terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Google world: as buscas mais comuns em certos paises em 2014 - The Washington Post, World Views

O Google (quem nao está nele, ou quem não o usa?) é um instrumento fabuloso: quando tomei conhecimento de sua existência, no final dos anos 1990, ainda hesitei um pouco em adotá-lo como buscador principal, em substituição ao que eu então usava (e que por incrível que pareça, já nem me lembro de qual era, tantas foram as derrocadas nesse campo: alguém ainda se lembra do navegador Netscape, que chegou a ter mais de 90% do mercado?), mas depois que passei a utilizá-lo ele virou até palavra e verbo de uso corrente, pelo menos nos EUA. Mas também no Brasil: quem é que não googlelizou em busca de algo útil? (e aí acabam aparecendo 545 mil opções de respostas...)
Pois aqui estão as palavras mais frequentes buscadas em certos países.
Quem tiver paciência, procure pela principal palavra no Brasil, OK?
Aposto como tem a ver com os saudáveis hábitos companheiros...
Paulo Roberto de Almeida

5 Google search trends that help explain the chaos of 2014

 
The Washington Post, World Views, December 29 at 12:20 PM
Every year, Google releases a variety of lists that reveal the world's favorite search terms. The American tech corporation also distinguishes between countries and categories, which allows an examination of global differences in search behavior.
Of course, Google's search trends do not reflect world events in their entirety, partially because the search engine is not dominant in all countries and many Middle Eastern nations are missing from Google's summary. In some cases, however, the search trends reflect worrisome international conflicts or problems.
You can take a closer look at the data here, but we have compiled a list of some of the most politically revealing search trends in 2014.
Ukrainians were more interested in manuals that explain how to make molotov cocktails than in any other recipe. Google considers such manuals to be recipes -- a category that is usually occupied by cook-book entries in other countries. 
In 2013, nobody would have predicted that 2014 could become such a decisive year in the history of Ukraine. Last January, Ukrainians angered by the government of then President Viktor Yanukovych, a Moscow ally, protested in Kiev and western Ukraine. Violence soon overshadowed the uprising and Feb. 20, at least 88 people were killed within only 48 hours.
Two days later, Yanukovych fled to Russia -- but chaos persisted in Ukraine.
The particular interest in molotov cocktails can be traced back to the street fights in Kiev and other cities that were particularly frequent in the first half of the year.
In 2013, the most asked question in Ukraine that involved the word 'How' was "How to make a screenshot?" This year, however, Ukrainians were primarily interested in: "How do I save electricity?"
As the Economist pointed out in November, Ukraine is the world's least equal country in terms of wealth. The Post's editorial board concluded on Dec. 22 that Ukraine's currency and GDP forecasts were in even worse shape than Russia's. Given that Ukraine braces for a cold winter, experts fear the collapse of the country's already fragile economy.
The European Union recently estimated that at least $15 billion in additional foreign assistance was needed to prevent the implosion of Ukraine's economy.
Many Ukrainians are already feeling the impact: Earlier this month, the U.N. children's agency warned that more than 1.7 million children were suffering due to the conflict in Ukraine and that the situation was exacerbated by cold temperatures and a lack of supplies.
In Sweden, the fourth most googled question starting with "Why?" has been: "Why was the E.U. established?"
Sweden is often considered a role model democracy and welfare state. This year, though, was a tough one for admirers of the Scandinavian nation of roughly 9.5 million inhabitants.
2014 exposed an anti-immigration attitude among many Swedish that has worried many abroad. An anti-immigration party that is often accused of promoting xenophobia came in third in this year's elections in September.
When Europe elected the E.U. parliament in May, anti-immigration as well as anti-European Union attitudes gained momentum and were often promoted by the same right-wing parties. That could explain the Swedish interest in getting to know why the E.U. was established in the first place.
Many French searched for information on how to abstain from elections. "How to vote blank/ white" was most searched in the category of sentences starting with "How to …”
France's political elite had at least three reasons to be worried this year: the European Parliament elections, as well as the country's Senate and municipal elections. All three turned out to be disastrous for the ruling Socialist party.
While France's current President Francois Hollande became the most unpopular one in the country's recent history, right-wing party Front National celebrated major gains.
Its success was fueled by the country's weak economic performance, high unemployment rates, and a rise in xenophobic, as well as anti-Semitic, attitudes.
With an abstention rate of 56.5 percent from this year's E.U. elections, France was far above average (43.1 percent). Many polling experts believe that the high rate of abstention is a sign of frustration among the French with their political elites.
5. In Israel, the most searched news event term was the Home Front Command.
Israel's Home Front Command, established in 1992, is a military entity that is deployed within the country. For instance, its Web site provides instructions and local alerts in the case of an emergency or attack.
Hence, the Command was among the most regionally searched terms in 2014 – a year in which thousands (and far more Palestinians than Israelis) died in a conflict that was dubbed Operation Protective Edge by Israel.
Rick Noack writes about foreign affairs. He is an Arthur F. Burns Fellow at The Washington Post.

Politica externa: o choro do Barao do Rio Branco - Fábio Pereira Ribeiro (Exame)

Um artigo que generosamente cita o meu último livro, menos generosamente recebido na Casa de Rio Branco...
Meus agradecimentos ao Fábio Pereira Ribeiro, jornalista e professor, que encontrou uma maneira de me promover, pelo menos virtualmente...
Paulo Roberto de Almeida 

O choro do Barão do Rio Branco

Fábio Pereira Ribeiro 
 
Nunca antes neste país o Itamaraty foi tão esculachado. Imagino que o Barão do Rio Branco, José Maria da Silva Paranhos Júnior, ainda chore em seu túmulo. Suas iniciativas, ideais, pragmatismos, políticas e defesa pela Nação brasileira no exterior foram relegadas a um plano de poder partidário. O Barão do Rio Branco sempre foi categórico, “a pasta de Relações Exteriores não é e não deve ser uma pasta de política interna”. Será que desaprendemos nos últimos anos? O que está acontecendo com o Itamaraty? O Ministério das Relações Exteriores sempre foi a ilha de excelência do serviço público brasileiro, e reconhecido como um dos melhores serviços exteriores do mundo. O Brasil sempre foi respeitado internacionalmente pelas ações de grandes diplomatas, mas o que acontece hoje? Até a palavra calote colou na imagem do Itamaraty.
Como diria o Embaixador Rubens Antônio Barbosa em seu prefácio da obra do Embaixador Paulo Roberto de Almeida, “Nunca antes na Diplomacia…”, “a marginalização do Itamaraty, sobretudo no tratamento de assuntos relacionados aos países vizinhos da América do Sul, certamente não estaria agradando ao Barão do Rio Branco...”. Por sinal, o próprio Embaixador Paulo Roberto de Almeida lembra em sua obra, “o Mercosul, como um instrumento de abertura de mercados, foi dos projetos que mais sofreu com a partidarização da política externa nos últimos doze anos”. Partidarização é um mal para a diplomacia, e para o Brasil uma tragédia na política externa.

Algumas agendas nacionais e internacionais devem estar totalmente conectadas com a sociedade. Política Externa, Defesa e Inteligência não podem sofrer do mal da partidarização. A partidarização está destruindo instituições de excelência no serviço público brasileiro, e ainda coloca em risco o futuro de um projeto consistente de país. O Embaixador Rubens Antônio Barbosa, que foi embaixador em Londres e em Washington, bem lembrou na obra do Embaixador Paulo Roberto de Almeida, “o Itamaraty continuou a fazer diplomacia, mas, a partir de 2003, passou a estar acompanhado – ou, melhor, controlado indevidamente – por aqueles que passaram a determinar a política externa do Brasil com base em critérios essencialmente partidários”. O projeto de partido que importa, a sociedade brasileira não.
Quando assistimos a vexatória posição do Itamaraty perante fornecedores no exterior, já dá para imaginar o quanto diplomatas e profissionais de carreiras e comissionados sofrem com o descaso das políticas públicas e partidárias inseridas no âmbito da Política Externa brasileira. Um diplomata, que vou respeitar a proteção da fonte, me disse em Paris que já se tornou rotina “o atraso de salários, aluguéis e despesas com manutenção dos equipamentos públicos brasileiros”. Nem biblioteca brasileira para pesquisadores foram poupadas. Praticamente todas estão fechadas e desestruturadas. Imagino o que se produz de inteligência através de uma embaixada? Como alguém pode pensar em inteligência se tem que se estressar com as despesas no final do mês? Literalmente o Itamaraty está vendendo o “almoço para ter a janta”.
Com certeza o Barão do Rio Branco está chorando em seu túmulo, e seu choro é ouvido em todos os rincões do mundo. Até que ponto chegaremos com esta política externa, onde um “ser desiluminado” ainda manda nas regras diplomáticas? Por que a Presidente Dilma Rousseff tanto se afasta das agendas de Política Externa, Defesa e Inteligência?
Barão do Rio Branco - Patrono das Relações Exteriores do Brasil
Barão do Rio Branco – Patrono das Relações Exteriores do Brasil
Os resultados estão aí, não precisa procurar muito para ver o tamanho do estrago. Gosto de lembrar do ensinamento do Embaixador Rubens Antônio Barbosa, “a partidarização da política externa trouxe consequências negativas para a ação do Itamaraty e, via de consequência, também para a política de comércio exterior. Esses desvios repercutiram amplamente nas negociações comerciais externas, nas quais simpatias políticas prevaleceram sobre obrigações contraídas no âmbito do Mercosul ou até sobre regras prevalecentes no sistema multilateral da OMC. A prioridade desequilibrada atribuída a uma mal designada “diplomacia Sul-Sul”e a vontade ingênua de inaugurar uma “nova geografia do comércio internacional” fizeram com que os exportadores brasileiros deixassem de abrir mercados em países desenvolvidos, resultando em déficit extraordinário com nossos maiores parceiros da Europa e com os EUA. Por outro lado, as ações na África e no Oriente Médio não produziram ganhos políticos significativos nem comerciais expressivos, já que, em termos percentuais, o crescimento do intercâmbio comercial com essas regiões foi bastante reduzido”. A verdade é uma só, as últimas escolhas da Política Externa atual são verdadeiros desastres. Trocamos seis por meia dúzia. Nem Mariel é este mar de flores como pregam.
O Diplomata e Diretor do Bric Lab da Columbia University, Marcos Troyjo, lembra em seu último artigo na Folha de São Paulo, “Iludindo-se com Cuba” o quanto nossa política externa atual tem uma bússola de uma só direção, pelo menos do erro. Troyjo afirma que “nos últimos 12 anos, o Brasil apostou numa América Latina de duas velocidades. Colocou fichas na coalização de regimes mais à esquerda. Privilegiamos o eixo socialista-bolivariano, baseado na onipresença do Estado na vida econômica e numa xenofobia seletiva centrada nos EUA. Venezuela, Bolívia, Equador e de alguma forma a Argentina integram esse grupo. Com a normalização de relações com seu grande vizinho, Cuba, epicentro histórico de tal agrupamento, voltará a ter em Washington, não Brasília ou Caracas, sua referencia geoeconômica. Da perspectiva diplomática, iniciativas apoiadas pelo Brasil na cooperação hemisférica sem a participação sem a participação dos EUA, como Unasul e a Celac, perdem força”. Nós brasileiros sofremos de uma cegueira internacional. Será que não conseguimos imaginar o que acontece na Venezuela de hoje lá com o Maduro, o homem que fala com a Pomba Rola achando que é o Hugo Chávez? Será que não conseguimos ver o que está acontecendo na América do Sul? E estou falando literalmente dos mais necessitados.
De uma forma geral, o Itamaraty não pode ser destruído com a nossa Política Externa. O Brasil não pode ser babá de ditaduras ou de países que preferem esculachar os mais pobres do que criar uma política consistente de desenvolvimento para o futuro. O Embaixador Paulo Roberto de Almeida é bem claro em relação aos métodos do “jogo diplomático”. Eu, particularmente, tenho dúvidas se o Brasil de hoje usa algumas regras fundamentais para o “jogo diplomático”:
“Clareza de intenções” – Será que no caso de Mariel existe clareza de intenções, ou pelo menos transparência nos projetos?
Interação entre a diplomacia e a economia– Algo muito distante, veja o esforço que médios empresários têm que fazer na África. Algo quase rastejante.
Aferição precisa quanto aos meios disponíveis”.
Flexibilidade e abertura às inovações” – neste ponto, literalmente estamos retrocedendo ao pré Barão do Rio Branco.
NuncaAntesDiplomaciaCapaFrente
O Brasil é um país continental, é uma potência internacional (por mais que muitos não acreditem nisso), tem grandes riquezas naturais, uma economia interna que salvaguarda crises internacionais, grandes potências querem fazer negócios (mas ficam desconfiadas do partidarismo na política externa), temos presença em praticamente todos os países (por mais que tenhamos problemas de custeio e orçamento), assim, não tem sentido o Itamaraty ser tão destituído de sua grande força e história nas Relações Internacionais. A história do Itamaraty é extremamente respeitada, só tenho medo que tudo fique só na história do passado e não do futuro.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

As vacas socialistas: poderia ser uma piada, mas estamos em Cuba...

Essa matéria da FSP, trágica se não fosse patética e surrealista (mas continua sendo trágica para os cubanos), me lembrou a história das vacas em diversos regimes econômicos, que reproduzo mais abaixo...
Paulo Roberto de Almeida

Cuba e as vacas
Patrícia Campos Mello - repórter especial da Folha.
Folha de S. Paulo, 29/12/2014

Em Cuba, matar e vender uma vaca pode dar até 18 anos de prisão. Segundo o código penal, trata-se de "sacrifício ilegal de gado e venda de suas carnes".
O cubano que matar uma vaca sem autorização do governo, mesmo que o animal pertença a ele (50% das cabeças de gado da ilha são particulares ou de cooperativas), fica entre 4 e 10 anos atrás das grades. Se vender essa carne diretamente ao consumidor, no mercado negro, em vez de repassar ao Estado por preços irrisórios, fica mais 3 a 8 anos preso.
Ou seja, quem mata e vende uma vaca em Cuba pode ficar mais tempo preso do que alguém que comete homicídio simples, que passa até 15 anos na prisão.
Resultado: muitos cubanos são "criativos".
Alguns amarram suas vacas nos trilhos do trem para que elas sofram "acidentes" (ainda que possam ser multados por isso). Outros fingem que o gado foi roubado para poder vender a carne.
De qualquer modo, carne é artigo de luxo. Só turistas, gente que recebe remessas de parentes ou ganha em dólares consegue comprar.
O produto não faz parte da cesta básica disponível em pesos cubanos. Quem precisa de proteína, come frango, quando tem, ou apela para salsicha ou um atroz "picadillo" feito de soja, gordura e miúdos.
Até existe carne à venda nas lojas dolarizadas, que vendem em CUCs, o peso conversível.
Mas o preço é proibitivo. O salário médio em Cuba é de 30 CUC (US$ 33) e o quilo da carne de vaca sai a 12 CUC (US$ 13).
O único jeito é comprar no mercado negro, a 2 CUC o quilo. Isso implica muitas vezes comprar do pessoal que chega com bifes escondidos debaixo do casaco, de procedência duvidosa.
"Segurança, educação e saúde aqui em Cuba são ótimos", diz o guia turístico cubano Alberto Rodríguez. "Mas não podemos passar a vida inteira comendo salsicha e picadinho de soja; as coisas precisam mudar."
A revolução está ruindo pelo estômago.
E com seu principal patrocinador, a Venezuela, à beira de um colapso econômico, o governo cubano sabe que não tem tempo a perder.
O timing é perfeito para a reaproximação com os EUA, após cinco décadas de hostilidades entre os dois países.
A esperada injeção de investimentos norte-americanos é a última esperança de sobrevivência do regime castrista.
Mas o começo do fim do isolamento de Cuba tem efeitos colaterais: pode adiar ainda mais a abertura política em Cuba, ao dar um oxigênio extra para o ditador Raúl Castro. Para desespero dos presos políticos na ilha, que não se limitam aos 53 cuja libertação foi negociada pelo presidente Barack Obama.
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Recebido em 2004, e, depois de dez anos, merece algumas atualizações criativas, algumas trágicas, outras simplesmente risíveis:

As vacas e o capitalismo
(nova versão de uma velha anedota)

CAPITALISMO IDEAL
Voce tem duas vacas.
Vende uma e compra um touro.
Eles se multiplicam, e a economia cresce.
Você vende o rebanho e aposenta-se, rico.
CAPITALISMO AMERICANO
Você tem duas vacas.
Vende uma e força a outra a produzir o leite de quatro vacas.
Fica surpreso quando ela morre.
CAPITALISMO FRANCÊS:
Você tem duas vacas. Entra em greve porque quer que o Estado lhe garanta três, com os generosos subsídios da Política Agrícola Européia.
CAPITALISMO CANADENSE:
Você tem duas vacas. Usa o modelo do capitalismo americano. As vacas morrem. Você acusa o protecionismo brasileiro e adota medidas protecionistas para ter as três vacas do capitalismo francês.
CAPITALISMO JAPONÊS
Você tem duas vacas.
Redesenha-as para que tenham um décimo do tamanho de uma vaca normal e produzam 20 vezes mais leite.
Depois cria desenhinhos de vacas chamados Vaquimon e os vende para o mundo inteiro.
CAPITALISMO BRITÂNICO
Você tem duas vacas.
As duas são loucas.
CAPITALISMO ITALIANO
Você tem duas vacas.
Uma delas é sua mãe, a outra é sua sogra, maledetto!!!.
CAPITALISMO HOLANDÊS
Você tem duas vacas.
Elas vivem juntas, não gostam de touros e tudo bem.
CAPITALISMO ALEMÃO
Você tem duas vacas.
Elas produzem leite regularmente, segundo padrões de quantidade e horário previamente estabelecido, de forma precisa e lucrativa.
Mas o que você queria mesmo era criar porcos.
CAPITALISMO RUSSO
Você tem duas vacas.
Conta-as e vê que tem cinco.
Conta de novo e vê que tem 42.
Conta de novo e vê que tem 12 vacas.
Você pára de contar e abre outra garrafa de vodca.
CAPITALISMO SUÍÇO
Você tem 500 vacas, mas nenhuma é sua.
Você cobra para guardar a vaca dos outros.
CAPITALISMO ESPANHOL
Você tem muito orgulho de ter duas vacas.
CAPITALISMO PORTUGUÊS
Você tem duas vacas.
E reclama porque seu rebanho não cresce...
CAPITALISMO HINDU
Você tem duas vacas.
Ai de quem tocar nelas.
CAPITALISMO ARGENTINO
Você tem duas vacas.
Você se esforça para ensinar as vacas a mugirem em inglês...
As vacas morrem.
Você entrega a carne delas para o churrasco de fim de ano ao FMI.
CAPITALISMO ENRON
Você tem duas vacas. Vende três para a sua companhia de capital aberto usando garantias de crédito emitidas por seu cunhado. Depois, faz uma troca de dívidas por ações por meio de uma oferta geral associada, de forma que você consegue todas as quatro vacas de volta, com isenção fiscal para cinco vacas. Os direitos do leite das seis vacas são transferidos para uma companhia das Ilhas Cayman, da qual o sócio majoritário é secretamente o dono. Ele vende os direitos das sete vacas novamente para sua companhia. O relatório anual diz que a companhia possui oito vacas, com uma opção para mais uma. Você vende uma vaca para comprar um novo presidente dos Estados Unidos e fica com nove vacas. Ninguém fornece balanço das operações e o público compra seu esterco.
CAPITALISMO CHINÊS
Você tem duas vacas e 300 pessoas tirando leite delas.
Você se gaba de ter pleno emprego e alta produtividade.
E prende o ativista que divulgou seus números.
CAPITALISMO BRASILEIRO
Você tem duas vacas.
Uma delas é roubada.
O governo cria a CCPV- Contribuição Compulsória pela Posse de Vaca.
Um fiscal vem e lhe autua, porque embora você tenha recolhido corretamente a CCPV, o valor era pelo número de vacas presumidas e não pelo de vacas reais.
A Receita Federal, por meio de dados também presumidos do seu consumo de leite, queijo, sapatos de couro, botões, presume que você tenha 200 vacas e para se livrar da encrenca, você dá a vaca restante para o fiscal deixar por isso mesmo.
E para finalizar:
CAPITALISMO PETISTA:
Voce tem duas vacas.
Vem o MST, abate uma para fazer um churrasco para os Sem Terra e diz que a outra vaca não está cumprindo sua função social.
Vem o INCRA coloca um imposto sobre o seu rebanho inexistente, desapropria suas terras e lhe entrega títulos da dívida da lojinha do PT.
Você entra na Justiça, o governo é condenado a lhe ressarcir: ele o faz com dois cartões magnéticos do Fome Zero, que lhe dão direito a retirar, diretamente com o prefeito da sua cidade, 65 reais por mês. Você reclama com o presidente, e ele manda o chefe da Casa Civil resolver o seu problema: ele cria mais uma comissão interministerial de 65 membros, com prazo certo, publicado no Diário Oficial, para apresentar uma solução: você continua esperando até hoje...

(Autoria desconhecida; circula na Internet; recebida em 12 de dezembro de 2004, atualizada em 5 de abril de 2005)

Fim das utopias na Casa de Rio Branco? - Paulo Roberto de Almeida


Fim das utopias na Casa de Rio Branco?

Paulo Roberto de Almeida

Houve um tempo, no Itamaraty e na política externa, em que se julgava que tudo fosse possível, que tudo fosse factível, realizável e alcançável, e tudo isso no horizonte visível, desde que sob o comando correto, tanto no país quanto na Casa de Rio Branco. Bastava afastar a submissão ao estrangeiro e a conformidade a políticas medíocres de ajuste, que nos condenavam ao baixo crescimento e à subordinação a uma ordem ditada de fora, para que assumíssemos nossa vocação à autonomia e à afirmação independente, num mundo ainda em construção, que seria aliás construído com a nossa participação. Consoante um cenário de reordenamento pós-imperial, deveríamos nos alinhar a novas potências emergentes, não dominadas pelo pensamento único, com as quais todas as possibilidades estariam abertas, tanto para a política externa, quanto para o próprio país. Chegamos perto desse ideal, não obstante o fato de que ele se parecia muito com essas utopias recorrentes que, volta e meia, povoam o universo dos crédulos.
Foi um tempo em que “vestir a camisa” do governo do demiurgo prometia um futuro brilhante, não apenas para a instituição, mas para cada um dos seus componentes, do mais humilde secretário ao mais ousado embaixador. Empurrado pela bonança chinesa nas matérias-primas, o país tinha recursos suficientes para distribuir favores para dentro e para fora. Novos cargos, centenas deles, foram criados, novos postos foram abertos, dezenas de novas unidades surgiram como por geração espontânea na própria Secretaria de Estado, e tudo parecia se encaminhar para um estado de felicidade contínua, senão a perfeição dos últimos tempos. Utopia novamente? Provavelmente.
Os traços comuns a todos os milenarismos, a todos os projetos utópicos, como ensina Isaiah Berlin, se situam em três propostas comuns a esse tipo de pensamento: a de que existe uma resposta precisa a questões legítimas (sejam elas relativas, digamos, ao crescimento e ao desenvolvimento do país, seja no plano de suas relações externas); a de que existe um método infalível para encontrar e aplicar essa resposta, desde que os homens certos estejam no comando da situação; e a de que todas as vontades, todos os desejos e necessidades possam ser atendidos, com a correta aplicação daquela resposta e daquele método exposto e defendido pelos homens certos, infalíveis. Posso exagerar na simplificação, mas o Brasil, e o Itamaraty, viveram esses tempos não convencionais, em que nunca antes se tinha acertado tanto na busca, se não no atingimento, de todos os desejos e necessidades de cada um. No começo, bastava que todo brasileiro pudesse fazer três refeições por dia, e assistimos ao glorioso lançamento do Fome Zero; depois os objetivos foram sendo ampliados, para nada mais nada menos do que a perfeição no sistema de saúde, a política industrial ideal e o deslanche decisivo da inovação e da criatividade, inatas no povo brasileiro, como se sabe.
Na política externa, nada menos do que o término definitivo da submissão aos cânones de fora, a substituição do velho Consenso de Washington por um (hoje quase esquecido) Consenso de Buenos Aires, a proclamação da vontade de refazer, junto com novos aliados emergentes, as “relações de força no mundo”, e nada menos do que a inauguração de uma “nova geografia do comércio internacional”, obviamente dominada pelas relações Sul-Sul, e não mais pela assimétrica relação Norte-Sul.
Talvez eu também esteja simplificando um pouco as coisas, mas são conceitos que ouvimos dezenas de vezes nos últimos dez ou doze anos, até que nos convencemos que era isso mesmo que estava sendo descortinado no horizonte das possibilidades históricas. Sem exageros, o Itamaraty viveu dias gloriosos, em que o Brasil era respeitado, admirado e acatado, um pouco em todos os quadrantes do globo, em que nossa política externa era considerada superior até mesmo à antiga excelência autoproclamada, e quando a Casa podia contar com o melhor chanceler do mundo, segundo um jornalista influente do primeiro mundo.
Tudo isso pode ter sido verdade, durante algum tempo, mas o fato é que nem as melhores utopias, daquelas que se realizam por autoindução, conseguem se manter à tona indefinidamente, indiferentes ao que vai pelo resto do mundo, ou até no país. Voltamos à velha – primeira e única – lei da economia, segundo a qual recursos são sempre escassos, por definição, daí que escolhas precisam ser feitas, entre infinitas possibilidades e necessidades. Como também já disse alguém, a primeira lei da política consiste em tentar desmentir aquela primeira lei da economia, e de fato é o que ocorre em quase todos os países, o tempo todo. Não poderia ser diferente no Brasil, como não foi; estamos vendo atualmente o fim da bonança chinesa, e a triste vingança da economia sobre a política. Isso atinge, também, a política externa, e de uma maneira particularmente cruel.
Por um lado, os jovens descobrem que as possibilidades de um futuro brilhante – bons postos no exterior, salários satisfatórios, promoções rápidas – não eram, assim, tão realizáveis quanto o imaginado no início, quando os concursos chegavam a atrair vários milhares de candidatos para preencher as muitas vagas abertas por um serviço em expansão. Por outro lado, os administradores se defrontam, brutalmente, com a redução drástica de recursos, o que é inevitável numa situação de vacas magras, mas poderia ter sido planejado de outra forma, se alguns princípios de racionalidade instrumental tivessem sido aplicados na origem das novas despesas criadas na fase de expansão. As opções não são fáceis, como sabe todo administrador encarregado de dividir a penúria; sacrifícios parecem inevitáveis, em todos os planos.
No plano puramente orçamentário, as mesmas receitas que valem para um indivíduo ou para uma família, deveriam valer igualmente para uma burocracia mais encorpada: reduzir despesas acessórias, ou seja, não conectadas aos fins últimos, eliminar luxos e benesses auto-atribuídas – como o hábito de jantar fora, ou de tirar férias em lugares charmosos, ou de alugar residências acima de um padrão razoável. No plano funcional, as soluções são mais difíceis, ou nem sempre aplicáveis: afinal de contas, a burocracia vive invariavelmente em função de seus próprios meios, ou seja, ela existe, em primeiro lugar, para realizar seus próprios objetivos, isto é, internos. Quando os recursos são finitos – como sempre são – se estabelece uma competição entre os agentes, vencendo os que detêm as informações mais relevantes, um pouco como nos mercados de fatores.
O Estado será chamado a arbitrar? Talvez, mas como o Estado não produz recursos, apenas os retira dos próprios agentes produtores, ficam os dilemas de sempre, vinculados a desejos não satisfeitos. A economia é um grande nivelador de terreno, ainda que o nivelamento não contemple a todos de maneira igualitária. Em resumo: não existem mesmo expectativas de que o céu de brigadeiro e o mar de almirante retornem no horizonte previsível. Se ouso ainda terminar com mais uma banalidade popular: não há bem que sempre dure, não há mal que nunca se acabe...

Paulo Roberto de Almeida
St. Petersburg-Clearwater, FL, 2739: 29 dezembro 2014.

Itamaraty: Facebook apenas para elogios, ou: a porta de saida como serventia da Casa...

Revista Exame, 29/12/2014 09:12

Cúpula do Itamaraty proíbe uso de Facebook para queixas

Arquivo/Agência Brasil
Itamaraty, em Brasília
Itamaraty: representantes da diplomacia brasileira passaram a apagar até mensagens enviadas entre eles por meio de redes sociais
Jamil Chade, do Estadão Conteúdo
 
Genebra - Para tentar abafar a crise, assessores do ministro das Relações Exteriores, Luis Alberto Figueiredo, reuniram os jovens diplomatas para deixar claro que a porta do Itamaraty está aberta para quem quiser sair.
Na ocasião, recomendou-se que não usassem o Facebook para reclamar e até que seria visto com maus olhos um incremento do número de diplomatas sindicalizados.
Os representantes da diplomacia brasileira passaram a apagar até mensagens enviadas entre eles por meio de redes sociais, evitam usar o e-mail do ministério para fazer comentários e, informalmente, passaram a criar grupos de contato para debater a crise.
Para Sandra Malta dos Santos, presidente do Sinditamaraty, a estratégia de abafa da cúpula do Itamaraty não funcionou. "Nos últimos três meses, o número de diplomatas filiados ao sindicato dobrou", conta.
"Tivemos mais filiações de diplomatas em dois meses do que nos cinco anos de existência do Sinditamaraty."
"A hierarquia existe para a formulação e execução das funções. Quando se trata de direitos do servidor e de relação de trabalho, o sindicato é o meio legítimo e constitucionalmente reconhecido para a negociação", defendeu.Nos últimos três meses, o chanceler brasileiro se reuniu com o sindicato em uma ocasião, enquanto assessores indicaram aos diplomatas mais descontentes que cada caso seria tratado individualmente.
Um dos principais problemas - o atraso nos pagamentos de aluguéis das casas de diplomatas no exterior - foi solucionado depois que o assunto chegou aos jornais.
Mas a presidente do sindicato alerta que "muitos outros temas preocupantes continuam sem resposta e sem proposta de solução". Entre eles está o fluxo das carreiras do serviço exterior, a regulamentação das 893 novas vagas de oficial de chancelaria criadas em 2012 e a maior transparência dos processos de remoção e de promoção.
"Esperamos que este ou o próximo ministro mantenha aberto o canal de diálogo com o sindicato para que possamos encontrar soluções para os diversos problemas que afetam nossas carreiras", pediu.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O livro em papel estaria condenado? -Janer Cristaldo (2011)

Blog do Janer Cristaldo, quarta-feira, agosto 24, 2011

DIAS CONTADOS PARA O LIVRO EM PAPEL

Carreguei muito livro em minha vida. E livros pesam. Quando voltei da Suécia, trouxe uma boa centena de quilos de literatura. Quando fui fazer doutorado em Paris, levei dezenas de quilos de bibliografia e, ao voltar, despachei pelos correios umas três centenas. O mesmo aconteceu comigo em Madri. 
A propósito, sou o feliz proprietário de um Diccionario Literário Bompiani. É obra hoje esgotada, a editora que o publicou na Espanha foi à falência. São quinze pesados volumes, com belíssima iconografia. Três tomos são dedicados a autores, um outro a personagens e dez a obras literárias. Um outro constitui o índice. É a glória de minha biblioteca. Encontrei-o em Buenos Aires, na casa da filha de Roberto Arlt, escritor de quem traduzi Os Sete Loucos. Apaixonei-me pela enciclopédia e fiz de sua busca um dos objetivos de minha vida. 
Procurei-a em Madri e Barcelona. Estava esgotada. Perguntei a um livreiro quanto custaria, se existisse. Não tem mais preço, respondeu-me. Se pedirem mil, dois mil dólares, nada de surpreender. Continuei minha busca, mais por teimosia que por desejo. Em Barcelona, na calle Aribau, no quarteirão universitário, perguntei a uma velhota em um antiquário: 
- A senhora tem a Bompiani? 
- Está ali – me respondeu – apontando para o alto. 
Senti um frio na espinha. Depois de tanto procurar, não podia voltar atrás. Seriam pelo menos mil dólares a menos em minha viagem. Com medo, perguntei: 
- E quanto custa? 
- 150 dólares – me respondeu a velhota. 
Mandei baixar. Suponho que aquela senhora fosse viúva do antiquário e desconhecesse o real valor da obra. A enciclopédia pesava cerca de trinta quilos. Levei-a no braço para o hotel e trouxe-a no braço no avião. Cheguei a ter pesadelos nos quais a extraviava. Hoje, ela repousa solene em minhas estantes.
Houve época em que namorei uma Espasa-Calpe. Aí a aposta é maior. São 72 volumes, exigem uma estante especial. Deixa pra lá. Nos anos 90, quando chegava a São Paulo, uma vendedora ofereceu-me uma Britânica. Seriam uns trinta volumes e custava algo em torno a cinco mil dólares. Recém estavam surgindo os CD-Roms. Perguntei à moça se não teria uma edição em CD-Rom. Ela nem sabia do que se tratava. A Britânica relutou muito em desistir do papel, mas acabou aderindo às novas tecnologias. Mesmo assim, muito cara. Custava mil dólares. 
Não sou de comprar produtos piratas, mas besoin oblige. Desaforo cobrar mil dólares por uma obra cuja reprodução custa centavos. Fui na Santa Ifigênia e comprei uma na calçada. Por “dez real”. Em vez de trinta volumes, três disquinhos. Os tempos mudaram. 
A respeito de recente crônica sobre a indústria livreira, me escreve uma leitora: “Para mim, ao menos, o livro de papel jamais será substituído. Se ganhasse um Kindle, o venderia no ato”. 
Devagar nas pedras, leitora. Ainda não comprei um Kindle, mas mais dia menos dia chego lá. Para começar, tenho dezenas de livros em meu computador. O ebook tem uma vantagem imbatível sobre o livro em papel, o search. Se quero uma palavra na Bíblia, por exemplo, a encontro em segundos. O que é inviável no livro-papel. Tenho todo o Renan em papel. Mas se preciso fazer uma pesquisa, procuro uma edição eletrônica. 
Isso sem falar no conforto do cut & paste. Se preciso fazer uma citação mais longa, não preciso digitar. Todo jornalista detesta digitar. Para isso existem nos jornais os digitadores. Hoje, se fosse fazer uma viagem prolongada, eu me muniria imediatamende de um Kindle. É a única maneira de carregar a biblioteca no bolso. Além do mais, é aparelho muito útil em pequenas cidades do interior, onde já não existem livrarias. 
Digamos que você viva em Dom Pedrito e, subitamente, à noite, sente o desejo irrefreável de ler O Banquete. Ora, em Dom Pedrito você não vai encontrar Platão, nem de dia nem de noite. Mas, se tiver um computador, poderá baixá-lo na hora e sem pagar um vintém. A distância entre seu desejo de ler Platão e a leitura de Platão é de apenas alguns segundos. 
O livro em papel – perdoem-me os saudosistas – está condenado. Sei, há quem goste do cheiro do papel, eu também gosto. Devo ter umas duas toneladas de papel em minhas estantes. Tenho centenas de quilos de literatura que pouco ou nada vale. É a literatura brasileira que comprei para lecionar literatura. Meu apego a livros é tal que não sei o que fazer com esse lixo. Queimar, não consigo. Doá-lo, muito menos. Não vou dar a alguém literatura que não presta. Ficam então entulhando minhas paredes. Passo então a jogá-los para o alto das estantes. Livro é como funcionário público. Quanto mais alto, mais inútil. 
Não há mais sentido em gastar milhões em papel, composição, encadernação, transporte, depósito, espaço em livrarias, quando se pode ter um livro em segundos no computador. Sempre há resistência a uma nova tecnologia. Quando Gutenberg inventou sua prensa, a grita dos copistas foi geral. Hoje, quem chora são os editores de livro-papel. 
Que chorem à vontade. Seus dias estão contados. 

domingo, 28 de dezembro de 2014

Janer Cristaldo sovre o Silencio dos Vendidos (2005) - adivinhe quem?

Janer Cristaldo, terça-feira, agosto 30, 2005

O SILÊNCIO DOS VENDIDOS
 
Triste sina a da direita no Brasil. Em países mais civilizados, ser de direita é apenas não concordar com as propostas da esquerda, direito legítimo de todo cidadão. No Brasil, direita significa portar toda a infâmia do mundo. Que o diga Clóvis Rossi. Em recente crônica, afirmou: "É um caso de estudo para a ciência política universal. Já escrevi neste espaço uma e outra vez que o PT fez a mais radical e rápida guinada para a direita de que se tem notícia na história partidária do planeta".
Isto é: se o PT se revela corrupto, ele não é mais esquerda. É direita, porque só a direita é corrupta. Mesmo que o PT seja hoje o mesmo desde que nasceu, mesmo que os grandes implicados na corrupção - Genoíno, Mercadante, Zé Dirceu, Lula - sejam seus pais fundadores. Segundo Rossi, o PT guinou para a direita. E por que guinou para a direita? Porque suas falcatruas foram trazidas à tona. Permanecessem submersas, o partido continuaria sendo de esquerda.
É o que os franceses chamam de glissement idéologique. O conceito de esquerda sempre muda, à medida em que se corrompe. A direita é a boceta de Pandora, o repositório de todos os males do mundo, inclusive os das esquerdas. Pois quando as esquerdas cometem crimes - ou "erros", como preferem seus líderes - é que não eram de esquerda, mas de direita.
O PT, partido que nasce do ventre de uma mentira secular, mesmo ao tentar reerguer-se continua mentindo. Em recente sabatina organizada pela Folha de São Paulo, Tarso Genro, o novo presidente do partido, foi buscar situações análogas em outros partidos de centro-esquerda no mundo, como os democratas cristãos italianos e o partido socialista espanhol. "Isso tem algumas explicações que são de natureza histórica e que diz respeito a questões filosóficas, teóricas, profundas e questões relacionadas com responsabilidades individuais", disse o mago das palavras. Em verdade, não disse nada, sua explicação e explicação nenhuma são a mesma coisa. Mas conseguiu um milagre de retórica: mesmo sem dizer nada, mentiu. As situações análogas às do PT não devem ser buscadas nas sociais-democracias européias, pois nelas não estão nem nunca estiveram as origens de seu partido.
As origens do PT estão nas ideologias que empestaram o século passado, no bolchevismo, maoísmo, trotskismo, polpotismo, no comunismo albanês. Os quadros do partido eram egressos destas doutrinas e sempre condenaram as sociais-democracias, às quais atribuíam a pecha de revisionistas. O que está sendo derrubado, hoje, no Brasil, é o muro de Berlim mental das esquerdas tupiniquins, dezesseis anos após a queda do muro de concreto. A estrela vermelha, hoje cadente no Brasil, que Lula houve por bem trocar por uma medalha de Nossa Senhora Aparecida, nunca foi símbolo de social-democracia alguma, mas insígnia do Exército Soviético. Nos anos 90, foi arrancada de todos os prédios do poder na ex-URSS. Mas permaneceu pregada no peito das esquerdas latino-americanas.
O PT - ou o que dele resta - quer renovar-se. Mas só da boca pra fora. Jamais renunciará ao culto de seus deuses tutelares, Fidel Castro, Che Guevara, Prestes, Lamarca ou Marighella. Tarso Genro considera o assassino Prestes como o mais excelso herói que o Brasil já teve e Lula, sexta-feira passada, ainda citava Che Guevara: "Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas não podem deter a chegada da primavera". O PT quer renovar-se, mas ainda sente saudades das primaveras sangrentas prometidas pelo guerrilheiro argentino.
Em meio a isso, os intelectuais responsáveis pela ascensão do PT ao poder se reúnem em seminário para carpir o passado. O seminário, eufemisticamente, intitula-se O Silêncio dos Intelectuais. Melhor definido seria se se intitulasse o Silêncio dos Vendidos. Pois os intelectuais brasileiros, desde o início do século passado, venderam suas consciências ao socialismo soviético, a tal ponto que a palavra intelectual vinha sempre carimbada com um complemento: "de esquerda". Oswald de Andrade, hoje leitura obrigatória nos vestibulares, começa sua carreira nos anos 20, louvando o comunismo e o fascismo. No que aliás era muito coerente, comunismo e fascismo são as duas faces de uma mesma moeda. Seguiram-lhe os passos Jorge Amado, Graciliano Ramos, Dyonélio Machado, Raquel de Queiroz, Carlos Drummond de Andrade e uma miríade de escritores menores, todos militantes marxistas ou no mínimo compagnons de route, a tal ponto que não existe grande diferença entre a história da literatura brasileira no século passado e a história das idéias comunistas no Brasil. Até mesmo um escritor tido como liberal, como Erico Verissimo, não resistiu ao canto das sereias. Nos anos 60, recomenda a Sérgio Faraco não publicar suas memórias de Moscou, que denunciavam seu internamento forçado numa clínica psiquiátrica.
Nem Machado de Assis foi inocente. Marx morreu em 1883, o último volume de O Capital foi publicado em 1894. Machado, que tinha acesso a línguas estrangeiras e a publicações do Exterior, jamais disse um pio sobre a doutrina que começava a fazer carreira. Ora, o gaúcho Qorpo Santo, tido como louco e morto justamente em 1883 - 15 anos antes de Machado e 24 anos antes da Revolução de 17 - já denunciava o comunismo em sua obra. Que permaneceu por um século inédita, é verdade. Mas a denúncia já estava lá, em sua Ensiqlopédia ou seis mezes de huma enfermidade, como alerta aos pósteros. Machado não viu nada. Melhor para sua fortuna, ou não seria hoje leitura obrigatória nos vestibulares. Qorpo Santo só poderia ser louco, ao denunciar antecipadamente a peste que dominou o século XX.
Quase cem anos se passaram desde então, e a intelligentsia tupiniquim - ou talvez melhor disséssemos burritsia - não aprendeu nada com o século. Marilena Chauí, a filósofa mater do PT, como a qualifica o Estadão, considera que o silêncio da intelectualidade no mundo não se trata de uma recusa, mas de uma impossibilidade de interpretar a realidade presente. E o que resta, neste caso, é o silêncio. "Manifestar-se sobre tudo, mudar de atitude conforme mudem os ventos, abandonar a obra já feita, desdizendo-a e desdizendo-se, é irresponsabilidade, não é liberdade. Muitas vezes o verdadeiro engajamento exige que fiquemos em silêncio, que não cedamos às exigências cegas da sociedade". O chofer de táxi, a faxineira, o barbeiro, o padeiro da esquina já têm elementos suficientes para interpretar a realidade presente. A douta PhDeusa uspiana, especialista em Spinoza, que muito escreveu sobre ética e política, ainda não sabe o que pensar. Se tiver de fazer coro às denúncias de corrupção do PT, terá de jogar no lixo boa parte de sua biografia. Árvore velha não se dobra. Pode até quebrar, mas não cede. A crise hoje vivida pelo governo está demonstrando a senilidade mental de seus defensores.
Luís Fernando Verissimo matou a Velhinha de Taubaté. Seria difícil manter vivo um personagem que sempre acredita no governo. Mas... matá-la é suficiente? Verissimo não vai pedir desculpas a seus leitores pelas décadas em que os induziu a votar no mais corruptor partido do Ocidente? Não vai penintenciar-se por ter sido um dos mais influentes escritores a apoiar Lula e seus asseclas? Quando ruiu o regime comunista na Polônia, velhos militantes crucificaram-se simbolicamente por uma hora, para manifestar em público seu arrependimento. Verissimo não poderia dar-nos o prazer de pelo menos cinco minutinhos de contrição, não digo numa cruz, mas numa tribuna qualquer?
Chico Buarque, pobre alminha ferida, declarou-se "triste' com a situação. Quando o país todo está revoltado, o poeta das esquerdas, com seus enternecedores olhos verdes, se declara... triste. E nisso ficamos. Diz ainda esperar que crise não provoque "apenas a alegria raivosa de quem não votou em Lula". Velho tique das esquerdas, muito do agrado de Genoíno e Mercadante: quando se faz qualquer crítica ao PT, a crítica não é crítica. É ódio. Engana-se o vate cubanófilo. A alegria de quem não votou em Lula é a mesma e saudável alegria dos franceses quando se libertaram do jugo alemão, dos alemães quando caiu o muro, dos russos quando Ieltsin deu um canhonaço na Duma, dos povos soviéticos quando viram cair as estrelas vermelhas de seus prédios públicos. Estamos alegres, sim senhor. Principalmente porque nem foi preciso lutar para derrubar o PT. Os petistas se encarregaram disto.
Na 11ª Jornada Nacional de Literatura, em Passo Fundo, Frei Betto deplorou que "nem sob os anos da ditadura a direita conseguiu desmoralizar a esquerda como núcleo petista fez em tão pouco tempo (...) esses dirigentes desmoralizaram o partido e respingaram lama por toda a esquerda brasileira". Ocorre que as esquerdas brasileiras têm suas raízes no lamaçal ideológico do século passado.
Nada demais, meu caro Betto: as esquerdas estão voltando às origens.
às 

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