O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

sábado, 23 de fevereiro de 2013

O Brasil e o NAO crescimento economico...

Ainda um texto antigo (2006) debatendo um problema perfeitamente atual: a incapacidade de o Brasil manter uma taxa de crescimento compatível com as necessidades e expectativas da população, e do próprio governo.
Existem muitas razões, mas elas podem ser resumidas assim: o Brasil cresce pouco, porque investe pouco, e o Brasil investe pouco porque tem pouca poupança, e o Brasil tem pouca poupança porque o governo perpetra despoupança, através todos os mecanismos perversos de extração de renda da sociedade. Existem muitos erros, também, de política econômica, mas estes são os báisicos, estruturais. Enquanto não nos convencermos que um Estado despoupador é uma receita para o desastre, não vamos crescer...
Paulo Roberto de Almeida 

Uma verdade inconveniente 

(ou: por que o Brasil não cresce 5% ao ano...)

 
Paulo Roberto de Almeida  
Revista Espaço Acadêmico, n. 67, dezembro de 2006
 
Durante a campanha presidencial de 2006, e nos dias que se seguiram à vitória do presidente-candidato, muito se falou sobre a intenção de fazer o Brasil crescer mais, isto é, de ser acelerado o crescimento econômico. Chegou-se a citar a cifra – não se sabe se mágica, ou apenas anódina, em vista de taxas bem maiores nos demais emergentes – de 5% anual como índice aceitável, ou até mesmo necessário, para o crescimento do PIB.
Com todo o respeito por promessas eleitorais ou mesmo por projetos de governo, uma verdade inconveniente precisaria ser afirmada: o Brasil, caso único entre os países emergentes, atende a todos os requisitos para, justamente, NÃO crescer. A intenção deste breve ensaio é a de demonstrar como e por que o Brasil não pode atender aos objetivos proclamados de uma taxa mais rápida de crescimento econômico, por uma razão simples: ele NÃO consegue crescer e a causa está nos níveis elevados de despesas  públicas.
Em economia não existem certezas absolutas, apenas relações matemáticas que podem apresentar algum grau de correlação com a realidade, ou seja, mesmo não sendo verdades científicas, elas podem ser comprovadas empiricamente. Entre essas correlações encontram-se as conexões entre taxas de investimento e taxas de crescimento, a relação capital-produto (que varia muito setorialmente), os vínculos entre a competitividade das exportações e a taxa de câmbio, efeitos inflacionários da paridade cambial, aqueles sobre a demanda agregada derivados das políticas monetária, fiscal e tributária, bem como variações nos níveis de emprego em função de encargos laborais compulsórios ou outras medidas (inclusive a taxação sobre o lucro das empresas e a renda dos agentes privados).
Não se sabe bem de onde foi tirada a cifra “mágica” de 5% de crescimento, mas o que pode, sim, ser afirmado, é que, com uma taxa de investimento anual inferior a 20% do PIB, é virtualmente impossível fazer a economia brasileira crescer mais do que 3% ao ano. Se o Brasil deseja crescer mais do que isso, vai ter de aumentar consideravelmente o nível dos investimentos, o que não quer dizer, necessariamente, a poupança doméstica – pois esta pode ser suplementada pela poupança externa, ou até aumentar no bojo do próprio processo de crescimento –, mas o certo é que o País precisaria diminuir, muito e rapidamente, o nível da “despoupança” estatal, que consome os recursos dos particulares no estéril jogo das despesas públicas.
Uma das evidências mais notórias da política econômica nas últimas décadas, tal como demonstrada por exercícios feitos a partir de estatísticas dos países da OCDE, é a que vincula o nível das despesas públicas nacionais com as taxas de crescimento anual. Em estudo sobre as causas dos diferenciais de crescimento entre as economias da OCDE ao longo de 36 anos a partir de 1960, o economista James Gwartney, da Florida State University (http://garnet.acns.fsu.edu/~jgwartne/), demonstra a existência de uma correlação direta entre crescimento econômico e carga tributária. A explicação para esse fenômeno é tão simples quanto corriqueira: quanto maior o nível da punção fiscal sobre a sociedade, menor é o incentivo para que os agentes econômicos se disponham a oferecer uma contribuição positiva para a sociedade; em contrapartida, quanto mais alta a carga tributária, mais e mais recursos fluem dos setores produtivos para o aparato do governo.
Para aqueles ainda não convencidos por esta simples correlação matemática, ou meramente empírica, recomenda-se uma consulta a este trabalho de Gwartney, junto com J. Holcombe e R. Lawson: “The Scope of Government and the Wealth of Nations”, The Cato Journal (Washington: vol 18, nr. 2, outono de 1998, p. 163-190; disponível no link: http://garnet.acns.fsu.edu/~jgwartne/scope_of_govt_gwartney.pdf). A figura 2, à p. 171, contém a evidência da correlação apontada: a taxa média anual de crescimento do PIB, entre 1960 e 1996, para os países de carga fiscal inferior a 25% do PIB foi de 6,6%, ao passo que o mesmo índice para os países com carga superior a 60% do PIB foi de 1,6%.
Recentemente, o economista Jeffrey Sachs, da Columbia University, enfatizou as supostas virtudes do “modelo escandinavo” de desenvolvimento: em um curto artigo, quase uma nota, “The Social Welfare State, beyond Ideology” (Scientific American, 16/10/2006, link: http://www.sciam.com/print_version.cfm?articleID=000AF3D5-6DC9-152E-A9F183414B7F0000), ele afirma expressamente que “Friedrich von Hayek was wrong” e que o modelo nórdico, baseado na forte presença do Estado, é superior ao modelo anglo-saxão (que produz mais crescimento do que o modelo econômico adotado na Europa continental). Para azar de Sachs, um economista efetivamente preocupado com a promoção do desenvolvimento na África, ele já tinha sido desmentido previamente por um trio de belgas, Martin De Vlieghere, Paul Vreymans e Willy De Wit, que assinaram conjuntamente o artigo “The Myth of the Scandinavian Model”, publicado no The Brussels Journal (25/11/2005; link: http://www.brusselsjournal.com/node/510).
Uma consulta à página do site da instituição que patrocinou o estudo que fundamenta esse artigo, o think tank belga Work for All (http://www.workforall.org/html/faq_en.html), traz comprovações aplastantes sobre o sucesso do modelo irlandês de crescimento econômico – baseado, justamente, em baixas taxas governamentais sobre o lucro das empresas e sobre o trabalho –, em contraste com o medíocre desempenho das economias escandinavas ou continentais, todas apresentando altos níveis de despesas. Ou seja, a existência de um grande Estado indutor e de redes generosas de proteção social estão, de fato, contribuindo para o lento declínio dessas sociedades, outrora bem mais prósperas.
A explosão de crescimento na Irlanda, a uma taxa superior a 5% ao ano nas duas últimas décadas, continuou sustentada, mesmo quando o desempenho econômico geral da UE começou a diminuir ao longo dos anos 1990. Alguns argumentos tendem a fazer crer que as altas taxas de crescimento experimentadas pela Irlanda, ou pela Espanha, em determinados períodos, são devidas aos abundantes subsídios comunitários, que irrigaram essas economias com pesados investimentos em infra-estrutura ou diretamente em setores produtivos. As evidências, porém, demonstram que a Irlanda – que efetivamente recebeu transferências de Bruxelas a partir de seu ingresso na então Comunidade Européia, em 1972, já que o país ostentava então metade da renda per capita da média comunitária – começou a crescer apenas a partir de 1985, quando ela reformou inteiramente sua estrutura tributária, no sentido de aliviar a carga sobre as empresas e o trabalho, e quando, justamente, os subsídios europeus começaram a diminuir.
Outras regiões deprimidas da Europa, como a Valônia belga, ou a Grécia, receberam igualmente, subsídios generosos, com efeitos muito limitados sobre as taxas de crescimento, em virtude, justamente, de aspectos negativos em outras vertentes, entre eles o nível das despesas governamentais. Um eloqüente gráfico comparativo entre o desempenho da Bélgica e da Irlanda, inserido no site do think tank (http://workforall.net/English/size_of_government.gif), ilustra à perfeição que a elevação da taxa de crescimento da Irlanda começou, precisamente, em 1985, quando o país reduziu sua carga fiscal.
Como evidenciado nesses trabalhos de pesquisa empírica, a conclusão de que governos desmesurados prejudicam o crescimento e que altas alíquotas tributárias sobre a renda e o trabalho são os impostos mais distorcivos de todos – em oposição aos impostos sobre o consumo – não está apoiada apenas na comparação entre dois únicos países, mas deriva de análises científicas de regressão múltipla com muitos países (o estudo está neste link: http://workforall.net/Tax_policy_and_Growth_differentials_in_Europe.pdf; o resumo neste aqui: http://workforall.net/EN_Tax_policy_for_growth_and_jobs.html).
No caso do Brasil, infelizmente, todos sabem dos níveis anormalmente elevados da carga fiscal e das despesas públicas, que nos colocam, inevitavelmente, na faixa dos países impossibilitados de crescer mais de 3% ao ano. Como vem demonstrando, desde longa data, o economista Ricardo Bergamini, o Brasil vive um verdadeiro “manicômio tributário” (http://www.rberga.kit.net/ap/pr/pr39.html), com uma profusão de impostos atingindo justamente os setores produtivos. Adicionalmente, uma parte significativa da renda dos não tributados diretamente, isto é, as faixas dos cidadãos mais pobres, também é extraída compulsoriamente pelo Estado sob a forma de impostos sobre os produtos e serviços, em níveis muito elevados no Brasil, em comparação com outros países. Como resume esse economista, o Brasil amargou sucessivas quedas no crescimento, desde as fases de alta expansão do PIB, nos anos 1950 a 1980, até os anos de relativa estagnação no período recente, como se pode verificar na tabela abaixo: 

Taxa média anual de crescimento do PIB, 1952-2005 (%)
períodos 1952/63 1964/84 1985/89 1990/94 1995/02 2003/05
média-ano 6,99 6,22 4,39 1,18 2,33 2,60
Fonte: IBGE (elaboração Ricardo Bergamini: http://www.rberga.kit.net/)
Evidências adicionais sobre os problemas fiscais, tributários e de má alocação dos recursos coletados pelo Estado brasileiro junto aos únicos produtores de riqueza do país, que são os agentes econômicos privados – empregadores e trabalhadores –, estão contidas num livro que acaba de ser publicado sob a coordenação do economista Marcos Mendes: Gasto Público Eficiente: 91 propostas para o desenvolvimento do Brasil (Rio de Janeiro: Topbooks, Instituto Fernand Braudel, 2006). O capítulo 2 desse livro, assinado pelos economistas Cláudio D. Shikida e Ari Francisco de Araújo Jr. (do Ibmec-MG) – “Por que o estado cresce e qual seria o tamanho ótimo do estado brasileiro?”, p. 71-95 –, demonstra como o Estado vem crescendo exageradamente nos últimos vinte anos, no Brasil, um período de apenas 2,5% de crescimento médio anual do PIB (e de 1% de crescimento do PIB per capita). Durante o mesmo período, a maior economia do planeta, os EUA – que saíram de um PIB de 3 ou 4 trilhões de dólares para alcançar a casa dos 13 trilhões de dólares –, mantiveram-se, com algumas variações, em torno do mesmo patamar de carga fiscal, de aproximadamente 29% do PIB (contando ainda com encargos reduzidos sobre a folha de salários das empresas). A tabela abaixo resume alguns dos dados apresentados nesse trabalho:
Carga Tributária sobre o PIB, EUA e Brasil
(anos selecionados, % do PIB)
Anos
EUA
Brasil
1964
27
17
1970
30
26
1980
30
24
1985
30
24
1988
31
22
1990
31
29
1993
30
26
1995
32
29
1998
30
33
2000
34
33
2002
30
36
2004
29
36
Fontes: EUA: Tax Foundation (2004); Brasil: diversas, in Shikida-Araujo Jr., op. cit., p. 94.

Com base nas evidências disponíveis, Shikida e Araújo Jr. chegam à conclusão de que o ponto “ideal” da carga fiscal, nas condições brasileiras, não deveria ser superior a 32% do PIB. Registre-se, apenas, que a média para os países emergentes situa-se em 28% do PIB, sendo que países de maior crescimento ostentam taxas de 17% (China) ou de 18% (Chile) do PIB, ao passo que os ricos países europeus, que crescem abaixo de 3%, estão na faixa de 38% do PIB (que é a ostentada atualmente pelo Brasil, mas com tendência a um crescimento ainda maior), com picos acima de 50% para os já referidos escandinavos (estes, que saíram de altos patamares de renda per capita, vêem declinando lentamente, alinhando-se com as médias “normais” dos países da OCDE).
Em síntese, a única conclusão possível a ser retirada dessa abundância de dados quantitativos e de análises qualitativas sobre as condições objetivas e os requerimentos do crescimento econômico seria mesmo esta: o Brasil é um país excepcionalmente bem preparado para NÃO CRESCER. Verdades inconvenientes como estas merecem ser repetidas, até que os principais decisores e a própria população tomem consciência dos fatores impeditivos ao crescimento brasileiro e resolvam contribuir para a construção de um consenso que se torna cada vez mais necessário para a definição de uma agenda de desenvolvimento nacional: ou o Brasil diminui o peso excessivo do Estado sobre os cidadãos ativos e as empresas, ou o Estado continuará a pesar sobre a taxa de crescimento do país. Não há como escapar a essa verdade inconveniente... 

Hora da saudade: desarmamento nuclear (ou, eramos felizes e nao sabiamos)...

De vez em quando, eu tropeço, literalmente, com algum texto antigo, do qual sequer me lembrava mais (essa mania de escrever demais, e de publicar em pasquins obscuros).
O texto abaixo, por exemplo, foi suscitado por um desses discursos chatos que todo ano o Brasil pronuncia na abertura do debate da AGNU (ainda que tenha sido feito em foro paralelo, não importa, o teor é o mesmo), que muita gente considera importante (deve ser), mas que eu não consigo levar a sério (que coisa!), pelo simples fato de que ele repete um ritual por demais conhecido, com o alinhamento, o realinhamento, a retomada, à la Lavoisier, dos mesmos argumentos dos tempos da pedra da diplomacia universal. Sinto muito, mas essa coisa toda já está ficando enfadonha, ou seja repetitiva, dormitiva, um sério concorrente ao Valium (copyright)...
Este aqui, por exemplo, trata do mais grave problema da humanidade. Acreditam? Não?
Incrédulos...
Paulo Roberto de Almeida

Digressões contrarianistas sobre o desarmamento nuclear, por Paulo Roberto de Almeida


4 Votes

Destaco duas frases, apenas, do discurso da presidente, na reunião de alto nível da ONU sobre Segurança Nuclear, em 22/09/2011:
O desarmamento nuclear é fundamental para a segurança, pilar do Tratado  de Não Proliferação cuja observância as potências devem ao mundo”.
“É importante ter num horizonte previsível a eliminação completa e irreversível das armas nucleares“.
Confirmando minha vocação a ser um contrarianista — posição que assumo voluntariamente, de conformidade com meu espírito desconfiado, feito de ceticismo sadio em relação a quaisquer argumentos que se me apresentem como verdades incontestáveis — formulo aqui algumas dúvidas em relação a estas frases.
Por que o desarmamento nuclear seria fundamental para a segurança internacional?
Ele é, de fato, o “pilar do Tratado de Não Proliferação”?
Respondo de imediato a esta segunda questão por um sonoro NÃO.
Não, o desarmamento nuclear não éo, ou sequerumpilar, do TNP, ainda que possa nele aparecer de forma preeminente. Nem de longe, contudo, ele é o que diz que pretende ser, e basta conhecer um pouco da história, das realidades geopolíticas, para chegar à conclusão simplória de que a frase fatídica, sobre o desarmamento dos nuclearmente armados, figura ali apenas como figuração, justamente, para contentar os ingênuos, ou incautos, e impedir que eles protestassem em demasia contra um “tratado iníquo e discriminatório”, como proclamava a diplomacia brasileira nos “bons velhos tempos” (isto é, quando posávamos de “machos”, de contrarianistas, se ouso dizer, contra a hipocrisia dos poderosos, quando a gente acreditava que eles queriam “congelar o poder mundial”, no que aliás continuamos acreditando ainda hoje, nessa interminável repetição de slogans).
O pilar do TNP é a não-proliferação, ou seja, barreiras contra o armamentismo nuclear dos ainda não nucleares, ponto. Isso é tudo.
Os três grandes — na ausência de dois outros nucleares à época, China e França — arranjaram entre si um instrumento para bloquear o acesso às armas nucleares aos eventualmente desejosos de fazê-lo, prometeram cooperação nuclear para fins pacíficos — o que é feito a conta-gotas, e sob estritas condições — e ofereceram como cenoura o tal de desarmamento nuclear deles próprios.
Alguém acredita nisso?
Pode ser que sim, talvez o Itamaraty, que vive cobrando essa parte do Tratado desde que a ele aderiu em meados dos anos 1990.
Alguém acredita que seria possível colocar o gênio dentro da garrafa outra vez? Que as potências nucleares vão de fato desarmar?
Isso é possível? Respondo novamente por um sonoro não.
Ninguém consegue “desinventar” uma tecnologia. Ninguém se priva de uma segurança que foi conquistada a duras penas, e que se busca justamente manter exclusiva, única, assimétrica.
O TNP é apenas um tratado do desarmamento nuclear dos outros, ponto.
Venho agora à pergunta mais importante:
Seria verdade que o desarmamento nuclear é fundamental para a segurança internacional?
Não creio que a presidente tenha formulado ela mesma esse argumento. Ela simplesmente o comprou do Itamaraty, que colocou tal frase no discurso porque isso faz parte da ideologia diplomática, ou das ilusões diplomáticas — não apenas brasileiras, diga-se de passagem — nos últimos 50 anos, ou mesmo mais.
Alguém já parou para pensar — e nesse processo desmantelou algumas ilusões diplomáticas — de que pode ser exatamente o contrário: que as armas nucleares aumentaram a segurança mundial, e evitaram muitas mortes que de outra forma seriam inevitáveis?
Pensem um pouco — enfim, apenas os que desejarem realmente pensar — e perguntem comigo:
Se não existissem armas nucleares, o que existiria?
Provavelmente as mesmas armas que tínhamos ao final da Segunda Guerra Mundial, um pouco (ou bastante) mais aperfeiçoadas: tanques, canhões, bombardeiros, granadas, minas, mísseis, lança-chamas, fuzis, baionetas, estilingues, etc., etc., etc.
Ou seja, nada que pudesse deter um dirigente maluco de deslanchar uma guerra contra um outro país, na medida em que se tratavam de “armas normais”, de tecnologias dominadas e, com exceção de um ou outro componente mais aperfeiçoada (fortalezas voadoras, por exemplo, ou mísseis de longo alcance), tudo poderia ser mobilizado por qualquer país que tivesse uma base industrial medianamente desenvolvida.
Afinal de contas, Hitler deslanchou sua guerra em duas frentes com base nesses mesmos meios, ainda que desejasse, rapidamente, dispor de mísseis mais poderosos e que seus cientistas apostassem, furiosamente, no domínio da tecnologia nuclear, já teoricamente disponível em sua época.
Sorte nossa que ele não conseguiu, pois imaginem vocês se Hitler tivesse submetido a Grã-Bretanha, neutralizado os EUA, destruído a Rússia de Stálin, e se estabelecido como o grande ditador de todos os tempos, um Gengis Khan moderno, com a colaboração acintosa de tiranetes como Mussolini e os fascistas-militaristas japoneses, no trabalho de escravizar povos inteiros e colocá-los a serviço da Alemanha nazista?
Que tal a perspectiva?
Alguém iria conseguir um tratado de desarmamento contra Hitler, depois?
Se eu disser, por exemplo, que as duas bombas atômicas americanas sobre o Japão, em agosto de 1945, salvaram vidas, em lugar de aumentar o número de mortos, serei provavelmente “massacrado”, literal ou virtualmente, pelas consciências puras do desarmamentismo nuclear. Não me importa: isto é um fato. As bombas nucleares, por mais horríveis que possam ter sido, salvaram milhares de vidas A MAIS do que as que pereceram no “holocausto” de Hiroshima e Nagasaki. Salvaram centenas de milhares de soldados e civis japoneses, nas frentes de combate e nos bombardeios aéreos devastadores sobre Tóquio e outras cidades japoneses, e salvaram dezenas de milhares de soldados americanos, que teriam de lutar na ponta da baioneta contra soldados fanatizados, que tinham jurado dar a vida pelo Imperador. Elas salvaram vidas, ponto!
Mas, retornemos à questão principal. Em que sentido o desarmamento nuclear tornaria o mundo mais inseguro, não mais seguro?
Ora, isso é evidente pelo próprio fato de que o mundo não deixou de ter guerras depois que as armas nucleares foram inventadas: morreram milhões de pessoas desde 1945, vítimas de minas, de artilharia, de bombardeios aéreos, de napalm, de fuzis, de machetes, de fome, ou de quaisquer outros vetores associados às guerras (civis, étnicas, tribais, religiosas, entre Estados, atentados terroristas, etc.).
O que o mundo deixou de ter, depois de 1945, foram guerras globais, ao estilo napoleônico, mobilizando exércitos nacionais e populações inteiras contra outros exércitos nacionais e outras populações. Ou se ocorreram, foram limitadas, como na Coreia, no Vietnã, no Oriente Médio, sem a confrontação direta das grandes potências, como tivemos na Europa e no mundo desde o Renascimento até 1945, justamente.
Não pretendo elaborar muito a respeito, mas minhas conclusões são tão evidentes, que não creio ser necessário desenvolver meu raciocínio: as armas nucleares trouxeram mais segurança ao mundo, e pouparam vidas, ponto.
Algum matemático historiador, ou algum econometrista geopolítico poderia até fazer os cálculos e, com base em estimativas feitas a partir dos grandes conflitos globais desde a era napoleônica até 1945, avaliar quantos teriam sido os mortos — inocentes ou não, que pereceriam, potencialmente, em mais uma ou duas guerras ao estilo da Segunda Guerra Mundial, sem o recursos às armas nucleares, portanto. Não creio, sinceramente, que teríamos ficado a menos de 50 ou 60 milhões de mortos (por baixo, claro).
Enfim, nem todo mundo precisa de armas nucleares para exterminar pessoas. Mao Tsé-tung, por exemplo, não utilizou arma nenhuma, apenas uma “economia política esquizofrênica”, para eliminar 25 ou 30 milhões de chineses no “grande salto para a frente”, entre 1959 e 1962. Enfim, ele também foi o responsável por mais algumas dezenas, talvez centenas de milhares, durante a “grande revolução cultural proletária”, entre 1965 e 1975, mas pode-se sempre argumentar que muitos mais morreram nos “gulags” normais de Stalin e do próprio Mao, ao longo de seus experimentos totalitários.
Mas imaginemos dirigentes menos responsáveis na posse de armas nucleares em face de confrontos entre grandes Estados? O próprio Mao Tsé-tung, por acaso, dizia não temer as armas nucleares americanas hipoteticamente utilizáveis na guerra da Coreia, demonstrando todo o seu espírito belicoso mais de dez anos antes que a China conquistasse o seu próprio domínio sobre armas nucleares (após o que ela se mostrou mais responsável, mesmo sem ter assinado o TNP, até o início dos anos 1990). Os dirigentes cubanos, igualmente irresponsáveis, estavam dispostos a ir até o fim, no confronto nuclear entre EUA e URSS no caso dos mísseis nucleares soviéticos instalados em Cuba em 1962: Fidel Castro e Ché Guevara estavam dispostos a “testar” armas nucleares contra New York e Washington, mesmo se isso representasse a aniquilação de metade, ou mais, da população cubana (Guevara acreditava que isso representaria o “fim do capitalismo e do imperialismo americano”).
Qualquer que seja a perspectiva que se assuma sobre as armas nucleares, portanto, pode-se dizer que elas refrearam, sim, os instintos guerreiros de muitos dirigentes políticos. Pode até ser que alguns militares malucos acreditem que “armas nucleares táticas” sejam armas de terreno, e possam, assim, ser integradas a doutrinas e estratégias militares. Não creio, porém, que estadistas responsáveis acreditem nesse tipo de “doutrina” e estejam dispostos a “testá-la”.
Pode-se concluir, então, que as armas nucleares aumentaram, não diminuíram, a segurança no mundo, e parece impossível reverter esse cenário de equilíbrio instável (que aliás, confirma o prognóstico aroniano de 1947: “paz impossível, guerra improvável”).
E quanto ao TNP? Não há muito a dizer: continuará a ser aquilo que a diplomacia brasileira diz sobre ele desde 1968: “um tratado iníquo e discriminatório”, ponto. Não há muito que se possa fazer a respeito, no futuro previsível.
Resta, finalmente, esta outra afirmação, com estes mesmos conceitos:
É importante ter num horizonte previsível a eliminação completa e irreversível das armas nucleares.”
Será? Importante? Talvez. Necessário? Duvidoso. Completa e irreversível? Provavelmente não, nem completa, nem irreversível.
Frustrante? Talvez. Realista? Provavelmente.
Acho que as coisas ficam mais claras assim.
Paulo Roberto de Almeida é diplomata, professor universitário e autor de Globalizando. (www.pralmeida.org)

E ai? Como andamos de previsoes imprevisiveis? - Revisao de meio de caminho...

No final do ano passado, eu fazia, como faço todo ano, inutilmente, mas também é falta do que fazer de melhor, as minhas previsões imprevisíveis, ou seja, aquelas que não correm nenhum risco de se realizar (a começar por parar com esta minha maneira de perder tempo escrevendo bobagens...).
Pois bem, não vamos esperar pelo final do ano para conferir se o que eu previ realmente não se realizou, pois do contrário fica confirmado, mais uma vez, meu fracasso total como vidente de coisas lunáticas. Não tenho seguro contra incendios, neste caso, um prêmio contra as realizações, assim que ninguém pode me cobrar nada...
Mas, chega de tergiversações sobre o nada, vamos ver logo o que eu prometi que não se realizaria...
Paulo Roberto de Almeida

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Minhas Previsões Imprevisíveis para 2013 - Paulo Roberto de Almeida

-->
Minhas Previsões Imprevisíveis para 2013
(não custa continuar tentando, para ver se em algum ano dá certo...)
Paulo Roberto de Almeida
Como faço a cada ano (salvo nos bissextos), vou continuar meu tresloucado exercício de fazer previsões ao contrário, isto é, minhas expectativas para o que não tem nenhuma chance de acontecer no ano que pronto se iniciará. É claro que, dada a múltipla natureza bizarra, sempre inovadora, criadora, simpática e decepcionante, e até mesmo surpreendente deste país surrealista que se chama Brasil, corremos o sério risco de sermos desmentidos, e sairmos humilhados, pela absolutamente inacreditável realização de algumas dessas previsões malucas. As surpresas podem ocorrer, especialmente as vindas de certas esferas da alta política, previsíveis na sua imprevisibilidade, e que costumam confirmar aquela máxima do Barão de Itararé: de onde menos se espera é que não sai nada mesmo. Mas isso fica pela conta do seguro contra acidentes não previstos, que renovo a cada ano nessa época, para evitar, justamente, ser processado por algum leitor, e aí cair naquela previsão ainda mais imprevisível de ter o caso julgado por um “auto” tribunal em menos de 20 anos, o que atrapalharia sobremaneira minha aposentadoria.
Sem mais delongas e tergiversações, vamos pois à lista atualizada das previsões imprevisíveis para 2013. Se algumas delas se realizar, os leitores podem me cobrar a conta, mas apenas em 2014, quando terei um estoque inteiramente novo de ofertas do impossível.
Começo pelo mais comum, frequente e corriqueiro: corrupção. Se não sobrevier o fim do mundo antes, vamos ficar inteiramente livres de qualquer novo caso de “malfeitos” em 2013. Tendo aprendido com sua própria experiência, na carne, por assim dizer, os companheiros vão inaugurar uma tecnologia inteiramente nova de combate à corrupção, pela simples razão de que – como a nova nota fiscal que já declara os impostos – a corrupção já virá integrada a todos os negócios públicos. O Partido dos Companheiros está criando uma Secretaria Especial de Negócios Não-Contabilizados, aqui se antecipando ao financiamento público das campanhas eleitorais, o que vai facilitar tremendamente as coisas. Transpondo a tecnologia para o nível estatal, vai ser possível nos livrarmos inteiramente da corrupção, em virtude do expediente já referido de sua integração oficial, formal e carimbada, em todas as transações que envolvem instituições e agentes públicos. Vai ser assim uma espécie de CPMF destinada inteiramente ao caixa 2, mas de forma explícita. Resolvido o problema, não é mesmo?
Fim do Mundo: parece que não deu certo desta vez, mas não custa apostar mais um pouco, inclusive porque esta catástrofe natural – ou dos deuses? – vai resolver todos os outros problemas, inclusive a obrigação deste escriba ficar perdendo tempo neste tipo de besteirol. As apostas ficaram um pouco mais caras, dada a frustração com as últimas cinco previsões e meia. Também: os maias têm aquela escrita complicada, impossível de ler, e números que não são em base decimal. Mais passons...
 Economia: depois do insucesso dos quinze últimos pacotes de estímulo à economia, o governo promete que não vai mais fazer pacotinhos de estímulo à economia; pode ser um pacotão, de tempos em tempos, mas essa coisa de a presidente e o ministro da Fazenda anunciarem, a cada semana, que “estão tomando medidas para estimular a economia” vai finalmente sair de moda. E não tem mais essa coisa de improvisações setoriais; doravante só terão direito a pacotes de estímulos, pacotões, na verdade, os setores minoritários, que já gozam de várias cotas de favor. Isso muda! Os afrodescendentes, por exemplo: com base na auto-declaração, eles já são mais de 55% da população brasileira. Todos os pacotes de favor serão agora para setores minoritários e prejudicados nas políticas dos últimos anos, como os loiros de olhos azuis, coitados.
 Política: o Congresso proclama sua independência, enfim! Só vai trabalhar para o governo nas quartas-feiras, quando o expediente é total. Nas terças e quintas, e só em regime de meio expediente, trabalhará para ele mesmo, que ninguém é de ferro. Estão abolindo o 14o. e o 15o. salários, mas vão criar a semana de expediente ainda mais reduzido. E já avisaram; só vão cassar companheiros legisladores em anos bissextos. O Stalin Sem Gulag, aliás, aproveita para mandar dizer que a luta continua, agora dentro da cadeia, com o apoio do PCC, que é um partido quase alinhado com suas teses.
Justiça: o Supremo diz vai parar de se meter na vida dos demais poderes; mas já avisou que não quer nenhum parlamentar se metendo na fixação dos seus próprios salários, que devem ser proporcionais aos quatro milhões de casos “a julgar”, parados há mais de oito anos nos escaninhos dessas varas que já viraram palácios de papel. Também vão modernizar o figurino: aquelas togas incomodas ficam sempre caindo e atrapalhando o movimento dos braços; vão adotar um simples avental, com os dizeres mais do que atuais: A justiça é cega...
Esporte: a Seleção de futebol da França se exila por completo na Bélgica, por razões fiscais. Os integrantes da seleção da Bélgica, por sua vez, fazem greve para não ter de pagar imposto de renda e ameaçam se exilar no vizinho Luxemburgo. A seleção brasileira adota um uniforme mais largo e mais comprido, daqueles antigos, para acomodar todas as mensagens publicitárias que a CBF negociou com importantes empresas multinacionais e várias estatais tupiniquins. Alguns jogadores vão negociar tatuagens publicitárias na barriga e no bum-bum (este mais caro). Mas, na copa das confederações, a seleção brasileira perde da seleção do Burundi por 1 a 0. Pano...
Economia mundial: a gangorra continua. Depois que o Brasil perdeu a condição de sexta economia mundial, para se converter na oitava economia, o governo reagiu e, via flutuação cambial do Banco Central, conseguiu trazê-la de volta para a sétima posição; os mercados reagem, fazem dois ataques especulativos e levam o Brasil à nona posição, mas o governo faz novo pacote e consegue trazer a economia para a oitava posição outra vez; os mercados, só de birra, provocam fuga de capitais e arrastam o Brasil para a décima-segunda posição; governo, emburrado e amuado desiste de brincar de gangorra cambial. Enquanto isso, a China e os Estados Unidos criam um programa conjunto de manipulações cambiais: pronto, era o que faltava para o governo brasileiro se enfurecer de vez; mas o seu tsunami financeiro não passa de uma marolinha...
Economia doméstica: o Ministério do Planejamento cria o PAC-III, com taxa de realização pré-programada em 35,7% dos recursos empenhados (incluídos restos a pagar...); o TCU também criou um software novo, de embargo preventivo das obras suspeitas de irregularidades: ele também vem pré-programado para embargar metade das obras, inclusive retroativamente, do PAC-I e do PAC-II, mas aí se descobre que as obras paradas são mais do que 75% do total dos volumes empenhados;
Economia sentimental: o governo cria o plano Brasil Amoroso, para distribuir beijos e abraços a quem vive sem companhia; Senadores mais sentimentais que outros, como Suplicy e Buarque, pensam instituir uma Bolsa Carinho, de meio salário de senador, para os contemplados no programa; executivo reage e cria o vale-beijo.
Cultura: as editoras brasileiras pedem proteção contra a Amazon, e querem taxa especial sobre o livro eletrônico, para compensar os custos que tem de estocar um monte de papel impresso que não vende; a Amazon resolve diversificar suas operações nacionais e começa a vender tapioca express-delivery. Deputado Aldo Rebelo reage, e diz que só pode se estiver escrito em língua nacional.
Política Externa: Cuba decide ingressar no Mercosul, antes do Paraguai voltar, e diz que tem direito a receber metade das verbas do Fundo de Recuperação e Apoio à Correção das Assimetrias Sociais Socialistas (FRACASSO), criado na cúpula do meio do ano. Guiana e Suriname reagem e dizem que também querem entrar no Mercosul para se beneficiar do maná brasileiro, à razão de 70% do total. Ministros decidem então criar uma Casa da Moeda do Mercosul (CMM), o mais novo órgão do vasto empreendimento integracionista, que não cessa de se ampliar no continente e surpreender o mundo pela sua criatividade e versatilidade. Obama diz que EUA consideram se tornar membro associado do Mercosul. É a apoteose...
Fim do Mundo, outra vez: guru de Cabrobó da Serra diz que ele descobriu um erro de cálculo no calendário maia, e atrasa o fim do mundo para meados de 2014, o que permite passar o fim de ano sem maiores preocupações com seguro de vida.
Bom ano a todos...
Brasília, 20 de dezembro de 2012
   

A blogueira e os mercenarios, 9: viva a embaixada cubana, viva a SG-PR...

Estão de parabéns o embaixador cubano e o Secretário-Geral da Presidência da República.
Eles conseguiram!
Tiveram sucesso absoluto: conseguiram cumprir plenamente as ordens de seus chefes em Havana.
O embaixador deve ter mandado vários telegramas à sua chancelaria, relatando em primeiro lugar que "cumpri instruções", informando depois como atuaram os amigos de Cuba nos vários eventos programados para aparição da dissidente agente da CIA.
O SG-PR deve ter telefonado meio constrangido ao embaixador dizendo que também cumpriu instruções, mas que talvez o sucesso tenha sido bem sucedido demais, pois afinal de contas a tchurminha contratrada para atrapalhar acabou atrapalhando demais, e causou mais rebuliço que protestos em favor de Cuba.
Se ambos forem sinceros consigo mesmos, verificarão que foi um desastre total toda a operação, já que a população constatou que Cuba afinal é uma ditadura intolerante.
Como eles são incapazes de exibir tais sentimentos, devem estar apenas contabilizando o sucesso da operação.
Por isso mesmo, eu lhes estendo meus cumprimentos.
Conseguiram, bravo!
Conseguiram juntar um bando de fascistas do partido dos companheiros a uma das duas últimas ditaduras stalinistas moribundas do planeta.
Vão morrer com eles. Isso que é solidariedade e amizade.
Parabéns pela fidelidade canina. Aliás, de quatro patas...
Paulo Roberto de Almeida 

Se nao for ajudar, pelo menos nao atrapalhe... (sim, o governo...) - Editorial OESP

A agricultura do Brasil era um monstrengo atrasado até os anos 1970, quando Embrapa e novos recursos humanos se combinaram para dar um primeiro salto tecnológico.
Mas ela ainda continuou entravada durante uma decada mais, pelo menos, adivinhe por quem, caro leitor?
Sim, você acertou: pelo governo. Com sua política de preços de referência, estoques reguladores, planejamento de produção, direcionamento de créditos por critérios pouco claros, e um tabelamento geral dos preços dos produtos de base (para ajudar os pobres, claro), tudo isso fez com que sofressemos desabastecimentos, queda de produção, desequilíbrios na oferta, e outras pragas associadas ao intervencionismo governamental.
Ou seja, a praga da agricultura era o governo, e as saúvas eram os técnicos da Fazenda e do próprio ministério da Agricultura, que pretendiam "gerir" esse setor, tão estratégico, tão importante, tão relevante para a tal de segurança alimentar.
A consequência não foi outra: desabastecimento, penúria de produtos e outros problemas.
Só quando o Brasil exsangue de tanta inflação resolveu dar um choque de capitalismo -- não tanto por vontade, quanto por impossibilidade de atuar de outra maneira -- e liberalizar o setor, a agricultura deu um enorme salto produtivo e comercial, que junto com os progressos tecnológicos fizeram do Brasil essa potência agrícola que somos.
Agora, chegam os companheiros e ameaçam colocar tudo a perder outra vez, com essa mania -- atávica neles -- de controlar tudo, para "garantir abastecimento a preços razoáveis".
Idiotas, vão estragar tudo outra vez...
Paulo Roberto de Almeida

Ameaça à produção de comida

22 de fevereiro de 2013 | 2h 11
Edutorial O Estado de S.Paulo
 
Uma velha praga volta a ameaçar a agricultura brasileira, pondo em risco a eficiência, o poder de competição e a liderança internacional conquistados em décadas de muito investimento e intensa modernização tecnológica. É a praga do intervencionismo primário, demagógico e orientado por objetivos políticos de curto prazo.
Depois de comprometer a saúde financeira da Petrobrás e a produção de etanol com sua intromissão desastrada, o governo agora se prepara para mexer politicamente nos preços dos alimentos e desarranjar o agronegócio. O Conselho Interministerial de Estoques Públicos de Alimentos (Ciep), recém-criado por decreto presidencial, será o instrumento dessa lambança, a mais nova demonstração de voluntarismo da mal assessorada presidente Dilma Rousseff. O novo conselho usurpará funções até agora atribuídas à Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e geralmente exercidas com eficiência quando subordinadas a critérios técnicos. Esses critérios serão obviamente postos em segundo ou terceiro plano, com a previsível politização das decisões.
Só a intenção de politizar a formação e a administração de estoques de alimentos pode explicar a instituição do Ciep. Se a presidente da República estivesse apenas descontente com a ação técnica dos atuais dirigentes da Conab, poderia simplesmente substituí-los. Nem precisaria buscar muito longe pessoal para assumir as funções. Antigos e competentes funcionários da Conab permanecem no governo. Outros foram para a vida acadêmica ou empresarial. Não falta, no mercado, gente capacitada para dirigir empresas públicas desse tipo, conhecidas em vários dos grandes países produtores.
Os preços agrícolas subiram no mercado internacional durante vários anos e essa tendência afetou também o mercado brasileiro. Apesar da elevação de preços, não houve nenhuma crise de suprimento no Brasil.
Crises desse tipo foram muito frequentes quando havia controles de preços, porque a ação oficial dificultava a modernização produtiva. A liberação gradual do mercado, a racionalização da política e o forte investimento em pesquisa permitiram uma ampla mudança do quadro. As crises sumiram e a alimentação passou a pesar menos no custo de vida, liberando recursos para o consumo de outros produtos. Mesmo com a alta de preços dos últimos anos, o custo da comida, no Brasil, continuou sendo um dos mais baixos do mundo.
Em países bem administrados, a variação de alguns custos, como o dos alimentos ou dos combustíveis, apenas altera a relação entre preços, sem pôr em movimento uma espiral inflacionária. No Brasil, a difusão dos aumentos foi favorecida por outros fatores, como a expansão do crédito, o estímulo ao consumo e a elevação dos salários bem acima dos ganhos de produtividade da economia. Mas o governo prefere desconhecer esses fatos evidentes, promover um corte de juros obviamente voluntarista e manter a gastança pública.
Em vez de combater a inflação, o governo tem procurado conter os índices, controlando preços de combustíveis, cortando alguns impostos para baratear produtos selecionados e tentando administrar o câmbio.
A Conab tem promovido frequentes vendas de estoques. Só de feijão, por exemplo, dez leilões foram programados entre 24 de janeiro e 22 de fevereiro. Alguns setores da indústria de alimentos poderão até apoiar maior intervencionismo, se isso resultar em maiores vendas de matérias-primas, como o milho. Mas isso será uma demonstração de visão curta.
Uma boa política de estoques serve para a sustentação de preços, por meio das compras oficiais, e para a moderação das altas, por meio das vendas. Mas é preciso balizar toda intervenção pelo bom senso. Mexer no mercado para derrubar alguns preços selecionados é um jogo perigoso, tentado no Brasil, em outros tempos, com péssimos resultados. Seria insanidade ressuscitar a velha Sunab, a desastrosa Superintendência Nacional do Abastecimento. A presidente Dilma Rousseff deveria se lembrar disso. Não é necessária muita cultura econômica para entender esses fatos.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A blogueira e os mercenarios, 8: uma ditadura ordinaria

Exclusivo: os bastidores da reportagem que mudou a vida de dissidente cubana

O correspondente no Brasil, John Lyons, representou o The Wall Street Journal (WSJ) na coletiva de imprensa com a blogueira Yoani Sánchez, promovida pelo Estadão, nesta quinta-feira, 21. Quando ele se levantou para fazer uma pergunta, a cubana o interrompeu e disse que o jornalista foi responsável por mudar sua vida, em conseqüência de reportagem escrita em 2007. A dissidente do regime cubano se referiu à notabilidade que ganhou devido à repercussão de seu blog, ‘Geração Y’. "A minha vida mudou, por causa de um artigo que ele escreveu", disse.
Yoani-sanchez_21
Yoani atribui a correspondente do WSJ notabilidade que ganhou desde 2007 (Imagem: Reprodução/Geração Y)
Lyons explica ao Comunique-se que há seis anos os cubanos que moravam em Miami (EUA) começaram a se questionar sobre a pessoa que mantinha o blog ‘Geração Y’ e sobre suas intenções em expor a realidade do país comunista na internet. “Fui a Cuba, cheguei como turista, com chinelo e roupa havaianos. É muito difícil para um americano conseguir o visto de Cuba”.

O americano permaneceu por uma semana na ilha caribenha. Antes de todos os encontros que teve com Yoani sempre ia a pontos turísticos de Havana para não levantar suspeitas do governo. “Ao sair do hotel, ia para pontos turísticos. Peguei um taxi irregular para ir até a casa de Yoani, mas acredito que a casa dela era vigiada constantemente”.

Correspondente do WSJ há nove anos, o jornalista conta que a reportagem sobre Yoani foi capa da edição impressa do veículo. Ele, entretanto, não assinou a matéria. Lyons e o editor concordaram que a melhor opção era não divulgar o nome do repórter para que ele pudesse entrar outras vezes na ilha comandada pelos irmãos Castro.

O jornalista fala que "medo" não é o termo mais apropriado para se referir a sensação que teve ao se passar por um turista em Cuba. “Senti um pouco da paranoia de morar em um regime totalitário. Eles colocam uma espécie de polícia na sua cabeça e você deixa de fazer coisas que faria normalmente”.

Yoani, a blogueira "turista"
Datado de 22 de dezembro de 2007, a matéria “Yoani Sánchez fights tropical totalitarianism, one blog post at a time” (“Yoani Sánchez luta contra o totalitarismo tropical, um post de cada vez”, em livre tradução) conta como a cubana contornava as proibições do governo e conseguia ter acesso à web para postar seus textos. “Para se livrar das restrições cubanas de acesso à internet, a aparente pária de 32 anos se passava por turista para entrar em um café com internet, em um luxuoso hotel da cidade, normalmente o bar Cubans. Vestida de shorts de surf cinza, camiseta e alpercatas verde-limão, ela passou por um guarda do hotel e deu um largo sorriso. O guarda, alto e de cabelo raspado, deu um passo para trás”, narra a cena. Lyons revela que a rotina se tornou comum na vida de Yoani desde abril daquele ano.

Na reportagem, o jornalista ressalta que geralmente blogs mantidos sobre Cuba são feitos ou por pessoas que visitam a ilha ocasionalmente ou por moradores antigos. “Ela não só escreve de Cuba, como também assina o seu nome e publica uma foto sua. Muitos blogueiros de Havana são anônimos”.

Indo a uma inflacao crescente? Deterioracao progressiva

Pois é: depois de nos garantir o maior déficit de transações correntes desde o começo da série histórica, em 1947, a administração keynesiana de botequim dos companheiros, também está garantindo uma aceleração progressiva da inflação, o que só faz prenunciar novas greves de trabalhadores -- sobretudo do setor público, que são abusados, usam-nas como férias remuneradas e não têm nada a temer do patrão -- e novos aumentos do custo de vida.
A pior situação possível: em lugar de alto crescimento e baixa inflação, como gostariam os aprendizes de feiticeiro, vamos ter alta inflação e baixo crescimento.
Paulo Roberto de Almeida

Brazil Macro Flash: CPI Inflation Continues at High and Undesirable Level

    Announced: Friday, February 22, at 7:00 a.m. (NYT)

    Actual: 0.68% Month Over Month

    Previous: 0.86% Month Over Month (January’s CPI)

    Consensus: 0.62% Month Over Month

    Citi: 0.65% Month Over Month

    Bottom Line

  • February’s first half CPI inflation stood at 0.68% m/m, above market consensus. As a result, the annual inflation reached 6.18% (from 6.15% in January’s CPI). The main upward pressures of the monthly CPI were food prices and education costs. Core inflation declined, staying inside the inflation target band. For the end of this month, we expect February’s CPI inflation to decline further to around 0.45% reflecting additional impact of energy prices drop. Looking ahead, we expect CPI to increase 5.6% in 2013.

    Key Points

  • In the monthly result, food prices increased 1.74%, less than the 1.99% figure seen in January’s CPI. Moreover, education costs rose 5.49% m/m, reflecting the annual increase in tuition fees. Energy prices plummeted 13.5% m/m and should decrease further in February’s CPI.

  • The average of core inflation measures declined to 0.48%, from the 0.67% figure registered in January’s CPI. This average represents 6.0% on annualized terms. The diffusion index also decreased to 71% (from 75% in January).

  • Lastly, services inflation decreased slightly to 8.5% over the last 12 months compared to the 8.6% print in January. As these prices are related to labor market conditions, we do not expect services inflation to decline markedly in the near future. (Citigroup)

Em direcao a uma crise de transacoes correntes? - Deterioracao progressiva

O governo Dutra exibe a pior avaliação de todos nos livros de história tradicionais (isto é, de esquerda) basicamente por dois fatos: culpado de ter colocado na ilegalidade o Partido Comunista (ou seja, era de "direita"), e culpado pela rápida deterioração do balanço de pagamentos, pelo aumento maciço das importações e o esgotamento das divisas acumuladas durante a guerra.
No primeiro quesito, digamos que seja verdade: sim, ele era de direita e anticomunista, e aproveitou um pretexto qualquer para proibir o Partidão. Não importa se Prestes era um idiota e que ele tivesse declarado em resposta a uma pergunta marota de um jornalista, que o Partido ficaria do lado da União Soviética em caso de guerra do Brasil contra o império comunista (sic), o fato é que Dutra não gostava dos comunistas, aliás desde antes da Intentona de 1935.
No segundo quesito, a situação brasileira era claramente irracional: tinhamos passado anos sem importar nada, sob o regime emergencial do Estado de guerra, e normal assim que, passada essa fase, a indústria precisasse se reequipar e o consumo retomar com base em importados, já que não produzíamos quase nada, nem alimentos em volume e qualidade suficientes.
De todo modo, o governo "liberal" de Dutra "torrou" as divisas em importações "inúteis", dizem os críticos.
Pois agora, o governo anti-neoliberal dos companheiros também realiza esse feito histórico de torrar divisas com importações e produzir o maior déficit histórico da balança de transações correntes. Que coisa, companheiros, desse jeito vocês ainda vão nos arrastar para uma crise de transações correntes e para os braços do FMI, quem diria!?
Aliás, seria bom, seja uma crise dessas ou uma de natureza fiscal, pois só premido pelas crises, o Brasil realiza reformas. Não tenho certeza de que sejam as boas reformas, pois podem reforçar o protecionismo e a introversão, mais do que já temos, mas pelo menos alguma coisa tem de mudar.
Passo por cima dos erros de redação -- jornalistas não sabem mais escrever e os jornais parece que não tem mais revisores -- como esse de que "As remessas líquidas ... subiu em janeiro..."-- para simplesmente transcrever a matéria sobre o assunto e, mais abaixo, a avaliação de um analista de mercado, do Citibank, mostrando que a situação ainda pode piorar mais.
Pudera: o governo atua como aprendiz de feiticeiro, tanto na área monetária como no terreno cambial, pensando que pode enganar e orientar o mercado à custa de ordens políticas e intervencionismo renitente, continuado, e mal administrado.
Paulo Roberto de Almeida

Contas externas de janeiro têm o pior déficit da história

Déficit em conta corrente somou US$ 11,4 bilhões em janeiro

22 de fevereiro de 2013 | 10h 51
Adriana Fernandes e Eduardo Cucolo, da Agência Estado
 
BRASÍLIA - As contas externas se deterioram e apresentaram em janeiro o pior resultado para todos os meses. O déficit em transações correntes no mês passado ficou em US$ 11,371 bilhões, informou há pouco o Banco Central. É o pior resultado para todos os meses desde o início da série histórica da autoridade monetária, que teve início em 1947.
O resultado de janeiro ficou abaixo das estimativas do próprio Banco Central, que esperava um déficit de US$ 8,3 bilhões no mês. Porém, ficou dentro do intervalo das estimativas coletadas pelo AE Projeções, de déficit entre US$ 8,7 bilhões e US$ 13 bilhões, mas pior que o déficit projetado pela mediana, de US$ -9,6 bilhões.
Em janeiro do ano passado, o déficit na conta de transações correntes do balanço de pagamentos foi de US$ 7,05 bilhões. Nos últimos 12 meses até janeiro, o déficit em transações correntes subiu para US$ 58,568 bilhões o equivalente a 2,58% do Produto Interno Bruto (PIB). O BC projeta uma déficit de US$ 65 bilhões em 2013.
Lucros e dividendos
As remessas líquidas de lucros e dividendos de empresas estrangeiras instaladas no Brasil para o exterior subiu em janeiro para US$ 2,068 bilhões. O valor mostra uma piora em relação a janeiro de 2012, quando as remessas atingiram US$ 981 milhões.
Enquanto as receitas somaram US$ 76 milhões, as despesas atingiram US$ 2,144 bilhões em janeiro. As despesas líquidas com o pagamento de juros no exterior atingiram US$ 1,813 bilhão em janeiro. Esses gastos aumentaram em relação a janeiro do ano passado, quando somaram US$ 1,623 bilhão.
 ===================
Brazil Macro Flash: Sharp and Worse Current Account Deficit in January

    Announced: Friday, February 22, at 8:30 a.m. (NYT)

    Actual: -US$11.4 billion

    Previous: -US$8.4 billion

    Consensus: -US$9.6 billion

    Citi: -US$9.0 billion

    Bottom Line

  • In January, the current account amounted -US$11.4 billion, significantly worse than our and market expectations. We already expected a large current account deficit in January, due to the significant negative result of trade balance. However, services and income balances also surprised to the downside highlighted by the considerable deficit in profits and dividends remittances. Overall, 12 months current account deficit deteriorated to US$58.6 billion (2.58% of GDP). Looking ahead, we believe the current account deficit will likely continue deteriorating along this year, reaching by around US$68 billion at year end (3.0% of GDP). Moreover, FDI inflows summed US$3.7 billion in January, lower than expectations, but still amounting US$63.6 billion in the last 12 months, which is above the current account deficit in the same period.

    Key Points

  • In January, the trade balance amounted -US$4.0 billion, services and income balance posted a deficit of US$7.5 billion, while current transfers reached US$0.2 billion.

  • Focusing on services and income accounts, the profits and dividends balance reached -US$2.1 billion, while international travel deficit amounted US$1.6 billion, with net interest payments posting -US$1.8 billion.

  • FDI inflows came in at US$3.7 billion in January, worse than our and market expectations of US$4.5 billion and US$4.8 billion, respectively. In the last 12 months, FDI inflows amounted US$63.6 billion, remaining significantly higher than the current account deficit of US$58.6 billion during the same period.

  • We expect current account deficit to continue deteriorating ahead, reaching by around US$68 billion this year (3.0% of GDP), which is worse than market consensus and CB’s estimates of around -US$65 billion each.
 Author: Marcelo Kfoury

A blogueira e os mercenarios, 7 - Sandro Vaia

Democracia: agite antes de usar, por Sandro Vaia

22.2.2013
http://oglobo.globo.com/blogs/arquivos_upload/2013/02/129_229-sandro.jpgAlguma outra vez neste país a democracia foi usada para defender uma ditadura?
Não me lembro. Mas foi exatamente o que aconteceu com a manifestação contra Yoani Sanches, a blogueira cubana que se opõe à ditadura de seu país, que a impediu de falar e inviabilizou a exibição do documentário “Conexão Cuba-Honduras” de Dado Galvão em Feira de Santana, no interior da Bahia.
A grosseria, a incivilidade e a estupidez são algumas das características mais desagradáveis do ser humano e foram usadas em larga escala nao só na Bahia, mas também no plenário da Câmara Federal por algumas pessoas que ainda vegetam no estado primário do processo civilizatório.
Até aí, nada a fazer. Não podemos exigir uma nação de fidalgos nem exigir algum tipo de racionalidade de quem confunde a militância política com a barbárie.
Ninguém é obrigado a gostar de Yoani Sanches como ninguém pode ser proibido de admirar e cultuar ditaduras. Infelizmente, a história da humanidade é recheada de massas ululantes que seguem ditadores e homens providenciais de camisas verdes, negras, pardas, boinas vermelhas ou uniformes verde-oliva.
O fascínio pela servidão voluntária é uma das características mais degradantes do ser humano. O fato de que isso, ao longo da História, tenha produzido pilhas e pilhas de cadáveres pelo mundo todo, não inibe a prática da falta de fé democrática.
Ditadores pendurados de cabeça para baixo nas vigas de um posto de gasolina e outros miseravelmente fuzilados ao lado da mulher depois de tentar fugir das massas que os idolatravam até algumas horas atrás, não ensinam lição alguma a quem está disposto e decidido a nao aprender.

http://oglobo.globo.com/blogs/arquivos_upload/2013/02/129_2234-alt-www.jpg

A presença de Yoani Sanches no Brasil poderia ter sido aproveitada para estimular um debate sobre os caminhos que Cuba pode seguir num eventual processo de transição para a democracia.
É evidente que o regime está desgastado, caquético e moribundo, e aí não vai nenhuma figura de linguagem com relação a quem o dirige. Foi Fidel Castro e não qualquer “gusano” contra-revolucionário de Miami que disse, com todas as letras, que “esse modelo nao serve mais nem para nós”.
O que será de Cuba ? Uma nova China? Mas quem seria o Deng Xiaoping cubano que teria coragem de ir à Plaza de la Revolución para dizer que “enriquecer é glorioso”? O que será feito dos 500 mil servidores públicos que perderão seus empregos ?
Um debate interessante para quem está interessado em democracia e em evolução de modelos políticos. Um debate chato e desnecessário para quem prefere substituir o uso da inteligência pelo escorrer da baba elástica e bovina.

Sandro Vaia é jornalista

O assedio da casta dos bramanes - sintomatico

Se não fosse pelo 'grupo... realizaram", a notícia estaria melhor...

Servidores do Itamaraty protestam contra casos de assédio moral no órgão
 Terra, 21/02/2013

Um grupo de servidores do Ministério das Relações Exteriores realizaram um protesto na tarde desta quinta-feira em frente à sede da pasta, em Brasília, pedindo o fim da impunidade de supostos casos de assédio moral dentro do órgão. De acordo com o Sinditamaraty, sindicato que representa a categoria, o estopim para o ato foram as denúncias recentes registradas contra o cônsul do Brasil em Sydney, na Austrália, em que pelo menos dois funcionários alegam terem sofrido agressões morais.

Com palavras de ordem e cartazes de "pizzas" simbolizando a impunidade dos agressores, os manifestantes exigem o afastamento dos servidores envolvidos em agressões. "Trata-se de contradição e desrespeito às políticas de direitos plenos quando é permitido e tolerado assédio nos órgãos públicos, como vem acontecendo reiteradamente no Ministério das Relações Exteriores", diz o manifesto divulgado pelo Sinditamaraty.

"Os vários relatos verbais e escritos de servidores e auxiliares locais evidenciam atos de assédio no Itamaraty como prática corriqueira e recorrente. É vergonhoso ver servidores públicos concursados perpetrarem atos de perseguição sistemática contra outros colegas", denuncia o sindicato.

Segundo a categoria, o procedimento administrativo a que são submetidos os agressores "é inadequado", "porque não é isento nem independente e não gera historicamente punição a ninguém". "O tratamento administrativo do tema não é o bastante para lidar com uma situação como esta. O assediador deve ser responsabilizado administrativa, cível e criminalmente pelos atos que pratica", propõe o manifesto.

Transparencia demais e' burrice - Lei de Acesso 'a Informacao...

O companheiro que disse a frase se referia, de fato, ao caixa do partido, o tal de caixa 2 que serviu de pretexto para todas as patifarias, falcatruas, e mesmo crimes, cometidos pelos mesmos companheiros.
Mas deve-se reconhecer que nas negociações entre países, nos embates diplomáticos,  nas tratativas comerciais, não se pode ser transparente demais, pois a regra é o mercantilismo, o oportunismo, o protecionismo disfaçado, a barganha interessada, as vantagens unilaterais. Assim são os homens (e as mulheres), assim são os países...
Paulo Roberto de Almeida

Lei de Acesso faz governo rever acordos
O Estado de S. Paulo, 19/02/2013

Planalto avalia restringir divulgação de dados de negociações comerciais com outros países

Alana Rizzo/ Brasília - Após pressão internacional, o governo brasileiro estuda co­mo restringir o acesso a docu­mentos de acordos comer­ciais com outros países. A pedido do Palácio do Planalto, o Itamaraty começou a mapear todos os acordos internacio­nais e avaliar áreas sensíveis, que podem ser afetadas pela Lei de Acesso à Informação.
O Estado teve acesso a docu­mentos do gabinete do ministro das Relações Exteriores, Antô­nio Patriota, que revelam o te­mor de países como França e Ucrânia com a implantação da lei de transparência, em vigor desde maio de 2012. Os dois paí­ses mantém relações comerciais com o Brasil em áreas considera­das estratégicas pelos militares. O primeiro negocia desde 2009 a compra dos caças Rafale e a pro­dução de submarino. O segun­do, um programa espacial.
Em ofício datado de 08 de no­vembro de 2012 o assessor espe­cial para assuntos internacionais do Itamaraty, Rodrigo Baena Soa­res, relatou ao contra-almirante Renato de Aguiar Freire uma reu­nião entre membros do governo brasileiro e a secretaria de defesa França. Na pauta do encontro, a assinatura de um acordo sobre informações classificadas (sigilo­sas) entre Brasil e França.
Outro ofício de 2012 revela a co­brança do governo da Ucrânia pa­ra a assinatura de um Acordo de Proteção Mútua de Informação Classificada, que alcance princi­palmente documentos relativos à cooperação espacial entre os dois países. Nos documentos, o Itamaraty afirma que está estudando "medidas legais para avançar nas negociações de instrumentos re­lacionados aos acordos interna­cionais classificados".
Antes da viagem da presidente Dilma Rousseff à Rússia - em de­zembro de 2012 -, o Itamaraty também discutiu a possibilidade de renegociação de quatro acor­dos em matéria de defesa com aquele país que descumpriam trechos da Lei de Acesso. O pen­te fino nos acordos internacio­nais foi um pedido da Casa Civil que identificou, além do caso rus­so, outros três acordos comer­ciais contrários à nova legisla­ção: com a Bolívia, os Estados Unidos e a França.
Em ofício encaminhado ao Itamaraty, a Casa Civil afirma que esses instrumentos internacio­nais conflitam com a lei. "Trata- se, particularmente, da categoria "informação confidencial", não mais existente na nova regula­mentação. Por esse motivo, os textos de Acordo nem poderiam ser enviados ao Congresso Nacional (...) nem promulgados pela Presidenta da República, sob pe­na de representar uma violação do ordenamento jurídico vigente", diz o texto da Secretaria de Assuntos Jurídicos da Casa Civil.
O Itamaraty confirmou que es­tá estudando mecanismos para adequar acordos internacionais à Lei de Acesso à Informação. A Casa Civil informou que pediu ao Ministério das Relações Exte­riores uma posição sobre os acor­dos que tratavam de informa­ções "confidenciais".
A Embaixada da França no Bra­sil disse "as trocas de informações classificadas são objeto de acordos entre governos e regularmente atualizadas" e as informações classificadas tratam da segurança do Estado. As representações da Ucrânia e da Rússia não responderam aos questionamentos do Estado.