terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Reflexao sobre nossos tempos - Paulo Roberto de Almeida

Erros de gestão existem em qualquer governo, em qualquer país, em qualquer tempo.
O que é verdadeiramente desprezível é a desonestidade intelectual.
Na verdade, o adjetivo intelectual sequer se aplica, em se tratando de certas pessoas.
O que elas praticam, mesmo, é fraude, mentira e má-fé...
 
Paulo Roberto de Almeida

Cultura: Turquia multa 'Os Simpsons' por debochar de Deus

Cultura? Como cultura?
Isso se parece mais com obscurantismo.
Na verdade, como diria alguém, não existem limites à idiotice humana.
Acho que foi Einstein: "existem duas coisas infinitas no mundo: o universo e a estupidez humana, e eu não tenho certeza quanto ao universo..."
Como diria um bookmaker inglês: "Nunca, jamais, alguém perdeu dinheiro apostando na estupidez humana".
A Turquia poderia dispensar entrar nesse rol...
Paulo Roberto de Almeida

Cultura

Turquia multa 'Os Simpsons' por debochar de Deus

Episódio da série mostra Deus servindo uma xícara de café a Satã

Agência France-Presse, 2/12/2012
 
O Alto Conselho do Audiovisual (RTUK) turco aplicou uma multa de 22.600 euros ao canal de televisão turco CNBC-E por ter exibido um episódio da série animada 'Os Simpsons' em que Deus aparece servindo uma xícara de café a Satã, informou nesta segunda-feira a imprensa local.
O RTUK justificou sua decisão alegando que o episódio "debocha de Deus". Na história, Deus também encoraja os jovens a consumir álcool por ocasião do Ano Novo e a morte é incentivada por "ordem divina", segundo o jornal Hurriyet.
"A Bíblia é publicamente queimada e Deus e Satã são mostrados sob a forma de humanos", denunciam as autoridades citadas pelo jornal. No passado, o RTURK já tomou outras decisões controversas, como condenar um canal de televisão que mostrou o capitão Haddock, um dos principais personagens do desenho Tintin, fumando um cachimbo.

Neoprotecionismo brasileiro atrasa o pais - Edmar Bacha


'Esse neoprotecionismo do governo está errado'
FERNANDO DANTAS / RIO
O Estado de S.Paulo, 02 de dezembro de 2012
Para o economista tucano Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real, a política econômica prejudica o investimento e a produtividade, e é um das causas do baixo crescimento recente.

O economista Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real, tem duras críticas à atual política econômica, que ele considera responsável pelo pífio crescimento do governo de Dilma Rousseff, que voltou ao foco com o mau resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre. Bacha considera que o Brasil vive um "neoprotecionismo geiseliano" (do ex-presidente Ernesto Geisel), que está empurrando a economia no caminho contrário ao necessário, comprometendo a competição e o aumento da produtividade.
Parte dessas preocupações pode ser encontrada na introdução e nos diversos capítulos do recém-lançado livro Belíndia 2.0/Fábulas e Ensaios sobre o País dos Contrastes. A obra é um grande balanço da economia brasileira e do trabalho intelectual de Bacha desde os anos 70, com artigos clássicos (vários deles em forma de fábula), como o que dá nome ao livro, e tratava da distribuição de renda. Ao longo de Belíndia 2.0, questões brasileiras como inflação, crescimento, juros elevados, desigualdade, política social e desindustrialização são tratados em diversos artigos do economista, vários deles em coautoria com outros especialistas.
Sócio fundador e atual diretor do Instituto de Estudos em Política Econômica da Casa das Garças (Iepe/CdG), no Rio, ligado à PUC-Rio, Bacha é politicamente um tucano sem papas na língua para criticar o governo adversário do PT. Ele ocupou cargos importantes no governo, como a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O que o sr. achou do PIB do terceiro trimestre?
Impressionante, a queda do investimento foi uma coisa assustadora. Aliás, o problema do investimento é um dos temas mais importantes que eu trato no meu livro.
Quais são as conclusões?
Todo mundo fala da poupança baixa e do custo do capital, mas ninguém discute o preço inicial dos bens de capital, que é muito elevado no Brasil. O que eu e o Regis Bonelli (economista do Instituto de Política Econômica Aplicada) levantamos de maneira muito sistemática é que o preço dos bens de capital cresce extraordinariamente no Brasil ao longo do processo de industrialização. E hoje, apesar de ter parado de crescer a partir de 1994, com a abertura, ainda é elevadíssimo, do ponto de vista da nossa história passada e das comparações mundiais. Recente artigo de Vinicius Carrasco e de João Manuel Pinho de Mello (economistas da PUC-Rio) mostra que o vergalhão de aço no Brasil é duas vezes mais caro do que o padrão internacional.
Qual a explicação para isso?
Recentemente, eu e o Regis fizemos uma revisão desse artigo para o livro Desenvolvimento Econômico: Uma Perspectiva Brasileira, organizado pelo (economista) Fabio Giambiagi, que está para ser publicado. Nós exploramos econometricamente algumas razões. Uma delas é que, à medida que a gente substituiu máquina importada por máquina nacional, houve aumento do preço do bem de investimento. E nós estimamos esse fato, que é importante.
E por que isso acontece?
Acredito que parte do problema sejam os oligopólios, que estão por trás dos insumos que entram na construção, como no caso do aço. A construção é um componente muito importante do investimento. Como a produtividade dela cresce menos que o PIB, o preço relativo aumenta, para compensar. Eu presumo, embora não tenha evidência empírica, que a mesma coisa que acontece com o aço ocorra com o cimento, com as máquinas nacionais comparadas às importadas. E, finalmente, tem um estudo da (consultoria) McKinsey, do fim dos anos 90, sobre a produtividade no Brasil e uma das constatações foi sobre como a indústria de construção era atrasada naquela época, com produtividade extraordinariamente inferior ao padrão mundial.
Esse problema do investimento caro é comum em outros países?
Não, é uma anomalia brasileira. No mundo, o preço relativo do bem de investimento tende a ser constante. Só no Brasil é que ele sobe ao longo do tempo e não converge para a média. Ele subiu até 1994, e depois estabilizou lá em cima. Tudo o que a gente fez foi deter o processo, com a estabilização e a abertura. Mas não conseguimos reverter.
E por que não?
Porque somos uma economia fechada. Com todas as reclamações que você ouve dos industriais paulistas sobre importações no Brasil, o Brasil é a economia mais fechada do mundo.
Como o sr. vê a política atual do governo em relação a esse problema?
Escrevo na introdução do meu livro que estou preocupado com a natureza da política econômica, que não está voltada para resolver nossos problemas. Estamos revertendo para um sistema protecionista, cujo resultado é aumentar ainda mais o custo do investimento. Todo esse sistema de exigência de conteúdo nacional que se espalha por aí, pela indústria automobilística, do petróleo, nas ações do BNDES em geral - com isso, você está forçando os investidores a comprarem bens mais caros. Portanto, o financiamento que eles têm gera menos capital físico. E esse é um problema histórico que nós temos. Estávamos tendendo a resolver com a abertura comercial e com a estabilização. E agora tem esse processo de reversão ao protecionismo. Além do conteúdo nacional, tem o aumento das tarifas de bens importados.
Por que, na sua opinião, o governo tem essa estratégia?
É basicamente essa propensão a proteger o mercado interno. O ministro da Fazenda (Guido Mantega) e a presidente da República (Dilma Rousseff) dizem que 'face à crise lá fora, estão todos olhando o nosso mercado interno, e a gente tem de protegê-lo contra a guerra cambial, o tsunami monetário, o dumping chinês' - isso é um absurdo, porque o problema brasileiro é essa baixa produtividade. E não vamos conseguir alta produtividade enquanto tivermos a economia fechada, protegida, monopolizada e dependente do Estado. Temos de promover concorrência, temos de arejar esse sistema, temos de fazer com que a nossa indústria se integre às correntes internacionais de comércio, em vez de querer produzir tudo e qualquer coisa aqui dentro. Que é de novo essa mentalidade 'geiseliana'. Que foi o que gerou os nosso problemas. Ao fazer isso, você vai tornando a economia cada vez menos produtiva.
Mas o Brasil cresceu bem até o final do governo Lula.
Nós tínhamos as commodities subindo de preço, e podíamos absorver mão de obra desempregada ou na informalidade, durante esse período de 2005 a 2011. Mas agora acabou a história. Os estudos do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) estão mostrando: a queda do desemprego chegou ao limite, a queda da informalidade também chegou ao limite, e agora nós precisamos de produtividade. Não dá mais para incorporar mão de obra. E de onde vamos tirar essa produtividade? Precisamos investir mais. Sim, mas precisamos investir nas coisas certas, fazer o investimento mais barato, e não o mais caro.
Bem, o investimento estrangeiro no Brasil ainda está em níveis muito altos.
Claro, você protege o mercado, não deixa importação entrar, o mercado é razoável. Eles vêm e compram a Amil. 'Vamos explorar esse pessoal aqui.' Então, é um investimento para explorar o mercado interno protegido. Isso é coisa boa? Não, para mim é uma coisa ruim. Porque a última coisa que esses investidores externos querem do governo brasileiro é que a economia se abra para a importações. Me lembro quando estava no banco BBA, eu ia conversar com os investidores e eles perguntavam 'Você acha que vai voltar a abertura?' Não se investe no Brasil, como se investe hoje no México, por exemplo, ou no Chile, ou no Peru, ou na Colômbia, para integrar a indústria local às correntes de comércio internacional. Nós investimos para evitar a integração. Isso é um absurdo. Se na concessão de infraestrutura à iniciativa privada estamos marchando, ainda que a fórceps, na direção certa, no problema de incentivar o investimento produtivo do setor privado, de demanda final, estamos caminhando na direção contrária à necessária. É um política econômica equivocada.
Como o sr. vê a situação de juros, câmbio e inflação?
O juro real está caindo, pode ser que dê certo. Mas você quer que os juros caiam, e a inflação também caia. Os juros caíram, mas a inflação está lá, ameaçando o topo da meta. O que permite ao Brasil fazer esse experimento, de trazer os juros até o nível bastante baixo de hoje, é a crise internacional. Quanto ao câmbio, eu prefiro que ele seja flutuante. Aliás, o governo está muito frustrado, porque ele fez duas coisas: manteve o câmbio artificialmente desvalorizado, com controle de capital, comprando mais reservas, e abaixou os juros mais ou menos na marra. Do ponto de vista de alguns economistas, dos economistas que estão no governo, isso deveria ter resolvido o problema, porque o problema do Brasil era juro e câmbio. E, de repente, apesar dessa combinação, o Brasil começa a ter 'pibinhos' atrás de 'pibinhos'. E não é um problema que vem lá de fora, porque os nossos vizinhos latino-americanos não estão tendo 'pibinhos'. Estão tendo PIBs muito bons.

A potencia agricola brasileira (3): Terras tem alta valorizacao

Terras brasileiras sobem 14,2% ao ano em uma décadaReuters, 28/11/2012

Os preços das terras agrícolas no Brasil tiveram valorização média de 14,22 por cento ao ano entre 2002 e 2011, bem acima da inflação, revela um estudo inédito da consultoria Informa Economics FNP, ao qual a Reuters teve acesso.

O aumento dos preços foi motivado, entre outros motivos, pela crescente demanda por alimentos no mundo, refletida pela alta nas principais commodities agrícolas, e pela entrada de investidores em busca de rentabilidade garantida, em meio à instabilidade da economia internacional, disse a consultoria.

Entre janeiro de 2002 e dezembro de 2011, período da análise, as terras acumularam ganhos de 278 por cento em média no Brasil, contra uma inflação (IPCA) de 87,7 por cento.

No mesmo período, o índice Bovespa, que mede o desempenho dos principais papéis na Bolsa de São Paulo, teve alta de cerca de 300 por cento, mas com muito mais volatilidade.

As chamadas "novas fronteiras agrícolas", nas áreas de Cerrado de Maranhão, Piauí, Tocantis e oeste da Bahia - conhecidas por Mapitoba - foram uma das que mais valorizaram.

Como exemplo, a FNP cita a região de Balsas (MA), onde uma área agrícola de baixa produtividade subiu de preço mais de 24 por cento ao ano, passando de menos de 1.000 reais por hectare para quase 5.000 reais.

"Mapitoba é a região que tem muita valorização. Talvez não seja possível repetir nos próximos dez anos a mesma performance desses últimos dez anos, mas ainda assim a gente acredita (num aumento de preços)", disse à Reuters José Vicente Ferraz, diretor-técnico da Informa Economics FNP.

Todas as regiões registraram elevação nos preços de forma semelhante.

O Centro-Oeste, principal região produtora de grãos e gado bovino, teve a maior valorização, de 16 por cento ao ano.

As terras das regiões Sul e Norte registraram ganho médio de 15 por cento ao ano, enquanto no Nordeste e no Sudeste o aumento foi de 14 por cento.

A FNP dividiu o país em 133 regiões e faz pesquisa com 300 colaboradores espalhados pelo território nacional, coletando a cada dois meses a cotação de terras com as mais variadas características.

As elevações de preço passam longe de ser homogêneas. Tudo depende da aptidão de cada área.

Um exemplo da diversidade foi o preço de um hectare em área de caatinga no Piauí (um dos Estados do Mapitoba), na região do município de Picos, onde a valorização acumulada foi de apenas 1 por cento em dez anos.

"São áreas sem potencialidade de produção", lembrou Ferraz.

INVESTIDORES

A valorização e a segurança do investimento em terras atraíram gente que não tem o perfil tradicional de fazendeiro, afirma Ferraz.

"Até 10 anos atrás, praticamente só existia o mercado de quem está com o pé na terra... Hoje não", disse ele, ressaltando que não há estatísticas confiáveis sobre a participação de investidores no mercado de terras. "Mas com certeza já é bastante relevante."

O diretor da FNP conta que a empresa prestou assessoria para diversos grupos de investidores, inclusive estrangeiros. Ele não pode citar nomes nem números.

Segundo ele, esse tipo de investimento é bastante seguro, embora não tenha muita liquidez.

"A crise internacional pode ter reflexo. Há o fato de que as taxas de juros no mundo todo são bastante baixas e que fundos, principalmente de pensão, têm uma necessidade de investir em ativos seguros. (Terra) não é papel, uma coisa que evapora."

Os ganhos podem ocorrer em três frentes, diz o especialista.

O primeiro, e mais óbvio, é o ganho sobre o preço de uma terra que pode ser vendida por um preço maior após alguns anos do negócio.

No entanto, há também os lucros com a produção e a venda dos produtos agrícolas. Nos últimos três anos, a soja acumula alta de quase 60 por cento na Bolsa de Chicago, por exemplo.

O terceiro ganho para quem investe em terras, diz Ferraz, é a transformação de terra bruta, que é barata, em terra própria para cultivo, que é cara.

"O ganho da transformação é muito maior que o investimento. Quando você compõe estes três lucros, você chega a ter taxas de retorno do capital de 15 a 18 por cento", diz o analista.

ESTRANGEIROS

Na percepção do diretor da FNP, houve uma entrada importante de capital externo em busca de terras nos últimos anos, mesmo após a decisão do governo federal em 2010, que restringiu a compra de terras no país por empresas estrangeiras.

"Uma das características deste investidor, até pela questão da lei dos estrangeiros, ele tem vindo associado a um brasileiro", disse Ferraz. "Esses fundos entendem que é importante estar associado a alguém que conheça o Brasil."

Segundo ele, na maior parte dos casos, empresas brasileiras que já são proprietárias de amplas fatias de terras recebem capitalização de fundos internacionais, para a aquisição de mais áreas e ampliação da produção. Em maio deste ano, a SLC Agrícola anunciou parceria com a britânica Valiance, em acordo que envolveu um aporte de 238,58 milhões de dólares.

Em todos os casos, segundo Ferraz, trata-se de um negócio difícil, já que é preciso aliar uma avaliação da capacidade agrícola das terras, sua regularização fundiária e as pressões de ambientalistas contra a conversão de áreas de vegetação em áreas de cultivo.

"Esse negócio é para profissionais."



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Brazilian farmland prices nearly quadruple in last decade-study

A potencia agricola brasileira (2): O Brasil se veste de soja

Brasil se veste de sojaRevista Globo Rural, 26/11/2012

Plantio recorde leva oleaginosa a roubar espaço do boi e invadir áreas antes destinadas a algodão, milho e feijão

A soja celeremente vai ocupando o espaço do algodão, milho de verão, feijão primeira safra, arroz e invadindo o pasto da boiada. Em seu rastro, crescem as vendas de plantadeiras, colheitadeiras e fertilizantes. Num cenário de demanda aquecida, os produtores já haviam negociado até o final de outubro quase 50% da megassafra que só começa a ser colhida em janeiro próximo. “Preços bons garantem margem maior em relação às outras culturas”, afirma Aedson Pereira, analista de grãos da Informa Economics FNP, consultoria especializada no agronegócio. “Anima ainda mais a perspectiva de a remuneração continuar robusta em 2013 por conta da demanda chinesa. O clima também está ajudando”, diz.

Até pelos tradicionalíssimos cenários de pecuária de corte e de arrozais, como os das cidades gaúchas de Pelotas e Don Pedrito, a soja se expande, e o temor de algumas entidades é que mais áreas de campo sejam destinadas ao cultivo e a lotação diminua, afetando a oferta de touros nas concorridas feiras e remates da primavera e verão. Previsões indicam que a área destinada ao plantio no Rio Grande do Sul pode ganhar 300.000 hectares nesta temporada, passando de 4,2 milhões de toneladas (2011/2012) para até 4,5 milhões de hectares. Já no Norte, em Tocantins, o retrato da transformação é mais nítido e a pecuária perde terreno para a oleaginosa.

“Na região de Araguaína, por exemplo, no norte do Estado, o que era pastagem degradada está virando um tapete verde”, afirma Pereira. O secretário de Agricultura de Tocantins, José Américo Vasconcelos, diz que a área plantada em todo o Estado deve ficar de 15% a 20% maior em relação à safra anterior. A previsão de colheita no Tocantins é de 1,5 milhão de toneladas – era 1,3 milhão em 2011/12.

Segundo Aedson Pereira, na região conhecida como Mapitoba, que é a confluência entre os Estados do Maranhâo, Piaui, Tocantins e Bahia, os grãos vão tomar entre15% e 25% das pastagens na atual temporada. Para o analista, os criadores de boi deverão investir em tecnologia e produtividade para permanecer na atividade. Caso contrário, a soja rentável invadirá mais pastos.

Os números divergem pouco, e todos eles confirmam que a soja será a vedete deste verão. Há cerca de dois meses, falava-se numa colheita próxima de 80 milhões de toneladas em 2012/2013, mas agora a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e consultarias como FNP e Agroconsult já arriscam um resultado de até 83 milhões de toneladas. Pela estimativa da Conab, a área plantada com a soja deve ultrapassar 27 milhões de hectares, 9% a mais que na safra anterior.

“Nessa invasão da soja, prevemos que o algodão cederá até 18% de área na Bahia e pelo menos 27% em Mato Grosso", adianta Pereira, da FNP. Por sua vez, a Conab aponta para uma redução entre 20% e 27,4% na área cultivada com algodão em todo o país devido a fatores como câmbio, queda nas cotações da pluma e maior rentabilidade da soja. No caso do milho, segundo a Conab, a área semeada na primeira safra deve cair entre 4% e 6,8%, mas a produção é prevista na faixa de 34,5 milhões a 35,8 milhões de toneladas, com variação positiva entre 1,9% e 5,9% em relação à safra passada.

No Paraná, o otimismo com a soja dá o tom. Na pequena Corbélia, vizinha a Cascavel, o gaúcho migrante Euclides Francisco Formigieri, que penou com a seca aguda na safra 2011/2012, está muito satisfeito agora. "O clima está bom na região oeste e os preços também", afirma o sojicultor de 43 anos de idade, que, confiante, chegou a comprar colheitadeira e negociava a aquisição de plantadeira e trator com a empresa Metropolitana, de Cascavel. Formigieri diz que não entabulou negócio futuro com a soja, pois aposta no incremento das cotações.

Em Mato Grosso, principal Estado produtor, praticamente não há máquinas agrícolas para entrega imediata. Tem de esperar dois meses. Foi o caso do produtor José Antonio Sapata, que recebeu no mês passado três máquinas adquiridas em julho por RS 1 milhão. Ele afirma que os preços bons da soja permanecerão nos próximos três anos pelo menos. Em todo Mato Grosso, segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (IMEA), deverão ser semeados 7,89 milhões de hectares de soja nesta temporada, um salto de 11,6% na comparação com 2011/2012. A produção está estimada em 24,13 milhões de toneladas, 12% mais, enquanto a comercialização da soja que está sendo plantada atingiu 63,1% no final de outubro, movimento que traduz confiança na atividade.

Com dinheiro no bolso, os produtores compram máquinas agrícolas para substituição das antigas e também fertilizantes para melhora da produtividade das lavouras. Até setembro último, porta do plantio, as empresas tinham vendido 3.629 colheitadeiras, 11% mais que em igual período do ano passado, e a tendência era os negócios acelerarem. A comercialização de tratores, cujo panorama não era tão favorável no início deste ano, reagiu e as revendedoras contabilizaram 41.400 unidades de janeiro a setembro (foram 40.900 nos primeiros nove meses de 2011). "Otimistas, os agricultores querem se mecanizar. Devemos terminar 2012 em crescimento, diferentemente da estabilidade inicial prevista em relação ao ano passado", diz Milton Rego, diretor da empresa CNH.

Na área de fertilizantes, a expectativa é de um incremento de 5% em relação às vendas "explosivas" de 2011, que atingiram 28 milhões de toneladas — em 2010, o consumo nas lavouras foi de 24,5 milhões de toneladas. Em janeiro deste ano, a Associação dos Misturadores de Adubos do Brasil, sediada em São Paulo, havia previsto crescimento de 3% nas entregas para o ano de 2012.

Segundo Carlos Eduardo Florence, presidente da entidade, mais do que a soja — que consome menos adubo —, o gigantesco salto no cultivo de milho e os bons preços recebidos por essa cultura estão permitindo ao setor encerrar o ano exibindo outro recorde respeitável.

Na opinião de Pereira, da FNP, colaboram para o cenário promissor os estoques baixos dos EUA, ao redor de 4,6 milhões de toneladas, que balizam o mercado, e o apetite da China, que não deve arrefecer. Segundo ele, há produtor em Goiás e Mato Grosso "travando" cotação de até RS 60 pela saca, o que lhe garante um lucro expressivo de 35%.

Outubro morria quando chegaram as últimas notícias de Mato Grosso: em setembro, foram entregues 647.000 toneladas de fertilizantes no Estado, 39% mais que em igual mês de 2011. Carlos Florence diz que só neste ano haviam sido destinados 4,1milhões de toneladas para lá, 10% a mais em comparação a 2011. Ele chegou até a avisar sobre problemas pontuais de entrega.

A potencia agricola brasileira (1): Commodities agrícolas atraem investidores (Valor)

Commodities agrícolas atraem investidoresValor Econômico, 27/11/2012

O Brasil lidera o ranking do comércio mundial de seis dos principais produtos agropecuários: café, açúcar, suco de laranja, soja, carne de frango e celulose. Detém o maior rebanho bovino do mundo. Apresenta índice de desenvolvimento agrícola superior à média mundial, com domínio de tecnologias sofisticadas, segundo estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). E exibe ainda a maior produtividade agrícola na América Latina e Caribe, com crescimento médio de 3,6% ao ano. A eficiência do setor se reflete no desempenho econômico: o PIB (Produto Interno Bruto) do agronegócio em 2011 alcançou US$ 548,2 bilhões, correspondente a 22,51% do PIB nacional.

Resultados tão expressivos têm feito do Brasil um dos principais destinos dos recursos destinados a investimentos. O crescimento vegetativo e da renda das populações geram demanda em proporções inéditas. As projeções de crescimento da procura por alimentos fazem do comércio de produtos agrícolas um negócio com retorno garantido. Os preços das commodities mudaram de patamar e as séries históricas deixaram de ser referência para as análises de mercado.

Isso explica a presença frequente no País de gestores de capital das mais diferentes procedências. Esses profissionais circulam com desenvoltura pelas cidades brasileiras à procura de oportunidades, segundo informa o diretor técnico da Informa Economics FNP, José Vicente Ferraz. Representam, em geral, fundos de investimento ou empresas do agronegócio interessadas em se estabelecer no Brasil. Muitos já ganharam terrenos de prefeituras e constroem fábricas. O modelo adotado com maior frequência é o da associação com empresas brasileiras, conhecedoras do mercado e da nossa burocracia, explica Ferraz.

Estima-se que na década passada o investimento direto estrangeiro (IED) tenha alcançado em média 27% do valor da formação bruta de capital no setor agrícola. Mas, segundo alguns analistas, isso não se sustentou a partir de 2010. Restrições impostas à participação do capital estrangeiro na aquisição de imóveis rurais por parecer emitido em 2009 pela Advocacia Geral da União (AGU), que deu uma nova interpretação da Lei 5.709/71, reduziram o fluxo de recursos externos para essa área de atividade, informa a superintendente técnica da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Rosemeire Cristina dos Santos. Segundo esse novo parecer, empresas estrangeiras ou nacionais controladas por estrangeiros não poderão adquirir imóveis com mais de 50 módulos, ou com área superior a 25% da superfície do município onde estão localizados. “A mudança na interpretação da Lei gerou insegurança jurídica”, ela afirma. “Ocorreu um esvaziamento no fluxo de recursos. Afugentou os investidores.”

A repentina freada no fluxo de capitais em direção ao agronegócio também foi notada pelo diretor técnico da FNP. José Vicente Ferraz considera o parecer da AGU totalmente injustificado. Para ele, o capital estrangeiro não representa ameaça à soberania do País. “Não tem sentido restringir a propriedade de terras ao capital nacional.” Com a nova interpretação da lei, o ritmo dos investimentos estrangeiros, que já havia sofrido um abalo com a crise financeira de 2008, perdeu velocidade, afirmou.

Mesmo assim, o interesse pelo agronegócio brasileiro permanece. Para o economista, professor do Programa de Estudos Pós-Graduados em Economia  da PUC-SP, Antônio Corrêa de Lacerda, países de grande população, como a China, procuram a segurança alimentar por meio de investimentos no exterior. Além de países da África, Brasil se tornou destino certo de um capital que busca elevar a segurança alimentar com a maior oferta de produtos agrícolas. A recente queda dos investimentos estrangeiros diretos no Brasil é atribuída por Lacerda ao recrudescimento da crise internacional. Segundo dados do Banco Central, entre janeiro e setembro deste ano, os investimentos estrangeiros diretos aplicados na agricultura, pecuária e serviços relacionados caíram 39,3% em relação ao mesmo período do ano passado. O professor da PUC diz que essa queda, embora representativa, não significa mudança de rumo do capital estrangeiro. “O Brasil continua sendo um oásis para os investidores estrangeiros. É o país que mais oferece garantias”, declara Lacerda.

Rosemeire concorda com a opinião de Lacerda, diante das inúmeras vantagens proporcionadas pela atividade agropecuária exercida no Brasil. Mas lembra que o impedimento legal não é o único obstáculo ao investimento estrangeiro no País. A deficiência na infraestrutura também assusta o capital externo. No entanto, permanece o interesse no agronegócio, especialmente nas atividades de ciclo longo, como a silvicultura, para a produção de celulose, ou o cultivo de cana-de-açúcar para etanol. As vantagens comparativas proporcionadas pelo clima, insolação, abundância de água e extensão territorial continuam sendo um chamariz. Do ponto de vista do interesse nacional, o capital estrangeiro é bem-vindo, diz Rosemeire. A expansão das atividades no campo com elevada tecnologia demanda recursos, explica.

Há pelo menos 70 milhões de hectares no Brasil que precisam ser mais bem aproveitados. São áreas degradadas, em geral pastos, onde podem ser adotas tecnologias de baixo carbono, como a integração lavoura-pecuária-floresta ou sistema de plantio direto. Estudo da CNA indica que medidas singelas como essas podem contribuir para elevar a produção de grãos e fibras em 136,9%, de 160 para 379 milhões de toneladas ao ano. O mesmo ocorre com a produção anual de carne, que pode passar das atuais 9,1 milhão de toneladas para 15 milhões de toneladas, apenas com o melhor aproveitamento dessa área.

China e India: pragmatismo de resultados; Brasil: irrealismo sem qualquer resultado?

Pelo menos é o que se pode deduzir da entrevista desse especialista francês em mercados emergentes: China e Índia possuem líderes ou equipes dirigentes que podem ser chamados de estadistas, ou seja, pessoas absolutamente comprometidas com o crescimento de seus países, com base em políticas que se amoldam aos estímulos e demandas dos mercados mundiais.
Por dedução contrária, o Brasil possui um bando de capiaus, dotados de pouca visão estratégica, praticando um keynesianismo de botequim, temperado com molhos atrasadíssimo de extração cepaliana ou prebischiana (mas no mau sentido, pois que as receitas sempre evoluem em função das circunstâncias, são os capiaus tupiniquins que permanecem onde estavam 30 ou 40 anos atrás), e incapazes de formular políticas de crescimento adaptadas aos requerimenos dos mercados mundiais. Daí o retorno ao estatismo, ao protecionismo, à improvisação e às medidas pontuais e setoriais, absolutamente incapazes de corrigir os defeitos estruturais do país.
Não creio que a China escapa de uma ou duas crises, em função, justamente, de seu estatismo exagerado, o que sempre redunda em investimentos errados e estímulos equivocados.
Em todo caso, cabe ler o que este francês tem a dizer...
Paulo Roberto de Almeida

INTERNACIONAL
China e Índia optaram pelo "pragmatismo de resultados"
Xavier Richet/Universidade de Paris III
Monitor Mercantil, 30/11/2012

Na segunda parte de sua entrevista exclusiva ao MM, o economista Xavier Richet, da Universidade de Paris III (Sorbonne Nouvelle), especialista em economias emergentes, compara os modelos de desenvolvimento chinês e indiano. Richet afirma que, mesmo existindo estratégias nacionais de desenvolvimento, a chave para entender o dinamismo das duas economias é a desregulamentação.

"Enquanto na China as grandes empresas são estatais, a Índia optou por aproveitar a herança inglesa e reforçar suas maiores corporações de propriedade familiar. É um "pragmatismo de resultados", cujo objetivo inicial era alimentar mais de um bilhão de pessoas", afirma Richet, acrescentando que as empresas privadas chinesas, temendo a intervenção do Estado, investem pesadamente em paraísos fiscais: "Cerca de 13% dos investimentos chineses vão para a América Latina. Porém, na verdade se destinam a paraísos fiscais."

A Índia é outro gigante emergente. Quais as semelhanças e diferenças em relação ao modelo chinês?

A Índia se concentrou numa dimensão pós-colonial, assumindo o modelo típico da Inglaterra, de formação de elites. Criou universidades e centros educacionais com excelentes resultados e dedicou-se também à formação de grandes grupos industriais sob controle de famílias.

O país consolidou grandes conglomerados, não voltados para a exportação, mas para o mercado interno. Bastante diferente do modelo chinês, mercantilista, voltado para o mercado externo. Os conglomerados indianos desenvolveram competências muito fortes, inclusive financeira, o que permitiu se posicionarem bem na produção com alto valor agregado, ao contrário do que ocorreu na China.

Apesar das diferenças, é correto afirmar que nos dois casos houve uma estratégia do Estado?

Na verdade, o Estado desregulamentou, tanto na China, quanto na Índia. Em alguns setores estratégicos, principalmente na China, houve planos, mas não há a visão de ocupar determinados setores da produção mundial.

Pelo contrário, até 2002, há uma forte desregulamentação e ausência do Estado. Quando se fala hoje, por exemplo, sobre o papel do Estado na China, com relação à conquista do mercado externo, é algo muito recente, de 2002, com a entrada do país na Organização Mundial do Comércio (OMC).

Então seria uma adaptação do Consenso de Washington?

Não. Fizeram a desregulamentação, mas não tinham uma visão pré-determinada sobre a direção a seguir. A diferença é muito simples. O Consenso de Washington recomendava um determinado conjunto de políticas para obter resultados pré-estabelecidos.

O objetivo, no caso de China e Índia, era alimentar mais de um bilhão de pessoas. Um pragmatismo de resultados. Há um medo atávico na China de que o governo possa tomar o dinheiro das empresas. Então, boa parte deles é aplicada fora do país, a partir de Hong Kong, embora a sede da empresa continue na China.

Isso é autorizado pelo governo?

Fazem uma ciranda. O dinheiro vai e volta. Boa parte vai para Ilhas Cayman ou Ilhas Virgens. Cerca de 13% dos investimentos chineses vão para a América Latina. Porém, na verdade se destinam a paraísos fiscais.

Estamos longe da transparência. As cifras oficiais falam de apenas 4%, mas as fontes ocidentais estimam que apenas 65% dos investimentos passam por Hong Kong. Em todo caso, nunca existiu uma visão anterior do Estado.

Como é na Índia?

Na Índia, o Estado também não diz para as empresas o que têm de fazer. Foram se especializando em mais valor agregado, sobretudo informática. Muitas vezes se apresenta, corretamente, a China como a fábrica do mundo e a Índia como escritório do mundo, porque o primeiro se especializou na produção de bens materiais, enquanto que os indianos teriam optado pelo setor de serviços. É uma constatação.

Quem se saiu melhor?

Há uma classificação muito interessante de uma grande empresa de consultoria norte-americana, a Boston Consult Group (BCG), de que, entre as empresas com melhores resultados dos Brics, há 47 empresas chinesas, a maioria com capital estatal; 25 indianas, com capital totalmente privado, dos setores de farmácia, informática, eletrônica; sete brasileiras, entre elas a Petrobras; e outras sete sediadas na Rússia. São as que mais investem no exterior. Há também oito firmas mexicanas neste grupo.

Então, o motor desse desempenho, apesar da desregulamentação, pelo menos no caso da China, é o Estado?

No caso da China, sim. Já na Índia e no México é o mercado.

Não há contradição nisso?

Partindo de um momento-chave, o início dos anos 2000, que é o momento da abertura, no caso chinês, excetuando algumas empresas estratégicas, foi permitida a entrada de empresas estrangeiras.

As exceções ficam predominantemente no setor bancário, no qual há seis bancos fortes, com grande presença do Estado.

No máximo, permite-se associações com instituições estrangeiras. Já no plano internacional, a partir da entrada da China na OMC, em 2002, fica clara a estratégia de internacionalização das empresas chinesas, que tiveram crescimento exponencial.

Existe algum caso similar ao chinês?

Hoje, a China é muito parecida com as empresas norte-americanas dos anos 50 e 60, quando começaram a se internacionalizar e a competir em outros mercados. Um grande exemplo e o setor automobilístico. Na China, encontramos as grandes montadoras norte-americanas, francesas, japonesas.

As empresas chinesas produzem também para o mercado interno, mas a população prefere os carros de luxo europeus e norte-americanos.

Então a China fica um pouco obrigada a vender para o exterior, porque em casa preferem Mercedes, Renaut, Volvo, embora a produção tenha melhorado muito o nível, levando o país a ser o primeiro produtor mundial de veículos.

Fiz um estudo sobre a Volvo na China e constatei que a empresa chinesa que comprou a Volvo produz na China para competir com as estrangeiras, por causa do referencial simbólico da Volvo.

O Brasil não tem conseguido construir um sistema nacional de inovação. Em que estágio se encontra a China? O país é uma ameaça para o Brasil?

Quanto à inovação, a China está no mesmo nível de desenvolvimento do que o Japão, embora o país esteja longe de produzir bens de luxo no nível, por exemplo, da indústria automobilística do vizinho asiático.

Já o Brasil, dificilmente terá condições de competir com a China. A mesma empresa que comprou a Volvo, para oferecer carros de luxo ao mercado interno, atualmente está investindo no Irã, na Malásia, em países com mão-de-obra barata, não para produzir o Volvo de luxo, mas carros para renda mais baixa.

É um mercado que o Brasil poderia ocupar, pelo menos na América Latina, mas não se vê condições para isso. A China importa commodities do Brasil, mas por outro lado, produz bens capazes de concorrer com o seu país na Argentina, México, Peru.

Rogério Lessa

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