domingo, 14 de janeiro de 2024

Do Piauí, o mais novo diplomata estudava 12horas por dia e se inspira em Alberto da Costa e Silva - Yala Sena (Cidade Verde)

Do Piauí, o mais novo diplomata estudava 12horas por dia e se inspira em Alberto da Costa e Silva

Fotos: Renato Andrade/Cidadeverde.com

Por Yala Sena

Filho de professora, o mais novo diplomata aprovado para o Itamaraty, Luis Marcelo Gomes Mendes Leite, de 22 anos, atribui sua vitória a disciplina, foco e estudos. 

Segundo ele, a rotina de leituras e preparação chegava a mais de 12 horas por dia e disse que uma das suas inspirações é o diplomada, poeta, ensaísta e historiador Alberto da Costa e Silva que morreu em novembro do ano passado de causas naturais aos 92 anos. Alberto é filho do poeta Da Costa de Silva. 

Luís Marcelo conta que foi aprovado no concurso para ser diplomata aos 19 anos e realizou as três fases, que foram bastantes criteriosas, chegando a escrever cerca de 24 textos em línguas inglês, português, espanhol e francês. 

“A emoção que sentir foi de alívio (risos). Eu vivi uma rotina muito difícil, estudava em média 12 horas por dia. Fiquei feliz, mas aliviado”, disse sorrindo acrescentando. “Abri mão de quase tudo. Tudo que fazia em minha vida era pautado em como impactar para prova. Saia poucos com meus amigos, passei muito tempo sem rede social, abdiquei de vida noturna e se saísse era coisas leves. Tinha uma rotina de acordar 5h da manhã, ia para a academia e começava a estudar e só parava à noite”. 

Luís Marcelo informou que a posse está prevista para acontecer em fevereiro e depois irá fazer um curso de formação em Brasília.

O diplomata é um servidor que trabalha para promover as relações entre o Brasil e outros países. O salário inicial é de R$ 20.900.  Ele disse que Berlim é um posto diplomático que tem simpatia. 

“O que mais me ajudou foi a oportunidade que o Dom Barreto me deu como monitor e posteriormente me efetivaram como professor de História Mundial das turmas de pré-vestibular e é um assunto que cai na minha prova e isso era positivo já que comentava com os alunos e revisava”. 

Conselho para os interessados: “comece logo”

O piauiense deu conselho para as pessoas que desejam seguir a carreira de diplomata. Segundo ele, é preciso ter foco, estudar bastante e o mais cedo possível buscar informações. 

“Uma coisa que queria era alguém ter me dito antes: comece logo. Ai! a pessoa diz:’ ah! mas eu não sei como?’: comece, vai atrás, busque informações, tente saber o que a prova exige, como é a rotina de uma pessoa que se prepara a sério para isso,  ter um foco e é importante buscar apoio psicológico e apoio da família. A gente até brinca, que primeiro, é preciso passar na prova. Eu era muito pragmático, tudo que fazia eu imaginava o que eu iria ganhar em termo de preparação de melhora de nota para a prova”.  Durante a entrevista, Luís Marcelo estava acompanhado da mãe Márcia Valéria Gomes Mendes Leite, do pai Marcelo Roger Leite e da irmã Isadora Mendes Leite. 

“Está sendo surpreendente. Eu não tenho palavras para descrever o sentimento de felicidade que ele alcançou. Ele é um menino dedicado e disciplinado. Tudo foi ele. Me sinto muito orgulhosa de ser mãe dele”, disse a mãe Maria Valéria. Ela disse que não está ainda preparada para ver o filho pelo mundo.

 

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Foto arquivo pessoal 

Matéria original 

O mais novo diplomata do Brasil é filho do sol, do Equador. Luis Marcelo Gomes Mendes Leite, de 22 anos, realizou um feito histórico e é o mais novo piauiense a entrar no serviço diplomático brasileiro. O estado tem se destacado na formação de profissionais precoces, já que em 2013, outro piauiense, Pedro Felipe de Oliveira Santos, ganhou destaque nacional por ser o juiz federal mais novo do Brasil ao passar no concurso aos 25 anos. 

Luis Marcelo foi aprovado na terceira e última fase do Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD), processo seletivo para ingresso na carreira de diplomata. Ele foi aluno e monitor do Instituto Dom Barreto. 

O diplomata é um servidor público que trabalha para promover as relações entre o Brasil e outros países. Trata-se de um profissional de carreira lotado no Ministério das Relações Exteriores (MRE), também conhecido como Itamaraty.

Seu local de trabalho pode variar ao longo de sua trajetória, sendo possível exercer atividades dentro ou fora do Brasil. 

Os pré-requisitos para ser um diplomata são: ser brasileiro nato, possuir uma graduação no ensino superior (em qualquer curso) e passa no concurso. Luis é formado em comércio exterior. 

A aprovação do piauiense viralizou na  rede social com muitos comentários elogiando o feito dele.

Os internautas chamam o piauiense de “gênio”, “gigante”, “orgulho demais” e “Meus parabéns!!! Orgulho de ter um piauiense no Itamaraty, ainda mais sendo o mais novo do país!”

O governador Rafael Fonteles também comemorou a aprovação do piauiense. 

“Parabéns ao piauiense Luis Marcelo Gomes Mendes Leite, aprovado na 3ª fase do Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata, aos 22 anos de idade, se tornando a pessoa mais nova no serviço diplomático brasileiro! Que essa seja uma trajetória de muito sucesso, Luis!

sábado, 13 de janeiro de 2024

Carta do ex-chanceler Celso Lafer ao Chanceler Mauro Vieira (11/01/2024)

 https://www.academia.edu/113412415/Carta_do_ex_chanceler_Celso_Lafer_ao_Chanceler_Mauro_Vieira_11_01_2024_

Carta do ex-chanceler Celso Lafer ao Chanceler Mauro Vieira (11/01/2024)

2024, Carta de Celso Lafer ao chanceler Mauro Vieira
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CELSO LAFER Professor Emérito Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo Exmo. Sr. Embaixador Mauro Vieira DD Ministro das Relações Externas Palácio do Itamaraty - Brasília Caro Mauro Tomo a liberdade, pelas razões abaixo expostas, de tecer considerações sobre a iniciativa da Africa do Sul de submeter à CI] uma imputação de genocídio a Israel - e do apoio brasileiro a tal iniciativa. (...)




Amazon.com: Author Central - Books by Paulo Roberto de Almeida

Um recurso que eu desconhecia na Amazon: tem um ou dois livros que devem ser de homônimos: 

https://author.amazon.com/claim/join?query=Paulo+Roberto+de+Almeida%2C+Brazil

 



Viés na diplomacia: Brasil erra ao deixar equidistância na guerra - Opinião da Folha de S. Paulo

 Viés na diplomacia Brasil erra ao deixar equidistância na guerra; saída de Netanyahu seria melhor Relatório recente da Human Rights Watch aponta a oscilação de líderes mundiais quando se trata de condenar violações dos direitos humanos


Eles tendem a fazer vista grossa quando os perpetradores são governos aliados e a carregar nas tintas contra adversários. Um dos criticados pela organização global, o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acaba de oferecer novo subsídio para a tese. Lula apoiou a denúncia da África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça da ONU por alegado genocídio. O documento em que o endosso foi anunciado não explica por que o Brasil considera estar havendo crime com essa caracterização na Faixa de Gaza. Genocídio é a ação deliberada para exterminar um grupo. Genocidas foram os nazistas contra judeus e outras minorias na 2ª Guerra Mundial, o Império Otomano contra armênios em 1915 e 1916 e hutus contra tutsis em Ruanda em 1994. A reação de Israel ao massacre, estupro e sequestro de civis cometido por terroristas do Hamas merece críticas, mas não justifica o abandono da equidistância tradicionalmente abraçada pelo Brasil. Guerrilheiros escondem-se por trás de alvos urbanos e nos tentaculares túneis do território. 

O exercício do direito de defesa por Israel nesse cenário causaria necessariamente danos a não combatentes. Uma avaliação isenta da contraofensiva israelense deveria dar-se à luz das leis de guerra e do objetivo da operação de derrotar o Hamas. Israel bloqueou a chegada de ajuda humanitária nos primeiros dias do contra-ataque. Agora, três meses depois, o grau e a extensão da destruição provocada pelos bombardeios e pela invasão israelense indicam que é hora de cessar fogo. Não é à toa que a opinião pública internacional, de início solidária à reação israelense, vai se tornando cada vez mais refratária à continuidade da operação militar. O premiê Binyamin Netanyahu talvez prefira adiar a decisão porque sabe que terá de prestar contas à sociedade israelense uma vez concluída a campanha militar. Além de ser o pivô da radicalização religiosa da política em seu país, ele chefia o gabinete humilhado pela penetração desimpedida de milhares de terroristas em Israel. 

 A condução da fase da política, que inevitavelmente sucederá a da guerra, será melhor sem Netanyahu no governo. Da mesma forma, os árabes terão de produzir uma alternativa de governança ao Hamas se quiserem construir uma saída promissora para a estabilização. A comunidade internacional e o Brasil ajudarão nessa transição se deixarem de lado a parcialidade e os termos e instrumentos impróprios para lidar com o problema. 


Opinião de um diplomata aposentado: 

Flavio Perri
Trata-se da falta de conhecimento do Presidente impondo posições sem fundamento seja no Direito Internacional seja em nossa história diplomática, em especial no Oriente Médio. Uma simples informação sobre a natureza jurídica da CIJ indicaria a Sua Excelência que os países NÃO são chamados a manifestar suas posições em causas a serem julgadas com base no Direito Internacional por 17 juízes independentes, eleitos para um mandato de 9 anos. O Presidente atirou sem conhecer o alvo, no vazio de sua influência, apenas para no final (ou desde logo) desgastar-se e desgastar o prestígio internacional do país que pretende governar.

Israel diz que Lula ignora definição de genocídio ao apoiar acusação em tribunal da ONU - Estadão

 Israel diz que Lula ignora definição de genocídio ao apoiar acusação em tribunal da ONU 

Processo foi movido por iniciativa da África do Sul e começou a ser julgado em Haia, na Holanda 


 BRASÍLIA - A Embaixada de Israel em Brasília rebateu a decisão do governo Luiz Inácio Lula da Silva de apoiar a acusação de “genocídio” apresentada contra o país na Corte Internacional de Justiça (CIJ), um tribunal das Nações Unidas. O processo foi movido por iniciativa da África do Sul e começou a ser julgado nesta quinta-feira, dia 11, em Haia, na Holanda. A embaixada israelense disse, em nota enviada ao Estadão, que o presidente Lula deveria levar em consideração as definições de genocídio e a “intenção” ou não de matar deliberadamente civis que não estavam envolvidos na guerra contra o grupo terrorista Hamas. 

 O governo do premiê israelense Benjamin Netanyahu declarou guerra e anunciou o objetivo de aniquilar o Hamas em reação aos ataques terroristas sem precedentes cometidos pela brigada de radicais palestinos ligados ao grupo, em 7 de outubro do ano passado. Cerca de 1,2 mil pessoas foram mortas no território israelense pelo Hamas. Os terroristas fizeram cerca de 250 reféns, dos quais 110 foram libertados, depois de terem sido levados para cativeiros em Gaza, escondidos em bunkers e uma rede de túneis entre instalações civis, próximos a escolas, hospitais, comércio e residências. Em 95 dias de guerra, 23.357 pessoas morreram em Gaza, 70% delas mulheres e crianças. Há 59.410 feridos e 1,9 milhão de pessoas precisaram se deslocar forçadamende, fugindo do confronto. 

Os dados são repostados pelas Nações Unidas e citados pelo governo brasileiro ao justificar a decisão de Lula. No entanto, carecem de verificação independente, no terreno, e foram reportados pelo Ministério da Saúde e pelo Escritório de Mídia de Gaza, ambos controlados pelo Hamas. Crimes do Hamas Tel-Aviv argumenta que respeita o direito internacional e que o Palácio do Planalto deveria considerar também que o Hamas ameaça realizar novos ataques em massa, como o de 7 de outubro, além de pregar o extermínio de judeus. “Segundo a definição da ONU para o termo genocídio, definições que o Brasil aprecia e trabalha à luz, o principal é a intenção. 

Israel não tem intenção de matar palestinos não envolvidos e evita isso tanto quanto possível, apesar das dificuldades apresentadas pelo Hamas na sua forma de operar, usando cidadãos não envolvidos como escudos humanos”, afirmou a embaixada israelense. “O Hamas, no entanto, declarou abertamente as suas intenções genocidas. A sua carta de fundação apela ao assassinato de judeus e os seus líderes declaram abertamente que o seu objetivo é perpetrar as atrocidades de 7 de Outubro ‘repetidamente’. Ao tomar uma decisão sobre o pedido feito ao presidente Lula, é de excepcional importância que o Brasil leve esses fatos em consideração.” Relação abalada Desde o ano passado, Lula vinha classificando verbalmente, reiteradas vezes, como “genocídio” a operação militar das Forças de Defesa de Israel, seja a incursão terrestre em Gaza ou os bombardeios aéreos. 

As declarações geraram desgaste diplomático com Israel e com outros parceiros do Brasil no Ocidente, como os Estados Unidos. O presidente passou a ser criticado também em algumas das principais democracias da Europa. O governo Lula irritou-se com uma reunião do embaixador israelense em Brasília, Daniel Zonshine, com a oposição e seu principal líder político, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Também reclamou nos bastidores da demora de Israel em autorizar a saída de grupos de brasileiros e seus familiares de Gaza. 

 Ao receber o primeiro grupo de 32 brasileiros repatriados de Gaza, Lula foi além e afirmou que o governo israelense também respondia ao Hamas com atos de “terrorismo”. Passo além Agora, Lula deu um passo além da tradicional busca por uma posição de equilíbrio do Brasil no conflito entre judeus e palestinos e atendeu ao pleito da diplomacia dos territórios palestinos por apoio à iniciativa sul-africana. Em nota, o governo brasileiro anunciou nesta quarta-feira, dia 10, que respaldava a denúncia contra Israel na Corte Internacional. 

 A denúncia recebeu apoio de países como a Bolívia, Malásia, Turquia, Jordânia, Maldivas, Namíbia, Paquistão, Colômbia, a Liga Árabe e a Organização para a Cooperação Islâmica, bloco de 57 países que conta com Arábia Saudita e Irã. “Israel rejeita categoricamente a difamação da África do Sul, que acusou Israel de cometer ‘genocídio’ em Gaza no seu processo na Corte Internacional de Justiça (CIJ) em Haia. Israel está empenhado e opera de acordo com o direito internacional e dirige as suas operações militares em Gaza exclusivamente contra o Hamas e outras organizações terroristas. 

Tanto em palavras como em atos, Israel deixou claro que os civis de Gaza não são seus inimigos”, afirmou a embaixada israelense. A Confederação Israelita do Brasil (Conib) condenou o apoio brasileiro ao que chamou de ação “cínica e perversa, que visa impedir Israel de se defender dos seus inimigos genocidas”. A nota afirma que a decisão “diverge da posição de equilíbrio e moderação da política externa brasileira”. O texto segue dizendo que a África do Sul “inverte a realidade” e lembra que o conflitou foi desencadeado pelo ataque do Hamas. 

 Passo além Agora, Lula deu um passo além da tradicional busca por uma posição de equilíbrio do Brasil no conflito entre judeus e palestinos e atendeu ao pleito da diplomacia dos territórios palestinos por apoio à iniciativa sul-africana. Em nota, o governo brasileiro anunciou nesta quarta-feira, dia 10, que respaldava a denúncia contra Israel na Corte Internacional. A denúncia recebeu apoio de países como a Bolívia, Malásia, Turquia, Jordânia, Maldivas, Namíbia, Paquistão, Colômbia, a Liga Árabe e a Organização para a Cooperação Islâmica, bloco de 57 países que conta com Arábia Saudita e Irã. “Israel rejeita categoricamente a difamação da África do Sul, que acusou Israel de cometer ‘genocídio’ em Gaza no seu processo na Corte Internacional de Justiça (CIJ) em Haia. Israel está empenhado e opera de acordo com o direito internacional e dirige as suas operações militares em Gaza exclusivamente contra o Hamas e outras organizações terroristas. 

Tanto em palavras como em atos, Israel deixou claro que os civis de Gaza não são seus inimigos”, afirmou a embaixada israelense. A Confederação Israelita do Brasil (Conib) condenou o apoio brasileiro ao que chamou de ação “cínica e perversa, que visa impedir Israel de se defender dos seus inimigos genocidas”. A nota afirma que a decisão “diverge da posição de equilíbrio e moderação da política externa brasileira”. O texto segue dizendo que a África do Sul “inverte a realidade” e lembra que o conflitou foi desencadeado pelo ataque do Hamas. 

Apoio de Lula à investigação de Israel em Haia diverge de tradição brasileira - Estadão

  Apoio de Lula à investigação de Israel em Haia diverge de tradição brasileira, dizem analistas Respaldo do presidente reforça visão do petista sobre o conflito e pressão por cessar-fogo na Faixa de Gaza  


Israel enfrentou nesta quinta-feira, 11, o início do que deve ser um longo processo: a ação por genocídio na Corte Internacional de Justiça, que foi movida pela África do Sul e que recebeu apoio do Brasil. A decisão do governo Luiz Inácio Lula da Silva, duramente criticada pela comunidade judaica, se afasta da posição tradicional da diplomacia brasileira no conflito árabe-israelense, disseram analistas ouvidos pelo Estadão. 

 O respaldo à acusação sul-africana também reforça a visão de Lula sobre a guerra, que já provocou críticas da comunidade judaica. Analistas ponderam ainda que o apoio serve também para ampliar a pressão por um cessar-fogo, defendido pelo Brasil desde o início do conflito. Israel rejeita um cessar-fogo no momento e diz que uma trégua ajudaria o Hamas, que, segundo Tel-Aviv, pretende realizar novos ataques contra o país. Israel diz também que o objetivo da ofensiva é a destruição completa do Hamas. “Me parece que o governo está procurando marcar uma posição que não é muito tradicional da diplomacia brasileira com essa decisão”, afirma o professor de Relações Internacionais da ESPM Leonardo Trevisan. “Afasta o Brasil da condição de um interlocutor válido para as duas partes”, acrescenta. 

 A divergência entre o apoio ao processo movido pela África do Sul e a tradição de “equilíbrio e moderação da política externa brasileira” foi citada também pela Confederação Israelita do Brasil (Conib), que emitiu uma dura nota de condenação ao apoio logo após o anúncio do Itamaraty. O texto chamava a ação sul-africana de “cínica e perversa”, alegando que o objetivo seria “impedir Israel de se defender dos seus inimigos genocidas”. A acusação toca em um ponto extremante sensível para Israel. Isso porque o termo genocídio foi cunhado pela primeira para descrever o Holocausto - um trauma que está na raiz do apoio internacional à criação do próprio Estado israelense. Tel-Aviv tem dito que acusação sul-africana deturpa o sentido de genocídio já que esse é um crime que prevê a intenção de destruir, total ou parcialmente, um grupo.

 O argumento é de que o Hamas seria o genocida por pregar em seu estatuto de fundação a destruição de Israel, enquanto as suas tropas estariam se esforçando para conter o impacto sobre os civis em Gaza. Segundo a definição da ONU para o termo genocídio, que o Brasil aprecia e trabalha à luz, o principal é a intenção. Israel não tem intenção de matar palestinos não envolvidos e evita isso tanto quanto possível”, disse a embaixada de Israel no Brasil acrescentando que o Hamas usa civis como “escudos humanos”. O texto termina dizendo que o Brasil deveria “levar esses fatos em consideração” ao decidir apoiar o processo movido pela África do Sul. 

 O diplomata e ex-embaixador Rubens Barbosa, no entanto, avalia que o apoio do governo brasileiro foi “coerente” com as suas posições públicas. Embora tenha condenado o ataque terrorista do Hamas, Lula já chamou a resposta israelense de “insana” e falou em genocídio e terrorismo ao se referir à guerra me Gaza. “Na nota do Itamaraty fala-se da desproporcionalidade do ataque e da crise humanitária com o corte da energia, de alimentos e medicamentos”, afirma Barbosa. “É importante lembrar que o pedido da África do Sul apoiado pelo Brasil não discute o mérito da questão, mas pede apenas medidas preventivas para limitar a crise humanitária (como cessar fogo)”. A resposta israelense ao ataque terrorista do Hamas deixou mais de 23 mil mortos em Gaza, segundo o ministério da Saúde local que é controlado pelo Hamas. 

O número não pode ser verificado por fontes independentes, mas elevou a pressão internacional para que Israel reduzisse a intensidade dos bombardeios no enclave palestino. Essa pressão veio inclusive dos Estados Unidos. O principal aliado de Israel afirma que a acusação por genocídio é “infundada”, mas já expressou publicamente a preocupação com o drama humanitário na Faixa de Gaza. Mais de 80% dos habitantes do enclave foram descolados pelo conflito, segundo levantamento da ONU. Muitos, vivem em abrigos improvisados, onde as doenças e a fome também são ameaça em meio à guerra, alertam organizações humanitárias. Nesse sentido, tanto a ação da África do Sul como o apoio do Brasil podem ser entendidos como uma forma de pressão sobre Israel por uma redução dos bombardeios. 

As audiências públicas que ocorrem esta semana discutem no primeiro momento o pedido de Pretória por uma medida provisória que ordene a interrupção dos bombardeios em Gaza. Só depois, a Corte Internacional de Justiça deve entrar no mérito da acusação por genocídio, discussão que deve se arrastar por anos. “Eu vejo a atitude brasileira mais como gesto político”, resume o diplomata e ex-embaixador Rubens Ricupero. “Se compreende que o Brasil tenha decidido pesar mais porque a verdade é que, até agora, as tentativas dos americanos para persuadir Israel a moderar em relação à morte de civis não deram resultado. Então se compreende que haja um aumento da pressão internacional. Faço uma interpretação mais política que jurídica”, explica. Uma ordem preliminar da Corte seria de cumprimento obrigatório, pelo menos, em tese. 

No passado, tanto Israel como a própria África do Sul já ignoraram decisões do tribunal, que não dispõe de mecanismos de coerção ou punição para os Estados. Ainda assim, analistas afirmam que uma decisão teria o peso para pressionar Israel a rever ações em Gaza. “Se o tribunal toma uma decisão, como se espera, para que Israel interrompa operações, o peso político é muito alto”, afirma Ricupero. “A intenção é aumentar a pressão sobre Israel para que algum cessar-fogo seja alcançado ou que pelo menos haja uma redução de bombardeios”, corrobora Trevisan. “É preciso observar que Israel está resistindo à pressão norte-americana nesse sentido”, reforça. Apoio internacional a ação sul-africana Além do Brasil, outros governos sul-americanos de esquerda também subscreveram a ação. É o caso, por exemplo, de Colômbia, Bolívia e Venezuela. 

Bogotá ameaçou romper os laços com Israel diante da guerra e La Paz efetivamente rompeu, assim como já havia feito Caracas anos antes. O apoio também veio de países como Turquia e Jordânia, próximos à causa palestina. Na Europa, a vice-primeira-ministra da Bélgica, Petra De Sutter, defendeu que o país se tornasse o primeiro da União Europeia a dar apoio ao caso. “A Bélgica não pode ficar parada a assistir ao imenso sofrimento humano em Gaza. Devemos diante da ameaça de genocídio”, disse em publicação no X (antigo Twitter). “Quero que a Bélgica tome medidas na Corte Internacional de Justiça, seguindo a liderança da África do Sul. Vou propor isso ao governo”, disse ela. Pelo menos até agora, no entanto, essa não é a posição oficial de Bruxelas. 

 Audiência na Corte internacional de Justiça Nesta quinta-feira, o primeiro dia de audiências, a África do Sul destacou o número de vítimas na guerra em Gaza e as falas de autoridades israelenses que, segundo a acusação de Petrória, provariam a intensão necessária para caracterizar o crime de genocídio. O advogado sul-africano Tembeka Ngcukaitobi argumentou que o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, usou referências bíblicas violentas para desumanizar os palestinos. Ngcukaitobi cita também frases do ministro da Defesa, Yoav Gallant, que se referiu aos palestinos como ‘animais humanos’. 

De acordo com o advogado, a retórica israelense normaliza o suposto genocídio. Israel nega categoricamente às acusações e acusou a África do Sul de atuar como “braço jurídico” do Hamas referindo-se aos advogados sul-africanos como “representantes” do grupo terrorista no Tribunal. Amanhã, Tel-Aviv terá a sua argumentação ouvida pela Corte Internacional de Justiça.  


Sobre determinadas ações impensadas na frente externa - Paulo Roberto de Almeida

 Sobre determinadas ações impensadas na frente externa

Paulo Roberto de Almeida
Algumas pessoas não inteiradas sobre os procedimentos formais de ação diplomática indagam se o Itamaraty pode desobedecer a uma "ordem legal" do Presidente. Não é assim.

Em qualquer questão posta na agenda internacional que exige, requer ou sugere uma tomada de posição do Brasil, a prática tradicional do Itamaraty é a seguinte: faz-se uma "informação ao PR", com a devida fundamentação jurídica, e se sugere uma determinada linha de ação, uma vez que o PR não é especialista e não é obrigado a saber de tudo (tratados, quadro jurídico, tradição da diplomacia brasileira, memória histórica, etc.).
O Itamaraty sempre agiu assim.
Agora o que parece vigorar é muita improvisação política presidencial, que não é necessariamente legal, pois ignora as implicações profundas da questão: essa é a pior forma possível de política externa, e a diplomacia presidencial exagerada, o personalismo extremo, podem levar a erros monumentais que diminuem a credibilidade da diplomacia brasileira.
Aparentemente, os chefes do Itamaraty têm medo de instruir o PR sobre a correta postura a ser assumida pelo Brasil.
Hierarquia e disciplina não podem representar submissão à ignorância ou burrice.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 13/01/2024

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