quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Relatório de Atividades como Diretor do IPRI de 2016 a 2018 - Paulo Roberto de Almeida

 No final de 2018, após o anúncio do resultado das eleições presidenciais e da escolha do novo chanceler designado pelo futuro chefe de Estado, eu já sabia que seria demitido de meu cargo de Diretor do IPRI do Itamaraty na primeira oportunidade em 2019, preparei um relatório detalhado de todas as atividades realizadas sob minha coordenação entre meados de 2016 e o final de 2018.

Nele eu agradecia em primeiro lugar a meus colaboradores no IPRI, em primeiro lugar o Conselheiro Marco Túlio Scarpelli Cabral, encarregado da coordenação, depois o Ministro Antonio Mesplé, que mesmo não lotado formalmente na Funag, colaborou intensamente em todos os eventos e publicações realizados naquele período.

Eis a ficha do relatório:

3383. “Relatório de Atividades como Diretor do IPRI de 2016 a 2018”, Brasília, 24 dezembro 2018, 27 p. Organizado segundo o modelo próprio, usando dados do modelo adotado no IPRI, eliminando alguns eventos, incluindo outros. Total de eventos: 2016=38; 2017=74; 2018=102; total=214. Disponibilizado na plataforma Research Gate (DOI: 10.13140/RG.2.2.11298.89288; link: https://www.researchgate.net/publication/329905640_Relatorio_de_Atividades_Gestao_do_diretor_do_IPRI_Paulo_Roberto_de_Almeida) e em Academia.edu (link: https://www.academia.edu/s/e66d6c1639/relatorio-do-ipri-diretor-paulo-roberto-de-almeida-2016-2018); anunciado no blog Diplomatizzando (25/12/2018; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/12/ipri-meu-relatorio-de-atividades-2016.html).

Eis a introdução: 

INSTITUTO DE PESQUISA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

http://funag.gov.br/ipri/

Relatório de Atividades

Gestão do diretor Paulo Roberto de Almeida

Coordenador de estudos e pesquisas: Marco Tulio Scarpelli Cabral

3 de agosto de 2016 a 19 de dezembro de 2018


Índice:

 

1. Introdução e sumário das atividades pelo diretor do IPRI 

2. Apresentação do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais – IPRI 

3. Atividades em 2016  

     (A) Diálogos Internacionais; (B) Relações Internacionais em Pauta; (C) Outros eventos

4. Atividades em 2017 

(A) Percursos Diplomáticos; (B) Diálogos Internacionais; (C) Outros eventos

5. Atividades em 2018 

     (A) Percursos Diplomáticos; (B) Diálogos Internacionais; (C) Outros eventos

6. Publicações do IPRI e colaboração a publicações da Funag 

7. Participação do diretor do IPRI em eventos externos, de agosto de 2016 a dezembro de 2018

    Totalização dos eventos  

    Anexo: gráficos selecionados sobre os eventos, inscrições e comparecimento   

 

Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais: página institucional:

http://www.funag.gov.br/ipri/index.php/o-ipri

1. Introdução e sumário das atividades pelo diretor do IPRI

            Minha gestão no IPRI teve início formal em agosto de 2016, a despeito de alguma colaboração informal desde o início desse ano. Cabe registrar, antes de tudo, que o IPRI não possui personalidade jurídica, não detém qualquer autonomia operacional, e não possui orçamento próprio, dependendo para todas as suas atividades do apoio e do provimento de recursos da Funag. Foi minha invariável e constante orientação, mantida ao longo dos últimos dois anos e meio, realizar projetos e eventos ao menor custo possível, se possível sem qualquer custo para a Funag, de forma a poder ampliar o volume e a diversidade de atividades realizadas ao longo do período. Deve-se reconhecer, especialmente, que, ao comparar o relatório das atividades em cada período com os projetos listados ao início de cada ano, o resultado é nitidamente superior ao projetado inicialmente. Ao final deste relatório são apresentados alguns gráficos relativos ao desempenho do IPRI, em volume não necessariamente concordante com sua repartição anual nas primeiras seções deste documento.

Nos cinco meses restantes de 2016, o IPRI realizou nove eventos sob o formato de “Diálogos Internacionais”, sete novos eventos na série “Relações Internacionais em Pauta” (na continuidade de iniciativa criada anteriormente, mas suspensa a partir de 2017, devido a problemas de custos), ademais de atividades diversas, de interesse da Funag. No primeiro semestre do ano, registro a organização de um seminário, de uma exposição e de um livro, comemorativos dos 200 anos de nascimento do patrono da historiografia brasileira, Francisco Adolfo de Varnhagen, e feitos em caráter voluntário, sem qualquer vínculo formal com o Instituto.

            Em 2017, o IPRI organizou seis eventos na série “Percursos Diplomáticos”, em cooperação com o Instituto Rio Branco, 24 eventos da série “Diálogos Internacionais”, 13 seminários e encontros de natureza acadêmica no próprio Itamaraty, não considerando aqui eventos externos, dos quais participei como o diretor do IPRI ou a título individual. No decorrer do ano organizei pessoalmente ou colaborei com um livro sobre Roberto Campos (publicado externamente), de uma antologia de textos de Oswaldo Aranha e de várias outras publicações, inclusive uma sobre o embaixador Souza Dantas. 

            Em 2018, o IPRI organizou oito eventos na série “Percursos Diplomáticos”, em cooperação com o Instituto Rio Branco; 56 eventos da série “Diálogos Internacionais”, em diferentes formatos, sendo alguns de natureza reservada, dada a sensibilidade dos temas tratados. Registre-se, ademais, cerca de onze seminários e outros encontros de natureza acadêmica no próprio Itamaraty, embora alguns eventos externos ao Itamaraty, no Brasil ou no exterior, possam ser enquadrados na categoria institucional, mais do que convites a título individual. 

            Na área de publicações, o IPRI deu continuidade à edição da revista semestral do IPRI, os Cadernos de Política Exterior, bem como prestou sua colaboração no caso de diversas obras editadas pela Funag, quando não elaborou inteiramente por sua iniciativa obras de referência para o campo das relações internacionais, da política externa e da história diplomática brasileira, a exemplo da coletânea em dois volumes de textos de Oswaldo Aranha (2017) e obra similar de Celso Lafer (2018).

            Nos dois anos e meio de minha gestão, em minha qualidade institucional como diretor do IPRI, ou na condição de acadêmico, fui convidado e participei de diferentes atividades externas, sob a forma de palestras, mesas-redondas, seminários ou aulas magnas. Em 2016, foram 4 eventos externos ao Itamaraty, em 2017, 17, no Brasil ou no exterior, em diferentes formatos, aos quais podem ser agregados, em 2018, outros 23 eventos externos ao Itamaraty, no Brasil ou no exterior (em Portugal e no Marrocos). Nem sempre é possível distinguir a motivação dos convites recebidos, se pela direção do IPRI ou pela obra acadêmica conhecida nos meios especializados.

O IPRI organizou ou participou diretamente de diversas outras obras publicadas pela Funag, assim como tem no seu pipeline a 3a edição, ampliada (com acréscimo de seis novos diplomatas intelectuais), da obra publicada originalmente em 2001 O Itamaraty na Cultura Brasileira (atualmente em preparação, para publicação em 2019). Os trabalhos realizados, de todos os tipos, à exclusão da participação externa em eventos de natureza tipicamente acadêmica, não poderiam ter sido conduzidos de maneira satisfatória sem a colaboração inestimável do Coordenador de Estudos e Pesquisas, conselheiro Marco Tulio Cabral, assim como do pesquisador principal, Rogério Souza Farias, e do ministro Antonio de Moraes Mesplé, aos quais sou extremamente grato pelos esforços empenhados na boa consecução de todos os projetos. Sou também grato à coordenadora do IPRI, Valeria Figueiredo Ramos, que manteve perfeito controle operacional de todas as atividades. Assistentes contratados e estagiários, cujos nomes estão registrados a seguir, para o período recente, também envidaram esforços para que todas as atividades fossem realizadas a contento.

A todos eles sou muito grato pela ajuda a mim prestada à frente de uma instituição relevante do ponto de vista da produção de conhecimento, que no entanto poderia ser descrita como um think tank com pouco think – por não possuir pesquisadores próprios – e nenhum tank, ao não dispor de recursos especificamente administrados em função de uma agenda de eventos eventualmente mutável, dadas as oportunidades que surgem irregularmente ao longo do tempo.

            Independentemente das limitações, creio poder dizer que o IPRI soube atender às demandas surgidas da própria Casa ou externamente, assim como foi capaz de corresponder às expectativas criadas por uma clientela crescente de frequentadores de seus eventos, diplomatas e acadêmicos, nacionais e membros do corpo diplomático baseado em Brasília e até em outras capitais.

Paulo Roberto de Almeida, diretor do IPRI

Brasília, 24 de dezembro de 2018.


2. Apresentação do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais - IPRI

O Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI) é um órgão da Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG), vinculada ao Ministério das Relações Exteriores (MRE), e tem por finalidade:

  • desenvolver e divulgar estudos e pesquisas sobre temas atinentes às relações internacionais;
  • promover a coleta e a sistematização de documentos relativos a seu campo de atuação;
  • fomentar o intercâmbio científico com instituições congêneres nacionais e estrangeiras;
  • realizar cursos, conferências, seminários e congressos na área de relações internacionais.

Através dessas atividades, o IPRI trabalha para a ampliação e o aprofundamento dos canais de diálogo entre o Ministério das Relações Exteriores e a comunidade acadêmica sobre temas de interesse para a política externa brasileira.

(...)

Leitura na íntegra nos seguintes links: 

Research Gate: 

https://www.researchgate.net/publication/329905640_Relatorio_de_Atividades_Gestao_do_diretor_do_IPRI_Paulo_Roberto_de_Almeida

Academia.edu: 

https://www.academia.edu/s/e66d6c1639/relatorio-do-ipri-diretor-paulo-roberto-de-almeida-2016-2018



O Brasil e a proposta de expansão do Brics - Maria Hermínia Tavares

 

Maria Hermínia Tavares - O Brasil e a proposta de expansão do Brics

Folha de S. Paulo

Com a ampliação de 2023, a que o Brasil resistiu, grupo perdeu nitidez de propósitos

Mudanças importantes em curso na cena internacional propõem desafios inéditos para a política externa brasileira e exigem revisão das visões e estratégias que a caracterizaram ao longo de muitas décadas. Um desses desafios é decidir o que fazer com o Brics diante da segunda ampliação do bloco proposta por China e Rússia.

Durante 14 anos, o grupo foi formado pelos quatro países que o fundaram em 2009 e lhe deram o nome —Brasil, Rússia, Índia e China— mais a África do Sul, que a ele se juntou logo depois, daí o S final da sigla.

No ano passado, incorporou cinco novos membros, nenhum conhecido por praticar a democracia.

Com a ampliação, a que o Brasil resistiu, o Brics ganhou em participantes o que perdeu em nitidez de propósitos. A vingar a proposta ora em discussão, seriam admitidas mais 34 nações da Ásia, África, Oriente Médio e América Latina (Venezuela, Honduras, Cuba e Nicarágua) com níveis díspares de desenvolvimento e distintas formas de governo autocrático.

Ora em dieta de engorda, o bloco surgiu da convergência de países emergentes —com ambições globais— em torno do compromisso de buscar uma arquitetura econômica internacional mais aberta e menos dominada pelos países norte-ocidentais. Tratava-se de apoiar os esforços do G20 para lidar com a crise global e reformar as instituições financeiras multilaterais de regulação econômica, em especial o FMI e o Banco Mundial.

Em suma, o Brics seria uma ferramenta para dar vez e voz a seus criadores ali onde são tomadas as decisões que contam para a economia mundial.

Considerado pelo professor Oliver Stuenkel (FGV-SP) como uma das duas mais importantes inovações na governança global neste século —a outra seria o G20—, o Brics, contra muitas previsões pessimistas, logrou se institucionalizar.

Suas vitórias foram escassas no que respeita a reformas das instituições financeiras multilaterais.

Maiores foram os êxitos no interior do bloco: adensamento das relações bilaterais; estabelecimento de diferentes formas de cooperação; criação do Novo Banco do Desenvolvimento —o chamado Banco do Brics. O Brasil se beneficiou de muitas maneiras do intercâmbio adensado com os parceiros.

Por outro lado, a disparidade de nascença em matéria de recursos de poder entre a China e os demais membros do grupo —que só aumentou com o tempo— colocou-o diante de dois cenários possíveis: um, funcionar como uma coalizão de nações que buscam mais protagonismo no âmbito da ordem internacional existente; outro, transformar-se em mais um instrumento da ascensão da China à condição de grande potência.

O aumento do bloco em 2023 e a atual proposta de inclusão de novos membros aponta na direção do segundo cenário. Não há o que explique a escolha dos 34 candidatos a membro, salvo a intenção de promover o Brics a pilar de sustentação de uma ordem internacional pós-ocidental liderada pela China.

Nessa nova ordem, há ganhos comerciais e econômicos para o Brasil e os outros parceiros do bloco. Mas dificilmente —e por razões óbvias— haverá espaço para que floresçam a democracia, a liberdade e os direitos individuais.

Os “progressos” da politica brasileira - Fabiano Lana (Estadão)

 https://www.estadao.com.br/politica/fabiano-lana/qual-e-o-o-brasil-que-emerge-de-pablo-marcal/

Originário da classe C, evangélico, do Centro-Oeste agro, forjado na linguagem das redes sociais, de “direita”, vendedor de livros de autoajuda, Pablo Marçal se tornou expressão de um Brasil que tanta gente gosta de desprezar, mas que cada vez mais dá as cartas. Além de um fenômeno inesperado, o candidato do PRTB hoje é um arquétipo de um contingente de brasileiros que não vê com bons olhos nem a tradicional elite cultural-administrativa, com seus intelectuais, artistas, jornalistas, professores de universidades públicas de “humanas”, e políticos, mas também não se entusiasma com as políticas de Estado para a população mais miserável do País – porque se considera esquecido.

O Brasil é tão pobre que hoje um trabalhador com carteira assinada com dois salários mínimos já está na metade superior da pirâmide social brasileira. Essa pessoa, porém, vê a vida como um desafio diário. Estudou em escolas públicas com péssima qualidade, vive em lugares com alto índice de violência e pode ficar horas diárias em um transporte público sucateado – ou arrisca a vida com sua moto de baixa cilindrada em um trânsito feroz. Se faz faculdade, é cara, e se endivida para pagar seus estudos.

Ou então pode ser um motorista de Uber, um entregador de Ifood, uma atendente de farmácia, uma recepcionista de hotel, uma caixa de supermercado. Que sempre que possível confere seu celular para checar as últimas atualizações do Instagram ou ouvir e responder algum áudio do WhatsApp. Que se sente mais cidadã na igreja evangélica, quando finalmente não está vestindo uniforme, conforme insight do antropólogo Juliano Spyer. Ah, é preciso lembrar-se sempre que o atual presidente Lula só venceu nas faixas de renda de quem ganha até dois salários mínimos. Bolsonaro dominou as demais faixas, para terror de tanta gente bem-pensante.

Este articulista já esteve como observador de uma pesquisa qualitativa para avaliar um programa social destinado à classe D e E de um Estado do Nordeste. Uma espécie de complementação ao Bolsa Família. A proposta de política social foi aprovada nas classes mais altas e, obviamente, pelo público beneficiado. Mas houve razoável resistência entre os avaliados da classe C, que se consideraram mais uma vez esquecidos pelas políticas de Estado. Isso ajuda explicar o sucesso do candidato à prefeitura da maior cidade do continente.

Filho de faxineira, ex-atendente de telemarketing, frequentador de igreja evangélica desde a infância, Pablo Marçal é um integrante desse grupo e se tornou imensamente rico, em tese, mantendo esses valores e modo de ser das classes intermediárias – o que gera identificação. É fruto de certa teologia da prosperidade já bem exemplificada com Max Weber, em “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, em que a riqueza é consequência de uma bênção divina. Porém, Pablo tenta transformar essa ideologia numa linguagem pop e cheia de termos “neuroliguísticos” e de autoajuda, além de certa postura de humorista de stand up, a dar lições em auditório.

É, exemplar, que o autodenominado ex-coach tenha colocado em suas páginas na rede os apoios ao candidato Boulos, do PSOL, de uma série de cantores como Caetano Veloso, Chico César, além de uma série de artistas globais – em que ele próprio é bastante criticado. Sabe muito bem que esses artistas não são admirados pelas pessoas que procura conquistar, muito pelo contrário – estão entre os adversários a derrotar. E podem saber que os cantores sertanejos, muitas vezes originários do Centro-Oeste, com seus milhões de ouvintes nas plataformas de streaming, com orgulho de suas origens ligadas ao agronegócio, estarão do lado do candidato do nanico PRTB nesta e em eventuais campanhas futuras.

Para os jornalistas e debatedores, Marçal é meio um pesadelo, gera um ambiente até mesmo “distópico” conforme definição da apresentadora do Roda Viva, Vera Magalhães. Ao invés de responder perguntas de quem o questiona, simplesmente transforma a falsa interação em cortes nas redes que recebem dezenas de milhares de curtidas. Nesse sentido, utiliza seus oponentes como escada. Até mesmo as graves acusações que recebe, de desviar eletronicamente dinheiro de correntistas, se transformam em vitimização cibernética em seus famigerados cortes, feitos também, em grande medida, por apoiadores anônimos.

Pablo Marçal está seguro na agressividade com que parte contra jornalistas, artistas ou políticos tradicionais. Enquanto arquétipo da mentalidade de uma classe, sabe que não está sozinho nessa batalha contra o “sistema”. É um representante da cultura do ressentimento potencializada pelas redes sociais. E também transforma esse rancor em piada, em vídeos rápidos para o Tik Tok, em material de campanha.

Se Pablo irá vencer as eleições ainda é um chute - bem ou mal embasado. Temos, de qualquer maneira, um fenômeno novo que ainda não sabemos como pode ser neutralizado do ponto de vista político ou da comunicação. A versão atualizada de Jair Bolsonaro, entretanto, pode ser apenas uma evolução natural da espécie. Se não for o Pablo haverá outro, porque tem base popular e representa valores e comportamento comuns a uma gigantesca parcela da população brasileira.

Opinião por Fabiano Lana


Fabiano Lana é formado em Comunicação Social pela UFMG e em Filosofia pela UnB, onde também tem mestrado na área. Foi repórter do Jornal do Brasil, entre outros veículos. Atua como consultor de comunicação. É autor do livro “Riobaldo agarra sua morte”, em que discute interseções entre jornalismo, política e ética.

O grande projeto africano da China, o maior, desde o Plano Marshall - Paulo Roberto de Almeida

O grande projeto africano da China, o maior, desde o Plano Marshall

  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre a conferência China-África, realizada em sua 10ª edição, revelando a ambição chinesa de construir uma relação sólida com países africanos, alcançando uma dimensão talvez similar à do Plano Marshall, de 1947-1952. 

 

Xi Jinping celebra mais um encontro com líderes africanos, no quadro de um grandioso e importante projeto africano da China, que antecede Xi Jinping, e já é um estupendo esforço da China desde os anos 2000.

Se trata do mais importante evento da história econômica mundial, no terreno da cooperação, depois do Plano Marshall, com a diferença que este era puro desprendimento humanitário, ao passo que o projeto africano chinês é totalmente focado nos interesses de grande potência econômica da China. 

O Plano Marshall, ao início da primeira Guerra Fria geopolítica - agora já estamos na segunda - mudou a história da Europa ocidental e do mundo, algo que o projeto africano da China talvez não consiga fazer, pois que significa, mal comparando, uma mera reprodução do que os europeus fizeram na África desde o final do século XIX e início do XX, sem os horrores da escravidão e da exploração mais brutal. O projeto africano da China é totalmente auto-interesse, ao passo que o Plano Marshall foi o ato “menos sórdido da história da humanidade”, como disse Churchill (talvez a propósito do Lend Lease agreements, me confundo agora).

Em todo caso, o que a China faz na África tem um impacto mais relevante na geopolítica mundial do que todas as guerras de agressão e de conquista empreendidas por Putin desde 2008, uma mera repetição do que fez Hitler e os demais fascismos expansionistas nos anos 1930-40, inclusive o militarismo nipônico.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4726, 4 setembro 2024, 1 p.


Recomendações de livros por Charlie Munger

Retirado do Threads, por wisdom_switch:

Tirando os livros para fazer dinheiro, um legítimo objetivo americano, mas que não faz parte de minhas preocupações de vida, já li e recomendo os livros de Jared Diamond, Arms, Germs and Steel, e o de David Landes, The Wealthy and Poverty of Nations (ainda que o capítulo sobre a AL seja fraco e o sobre o Brasil seja totalmente decepcionante pela mania americana da “teoria da dependência”, a única coisa da sociologia de FHC que acho fraquérrima. Mas preciso ler os livros sobre Andrew Carnegie, de Herbert Simon e o Selfish Gene, de Charles Dawkins (cujo argumento conheço e parte, por resenhas e comentários lidos na New York Review of Books). PRA

Charlie Munger once said…

“In my whole life, I have known no wise people who didn't read all the time"

11 book recommendations from Charlie Munger that'll make you Smarter:

1. Faraday, Maxwell, and the Electromagnetic Field: How Two Men Revolutionized Physics

It’s a combination of scientific biography and physics explanation, relating to electricity.

And neither of the writers is a physicist.

2. Deep Simplicity: Bringing Order to Chaos and Complexity

It is hard to understand everything, but you can always give it to a more intelligent friend if you can't understand it.

3. Models of My Life

An autobiography of Nobel laureate Herbert A. Simon, a remarkable man who more people should know about.

He won Nobel prize for his theory of “bounded rationality,” and is best known for his quote,

“A wealth of information creates a poverty of attention.”

4. Andrew Carnegie

The definitive biography of an industrial genius, philanthropist, and enigma.

At a business meeting, Munger also mentioned the Mellon Brothers as people to study.

5. Guns, Germs, and Steel: The Fates of Human Societies

A book recommended by Bill Gates and Charlie Munger.

Gates said– "the book had a profound effect on the way I think about history and why certain societies advance faster than others.”

6. Influence: The Psychology of Persuasion

A frequent recommendation from Munger.

I believe he’s given away more copies of this book than any other.

7. The Selfish Gene

Dawkins explains how the selfish gene can also be a subtle gene. The world of the selfish gene revolves around savage competition, ruthless exploitation, and deceit.

Yet, acts of apparent altruism do exist in nature.

8. The Wealth and Poverty of Nations: Why Some Are So Rich and Some So Poor

A best-selling exploration of why some nations achieve economic success while others don’t. As you can imagine, it’s complicated.

9. Getting to Yes: Negotiating Agreement Without Giving In

The book is one of the primary business texts in North America.

So it shouldn’t surprise you that I was first introduced to this as part of my MBA program– Says Munger.

10. Three Scientists and Their Gods: Looking for Meaning in an Age of Information

What is the meaning of life? This book looks at the work and beliefs of three leading American scientists: Edward Fredkin, Edward O. Wilson, and Kenneth Boulding.

11. The Warren Buffett Portfolio: Mastering the Power of the Focus Investment Strategy

This book has been recommended by both Buffett and Munger on a few occasions.






A covardia do Brasil na Venezuela: a diplomacia petista em ação e inação - Opinião Estadão

 Opinião do Estadão, 3/09/2024

A covardia do Brasil na Venezuela

Mesmo ante ordem de prisão do líder da oposição venezuelana, Lula segue incapaz de condenar a ditadura do companheiro Maduro, ofendendo os que bravamente lutam pela democracia

A repressão na Venezuela recrudesce a níveis pavorosos mesmo para os padrões de truculência do chavismo. O regime está em vias de aprovar uma “Lei contra o Fascismo” que na prática lhe dará carta branca para prender quem bem entender. Desde as eleições presidenciais, cujos resultados foram escandalosamente fraudados para dar a vitória ao ditador Nicolás Maduro, quase 30 manifestantes foram mortos e cerca de 2 mil foram detidos, entre eles dezenas de menores de idade. As milícias informais conhecidas como “Coletivos”, a Gestapo chavista, intimidam famílias em suas casas e jornalistas nas redações. O advogado da oposição foi sequestrado.

Agora, o regime ordenou a prisão do candidato da oposição, Edmundo González. Como se sabe, o único “crime” da oposição foi divulgar, graças à insubordinação cívica de funcionários dos colégios eleitorais, fotogramas das atas eleitorais que confirmam, segundo a apuração de vários observadores independentes, sua vitória nas urnas com dois terços dos votos.

Chancelarias de diversos países latino-americanos emitiram notas veementes de repúdio. Já o governo brasileiro continua a fazer cara de paisagem. Em tom prazenteiro, o chanceler paralelo do presidente Lula da Silva, Celso Amorim, disse que “eu sou do tempo da bossa nova – a gente nunca sobe o tom”. Nunca, desde que se trate de tiranos companheiros.

Se o governo, sob a retórica malandra do “pragmatismo”, se desfaz de suas obrigações de denunciar a fraude contra a vontade do povo venezuelano e as violações de seus direitos fundamentais, não é por falta de saliva. Mesmo em questões em que tem pouca influência, como a guerra na Ucrânia ou em Gaza, Lula fala e fala muito, com frequência superlativamente, como quando equiparou as operações militares de Israel ao Holocausto. O Brasil, por sinal, segue sem um embaixador em Israel.

Em 2012, quando o Parlamento do Paraguai destituiu o presidente esquerdista Fernando Lugo, a então presidente Dilma Rousseff vociferou contra uma suposta “ruptura da ordem democrática”, engendrando com os governos esquerdistas da Argentina e do Uruguai o afastamento do Paraguai do Mercosul. Pouco importa que missões internacionais tenham constatado a higidez constitucional do impeachment de Lugo: como se tratava de um companheiro progressista, Dilma deixou de lado a diplomacia “bossa-nova” de Amorim. Para confirmar que a manobra era puramente ideológica, o consórcio esquerdista do Mercosul, sem o inconveniente voto contrário do Paraguai, aprovou a entrada no bloco da – ora vejam – Venezuela chavista.

Em outras palavras, em nome da “defesa da democracia”, o lulopetismo e seus sócios sul-americanos patrocinaram um atentado às instituições do Mercosul, alijando um país em condições de normalidade democrática para favorecer um regime cujo autoritarismo é a principal marca.

A oposição venezuelana tem dado ao mundo um exemplo de heroísmo. Em outras ocasiões ela se fracionou e oscilou entre modos diversos de resistência, de boicote às eleições a tentativas de rebelião armada. Agora, mesmo diante de uma ditadura militar que mantém na coleira o Legislativo, o Judiciário e a mídia, optou pelo enfrentamento nas urnas – e venceu. Mas o governo brasileiro continua a promover a farsa da “neutralidade”, cobrando as atas eleitorais que o chavismo trancou a sete chaves e a oposição mostrou ao mundo.

Já ficou claro que o Brasil tem pouca capacidade de influência num regime manietado por China, Rússia e Cuba. Mas longe de isentá-lo, essa seria mais uma razão para que o seu chefe de Estado denunciasse com todas as letras o atentado contra a democracia e os direitos humanos em curso. Não é só um dever moral, mas constitucional. A Carta Magna brasileira preconiza que as relações exteriores do Brasil se regem, entre outros princípios, pela prevalência dos direitos humanos e o repúdio ao terrorismo.

Ditaduras dependem de duas coisas para subsistir: o apoio das Forças Armadas e da população. Maduro, aparentemente, mantém o primeiro, mas o rechaço do povo venezuelano é inequívoco. Democracias genuínas deveriam celebrar e apoiar a resistência desse povo. O Brasil, em nome das amizades de seu presidente, prefere ofendê-lo.

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

A humanidade desumanizou-se? - Paulo Roberto de Almeida

A humanidade desumanizou-se?

  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre a total indiferença que o morticínio na Ucrânia vem sendo recebido no chamado Sul Global, entre esses países o Brasil, incapaz de se manifestar sobre o massacre que vem sendo conduzido pela Rússia contra civis inocentes e a infraestrutura material do país.

  

Um dos fatos mais chocantes na atualidade internacional é constatar que a maior parte da comunidade dos Estados membros da ONU, especialmente do chamado Sul Global, permanecer completamente indiferente ao cenário de morticínio e de destruição bárbara perpetrados pela Rússia na Ucrânia. 

Como é possível aos dirigentes, à população, não se indignar em face de um espetáculo de pura barbárie, terrorismo deliberado, crimes de guerra e contra a humanidade?

As pessoas, em geral, no Sul Global em especial, consideram que não há nada que possa ser feito e que os bombardeios contra alvos civis podem continuar a ser feitos porque um membro permanente do CSNU dispõe de um poder exclusivo, o de violar a Carta da ONE e todos os princípios do Direito Internacional impunemente?

Quando esse tipo de comportamento inadmissível passou justamente a ser considerado como admissível, normal e inquestionável? Quando foi que a MAIOR PARTE da humanidade se convenceu de que nada poderia ser feito, ou, coisa pior, que era possível continuar a comerciar e até a intensificar esse comércio e outras relações com a parte agressora, como se o lado perversamente amoral do seu comportamento pudesse passar a ser admitido como coisa menor?

O que foi que ocorreu com os países que aderiram e que ratificaram a Carta da ONU para ignorar por completo suas OBRIGAÇÕES inscritas na Carta de boicotar o agressor, de submeterem-no a sanções e de vir em socorro da parte agredida unilateralmente?

Por acaso, mais da metade da humanidade, seus dirigentes políticos, se julgam desprovidos de qualquer responsabilidade política, moral, simplesmente humanitária, em face da barbárie sendo cometida contra o povo iraniano?

Almas cândidas poderão argumentar com as matanças já em curso na África e em outros lugares, a maior parte resultado de guerras civis, conflitos políticos, étnicos ou religiosos, mas estamos falando, no caso da Ucrânia, nada disso estava dm curso, e sim foi uma agressão deliberada, unilateral, não provocada, das mais cruéis já vistas desde as guerras de expansão das potências nazifascistas dos anos 1930.

Estamos de volta aos momentos mais sombrios da história da humanidade, um tempo de desumanização inédita para os padrões do multilateralismo contemporâneo?

Tudo indica que sim…

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4725, 4 setembro 2024, 2 p.


 

 

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...