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quarta-feira, 13 de agosto de 2014

A mafia, ou o PT, uma unica e mesma coisa - Merval Pereira

Alguma surpresa nisso?
Leiam o meu Tratado Geral da Mafia: http://diplomatizzando.blogspot.com/2013/12/tratado-geral-da-mafia-treze-rapidos.html
Paulo Roberto de Almeida 

POLÍTICA

A banalização do crime

Merval Pereira, O Globo, 13/08/2014

Sem ter como desmentir as recentes denúncias de manipulação criminosa, os governistas e sua vasta rede de militantes que atuam na internet passaram a uma bem orquestrada ação de banalização dessas atividades ilegais, como se fossem corriqueiras. É o caso da preparação dos ex-diretores da Petrobras para depoimentos na CPI que apura a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, acusada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) de prejudicial aos cofres da empresa.
A própria presidente Dilma abriu essa discussão ao acusar publicamente o ex-diretor Nestor Cerveró de ter produzido um relatório falho tecnicamente, que induziu o Conselho Administrativo da Petrobras, presidido por ela na ocasião, ao erro de aprovar uma transação que se mostrou equivocada. Pois bem, como é sabido a Petrobras demitiu Cerveró, que à época trabalhava na BR Distribuidora, e a própria presidente da estatal, Graça Foster, admitiu no Congresso que aquela não fora uma boa compra. Descobre-se agora que a Petrobras está pagando as multas com que os ex-diretores foram punidos pelo TCU, e que todos eles, inclusive o culpado pelo prejuízo, estavam recebendo orientações especiais e treinamento para o depoimento na CPI da Petrobras.
Não bastasse a estranheza de a estatal prejudicada bancar a defesa de ex-diretores acusados de malversação de dinheiro público, gravações de uma reunião na sede da Petrobras revelaram que a chegada de Cerveró à sede da empresa foi cercada de preocupações e cautelas para que sua presença não fosse notada. E que as perguntas que seriam feitas a ele e a outros diretores já estavam previamente preparadas pelos próprios membros da CPI da base aliada do governo.
O ministro das Comunicações Paulo Bernardo, para justificar essa tramoia, deu uma declaração absolutamente absurda: segundo ele, desde Pedro Álvares Cabral, as CPIs são arranjadas. Esqueceu-se de que a CPI que derrubou o então presidente Collor foi liderada pelo PT, e que outras, como a dos Correios, acabaram levando à cadeia diversos líderes petistas envolvidos no mensalão.
Na verdade, as CPIs, um instrumento das minorias, sempre tiveram papel importante no desvendar de atos corruptos, e só quando a maioria resolve boicotá-la é que se transforma em uma farsa como a da Petrobras. Na própria gravação é possível ouvir os advogados da Petrobras procurando uma maneira segura de enviar as perguntas a José Gabrielli, ex-presidente da Petrobras, o que não seria necessário se não fosse um ato escuso. Treinar os depoentes em CPIs é uma coisa, montar uma farsa com perguntas previamente combinadas é outra muito diferente. A mesma coisa acontece com o caso dos perfis da Wikipédia alterados por pessoas de dentro do Palácio do Planalto.
Que a Wikipédia é um ambiente aberto a todos, ninguém discute. Mas a inclusão de informações inverídicas e calúnias no perfil de alguém não pode ser considerada normal. Especialmente se essas ações são feitas no Palácio do Planalto, de onde saíram mais de 200 alterações em diversos perfis, muitas para incluir elogios a pessoas do governo, outras para atacar jornalistas independentes como Míriam Leitão ou Carlos Alberto Sardenberg.
A própria presidente Dilma, ao repudiar a ação, cometeu um ato falho ao dizer que “nesse caso específico, é algo que quem quiser fazer individualmente que faça, mas não coloque o governo no meio.” A fala da presidente é reveladora de uma maneira de pensar a luta política: distorcer informações sobre pessoas consideradas inimigas do governo pode ser uma atividade política que alguns utilizam, desde que não coloque embaraços para o governo.
Que a guerrilha virtual é uma atividade corriqueira dos petistas, já é sabido. A novidade, que agrava a situação, é que agora essa prática criminosa está sendo feita de dentro do Palácio do Planalto, numa demonstração de que não há mais um mínimo de separação entre o governo e a campanha eleitoral, até mesmo nas ações mais baixas. É uma ação de guerrilha de dentro do palácio do governo. Como a presidente pode lavar as mãos? Não há cadeia de comando? Nem dentro do Planalto? Como o Gilberto Carvalho pode dizer que foi “uma bobagem” e ficar tudo bem?
Nesse caso, pelo menos politicamente, o ônus da prova se inverte. É a Presidência que precisa entregar o culpado e provar que era um aloprado celerado agindo por conta própria. Caso contrário, é como se o Nixon dissesse que quem instalou aquelas escutas no prédio Watergate foram uns aloprados do Partido Republicano. 

Premio Nobel: o Brasil ja tem um - Artur Avila, em Matematica

O matemático Artur Avila, primeiro brasileiro a receber prêmio Fields, considerado o Nobel da Matemática (Divulgação/VEJA)
O matemático Artur Avila, primeiro brasileiro a receber prêmio Fields, considerado o Nobel da Matemática (Divulgação/VEJA)
Na VEJA.com:
O brasileiro Artur Avila, pesquisador do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), do Rio de Janeiro, vai receber a Medalha Fields, considerada o “Nobel de Matemática”. O anúncio foi feito na abertura do 27º Congresso Internacional de Matemáticos, em Seul, na tarde desta terça-feira (manhã da quarta, no horário sul-coreano). O prêmio é concedido a cada quatro anos pela União Internacional de Matemática a estudiosos com menos de 40 anos de idade que tenham alcançado resultados inéditos e revolucionários na área. Outros três especialistas serão premiados (confira a lista completa). É a primeira vez que um matemático latino-americano recebe a honraria.

“O anúncio me surpreendeu. Eu não esperava ter chances em 2014 (…) Minha reação inicial foi mais de alívio que de outra coisa, já que o prêmio agora significa que não vou ter de passar por mais quatro anos de pressão. Quando comecei como matemático, nem pensava nesse tipo de prêmio. Mas, desde 2008, começou a se falar nessa possibilidade e ficou impossível ignorar”, disse Avila, em comunicado divulgado pelo Impa. “O que eu mais queria (e continuo querendo) é fazer matemática da mesma maneira que no início. Por exemplo, escolhendo tópicos em que trabalhar por considerá-los atraentes, em vez de pensar em termos do reconhecimento que eles possam trazer.”
Avila, de 35 anos, é considerado um prodígio desde a adolescência. Antes mesmo de se formar na faculdade de matemática, em 2001, foi convidado a atuar como pesquisador do Impa, instituto supervisionado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, onde hoje ocupa a Cátedra Armínio Fraga. Dois anos depois, Avila recebeu convite para dirigir o Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), em Paris — ele se naturalizou francês e realiza parte das pesquisas na França.
Nos últimos dez anos, o prestígio de Avila no meio acadêmico vem crescendo apoiado em estudos que buscam entender os sistemas dinâmicos, cujo estado evolui com o passar do tempo por influência de diversos fatores. A teoria desse ramo da matemática é utilizada para construir previsões em áreas tão distintas como física, biologia e economia.
Avila também ficou conhecido entre os estudiosos por conseguir provar, em 2005, a “Conjectura dos dez martínis”, problema proposto em 1980 pelo americano Barry Simon — que prometeu pagar dez copos da bebida a quem explicasse sua teoria sobre o comportamento dos “operadores de Schrödinger”, ferramentas matemáticas ligadas à física quântica. Junto com a pesquisadora Svetlana Jitomirskaya, Avila solucionou o problema e, de fato, foi premiado com algumas rodadas de martíni.
Desde 2010, há uma expectativa de que o brasileiro seja premiado com a Medalha Fields. Naquele ano, ele se apresentou na 27ª edição do Congresso Internacional de Matemáticos, realizado na Índia — uma honraria destinada a poucos. Desde a primeira edição do congresso, apenas nove brasileiros haviam sido convidados para palestrar no evento. Na edição deste ano, além de Avila, mais quatro brasileiros participam do congresso, entre eles o matemático Fernando Codá, que também era cotado para receber a medalha.

Contra o voto nulo ou branco - Paulo Roberto de Almeida (2010)

Um texto feito antes das eleições de 2010, quando eu estava na China, mas que permanece inteiramente atual, já que tratando de um procedimento, não de um fato determinado.
Paulo Roberto de Almeida


Contra o Voto Nulo: meus critérios de escolha

Paulo Roberto Almeida

Existe uma controvérsia pairando sobre as comunicações que circulam na internet nessas épocas eleitorais: a do voto nulo, justificado ou não “filosoficamente”. Provavelmente, existe mais de uma controvérsia eleitoral, mas esta é a que me foi dado examinar e me pronunciar recentemente sobre ela, talvez de modo superficial. Sem pretender possuir a posição “correta” – que simplesmente não existe em se tratando de escolhas políticas, embora existam, sim, posições erradas, absoluta e relativamente, nessa área, e elas tem a ver com a diminuição do “grau” de democracia no sistema político – gostaria de me manifestar a respeito de forma mais clara do que já o fiz até agora.

Existem basicamente três formas de “não” escolher qualquer candidato, para qualquer cargo, nas eleições: a abstenção, o voto nulo ou o voto em branco. A única diferença entre o voto nulo e o voto em branco, em face da maquineta de votação, é que a dita cuja contempla um botão branco, para o voto idem. Suponho que os que pretendem anular seu voto teclem outros números, admitindo-se que a máquina aceite, e confirmem esse número “errado”. Seria então um voto nulo. Num caso, como no outro, se trata de uma “não escolha”, assim como a de não comparecer no local de votação no dia marcado. Essas são, portanto, as formas de anular o seu voto: votando “errado”, deixando em branco, ou deixando de comparecer. Votou nulo ou em branco, ou deixou de votar, pronto: está feita a recusa de participação numa escolha solicitada (na verdade, requerida, exigida, porque o voto é obrigatório no Brasil).
Os que são indiferentes à política ou ao governo, qualquer governo, os que “não agüentam” mentiras de políticos (e algumas são realmente difíceis de engolir), aqueles que simplesmente não se interessam pelas mensagens dos partidos e dos candidatos, os que, finalmente, são preguiçosos demais para se deslocar no dia das eleições, simplesmente exercem o seu direito democrático de “não escolher”. Eles não costumam ficar preocupados com isso: simplesmente desligam essa “área cerebral” e seguem em frente, nas suas vidinhas pacatas e desinteressadas. Poucos se dão ao trabalho de justificar a “não escolha”. Melhor não se comover com o assunto, ponto.
Diferente é a situação de acadêmicos ou pretensos intelectuais, que pretendem justificar a sua não escolha mediante elegantes construções, com citações de frases de escritores, argumentos sobre o caráter de manada das “massas votantes”, alegações quanto às fraudes deliberadas cometidas pelos partidos, enfim, um sem número de escusas para sustentar a posição em favor do voto nulo ou abstenção. Este meu texto está, portanto, dirigido aos que assim praticam a não escolha com tentativa de justificação. Como considero tal posição “absurda”, vou também me manifestar a respeito, com argumentos que espero sejam racionais e contra-argumentáveis.

Para todos os efeitos práticos, abstenção, voto nulo ou branco se confundem nos seus resultados futuros: o cidadão votante, o contribuinte pagador de impostos se exime de fazer uma escolha entre os representantes – legisladores ou executivos – que decidirão como será gasto o seu dinheiro – recolhido por tributos compulsórios – nos projetos e obras votados nas assembléias e parlamento e implementados pelos poderes executivos. Esta é, se ouso resumir, a essência de minha contrariedade contra todas essas formas de invalidar o seu voto, a sua escolha, a sua decisão de eleitor.
Devo também dizer, preliminarmente, que sou contra o voto obrigatório. Este deve ser um direito, não uma obrigação, pois o que prima, para mim, é a liberdade do indivíduo, não a imposição do Estado. Reconheço que essa posição pelo voto livre pode parecer contraditória com a postura de considerar “absurda” a não manifestação de preferências por ocasião do escrutínio, já que a não obrigatoriedade estimularia, e muito, a abstenção, como observamos nos países nos quais o voto é um direito, não uma obrigação (cerca de metade, apenas, da população americana habilitada a votar comparece nas eleições gerais a presidente, ao que parece; os “patriotas” brasileiros enchem o peito de orgulho, ao mencionar nosso número de votantes, o que me parece sumamente ridículo, pois a democracia americana é tão vigorosa, em suas bases, que dispensa, justamente, esse tipo de participação “federal”).

Pois bem, o que eu teria a dizer contra o voto nulo, em branco ou a abstenção? Os que assim procedem costumam alegar o seguinte: “o meu voto não faz diferença nenhuma, pois se trata de apenas um voto, no meio de milhões de outros votos, e não é ele que vai determinar quem será eleito para a presidência”. Eu diria, de imediato, que faz, sim, uma enorme diferença, e não apenas para presidente, pois qualquer forma de abstenção ou “nulificação” do voto atinge muito mais o corpo representativo da nação, ou seja, parlamentos e assembléias sub-nacionais. A grande diferença está expressa diretamente no próprio ato: o agente social, o votante, o cidadão contribuinte se exime de expressar uma opinião, a sua opinião sobre os candidatos em liça. Trata-se, obviamente, de uma decisão puramente individual, totalmente legítima no plano individual, mas carregada de consequências práticas no plano social, no âmbito nacional, no futuro da comunidade nacional. Elaboro um pouco mais a esse respeito.
O ato de não votar, ou de votar nulo ou em branco, significa, simplesmente, que o indivíduo “não votante” será necessariamente representado por alguém, obrigatoriamente e inapelavelmente, mesmo que o “não votante” não faça absolutamente nada e sequer se interesse pelo processo legislativo ou pelos mecanismos de decisão em curso nos executivos locais ou nacional. Esse representante “eleito” – e ele o é também pelo “não voto”, pois o número de válidos determinará o chamado quociente eleitoral para o cálculo das bancadas proporcionais – terá legitimidade para impulsionar políticas com as quais o “não votante” eventualmente possa não estar de acordo, ou a que ele resolutamente se opõe: digamos, entregar dinheiro público a banqueiros falidos, a capitalistas protecionistas ou a invasores de terras, quando não a mafiosos sindicais.
Se o “não votante” se eximiu de expressar o seu voto contrário a um representante qualquer que pode decidir por qualquer das ações acima, é evidente que o “representante não escolhido” possui, sim, a faculdade de influenciar a vida do “não votante” contra a vontade deste (ou melhor, com a sua “colaboração”). Contra o argumento pouco filosófico de que “um voto não faz a diferença” podemos confirmar que faz, sim, enorme diferença, que é a de eleger ou deixar de eleger alguém que pode se aproximar, que seja minimamente, de nossas posições, contra aqueles que delas se afastam deliberadamente, ou que defendem políticas que rechaçamos absolutamente.
Em qualquer hipótese, a renúncia de ação por parte do “não votante” pode redundar numa usurpação de representação por parte do representante efetivamente eleito, aquele que vai decidir para onde vai o meu, o seu, o nosso dinheiro. Ela é, me parece uma “solução” de menor democracia do que a participação, ainda que a contragosto, do cidadão eleitor. Gostaria de compreender a posição daqueles que julgam ser muito complicado ou aborrecido penetrar nos detalhes das posições de cada candidato sobre cada tema de interesse cidadão, ou coletivo. Mas eu sou daqueles que não renunciam a uma única parcela de responsabilidade na comunidade política. E que não me venham falar de “indivíduos” que não gostam de ser misturados ou confundidos com a massa: todos nós vivemos em coletividade, todos nós somos parte da “massa”, qualquer que seja ela.

Pois bem, venho agora aos critérios de escolha, pois o assunto foi veiculado em comentário a um dos meus posts que, aparentemente, chamou a atenção de alguns jovens. Como me perguntou um desses jovens, leitor desse meu post: “Gostaria de saber então qual argumento é válido para declarar o voto neste ou naquele candidato.”

Eu diria o seguinte: o voto em qualquer candidato é válido, mas eu o faria acompanhar da seguinte nota de caução. Toda e qualquer escolha, eleitoral ou não, precisa ser feita de forma consciente quanto aos efeitos e consequências dessa nossa escolha, devemos sempre tentar visualizar as implicações de nossa escolha e examinar seu impacto futuro em nossas vidas e no itinerário provável de nossa comunidade.
Suspeito, ou suponho, que todos desejem viver num país “normal”, ou seja: com prosperidade, segurança, livre de corrupção, desenvolvido, organizadinho, limpinho, agradável, de preferência com altos salários e trabalho garantido, educação e saúde abundantes e a preços abordáveis – se possível gratuitos – e com plena liberdade de informação, de circulação, de expressão, sem envolvimento em confusões externas e vivendo num ambiente de paz interna (estou sendo muito exigente ou utópico?). Se queremos tudo isso, e temos o direito de pelo menos aspirar a algumas dessas coisas em nossas vidas, vamos ter de fazer algo para obter todos esses “direitos”.
Uma das maiores utopias – e inconsequências – da Constituição brasileira está, justamente, em prometer todo esse mundo de bondades róseas, sem jamais dizer como tudo isso poderá ser obtido. Existe até um senador – que eu respeito no plano individual, mas que nesse particular considero um perfeito idiota – que pretende colocar na Constituição o “direito à felicidade”, como se isso fosse fazer qualquer diferença no plano instrumental, ou prático. A constituição é cheia de direitos e quase nenhum dever; ou melhor, todos os direitos são dos cidadãos, todos os deveres são do Estado, essa entidade impessoal que segundo alguns deveria ser uma “mãezona” a zelar pela felicidade de todos e cada um: “A educação (ou saúde) é um direito dos cidadãos e um dever do Estado...”, assim reza a Constituição em diversas passagens. Faltou dizer quem vai pagar por tudo isso, onde está a produtividade (uma palavra que não existe ali) que vai sustentar esse mundo de benesses infinitas.
Independentemente, porém, de como serão resolvidas essas questões, está claro, pelo menos aos meus olhos, que os que prometem sempre tudo isso e um pouco mais estão incorrendo nessa terrível falácia constitucional que consiste em jogar com promessas futuras sem jamais dizer quem pagará por tudo isso. A demagogia eleitoral é o pior pecado que pode existir em qualquer época ou lugar. A inconsistência no uso do dinheiro público é o segundo pior pecado político que pode existir numa comunidade de cidadãos conscientes.
Por isso mesmo, meu simples critério eleitoral é o enfrentamento destas simples verdades: prometeu isto, diga de onde vai sair o dinheiro, quem vai sustentar, como serão aplicados os recursos e que benefícios esperados advirão dessa escolha, e não de outras? Em economia – e tudo se resume, em última instância, a uma questão de economia, como queria o velho barbudo – sempre existem alternativas, mas as escolhas sempre são políticas, independentemente de seus fundamentos econômicos.
O cidadão que vota nulo, ou branco, ou que se exime de escolher, está, pura e simplesmente, jogando o seu dinheiro no lixo. Ou melhor: entregando-o a alguém “mais esperto”, que saberá utilizá-lo em função de seus próprios critérios preferenciais. Sabemos que os “mais espertos” não são necessariamente os mais honestos e confiáveis, pois eles geralmente se utilizam da mentira e da mistificação para conseguir cargos políticos. Em resumo, votar consciente é votar inteligente. Renunciar a isso é não só um absurdo, como evidencia uma atitude pouco inteligente. Desculpem-me os “filosoficamente” a favor do voto nulo, mas é isto o que penso.

Boas escolhas a todos, ou, corrigindo-me: a escolha “menos pior” possível.

Paulo Roberto de Almeida
Shanghai, 2215: 27-28.10.2010

As oligarquias parlamentares: o mito das 200 familias (que parece verdade) - Jose Casado

A força do sangue

José Casado

O Globo, 12/08/2014

Dos deputados federais com menos de 30 anos, 79% são herdeiros (filhos ou netos) de clãs regionais e estão na disputa eleitoral para perpetuar o poder familiar

Eles somam 52 entre 81 senadores, e 228 dos 513 deputados federais. Juntos, representam 280 votos no plenário do Congresso Nacional. Constituem prova viva da força das relações de sangue na política brasileira.
O predomínio é claro: um de cada dois parlamentares federais eleitos em 2010 tem pais, filhos, irmãos, avôs, tios, primos, sobrinhos, cônjuges, genros, noras ou cunhados em cargos eletivos do Executivo ou dos Legislativos federal, estaduais e municipais.
Na prática, significa que o controle do Estado brasileiro depende do voto majoritário de um “clube” composto por pouco mais de duas centenas de famílias.
Uma das características desse condomínio é a perpetuação no poder. Exemplo: dos deputados federais eleitos há quatro anos, quando estavam com menos de 30 anos de idade, nada menos que 79% eram herdeiros (filhos ou netos) de clãs políticos regionais — quase todos estão nas ruas à caça de votos para a eleição de outubro.
“Entra e sai governo, os oligarcas e seus filhos, netos, cônjuges, irmãos e sobrinhos seguem dando as cartas", constata Lauren Schoenster, pesquisadora da Transparência, que acaba de mapear o poder dos clãs regionais. Um dos efeitos da perpetuação, ela acha, é a formação de uma base parlamentar avessa a mudanças significativas no país.
Sangue é capital político relevante nas urnas. Isso não é produto típico nacional — como demonstraram os Kennedy e seguem mostrando os Bush nos Estados Unidos. Mas o caso brasileiro ganha relevo pela dimensão alcançada na atual temporada eleitoral.
Há dois herdeiros entre os três mais destacados candidatos à Presidência. Aécio Neves (PSDB), com 54 anos, e Eduardo Campos (PSB), com 49, desde o berço aprenderam a cultivar a ambição pelo poder (para conhecê-los, assim como a sua adversária Dilma Rousseff, há um ótimo livro na rede, “Os candidatos", de Maria Cristina Fernandes).
O familismo se espraia pelos estados, onde o repórter Pedro Marcondes de Moura identificou 24 candidatos a governador oriundos de clãs com tradição na política local.
Há casos como o da Paraíba, com 93% da bancada parlamentar federal produzidos em meia dúzia de famílias, lembra Lauren Schoenster. No Rio Grande do Norte, onde 91% dos parlamentares também são herdeiros, há um candidato a governador, Henrique Eduardo Alves (PMDB), atual presidente da Câmara dos Deputados, cuja parentela inclui um ex-governador, um senador, o prefeito da capital, Natal, e o ministro da Previdência Social.
No Acre, a família Viana se reveza há 16 anos e tenta completar duas décadas no poder, com a reeleição do atual governador. Esse clã cresceu com o PT, desde a época em que o partido gritava nas ruas contra as oligarquias. A sedução do poder muda prioridades. O familismo pode e deve ser exaltado “com muito orgulho”, ensinou Lula a Hélder, filho do seu aliado Jader Barbalho, dias atrás, ao lançá-lo candidato a governador do Pará.
Dilma Rousseff ficou “indignada” com a espionagem de que brasileiros como ela foram vítimas recentemente. Aceitou o pedido de desculpas de Obama e fez as pazes com Washington. Agora, diz-se “indignada” com a violação dos direitos civis de jornalistas na guerrilha cibernética executada a partir do palácio que governa. Ao menos por elegância, Dilma deve um pedido de desculpas às vítimas do seu governo.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/a-forca-do-sangue-13568510#ixzz3AF40SHna
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terça-feira, 12 de agosto de 2014

Eleicoes 2014: um possivel ministro da Fazenda, Arminio Fraga - The Wall Street Journal

Politics
Brazil Ex-Insider Returns to Help Oust President
Luciana Magalhães
The Wall Street Journal, August 12, 2014

With slow growth and high inflation hurting Brazilian President Dilma Rousseff's chances of winning a second term, a financial heavyweight has joined the opposition to persuade voters that Brazil needs a new economic steward.
Arminio Fraga, a former central banker, has been advising Aecio Neves of the Brazilian Social Democracy Party for several months. He's now talking openly of returning to government, perhaps as finance minister, if Mr. Neves can pull of an upset in October's presidential elections.
"I wouldn't make myself available if I didn't feel deeply bothered, and I am," Mr. Fraga, 57, said last week in an interview in his office in Rio de Janeiro.
Ms. Rousseff still holds a comfortable lead heading into the first round of voting October 5. But recent polls show Mr. Neves closing the gap in the event of a runoff, which is looking increasingly likely.
The president's Achilles' heel is the economy. GDP growth likely won't crack 1% this year; some analysts are even predicting a recession. But it is Brazil's stubbornly high inflation, which is hovering at around 6.5%, that is most worrisome to many voters. As recently as the 1990s, Brazil was bedeviled with hyperinflation; automatic cost-of-living increases are still built into salaries, rents and pensions.
Mr. Fraga appears to be positioning himself as something of an inflation whisperer. As president of Brazil's central bank from 1999 to 2002 under the administration of President Fernando Henrique Cardoso, he helped stabilize the currency and rein in consumer prices. Mr. Fraga supports restrained public spending, tough inflation targeting and a floating exchange rate, policies that became known in Brazil as the "economic tripod."
He is highly critical of the Rousseff administration's decision slow inflation by capping gasoline prices and electricity rates, moves he dismissed as "gimmicks." He's also alarmed that Brazil's central bank has been intervening regularly in the currency markets to prop up Brazil's real against the dollar, a strategy he ridicules a "populist move."
Mr. Fraga said these are stopgap measures that already are proving unworkable and that Brazil needs to focus on long-term fundamentals like increasing private investment and balancing its books. Credit agency Standard & Poor's earlier this year cut the credit rating on Brazil´s long term bonds to one notch above junk, citing deteriorating government accounts and rising debt.
"We have to give up on these gimmicks that have a lot of side effects and focus on bringing inflation down," Mr. Fraga said.
After leaving the central bank, Mr. Fraga helped found Gávea Investimentos, an asset management firm with around $7 billion in assets under management. He also served as chairman of Brazil's BM&F Bovespa SA, BVMF3.BR +0.91% Latin America's largest stock exchange. Earlier in his career he worked at Soros Fund Management LLC in New York for 6 years.
But whether those prestigious credentials help boost Mr. Neves chances at the presidency remains to be seen.
A spokesman for Ms. Rousseff declined to comment. But on the campaign trail, the president and her political mentor, former President Luiz Inácio Lula da Silva, constantly remind voters that millions of Brazilians have been lifted from poverty since their Workers´ Party ascended to power with Mr. da Silva's election in 2002.
Economist Luiz Gonzaga Belluzzo, who has advised both Ms. Rousseff and Mr. da Silva, noted Mr. Fraga's ideas didn't translate into robust growth for Brazil.
"They speak about the 'economic tripod' as if it were holy trinity, but the fact is that during the eight years of Cardoso government the economy grew very little, an average of only 2.3%," said Mr. Belluzo, who is also an academic and writer.
Mr. Fraga contends that many Brazilians sense the country is on the wrong path and that current pessimism about the economy is well-founded.
"I believe our history proves that high inflation, high budget deficit and weak balance of payments have never been good for growth, on the contrary," he said.

Mercosul indigena: quais indigenas? Os nossos, ou os deles? - Rubens Barbosa

Talvez o título desta postagem devesse ser:
Mercosul Ridículo

Enfim, não vou nem comentar, inclusive porque já fiz uma postagem sobre isso (basta buscar sob o nome do título), e acho que é melhor preservar a capacidade do Mercosul melhorar: por exemplo, criando agora um Mercosul das Crianças, dos Homossexuais, dos Negros, das Mulheres, dos Ecologistas, dos Deficientes Físicos, dos Canhotos, dos Baixinhos, dos Palhaços de Circo, dos Skatistas, dos que acham o Mercosul ridículo, enfim, deve ter para todo mundo.
Por que discriminar?
Paulo Roberto de Almeida

Mercosul indígena
Rubens Barbosa
O Estado de S.Paulo, 12/08/2014

Finalmente, depois de mais de um ano, os presidentes dos cinco países do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela) conseguiram marcar reunião do Conselho Presidencial na Venezuela. Nos longos comunicados ao fim do encontro, poucas referências a avanços na área comercial. Em compensação, foram assinadas declarações, de apoio à Argentina sobre o pagamento de sua dívida soberana, sobre o Banco do Sul, sobre os direitos nos EUA das crianças e adolescentes migrantes não acompanhados.
 Além disso, Hugo Chávez e Néstor Kirchner foram declarados cidadãos ilustres do Mercosul. A proposta brasileira para antecipar a formação de área de livre comércio com a Colômbia e o Peru nem chegou a ser examinada.
Poucos notaram que na declaração do Mercosul sobre a situação de Gaza houve um significativo fato político: o Paraguai recusou-se a assiná-la e quebrou a unidade do grupo em tema tão sensível. Uma das decisões mais curiosas, anunciada ao fim da reunião, foi a instituição do Mercosul Indígena, que certamente dará grande impulso às relações comerciais do grupo...
Alguns exemplos demonstram o estado em que se encontra o Mercosul.
- A Bolívia, membro associado desde 1997, assinou protocolo de adesão quase em segredo de Estado, sem discussão pública. Recentemente, os Congressos do Uruguai e da Venezuela ratificaram o protocolo. Até agora, o documento não foi submetido ao Congresso brasileiro, porque, se fosse, teria dificuldades para aprovação em virtude do asilo ao senador boliviano. A Bolívia ganhou o status de país-membro em processo de adesão, podendo participar plenamente de todas as reuniões, sem voto.
- A negociação do acordo Mercosul-União Europeia desapareceu dos radares por dificuldades com a Argentina (como sempre) e desinteresse por parte do governo brasileiro.
- A negociação entre Brasil e Argentina sobre o acordo automotriz terminou com novo retrocesso. Em vez de manter o livre comércio, o governo brasileiro cedeu mais uma vez à pressão argentina e aprovou uma trava à exportação do Brasil de até uma vez e meio do total comprado da Argentina (antes era 1,9).
- A grave situação econômica na Argentina e na Venezuela, com crescimento em baixa, inflação em alta e moeda depreciada, e total insegurança jurídica, prejudicam as empresas brasileiras pela redução do mercado e pelo não pagamento das exportações.
- O comércio do Brasil com a Argentina está afetado por toda essa situação, com queda de 20%, em especial dos produtos manufaturados.

Olhando apenas para o estrito interesse brasileiro, a política passiva e reativa em relação ao grupo regional tem de ser revista. A redução da influência ideológica nas decisões e a flexibilização de algumas regras estão entre as mudanças que o Brasil deveria buscar a partir de 2015, com o objetivo de facilitar as negociações comerciais com países que possam ampliar o mercado para as exportações do grupo e permitir acesso a tecnologias e inovações para as empresas brasileiras. O Brasil não pode continuar atrelado ao atraso.

Minihistoria economica do Brasil - Fabio Giambiagi

Fim de Ciclo
Fabio Giambiagi
O Globo, 11/08/2014



Quem estuda a História do Brasil percebe claramente a existência de ciclos, que se alternam nas fases de prosperidade e de problemas. Sem retroagir a épocas mais antigas, já que não há espaço aqui para analisar, podemos dividir o desenvolvimento no período do pós-guerra, ou seja, praticamente os últimos 70 anos de nossa vida como nação, nas seguintes etapas, com alguma arbitrariedade tanto na periodização, como na escolha do “título” associado a cada fase:
— 1946/55. “Imediato pós-guerra”. São os anos nos quais o país procura a sua inserção depois da Segunda Guerra Mundial e que foram caracterizados por bons níveis de crescimento, inflação crescente e muita turbulência política, tendo como marco o suicídio de Getúlio.
— 1956/60. “Euforia de JK”. É o período em que o Brasil se descobre “vocacionado para o crescimento”, quando de certa forma se cria o que se poderia denominar de “mística do desenvolvimento”, com grande dose de otimismo quanto ao futuro, mas um grande acúmulo de problemas fiscais, monetários e de Balanço de Pagamentos.
—1961/63. “Anos de crise”. É um período em que nada dá certo para o país, com sucessivas crises políticas, alta instabilidade, inflação explosiva etc.
— 1964/67. “Ajustamento do Paeg”. É quando o regime militar lança o Plano de Ação Econômica do Governo e promove reformas que acabaram gerando um forte crescimento posterior.
— 1968/73. “Milagre”. É o período de boom do governo militar, com fortíssimo crescimento da economia.
— 1974/80. “Anos do II PND”. Período do II Plano Nacional de Desenvolvimento — que, a rigor, vai até 1979, mas cuja periodização aqui esticamos mais um ano — com substituição de importações e grande acúmulo de dívida externa.
— 1981/1994. “Anos de crise” (novamente). É um período muito conturbado, que abrange a “década perdida” dos 80, uma hiperinflação reprimida, cinco planos fracassados de estabilização e o esgotamento do modelo de desenvolvimento posterior à crise de 1930.
— 1995/2003. “Estabilização com baixo crescimento.” São os primeiros anos da estabilização, com esforço de ajuste fiscal, forte controle monetário e reformas estruturais, mas no contexto de várias crises mundiais e baixo crescimento econômico.
Depois de 2003, inicia-se no Brasil um novo ciclo, caracterizado pela combinação de quatro circunstâncias excepcionais, nem todas presentes desde o começo, mas que foram se acentuando na segunda metade da década passada: a) elevados preços das commodities; b) taxa de juros internacionais excepcionalmente baixas; c) existência de um grande contingente inicial de trabalhadores desempregados; e d) apreciação cambial. Diante disso, foi possível ao país crescer, mas sem pressionar muito as suas contas externas — uma vez que o maior crescimento das importações era mitigado pela evolução dos termos de troca — ao mesmo tempo que havia financiamento externo abundante e barato, ampla disponibilidade de trabalhadores para crescer mesmo sendo nossa produtividade baixa e tudo isso sem alimentar a inflação, pela ajuda de um câmbio favorável.
Brasil viveu alguns ‘anos dourados’, exceção feita ao curto intervalo da crise do fim de 2008, com efeitos no resultado anual de 2009 e rapidamente revertidos
Nesse contexto, o Brasil viveu alguns “anos dourados”, exceção feita ao curto intervalo da crise do fim de 2008, com efeitos no resultado anual de 2009 e rapidamente revertidos. O governo Dilma Rousseff correspondeu ao fim desse ciclo, uma vez que as circunstâncias foram sendo modificadas, a saber: a) o preço das commodities, tudo indica, bateu no teto; b) a elevação dos juros internacionais nesta década já começou a entrar no radar; c) o desemprego caiu até o piso; e d) a queda da cotação R$/US$ pertence claramente ao passado.
Diante disso, o software adotado para fazer a economia crescer depois de 2003 — baseado em injeções de demanda — e passando por cima de diferenças importantes entre a condução da economia antes e depois de 2005 com a troca de guarda no Ministério da Fazenda, claramente não serve mais. A “etapa fácil” do crescimento se esgotou. O Brasil vive um fim de ciclo, similar de certa forma ao do fim dos anos 70, no sentido de que o que serviu durante anos não serve mais. Chegou o momento do investimento em infraestrutura, da educação de qualidade e dos aumentos de produtividade. Sem isso, no mundo de hoje, o país estará fora do jogo. O desafio é enorme.
Fonte: O Globo, 11/08/2014

Sobre

Fabio Giambiagi
Um dos maiores especialistas brasileiros nas áreas de finanças públicas e previdência social, Fábio Giambiagi faz parte do Departamento Econômico do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) desde 1996. Entre 1993 e 1994, trabalhou no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Washington. Também foi professor de diversas cadeiras na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ). É mestre em Ciências Econômicas pelo Instituto de Economia da UFRJ e graduado pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FEA/UFRJ). É autor de “Reforma da Previdência” (Editora Campus, 2006) e “Brasil – Raízes do atraso” (Editora Campus, 2007).

Movimento Nacional de Acao Democratica - manifesto e constituicao de grupo de apoio

Militares da reserva, e previsivelmente da ativa, também, se lançam na defesa de valores democráticos e da reconstrução nacional, que eles veem ameaçados pelo partido neobolchevique atualmente no poder (e com razão).
A despeito de algumas reivindicações não exatamente nacionais, mas corporativas -- explicadas pela deterioração dos soldos e a penúria de recursos para equipamentos e treinos -- o manifesto traduz bastante bem o clima existente em largas frações da classe média (aliás dos próprios militares), que se iludiram, em 2003, com a chegada de um nacionalista de fachada ao poder, e continuaram a se iludir depois, com todas as bravatas nacionalisteiras, que muitos militares defendem.
Sem concordar com todos os pontos, vou transcrever aqui seu manifesto e relação de princípios e valores defendidos, pois me parecem dignos de conhecimento e ampla disseminação.
Tenho restrições, por exemplo, a estes dois pontos:

9) Rever a política de celebração de acordos comerciais externos, levando em conta exclusivamente a proteção dos interesses nacionais e abandonando qualquer viés ideológico.
PRA: Todos os países inteligentes celebram acordos comerciais (por definição externos), e os verdadeiramente inteligentes, como a China, por exemplo, não costumam exibir nenhum viés ideológico nessas negociações, apenas e tão somente seus interesses econômicos. Essa menção a "proteção" descamba facilmente para o protecionismo comercial, um elemento absolutamente nefasto, prejudicial e pouco inteligente de promover os interesses nacionais. Os militares sempre foram defensores do nacionalismo econômico, e conseguiram levar o país aos extremos da autarquia comercial, e aos extremos da burrice tecnológica (ao defender, por exemplo, a lei de informática). Já está na hora de aprender um pouco de economia...

  10) Como Comandante Supremo da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, corrigir as aflitivas condições em que se encontra a Família Militar, em particular no que tange ao descompasso salarial , e combater as tentativas de desmoralizar as Forças Armadas, instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, destinadas à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.

 PRA: Essa reivindicação não tem nada de nacional, e é apenas corporativa, ainda que seja legítima. Mas não deveria fazer parte de um manifesto que se pretende nacional.

Não tenho preferências políticas eleitorais, como já disse várias vezes, mas defendo ideias e valores, como os militares e seus aliados civis.
As trincheiras da democracia, atualmente, são as urnas, e não mais os tanques e manobras militares.
Creio que eles começam bem, sobretudo porque se trata de educar politicamente ampla massa de votantes, ainda enganados pelos discursos mentirosos e fraudulentos dos companheiros mafiosos.
Vamos lutar o bom combate.
Eu não me filio a partidos ou a movimentos políticos, mas não deixo de assumir minhas responsabilidades de cidadão consciente quando há necessidade disso.
Este é o momento. Leiam, tomem posição.
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 12/08/2014

Movimento Nacional de Ação Democrática


            Nunca como agora a ameaça comunista foi tão poderosa em nosso País. Dentro da mais pura concepção Gramsciana, marchamos celeremente na transição para o socialismo.
O inimigo já conquistou a hegemonia na Sociedade Civil (no sentido dado por Gramsci); já semeou a cizânia entre o povo brasileiro lançando minorias criadas ad hoc contra aqueles que ele rotula de  “burguesia” ou “elites”; já criou sua militância agressiva (modelo black blocs), para  atemorizar os setores democratas e ordeiros da população, inviabilizando suas manifestações pacíficas; já manifestou sua leniência com a criminalidade, que cresce assustadora e impunemente, atemorizando os cidadão de bem e já está tentando sovietizar o país valendo-se das liberdades  democráticas para destruir definitivamente a democracia.
Já assumiu o governo.
Já vem acumulando forças há bastante tempo, inflando o Estado com cargos de confiança, aparelhando o Legislativo e o Judiciário e cooptando vastos setores pseudo-intelectuais, da mídia, das artes e do magistério e formando suas milícias populares (Guilherme Boulos, líder do MTST,  declarou ao jornal "O Estado de S. Paulo": O MTST "não é um movimento de moradia", mas "um projeto de acumulação de forças para mudança social": percebam o jargão de Gramsci).
O próximo passo gramscista é a provocação de uma crise institucional que lhes permita a ruptura do sistema e a tomada definitiva do poder. Isso está mais perto do que a maioria dos brasileiros pode sequer imaginar!
As eleições se aproximam. Elas são a última esperança para que possamos evitar o mergulho do país no poço negro e sem fundo do socialismo. Se derrotarmos o partido no poder, destruiremos o Reich petista e afastaremos o perigo imediato.
Por isso, estou lhes solicitando, por amor à Pátria Brasileira, que visitem nosso site www.monte-castelo.org * e participem do esforço para provocar a alternância de poder em nosso País e evitar a debacle da democracia em nossa Terra de Santa Cruz. Se estiverem de acordo, por favor, difundam à exaustão nosso Movimento.
Recebam meu abraço fraterno e agradecido.

Cel José Gobbo Ferreira
Coordenador do Movimento Nacional de Ação Democrática

*: As páginas do Movimento Nacional de Ação Democrática estão hospedadas no endereço http://www.monte-castelo.org

Movimento Nacional de Ação Democrática

O Decreto nº 8.243 da Presidente da República que tenta estabelecer uma organização soviética de governo torna explicita a intenção do PT de transformar o Brasil em uma república socialista soviética.

          É evidente que a salvação da Nação brasileira depende da derrota desse partido e da eleição de um Presidente da República comprometido com a reversão desse processo.

          As Forças Armadas, única instituição organizada com poder suficiente para evitar a queda do país no precipício comunista, tem sido objeto de uma bem orquestrada campanha visando desacreditá-las junto à sociedade brasileira, além de um propositado arrocho salarial que não cessará enquanto o PT não for alijado do poder.

          Acontece que as Forças Armadas constituem, entre oficiais e graduados da Ativa e da Reserva e seus familiares votantes, um contingente eleitoral que alcança centenas de milhares de votos.

          Por outro lado, outros tantos eleitores no segmento civil esclarecido da sociedade, também revoltados com o caminho que nosso País vem trilhando, lançam seguidos apelos aos militares para que tomem atitudes no sentido de corrigi-lo, prontos a juntarem-se organizadamente a um movimento destinado a mudar esse estado de coisas, dentro das regras da democracia representativa.

           Conscientes disso, um grupo de patriotas, civis e militares, decidiu dedicar seus melhores esforços para congregar em um Movimento Nacional de Ação Democrática o maior número possível de civis e militares da Ativa e da Reserva que comunguem dos mesmos ideais, a fim de oferecer o conjunto dos votos dos cadastrados no movimento ao candidato que se comprometa a agir dentro de um rol de princípios perfeitamente definidos.

Os princípios com os quais o Candidato que apoiaremos deverá se comprometer são:

            1) Preservar os ideais democráticos de liberdade individual, social e econômica e combater toda e qualquer iniciativa que, velada ou ostensivamente, vise contribuir para a tomada do poder por grupos de orientação socialista revolucionária.
            2) Garantir que a vontade do povo, manifestada por ocasião do voto, seja rigorosamente obedecida, assegurando que os meios de votação estejam sempre acima de qualquer suspeita e que sua inviolabilidade seja certificada por meio de procedimentos cujos resultados sejam de domínio público.
            3) Aperfeiçoar o sistema de programas sociais, transformando-os em um vetor de alavancagem social e evitando que se tornem simples indutores de ociosidade remunerada e/ou artifício aliciador de votos.
            4) Restaurar o respeito aos princípios da ética, da moral e dos costumes sobre os quais foram fundados os valores, as tradições, a cultura e o senso comum de nosso povo.
            5) Priorizar investimentos estatais em educação, saúde e segurança pública.
            6) Dedicar-se à reforma do sistema prisional brasileiro voltada a dar aos detentos condições de contribuir para sua própria manutenção e recuperação social pelo trabalho e, nesse contexto, empenhar-se pela revisão do Estatuto da Criança e do Adolescente e do Código Penal Brasileiro, eliminando a impunibilidade absoluta dos menores de 18 (dezoito) anos.
            7) Erradicar a propaganda político-ideológica oficial em todos os níveis escolares.
            8) Respeitar e fazer respeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal; instituir a transparência como norma fundamental da economia, proibindo todo e qualquer artifício contábil na prestação das contas públicas.
            9) Rever a política de celebração de acordos comerciais externos, levando em conta exclusivamente a proteção dos interesses nacionais e abandonando qualquer viés ideológico.
            10) Como Comandante Supremo da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, corrigir as aflitivas condições em que se encontra a Família Militar, em particular no que tange ao descompasso salarial , e combater as tentativas de desmoralizar as Forças Armadas, instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, destinadas à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.

          Se estiver de acordo com esses conceitos, e entender a importância de usar o conjunto de nossos votos como instrumento de negociação democrática, convido-o a aderir a esse Movimento Nacional.

          Para isso, basta clicar
 Aquí ou no botão “Inscrição” , e preencher os dados solicitados.

          Tais dados serão mantidos em caráter de absoluta confidencialidade, mas permitirão, pelo volume e distribuição geográfica dos inscritos, aferir a força do movimento.

          Uma vez inscrito, sua mais importante missão é obter a ampliação urgente de nossos quadros, difundindo esta convocação e buscando atrair para o Movimento o maior número possível de pessoas, a começar pelos membros de sua família que sejam eleitores.

José Gobbo Ferreira
Coordenador

Receita Federal: Crise? Que crise? - Carlos Brickmann

Crise? Que crise?
Da coluna diária do jornalista Carlos Brickmann, 12/08/2014

Está tudo bem; nunca dantes na história desse país esteve tudo tão bem. Mas a Petrobras demitiu, nos últimos três meses, 3.102 funcionários. E hoje, 12 de agosto, o volume de impostos recebido pelos governos municipais, estaduais e Federal alcançou um trilhão de reais. Veja o aumento da carga de impostos: este número foi alcançado, em 2013, 15 dias mais tarde. Em 2008, primeiro ano em que os impostos atingiram R$ 1 trilhão, a data foi 15 de dezembro

Escandalos planaltinos: "Mintam, mintam, mintam, sempre sobrara' algumacoisa..."

Editorial O Estado de S.Paulo, 12/08/2014

Contra fatos não há argumentos, mas em desespero de causa sempre se pode tentar desqualificá-los, na expectativa de que outro dito se confirme – o que diz que uma mentira repetida muitas vezes acaba virando verdade. O primeiro fato, no caso, foi a revelação sustentada em evidências irrefutáveis de que, não bastasse a presidente da Petrobrás, Graça Foster, o seu antecessor José Sérgio Gabrielli e o ex-diretor da empresa Nestor Cerveró conhecerem de antemão as perguntas que lhes seriam feitas na CPI no Senado que focaliza notadamente o escândalo da compra de Pasadena, elas foram escolhidas a dedo para produzir respostas convenientes – também elas, aliás, combinadas com os depoentes.

O segundo fato inconteste foi a identificação do coordenador da armação que mobilizou dirigentes da estatal, assessores parlamentares petistas e a liderança do Planalto no Congresso, cujo titular, o senador José Pimentel, do PT, é nada menos do que o relator da CPI. (Dez de seus 13 membros, por sinal, integram a base governista na Casa.) O principal operador da farsa – veio a se saber, como tudo o mais, pela imprensa – chama-se Luiz Azevedo e exerce a função de secretário executivo da Secretaria de Relações Institucionais, comandada pelo ministro Ricardo Berzoini, calejado quadro petista. As primeiras pistas não chegavam tão longe, fixando-se no assessor especial da Secretaria, Paulo Argenta. Ele havia sido citado numa comprometedora conversa cuja gravação um dos presentes passou adiante.
A descoberta de um Pasadenagate envolvendo diretamente o braço direito do ministro responsável por fazer a ponte entre a Presidência da República e o Poder Legislativo eliminou quaisquer dúvidas que ainda pudessem subsistir sobre a razão de ser da escabrosa articulação – muito mais do que defender a elite dirigente da Petrobrás, blindar a candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição. Desde que ela confessou a este jornal, em março último, ter aprovado em 2006 a aquisição de metade da refinaria então em posse de um grupo belga, a história que parecia ter sido abandonada no freezer em seguida aos depoimentos de Gabrielli e de Graça Foster nas duas Casas do Congresso, ano passado, ressurgiu no micro-ondas.
Afinal, foi na condição de presidente da mais alta instância decisória da Petrobrás, o seu Conselho de Administração, que Dilma – fundamentando-se apenas em um resumo “técnica e juridicamente falho”, do negócio em preparo, como diria ao Estado – abriu caminho para o maior vexame da petroleira em seus 61 anos de existência. Uma sucessão de erros primários – como o de recorrer, por decisão de Dilma, de uma sólida sentença judicial americana que dava ganho de causa à parceira da Petrobrás, depois que se desavieram – abriu na estatal um rombo histórico de US$ 792,3 milhões, segundo os cálculos do Tribunal de Contas da União (TCU). Não será surpresa se um dia a cifra for revisada para cima. Ou se for constatado que, além de equívocos, grossas falcatruas contribuíram para a catástrofe financeira.
A primeira tentativa da presidente de brigar com os fatos da manipulação da CPI consistiu em se distanciar deles. “É uma questão que deve ser respondida pelo Congresso”, lavou as mãos. Desmoralizado o “incluam-me fora disso” ao se comprovar na semana passada que a farsa havia sido concebida dentro do Palácio, esperou o que seria o melhor momento para desfigurar a verdade. Para aparecer na televisão no domingo à noite, convocou pouco antes uma entrevista no Alvorada, a residência oficial dos presidentes, a pretexto de mandar uma saudação pelo Dia dos Pais. E esperou o momento de ser perguntada sobre a armação na CPI para dizer que não é correto “misturar eleição com a maior empresa de petróleo do País”.
Foi essa rota alegação que o governo invocou ao tentar de tudo – em sociedade com o dilmista Renan Calheiros, presidente do Senado – para impedir que a oposição abrisse na Casa uma CPI sobre os presumíveis malfeitos na Petrobrás. Barrado na Justiça o rolo compressor, o Planalto apropriou-se da investigação chegando aos extremos denunciados – para Dilma, apenas “um factoide político”. Fez lembrar o seu mestre Lula negando o mensalão.

Tributacao extorsiva: nao querem reduzir, apenas retirar o bode burocratico

Assim é facil: junta tudo em dois super-impostos e só reduz o número de operações e de contadores, mas o tamanho da facada permanece igual.
E ainda chamam isso de reforma tributária?
Paulo Roberto de Almeida 

Projeto prevê simplificação tributária em quatro anos

Proposta do Movimento Brasil Eficiente, apresentada aos candidatos, pretende transformar 7 tributos em 2
Ninguém duvida que o sistema de cobrança de impostos no Brasil é confuso e oneroso, mas as propostas para destravá-lo pareciam tão complexas quanto o problema e nunca avançaram. O Movimento Brasil Eficiente (MBE), que reúne entidades empresariais e especialistas em contas públicas, formulou um plano de simplificação tributária para ser cumprido em quatro anos. A proposta já foi entregue aos candidatos à presidência, que têm demonstrado interesse em enfrentar o problema a partir de 2015.
Nas palavras de Paulo Rabello de Castro, coordenador do MBE, as medidas são simples e objetivas: “Mas são tão transformadoras que podem ser consideradas um Plano Real dos Impostos”, diz. A meta é unificar 7 impostos e contribuições que formam a espinha dorsal da arrecadação brasileira e reagrupá-los em apenas 2 tributos.
Um deles foi batizado de Novo Imposto de Renda. Ele seria formado pela união de seis contribuições e impostos: o próprio IR, mais o IPI, a contribuição sobre folha de pagamento, a Cofins, o PIS e a CSLL (entenda cada tributo no quadro acima).
O segundo tributo seria o ICMS Nacional. Ele teria uma única alíquota, uma única regra e a sua arrecadação seria dividida entre União, Estados e municípios. Hoje, a cobrança do ICMS varia de Estado para Estado e ele não é compartilhado com a União.
Solução – O ICMS sempre foi um complicador. Sozinho, já emperrou muitas tentativas de reforma. Governadores e prefeitos, que partilham de seus ganhos, temem que qualquer mudança leve à perda na arrecadação. “O grande diferencial da proposta atual é que nenhum ente da federação – União, Estados ou municípios – ganharia ou perderia arrecadação”, diz Rabello. “A arrecadação se manteria, sem que houvesse sequer a necessidade de se criar um fundo para compensar eventuais perdas.”
A “mágica”, explica Rabello, estaria em redistribuir os atuais tributos. Cada Estado e município adotaria uma Unidade Real de Valor – uma espécie de URV Fiscal – para fazer transição de um modelo para outro. Ela indicaria o porcentual de participação no total da arrecadação – e a participação seria mantida com o redirecionamento dos impostos. Exemplo: as contribuições sociais, que hoje são exclusivas do caixa da União, passariam a ser compartilhadas.
Redução de custos - Segundo Rabello, ao final dos quatro anos, não haveria alteração na carga tributária – o contribuinte continuaria pagando o mesmo volume de impostos. No entanto, haveria aumento na eficiência e queda nos custos com o pessoal e a gestão da burocracia exigida pelo fisco. Estima-se que, ao final, a economia para setor privado equivaleria a 2% do PIB. No longo prazo, porém, a simplificação abriria espaço para que, efetivamente, se cobrasse menos impostos. A carga tributária, hoje acima de 36% do PIB, poderia cair a 30% do PIB até 2022, diz Rabello.
Fonte: O Estado de S. Paulo

Diplomacia brasileira: do morno ao frio, ao morno... - El Pais

O Brasil coloca à prova o seu tamanho na diplomacia mundial

Os presidenciáveis apresentam as suas propostas aos grandes desafios externos

Chamado de “anão” por Israel, o país deixa para trás um período morno em sua política externa

O papel de anfitrião na reunião de criação do banco dos Brics pode servir para o ganho de estatura

O Brasil volta a reivindicar um maior protagonismo e a medir o seu tamanho no cenário global, deixando para trás anos de uma política externa mais conservadora, concordam diplomatas e analistas ouvidos pelo EL PAÍS. O papel na criação do banco dos Brics e o posicionamento no conflito no Oriente Médio, que valeu ao país o incômodo apelido de “anão diplomático”, podem servir de impulso para essa nota etapa na agenda internacional brasileira.
Os desafios, no entanto, não são poucos, principalmente para o próximo mandato presidencial, em 2015. Entre eles estão uma maior liderança regional, sobretudo no processo de revitalização do Mercosul, uma retomada das relações com os Estados Unidos e a concretização de um acordo comercial com a União Europeia.
Entre os três principais candidatos à Presidência nas eleições de outubro, a aspirante à reeleição Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT), vislumbra uma maior participação da sociedade civil na definição das diretrizes da política externa, com uma visão multilateral em um cenário de destaque entre os Brics e os países que integram o hemisfério sul.
O adversário Aécio Neves, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), destaca, por sua vez, a importância de uma maior atenção à Ásia, aos EUA e outros países desenvolvidos, apostando em uma diplomacia mais comercial, além de uma recuperação do Mercosul. Já o candidato do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Eduardo Campos, defende, entre outros pontos, a ampliação de acordos comerciais com outros países além das fronteiras do próprio bloco sul-americano.
“O mundo está à espera de que o Brasil saia do período de maior calmaria e adote resoluções mais concretas, assumindo um perfil de maior estatura”, afirma Thomas Trebat, diretor na América Latina doColumbia Global Centers, da Universidade norte-americana de Columbia.
“O Brasil tem muito a ganhar com um perfil global mais avançado, e não só por orgulho nacional, como também por tecnologia, recursos e oportunidades”, emenda Trebat, para quem a prioridade à política externa vai além da busca por um assento no Conselho de Segurança da ONU.

O mundo está à espera de que o Brasil saia do período de maior calmaria e assuma um perfil de maior estatura
Thomas Trebat, diretor na América Latina do Columbia Global Centers
“Ao contrário de países que são pequenos e sabem disso, o Brasil quer ser grande, mas às vezes atua como pequeno”, ressalta Rubens Ricupero, ex-embaixador brasileiro em Genebra, Washington e Roma e ex-secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD).
Um passo de afirmação recente foi o “debate” em torno do conflito no Oriente Médio, também em julho. Ainda que a volta do embaixador brasileiro em Tel Aviv para consultas divida opiniões entre os especialistas, o posicionamento de condenação à desproporcionalidade dos ataques israelenses acabou sendo seguido nos últimos dias por “gigantes diplomáticos” como França e Reino Unido, quereforçaram as suas ações devido ao alto número de civis mortos no conflito.
A temperatura entre os países começou a subir quando o Itamaraty emitiu a sua segunda nota em uma semana comentando o conflito. Só que, desta vez, o governo brasileiro não condenava explicitamente o lançamento de foguetes e morteiros de Gaza contra o território israelense. Em resposta, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores israelense classificou o Brasil como um “anão diplomático”.

A política externa teve com os Brics um resultado concreto e importante, após muitas críticas à ausência de resultados
Rubens Ricupero, diplomata e ex-secretário-geral da UNCTAD
Outro ponto de busca de afirmação recente pode servir de exemplo: a condição bem-sucedida de anfitrião da reunião que marcou a criação do banco dos Brics, em julho. O grupo emergente, formado também por Rússia, Índia, China e África do Sul, pactuou a constituição de um banco de fomento e um fundo de reservas para ajudar os países integrantes no caso de uma possível crise de liquidez.
“A política externa brasileira teve com os Brics um resultado concreto e importante. Até então a diplomacia vinha sendo criticada pela ausência de resultados significativos”, avalia Ricupero, também ex-ministro da Fazenda brasileiro. Segundo o diplomata, a concordância para a cessão da sede do novo órgão para Xangai, na China, e da primeira secretaria-geral para a Índia, esteve ainda longe de representar uma derrota ao Brasil. “Caberia ao anfitrião esse comprometimento”, avalia.
Seguindo a mesma linha, Alberto Pfeifer, professor de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), classifica o encontro bem-sucedido dos Brics como um dos pontos altos do processo de “reativismo” da diplomacia brasileira. “O Brasil conseguiu agir com competência em uma cúpula que apresentou ao mundo um passo de instrumentalização financeira”, reforça.

Uma hora o Brasil acha que tem mais poder do que tem, na outra acredita que tem menos
João Augusto de Castro, diretor e analista da consultoria Eurasia
Uma maior visibilidade nas relações externas, sejam políticas ou comerciais, acarreta uma maior exposição a novos adversários, avalia João Augusto de Castro, diretor e analista da consultoria Eurasia, com sede em Washington. Segundo ele, o país precisa ainda ter uma ideia mais clara do seu peso internacional. “Uma hora o Brasil acha que tem mais poder do que tem, na outra acha que tem menos”, completa.
Como exemplo, ele cita a intervenção brasileira com a Turquia para o envio de urânio por parte do Irã para ser enriquecido no exterior, em 2010. Em meio à oficialização do acordo, os Estados Unidos acabaram por desautorizar a iniciativa, reforçando a proposição de sanções contra Teerã. “O Brasil acabou exagerando um pouco na dose e acabou se retraindo aos poucos”, completa Castro.

Os desafios

Os desafios que se apresentam à diplomacia brasileira, e ao novo mandato presidencial em 2015, não são mesmo poucos. A começar pela sub-região do Mercosul, em meio à deterioração da situação econômica de seus membros, sobretudo da Argentina, e à falta de novos acordos comerciais. “O bloco vive uma crise muito grave, sem que houvesse uma iniciativa nossa para superar os problemas”, afirma o diplomata Ricupero.
“Precisamos de uma nova agenda produtiva, econômica, comercial, política no Mercosul. Temos de ser mais pragmáticos e aprofundar a relação aduaneira, o livre comércio para que funcione de fato. Há muitas barreiras em vigor, como no caso das importações pela Argentina”, completa o professor Pfeifer.

Precisamos de uma nova agenda produtiva, econômica, comercial e política no Mercosul
Alberto Pfeifer, professor de Relações Internacionais da USP
Enquanto isso, o Mercosul vê emergir com força a Aliança do Pacífico, formada por México, Colômbia, Peru e Chile, e de quem uma aproximação se tornaria também algo muito positivo, embora ainda distante no momento. A China e o continente africano também não podem sair do radar.
“Existem outras iniciativas de relações entre blocos e países que estão em andamento e que podem marginalizar a Organização Mundial do Comércio (OMC), órgão que tem sido a aposta do Brasil”, emenda Castro, em referência à liderança exercida pelo diretor-geral da entidade, o brasileiro Roberto Azevêdo.
Outro ponto a ser fortemente considerado é um acordo comercial com a União Europeia (UE), cujas negociações entre os blocos se arrastam há mais de 20 anos e atualmente se encontram em banho-maria, segundo os especialistas ouvidos pelo EL PAÍS. “Se der certo, criaríamos um precedente para desmitificar a ideia de livre comércio no Brasil”, reforça Castro.

A retomada das relações com os EUA, após o caso Snowden, também deverá ser uma prioridade externa
Na última quinta, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior brasileiro, Mauro Borges, destacou que o país já chegou a um acordo com os parceiros do Mercosul sobre a oferta que será encaminhada à UE para a assinatura de um aguardado acordo comercial. Logo, o momento seria de espera de uma contrapartida do lado europeu.
A retomada das relações com os Estados Unidos, após o escândalo de espionagem denunciado no ano passado, que levou a parceria entre governos ao seu pior ponto em 30 anos, também deverá ser uma prioridade nos próximos meses.
“Parte da responsabilidade está do lado do governo norte-americano. Obama não deu muita atenção em seis anos para a América Latina. O escândalo da NSA acabou congelando as relações entre os governos, mas a visita do (vice-presidente norte-americano Joe) Biden em junho ajudou a relação a melhorar muito”, avalia o consultor da Eurasia.
O episódio de espionagem à própria presidenta Dilma Rousseff e assessores acabaria ainda ajudando uma importante iniciativa brasileira em escala global a avançar. Trata-se do Marco Civil da internet,sancionado pela presidenta e que estabelece princípios, garantias, direitos e deveres a usuários e provedores no país.
“A lei é boa e serve de modelo internacional para o uso compartilhado da rede”, avalia Trebat, do Columbia Global Centers. “A agenda brasileira para os próximos períodos é extensa. E o país precisa ter mais confiança na avaliação de seus próprios recursos”, resume o analista.