sexta-feira, 1 de setembro de 2023

O Brasil de Lula 3 no G20 da Índia - Paulo Roberto de Almeida (Revista Crusoé)

Meu artigo na Crusoé desta sexta-feira 1/09/2023, mas escrito antes do encontro, que é só na semana que vem:

O Brasil de Lula 3 no G20 da Índia

  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Artigo sobre a reunião de cúpula do G20 na Índia.

Revista Crusoé (1/09/2023; link: https://oantagonista.com.br/mundo/crusoe-o-brasil-de-lula-3-no-g20-da-india/). Relação de Originais n. 4465; Relação de Publicados n. 1521. 

 

A 18ª reunião de cúpula do G20, a ser realizada em New Delhi, capital da Índia, não será propriamente uma novidade para Lula, que já participou dos primeiros encontros desse grupo desde que ele foi originalmente convocado para tratar da crise financeira de 2008, pelo próprio presidente George Bush, em Washington. O grupo deriva diretamente, embora em nível hierárquico inferior, do Financial Stability Forum, que por sua vez tinha nascido na crise financeira anterior, na segunda metade dos anos 1990. A diferença entre a natureza de um e outro grupo das economias mais relevantes do planeta está em que o antigo Forum tinha no seu certificado de nascimento uma crise, mais uma, de países em desenvolvimento, ao passo que o G20 deu seu primeiro passo, em nível de chefes de Estado, após a implosão da bolha imobiliária no mercado americano, seguida de seu impacto no sistema bancário e de seguros, se espalhando logo depois para os demais países desenvolvidos, devido aos efeitos sistêmicos dos derivativos financeiros criados a partir das hipotecas avalizadas por agências financeiras oficiais do governo americano e alegremente adquiridos por investidores da Europa e do Japão, certos de que o Triplo A atribuído a esses derivativos era para valer.

(...)

O G20 de Nova Delhi ocorre em outras condições, bem mais difíceis do que os exercícios anteriores, sob o impacto do segundo ano da guerra de agressão da Rússia à Ucrânia, de certo modo uma extensão da mudança de humor já iniciada quando da invasão e anexação ilegal da península da Criméia em 2014, quando a Rússia foi expelida do então “puxadinho” do G8, uma das várias sanções econômicas introduzidas contra o agressor pelos países ocidentais. Naquela ocasião, rompendo com a tradição do Itamaraty de estrito respeito às normas do Direito Internacional e de absoluto respeito à Carta da ONU, a presidente Dilma Rousseff não tomou qualquer posição a respeito da grave violação da soberania ucraniana, a pretexto de que tal invasão era um “problema interno da Ucrânia”. Foi um primeiro exemplo do baixo acatamento, pela diplomacia presidencial, dos padrões habituais do Itamaraty de adesão a princípios consagrados da legalidade internacional, práticas mais adiante continuadas, sob diferentes pretextos, pela diplomacia de Bolsonaro e de Lula 3.

(...)

Num contexto no qual o encantamento inicial com a terceira presidência Lula já deu mostras de arrefecimento junto aos principais governantes dos países ocidentais – em princípio, exatamente por causa da violação ao Direito Internacional causada pela Rússia e pouco enfatizada pelo governo Lula –, essa presidência do G20 pode ajudar a corrigir um pouco essa má percepção de suas atuais “alianças” internacionais, ou continuar a empanar a sua imagem  junto ao Ocidente e até a liderança na própria região, onde outros líderes progressistas – como Boric do Chile, ou Petro da Colômbia – já deram mostras de maior comprometimento com uma diplomacia fundada no respeito à Carta da ONU. Esperava-se mais de um governo declaradamente a favor, assim como o próprio Itamaraty, da estrita solução pacífica das controvérsias entre Estados. 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4465, 31 agosto 2023, 3 p.

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

A industrialização do Brasil começou com a cooperação americana; Lula pretende reindustrializar o Brasil com cooperação chinesa

 A industrialização brasileira começou, na prática, com a cooperação americana da US Steel, na construção da siderúrgica de Volta Redonda, em plena Segunda Guerra Mundial. Lula agora pretende reindustrializar o Brasil com base na cooperação chinesa, em plena Segunda Guerra Fria entre China e os EUA, o que não deixa de ser uma escolha estratégica, sinalizando onde está o Brasil, em termos de prioridades econômicas de cooperação estrangeira.


Petrobras assina acordos com empresas chinesas 

Rio de Janeiro, 30 de agosto de 2023 – A Petróleo Brasileiro S.A. – Petrobras informa que foi realizada missão à China, na qual foram realizados encontros do Presidente da Petrobras Jean Paul Prates com presidentes de empresas chinesas e firmados acordos de cooperação no setor energético, conforme abaixo especificado:

MoU com a China National Offshore Oil Corporation - CNOOC, a fim de estender a colaboração e explorar o potencial de cooperação global no setor energético em segmentos de interesses mútuos, tais como exploração e produção de petróleo e gás, refino, indústria petroquímica, dentre outros.
MoU com a China Petrochemical Corporation - SINOPEC, com objetivo de colaborar na pesquisa e avaliação de oportunidades no Brasil ou no exterior, nos segmentos de exploração & produção, refino, comercialização, projetos de transição energética, captura de carbono, dentre outros.
Termos de Acordo para Cooperação Estratégica com a China Energy International Group Co., Ltd., com a finalidade identificar potenciais oportunidades de negócio no Brasil relacionadas a geração de energia renovável e produção de hidrogênio e amônia sustentáveis.
Non-Disclosure Agreement com a Citic Construction Co. Ltd. – CITIC, para discussões sobre possíveis oportunidades de negócios e projetos conjuntos, inclusive a formação de joint-ventures para investimentos no Brasil e no exterior.
Os acordos assinados são de caráter não vinculante e, para acompanhar o progresso dos estudos e discussões, serão formados comitês de representantes de cada empresa. Somente após a conclusão das análises técnicas necessárias, potenciais projetos advindos dos acordos assinados terão estimativas oficiais de custo, prazo e retorno, a fim de que sejam futuramente apreciados pelas instâncias de aprovação interna, de acordo com a governança da companhia.

Os acordos estão alinhados aos elementos estratégicos do Plano Estratégico 2024-28, que visam preparar a Petrobras para um futuro mais sustentável, contribuindo para o sucesso da transição energética.  

Sobre as empresas

CNOOC é a maior produtora offshore de petróleo e gás da China. A empresa é de economia mista, com ações na Bolsa de Valores de Hong Kong, sendo o governo chinês o acionista majoritário. O negócio principal abrange exploração e desenvolvimento de petróleo e gás, serviços técnicos profissionais, vendas de produtos de refino e fertilizantes, produção de gás natural e geração de energia e serviços financeiros, bem como novos negócios de energia, como energia eólica offshore.

SINOPEC é o maior fornecedor de produtos petrolíferos e petroquímicos e o segundo maior produtor de petróleo e gás da China, a maior empresa de refino e a segunda maior empresa química do mundo. Suas principais atividades incluem exploração e produção (onshore e offshore de óleo cru e gás natural), armazenamento e transporte de petróleo e gás natural (incluindo o transporte por gasoduto), refino de petróleo e fornecimento de produtos químicos e derivados do petróleo.

China Energy International Group Co., Ltd. é um grupo de grande porte que fornece soluções e serviços integrados para todo ciclo de desenvolvimento para energia e infraestrutura na China e no mundo. O negócio principal abrange energia tradicional, energia renovável, saneamento, proteção ambiental, transporte, construção municipal, construção de moradias, urbanização, materiais de construção e explosivos civis, com uma cadeia industrial completa atuando como consultoria de planejamento, avaliação e revisão, levantamento e projeto, construção e gestão, operação e manutenção, investimento e operação, serviços técnicos, fabricação de equipamentos e materiais de construção.

CITIC Construction Co., Ltd., uma subsidiária da Estatal Chinesa do Grupo CITIC, é uma empreiteira líder global. Fornece serviços abrangentes de construção e engenharia e sendo elegível para contratar grandes projetos de classe mundial. Ao aproveitar as vantagens do negócio diversificado do Grupo CITIC, a companhia oferece uma gama de serviços de valor agregado, além dos negócios tradicionais no setor de engenharia, cujos negócios abrangem finanças, recursos e energia, manufatura, contratação de engenharia, imobiliário e infraestrutura, consultoria, entre outras soluções eficientes que visam maximizar os interesses dos clientes.

Lula visita a ditadura cubana antes de seguir para os EUA

 É uma mentira que o povo cubsno passe necessidades por causa do embargo americano: remédios e alimentos estão isentos do embargo, e os EUA são o PRIMEIRO FORNECEDOR DE ALIMENTOS para a ilha-prisão do Caribe. Ela é miserável como são todos os socialismos!

Lula fará visita a Cuba em setembro Presidente brasileiro fará visita ao país no dia 15 de setembro, antes de seguir para Nova York, onde participa da Assembleia Geral da ONU 

O Globo, AFP, Bloomberg, 30/08/2023

 O presidente Luiz Inácio Lula da Silva irá viajar para Cuba no dia 15 de setembro. Ele cumprirá agenda no país caribenho, antes de seguir para Nova York, onde participará da Assembleia Geral da ONU. Nos EUA, a agenda presidencial seguirá do dia 16 até 22 de setembro. No início do mês, entre os dias 7 e 11, Lula ainda viajará para a Índia, para participar do encontro do G20, grupo de países em desenvolvimento. Em Cuba, Lula participará de uma agenda do chamado G77, grupo que congrega os países em desenvolvimento. Esta será a segunda agenda bilateral entre Lula e o presidente cubano, Miguel Díaz-Canel. Em junho, os dois se reuniram em Paris, na França, o que foi celebrado pelo governo petista como uma "retomada do diálogo com Cuba, abandonado nos últimos anos pelo governo anterior". Há cerca de 20 dias, o assessor para assuntos internacionais do Palácio do Planalto, Celso Amorim, viajou para Havana e esteve com o presidente cubano. Foi mais um passo de reaproximação do Brasil com países que se distanciaram no governo do ex-presidente Michel Temer e perderam totalmente a importância na gestão de Jair Bolsonaro. A situação do povo cubano, devido às sanções aplicadas há mais de 40 anos pelos Estados Unidos, é uma das preocupações do governo Lula. Existe a possibilidade de o presidente brasileiro voltar a defender o fim do embargo americano, para melhorar as condições de vida da população da ilha caribenha, durante sua ida aos EUA, onde participará da Assembleia-Geral da ONU. Em 2022, o comércio bilateral entre Brasil e Cuba totalizou US$ 292,6 milhões, tendo registrado um aumento de 60,3% em relação a 2021. Em 2023, entre janeiro e maio, as exportações, importações e balança comercial registram um superávit para o Brasil de US$ 67,7 milhões. Encontro na ONU Nos EUA, em um evento conjunto durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, Lula e o presidente americano, Joe Biden, defenderão melhores condições de trabalho nos dois países, segundo o ministro do Trabalho, Luiz Marinho. Marinho disse em entrevista à Bloomberg nesta segunda-feira que os dois líderes “vão lançar uma espécie de manifesto” sobre a necessidade de melhorar as relações trabalhistas, ambiente de trabalho e remuneração. A reunião está marcada para 19 de setembro, em Nova York, após os dois presidentes discursarem na Assembleia Geral, segundo pessoas do governo brasileiro familiarizadas com os planos, que pediram anonimato. Biden e Lula divergem sobre questões como a guerra na Ucrânia e relações com a China. Mas as autoridades brasileiras disseram que os líderes estão em sintonia no apoio aos sindicatos em seus países. Biden se diz o presidente mais pró-sindical da história dos EUA e tomou medidas para fortalecer os sindicatos, um ponto-chave para sua coalizão para as eleições do ano que vem. Os presidentes conversaram pela última vez por telefone em 16 de agosto, quando discutiram objetivos comuns sobre o clima e outras questões. Biden recebeu Lula na Casa Branca em fevereiro. A reunião ocorrerá em um momento em que o Brasil trabalha com aliados para aumentar a influência do Brics. Na semana passada, os líderes do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul concordaram em convidar Arábia Saudita, Irã, Egito, Argentina, Etiópia e Emirados Árabes Unidos a se unirem ao bloco. Com AFP e Bloomberg)


O tamanho da crise econômica da China - Paul Krugman (NYT, OESP)

O Brasil seria mais impactado por uma crise chinesa do que os EUA (pouco) ou o Japão e a Alemanha, que vendem muito para a China. Ou seja, o Brasil é um perdedor se a China entrar em recessão. 

O tamanho da crise econômica da China
Paul Krugman

O Estado de S. Paulo | Internacional
30 de agosto de 2023
Paul Krugman 
É colunista e ganhador do prêmio Nobel de Economia de 2008
The New York Times

Graças à baixa exposição da economia dos EUA, é difícil que problemas chineses se tornem globais

O efeito da crise seria maior em países que vendem mais para a China, como Alemanha e Japão

A s agruras econômicas dos anos pós-pandêmicos têm ocasionado intensos debates intelectuais e sobre políticas. Algo com que quase todos concordam, porém, é que a crise póscovid se assemelha pouco à crise financeira de 2008. Mas a China – segunda maior economia do planeta – parece balançar à beira de uma crise muito parecida.

Eu não confio no meu próprio entendimento sobre a China para julgar se o país vive seu momento Minsky, o ponto em que todos de repente se dão conta de que uma dívida insustentável é, de fato, insustentável. E, de fato, duvido que alguém ? incluindo as autoridades chinesas ? saiba responder a essa questão.

Mas acho que somos capazes de responder a uma pergunta mais condicional: se a China realmente passa por uma crise em estilo 2008, ela transbordará para o restante do mundo? E a resposta é clara: não. Por maior que seja a economia chinesa, os EUA estão pouco expostos aos problemas chineses. Antes de chegar aí, contudo, falemos sobre por que a China de 2023 se assemelha às economias americana e europeia de 2008.

BOLHA. A crise de 2008 foi ocasionada pelo estouro de uma bolha imobiliária transatlântica. Os efeitos foram amplificados por perturbações financeiras, especialmente o colapso dos ditos "shadow banks" – instituições que agiam clandestinamente como bancos, criando riscos de uma corrida bancária, mas prescindindo de regulamentações e de redes de segurança.

E agora chega a China, com um setor imobiliário ainda mais inchado que o dos países ocidentais em 2008. A China também tem um atribulado setor de "shadow banking", além de problemas peculiares, como dívidas enormes de governos locais.

A boa notícia é que a China não é a Argentina ou a Grécia, que deviam quantias imensas a credores estrangeiros. A dívida em questão aqui é de dinheiro que a China deve para si mesma. E deveria ser possível, em princípio, para o governo nacional resolver a crise por meio de alguma combinação entre resgates de devedores e abatimentos para credores.

Mas o governo da China tem competência para gerir o tipo de reestruturação financeira? As autoridades chinesas têm determinação ou clareza intelectual para fazer o que é necessário? Eu me preocupo especialmente com a segunda questão.

A China precisa substituir o investimento imobiliário insustentável por maior demanda de consumo. Mas alguns relatos sugerem que autoridades chinesas mais graduadas continuam suspeitas em relação a gastos de consumo "supérfluos" e resistem à ideia de "dar poder para os indivíduos tomarem mais decisões a respeito de como gastar seu dinheiro".

E não é nada tranquilizador o fato de as autoridades chinesas estarem respondendo à possível crise pressionando os bancos para emprestar mais, basicamente continuando a política que levou a China à situação em que ela se encontra.

EXPOSIÇÃO. Portanto, a China poderá entrar em crise. Se entrar, como isso afetará os EUA? A resposta, até onde eu consigo perceber, é que a exposição dos americanos a uma possível crise chinesa é surpreendentemente pequena.

Quanto os EUA têm investido na China? O investimento direto é de US$ 215 bilhões. Investimentos em carteira – ações e obrigações –, pouco mais de US$ 300 bilhões. Então, estamos falando de um total de US$ 515 bilhões.

Este número pode parecer grande, mas, para uma economia enorme, não é. Considerem uma comparação. Neste momento, há muitas preocupações a respeito do setor imobiliário comercial dos EUA, especialmente em relação aos prédios de escritórios ? que provavelmente encaram uma redução permanente na demanda em virtude do aumento do trabalho remoto. Os prédios de escritórios dos EUA valem hoje US$ 2,6 trilhões, aproximadamente cinco vezes mais que o nosso investimento total na China.

Por que uma economia tão grande atraiu tão pouco investimento dos EUA? Basicamente, porque, dadas as arbitrariedades das políticas chinesas, muitos possíveis investidores temem a possibilidade de a China se tornar uma armadilha: você consegue entrar, mas não consegue sair.

Mas o que dizer da China enquanto mercado? A China é uma importante jogadora no comércio mundial, mas não compra muito dos EUA – apenas US$ 150 bilhões, em 2022, menos de 1% do nosso PIB. Portanto, uma crise não surtiria muito efeito direto na demanda por produtos americanos.

O efeito seria maior em países que vendem mais para a China, como Alemanha e Japão, e algo poderia ricochetear nos EUA por meio das vendas a esses países. Mas o efeito geral ainda seria pequeno.

DIFERENÇAS
Uma crise poderia até surtir um pequeno efeito positivo nos EUA, porque reduziria a demanda por matérias-primas, especialmente petróleo, o que reduziria a inflação. Nada disso significa que devamos aplaudir a possibilidade de uma recessão chinesa ou tripudiar sobre os problemas de outro país.

Mesmo que por razões puramente egoístas, devemos nos preocupar com o que o regime chinês poderá fazer para distrair a atenção de seus cidadãos dos problemas domésticos. Mas, em termos econômicos, parece que estamos diante de uma possível crise interna na China, não de um evento global em estilo 2008. 

TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSS


O espelho de OJESED e o cálice de cicuta - Dartagnan da Silva Zanela

 Li, gostei, resolvi transcrever, sem endossar necessariamente todos os argumentos, mas apreciando muito a maioria das afirmações do escritor, a quem não conheço, mas sei reconhecer as virtudes e qualidades de suas reflexões e escrita.

Paulo Roberto de Almeida

O ESPELHO DE OJESED E O CÁLICE DE CICUTA


por Dartagnan da Silva Zanela (*)


Sermos capazes de olhar para o nosso passado e sentirmos que fracassamos é um claro indicador de que não despirocamos de vez. Aliás, como certa feita havia sido dito pelo filósofo Leszek Kolakowski, quem nunca experimentou a sensação de ser um charlatão, no fundo, não passa de uma alma superficial, indigna de atenção.

 

Se nós nunca tivemos essa sensação, pode ter certeza de que há algo de muito errado conosco. Muito errado mesmo. Agora, se porventura, nós já sentimos nossa garganta ficar apertada por conta desse tipo de impressão, há um detalhe que merece nossa atenção. No caso, é a nossa inenarrável capacidade para justificar os nossos erros e fracassos, o nosso grande potencial para nos autoenganarmos.

 

Quando a nossa consciência pesa e nos acusa, mais do que depressa realizamos o movimento de nos colocarmos na defensiva, argumentando contra os apontamentos feitos por ela, justificando de mil e uma maneiras nossos erros diante dela. E, desta forma, sem nos darmos conta, acabamos por advogar contra nós mesmos.

 

Sim, eu sei, até as pedras sabem, que atualmente todo mundo bate no peito pra dizer o quanto se considera uma pessoa crítica, terrivelmente crítica, porém, se formos sinceros conosco mesmo, no prazo de duas cervejas iremos constatar que toda essa conversa de criticidade, patriotismo e tutti quanti, não passa de “bafo-de-boca”, como diria Paulo Francis.

 

“Bafo-de-boca” sim senhor, porque se nós nos consideramos críticos, mas não somos capazes de realizar uma franca e inclemente autocrítica, se não estamos abertos para ouvir as mais impiedosas e duras críticas, para vermos se aproveitamos algo do que nos foi apontado pelas línguas maldizentes, sinto em dizer, mas nós não somos críticos patavina nenhuma.

 

E não o somos não porque supostamente sejamos esquerdistas, direitistas ou o caramba a quatro, mas sim, porque não somos sinceros, não somos honestos com relação àquilo que fazemos e, muito menos, frente àquilo que dizemos acreditar.

 

Sim, é um Deus que nos acuda e Ele não vai acudir ninguém não. Na real, acho que Ele se diverte pra caramba com essas nossas firulas e dissimulações.

 

Sobre esse ponto, José Ortega y Gasset, de forma muito direta e clara, nos lembra do óbvio gritante, quando nos diz que o que define o sujeito não são suas palavras, mas sim, as suas ações. Na verdade, o Batman (Christian Bale) havia dito algo parecido para Rachel Dawes (Katie Holmes), em uma cena espetacular do filme “Batman Begins” (2005).

 

Enfim, não importa tanto qual seja a fonte desse dito. O que realmente interessa é que definitivamente somos aquilo que fazemos, não aquilo que dizemos ser, ou que imaginamos que somos. Não tem lesco-lesco.

 

Por exemplo: da mesma forma que um estudante que não estuda, não é um estudante, mas sim, outra coisa; pais que não amam e não educam os seus filhos, podem até ser genitores, mas não são pais que zelam pela integridade de sua família. Eles, também, são outra coisa.

 

Parêntese. Bem, verdade seja dita: é possível que uma pessoa de tanto fingir ser detentora de alguma virtude acabe, com o tempo, tornando-se portadora dela, mas, infelizmente, o que mais acontece nesse nosso triste país é vermos pessoas contentando-se apenas e tão somente com o fingimento. Fecha o parêntese.

 

Indo direto aos finalmente, todos nós cultivamos uma imagem a respeito de nós mesmos, imagem essa que gostamos de apresentar aos nossos semelhantes, sejam eles nossos conhecidos ou não. E, fazemos isso, porque, em alguma medida, acreditamos que essa imagem seria o retrato fidedigno de nós mesmos e, tal atitude, acaba por paralisar toda a dinâmica, todo o poder realizador da nossa alma.

 

Podemos dizer que, diante da autoimagem farsesca que fazemos de nós mesmos, ocorre conosco algo similar ao que acontece com as personagens das aventuras de Harry Potter, quando ficavam diante do “Espelho de OJESED” que, segundo a explicação dada por Dumbledore, nos mostra o mais profundo e desesperado desejo que habita em nosso coração.

 

Pois é. E é aí que a porca torce o rabo, e torce feio, porque o tal espelho, segundo as palavras de Dumbledore: “não nos dá nem o conhecimento nem a verdade. Já houveram homens que definharam diante dele, fascinados pelo que viram, ou enlouqueceram sem saber se o que o espelho mostrava era real ou sequer possível”.

 

Bem, se nossa alma estiver perfeitamente ordenada, o “Espelho de OJESED” não irá refletir nada além daquilo que nós somos. Agora, se nossa alma estiver desordenada – e ela sempre está, em alguma medida, desordenada - o bicho pega, porque o espelho irá nos mostrar tudo aquilo que gostaríamos de ser, mas que não o somos, paralisando-nos diante do reflexo apresentado, matando o que há de potencialmente mais elevado em nós.

 

E é mais ou menos desse jeito que acabamos vivendo quando sobrepomos uma autoimagem superficial à nossa consciência, confundindo autoconhecimento com autoproteção. É nisso que nos tornamos quando não experimentamos, de vez enquanto, a sensação de sermos um charlatão, porque é essa sensação que nos ajuda a lembrar que há muito mais entre o céu, a terra e em nosso coração, do que presume nossa vã disposição para nos autoenganar e, consequentemente, acabar vivendo uma vida que poderia ter sido, mas naufragou.


(*) professor, escrevinhador e bebedor de café. Mestre em Ciências Sociais Aplicadas. Autor de “A Bacia de Pilatos”, entre outros livros.

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terça-feira, 29 de agosto de 2023

Uma família de mascates ou de larápios? Bolsojoias, Micheques e outras coisas - Monica Gugliano (OESP)

 Uma família de mascates ou de larápios? (PRA)


Vêm aí novas e fortes emoções para quem acompanha os capítulos do seriado das joias do ex-presidente Jair Bolsonaro e de sua cônjuge Michelle. 

Monica Gugliano
O Estado de S. Paulo, 29/08/2023

    Até o fim do mês de setembro, o Tribunal de Contas da União (TCU) deve ter em mãos uma relação completa de todos os presentes que ele recebeu nas viagens em quatro anos de governo, e que até agora não foram declarados publicamente e se desconhece o paradeiro deles. 
    O levantamento está quase terminado e deverá trazer novas e contundentes provas do hábito presidencial de guardar para si mesmo objetos de alto valor, alguns dos quais acabaram sendo revendidos e recomprados em estranhíssimas transações levadas a cabo em Miami. E o TCU ainda desconhece o total, mas cresce a suposição de que há muitos mais relógios e “lembrancinhas” valiosas voando por aí. 
    É que, como se sabe, as comitivas que acompanhavam Bolsonaro também eram presenteadas. Certamente com menos brilhantes, mas não com grifes menos valorizadas, como Cartier e Piaget. 
    Até o final do mandato de Bolsonaro, apenas três ministros haviam devolvido seus mimos: Onyx Lorenzoni (que passou pela Casa Civil e pelo ministério do Trabalho); general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional – GSI) e o diplomata Carlos França, que foi ministro das Relações Exteriores. A devolução envolveu uma história peculiar. Na prática, segundo fontes ouvidas pelo Estadão, a ideia de entregar os relógios para a Comissão de Ética teria partido dos três ministros presenteados. 

    Mas, na verdade, também de acordo com assessores que participaram da operação, eles queriam que um diplomata do Ministério das Relações Exteriores carregasse em sua mala os objetos e os levasse para Brasília, pois não havia intenção de devolvê-los. O funcionário do Itamaraty, uma das carreiras mais tradicionais do serviço público brasileiro, achou que não era conveniente ser o portador da carga e se recusou a trazê-los. Já de volta ao Brasil, consultou, por sua própria conta e risco, a Comissão no Palácio do Planalto. Foi informado que ninguém estava autorizado a manter o relógio no pulso, devolveu o seu e avisou os outros três ministros. 
    Na semana passada, o ex-presidente anunciou, em tom de bravata, que buscaria as joias e relógios que estão em posse do governo federal porque lhe pertenciam. Segundo fontes que acompanham o caso, não há nada de novo em relação às joias e o que Bolsonaro estaria tentando fazer seria mobilizar seus seguidores. Esses mesmos interlocutores do Estadão observaram que tudo não passa de uma jogada política, talvez para criar contradições que lhe permitam levar todo processo para a primeira instância. 
    O problema é que, por mais que o ex-presidente queira reaver os presentes ou procure justificativas para isso, é de 2016 o decreto 4.344/2002 com a determinação para que, a exceção dos itens de natureza personalíssima ou de consumo próprio – como finas caixas de tâmaras que a comitiva bolsonarista trouxe de países árabes – sejam incorporados ao patrimônio da União. 
    Nessa época, os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff devolveram objetos que estavam com eles. Da mesma forma, o acórdão 443/2023, relatado pelo ministro Augusto Nardes, determinou ao ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro que, “nos termos do item 3, inciso, III, da Resolução 3, de 23 de novembro de 2000, da Comissão de Ética Pública, entregue os itens em seu poder oriundos dos presentes recebidos na visita da comitiva presidencial à Arábia Saudita e também as armas recebidas dos Emirados Árabes Unidos à Secretaria-Geral da Presidência da República no prazo de 5 (cinco) dias úteis, devendo ser juntado, de imediato, a este processo o correspondente comprovante da entrega”. 
    Como já se sabe, foi aí que a coisa complicou. Boa parte dos objetos já havia sido vendida em Miami numa operação que envolveu o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro César Cid – que está preso – e seu pai, o general de Exército na reserva, Mauro Lourena Cid. Coube ao advogado do ex-presidente Frederick Wassef – que conforme o Estadão acumula dívidas no total de R$ 60 mil – recomprar um dos relógios Rolex, pagando por ele quase R$ 300 mil. Ele ainda nem explicou direito a razão de tamanho altruísmo. 
    Pelo andar das investigações e a quantidade de “surpresinhas” que aparecem, a história das joias ainda está longe de acabar. 

https://www.estadao.com.br/politica/monica-gugliano/lista-de-presentes-preciosos-para-bolsonaro-e-michelle-e-maior-e-vem-surpresa-por-ai/

A cúpula do Brics e o projeto mirabolante de uma moeda comum - Paulo Roberto de Almeida (Crusoé)

Só achava – 0 artigo foi escrito antes da cúpula de Joanesburgo – que o Brasil e a Índia resistiriam um pouco mais ao projeto chinês de ampliação do Brics, que não serve aos dois países. O que houve com suas bravas diplomacias? Se renderam ao gigante chinês? 

1520. “A cúpula do Brics e o projeto mirabolante de uma moeda comum”, revista Crusoé (edição 270, 18/08/2023; link: https://crusoe.com.br/edicoes/277/a-cupula-do-brics-e-o-projeto-mirabolante-de-uma-moeda-comum/). Relação de Originais n. 4459. 


A cúpula do Brics e o projeto mirabolante de uma moeda comum

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com) 

 

O Brics – originalmente apenas Bric, como proposto pelo criador da sigla – é uma espécie de ornitorrinco dos grupos de coordenação e consulta entre países supostamente convergentes em termos de objetivos, metas, características e intenções, como podem ser outros grupos formais ou informais, como OCDE, G7, ou até o G20, que congrega grandes economias engajadas no debate sobre os rumos da economia mundial. Mas grupos que não servem apenas para debate, mas para objetivos, como OCDE, G7 e outros, possuem um mínimo de convergência de propósitos, capaz de capacitá-los a empreendimentos conjuntos. 

O ornitorrinco Bric-Brics é um animal estranho, com características emprestadas a diferentes espécies, sem que se saiba exatamente que nicho ele ocupa no ambiente animal ou na própria natureza, no caso, a comunidade internacional. Não existe nenhuma convergência natural entre seus cinco integrantes atuais, ou mesmo entre os quatro membros originais, a não ser justamente o fato de eles não pertencerem a um grupo com propósitos delimitados, claros e convergentes. A principal característica de seus membros é precisamente o fato de NÃO SEREM semelhantes, sequer similares, e de manterem políticas econômicas e políticas exteriores sensivelmente diferentes. A Rússia, durante certo tempo, foi acolhida numa espécie de puxadinho do G7, o G8, mas que existia para fins exclusivos de declarações políticas, ao passo que o G7 continuava mantendo suas reuniões regulares para fins de coordenação de políticas econômicas e financeiras, e também, em grande medida, políticas externas, como grandes democracias de mercado que sempre foram.

Ora, o Bric-Brics sempre foi formado por duas grandes autocracias, uma atualmente engajada numa cruel guerra de agressão contra um vizinho infeliz, uma outra ainda capaz de se afirmar socialista – ainda que seja um capitalismo com características chinesas –, e duas outras democracias de baixa qualidade, às quais veio se juntar uma terceira democracia de baixíssima qualidade, as três com um quadro interno marcado por muita pobreza, miséria mesmo, e graus extremos de desigualdades sociais, além de corrupção pervasiva. Essas divergências estruturais foram contornadas politicamente, como uma espécie de contraponto ao G7-OCDE e não é nenhuma surpresa que o grupo sequer possui algum acordo comercial operacional entre seus membros, apenas projetos ou propostas de cooperação nas mais diversas áreas, que rendem muitas viagens e diárias de diplomatas e tecnocratas dos cinco países. O padrão de votação na ONU também aparece como muito diferenciado, em função de interesses contrastantes nos planos regionais e internacional. 

No caso do Brasil, trata-se de uma democracia em construção que sempre manteve laços culturais, humanos, econômicos e políticos com as nações que fazem parte de seu substrato humano e civilizatório, fortemente marcado por traços ibéricos e europeus e, no século XX, pela intensa interface, em praticamente em todas as áreas, com os Estados Unidos. Mais recentemente, a partir de 2009, a China passou a ocupar o primeiro lugar, mas apenas no comércio exterior, sendo que o turnover total bilateral é mais do que o dobro da soma conjunta dos intercâmbios realizados com os dois maiores parceiros seguintes, os Estados Unidos e a UE. Mas essa relação comercial bilateral corresponde basicamente às vantagens comparativas de cada um dele, não a uma união de propósitos substantivos entre parceiros, que vá além das necessidades chinesas em commodities (que ela aliás importa de muitos outros parceiros) e das importações baratas em manufaturas por parte do Brasil, fortemente competitivas com ofertas alhures ou no próprio país. 

A diplomacia do Brasil não deveria, supostamente, ter qualquer interesse em juntar-se a projetos estatais que objetivam conformar uma ordem internacional alterna, ou seja, diferente desta à qual ele esteve integrado nos últimos dois séculos de vida independente, que é a do mundo ocidental das democracias de mercado, respeitadoras de direitos humanos e de valores culturais compatíveis com suas características de sociedade aberta e razoavelmente permissiva no plano político e cultural. Quais metas convergentes o Brasil poderia aspirar no plano da política mundial com duas autocracias que não possuem nenhuma afinidade com as liberdades democráticas e com a promoção dos direitos humanos, mas que elas, sim, visam construir um sistema mundial alternativo ao das democracias ocidentais?

Como maior país da América do Sul, economicamente e diplomaticamente, e com a capacidade potencial de liderar um movimento convergente com seus vizinhos na direção de um processo de integração continental, já partindo da base constituída há mais de 30 anos pelo Mercosul, o Brasil teria muito mais interesses em aprofundar sua preeminência política e diplomática num projeto desse tipo, do que em se lançar num agrupamento heteróclito, que se constitui bem mais num projeto contrário ao chamado “Ocidente hegemônico” do que em favor de um mundo já conhecido e bem definido. Na verdade, o Bric-Brics se deve mais ao oportunismo dos russos – pois que Putin se sentia incomodado, e muito diminuído, no G8 – e à megalomania do Lula, que sempre teve a pretensão de se apresentar como um líder de um fantasmagórico “Sul Global”, uma entidade não existente na prática, e apenas unificada artificialmente por constituir-se aritmeticamente a partir de países em desenvolvimento. 

Quanto ao projeto mirabolante de se “criar” uma moeda comum no Brics – ou no Mercosul, como foi aventado primeiramente – deve-se mais a um preconceito ideológico contra a preeminência do dólar em quase todas as transações (e reservas) internacionais, do que responde a um projeto tecnicamente fundamentado ou factível operacionalmente. A cúpula do Brics pode fazer uma recomendação piegas quanto ao “uso de moedas nacionais” no comércio recíproco, o que poucos agentes de mercado devem acatar (dada a completa inexistência de mecanismos de coordenação monetário ou cambial entre os membros). O Banco dos Brics – NDB – é uma clássica instituição de fomento, totalmente incapacitada, até estatutariamente, para cuidar de um processo que se se arrastou durante anos no esquema europeu, e que ainda assim não compreende todos os membros do esquema comunitário.

Por que, então, esse preconceito contra o dólar, moeda largamente utilizada em enorme proporção no comércio internacional (e até em transações internas) em vasta maioria dos países? Apenas por pruridos anti-imperialistas e antiamericanos? Os grandes comerciantes globais não vão trocar o dólar por uma moeda ainda não testada na prática. Nem o Euro, aliás, teoricamente de maior consistência (pois que administrado num empreendimento supranacional, em lugar de depender do arbítrio de um único país), conseguiu desbancar o dólar de sua preeminência mundial e arrogância quase unilateral. Provavelmente se tentará criar um mecanismo de comércio compensado sem o uso do dólar, um recuo de quase 80 anos em relação ao sistema multilateral de pagamentos criado em Bretton Woods.

O outro objeto da cúpula do Brics de Joanesburgo, este mais sério, seria a ampliação do bloco, um projeto marcadamente chinês – e agora desesperadamente russo, ou de Putin –, com o objetivo de constituir uma espécie de anti-G7, ou anti-OCDE. Uma solução intermediária, certamente não do agrado do Brasil ou da Índia, será encontrada, no sentido de se encontrar uma fórmula de incorporar novos “associados” ao grupo, atualmente bem diferente da “carteira de investimentos prometedora” concebida pelo seu idealizador original.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4459: 17 agosto 2023, 3 p.

 


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