Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;
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quinta-feira, 21 de agosto de 2014
Conferencia da FGV-SP sobre comercio exterior do Brasil - Vera Thorstensen
quarta-feira, 20 de agosto de 2014
Ebola na Liberia: situacao fugiu ao controle, segundo esposa de embaixador
Mulher do embaixador do Brasil na Libéria descreve clima de horror com surto de ebola
Depoimento, enviado por e-mail a amigos, foi publicado no Facebook por outro diplomata
No relato, Arlinda explica o quão complicada está a situação na cidade. Famílias se recusam a entregar os corpos de parentes mortos às autoridades. Como estão proibidas de enterrá-los, elas fazem os funerais de madrugada, com a ajuda "contratada" de moradores de rua, que carregam os cadáveres e acabam sendo contaminados por isso. Mães embalam no colo seus bebês falecidos, e também são infectadas, segundo o depoimento da mulher do embaixador. Num comentário feito no post de Pedro Menezes, a própria Arlinda deixa claro que este é um relato pessoal, e não oficial da Embaixada Brasileira na Libéria.
Leia, abaixo, o texto na íntegra
"Amigos, vou escrever uma mensagem geral a todos aqui pois tenho recebido inúmeros telefonemas, emails e inbox e fica difícil responder a todos individualmente.
A situação por aqui segue gravíssima! Muitas famílias continuam nao querendo entregar os corpos às autoridades sanitárias e acabam escondendo o corpo, dentro de suas casas, por vários dias. Numa tentativa desesperada por nao deixar que os vizinhos descubram que existe um morto em casa, eles "contratam" mendigos e fazem enterro clandestino no meio da madrugada. Nesse processo, familiares e mendigos encarregados de mover e enterrar o corpo sao contaminados e morrem alguns dias depois. Por conta disso, a Presidente decretou toque de recolher entre 9 da noite e 6 da manhã, numa tentativa de impedir as pessoas de circularem pelas ruas e, assim, organizar enterros clandestinos.
A maior favela de Monrovia é considerada o epicentro do Ebola na capital e é onde os maiores horrores acontecem, como a invasão de um centro de isolamento onde foram roubados colchões e objetos infectados com fezes e sangue, e mais de 30 pessoas que se encontravam em tratamento fugiram.
Conversei por telefone como a Irmã Maria (freira brasileira que mora aqui há 30 anos) e ela me relatou cenas de filme de terror na localidade onde ela mora, a uns 20 km de Monrovia: famílias inteiras amanhecem mortas, mães que perdem seus bebês mas continuam carregando e ninando o corpo por vários dias, até que elas mesmas morrem, pais que ao perder a esposa de ebola se junta ao corpo com os filhos para que todos possam se contaminar e morrer…
A congregação dela tem feito muito pelos doentes, mas mais em termos de doações e orações, uma vez que elas estão proibidas de trabalhar junto aos doentes pois já sao freiras de idade avançada.
Andre e eu estamos bem fisicamente, mas emocionalmente está sendo difícil. Vemos como a economia do país está despencando,muitos estabelecimentos comerciais estao fechando, os empregados estrangeiros estão pedindo demissão e querem retornar aos seus países de origem, o desabastecimento de comida nos supermercados já é visível e, o pior de tudo, o número de infectados continuam aumentando, o que nos da a certeza de que a situação está longe de ser controlada. A cidade amanheceu sob vários portestos/distúrbios em alguns pontos devido ao fato de que a favela West Point foi cercada e colocada em quarentena e muitos liberianos sao contra esse procedimento.
Como já mencionei anteriormente, o risco de contaminação, no nosso caso, é baixo. Nós estamos mantendo o mínimo de contato possível com os locais, lavando as mãos 50 mil vezes ao dia e nao estamos frequentando qquer evento social. Por enquanto a evacuacao de diplomatas está descartada por todas as embaixadas presentes aqui em Monrovia, incluindo a nossa. Continuaremos acompanhando a situação e reavaliando essa posição semanalmente.
Por enquanto é isso. Agradeço a todos pelo carinho, orações, telefonemas, mensagens. Continuem rezando por todas essas pessoas aqui que estão sofrendo muito".
Eleicoes 2014: a irresistivel ascensao de Marina Silva? - Reinaldo Azevedo
A vespa se aproxima da Joaninha inocente; o objetivo é injetar um ovo em seu abdômen sem que a coitadinha perceba. Nem dói…
Depois de algum tempo, a Joaninha passa a carregar a estrovenga, como um zumbi, uma morta-viva. Assim que a nova vespa nascer, a hospedeira morre… para valer
1: Marina disse há quatro dias que acataria os acordos regionais feitos por Eduardo Campos. Isso não vale mais: ela só vai subir em palanques em que todos os partidos pertençam à coligação nacional. Isso exclui São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio.
2: O comando do PSB afirmou que Marina assinaria uma carta de compromisso mantendo os fundamentos da programa que Campos queria para o país. Marina já deixou claro que não assina nada.
3: O PSB tinha o comando da campanha de Eduardo Campos, que estava a cargo de Carlos Siqueira. Marina resolveu dividir o a função com o deputado federal marinheiro Walter Feldman (SP). Na prática, todo mundo sabe, Siqueira foi destituído.
Vale dizer: Marina está, como sempre, fazendo tudo o que quer, do modo que quer, na hora em que quer. Para alguma melancolia deste escriba, acabo de ouvir na TV uma jornalista a dizer que isso só prova a… “coerência” de Marina. É mesmo, é? Entre a burrice e a desinformação, acuso as duas.
Feldman, agora seu braço direito, é um portento da “nova política” que Marina diz abraçar.Foi secretário do governador Mário Covas e dos prefeitos José Serra e Gilberto Kassab. Só não se tornou secretário de Saúde do então prefeito Paulo Maluf porque Covas não deixou. Saiu do PSDB atirando contra o governador Alckmin e voltou tempos depois, fazendo uma espécie de mea-culpa. Durou pouco a fidelidade. Ainda como deputado tucano, juntou-se aos marineiros e passou a comandar a resistência a qualquer acordo com o PSDB em São Paulo. Não se trata de uma sequência para depreciá-lo. Trata-se apenas de fatos.
É claro que Feldman vai atuar contra a candidatura de Alckmin à reeleição. Até aí, tudo bem, né? Faça o que quiser. Ocorre que o candidato a vice na chapa do governador é o deputado Márcio Franca, do PSB, partido ao qual, formalmente ao menos, Marina e seu coordenador pertencem. Aliás, depois de Campos, França é a liderança de maior expressão nacional da legenda, que tem uma grande chance de ocupar um posto político importantíssimo no Estado mais rico do país e com o maior eleitorado.
Se Marina já deixou claro que não vai respeitar os acordos firmados por Campos, ainda que esteja ocupando o seu lugar, por que ela respeitaria o programa do PSB caso se eleja presidente da República? A minha tarefa é fazer a pergunta. A dela é cuidar da resposta.
Olhem aqui. No dia 19 de dezembro de 2013, escrevi um post em que comparava Marina a certa vespa que usa outros insetos, especialmente a Joaninha — ainda viva — para depositar seu ovo. A estrovenga é injetada diretamente no abdômen da vítima, que carrega, então, a futura larva até que uma nova vespa venha à luz. Quando esta nasce, o hospedeiro morre. Há oito meses, portanto, com Campos ainda vivo, afirmei que era precisamente isso o que Marina faria com o PSB. Como eu sabia? A partir de determinado momento, ela tentou ser hospedeira do PT, com agenda própria. Foi repelida. Buscou fazer o mesmo com o PV. Foi repelida outra vez — e sua grande votação não levou a um aumento da bancada da legenda. Era o partido do “Eu-Sozinha”. Não fez, por exemplo, o menor esforço para eleger uma bancada do PV. Terminada a eleição, tentou tomar a direção do partido. Não conseguiu e saiu para fundar a Rede. Agora, no caso do PSB, não sei, não, parece que o ovo foi parar no abdômen do partido.
Ganhe Marina a eleição ou não, tão logo ela migre para a sua Rede, o PSB será menor do que era antes da sua entrada. Na nova legenda, aí sim, ela será, como sempre quis, em sua infinita humildade, Igreja e Estado ao mesmo tempo; rainha e autoridade teológica. E sempre cercada de fanáticos religiosos, com diploma universitário.
A frase da semana, do ano, talvez de sempre: gramatica
I don't judge people based on race, creed, color or gender.
I judge people based on speeling, grammar, punctuation, and sentence structure.
Grammarly Cards
Aproveitando a deixa, eu diria o seguinte: não voto em quem não sabe falar, em quem atenta contra as regras mínimas da gramática, em quem não sabe construir uma frase simples que tenha sujeito, verbo e complemento, ponto.
Ponto não: não voto em quem não sabe pensar...
Paulo Roberto de Almeida
Livros, livros, autores, escritores: Bienal do livro de Sao Paulo
segunda-feira, 18 de agosto de 2014
Eleicoes 2014 e o Fim do Brasil: os paradoxos do governo
Mas não é para afundar o Brasil, e sim para salvá-lo dos malucos que estão no comando da economia.
Vão conseguir?
Não sei, mas vocês têm mais notícias abaixo.
Paulo Roberto de Almeida
Os 4 paradoxos do Governo Dilma
00:12- Sala cheia
Agradeço a presença de todos em nosso evento, realizado esta manhã em São Paulo. Além da tese sobre O Fim do Brasil, apresentada pelo Felipe Miranda, o expediente contou com um debate econômico construtivo entre Eduardo Giannetti, Mansueto Almeida e Marcos Lisboa.
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Faço das palavras de Masueto as minhas: independentemente de quem venha governar, é preciso ao menos ouvir os contrapontos. Um debate econômico aberto só tem a agregar.
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01:12- Giannetti e os 4 paradoxos do governo
1. O governo estatizante quebrou as duas principais estatais do país
2. O governo com viés nacional desenvolvimentista foi responsável pela maior desindustrialização da história 3. O governo com a bandeira de reduzir os juros vai entregar o país com a Selic maior do que pegou 4. O governo com bandeira de crescimento entregou o menor crescimento do PIB de todo regime republicano (considerando Collor+Itamar como um ciclo de 4 anos)
01:56- Lisboa e as injustiças com o governo
Por sua vez, Marcos Lisboa, além de ressaltar a importância da transparência e da meritocracia nas políticas públicas, citou algumas injustiças cometidas com o governo atual, dentre elas:
+ o argumento de que o governo é refratário com os empresários: segundo Lisboa não é; o governo conversa com os empresários, mas conversa demais, a portas fechadas e concede benefício a alguns (em detrimento ao prejuízo de outros)
+ a crítica ao modelo de crescimento baseado em consumo: para Lisboa o modelo nunca foi baseado em consumo, mas sim em investimento; mas não deu certo.
02:22- Mansueto e o ajuste
Dentre diversos pontos, Mansueto destacou o problema das contas públicas e alguns dos truques utilizados para maquiar (ou, postergar) as discrepâncias. Para ele existe sim espaço para um ajuste firme no balanço do governo. Mas disse não acreditar em expressivos ajustes fiscais de curto prazo.
Para ler mais sobre o evento:
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Eleicoes 2014: mercados sao contra o continuismo
Mercado precifica cenário ‘todos contra o PT’
Eleicoes 2014: diretrizes de Aecio Neves para a Politica Externa
Acredito que sejam mais de campanha do que de governo, mas enfim, todo mundo tem o direito de meter a sua colher na política externa, como aliás já fazem os companheiros desde 2002 (isso).
Parece pouca coisa, mas é pouco mesmo. Não poderia ser maior, dada as características do documento, mas poderia ser melhor...
Paulo Roberto de Almeida
VI.II. POLÍTICA EXTERNA
A nova política externa que queremos implantar no Brasil, levando em conta as transformações mundiais e regionais do século XXI, terá por objetivo restabelecer o seu tradicional caráter de política de Estado, visando o interesse nacional, de forma coerente com os valores fundamentais da democracia e dos direitos humanos.
DIRETRIZES:
1. A política externa será conduzida com base nos princípios da moderação e da independência, que sempre nos serviram bem, com vistas à prevalência dos interesses brasileiros e dos objetivos de longo prazo de desenvolvimento nacional.
2. Reavaliação das prioridades estratégicas à luz das transformações do cenário internacional no século XXI. Devem merecer atenção especial a Ásia, em função de seu peso crescente, os EUA e outros países desenvolvidos, pelo acesso à inovação e tecnologia, ao mesmo tempo em que deverá ser ampliada e diversificada a relação com os países em desenvolvimento.
3. Reexame das políticas seguidas no tocante à integração regional para, com a liderança do Brasil, restabelecer a primazia da liberalização comercial e o aprofundamento dos acordos vigentes e para, em relação ao Mercosul, paralisado e sem estratégia, recuperar seus objetivos iniciais e flexibilizar suas regras a fim de poder avançar nas negociações com terceiros países.
4. Definição de nova estratégia de negociações comerciais bilaterais, regionais e globais, para por fim ao isolamento do Brasil, periodizando a abertura de novos mercados e a integração do Brasil às cadeias produtivas globais.
5. Nas organizações internacionais, o Brasil deverá ampliar e dinamizar sua ação diplomática nos temas globais, como mudança de clima, sustentabilidade, energia, democracia, direitos humanos, comércio exterior, assim como novos temas, como terrorismo, guerra cibernética, controle da internet, e nas questões de paz e segurança, inclusive nas discussões sobre a ampliação do Conselho de Segurança.
6. Revalorização do Itamaraty na formulação de nossa política externa, subsidiando as decisões presidenciais. Ao mesmo tempo, serão garantidos o contínuo aprimoramento de seus quadros e a modernização da sua gestão.
O Brasil para ingles ver - Michael Reid, da Economist, escreve sobre o nosso pais...
Não querendo ser malvado, detectei alguns erros no texto.
Este aqui, por exemplo:
"A abertura do comércio promovida pelo presidente Fernando Henrique na década de 90 foi radical pelos padrões brasileiros, mas não se comparada a de muitos outros países da América Latina."
ERRADO: A abertura comercial, com redução da tarifas, foi promovida pelo presidente Fernando Collor, contra a posição dos industriais e dos burocratas, aliás até dos diplomatas, que achavam que o Brasil tinha de "negociar no Gatt" uma redução de tarifas que na média era de 44%, e em vários casos ia a mais de 100% (sem falar da proibição absoluta de importar certos itens).
O FHC promoveu foi o fechamento comercial, pois assim que ele tomou posse, começou a proteger automóveis, brinquedos e outras coisas, com tarifas altas e novas proibições, inclusive absurdas cotas tarifárias para automóveis, que infernizaram a vida dos nossos diplomatas na OMC (voltaram a fazer agora a mesma coisa, com outros mecanismos).
O Brasil de FHC seguiu a Argentina, numa absurda taxa estatística de 3% a mais sobre a tarifa normal, e logo começaram os desvios (no nosso caso sempre para cima) em diversas outras linhas tarifárias.
Não, Michael Reid, FHC não promoveu abertura comercial, ao contrário. Ele começou o fechamento outra vez.
Fico por aqui, se não vou obrigar o jornalista a revisar muito o seu livro antes de soltar na praça.
Quaisquer que sejam os seus erros, eles não são nada comparados aos cometidos pelos companheiros, e não só em economia.
Embora as autoridades brasileiras, inclusive, a própria presidente Dilma Rousseff, falem muito na necessidade de aumentar os investimentos do setor privado e estimular a produtividade e a competitividade, elas acreditam que esses fatores podem e devem ser induzidos pelo governo. "A presidente acredita piamente que todo problema tem uma solução governamental", comenta o economista José Roberto Mendonça de Barros. Em 2011, quando a valorização do real estava no auge, Dilma anunciou um pacote de medidas destinadas a ajudar a indústria, batizado de Brasil Maior. Algumas medidas eram razoáveis, tais como incentivos para que universidades e empresas colaborassem na área de pesquisa. O Ciência sem Fronteiras, programa de Dilma para que brasileiros estudem no exterior, também fazia sentido. O plano, no entanto, incluía duas medidas polêmicas. A primeira era o aumento em 30 pontos percentuais do imposto sobre carros importados de montadoras com uma fábrica no Brasil. A segunda era a eliminação de imposto sobre os salários dos setores de vestuário, calçados, móveis e software. Em lugar de premiar os vencedores, objetivo de qualquer política industrial, parecia um pacote de socorro para fracassados (embora o corte de impostos sobre a folha de pagamentos tenha sido depois estendido para outros setores).
UMA CÓPIA MALFEITA
Os críticos acusam o governo de pegar a onda do capitalismo de Estado — que, segundo Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central no governo de Fernando Henrique Cardoso, nunca chegou a desaparecer por completo no Brasil. "E um modelo que enfatiza a concessão de benefícios a determinadas empresas, em vez de deixar o mercado funcionar. É um modelo ruim que, associado ao protecionismo, fica ainda pior", entende ele. Para o professor Sergio Lazzarini, da escola de negócios Insper, em São Paulo, o governo começou a usar estatais para regular os mercados de petróleo, eletricidade e bancos, fazendo com que essas empresas passassem a registrar prejuízos. Todas essas medidas contrastam com a bem-sucedida política industrial sul--coreana, evocada por Luciano Couti-nho, presidente do BNDES, e outras autoridades brasileiras. A política sul--coreana tinha como principal meta impulsionar as exportações a fim de obrigar as empresas a competir no exterior. E, passado um período limitado de tempo, o governo asiático foi implacável no corte de subsídios.
A abertura do comércio promovida pelo presidente Fernando Henrique na década de 90 foi radical pelos padrões brasileiros, mas não se comparada a de muitos outros países da América Latina. Mesmo após a queda das barreiras, a economia brasileira permaneceu relativamente fechada. As tarifas médias continuaram superiores às de Coreia do Sul, China e Taiwan, por exemplo, e ainda foram elevadas depois de 2008. O custo de importação de um contêiner para o Brasil é excepcionalmente alto. Contratos públicos e muitos setores têm regras de conteúdo nacional. Em 2012, as importações corresponderam a apenas 13% do PIB, o valor mais baixo entre os 176 países acompanhados por um estudo do Banco Mundial. A Coreia do Sul, a potência industrial e tecnológica admirada pela equipe econômica de Dilma, é muito mais aberta, com exportações e importações equivalentes a 58% e 54% do PIB, respectivamente. O pendor protecionista é arraigado entre as autoridades brasileiras. Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real, destaca as falhas nessa abordagem: "E patético você olhar tanta reclamação contra importação. Temos algo muito peculiar no Brasil, que é essa enorme abertura para investimento estrangeiro da qual não resulta em exportação. Fico abismado quando vejo nossa presidente dizer "vamos proteger nosso mercado". E quem está explorando nosso mercado são as multinacionais, que têm aqui lucros extraordinários".
O Brasil tem mesmo alergia ao liberalismo. Roberto Campos, um dos mais importantes economistas liberais do país, morto em 2001, escreveu que "assumir explicitamente o liberalismo é tão alienígena em um país com cultura dirigista quanto fazer sexo em público". (Ele mesmo começou sua carreira na vida pública como funcionário do governo dirigista de Juscelino Kubitschek.) Há razões para isso — e é por causa delas que o Brasil é diferente dos Estados Unidos, com os quais tantas vezes gosta de se comparar. Dos tempos coloniais à ditadura, a manutenção da coesão de um vasto território de geografia difícil — onde o estabelecimento de comunicações e as condições para a vida humana abundante e saudável apresentavam enormes dificuldades — foi uma preocupação permanente dos governantes. Por isso, no Brasil, foi o Estado que criou a nação, e não a nação que criou o governo, como nos Estados Unidos. Do mesmo modo, diferentemente da América espanhola, os governantes brasileiros sempre tiveram consciência da necessidade de consultar os notáveis locais, a fim de conservar a unidade nacional e evitar a secessão.
A escravidão — e o temor da revolta dos escravos — foi outra causa da necessidade de uma frente unida, além de distorcer as prioridades do Estado de tal maneira que retardou por séculos o desenvolvimento do país, condenando--o ao status de eterno país do futuro. A conseqüência trágica de uma sociedade de senhores e escravos foi que o Estado, quando começou a desenvolver a economia, não tratou de investir na educação, saúde e segurança da grande massa de brasileiros mais pobres. Foi somente a partir de 1988 que o país decidiu se propor uma sociedade em que o Estado de Direito fosse aplicado igualmente a todos.
ESTADOS UNIDOS DO SUL?
Não se trata de uma defesa da tese de que o Brasil tem de imitar os Estados Unidos. Nos tempos de Tiradentes, em Minas Gerais, se ansiava por uma república jeffersoniana. Desde então, os brasileiros comparam seu país com seu alter ego do Norte. Muitos lamentam, como o escritor brasileiro Viana Moog, morto em 1988, que o Brasil tenha produzido bandeirantes extra-tivistas em vez de trabalhadores pioneiros. O Brasil, porém, não pode mudar sua história ou, pelo menos no curto prazo, sua cultura. Na verdade, o economista e filósofo Eduardo Giannetti da Fonseca, um dos raros liberais do país, entende que, se o Brasil não se tornou como os Estados Unidos, "foi essencialmente por não querer" — por não se dispor a sacrificar a alegria e sua abordagem tranqüila da vida em prol da acumulação de capital e da prosperidade futura. Ele propõe que o Brasil ofereça ao mundo um conjunto diferente e menos materialista de valores do que o estilo de vida americano, como mostra o recente compromisso do país com o ambientalismo.
Sem dúvida, a conversão nas duas últimas décadas para políticas mais preocupadas com a proteção do meio ambiente marca o fim de uma longa marcha, de mais de quatro séculos, para ocupar o vasto território brasileiro, iniciada com jesuítas e bandeirantes. A agricultura do país já confia mais no aumento da produtividade do que na incorporação de novas terras. Ainda há, entretanto, muitos pobres. O país não poderá renunciar, por um bom tempo, à busca do crescimento econômico.
Também vale ressaltar que a crítica ao renascimento do nacional-desenvolvimentismo não constitui um argumento em prol de um Estado mínimo "neoliberal" (ou seja, neoconservador). O Brasil não é Singapura. É um país grande demais, com demasiadas desigualdades sociais e regionais, para que essa opção seja viável (ainda que os brasileiros tenham muito a aprender com a determinação daquele país com a inovação, a abertura e a seguridade social). Pelo contrário, trata-se de uma convocação para que o Brasil retome o consenso social-democrata que tanto êxito obteve de 1994 a 2006, com sua combinação de economia amplamente liberal com maior ênfase na política social e na redução das desigualdades. Se o Brasil não abandonar seu recente flerte com o renascimento do Estado corporativo e não voltar a se empenhar na criação de uma regulamentação eficaz, não conseguirá atender às demandas de seus cidadãos — detentores de um poder cada vez maior — por mais oportunidades, melhores serviços e maior qualidade de vida. E uma pena, embora talvez fosse inevitável, que o debate no seio do movimento de oposição que se alastrou por São Paulo no fim da década de 70 tenha levado à fundação de dois partidos rivais — o PT e o PSDB. De maneiras diferentes, ambos constituíram forças modernizadoras, mas tornaram-se polos opostos na política, cada qual obrigado a aliar-se às forças arcaicas do peemede-bismo e seus congêneres. Como observou o economista Mario Henrique Simonsen em 1987, "o grande debate nacional não é entre esquerda e direita, mas entre o moderno e o arcaico". Ainda é verdade. A eleição de outubro poderá produzir uma mudança de rumo. Quer isso ocorra ou não, o povo, que pouco a pouco adquire mais educação e, sob certos aspectos, torna-se mais empreendedor, poderá interferir na condução das políticas públicas.
Em três ocasiões nos últimos 25 anos, os brasileiros foram em grande número às ruas, em protestos pacíficos contra o status quo. Embora não tenham conseguido as eleições diretas para presidente que demandaram em 1984, a democracia veio rápido. Em 1992, provocaram a deposição do presidente Fernando Collor, ainda que não a sua punição, por seu desprezo pelo Estado de Direito. Será que vão obter a melhoria dos serviços públicos e a maior responsabilização política que exigiram em 2013? Deve ser essa a pauta do debate político no país nos anos que antecederão o bicentenário da Independência, em 2022. Quase pela primeira vez em sua história, os brasileiros agora querem refazer seu país de baixo para cima, como um país de cidadãos iguais, não de privilégios patrimoniais. Isso colocou o Estado corporativo na defensiva, e dá motivos para esperar que as conquistas das duas últimas décadas serão construídas e ampliadas em uma nova fase da história brasileira."
Mundorama encontra Paulo Roberto de Almeida (ou vice versa)
(Mas só isso? Ando escrevendo pouco..., ou o pessoal está distraído.)
Aqui vão eles: