o fim do ano. E legendar todos os vídeos até 2013", afirma Souza, um dos fundadores do projeto.
 
Além da legendação, o grupo investe em ferramentas tecnológicas para facilitar a vida dos usuários. Uma delas permite que sejam feitas buscas no áudio das palestras. Por exemplo: se um usuário busca por Freud, será apresentada uma lista de vídeos em que ele é citado. Ao clicar na opção desejada, a exibição começará do ponto em que o professor cita o pai da psicanálise. Ao mesmo tempo, ao assistir um vídeo, aparece uma lista de notícias relacionadas com o assunto. Os recursos já provocaram até o interesse empresas de mídia.
 
No segundo semestre, o portal vai entrar de cabeça na produção de vídeos em universidades brasileiras. A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) será a primeira delas. "O próprio reitor entrou em contato com a gente para fazer este trabalho. Fomos para uma reunião e conversamos para que a Unicamp seja a primeira a participar do Veduca entre as brasileiras. Estamos muito felizes com o resultado. Não pretendemos fechar o conteúdo. Vamos sobreviver com publicidade. O objetivo é facilitar o acesso ao conhecimento", resume Souza.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Congresso americano precisa aprender com o Brasil

Os americanos precisam aprender com os brasileiros, que se mostram dispostos a pagar até 25% mais caro, para comprar "made in Brazil", em lugar da China. Nos EUA talvez se necessitasse pagar até 50% mais caro, mas o que é isso quando se defende a soberania nacional e os empregos locais, não é mesmo?


Lawmakers are fuming that U.S. athletes will be wearing uniforms made in China at the games. 

A frase da semana: a volta da lei do similar nacional

De 1906 a 1990 funcionou no Brasil uma extrovenga chamada "lei do similar nacional", que simplesmente barrava qualquer produto estrangeiro, desde que existissem um "similar" interno, não importando seu preço ou qualidade.
A tecnocrata protecionista quer reviver a extrovenga: 



"Não estamos falando de protecionismo, de fechar nossa economia, de barrar as importações. Estamos falando de dar uma condição isonômica, ou de não favorecer um produto importado, quando ele existe no Brasil", afirmou ao Valor a secretária de Desenvolvimento de Produção do Ministério do Desenvolvimento, Heloísa Menezes.

Pois é, eu pensava que o Brasil estava retrocedendo meio século com o protecionismo rústico e primitivo das últimas medidas setoriais, mas agora constato que estamos retrocedendo mais de cem anos...
Paulo Roberto de Almeida 

Nacionalismo miope atrasa o Brasil e nos torna mais pobres

Incrível como duzentos anos de teoria das vantagens comparativas e dezenas de anos depois de serem comprovados os efeitos nefastos do protecionismo comercial, como ainda tem gente que defende, pratica, promove, estimula e justifica o mais canhestro protecionismo comercial e o nacionalismo mais rastaquera no domínio industrial.
Enfim, tem gente que não aprendeu economia, nem mesmo frequentando cursos (supostamente) de economia na faculdade, ou exibe uma visão estreita, míope, deformada, dos fenômenos econômicos, e por isso acaba praticando o que eu chamo de stalinismo industrial, ou seja, uma estrutura industrial verticalizada, feita unicamente no próprio país, ignorando completamente o fato de que qualquer indústria, hoje em dia, tem dimensão necessariamente internacional.
Apenas rústicos podem praticar nacionalismo de botequim e protecionismo de contabilidade invertida.
Assim marcha o Brasil (ou não?).
Paulo Roberto de Almeida 




Se, efetivamente, estender para todo o setor de energia elétrica a política de conteúdo local em vigor para a indústria do petróleo - medida já em discussão no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) -, o governo premiará mais um segmento específico da indústria nacional, como tem feito com outras medidas de estímulo à atividade econômica. É muito pouco provável, contudo, que com essa medida beneficie o País. A possibilidade de se exigir dos fornecedores de equipamentos para as áreas de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica um índice mínimo de componentes nacionais, repetindo o que já se faz no setor de petróleo, pode criar uma reserva de mercado para determinadas empresas instaladas no País, com todas as consequências negativas inevitáveis nesse tipo de prática.
O governo argumenta que a extensão para o setor elétrico da política de conteúdo local permitirá combater o aumento das importações, dotar a indústria nacional de maior competitividade e dar mais segurança e confiabilidade ao sistema - além de aumentar o emprego. São, basicamente, os mesmos argumentos de que lançou mão para justificar essa política para o setor de petróleo.
Segundo o governo, é cada vez maior a presença de fornecedores estrangeiros em obras de infraestrutura, em particular em projetos de exploração de recursos naturais. Primeiro vieram os europeus, depois os chineses. É crescente, segundo o Ministério de Minas e Energia, a participação de equipamentos importados e também da mão de obra estrangeira na execução e operação dos projetos nessa área. Como mostrou reportagem do Estado, o documento em estudo pelo CNPE lembra que problemas como esses no setor do petróleo foram enfrentados com a adoção da política de conteúdo local.
Ao estudar meios de ampliar essa política nacionalista, o governo Dilma dá continuidade a mais um dos muitos equívocos de seu antecessor. A contratação, no Brasil, de equipamentos para a indústria do petróleo foi uma importante bandeira eleitoral do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002. Ela tinha o poder de encantar uma parte do empresariado, aquela que seria diretamente beneficiada pelo aumento das encomendas, outros que ganhariam com a dinamização da atividade em sua área e os trabalhadores, pois representaria mais empregos para eles.
A realidade, porém, tem sido muito diferente do cenário prometido pelo governo na defesa dessa política. A falta de capacidade de produção da indústria nacional para atender a encomendas de grande porte, como são comuns no setor de petróleo, vem retardando projetos da Petrobrás.
Mesmo que a indústria nacional esteja preparada para atender aos pedidos volumosos nas áreas de petróleo e de energia elétrica, há outros riscos decorrentes da exigência de conteúdo nacional. A existência de um mercado cativo para o produtor local desestimula a busca da eficiência e abre espaço para a prática de preços incompatíveis com o mercado internacional. O resultado pode ser produto de qualidade inferior ao de similares disponíveis no mercado externo, mais caros e entregues fora do prazo contratual.

Não se contesta a intenção do governo de estimular e incentivar a produção local. Trata-se de discutir os limites a incentivos desse tipo. Se exagerados ou muito seletivos - como são muitos dos concedidos pelo governo Dilma a pretexto de reduzir os impactos da crise mundial sobre a economia brasileira -, resultam em perdas para os demais setores e para os contribuintes e consumidores em geral, ao aumentar custos.
No exame dessa questão - que deve levar em conta a capacidade da indústria local e os compromissos assumidos pelo Brasil na OMC, entre outros fatores, como se anuncia que será feito -, o CNPE não pode deixar de observar os objetivos para os quais foi criado, como órgão de assessoramento do presidente da República. Entre eles está a proteção dos interesses do consumidor quanto a preço, qualidade e oferta dos produtos e a promoção da livre concorrência. A exigência de conteúdo nacional pode resultar no oposto desses objetivos.


O governo continua apostando no mercado interno para enfrentar a crise global, mas até agora a aposta deu pouco ou nenhum resultado. As políticas de estímulo resultaram quase exclusivamente no aumento do consumo, do endividamento, da insolvência e das importações. Jornais publicam longas matérias sobre os altos níveis de calote, em geral involuntário, e sobre como evitar as armadilhas do crédito. O problema é importante, mas é apenas um dos muitos sintomas de um desarranjo muito mais amplo. Por nove semanas o mercado financeiro reduziu as projeções de crescimento econômico. O último número é 2,01%, mediana das previsões coletadas pelo Banco Central (BC) para o Boletim Focus. O próprio BC já havia, em junho, baixado sua estimativa de 3,5% para 2,5%.
A economia brasileira teria crescido muito mais no ano passado e continuaria a expandir-se com folga, neste ano, se o aumento do produto interno bruto (PIB) fosse mais dependente do consumo privado e do custeio do setor público. Foi essa, no entanto, a terapia básica adotada pelo governo. Teria dado resultados melhores, provavelmente, se os grandes problemas da produção nacional fossem conjunturais. Não são, mas os formuladores da política oficial têm agido como se a maior ameaça econômica viesse de fora, isto é, das grandes potências em crise. Com essa interpretação, tão irrealista quanto confortável, o governo se dispensa de cuidar mais seriamente dos problemas reais, todos made in Brazil.
Gastança pública e estímulo ao consumo são bons para fazer a economia pegar no tranco, em tempos de desemprego e muita capacidade ociosa. A longo prazo, o crescimento depende mesmo é da taxa de investimento e da eficiência do capital investido. Entre janeiro e março deste ano, o Brasil investiu o equivalente a 18,7% do PIB. Além de baixa, essa proporção foi inferior à do primeiro trimestre do ano passado (19,5%) e à de igual período de 2010 (19,2%). Mesmo para esse resultado abaixo de medíocre foi necessária a participação externa, porque a taxa de poupança, naqueles três meses, ficou em 15,7% do PIB (17% em 2011). O governo, como já foi comprovado muitas vezes, é o mais importante moedor de recursos e tem-se dedicado com empenho à despoupança.
O Ministério da Fazenda reduziu de 20,8% para 20,4% sua projeção da taxa de investimento. A nova estimativa apareceu em abril, no último boletim da série Economia Brasileira em Perspectiva. Esse tipo de correção tem sido frequente. O setor privado investe menos do que poderia, se enfrentasse menos entraves, e o governo, bem menos do que promete, por incapacidade gerencial. Neste ano, o governo federal acelerou os empenhos e desembolsos, num esforço para se antecipar às limitações do período eleitoral. Mesmo assim, os resultados foram ruins.
De janeiro a junho, o Tesouro aplicou R$ 18,9 bilhões, 2,1% mais que em igual período de 2011, descontada a inflação, mas 13,7% menos que no primeiro semestre de 2010. Além disso, o total desembolsado correspondeu a apenas 21% do valor previsto para 2012 no Orçamento Geral da União. Como sempre, restos a pagar, R$ 14,1 bilhões, compuseram a maior parte dos desembolsos.
A realização do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento, continua deficiente e os números divulgados pelo governo são enfeitados. No primeiro semestre, 52,6% dos desembolsos foram financiamentos destinados aos programas habitacionais, como indica tabela divulgada pela organização Contas Abertas. A maior parte do PAC é executada mais lentamente. Também é ruim a execução dos projetos dependentes das estatais. Mesmo a mais eficiente, a Petrobrás, tem sido incapaz de entregar os resultados prometidos, como deixou claro a nova presidente, Graça Foster, em suas primeiras declarações depois de assumir o posto.
O baixo investimento seria compensado, em parte, se a produtividade do capital investido fosse mais alta. Não se pode, no entanto, contar com isso. No setor privado, é normal o esforço para extrair o máximo de cada real investido, mas a aplicação do dinheiro no setor público segue outros critérios. Queimam-se recursos com emendas parlamentares de alcance paroquial. Montanhas de dinheiro são perdidas em projetos mal preparados, em contratos com empreiteiras malandras, em convênios com organizações delinquentes e em negócios com fornecedores despreparados. O escândalo do petroleiro João Cândido, lançado ao mar com discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e só entregue dois anos depois, é um exemplo especialmente pitoresco de como investir mal.
Tudo isso se reflete na balança comercial. Até a primeira semana de julho, as exportações foram 1,4% menores que as de um ano antes, as importações, 4% maiores e o superávit, 44,6% inferior. O sistema produtivo está emperrado e só o governo insiste em desconhecer esse fato.

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