terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Os EUA chegaram finalmente ao que Tocqueville mais temia? - Paulo Roberto de Almeida

Os EUA chegaram finalmente ao que Tocqueville mais temia?

Paulo Roberto de Almeida


Todos somos prisioneiros da “ditadura do momento”, ou tendemos a ser.

Os Founding Fathers se referiam a, e queriam, um tipo de sociedade que não existe mais, convergente no trabalho honesto, ao estilo da “ética protestante” de Max Weber.

Já são muitos os exercícios teóricos sobre os EUA totalmente disfuncionais e em declínio inevitável. Arnold Toynbee, por exemplo, nos volumes posteriores à IIGM do seu monumental Estudo da História, já acreditava nessa decadência no momento de maior poder mundial dos EUA, em 1947. 

Seu sistema eleitoral, por exemplo, foi feito para evitar a “tirania da maioria”, como dizia Tocqueville, mas essa maioria pode ainda assim produzir a tirania da mediocridade, com uma democracia de massas que se opõem ao conhecimento de uma elite educada. 

Os EUA chegaram à mediocridade da maioria?

Olhando a turba que apoia Trump de maneira irracional parece que sim.

Contemporaneamente aos Founding Fathers, o romancista James Fenimore Cooper - o do Último dos Moicanos - já dizia que a democratização leva inevitavelmente à mediocrização. 

Talvez seja o caso. Sociedades homogêneas e pequenas talvez consigam conservar a qualidade do regime democrático; grandes sociedades muito diversificadas podem correr o risco da “tirania da mediocridade”, sujeitas à “ditadura” de algum oportunista capaz de encantar e manipular a maioria de cidadãos pouco educados.

Acho que a maioria dos pouco educados nos EUA encontrou o seu oportunista idiota que os conduzirá ao aprofundamento de um declínio toynbeeano.

Enquanto isso, a China milenar aposta numa sociedade do conhecimento e isso não tem muito a ver com a “ditadura de um partido leninista” e sim com a tradição persistente de um regime tecnocrático baseado na seleção mandarinesca dos mais competentes para gerir uma boa administração das coisas e das pessoas.

O PCC é mais chinês do que marxista-leninista, uma doutrina que ficou na superfície da estrutura política; a infraestrutura humana continuou mandarinesca, isto é, meritocrática.

Nos EUA, a meritocracia parece ter se deixado aprisionar por um oportunista obcecado pela ideia de sua própria grandeza, que ele confunde com a grandeza americana, quando o país já deixou de ser uma sociedade do conhecimento para valorizar apenas a riqueza fugaz do ganho financeiro.

O “enriqueça rapaz” já não segue mais os preceitos austeros de um Benjamin Franklin, e sim o oportunismo manipulador de um especialista em enganar os incautos como o idiota ignorante de um Trump.

Pior para os americanos, sorte dos chineses, que continuam a valorizar o conhecimento de longo prazo sobre o enriquecimento rápido.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 21/01/2025

Dez fatos sobre Alexander von Humboldt - Instituto Goethe

 Dez fatos sobre 

Alexander von HumboldtInstituto Goethe


David Torres Costales, Wikimedia, CC-SA-3.0

Em 2019, celebramos os 250 anos de nascimento do naturalista alemão Alexander von Humboldt. Nesta ocasião, reunimos os fatos mais importantes de sua biografia e a seu respeito.

Pintura de Joseph Stieler, 1843 Pintura de Joseph Stieler, 1843 Wikimedia, Public Domain
Filho de boa família
Para os padrões daquela época, Alexander von Humboldt viveu muito. Ele morreu solteiro no ano de 1859, aos 89 anos, em Berlim, sua cidade natal. Nascido em 1769, era o segundo filho de uma família prussiana fiel ao rei. O então futuro rei Frederico Guilherme II da Prússia era um dos padrinhos de Alexander, cujo pai era um oficial prussiano e a mãe, descendente de uma família de huguenotes (ela havia trazido um filho de seu primeiro c asamento). Nesse ambiente abastado, os irmãos foram criados para se tornarem burgueses bem - educados – a base de seu impulso como pesquisadores. Pois não apenas Alexander se tornou famoso. Seu irmão Wilhelm foi um dos cientistas mais importantes da Alemanha nas ciências humanas e da educação.


Estações importantes
Nascido em Berlim, Alexander von Humboldt estudou em Frankfurt do Oder e trabalhou como assessor em uma mina estatal na condição de funcionário público. Até 1796, nada indicava que ele viria a ser apontado por seus contemporâneos como o homem mais conhecido do mundo depois de Napoleão. Foi quando se demitiu do serviço público – depois de receber uma herança – e passou a se dedicar exclusivamente à pesquisa. Entre 1799 e 1804, Humbold t viajou pela América Latina, tendo participado de três grandes expedições, entre elas a escalada do vulcão Chimborazo (6.310 metros). De volta à Europa, viveu em Paris e Berlim. Em 1829, viajou durante muitos meses pela Rússia até retornar, enfim, à Prúss ia tanto como cientista quanto, temporariamente, como diplomata a serviço do rei.

Pintura de Friedrich Georg Weitsch, 1806Pintura de Friedrich Georg Weitsch, 1806 Wikimedia, Public Domain
Contemporâneos
Alexander von Humboldt veio ao mundo em 1769, um tempo iluminado pelo Esclarecimento. Invenções e descobertas marcaram o fim do século 18 e o início do 19. Er uditos como Immanuel Kant, Arthur Schopenhauer, Johann Wolfgang von Goethe e Friedrich Schiller foram contemporâneos de Humboldt. Carl Friedrich Gauss contribuiu para o desenvolvimento da física e Alessandro Volta e Michael Faraday deram sequência aos estu dos sobre a eletricidade. O inglês Charles Darwin investigou a origem biológica do ser humano, enquanto o francês Louis Pasteur criou os princípios da microbiologia. A cultura dessa época também viria a marcar nosso mundo até hoje: as obras de Wolfgang Ama deus Mozart e Ludwig van Beethoven provêm igualmente desses tempos progressistas.


Humboldt e Goethe: naturalistas que se encontram 
Quando se fala em Johann Wolfgang von Goethe, pensa - se em poes ia, no Sofrimento do jovem Werther – ou no Instituto Goethe. Mas não em pesquisas na área de ciências naturais . Goethe, contudo, foi um naturalista entusiasmado – e por isso amigo de Humboldt, que era dez anos mais jovem. Os dois se conheceram em 1794, na cidade de Jena, através de Wilhelm, irmão de Alexander. Naquela época, Humboldt ainda inspecionava minas de exploração de metais. E Goethe já era o poeta mais conhecido da Alemanha, sentindo - se inspirado pela versatilidade de Humboldt. A inspiração era, contudo, recíproca: Humboldt aprendeu com Goethe a se debruçar sobre a natureza não apenas através de seus instrumentos, mas a entendê - la de maneira emocional.

Friedrich Schiller com Wilhelm e Alexander von Humboldt e Johann Wolfgang von   Goethe no   jardim  de Schiller em JenaFriedrich Schiller com Wilhelm e Alexander von Humboldt e Johann Wolfgang von Goethe no jardim de Schiller em Jena Wikimedia, Public Domain
Erudito universal
Ao contrário de seu irmão, que se dedicava mais às Ciências Humanas, Humboldt demonstrava grande interesse, desde jovem, pelas Ciências Naturais, especialmente por botânica, mas também por geologia, física, oceanografia. Ele era um erudito universal notável, que via a Terra como um todo coeso. Foi ele quem descobriu as zonas climáticas, fez uso de uma ampla gama de instrumentos modernos d e medição e se empenhou pelo fim da escravatura. Para Humboldt, a natureza precisava ser vivida e sentida. E isso em uma época na qual outros cientistas tendiam mais a procurar por leis universais. Uma de suas metas era: todos os seres humanos deveriam ama r a natureza como ele próprio amava.


Humboldt como patrono
Animais, plantas, rios, montanhas, asteroides – não são raros os que levam o nome de Alexander von Humboldt. O pesquisador inspirou tanto a denominação do famoso pinguim Humboldt, quanto da gigantesca corrente de Humboldt e da quase desconhecida levedura Pichia humboldtii . Um total de 19 tipos de animais, 17 plantas, duas geleiras, oito montanhas e serras, um rio, dois asteroides, um mar lunar, uma cratera lunar, um aeroporto e incontáveis escolas levam seu nome. Além disso, a renomada Universidade Humboldt de Berlim tem esse nome em homenagem a Alexander e seu irmão Wilhelm.

Recebeu o nome do naturalista: o pinguim Humboldt (Spheniscus humboldti), supostamente observado pelo cientista no território hoje pertencente ao PeruRecebeu o nome do naturalista: o pinguim Humboldt (Spheniscus humboldti), supostamente observado pelo cientista no território hoje pertencente ao Peru Wikimedia, GNU Free Documentation License
Humboldt e a América Latina
Na América Latina, Humboldt não é apenas respeitado como também ve nerado, muitas vezes como herói do povo. Verdadeiro humanista, ele demonstrava de fato apreço por qualquer pessoa, independentemente de origem e aparência. Além disso, algumas das condições de vida na América Latina naquela época o deixavam chocado. Sendo assessor de minas por formação, ele desceu algumas delas também na América Latina, até as camadas mais profundas. E aquilo que viu o deixou indignado, sobretudo na Nova Espanha, hoje território mexicano. As condições atrozes nas quais os indígenas trabalh avam naquela época eram para ele inaceitáveis. No México, Humboldt é, por isso, considerado parte do movimento de independência e um dos fundadores do país. Em Cuba, por sua vez, ele continua sendo venerado em função de seu empenho contra a escravatura. E na Venezuela seu nome é até hoje conhecido entre os camponeses da etnia dos Chaima por ter atuado na época contra a Igreja católica e seus métodos opressores.

Humboldt und Forscherfreund Aimé Bonpland vor dem ChimborazoHumboldt con su amigo investigador Aimé Bonpland frente al Chimborazo Wikimedia, Public Domain
A montanha
Humboldt percorreu milhares de quilô metros em sua vida, mas determinados 5.907 metros ficaram especialmente gravados em sua memória, graças à escalada do Chimborazo que, com seus 6.310 metros de altitude, era então considerado a montanha mais alta do mundo. Com parcos equipamentos, Humboldt e seus companheiros saíram, no ano de 1802, rumo ao topo do vulcão inativo localizado no atual território do Equador. Ao atingir em 5.400 metros, manifestou - se a anoxia. Os escaladores sangravam e tinham vertigens, mas mesmo assim continuaram. A uma altitude 3031 toesas (5.917 metros), foram obrigados a parar – uma fenda impedia que continuassem. Mas por que Humboldt escalou essa montanha? Ele queria provar que as características da superfície terrestre se devem a uma enorme potência de fogo existente no interior do planeta. As rochas nas proximidades do topo confirmaram sua suposição: ela lembravam carvão. A excursão audaz pela montanha não tinha por finalidade contribuir para sua fama de escalador, e sim para as pesquisas sobre a natureza. Humboldt j amais se esqueceu d essa tortura . Pouco antes de sua morte, em 1859, ele posou para um retrato em Berlim – com o Chimborazo ao fundo.

Vulcão Chimborazo no atual território do EquadorVulcão Chimborazo no atual território do Equador David Torres Costales, Wikimedia, CC-SA-3.0
O grande comunicador
O que era preciso fazer quando se queria dividir um saber antes da invenção da Wikipédia? Como fundar uma rede internacional sem o Facebook? Escrevendo cartas. Muitas cartas. Pelo menos foi o que fez Alexander von Humboldt, escrevendo em torno de 50 mil cartas. Ou seja, uma média de duas por dia de vida. Dessa forma, ele trocava informações com outros cien tistas, documentava seus próprios resultados e dividia suas pesquisas – 200 anos antes da atual sharing economy . Com base em aproximadamente 13 mil cartas conservadas até agora, é possível calcular a amplitude dessa rede em aproximadamente 2500 remetentes e destinatários.

Cosmos
Tudo está interligado. Mas o que isso significa e o que tem a ver com Humboldt? Ele foi o primeiro a documentar as zonas climáticas e de vegetação do mundo. E provou também que, em uma determinada altitude nas montanhas, a vegetação é semelhante em todo o mundo. Foi ele também quem demonstrou que há zonas climáticas, onde elas estão localizadas e como influem no crescimento da vegetação. Humboldt reconheceu que o clima passa por mudança s em função da ação do homem, do desmatamento, da irrigação artificial e da emissão de gases e calor nos centros industriais. Em sua obra mais influente, Cosmos, um esboço da descrição física do universo (1845 - 1862), de quatro volumes, Alexander von Humbol dt resumiu suas evidências científicas com a ajuda de diversos outros especialistas.

A historiadora norte - americana Andrea Wulf analisou a obra do pesquisador e concluiu assim em uma entrevista à revista alemã Stern : “Humboldt foi o primeiro ambientalista do nosso planeta. O pai do movimento ambientalista. O homem que descobriu que o ser humano pode modificar o clima”. 

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

"O fascismo nosso de cada dia" - Michel Foucault (via Maurício David)

 Dica de leitura : "O fascismo nosso de cada dia" (primeira das palestras que o grande pensador francês Michel Foucault proferiu no Brasil, na USP, em outubro de 1975)

[Introdução de Maurício David, a quem devo a graça desta matéria]


“Fascismo”, hoje em dia no Brasil, virou um xingamento, uma espécie de denegrimento da opinião de quem pensa diferente do outro... O conceito de “fascismo” perdeu então, qualquer relevância explicativa ou significado cognitivo. Tento explicar isto aos meus alunos ou ex-alunos, e também a amigos que cultivo no meu jardim de amizades, de altos oficiais das Forças Armadas a colegas da Academia... Mas é difícil, porque é tão fácil xingar e desqualificar o outro... Para alguns energúmenos, Bolsonaro, Trump e quem mais seja voz discordante na política, são todos fascistas e golpistas...Assim fica difícil explicar o que foi o fascismo e o perigo que significaria o retorno das idéias fascistas... Mas a leitura do texto de 1975 de Foucault pode ser um bom começo... Aliás, assim que voltei do exílio em 1979, a primeira vez em que me encontrei com o então jovem economista de oposição (então técnico do IPEA), Pedro Malan – de quem o então poderoso Delfim Neto guardava rancor pelas posições independentes que mantinha – mas que, diga-se de passagem, jamais foi tocado pela repressão do regime militar em todo o período anterior à abertura política), o Malan tinha em mãos um livro do Foucault , “Microfísica do Poder”, que estava lendo. Eu próprio não tinha lido o livro do grande pensador francês, já na época leitura obrigatória de todos os que se interessavam pelas estruturas internas de repressão que apareciam invisíveis para grande parte da Sociedade. Para o Malan, não : êle me falou com admiração sobre o livro que estava lendo e me abriu as portas da percepção para uma problemática que até então me havia passado desapercebida. Que figura magnífica o Malan ! Depois vim a trabalhar com êle na sua gestão no Instituto de Economistas do Rio de Janeiro-IERJ e êle foi o primero que levantou nas páginas do jornal do IERJ a questão das cassações brancas no Brasil, o aspecto que então vinha a luz da microfísica do poder repressivo. Tornei-me amigo e admirador do Pedro, já então um economista de grande prestígio ( o Pedro foi colega no IPEA do grande economista e “brazilialista” emericano Albert Fishlow, que o levou para fazer o doutorado em economia na prestigiada Universidade de Berkeley, na Califórnia, uma das “top” universidades americanas). Revi o Pedro em Nova York (quando êle trabalhou um período no setor de estudos transnacionais da ONU) e em Washington, onde êle passou um período trabalhando como representante brasileiro no Banco Mundial e no BID, até ser chamado pelo Fernando Henrique para ser o negociador da renegociação da dívida externa brasileira. O Fernando Henrique se encantou com o Pedro e fez dele o seu Ministro da Fazenda, nos seus dois governos, com o sucesso que sabemos...

Não tenho estado com o Malan nos últimos, tempos mas assisti os vídeos da sua participação nas comemorações dos 20 anos do lançamento do Plano Real, organizadas pelo Departamento de Economia da PUC (onde fomos colegas nos anos 80). Brilhante como sempre, o Malan ! Que falta nos fazem homens públicos da qualidade e estatura do Pedro Malan !

MD

P.S.: Não posso me esquecer – e nunca me esquecerei !– de que o Pedro, em um momento difícil da minha vida, quando a mão pesada da repressão se abateu novamente sobre mim e a minha família, procurou-me na PUC – onde éramos colegas, como já destaquei – e se ofereceu para me conseguir uma bolsa de pesquisa do CNPq, onde êle integrava o Comitê de Economia. Na ocasião, com minha esposa grávida do meu segundo filho e eu com um contrato na PUC a honorário fixo, esta bolsa nos permitiu, a minha e a minha família, a sobrevivência por um ano em condições apertadas, mas as suficientes para desbravar as difíceis condições do retorno de um exílio de dez anos...


[Mauricio David] 

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O fascismo nosso de cada dia

 

Por MICHEL FOUCAULT*

Transcrição de um curso na USP, proferido em outubro de 1975


Apresentação do tradutor: 


Há pouco foi publicado na França, num volume de inéditos de Michel Foucault intitulado Généalogies de la sexualité (Vrin, 2024), o curso ministrado por ele em outubro de 1975, na USP, com o título de “A genealogia do saber moderno sobre a sexualidade”. Na ocasião, por um pedido dos alunos pertencentes ao movimento estudantil, transmitido a ele e a Gerard Lebrun por Marilena Chauí, Michel Foucault, por solidariedade às inúmeras prisões de alunos e professores da USP, interrompeu seu curso.

Na ocasião, ele leu um breve manifesto, escrito por ele mesmo, na assembleia dos estudantes reunidos na FAU. O ponto culminante da repressão do Estado naquela ocasião foi o assassinato do jornalista Vladimir Herzog. Foucault não deixou também de participar do ato ecumênico em memória de Herzog, realizado na Igreja da Sé cercada pelas forças do exército. Esse episódio foi lembrado com detalhes por José Castilho Marques Neto em “No táxi com Michel Foucault. Memórias de um estudante de filosofia aos 22 anos” (Cult, 225, julho 2017).

O breve texto traduzido abaixo, faz parte da primeira aula de um curso projetado para oito aulas, das quais apenas quatro foram ministradas, pelo motivo acima referido. Trata-se da tentativa de explicitar as relações entre o que Michel Foucault chamava na época de “microfísica do poder” e a questão do fascismo.

Pessoalmente, considero que polêmicas até recentemente muito intensas, que reduzem o pensamento de Michel Foucault à “pós-modernidade”, ao “pós-estruturalismo”, ao “irracionalismo” ou ainda a um antimarxismo total, devem ganhar seu devido lugar na história de uma época em que pouco se conhecia do conjunto de inéditos, que conhecemos hoje. Passadas algumas décadas de efervescência dessas polêmicas, quanto mais ganhamos distância temporal delas, mais podemos ler sua obra com paciência e sobriedade e, assim, podemos mensurar melhor, para além da adesão apaixonada ou da crítica do leitor apressado, a lucidez e o alcance de suas análises e quiçá no que elas ainda nos ajudam a entender a persistência do fascismo nos dias atuais.[i]


Michel Foucault – curso de 1975

“A essa questão do porquê, a questão da razão pela qual apareceu o tema do poder e do poder infinitesimal, devo confessar que não posso responder, mas gostaria de ao final desta conferência ou do curso, que se possa discutir um pouco isso e ver como se poderia tentar elaborar uma resposta. Gostaria no momento, na falta de explicação do porquê o problema se pôs tal qual se põe agora, de simplesmente esboçar algumas considerações sobre o ‘como’. Como esse problema se colocou, pelo menos nos países da Europa ocidental? Creio que se pode destacar dois processos, no decorrer dos quais apareceu o problema desse poder infinitesimal, do micropoder.

De um lado, creio que apareceu o que se poderia chamar de colapso do fascismo. E, [a propósito] desta linha do colapso do fascismo, se pode observar duas coisas. De início, é que esse fascismo, que foi definido pela Terceira Internacional como vocês o sabem, como ‘a ditadura sangrenta da fração mais reacionária do grande capital’, essa ditadura quando se pode vê-la mais de perto, após seu colapso em 1945, revelou que não se tratava apenas disso, que não se tratava no fascismo apenas da confiscação por alto de um aparelho de Estado, por capangas que eram comandados, direta ou indiretamente, por uma certa facção de acionistas do grande capital, etc.

O fascismo era talvez isso, mas igualmente outra coisa: o fascismo, se ele pôde se manter e se manter por muito tempo, foi por ter podido prolongar longe os seus efeitos no corpo social, foi porque pôde aprofundar suas raízes. Se o fascismo pôde se manter por tanto tempo na Europa e em outros países onde se estabeleceu, é que ele pôde utilizar no interior mesmo do corpo social toda uma série de estruturas de poder pré-estabelecidas.

Como se sabe, houve uma utilização da medicina e da psiquiatria pelo fascismo; houve utilização de um estatuto secular, milenar mesmo, da mulher considerada – há quanto tempo! – como reprodutora biológica ou escrava doméstica. O fascismo utilizou no corpo social onde ele se estabeleceu todas as partilhas que já haviam sido feitas, todas as partilhas de marginalidade concernentes às raças, às doenças, às anomalias – sexuais, marginalidade da delinquência, etc.

Quando o fascismo funcionou, o foi sobre essa base pré-existente; e é bem verdade que suprimido o nazismo, apareceram então nas sociedades liberais, mas justamente com um valor de escândalo, uma vez que já tinham sido utilizados pelo fascismo, todos esses elementos de base, dos quais o fascismo se serviu. Esses elementos de base haviam sido, até aí, tolerados, aceitos e mesmo não tendo sido percebidos, faziam de qualquer modo parte da trama contínua da existência cotidiana. E, depois, após terem sido utilizados pelo fascismo, como resultado, como vocês sabem, se tornaram estritamente intoleráveis.

O exemplo mais simples e o mais famoso é bem entendido o campo de concentração. O campo de concentração, que foi até um certo ponto a forma máxima, paroxística do fascismo, quando o campo de concentração, […] denunciado, fotografado, suprimido e solenemente suprimido desapareceu do horizonte europeu, o que se encontrou? Se encontrou os asilos, se encontrou os hospitais, se encontrou a unidade de confinamento. E a problemática do confinamento, do confinamento psiquiátrico, do confinamento dos anormais, etc., essa problemática apareceu na Europa sob a repercussão mesma do fascismo.

Não podemos esquecer de Charles Bettelheim, que na sua prática foi um daqueles que mais radicalmente pôs em questão o confinamento psiquiátrico de crianças, foi alguém que saiu dos campos de concentração. Pelo filtro do fascismo apareceu em nossas sociedades – aquilo que escandaliza em nossas sociedades – todo um conjunto de poderes excessivos, de pequenas violências, de dominações intoleráveis, de persistências absurdas, toda uma série de dissimetrias micropolíticas que se exerciam há um longo tempo e com toda tranquilidade, por meio da medicina, da psiquiatria, da escola, da família, da justiça penal, da potência marital, do sexismo machista, tudo o que vocês queiram.

Nos grupos esquerdistas, atualmente, se fala de bom grado do fascismo do psiquiatra, do professor que vos cola a um exame. De minha parte, creio que é preciso dizer que é muito bonito tentar liberar a inserção psiquiátrica do fascismo nas sociedades europeias, seu enraizamento escolar, o apoio que ele pôde ter na medicina, na família, no sistema judiciário. Ditadura sangrenta da fração mais reacionária do grande capital? Talvez, em uma extremidade.

Mas, na outra extremidade […] o que torna possível o fascismo não é essa ditadura sangrenta, é alguma coisa bem menor ou bem pior como vocês queiram, é a subjugação abafada, que se exerce silenciosamente na amplitude mais profunda do corpo social. Em suma, a desaparição do fascismo institucional, do grande fascismo histórico e sangrento, deixou aparecer atrás dele uma massa de poderes excessivos, de violências intrafamiliares, parecidos com ele, que o prepararam e sobrevivem a ele. Penso que um dos pares que fez aparecer atualmente o problema dos micropoderes foi, pois, a existência e o colapso do fascismo.


*Michel Foucault (1926-1984) foi professor de filosofia na cátedra História dos Sistemas do Pensamento no Collège de France. Autor, entre outros livros, de O nascimento da biopolítica (Martins Fontes). [https://amzn.to/4jlokJo]

Tradução: Ernani Chaves.

Nota do tradutor: 

[i] A notação (…) significa palavras inaudíveis, devido à problemas com a gravação.

Boletim do CDS sobre a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia: situação em 20 de janeiro de 2025

 Alguns poucos seguidores meus no blog Diplomatizzando, eventualmente no Facebook, onde posto alguns resumos sobre a barbárie de Putin contra a Ucrânia me perguntam por vezes onde me informo sobre a situação. Tenho várias fontes, sendo a principal o CDS, abaixo reproduzido o seu boletim deste dia 20 de janeiro. Mas também recebo os alertas diários da Al Jazeera, chamadas da Times Radio, postagens no YouTube do site Hoje no Mundo Militar, e várias outras fontes em todos os periódicos que recebo diáriamente. Também recebo, leio e jogo fora, alguma propaganda russa e brasileira paga pelo Putin, com muita desinformação, o que sei reconhecer.

Recomendo aos interessados que sigam este boletim e os muito fanáticos por guerra que façam alertas no Google, na Al Jazeera e outros boletins de informação, como eu faço.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 20/01/2025

Russia's war on Ukraine. 20.01.25

Operational situation

On the Kursk direction, Russian forces advanced on the eastern outskirts of Kurilovka, near Viktorovka, regrouped near Staraya and Novaya Sorochina, and attacked near Nikolaevo-Daryino and Viktorovka.

The “Siversk” Operational-Tactical Group (OTG) conducted reconnaissance near Mala Loknia and Viktorovka.

On the Kharkiv direction, Russian forces unsuccessfully advanced near Vovchansk.

On the Kupyansk direction, Russian forces attacked near Stroyivka, advanced north of Topoli, southwest of Stepova Novoselivka, and from Vyshneve to Zelenyi Hai. They attacked near Petropavlivka, Pishchane, Kolisnykivka, Zahryzove, Lozova, Nadiia, Pershotravneve, Kopanky, Novoyehorivka, and Novoserhiyivka.

On the Lyman direction, Russian forces advanced further west from Ivanivka and south of Terny, attacked near Novosadove, Novolyubivka, Kolodyazi, Zelena Dolyna, Zarichne, and the Serebriansk Forest.

Ukrainian Defense Forces conducted a successful counterattack.

On the Siversk direction, Russian forces unsuccessfully attacked near Verkhnokamianske and Ivano-Dariivka.

On the Kramatorsk direction, Ukrainian Defense Forces regained lost positions at the refractory materials plant in the center of Chasiv Yar and repelled assaults within the plant's territory.

Russian forces advanced along Tolstoy Street in Chasiv Yar, captured the "Novopivnichnyi" and "Desiatka" districts, and attacked near Predtechyne, Stupochky, and Bila Hora.

On the Toretsk direction, Ukrainian Defense Forces regained lost positions in southern Shcherbynivka.

Russian forces advanced north to the Toretsk mine area and northwest along Stepana Razina Street in the western part of the city, attacking near Dyliivka and Shcherbynivka.

On the Pokrovsk direction, Russian forces captured Kotlyne, but fighting continues in the northern part of the village. The enemy captured Mine No. 2 near Kotlyne, advanced and entrenched on the northern outskirts of Uspenivka, entered Novoandriivka, moved toward Sribne, and captured Vozdvyzhenka.

The enemy attacked near Pokrovsk, Zelenyi Polia, Baranivka, Tarasivka, Vodyane Druhe, Myroliubivka, Myrnohrad, Yelyzavetivka, Oleksandropil, Promin, Lysivka, Kotlyne, Zvirove, Udachne, Uspenivka, Nadiivka, Novotroitske, Zelenyi, and Shevchenkove. They carried out airstrikes with KAB bombs with UMPC near Kotlyne. Fighting continues on the western line of Novoukrainka–Lysivka–Sukhy Yar and for the heights near Zelenyi and Dachenske.

On the Novopavlivka direction, Russian forces slightly advanced southwest of Stari Terny and attacked near Slovyanka, Petropavlivka, Konstyantynopil, Andriivka, Dachne, Ulakly, and Yantarne.

Ukrainian Defense Forces counterattacked near Dachne and Zelenivka.

On the Vremivka direction, Russian forces made minor advances on the eastern outskirts of Velyka Novosilka and northeast of Velyka Novosilka, storming from positions in Shakhtarske toward Velyka Novosilka.

On the Prydniprovskyi direction, Ukrainian Defense Forces carried out a missile strike and destroyed a Nebo-SVU radar station in Kherson Oblast.

General conclusion:

  • Russian forces prioritize advancing on the Pokrovsk direction and attempt to exploit vulnerabilities in the defenses of the Armed Forces of Ukraine west of Pokrovsk.

  • Ukrainian Defense Forces have largely withdrawn from Toretsk but still hold positions in Krymske north of it and select positions on its western outskirts. The city is effectively occupied by the enemy. After grueling urban battles, the enemy's 3rd Combined Arms Army lacks reserves to continue the offensive.

  • Russian forces hold positions on the northern and eastern outskirts of Uspenivka. The pace of their advance in Uspenivka is similar to their progress near Nadiivka, Novoandriivka, and Sribne, as it takes them several days to capture small villages consisting of just two or three streets.

  • Russian forces attacking and slowly advance in the southern, eastern, and western parts of Velyka Novosilka, taking advantage of challenging weather conditions.

Change in the line of contact (LoC):

  • There were 189 combat engagements on various fronts.

  • On the Kharkiv direction, supported by aviation, the enemy attempted three times to breach Ukrainian defensive lines near Vovchansk.

  • On the Kupyansk direction, there were 13 enemy attacks. Ukrainian Defense Forces repelled assault actions near Stroyivka, Pishchane, Kolisnykivka, Zahryzove, Kutkivka, Nova Kruhlyakivka, and Lozova.

  • On the Lyman direction, the enemy attacked 17 times, attempting to break through defenses near Novoyehorivka, Nadiia, Novoserhiyivka, Pershotravneve, Zelenyi Hai, Makiivka, Novosadove, Zarichne, Kolodyazi, Zelena Dolyna, Terny, and in the Serebriansk Forest.

  • On the Siversk direction, the enemy carried out offensive actions in the areas of Ivano-Dariivka and Verkhnokamianske, with a total of 2 attacks repelled.

  • On the Kramatorsk direction, the occupiers attacked 7 times in the areas of Chasiv Yar and Bila Hora.

  • On the Toretsk direction, the enemy conducted 19 attacks near the settlements of Toretsk, Dyliivka, and Shcherbynivka.

  • On the Pokrovsk direction, Ukrainian Defense Forces stopped 89 enemy assault actions toward Zelene Pole, Oleksandropil, Vodyane Druhe, Yelyzavetivka, Myroliubivka, Promin, Lysivka, Myrnohrad, Pokrovsk, Zvirove, Shevchenko, Udachne, Uspenivka, Kotlyne, Nadiivka, Novotroitske, Novoandriivka, Slovyanka, Petropavlivka, Andriivka, Dachne, Ulakly, and Yantarne.

  • On the Novopavlivka direction, the enemy carried out 16 attacks in the directions of Konstyantynopil and Velyka Novosilka. Additionally, aviation was actively used.

  • On the Orikhiv direction, the occupation forces stormed the positions of the Ukrainian Defense Forces once in the area of Novoandriivka.

  • On the Prydniprovskyi direction, Ukrainian Defense Forces are making efforts to prevent the enemy from advancing deeper into Ukrainian territory, successfully repelling two enemy offensive actions

  • In the Black Sea-Azov naval operational area, the enemy naval group on combat duty consists of:

    • Mediterranean Sea: 6 ships, including 2 cruise missile carriers; the total salvo is 22 cruise missiles.

Supporting operation:

  • Ukrainian Defense Forces carried out airstrikes on the "Bryansknefteprodukt" oil depot, part of the "Rosneft" corporation, in the city of Klintsy, Bryansk Oblast; on the Gorbunov Kazan Aviation Plant, the sole producer of strategic bombers; and on the Kazan Helicopter Plant.

Possible operation situation developments:

  • The enemy command's plan for the Southwestern Theater of Military Operations during the winter campaign of 2025 may include an operation to capture Pokrovsk and the final occupation of Toretsk, Chasiv Yar, and Vovchansk. Another possible course of action could be the occupation of Kupyansk or simultaneous actions in several directions.

  • On the Kramatorsk direction, the "Khortytsia" OSG units will be forced to retreat to the Kostyantynivka area if the enemy reaches the Chervone–Stupochky line and simultaneously launches an offensive northward at the junction of its 41st and 51st Combined Arms Armies from the Novooleksandrivka–Arkhanhelske line, advancing to the Yablunivka–Oleksandro-Kalynove line on the Toretsk direction.

  • The enemy’s offensive on Pokrovsk may proceed according to two main scenarios:

    • A breakthrough to the city from the south and the gradual expulsion of Ukrainian Defense Forces from the city due to numerical superiority in forces and means (the enemy's tactics in Chasiv Yar).

    • A deep encirclement of Pokrovsk from the south, cutting the road to Mezhova, regrouping part of the 2nd Combined Arms Army's forces, encircling the city from the north as well, cutting the T0504 road to Kostyantynivka.

  • The 36th, 57th, and the 114th Separate Motorized Rifle Brigades, advancing from the south towards Sukhyi Yaly and Yantarne, might simultaneously, together with the actions of the 51st and 8th Combined Arms Armies, once again attempt to break through in the direction of Zelenivka – Ulakly and further towards Konstyantynopil.

  • Ukrainian Defense Forces will have to completely withdraw from the remnants of the Kurakhove bridgehead, engaging in fierce rear-guard battles, as the prospects of holding it worsen gradually with the enemy's steady advance in the zones of the 90th Tank Division and the 110th Separate Motorized Rifle Brigade.

Russian operational losses from 24.02.22 to 20.01.25

Personnel - almost 820,430 (+1,690);

Tanks 9,821 (+10);

Armored combat vehicles – 20,454 (+42);

Artillery systems – 22,074 (+19);

Multiple rocket launchers (MLRS) – 1,262 (0);

Anti-aircraft warfare systems – 1,049 (+3);

Vehicles and fuel tanks – 34,488 (+87);

Aircraft - 369 (0);

Helicopters – 331 (0);

UAV operational and tactical level – 22,768 (+153);

Intercepted cruise missiles – 3,051 (0)

Boats/ships – 29 (0).

Humanitarian + general:

  • On the night of January 20, Russian occupying forces attacked Ukraine with 141 strike drones. Air defense shot down 93 of them, 47 drone decoys were lost from radar, and two returned to the territory of the aggressor.

  • In Sumy Oblast, the enemy launched a missile strike on the Shostka community. As a result of the attack, residential multi-story buildings and an infrastructure facility were damaged. Preliminary reports indicate no casualties.

  • During the night of January 20, the enemy shelled a non-operational thermal power station belonging to PJSC "Centrenergo." The station had previously been completely destroyed by shelling. No injuries were reported.

  • Russian forces attacked Kherson Oblast with drones and artillery on the morning of January 20. A man in a shuttle bus was injured in the Tekstilnyi area of Kherson.

  • This morning, Russian troops shelled the village of Stepanivka in the Kherson community, injuring a 39-year-old woman. Additionally, Russian forces attacked a bus with a drone in the Dnipro district of Kherson, injuring the driver.

  • Around 11 p.m. on January 19, Russia dropped three guided bombs on the village of Zolochiv in Kharkiv Oblast. The strike destroyed three private houses, damaged 15 houses, utility structures, two cars, three shops, and power grids. Two people were injured.

  • An occupation "court" in the so-called "DNR" sentenced "Azov" fighter Ruslan Minagulov to 24 years in a maximum-security penal colony. The occupation authorities accused him of "cruel treatment of the civilian population" and the murder of more than two individuals.

  • As of January 20, the unified and state registers of the Ministry of Justice of Ukraine were restored after a large-scale cyberattack by Russia on December 19, 2024.

  • During Russia's full-scale invasion of Ukraine, at least 1,666 Russian soldiers from units stationed in occupied Crimea have died. Most of them were likely Ukrainian citizens, according to the Representative Office of the President of Ukraine in the Autonomous Republic of Crimea.

  • Ukrainian law enforcement agencies have in absentia issued charges against the directors of eight schools located in temporarily occupied territories of Zaporizhzhia and Kherson Oblasts for implementing educational programs according to Russian standards.

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Curso de Direito Internacional da OEA no RJ - agosto de 2025

 O Departamento de Direito Internacional da Secretaria de Assuntos Jurídicos da OEA (Organización de los Estados Americanos) anunciou a Convocação para o 50º Curso de Direito Internacional, organizado em conjunto com o Comitê Jurídico Interamericano, que ocorrerá entre os dias 4 e 15 de agosto de 2025, na cidade do Rio de Janeiro, Brasil.🇧🇷 

👉🏼Durante 50 anos, o Curso de Direito Internacional tem oferecido aos advogados e internacionalistas das Américas a oportunidade de estimular a análise e gerar um diálogo aberto sobre temas de relevância atual no âmbito do direito internacional em geral e do Sistema Interamericano em particular. Os estudantes tem a oportunidade de interagir em um ambiente acadêmico com os mais destacados internacionalistas e especialistas em relações internacionais, incluindo juízes de tribunais internacionais, membros do Comitê Jurídico Interamericano, professores de direito internacional público e privado das Américas e Europa, diplomatas, bem como funcionários de diversos organismos internacionais.

‼️As vagas são limitadas, por isso os interessados são convidados a apresentar sua candidatura o mais rápido possível. O prazo para envio das candidaturas é sexta-feira, 7 de março de 2025. Posteriormente, será realizado um processo de seleção e os candidatos admitidos serão notificados na sexta-feira, 21 de março de 2025.

👉🏼Entre os requisitos para participar, é necessário possuir um diploma universitário em direito ou relações internacionais e, pelo menos, dois anos de experiência profissional relevante.

Detalhes da convocação estão disponíveis em:

🔗https://lnkd.in/euuPXw7E 

A Oxfam é uma piada: ela acha que dá para eliminar a pobreza no mundo distruindo a riqueza dos bilionários - Blog do Marcelo Guterman

 

É só uma caricatura

A Oxfam, aquela ONG britânica que existe para nos lembrar que o capitalismo é um sistema econômico tão perverso que só pode ter sido inventado pelo tinhoso em pessoa, divulgou hoje, em Davos, o seu já tradicional relatório sobre a desigualdade global. Segundo o relatório, a soma dos patrimônios dos bilionários soma, agora, US$ 15 trilhões, contra US$ 13 trilhões há apenas um ano, o crescimento mais rápido da história. Isso fez com que a ONG previsse a existência de nada menos que 5 trilionários daqui a 10 anos. Só não fiquei mais alarmado do que quando leio relatórios sobre o aquecimento global. Aliás, está aí um estudo interessante, a correlação entre o número de bilionários e a temperatura do planeta. Perdão, divago.

A divulgação do relatório, coincidentemente ou não, se dá no dia da posse de Donald Trump. Esta coincidência é lembrada em dois trechos da reportagem. Em ambos, menciona-se o bilionário Trump e seu fiel escudeiro, o homem mais rico do mundo, Elon Musk, como símbolos dessa criminosa concentração de renda. Os Estados Unidos estariam agora liderando o que de pior o capitalismo produziu ao longo dos séculos. 

Só tem um probleminha com esse simbolismo: segundo levantamento da Forbes, 83 bilionários apoiaram Kamala Harris, contra 52 que apoiaram Trump. E entre os apenas milionários, 57% apoiaram Kamala, contra 43% que apoiaram Trump.

Segundo a revista, os bilionários viam na democrata alguém que “daria continuidade a políticas previsíveis que apoiariam o império da lei, a estabilidade e um ambiente de negócios saudável”. Ou seja, os bilionários consideravam Harris como a mais indicada para manter um ambiente em que… as suas fortunas cresceriam ainda mais! Aliás, não custa lembrar que em 2024, ano em que os bilionários amealharam US$ 2 trilhões adicionais, o presidente era ainda Joe Biden.

Ok, alguns bilionários devem ter votado em Kamala para aliviar um pouco o seu peso de consciência por serem bilionários. Mas não tenho dúvida de que a maioria estava fazendo uma conta de vantagens/desvantagens em relação aos seus próprios interesses. Assim, Trump pode até servir como uma caricatura da concentração de renda, mas quem votou nele foi a classe média baixa, não os bilionários.

A Oxfam, como toda organização de esquerda, acha que fala em nome dos pobres. Isso sim, é só uma caricatura.

Blog do Marcelo Guterman é uma publicação apoiada pelos leitores.

O patrimonialismo continua impérvio: gastos com o G20 Social foram maiores que o próprio G20

ESTATAIS GASTARAM ATÉ R$ 83,45 MILHÕES COM G-20 E ‘JANJAPALOOZA’, MOSTRAM DOCUMENTOS

BRASÍLIA – Empresas estatais brasileiras pagaram até R$ 83,45 milhões para a REALIZAÇÃO DA CÚPULA DO G20 e do festival com show de artistas que ficou conhecido como “Janjapalooza”. As informações estão no acordo de cooperação internacional firmado pelo Banco do Brasil (BB), a Caixa Econômica Federal (Caixa), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Petrobras com a Organização dos Estados Ibero-americanos.


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