quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

A síntese explicativa do nosso Dia da Infâmia - Estevão Chaves de Rezende Martins

 Transcrevendo, com todos os cumprimentos cabíveis;

8 de janeiro de 2023

Estevão Martins

Abateu-se sobre Brasília a pior das vergonhas, numa escalada do enxovalho e da ignomínia! Aconteceu o que já se sabia ser um risco real: uma horda descontrolada espalhou-se pela Praça dos Três Poderes, cometendo crimes em cascata, profanando de fato as sedes dos poderes da República, poderes que o governo, enfim cessado em 31.12.2022, ultrajava diuturnamente pela palavra, pela incitação ao estupro das instituições. Já faltam palavras para dar voz à indignação, à repulsa pelos lenientes no governo do Distrito Federal, à cumplicidade venal dos políticos que colocam panos quentes e fazem ouvidos moucos ao rosnar das bestas-feras que se travestem de patriotas e conspurcam a bandeira nacional, enxovalhando a dignidade do povo brasileiro. Acobertam com o manto da cumplicidade dolosa o golpismo barato dos que se acham imunes, aparentemente seguros de que nada lhes acontecerá, que se desfarão no ar, sem ser identificados, sem ser indicados, sem ser julgados sem ser punidos. 

Será que se invadissem sua casa e a destruíssem sob o pretexto de que você não agrada à turbamulta descontrolada, você não se sentiria tomado por uma apoplexia de indignação e de revolta? Pois é: invadiram as casas de todos nós, ferindo profundamente a democracia, a moral e o cidadão comum, como você ou eu. A democracia sangra, a moral foi esbofeteada, o cidadão tornado refém numa terra de ninguém, em que a lei do mais forte parece ter tido um surto ainda mais perigoso, sob o olhar leniente de certas autoridades como o Governo do Distrito Federal, a Procuradoria Geral da República e tantos mais.

Precisamos de uma ação judicial de massa, em que os perpetradores, seus mentores, seus financiadores, seus manipuladores, seus acobertadores, seus cúmplices sejam processados com rigor e, com a culpa formada, exemplarmente punidos, inclusive sob o rigor extraordinário aplicável a atos terroristas. Tomara que sejamos capazes de praticar aqui a disciplina policial e judicial que foi aplicada nos Estados Unidos na apuração das responsabilidades pelos crimes do dia 6 de janeiro de 2021.”

Onde andará? (Canta o poeta compositor) - Paulo Roberto de Almeida

 “Onde andará?” aquele genial frasista do “comunavirus”, segundo uma estrofe de Chico Buarque, o compositor preferido dos bolsonaristas-raiz (alguns desenraizados precocemente): 

Paulo Roberto de Almeida

Numa de suas últimas postagens, antes das invasões e depredações do dia 8/01, o patético ex-chanceler acidental (o primeiro do desgoverno Bozo) dizia preferir o caos à “ordem comunista” do governo eleito e empossado. 

Deve estar completamente satisfeito agora, com o caos realizado pelos seus antigos companheiros de jornada e de militância bolsonarista extremada.

EA, o símbolo diplomático da Era dos Absurdos, acompanha os acontecimentos de longe, no conforto invernal de Hartford, CT-USA, doravante como apêndice de sua “conja”, ainda ativa no Serviço Exterior que ele se esforçou para desmantelar, enquanto conspurcou a Casa de Rio Branco.

Onde andarão seus pensamentos vagos, num momento em que as trapalhadas do bolsonarismo-raiz acabam de reforçar, paradoxal e extraordinariamente, a “ditadura da esquerdalha comunista”?

EA estaria preparando um novo romance, distópico, como os dois anteriores, ilisíveis, segundo um jornalista que os resenhou?

Já telefonou para uma simples saudação cordial ao seu ex-chefe, temporariamente “refugiado” num condomínio em Orlando?

Reativou seus contatos com Steve Bannon, o estrategista-chefe do trumpismo ascendente?

E aquela sua brilhante ideia de estabelecer uma nova Santa Aliança entre as três grandes nações cristãs do planeta, o Brasil católico, a América protestante e a Rússia ortodoxa? Não valeria um novo ensaio de história das ideias (malucas?), a exemplo daquele que o fez ascender no cenáculo intelequitual do olavismo triunfante, que tratava Trump como o “salvador do Ocidente”?

Quando termina sua LIP (licença para trato de assuntos particulares) no Serviço Exterior brasileiro? 

O Gabinete do atual chanceler manteve a sua foto na galeria dos ministros das relações exteriores, agora bicentenário, começando por José Bonifácio?

Onde andará?, cantaria Chico Buarque?


Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 12/01/2023


quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

O vórtice da demência coletiva: alienação extrema chega ao Brasil sob Bolsonaro - Paulo Roberto de Almeida

 O vórtice da demência coletiva: alienação extrema chega ao Brasil sob Bolsonaro

Paulo Roberto de Almeida 

Raras vezes na história da humanidade se pode ver, tocar, registrar, conviver com um grau de loucura coletiva desenfreada tal como materializado na fúria incontrolável de milhares de fanáticos bolsonaristas que devastaram os três poderes do Estado em Brasília, em 8/01/2023. 

Precedentes podem ser considerados nos casos do suicídio coletivo promovido pelo pastor americano Jim Jones na Guiana (em 1978) e o do fanatismo exacerbado, de fato um delírio coletivo, de parte expressiva da população alemã sob Hitler a partir de 1933.

No caso do Brasil, não ocorreu o tipo de planejamento metódico, como o que Hitler promoveu a partir de sua prisão depois do putsch frustrado da cervejaria e da redação e publicação de Mein Kampf, tanto porque o inepto tenente rejeitado pelo Exército por terrorismo seria incapaz de articular o crescendo de loucura que estimulou desde 2018. Concorreram, no caso brasileiro, a ação golpista-tutelar de altos oficiais das FFAA - que quiseram fazer do medíocre político ex-militar sua alavanca em busca de poder e de benefícios pessoais e corporativos — e a mobilização política e financeira de empresários reacionários, devotados à mesma causa autoritária representada pelo representante da ala mais sombria da ditadura militar que destroçou a frágil democracia brasileira em 1964.

O elo militar-empresarial alimentou e promoveu nossa descida à loucura coletiva.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 11/01/2023


terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Guilherme Casarões tenta encontrar algum sentido na loucura vivida no Brasil nos últimos cinco anos

Brazil insurrection: how so many Brazilians came to attack their own government


Terrorismo em Brasília é obra militar - Rafael Moro Martins (The Intercept)

Terrorismo em Brasília é obra militar

Rafael Moro Martins

The Intercept Brasil

Segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

"Políticos, jornalistas e juízes se tornaram o pior pesadelo das forças policiais", disparou Luiz Fernando Ramos Aguiar, major da Polícia Militar do Distrito Federal em 2021. Por escrito e assinado, ele ameaçou autoridades e toda uma classe profissional por terem reagido à maior chacina perpetrada pelas polícias do Rio de Janeiro, na favela do Jacarezinho, em maio passado. 

Mesmo publicado num blog da esgotosfera policial, como foi o caso, o artigo deveria ter sido farejado pelos comandantes de Aguiar e lhe rendido uma punição exemplar. Não foi, e ainda ficou pior: a diatribe chamou a atenção dos editores do jornal paranaense Gazeta do Povo, que a reembalou e republicou para um público muito maior. 

Ainda assim, nada ocorreu a Aguiar. Ao contrário –  ele segue com cargo de confiança na corporação. Recebe, limpos, mais de R$ 18 mil mensais, segundo o Portal da Transparência. 

A leniência das autoridades com a radicalização à extrema direita das forças de segurança vai muito além do major, no entanto. O nome do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, por exemplo, vem sendo há 12 anos usado por um site para vender conteúdo fascista e politicamente enviesado – além de publicidade.

É por isso que surpreende zero pessoas bem-informadas a facilidade com que terroristas invadiram e destruíram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal neste domingo, dia 7, em Brasília. Já sabemos que colegas do major Aguiar bebericavam água de coco enquanto assistiam aos terroristas destruírem a Praça dos Três Poderes.

Claro, há alguns protagonistas entre os culpados óbvios pelo maior atentado terrorista já visto no Brasil. O primeiro é Ibaneis Rocha, um advogado ricaço e prepotente que resolveu brincar de político e torrou alguns milhões para se eleger e reeleger governador do Distrito Federal pelo MDB. Espécie de Bolsonaro que prefere vinhos caríssimos a frango com farofa, Ibaneis resolveu zombar do país todo ao renomear o delegado da Polícia Federal Anderson Torres como seu secretário da Segurança Pública.

Torres foi chefe de gabinete do deputado federal Fernando Francischini, do União Brasil paranaense, cassado por mentir sobre as urnas eletrônicas que o elegeram. Como prêmio, foi chamado por Ibaneis para comandar a Segurança do DF, mas deixou o cargo em março de 2021 para ser ministro da Justiça de Jair Bolsonaro. Sob o comando de Torres, a Polícia Rodoviária Federal matou Genivaldo de Jesus Santos numa câmara de gás improvisada no camburão de uma viatura no Sergipe. 

O assassinato não custou o cargo a Torres, que ficou à vontade para tentar roubar a eleição para o chefe Bolsonaro – usando, novamente, a PRF – e ficar de braços cruzados quando golpistas resolveram tocar o terror em Brasília em 12 de dezembro, dia da diplomação de Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin no Tribunal Superior Eleitoral. 

Nada disso fez Ibaneis desistir de devolver-lhe a Secretaria da Segurança Pública. O governador tentou salvar o próprio pescoço demitindo Torres no auge da barbárie do domingo – àquela altura, já se sabia que o Batalhão de Choque da PM do Distrito Federal só fora acionado quando golpistas já depredavam os prédios públicos mais importantes do país. Tarde demais, Ibaneis: se houver um resto de institucionalidade no Brasil, você e Torres serão escorraçados da vida pública. E, talvez, presos por prevaricar.

A lista de honra das tchutchucas de terroristas também tem lugar para o ministro da Defesa José Múcio Monteiro, que puxava o saco dos militares nos anos 1970 e inexplicavelmente foi chamado por Lula para seguir fazendo a mesma coisa. Na semana passada, Múcio riu no Salão Nobre do Palácio do Planalto quando precisou falar sobre os amigos e parentes que dizia ter nos acampamentos golpistas protegidos pelo infame Exército brasileiro. 

"Não sabia que iam levar isso tão a sério", divertiu-se o ex-arenista. Neste domingo, perguntei à assessoria de Múcio se ele seguia achando o golpismo bolsonarista "democrático" – e se algum amigo ou parente dele lhe mandou selfies destruindo prédios públicos. Dessa vez, o outrora risonho ministro preferiu o silêncio – a essa altura, indecoroso como os atentados terroristas.


A destruição é militar

O foda-se institucional, justiça seja feita, é obra militar. Eduardo Villas Bôas, Sérgio Etchegoyen, Hamilton Mourão, Walter Braga Netto, Luiz Eduardo Ramos, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira e Marco Antônio Freire Gomes, todos generais de quatro estrelas do Exército, sonharam reviver a ditadura de seus pares, mas passarão à história como cúmplices da destruição da capital federal. Terão a seu lado os ex-comandantes da Marinha, Almir Garnier Santos, e da Aeronáutica, Carlos Almeida Baptista Junior. 

Tudo isso – a podridão institucional de toda uma geração de altos comandantes militares, as risadas cínicas de Múcio, a prepotência de Ibaneis e a cumplicidade aberta de Torres – se materializou, ontem, na tranquilidade com que PMs assistiram inertes à destruição de Brasília. Nisso, foram seguidos pelos militares do Regimento de Cavalaria de Guardas e do Batalhão da Guarda Presidencial, unidades do Exército cuja ÚNICA função (o grifo é necessário aqui) é proteger a sede do poder Executivo.

Mas só quem acordou ontem se surpreendeu. A fleuma com que fardados se sentem à vontade para atacar a democracia se exibe cotidianamente, por exemplo, nos esbirros golpistas de generais em redes sociais. Ou na tranquilidade com que o guarda da esquina – em nosso exemplo, o major da PM Luiz Fernando Ramos Aguiar – ataca de uma só vez a magistratura, a classe política e toda a imprensa sem temer retaliação e se fazendo cúmplice do terrorismo da extrema direita.

Cada qual dessas categorias profissionais, diga-se, tem seu quinhão de culpa na esbórnia institucional. Juízes – dos circunspectos Luiz Fux e Luís Roberto Barroso ao baixo clero da primeira instância – aplaudiram o vale-tudo jurídico-político da Lava Jato e se fizeram instrumentos da abjeta propaganda ideológica da extrema direita sem serem de fato enquadrados pelo Conselho Nacional de Justiça. 

(Parêntese necessário: o Ministério Público tem como uma de suas funções fiscalizar e controlar a atividade policial. Mas, há alguns anos, o grosso dos promotores e procuradores passou a gostar da sensação de descer o cacete e prender sem provas, tal como fazem os policiais militares brutamontes da Rota paulista. O retrato de Dorian Gray do acanalhamento do parquet está visível para o mundo na cumplicidade franca do procurador-geral da República, Augusto Aras, e sua número dois, Lindôra Araújo, com a extrema direita.)

O quinhão de culpa da classe política é imenso e democraticamente distribuído, mas pode ser resumido em três tristes homens públicos paridos pelo Paraná. Ricardo Barros, deputado federal do PP, um sujeito sempre disposto a servir o governo de turno, tentou culpar Lula, empossado há uma semana, as urnas eletrônicas e o ministro Alexandre de Moraes pela balbúrdia em Brasília.

Deltan Dallagnol, deputado federal do Podemos, acreditou que um Cristo que pertencia a Lula havia sido roubado por ele da Presidência e teve frêmitos de prazer ao imaginar-se lhe passando as algemas. Ontem, só foi balbuciar alguma crítica à depredação generalizada de um patrimônio público e histórico perpetrada por seus irmãos de extrema direita depois das 20h. Com muitos mas, contudos e poréns. 

Sergio Moro, que como juiz foi alicerce fundamental da ascensão da extrema direita, foi ainda pior: atacou o governo Lula por "reprimir protestos". Mais tarde, como a panela de pressão explodindo, disse que os terroristas "precisam se retirar dos prédios públicos antes que a situação se agrave" – sem pedir a prisão deles.

Por fim, é preciso haver uma autocrítica vinda de nós, jornalistas. Neste domingo, a principal coluna política do maior jornal brasileiro, a Folha de S.Paulo, assim arrematou uma nota sobre a chegada de ônibus com golpistas a Brasília: "Os manifestantes contam com uma rede de solidariedade para se manterem acampados". Um par de horas depois, os "manifestantes", amparados por sua "rede de solidariedade", passaram a destruir a capital.

É espantoso que haja alguma surpresa ante o cenário desolador deste domingo. Quem quer que esteja disposto a enxergar as coisas como são já percebeu que as polícias, as Forças Armadas, parte do Ministério Público, do poder Judiciário e da classe política não estão à altura dos papéis institucionais que a Constituição e a sociedade lhes confiaram. Precisarão, todos, ser vigiados de perto pela parcela democrata da sociedade até que sejam devidamente saneados e reconstruídos. Uma tarefa que não é mais adiável – sob pena de sermos, todos, demolidos pelo talibã que veste farda ou camisas da CBF e age cada vez mais às claras no Brasil.


Rafael Moro Martins

Repórter Especial Contribuinte

A história se repete como farsa - Rubens Barbosa (O Estado de S. Paulo)

Dois Capitólios, ambos criminosos, o de Washington mais mortal, o de Brasília mais destruidor.

 

A HISTÓRIA SE REPETE COMO FARSA

 

Por Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo, 10/01/2023


A invasão do Congresso norte-americano no dia 6 de janeiro de 2021 foi repetida, como farsa, no domingo, dois dias e dois anos depois, de maneira muito mais grave, porque atingiu, com criminosa destruição, também o Supremo Tribunal Federal (STF) e a sede do governo, o Palácio do Planalto. O ponto comum entre os dois eventos é o inconformismo de grupos políticos radicais com o resultado das eleições presidenciais.

O que explica essa ocorrência tão grave no começo do novo governo e que tanta reação causou no exterior? Não há dúvida de que houve falha no tratamento das informações de inteligência, além de omissão das autoridades do governo do Distrito Federal (DF) e incompetência na proteção e na segurança da Praça dos Três Poderes. A tentativa de destruição do Estado de Direito resulta de causas mais profundas.

A divisão política e social do País, com crescente radicalismo por parte de grupos minoritários, está na base de grave crise política que terá desdobramentos sérios, inclusive pelo aparelhamento da máquina estatal com a contaminação ideológica das instituições públicas, como no caso dos agentes de segurança, tanto federais como do DF. O desrespeito às instituições caracteriza um estado de anomia por parte de uma parcela radical da sociedade brasileira. Depois do ocorrido no domingo, a ideia de convergência, união e pacificação, anseio de muitos e promessa de campanha, fica mais difícil de ser alcançada.

O ex-presidente Jair Bolsonaro, depois de muitas horas, a exemplo de Donald Trump, procurou se dissociar dos atos violentos, mas acentua a divisão ao comparar o que aconteceu no domingo às ações da esquerda em 2013 e 2017. A responsabilidade política do ex-presidente foi apontada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo ministro da Justiça, Flávio Dino. A responsabilidade jurídica terá de ser apurada. O governo observou que o ocorrido foi um ato terrorista e uma tentativa de golpe nunca registrada na história do País. A tentativa de eventual condenação de Bolsonaro por suas ações contra o resultado das urnas deverá acirrar os ânimos ainda mais.

A reação do governo federal tem de ser rápida para apurar as responsabilidades do crime e punir os culpados pelos atos de terrorismo. Algumas decisões foram prontamente tomadas: a intervenção federal na área de segurança por 30 dias no governo do Distrito Federal, a ser apreciada pelo Congresso; a prisão de quase 300 invasores em flagrante e 1.500 nos acampamentos; a investigação sobre os mandantes e financiadores do movimento; a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Congresso; o pedido de cessão de membros das Forças Armadas para completar as forças que garantirão a lei e a ordem. O Judiciário determinou o afastamento do governador do DF por 90 dias e o fim dos acampamentos em frente e nas adjacências dos quartéis.

A crise desencadeada pela invasão e destruição de Brasília gerou forte turbulência política e piora no ambiente dos entendimentos que o novo governo está desenvolvendo para ampliar a margem de governabilidade. O radicalismo político deverá continuar e a oposição ao governo Lula vai se acirrar no Congresso e nas ruas. O presidente Lula terá de criar um clima político estável para a condenação dos criminosos e para impedir a repetição dessas ações.

Um dos fatores mais importantes para a difícil superação da turbulência deverá ser a firme manifestação da autoridade presidencial em todas as áreas, para liderar os esforços para o fortalecimento das instituições do centro democrático e para a retomada da agenda econômica e social.

Do ponto de vista político, um dos fatores mais sensíveis, com importante repercussão na evolução das ações do governo Lula, é o relacionamento entre civis e militares. Alguns fatos indicam a incerteza dessa relação: a politização de parte dos militares da ativa, como se viu concretamente na recusa do comandante da Marinha em participar da posse do seu substituto nomeado pelo presidente Lula, apesar das gestões do ministro da Defesa; a complacência até ontem das lideranças das Forças Armadas em relação à permanência dos acampamentos de seguidores de Bolsonaro que se multiplicaram em frente a quartéis militares; e o fato de Lula ter optado por não convocar ação das Forças Armadas para a Garantia da Lei e da Ordem (GLO), talvez pela incerteza da reação dos militares. A não manifestação das Forças Armadas durante os acontecimentos, contudo, foi um dos poucos aspectos positivos de toda a crise. Se tivesse havido uma efetiva tentativa de golpe às instituições, a não interveniência das Forças Armadas – que haviam dado mostras de que não tomariam partido, nem sairiam das linhas constitucionais – frustrou a expectativa. As instituições, bem ou mal, saíram fortalecidas.

Outra importante consequência da crise é a mudança da agenda, que deixa a economia e a governabilidade em um segundo plano para dar relevância à defesa das instituições e do Estado Democrático de Direito. As tensões deverão aumentar e ter desdobramentos em todos os níveis. As ações do Executivo, do Legislativo e do Judiciário contra os invasores, organizadores, financiadores e incentivadores tornarão a divisão do País ainda mais acentuada e radicalizada.

PRESIDENTE DO CENTRO DE ESTUDOS DE DEFESA E SEGURANÇA NACIONAL (CEDESEN)

 

 

 

 


Um 2023 especialmente complicado para muitos países e não apenas a Ucrânia: guerras, crises, recessão, fome, desastres humanitários

 By Ishaan Tharoor with Sammy Westfall 
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The Washington Post, January 11, 2023

 For many Western policymakers, the Russian invasion of Ukraine is the all-defining crisis of the moment. That’s understandable: An open war in Europe of this scale marked an epochal moment on the continent, realigning grand strategy in major European capitals and reinvigorating the transatlantic alliance. Meanwhile, the war’s ripple effects — shocks to supply chains, energy markets and global food systems — have fed into other crises far away, from West Africa to South Asia.

But there’s a lot more to worry about in the world. Two recent studies — one by a think tank, the other by a humanitarian international organization — lay out the challenges that should vex global policymakers in 2023.

 

The annual Preventive Priorities Survey, released by the Council on Foreign Relations (CFR), polled more than 500 U.S. government officials, policymakers and academics on the likelihood of certain events transpiring this year and what their impact would be on U.S. interests. It sorted these contingencies into a three-tiered ranking of potential hot spots and crises — at least from the vantage point of Washington.

Intriguingly, the report noted that for the first time since 2008, when the survey of foreign policy elites started being conducted, “the possibility of a foreign terrorist organization inflicting a mass casualty attack on the United States or a treaty ally was not proposed as a plausible contingency.” In other words, “from the perspective of those responding, the 9/11 era is over,” Paul Stares, head of CFR’s Center for Preventive Action, said at a Tuesday briefing.

 

The seven most pressing threats in 2023 enumerated by the survey are as follows: The advent of “a severe cross-strait crisis” that pulls the United States into a confrontation with China over Taiwan; an escalation in the Ukraine war that sees “unconventional weapons spillover into neighboring countries”; a cyberattack hitting U.S. critical infrastructure; economic collapse and social unrest within Russia because of the toll of the war, leading to a destabilizing spiral; North Korea stepping up its testing of nuclear weapons and long-range ballistic missiles; Israel’s right-wing government taking covert or direct action against Iran’s nuclear program, with diplomacy over Tehran’s nuclear capabilities at a dead end; and the possibility of natural disaster and social unrest in Central America spawning a new surge of migration to the United States.

“Every conversation I’ve had about Ukraine over the course of the year has at some point moved to Taiwan,” said Suzanne Maloney, vice president and director of foreign policy at the Brookings Institution, a leading think tank. Speaking at the same CFR briefing, Maloney gestured to the widespread feeling of concern in Washington that China is priming itself for an invasion of the island democracy at its doorstep.

 

This rundown of what’s most vexing U.S. policymakers still misses a whole other world of crisis. Last month, the International Rescue Committee unveiled its annual emergency watch list of 20 countries most at risk of humanitarian calamity. Ukraine, though in the grips of a ruinous war, is only 10th in the IRC ranking. Other countries are in even more dire conditions: At the top of the list are the Horn of Africa nations of Somalia and Ethiopia, stricken by drought and war. Hundreds of thousands of people are already living under famine conditions in these two countries, with aid agencies warning of far greater depredations to come. In Somalia, close to half the population is already in need of humanitarian assistance.

Then there’s Afghanistan, which dropped from the top spot on the watch list only because of the severity of the crises in East Africa. The economic collapse that was compounded by the takeover of the Taliban has immiserated much of the country. The political impasse over Kabul — the Taliban are international pariahs and have their foreign reserves frozen by U.S. sanctions — is only making things worse. “Despite efforts to engage the [Taliban government], a plan to address Afghanistan’s economic collapse has not been agreed upon,” the IRC noted. “With almost the entire population now living in poverty and preparing for another long winter, an escalation in humanitarian need is a risk in 2023.”

 

As I reported earlier, for humanitarian organizations, the war in Ukraine has been a double tragedy — triggering a cascading series of pressures that impacted poor nations elsewhere, while also leading the entreaties of aid agencies last year to fall on somewhat deaf ears. We knew for months that Somalia faced a devastating epidemic of hunger, but humanitarian officials say the funding and international response has come late.

The 20 countries on the IRC watch list account for some 90 percent of people in the world who need humanitarian assistance, 81 percent of people who have been forcibly displaced from their homes, 80 percent of those who are acutely food insecure and only 1.6 percent of global gross domestic product. Their precarity is, in and of itself, a reflection of vast inequities that shape the global system.

“Most of the crises in Watchlist countries are not new,” IRC President and CEO David Miliband wrote in a foreword to the annual report. “But the fact that these crises are protracted does not make them any less urgent. The primary reason we are seeing worrying new record levels of need is because three key accelerators of crisis — armed conflict, climate change and economic turmoil — are driving long-standing crises to new extremes. And, in some instances, they are sparking new crises as well.”

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...