sábado, 4 de janeiro de 2014

Alemanha anos 1920: a loucura da hiperinflacao e outras loucuras - book review

Bad Marks

‘The Downfall of Money,’ by Frederick Taylor


Albert Harlingue/Roger Viollet—Getty Images
German children playing with banknotes that have lost their value through inflation, circa 1919.


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Frederick Taylor’s “The Downfall of Money” promises, on its jacket, to deliver “an economic horror story.” A horror it was: We’ve all seen the photos from Germany with the wheelbarrows full of cash or the children playfully stacking bricks of worthless bills (by late 1923 the mark had deteriorated from a value of 4.2 to the dollar in 1914 to over 4 trillion). The monetary crisis was so traumatic that to this day, it renders the German people thoroughly allergic to price increases.

THE DOWNFALL OF MONEY

Germany’s Hyperinflation and the Destruction of the Middle Class
By Frederick Taylor
Illustrated. 416 pp. Bloomsbury Press. $30.
But despite its title, this book is primarily concerned not with money but with everything else the Germans were also concerned with from 1914 to about 1929: military strategy, starvation, assassinations (of people good and bad), putsches (fruitless and fruitful), foreign occupation, riots, strikes and pretty much every other permutation of anarchy and violence.
For the first 100 pages or so, Taylor, the author of “Dresden” and “The Berlin Wall,” gives us a highly detailed, and somewhat detoured, narrative of the years around World War I. There is little mention of monetary issues, save an occasional reference to the exchange rate. Taylor pays more attention to the economic issues of the 1920s, but even then what he really seems to want to write about is the general craziness that was Weimar Germany.
There is much engrossing craziness to cover. Many readers are no doubt familiar with the Treaty of Versailles’ war-guilt clause, which shifted blame for a pointless, expensive autopilot of a war entirely onto Germany and its allies. Fewer probably remember how that finger-pointing then ricocheted within Germany itself after the Kaiser was ousted and splintered groups of Communists, Social Democrats and far-right nationalists blamed one another for the humiliations of the war and its aftermath. Abused by the vengeful victors, the Germans turned to abusing (and slaughtering) themselves.
To be sure, Germany was not simply a victim deserving of sympathy. Taylor documents its plans to visit crushing indemnities and annexations upon its enemies had it prevailed in the war. Everyone, he argues repeatedly, behaved badly. And almost everyone borrowed way too much to bankroll this bad behavior, counting on the other guy’s losing in order to get back in the black. The United States, the main creditor to the other victors, comes off looking worse than Americans may care to remember. It was Washington’s refusal to forgive the Allies’ war debts, after all, that encouraged Britain and France to tighten the screws on the broke and psychically broken Germany (which was effectively paying French and British debts to the United States indirectly). As a result, Uncle Sam collected the nickname “Uncle Shylock.”
Only toward the end of the book are we introduced to the long-awaited hyperinflation. There Taylor details the less obvious ways in which dizzyingly high prices frayed the social fabric. Women couldn’t marry, for example, because their dowry savings had been inflated away. Lifestyle choices became strangely distorted by price changes; unlike food costs, opera ticket prices remained cheap because they were set by the state, encouraging consumption of entertainment instead of calories. Strikes and riots abounded — including, most memorably, a strike by Reich printing house workers when the government finally got serious about stamping out inflation. (If they weren’t regularly printing money, they were in danger of losing their jobs.)
There are, Taylor suggests, parallels between the profligate German welfare state of the 1920s and Germany’s European Union peers today. But he is frustratingly noncommittal about why the German government pursued the inflationary policies it did — and to what extent they were deliberate or just ad hoc. Uncertainty ruled not only Weimar economic policy, it seems, but also the historians’ assessments that followed.

Catherine Rampell is an economics reporter for The Times.
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sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

STF faz volta atras nas condenacoes do Mensalao: Joaquim Barbosa renuncia - Carlos Chagas

Seria um simples boato, ou é verdade?
Conhecendo-se a política brasileira, os comportamentos atuais, de políticos e magistrados, nada deveria nos surpreender.
Paulo Roberto de Almeida

A LUZ QUE SE APAGA E A ESCURIDÃO QUE SE APROXIMA
Carlos Chagas
Tribuna da Imprensa, 3/01

Confirmam amigos chegados ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa: ele pedirá aposentadoria antes de ser sucedido, em abril do próximo ano, pelo ministro Ricardo Lewandowski, na direção maior do Poder Judiciário. 

Motivo: o desmonte do mensalão, que começará logo depois da mudança na presidência da mais alta corte nacional de Justiça.

Como? Através de manobra já engendrada pelo PT e pelos advogados dos mensaleiros, com a aquiescência de Lewadowski, que permitirá a REVISÃO dos processos onde foram condenados 25 implicados num dos maiores escândalos da história da República. Estaria tudo coordenado, apenas aguardando a mudança da guarda. Apesar de a revisão de processos constituir-se em exceção na vida dos tribunais, pois acontece apenas com o surgimento de fatos novos no histórico das condenações, já estariam em fase de elaboração os recursos de quase todos os hoje condenados, a cargo de advogados regiamente remunerados, junto com outros ideologicamente afinados com o poder reinante.

Nada aconteceria à margem de discussões e entreveros jurídicos, mas a conspiração atinge a composição atual do Supremo Tribunal Federal. E a futura, também. 

O término do mandato de Joaquim Barbosa na presidência da Corte Suprema marcaria a abertura das comportas para a libertação dos criminosos postos atrás das grades e daqueles que se encaminham para lá.

Joaquim Barbosa não estaria disposto a assistir tamanha reviravolta, muito menos a ser voto vencido diante dela. Assim, prepara seu desembarque. Pelo que se ouve, não haverá hipótese de mudar a decisão já tomada, mesmo ignorando-se se aceitará ou não transmudar-se para a política e aceitar algum convite para candidatar-se às eleições de outubro. Tem até abril para decidir, apesar das múltiplas sondagens recebidas de diversos partidos para disputar a presidência da República.

A informação mostra como são efêmeros os caminhos da vida pública. Até agora vencedor inconteste na luta contra a corrupção, reconhecido nacionalmente, Joaquim Barbosa pressente a curva no caminho, não propriamente dele, mas dos mesmos de sempre, aqueles que conseguem fazer prevalecer a impunidade sempre que não se trata de punir ladrões de galinha.

Afinal, alguns meses de cadeia podem machucar, mas se logo depois forem revogados através de revisões patrocinadas pelas estruturas jurídicas postas a serviço das elites, terão passado como simples pesadelos desfeitos ao amanhecer. Não faltarão vozes para transformar bandidos em heróis. 

A reação do ainda presidente do Supremo de aposentar-se ficará como mais um protesto da luz que se apaga contra a escuridão que se aproxima. 

Desafios da diplomacia brasileira em 2014 - BBC Brasil

BBC Brasil, 3/01/2014

Crise com EUA e acordo com UE estão entre principais desafios para governo de Dilma Rousseff
No ano em que o Brasil sediará a Copa do Mundo e realizará eleições para presidente e governadores, os políticos brasileiros deverão tratar a política doméstica com atenção ainda maior que a habitual.
Entretanto, 2014 também começa com a expectativa de empenho do governo em algumas questões da política externa, dando prosseguimento aos esforços de Brasília em ampliar a influência brasileira no mundo.
A BBC Brasil listou cinco dos principais desafios que a política externa brasileira deverá enfrentar no ano que se inicia.

Acordo Mercosul-União Europeia
Espera-se que nos primeiros meses de 2014 o Brasil e os demais membros do Mercosul entreguem suas propostas para um acordo de livre comércio com a União Europeia, que vem sendo negociado há 14 anos.
No Brasil, há crescente cobrança para que o acordo seja fechado – teme-se que, por tradicionalmente priorizar o comércio com os vizinhos do Mercosul, o país fique à margem das grandes alianças comerciais que estão em negociação ao redor do mundo e que devem transformar o comércio global nos próximos anos.
No dia 17 de janeiro, os chefes de Estado do bloco sul-americano poderão aproveitar uma reunião na Venezuela para finalizar a proposta aos europeus. Não se sabe se os países apresentarão uma oferta única ou ofertas individuais, a serem negociadas separadamente.
Do lado europeu, porém, poderá haver resistências a propostas individuais. Tampouco se sabe sob quais condições o bloco europeu aceitará abrir seu mercado para produtos agrícolas sul-americanos, uma das principais demandas do Mercosul, mas que enfrenta oposição especialmente da França.
Crise com os Estados Unidos
Ao desmarcar uma visita de Estado que faria a Washington em outubro, a presidente Dilma Rousseff formalizou sua indignação com as denúncias de que fora alvo de espionagem pela NSA, a agência de segurança nacional americana.
A decisão freou a aproximação diplomática entre Brasil e Estados Unidos que ganhara fôlego após a posse da presidente, em 2011. Contudo, o anúncio de que a viagem não foi oficialmente cancelada, mas sim suspensa, alimenta expectativas de que a visita seja remarcada antes do fim do mandato de Dilma, ainda em 2014.
Para tanto, a presidente terá de avaliar os prós e contras de uma eventual visita. A Casa Branca não parece muito disposta a atender o pedido de Dilma para que se explique pelas ações da NSA e, sem o gesto, crescem os riscos de que a viagem afete a popularidade da presidente no ano em que tentará se reeleger.
Por outro lado, entre os dividendos que poderá obter com a reaproximação estão um acordo de isenção de vistos entre Brasil e EUA, cuja negociação foi paralisada em meio à crise diplomática, e um apoio mais incisivo da Casa Branca à aspiração brasileira por uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Tensão comercial com a Argentina
A relação comercial entre Brasil e Argentina vive momento delicado desde 2012, quando o governo argentino passou a adotar uma política chamada Declaração Jurada Antecipada de Serviços (DJAS) para controlar as importações ao país.
Empresários brasileiros e setores do governo dizem que a política cria sérias dificuldades às exportações para o país vizinho, embora as vendas de produtos nacionais para a Argentina tenham crescido 8,1% em 2013 em relação a 2012, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
No fim de 2013, a troca na chefia do órgão argentino que trata do comércio exterior abriu uma janela para que os países buscassem um maior entendimento nesse campo.
As negociações, no entanto, têm um importante obstáculo: a problemática falta de dólares no mercado argentino, que tende a se agravar com uma maior abertura do país a importações.

Nova política de cooperação
Em viagem à Etiópia em maio, a presidente Dilma Rousseff anunciou que o Brasil alteraria o funcionamento da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), um dos pilares da diplomacia nacional em países pobres ou emergentes.
Dilma disse que a nova agência ajudaria a "viabilizar investimentos" e sugeriu que ela poderia deixar a alçada do Ministério de Relações Exteriores. Ainda não está claro, porém, como se dará essa mudança.
Hoje as ações da ABC, financiadas a fundo perdido, buscam em sua maioria compartilhar políticas públicas e capacitar funcionários dos governos favorecidos.
Ainda que aparentemente as novidades sugeridas por Dilma busquem estreitar os laços econômicos entre o Brasil e os países pobres, elas poderão custar ao país o discurso de que promove uma "cooperação desinteressada".
O discurso abriu portas ao país nos anos Lula e se contrapunha a um modelo de cooperação com contrapartidas, executado por algumas potências.

Grandes obras no exterior
A expansão de empresas brasileiras no exterior, que também ganhou grande impulso no governo Lula, vive momento de desgaste e tem sofrido forte resistência em alguns países.
Em Moçambique, um dos principais palcos de companhias brasileiras na África, a mineradora Vale enfrenta oposição de moradores locais numa de suas maiores operações fora do Brasil, a exploração de uma mina de carvão na província de Tete.
Moradores reassentados pela empresa se queixam das condições das novas casas e dizem que a companhia não cumpriu suas promessas de compensação, o que a Vale nega.
Também em Moçambique, há crescente resistência de agricultores a um projeto de cooperação conduzido pelo Brasil e pelo Japão, o Pró-Savana, que prevê a produção no país de commodities agrícolas em larga escala.
Grandes obras de infraestrutura de empresas brasileiras também têm sido alvo de críticas em vizinhos sul-americanos. No Peru e na Bolívia, protestos provocaram a suspensão ou cancelamento de contratos com empreiteiras brasileiras nos últimos anos.

Em grande parte financiados pelo BNDES, os megaempreendimentos brasileiros no exterior também têm sido contestados dentro do Brasil, onde há crescente cobrança para que esses empréstimos sejam mais transparentes e tenham justificativas consistentes.

Ainda a deterioracao do cenario economico - Roberto Macedo

2013 ruim e a culpa não foi do 13

02 de janeiro de 2014 | 2h 07

Roberto Macedo* - O Estado de S.Paulo

O ano passado mostrará mais uma taxinha anual de crescimento do produto interno bruto (PIB). Há previsões entre 2,1% e 2,5%. Em 2011 e 2012, as taxas foram 2,7% e 1%, respectivamente. Supondo 2,3% em 2013, a média anual do triênio teria o valor medíocre de 2%.
Para quem acredita em azar, o 13 que marcou a contagem do ano passado seria o culpado. E há muitos crentes, inclusive num país desenvolvido, os EUA, onde esse número é evitado até na numeração de andares de prédios. Mas não há como culpá-lo pelas taxinhas. A política econômica do governo federal é a principal responsável.
Focarei na taxinha de 2013. No detalhe, só o agronegócio se salvou, pois cresceu 8,1% de janeiro a setembro de 2013 relativamente a igual período de 2012. E em boa medida impulsionado por decisões de um partido político que realmente ajuda o Brasil, o Comunista da China.
Começarei por parafrasear o que disse o filósofo Ortega y Gasset sobre a interação do ser humano e das circunstâncias com que se depara, às quais se atribuem azares e sortes da vida. No caso, o ser é o governo federal com sua política econômica. As circunstâncias foram várias, como duas apontadas recentemente pelo ministro Guido Mantega, da Fazenda.
Esta foi sua inconvincente versão do baixo crescimento do PIB: "De um lado, financiamento (ao consumo) escasso e, de outro, a crise internacional, que rouba parte da capacidade de crescimento. (...) Isso significa que a economia brasileira está crescendo com duas pernas mancas". Ou seja, a culpa seria de circunstâncias azarentas e o governo não tem nada que ver com a taxinha.
Essas duas pernas hoje mancas favoreceram muito o crescimento mais rápido da economia de 2003 a 2008 e em 2010. Mas hoje seu papel é menor. Para expandir substancialmente o crédito ao consumidor seria necessário combinar com bancos reticentes em fazê-lo. E com milhões de brasileiros para que se endividassem ainda mais. Muitos, contudo, têm orçamentos já comprometidos por débitos contraídos no passado.
No crédito às famílias, a prioridade deve ser o financiamento imobiliário, pois seu pagamento é uma forma de poupança, tem a garantia do imóvel e alivia uma das maiores fragilidades da economia brasileira, se não a maior, a escassez de investimentos. E, ao final da dívida, fica o imóvel, e não eletroeletrônicos por renovar e automóveis que perderam valor, cujo destino final é o sucateamento.
A economia internacional reduziu o ímpeto com que importava do Brasil, cujo déficit externo em transações correntes passou a crescer, estimulando a economia de outros países, como os EUA, onde tanto gastam os nossos turistas. A cobertura desse buraco com investimentos estrangeiros diretos já não consegue fechá-lo. E o risco de uma crise cambial mais à frente, que vem com o alto e crescente déficit, também afasta parte desses investimentos.
O déficit é sintoma de um real valorizado, contra o qual o governo precisaria atuar além das intervenções episódicas que vem fazendo no mercado cambial. Quanto a isso, é lamentável que tenha abdicado de um dos poucos bons aspectos de sua política econômica, a busca de menores taxas de juros. A elevada estatura delas atrai capitais externos de curto prazo, que ao aumentar a oferta de dólares pressionam para baixo a taxa cambial em reais por dólar. Mas para reduzir juros seria indispensável que a política fiscal colaborasse, deixando de ser gastadora como hoje, o que, além de ampliar a dívida pública, estimula a inflação e leva o Banco Central a aumentos recorrentes da taxa básica de juros.
Assim, a política fiscal é que é efetivamente capenga, mas, em lugar de corrigi-la, o ministro da Fazenda parece sonhar com a recuperação das tais "pernas mancas". Num ajuste fiscal caberia aumentar a poupança pública. E, noutras iniciativas, incentivar a poupança privada, inclusive das famílias, para que o País reduzisse sua dependência de recursos externos e colocasse essas poupanças a financiar investimentos de que tanto carece. Hoje o governo se endivida até para pagar juros do que deve, embora o endividamento público só se justifique para realizar investimentos. Como em infraestrutura, que beneficiam também futuras gerações, às quais cabe parte do ônus da dívida correspondente.
E há a má gestão dos investimentos públicos. Sem dinheiro e capacidade de realizá-los por si mesmo em montante significativo, o governo petista pragmaticamente abandonou um dogma de seu partido. Agora recorre a privatizações, na forma de concessão de serviços públicos e respectivas obras. Mas, como sempre, tudo com muito atraso, como os quase dez anos em que relutou em optar por privatizações, prejudicando o crescimento do País. Entretanto, permanece um ranço estatizante, como no caso das concessões de aeroportos, em que mantém um papel para a Infraero. E no do petróleo do pré-sal, em que impôs a Petrobrás como operadora de todos os projetos de exploração, mas limitando seus recursos mediante o controle de seus preços.
Com o déficit externo crescente, extravagâncias fiscais, dificuldades de gestão, medidas e pronunciamentos desconexos, a política econômica perdeu outro elemento indispensável para seu sucesso, a confiança dos analistas, dos empresários e dos investidores. Ela compõe um cenário que não favorece o investimento público nem estimula investimentos privados. E é campo fértil para taxinhas de crescimento do PIB.
Em 2014 deve vir mais uma. Como a prioridade é atrair eleitores para ganhar a eleição presidencial, não há espaço para atacar com vigor o problema central, a má gestão fiscal. Ela pode até agravar-se com benesses eleitoreiras aqui e acolá. Entre outras, prevejo uma expansão dos gastos com o programa Bolsa Família. A cooptação eleitoreira em dinheiro funciona a todo o vapor, como nunca antes neste país.
*Roberto Macedo é economista (UFMG, USP e Harvard) e consultor econômico e de ensino superior. 

Deterioração da balanca comercial, caminhando para crise de transações correntes - Miriam Leitao

No setor externo, a deterioração é visível, e as causas imediatas estão apontadas neste primeiro artigo, que não toca, entretanto, nos tremendos erros de políticas setoriais, sobretudo comercial e industrial.
Que o governo seja incompetente, disso ninguém tem dúvidas. Que os brasileiros tenham de pagar por isso, aí já é mais complicado...
A segunda matéria, uma entrevista, exemplifica o tipo de manobra contábil, de maquiagem estatística a que um governo notoriamente ruim está recorrendo para não apresentar um cenário imediatamente ruim, que poderia se traduzir numa avaliação para baixo do Brasil pelas agência de rating, ou seja, de classificação de risco. Sem essa mistificação da "exportação" de plataformas de petróleo, que não saíram do Brasil, e foram "vendidas" para uma sucursal da Petrobrás no exterior e novamente "algugadas" pela companhia brasileira, ou seja, uma mentira.
Está na hora de pensar em alternativas, mas com esse pessoal do poder fica difícil imaginar políticas mais consistentes. 
Vamos ter de esperar pela crise de transações correntes...
Paulo Roberto de Almeida 

Balança Real
Miriam Leitão
Coluna Panorama Econômico
O Globo, 3/01/2014

O saldo comercial em 2013 não foi apenas o pior resultado em 13 anos. Foi mais. Excluindo-se a parte da estatística que, na verdade, não aconteceu, o país teve déficit comercial. Quando a AEB alertou, em junho, que poderia haver déficit comercial, pareceu estranho, mas só não fechou no negativo pelas exportações de plataformas de petróleo que nunca saíram do país. 

Essa possibilidade de manobra contábil com as plataformas existe há bastante tempo, e o governo deixou claro que estava usando essa brecha. Apesar disso, é mais um número que não é bem o que está escrito, é mais uma confusão nas estatísticas. Aliás, duas: importações de petróleo e derivados feitas em 2012 entraram em 2013; e US$ 7,7 bilhões de plataformas de petróleo que nunca saíram do Brasil viraram exportação. 

O déficit com os EUA foi recorde e nossa balança com os europeus ficou negativa. As exportações caíram mesmo com a alta do dólar, que supostamente ajuda os exportadores. 

As exportações em 2013 caíram 1%, pela média diária, enquanto as importações subiram 6%. Isso aconteceu mesmo com a valorização de 15% do dólar frente o real, que encarece o preço dos importados e deixa mais competitivos os produtos exportados pelo Brasil. O saldo comercial caiu 87%, de US$ 19,3 bilhões, em 2012, para US$ 2,5 bi em 2013. Em 2011, havia sido US$ 30 bilhões. A corrente de comércio subiu 2,7%, puxada pelas importações, mas não superou o recorde de 2011. 

O que pesou mesmo na conta da balança comercial foi a compra de petróleo e derivados. Houve US$ 40 bilhões de importação desses produtos, que incluem, além do petróleo bruto, gasolina, diesel e outros combustíveis. Quase US$ 5 bilhões desse total deveriam ter entrado nas estatísticas de 2012, mas foram empurrados para este ano porque o governo acreditava que as exportações aumentariam e o número ficaria diluído. Mas não foi isso que aconteceu. As exportações de petróleo despencaram 37%, de US$ 20 bilhões, em 2012, para US$ 13 bilhões, em 2013. 

Em junho, José Augusto de Castro, da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), revisou sua estimativa para o ano, de um superávit de US$ 14 bilhões para déficit de US$ 2 bi. Foi o primeiro a dar o alerta. Castro percebeu que as exportações de petróleo e derivados estavam em queda, ao mesmo tempo em que as importações continuavam em alta. Além disso, os preços das principais commodities exportadas pelo Brasil não estavam subindo como nos últimos anos. 

- Se saíssem da conta as exportações de plataformas de petróleo e a contabilidade atrasada das importações de gasolina, o saldo teria fechado o ano negativo em US$ 500 milhões - disse José Augusto de Castro. 

O déficit comercial do Brasil com os Estados Unidos foi o pior de todos os tempos: saltou de US$ 5,7 bilhões, em 2012, para US$ 11,4 bilhões, no ano passado. O superávit que tínhamos com os europeus virou déficit: saiu de US$ 1,3 bilhão positivo para US$ 3 bilhões negativos. Vender menos para americanos e europeus é um mau sinal porque mostra que o país está perdendo competitividade nos mercados mais cobiçados. 

- O Brasil vendia muito petróleo para os americanos. Mas nós tivemos os problemas com a produção, ao mesmo tempo em que eles aumentaram a exploração do gás de xisto. Os europeus, por causa da crise, buscaram outros mercados e conseguiram mais espaço no Brasil - explicou Castro. 

Com a China, o saldo cresceu de US$ 6,9 bilhões para US$ 8,7 bi, pela exportação de produtos básicos. A exportação total de minério de ferro do país chegou a US$ 32 bilhões, alta de 4%, e a de soja em grãos subiu 29% para US$ 22 bilhões. Vários produtos que o Brasil exporta tiveram queda de preço. 

Castro estima que a balança comercial vai ter uma pequena recuperação este ano, para um saldo de US$ 7 bilhões. Mas isso só vai acontecer se o país conseguir exportar 50% a mais de petróleo. 

- A exportação de petróleo precisa subir 50% este ano para chegarmos a esse saldo de US$ 7 bilhões. Além disso, não podemos ter problemas maiores com a Argentina, que é destino de 50% dos nossos produtos manufaturados e de 87% dos nossos automóveis. Eles estão em crise cambial e já anunciaram medidas de restrição de importação - disse. 

Enquanto isso, no mundo, o comércio cresceu 2% em 2013. 

Os pontos-chave 

1 Exportação fictícia de plataformas de petróleo impediu déficit na balança comercial 

2 O déficit do Brasil com os EUA foi recorde: US$ 11 bi. O déficit do petróleo foi de mais de US$ 20 bilhões

3 As projeções dos especialistas são de um 2014 melhor, com um superávit maior.

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'A venda de plataformas de petróleo mudou o cenário', diz presidente da AEB
O resultado muito acima do previsto, na prática, é um efeito contábil, pois as plataformas não chegam a sair do País
03 de janeiro de 2014 | 2h 04
Idiana Tomazelli - O Estado de S.Paulo

RIO - Na avaliação do presidente da Associação do Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, o superávit da balança comercial brasileira em 2013 surpreendeu positivamente, mesmo tendo sido influenciado pelas exportações de um produto bem específico - plataformas de petróleo. Para este ano, a AEB está preocupada com o impacto da China sobre as exportações, que podem sofrer uma piora.
Qual é a sua avaliação sobre o resultado da balança comercial de 2013?
O resultado foi melhor do que era esperado. Para quem passou o ano todo com déficit, ninguém poderia dizer, em sã consciência, que haveria esse superávit. O próprio ministro da Fazenda (Guido Mantega) disse que a balança comercial ficaria no zero a zero ou teria pequeno superávit. Nossa previsão era de US$ 700 milhões, mas a última plataforma de petróleo não estava nas contas de ninguém. É importante dizer ainda que, em 2013, a corrente de comércio melhorou. Ficou em US$ 481,795 bilhões. Em 2012, havia sido de US$ 465,758 bilhões. Só que esse aumento não é benéfico. O valor da diferença é exatamente o aumento das importações. Houve substituição de produção local por importados.
Qual foi o peso das exportações de plataformas de petróleo?  
Nós tivemos US$ 7,735 bilhões de exportações em plataformas. Claro que elas mudaram o cenário. Até então, o recorde de exportações de plataformas havia sido em 2008, quando o valor chegou a US$ 1,485 bilhão com duas plataformas. Em 2013, foram sete. A operação é uma exportação ficta (jargão para venda externa sem saída do produto), em que a Petrobrás vende a plataforma a uma subsidiária no exterior e depois aluga. A plataforma não sai do País. O artifício distorce um pouco porque o volume foi muito alto, mas é legal.
Como o sr. avalia o crescimento das exportações brasileiras para a China?

Preocupa muito. Apenas três produtos representam 90% do que é exportado para a China: minério de ferro, soja e petróleo. O valor médio da soja em 2013 foi de US$ 535. Para 2014, o projetado é US$ 490. É uma redução na receita. Existe também o risco de o preço do minério de ferro cair, pois há excesso de capacidade de produção de aço na China. Além disso, a atividade lá mostrou pequena desaceleração. Todas as demais commodities devem ter preços em queda este ano. Em linhas gerais, há uma perspectiva de queda tanto na receita quanto na quantidade exportada. Preocupa. É rezar, rezar e rezar em mandarim.

E a perspectiva para 2014?

O superávit tem de crescer. Temos de elevar as exportações de petróleo em 50%, ou teremos problemas. Nossa previsão é de que as exportações caiam 1% e as importações, 3%. A taxa de câmbio mais alta deve inibir algumas importações, mas não todas, e necessariamente não vai estimular as exportações. As commodities, por exemplo, não dependem do câmbio. Na Argentina, é possível que haja restrições, com risco de queda nas exportações. O mundo também não está comprando muito, e o Brasil ainda é caro.

Economia brasileira: a lenta deterioracao causada pela politica companheira - Rubem de Freitas Novaes

A realidade que aponta Rubem Novaes eu seu artigo desta data no Globo, vem sendo anunciada aqui há muito tempo. A política econômica companheira, feita por keynesianos rústicos -- de "botequim", como eu costumo dizer -- vai levar o Brasil para o brejo, lentamente, pois os companheiros não têm coragem sequer para implementar de uma vez só suas receitas malucas.
Da mais alta cúpula aos técnicos de confiança das autoridades econômicas, a crença generalizada é nas banalidades keynesianas: demanda agregada, estímulo ao consumo, baixar juros, subsídios para a produção, controle de capitais e vai por aí.
Não existe nenhum exemplo de país no mundo que tenha se desenvolvido apostando no consumo. 
Mas esses keynesianos de botequim, os maiores quero dizer, sequer aprenderam economia, apenas alguns rudimentos, com aquelas simplificações simplérrimas (com perdão pela redundância) que eles estão agora enfiando goela abaixo do Brasil e dos brasileiros. 
Tenho pena dos empresários, dos capitalistas de forma geral, que têm de suportar incompetentes no governo e que vêem seus negócios se estiolando pouco a pouco, em função dessas políticas malucas e do horrível ambiente de negócios que predomina no Brasil, que se tornou um país caro, não por problemas cambiais, mas por ter um Estado extorsivo, perdulário, corrupto e fraudulente, com políticas equivocadas em praticamente todos os setores.
Paulo Roberto de Almeida 

O Sapo na Panela
Artigo de Opinião
Rubem de Freitas Novaes
O Globo, 3/01/2014

Nossa história é fértil em exemplos de barbeiragens na condução da política econômica, todas elas causadoras de expressivos custos para a população. Para ficar apenas no passado mais recente, podemos aqui relembrar do congelamento de preços do Plano Cruzado, do sequestro de ativos financeiros do Plano Collor, da banda diagonal endógena de Chico Lopes e da destruição patrimonial da Petrobras, iniciada no governo Lula e ainda em curso. 

Medidas desastradas como essas, se tornadas usuais, além de desorganizarem o aparelho econômico, vão minando a credibilidade das autoridades constituídas. Larry Summers, professor e ex-reitor da Universidade de Harvard, costuma dizer, com propriedade, que a confiança é o fator mais barato para o desenvolvimento de um país. Afinal, basta ao governante fazer tudo direitinho, de acordo com reconhecidos bons princípios de gestão econômica, que os mercados se animam e os empresários libertam seus melhores instintos animais, fazendo a máquina funcionar. 

Aqui no Brasil, a equipe econômica, comandada pela presidente, tem adotado o que ficou conhecido como a nova matriz econômica , uma combinação de heterodoxias concebida em nossos piores ambientes tecnoideológicos. Em síntese, essa nova matriz consiste de uma política fiscal frouxa, juros baixos, crédito farto e subsidiado nos bancos públicos, câmbio desvalorizado e proteção tarifária para estimular a indústria nacional. Não fosse a rebeldia do Banco Central, elevando os juros básicos, a matriz estaria intacta até os dias de hoje. 

Pois bem, a nova política foi anunciada com pompas, mas, infelizmente, seus resultados, já decorridos três anos do governo Dilma, são os piores possíveis. Seja no crescimento econômico, seja nas contas correntes com o exterior, seja no terreno da inflação, seja na geração de emprego, seja no que fizeram com nossas contas públicas, desestruturando-as completamente, as coisas andam tão pretas que Paulo Guedes, escrevendo para O GLOBO, ousou dizer: Ou muda a política da equipe econômica, ou Dilma muda a equipe econômica, ou o país muda de presidente. 

É da sabedoria popular a história do sapo na panela. Segundo a fábula, se jogarmos o sapo na água fervente ele salta e se salva. Mas, se a água for esquentando aos poucos, o sapo vai se acostumando e acaba cozido. Nossos governantes de esquerda conhecem bem esta fábula e nunca adotarão medidas extremas tipo estatização do sistema bancário ou congelamento generalizado de preços. Seriam dramáticas demais e causariam forte reação. Também não acho que o sapo morrerá. Mas, considerado o viés da cúpula econômica do governo e o nosso atual quadro político, parece-me que a hipótese de paulatina argentinização da economia brasileira é mais provável do que qualquer outra hipótese mais radical. A água ainda vai esquentar por muito tempo. 

A hipótese de argentinização da economia brasileira é mais provável do que qualquer outra opção mais radical.

Rubem de Freitas Novaes é economista

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...