O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

sábado, 4 de abril de 2015

O Diluvio, ou A Degringolada, ou A Debacle: chame como quiser, o governo acabou

Um governo que tem a reprovação de três quartos da população não pode continuar, certo?
Que o Congresso assuma suas responsabilidades.
Pense nisso no dia 12 de Abril, quando sair às ruas.
Paulo Roberto de Almeida
Três em cada quatro brasileiros não confiam em Dilma. A situação é grave, analisa o editorial do Estadão de hoje, sob o título "O verdadeiro terceiro turno". Mal começou o segundo mandato e o governo já está derretendo. E derretendo onde recebeu as votações mais expressivas (Nordeste). Este é o verdadeiro terceiro turno. Não é coisa da "zelite"; é coisa do eleitorado do próprio PT. Que fazer? Nada de golpismo. As soluções estão aí, previstas na Constituição: se Dilma não renunciar, o impeachment pode se tornar irreversível:

Governos democráticos são eleitos para servir a sociedade e quando fracassam nessa missão entra em cena a opção pela alternância no poder. É o caminho natural que a democracia oferece para os cidadãos se livrarem de governantes nos quais perderam a confiança. Mas o que acontece quando essa falta de confiança é dramaticamente exteriorizada decorridos apenas três meses de um mandato com validade de quatro anos? É exatamente diante dessa grave e delicada questão que a última pesquisa de opinião pública CNI/Ibope coloca a consciência democrática do País.
Revela o Ibope que, evoluindo na tendência verificada em pesquisas anteriores, a avaliação de ruim/péssimo do governo Dilma subiu de 27% quatro meses atrás, em dezembro do ano passado, para o índice recorde de 64%, enquanto a de ótimo/bom despencou, no mesmo período, de 40% para 12%. Paralelamente, o índice de brasileiros que não confiam na presidente da República saltou, ainda no mesmo período, de 44% para alarmantes 74%. Ou seja: três em cada quatro brasileiros não confiam em Dilma Rousseff.
As más notícias para Dilma e para o PT não terminam aí. A desconfiança estendeu-se a setores da população até recentemente satisfeitos com o governo. Por exemplo, a aprovação caiu de 53% para 18% entre os que estudaram até a quarta série do ensino fundamental e diminuiu de 44% para 32% entre os que chegaram até a oitava série. O apoio ao governo no Nordeste despencou de 63% para 34%. E entre os eleitores que votaram em Dilma há menos de seis meses, a queda foi maior ainda: de 63% para 22%. Esse é o verdadeiro "terceiro turno" que o lulopetismo em desespero denuncia como golpe das elites.
Definitivamente, quando se coloca um quadro em que apenas pouco mais de um em cada cinco brasileiros que deram seu voto à candidata do PT em outubro continua confiando no governo - e isso decorridos apenas três meses do início do segundo mandato -, cria-se uma situação delicada e ameaçadora em que o Poder Executivo se deslegitima de fato, mas permanece absolutamente legítimo de direito, pelo menos até que se decida de modo diferente nas instâncias competentes, rigorosamente de acordo com a lei e os procedimentos legais. É imprescindível que a consciência democrática do País veja com muita clareza essa realidade institucional, porque essa é a garantia de que os brasileiros não cederão, como alternativa à grave crise que enfrentam, à tentação de aventuras antidemocráticas que configurariam um retrocesso intolerável.
Uma pesquisa de opinião pública reflete sempre e necessariamente um recorte temporal da realidade que investiga. Mas o quadro ora exposto é extremamente preocupante, porque indica claramente uma forte e continuada tendência de ampliação da distância que separa governo de governados. Mas, se a superação dessa crise é um desafio a ser enfrentado pelo conjunto da sociedade, cada um no seu papel e todos juntos na defesa da democracia, é óbvio que ao governo cabe papel relevante, até porque terá de lutar pela própria sobrevivência.
E, se o governo petista se encontra na berlinda pelos erros que tem cometido, não faz sentido que continue persistindo neles. Enquanto tinham a credibilidade refletida em altos índices de popularidade de Dilma - assim como aconteceu com Lula -, os petistas podiam deitar e rolar no populismo, esbaldar-se na autoexaltação e fazer as promessas e previsões edulcoradas que lhe dessem na telha. Mas hoje o que há é um governo desorientado, desacreditado e politicamente debilitado, que não consegue esconder sua inépcia. Basta ver que o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, reagiu à pesquisa não com a humildade que a situação requeria, mas com a arrogante e destrambelhada afirmação de que se trata "apenas" de uma foto ruim do momento: "Nosso compromisso é com quatro anos - e três meses de governo é o início de um processo. A fotografia não é boa, mas o filme vai ser muito bom".
Se o que se tem visto é apenas "o início de um processo", imagine-se o que virá nos próximos 45 meses. Não é à toa que o único comentário otimista que se ouviu ontem sobre este governo é o de que nesta pesquisa CNI/Ibope a imagem de Dilma está muito melhor do que na próxima.

Prata da Casa: mini-resenhas de livros de diplomatas: Boletim ADB 1/2015 - Paulo Roberto de Almeida

Saindo do Forno agora...
Paulo Roberto de Almeida


1170. “Prata da Casa, Boletim ADB – 1ro. trimestre 2015”
Notas sobre os seguintes livros: 
1) Diogo Ramos Coelho: Mundo em crise: a história da crise financeira, seus impactos nas relações internacionais e os atuais desafios (Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2014, 324 p.; ISBN 978-85-230-1137-6); 
2) Elias Luna Almeida Santos: Investidores soberanos, política internacional e interesses brasileiros (Brasília: Funag, 2013, 345 p.; ISBN: 978-85-7631-426-4); 
3) Celso Amorim: Breves Narrativas Diplomáticas (São Paulo: Benvirá, 2013, 168 p.; ISBN: 978-85-8240-025-8); 
(4) Watanabe Patriota, Erika Almeida: Bens Ambientais, OMC e o Brasil (Brasília: Funag, 2013, 452 p.; ISBN 978-85-7631-476-9; Coleção CAE);  
5) Santos, Luís Cláudio Villafañe G.: A América do Sul no discurso diplomático brasileiro (Brasília : FUNAG, 2014, 248 p.; ISBN 978-85-7631-525-4; Coleção CAE);  
6) Centro de História e Documentação Diplomática: II Conferência da Paz, Haia, 1907: a correspondência telegráfica entre o Barão do Rio Branco e Rui Barbosa (Brasília : FUNAG, 2014, 272 p.; ISBN 978-85-7631-508-7). 
Boletim da Associação dos Diplomatas Brasileiros – ADB 
(ano 22, n. 88, janeiro-fevereiro-março 2015, p. 30-32; ISSN: 0104-8503). 
Relação de Originais n. 2773.

Prata da Casa - Boletim ADB: 1ro. trimestre 2015

Paulo Roberto de Almeida
Boletim da Associação dos Diplomatas Brasileiros - ADB
(ano 22, n. 88, janeiro-fevereiro-março 2015, p. 30-32; ISSN: 0104-8503)

(1) Diogo Ramos Coelho:
Mundo em crise: a história da crise financeira, seus impactos nas relações internacionais e os atuais desafios
(Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2014, 324 p.; ISBN 978-85-230-1137-6)


O capitalismo está em crise, à beira da morte? Muitos pensam assim. O livro trata da crise financeira e das reações dos governos; o autor acha que as democracias não têm sabido realizar as reformas necessárias, pois existem custos políticos e sociais, que também atingem países em desenvolvimento. A diversidade de interesses dificulta uma globalização plena e a coordenação de respostas. Quais são os desafios? Conciliar democracia e mercados, o que não é fácil, como demonstra cada nova crise. E o Brasil? Se ele não sofreu tanto com a crise de 2008 (a despeito da queda em 2010), sofre agora com erros de política econômica doméstica. Mas o Brasil aparece mais no prefácio de Matias Spektor, e brevemente na introdução do autor, do que no resto do texto. Trata-se, em todo caso, de excelente introdução ao estudo da grande depressão que anda por aí.

(2) Elias Luna Almeida Santos: Investidores soberanos, política internacional e interesses brasileiros (Brasília: Funag, 2013, 345 p.; ISBN: 978-85-7631-426-4)


O trabalho tem qualidades inegáveis, ao apontar as inúmeras dificuldades no tratamento dos fundos soberanos. Mas, à diferença do que diz o prefaciador, o FSB não está voltado para o gerenciamento das reservas brasileiras (tarefa a cargo do Banco Central), e sim tem sido usado mais para fins de economia doméstica (como a sustentação da Petrobras). O Brasil, aliás, tem todas as condições para NÃO ter um fundo desse tipo, já que não tem excedentes fiscais ou de transações correntes. Seja como for, esta tese de CAE ilumina o funcionamento desses fundos e os problemas a eles associados. Se e quando o Brasil dispuser de um fundo verdadeiro, a obra oferece desde já um panorama muito claro de como se movimentar no intrincado cenário de ganhos econômicos e ambições políticas que caracteriza sua existência corrente. 

(3) Celso Amorim: Breves Narrativas Diplomáticas (São Paulo: Benvirá, 2013, 168 p.; ISBN: 978-85-8240-025-8)


Dos cadernos do ex-ministro, notas sobre momentos cruciais, de 2002 a 2004 (e alguns desdobramentos ulteriores), da diplomacia “ativa e altiva”, como ele designa a sua gestão; mais adiante se acrescentou “soberana” à dita política externa. Trata-se de uma explicação e uma justificativa, pro domo sua, de alguns episódios desses anos: a invasão do Iraque pelos EUA, as tribulações do coronel Chávez, a implosão da Alca, o golpe de truco em Cancun, a aliança com a Índia e a África do Sul, as origens da Unasul e as andanças pela África. A história completa ainda vai ser contada, mas os escritos do ministro, entre eles Conversas com Jovens Diplomatas (2011), podem ser fontes primárias, desde que se confronte interpretações pessoais com análises independentes: a historiografia serve, justamente, para filtrar tais tipos de relatos.

(4) Watanabe Patriota, Erika Almeida:
Bens Ambientais, OMC e o Brasil
(Brasília: Funag, 2013, 452 p.; ISBN 978-85-7631-476-9; Coleção CAE)


            Bens ambientais parecem estar no centro das angústias comerciais das próximas décadas, já que o planeta agora, para estar politicamente correto, precisa se guiar pelas regras do desenvolvimento sustentável. O Brasil tem, justamente, uma grande interface com o assunto, pelo seu potencial produtor e exportador desses bens (ainda que existam dúvidas sobre sua competitividade e avanços tecnológicos em energia solar e eólica). A tese mapeia as discussões multilaterais a respeito, a atuação da China e da Índia, as posições assumidas pelo Brasil e as implicações da regulação no lado doméstico da equação. A autora acha que as premissas da OCDE, entre elas a liberalização comercial, tendem a prejudicar os países em desenvolvimento: seria mais uma manifestação da velha teoria conspiratória que sempre coloca os ricos contra os interesses dos pobres?

(5) Santos, Luís Cláudio Villafañe G.:
A América do Sul no discurso diplomático brasileiro
 (Brasília : FUNAG, 2014, 248 p.; ISBN 978-85-7631-525-4; Coleção CAE)


            A América do Sul é a nossa circunstância regional, imposta pela geografia; nem sempre essa evidência foi traduzida na agenda diplomática, mas desde a criação do Mercosul a região foi sendo incorporada ao discurso e nas prioridades nacionais, com altos e baixos no processo de integração regional, que assume, aliás, variadas formas. Esta tese de CAE, defendida em 2005, e agora publicada com nova introdução, percorre a evolução do conceito e seus aspectos práticos no relacionamento externo do Brasil. A região, como projeto político, também sofre o efeito das mudanças de orientação política no contexto interno, o que ficou amplamente evidenciado a partir de 2003, quando se fez tudo para afastar a região do Big Brother ao norte e deixá-la circunscrita aos próprios vizinhos do Sul: foi uma boa escolha? O livro deixa a questão em aberto.



(6) Centro de História e Documentação Diplomática:
II Conferência da Paz, Haia, 1907: a correspondência telegráfica entre o Barão do Rio Branco e Rui Barbosa
(Brasília : FUNAG, 2014, 272 p.; ISBN 978-85-7631-508-7)


            Carlos Henrique Cardim, que apresentou tese e tem livro publicado sobre Rui diplomata, assina um prefácio de 18 páginas para introduzir o intercâmbio mantido a propósito do que ele chama de “estreia do Brasil no mundo”, consubstanciada na defesa da “dignidade da nação”, nas palavras de Rio Branco, que Rui interpretou como defesa intransigente da igualdade soberana das nações, entrando por isso em choque com as posições das nações mais poderosas. Seguem 240 páginas de telegramas entre os dois homens, desde 13 de março, ainda no Brasil, até 26 de dezembro, no Recife, a caminho do Rio, depois dos meses passados em Scheveningen, com trocas diárias de mensagens, informações e impressões de ambos sobre as posições dos demais participantes e sobre a que convinha ao país adotar. Matéria prima indispensável para os estudiosos.



Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 15 de fevereiro de 2015

Corrupcao: a mais gigantesca escala desde Cabral

Estupefatos: eis como estamos todos.
Nunca Antes na história do Brasil tinhamos tido tanta roubalheira em tão vasta escala. Foge pelo ladrão, se ouso dizer, o volume de dinheiro desviado de TODAS as obras públicas.
Esse é o Brasil companheiro.
Paulo R. Almeida
Jornais e jornalistas vão raspando pelas beiradas. Nada mais adianta, senão a renúncia de Dilma e a erradicação do PT. A República está podre. Com este governo e este partido no poder, não há saída. A única saída é constitucional: impeachment, embora o blogueiro prefira a renúncia de Dilma. Mas não se pode esperar grandeza onde a polícia rasteja no esgoto:

Em um dos primeiros testemunhos prestados sob o regime de delação premiada pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, ao Ministério Público e ao juiz Sérgio Moro, ele deixou registrado que o esquema de corrupção montado entre partidos (PT, PP, PMDB, no caso da estatal) e empreiteiras não se resumia à companhia, se espraiara pelos canteiros de grandes obras — usinas hidrelétricas, aeroportos etc.

Agora que as investigações sobre a roubalheira na Petrobras estão mais avançadas, alguns dos mesmos protagonistas do escândalo na estatal passam a falar também da corrupção em outros grandes projetos patrocinados pelo Estado.

Noticiou-se, primeiro, que a hidrelétrica Belo Monte gerara propinas para PT e PMDB — provavelmente lavados como doações “legais” — de 1% do valor do contrato fechado com a Camargo Corrêa. Cada legenda teria levado R$ 51,2 milhões, para a empreiteira ganhar o negócio, segundo o presidente da empresa, Dalton Avancini.

Agora, é a Ferrovia Norte-Sul, obra que se eterniza. O mesmo Avancini, em confissão também sob as normas da delação premiada, relatou a atuação do “clube de empreiteiras”, o mesmo do petrolão, para dividir entre si trechos da obra e o pagamento de propinas: 1% para cada um dos mesmos PT e PMDB; 5%, no caso de aditivos, muito usados para superfaturar ainda mais os contratos.

A história dessa ferrovia, ainda longe de ser completada, é um monumento à incúria do poder público. Lançada no governo Sayney (1985-1990), o projeto ganhou manchetes de denúncias em 87, quando a “Folha de S.Paulo” revelou o conluio entre empreiteiras para dividir 18 lotes da obra. Estavam lá a Camargo, a Odebrecht, Queiroz Galvão, Mendes Jr., entre outras. Ou seja, as de sempre.

Muito tempo depois, em 2012, no governo Dilma, um ex-presidente da Valec, estatal responsável pela construção de ferrovias, José Francisco das Neves, o Juquinha, chegou a ser preso pela Polícia Federal, numa operação de sugestivo nome: Trem Pagador. Juquinha tinha a proteção do PR, “dono” do Ministério dos Transportes desde Lula.

A ampliação do mesmo esquema de corrupção do petrolão a segmentos do PAC tem lógica: afinal, por que o PT e aliados (PMDB, PP...) que patrocinaram o assalto à Petrobras não fariam o mesmo em Belo Monte, na Norte-Sul e assim por diante? Até porque o outro lado, as empreiteiras contratadas, também é o mesmo.

Assim, a matriz da alta corrupção no Brasil envolvendo grandes obras públicas começa a ser desvendada a partir do petrolão. O PT não inventou o assalto aos cofres públicos, é certo, mas foi com ele que a roubalheira atingiria escala industrial, ficaria sistêmica. Como o PT se rendeu ao fisiologismo na montagem dos ministérios de Lula e Dilma e da base parlamentar, o que era artesanal virou ampla e veloz linha de montagem. 

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Petrolao: desde a origem, formatado para o Partido Mafioso, comassinatura do poste

Vamos ver agora o tal de "pente fino" do Procurador Geral da republiqueta companheira.
Procurando direito sempre se encontra, não é Janot?
Depois dessa como é que ficamos de CPI e de investigações no supremo?
Enfim, pura curiosidade.
Paulo Roberto de Almeida

A assinatura de Dilma no Petrolão

O Antagonista, 3/04/2015

Dilma Rousseff, em 17 de agosto de 2006, assinou um contrato para a montagem do Estaleiro Rio Grande. Aquele mesmo Estaleiro Rio Grande que, segundo a Lava Jato, permitiu o desvio de 100 milhões de reais para o PT.
Trata-se do primeiro documento que envolve diretamente Dilma Rousseff no esquema de propinas da Petrobras. À época da assinatura, ela era ministra da Casa Civil e presidente do Conselho da estatal. O outro nome que consta do contrato é Renato Duque.
O documento foi apresentado à Istoé por um ex-funcionário da Petrobras que aceitou colaborar com os procuradores da Lava Jato. De acordo com ele, o contrato é fruto de uma “licitação fraudulenta, direcionada pela cúpula do PT para favorecer a WTorre Engenharia”. 
Ele disse que, depois de assinado o contrato, servidores da Petrobras “foram pressionados a aprovar uma sucessão de aditivos irregulares e a endossarem prestações de contas sem nenhuma comprovação ou visivelmente superfaturadas”. Um mecanismo que lesou a estatal em mais de 500 milhões de reais.
No escândalo da Petrolão, faltava um documento com a assinatura de Dilma Rousseff. A partir de hoje, não falta mais.
Assinado: Dilma Rousseff e Renato Duque. Em branco: Lula

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Petralhabras, Odebrecht e associados: Follow the Money - Merval Pereira

Até aqui não tinha sido colocado na geladeira nenhum diretor da Odebrecht. Era de espantar, em se tratando simplesmente da maior companhia de construção do Brasil, com o maior número de obras e o maior volume de dinheiro.
Como é que eles estariam de fora da boquinha? Agora parece que a coisa vai entortar para o lado deles, e endireitar do nosso. Mas, capitalistas na cadeia já está se tornando uma coisa normal.
Queremos ver é políticos na cadeia...
Companhias de construção são inerentemente corruptas, geneticamente corruptas, forçosamente corruptas, inclusive porque elas precisam negociar com a maior fonte de dinheiro para grandes obras, que é o governo.
E não venham me dizer que elas forçam o governo a se corromper, pois a coisa é perfeitamente combinada, mas se o governo se recusasse a lesar o dinheiro público - que é nosso -- não haveria oportunidade para tais "transações", uma vez que não haveria o que ser lesado, não é mesmo?
Uma coisa porém é certa: isto que está sendo revelado agora é apenas uma pontinha mínima do imenso iceberg de corrupção mantido pelo partido totalitário...
Paulo Roberto de Almeida

A trilha do dinheiro
Merval Pereira
O Globo, 2/04/2015

 Começa a ser desvendado o mistério envolvendo a participação da empreiteira Odebrecht no esquema de corrupção que a Operação Lava Jato está desvelando, para espanto não apenas de brasileiros, pelo volume de dinheiro que envolveu e o estrago que fez na maior empresa brasileira, a estatal Petrobras, com reflexos em toda a economia nacional.

A explicação extra-oficial que corria no mercado financeiro é que seria muito difícil pegar a Odebrecht em algum desvio, por que ela utilizava empresas no exterior para fazer o dinheiro sujo chegar aos políticos e executivos da Petrobras envolvidos no esquema, sem se utilizar de doleiros nacionais.

Pois ontem o doleiro Alberto Yousseff revelou que a Odebrecht e a Brasken – empresa petroquímica que a empreiteira tem em parceria com a Petrobras – utilizaram seus serviços “duas ou três vezes”. Ele denunciou a Construtora Internacional Del Sur, offshore usada para remessas ao exterior pelas duas empresas, como a distribuidora da propina no exterior ou, algumas vezes, para internalizar o dinheiro através de Yousseff.

A citação da Construtora Internacional Del Sur foi o suficiente para fechar o cerco em torno da Odebrecht, pois em outra delação premiada anterior, o ex-gerente Pedro Barusco havia revelado que a offshore panamenha foi usada pela Odebrecht para o repasse de valores para uma conta sua no Credit Corp Bank AS, de Genebra.

Entre maio e setembro de 2009, a Odebrecht teria transferido US$ 916.697,00 para a conta da Constructora Internacional del Sur, e de lá para uma offshore de Barusco também do Panamá. Cruzando-se os depósitos e recebimentos das contas de Barusco com as do ex-diretor da Petrobras Renato Duque, seu superior imediato indicado pelo PT, verifica-se que foram feitos dois depósitos pela Constructora Internacional Del Sur S.A., de US$ 290 mil, no dia 17 de novembro, e outro de US$ 584,7 mil, dez dias depois, na conta de Duque em Mônaco, que hoje está bloqueada pela justiça daquele principado.

A conta da Constructora Internacional Del Sur era no Credicorp Bank, em Genebra, o mesmo em que Barusco tinha conta. É provável que este tenha sido o elo final para circunscrever as relações da empreiteira Odebrecht com o escândalo da Petrobras. A partir daí, é previsível que as relações da empreiteira com o PT, e em especial com o ex-presidente Lula, a quem a Odebrecht levou para várias viagens na África como garoto-propaganda da construtora brasileira, façam parte das investigações da Operação Lava-Jato.

A boa relação da Odebrecht com os governos petistas vem desde o início do primeiro mandato de Lula. Em 2003, quando Dilma era a ministra das Minas e Energia, em dificuldades para pagar dívidas em torno de U$ 2 bilhões, a empreiteira teve a concessão especial de ampliação no prazo, de 90 para, em alguns casos, até 210 dias, para o pagamento de insumos da Petrobras pela Brasken, a empresa petroquímica do grupo.

A atuação da Odebrecht em outras áreas, como a construção de hidrelétricas aqui e em países da América Latina e da África também já estão sendo investigadas a partir de delações premiadas de Dalton Avancini, presidente da Camargo Corrêa, e Eduardo Leite, vice-presidente, que admitiram que a empresa se comprometeu a pagar cerca de R$ 20 milhões em propina na usina de Belo Monte.

No acerto do cartel, as empresas do consórcio teriam que contribuir com a mesma quantia para um fundo comum que financiaria a propina. O próprio juiz Sérgio Moro já demonstrou estar surpreso com a amplitude do esquema, para além da Petrobras.

Segundo comentários de Moro, as investigações não chegaram nem mesmo à metade do caminho, pois a cada dia aparecem mais informações que levam a novas descobertas. Tudo percorrendo a trilha do dinheiro.

Boletim Mundorama, n. 91, 2015 - dois artigos PRA, uma resenha de livro


mundorama_assinatura_azul-01.jpg

Artigos

  • On failed strategy and adjustment: Setbacks in the EU’s use of economic sanctions for deterring the Russian aggression on Eastern Ukraine, by Darlí Magioni Junior
  • Alma mater diplomática: a formação acadêmica dos diplomatas brasileiros (1985-2010), por Rogério de Souza Farias & Géssica Carmo
  • Desafios da economia brasileira na interdependência global, por Paulo Roberto de Almeida
  • A “Doutrina Caiado” e a Política Externa Brasileira: dois pólos inconciliáveis, por Daniel de Oliveira Vasconcelos
  • MERCOSUL: entre o sucesso e o fracasso total, por Charles Pennaforte e Ricardo Luigi
  • Os desafios da Cooperação Internacional em Saúde para o governo de Dilma Rousseff, por Maíra S. Fedatto
  • Hipocrisia e Política Internacional, por Bruno Jubran, Ricardo Leães e Robson Valdez
  • A globalização e os recursos naturais: a maldição, a bênção e a isenção, por Elia Elisa Cia Alves e Andrea Quirino Steiner
  • A crise na Venezuela e a atuação dos EUA, por Ricardo Luigi
  • Um Caleidoscópio Europeu, por Luiz Fernando Horta
  • BRICS, Segurança Internacional e a Governança Global: Breve Análise das Declarações de Cúpula, Por Mikelli Marzzini L. A. Ribeiro
  • De Lima a Paris – entraves e desafios da reforma de um regime complexo, por Mariana Balau Silveira e Matilde de Souza
  • A globalização e desigualdade de renda, por Elia Elisa Cia Alves
  • Os diálogos de paz na Colômbia e o direito das vítimas, por Diogo Monteiro Dario
  • Os articulistas do Boletim Mundorama
  • Petróleo, shale e energias de baixo carbono: inter-relações e incertezas, por Larissa Basso
  • Um congresso de Viena para o século 21?, por Paulo Roberto de Almeida
  • O MERCOSUL e a construção da cidadania sul-americana, por Ayrton Ribeiro de Souza
  • Filhos da democracia: a descarioquização da diplomacia brasileira, por Rogério de Souza Farias e Géssica Carmo
  • O Brasil e a Internacionalização de Empresas: visão geral, por Carlos Nogueira da Costa Júnior
  • Os benefícios do porto de Rocha para a integração regional na América do Sul, por Ricardo Luigi e Gustavo Borges Ansani
  • O bicentenário da elevação do Brasil ao Reino Unido a Portugal e Algarves, por Daniel Rei Coronato
  • Exteriores Próximos Sobrepostos: A atual disputa russo-europeia sob a velha ótica geopolítica, por Bruna Bosi Moreira e Graciela De Conti Pagliari
  • A policy for the continent—reinterpreting the Monroe Doctrine – an interview wih Carlos Gustavo Poggio Teixeira

Resenhas

Eventos

  • Evento – FUNAG lança revista “Cadernos de Política Exterior”
  • Evento – Lançamento do No. 27-28 da Revista Conjuntura Austral – UFRGS
  • Evento – UFRGS lança nova edição da Revista Austral
  • Evento – XXII Fórum Brasil Europa – Fundação Konrad Adenauer

Chamada de artigos

  • Chamada de Artigos – Revista Tempo do Mundo – IPEA
  • Chamada de trabalhos – Simpósio Temático “História e Teoria das Relações Internacionais: novos desafios” – ANPUH
Acesse aqui todos os artigos.

De poste em poste, o chefao vai apagando o Brasil - Augusto Nunes

30/03/2015 às 15:55 \ Direto ao Ponto
O poste é inseparável do fabricante: Dilma será para Lula o que Pitta foi para Maluf
Augusto Nunes
http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/files/2015/03/CAPA1PT1BSB1.jpg

Como um punguista de antigamente depois de afanada a carteira da vítima, Lula tenta afastar-se de Dilma Rousseff com cara de paisagem, assoviando um sambinha enquanto caminha nem tão depressa que pareça medo nem tão devagar que pareça provocação. A malandragem deu certo no escândalo do mensalão. O chefão caiu fora da cena do crime e a patente de comandante do bando acabou enfeitando os ombros do subchefe José Dirceu.

Mas não se terceiriza o pessoal e intransferível. A segunda-dama Rose Noronha, o prefeito Fernando Haddad e a instalação de uma usina de maracutaias nas catacumbas da Petrobras, por exemplo, são coisa de Lula. Dilma Rousseff também. Lula logo aprenderá que um poste é inseparável de quem o inventou — e um produto de péssima qualidade pode levar seu fabricante à falência política. Dilma Rousseff será para Lula o que Celso Pitta foi para Paulo Maluf.

Ambos deslumbrados com os altos índices de aprovação reiterados pelas usinas de pesquisas, o prefeito Maluf em 1995 e o presidente Lula em 2007 resolveram mostrar que conseguiriam transformar qualquer nulidade em ocupante provisório do trono. Para que os escolhidos cumprissem sem resmungos a missão de guardar o lugar até que o chefe voltasse, constatou um post de 2010, o marajá de São Paulo e o reizinho do Brasil decidiram-se, sem consultar ninguém, por figuras sem autonomia de voo nem luz própria.

O primeiro pinçou na Secretaria de Finanças do município um negro economista. O segundo pinçou na Casa Civil uma mulher economista. Ao apresentar o sucessor, o prefeito repetiu que foi Maluf quem fez São Paulo.Mas quem arranjou o dinheiro, revelou, foi aquele gênio da raça chamado Celso Pitta. Ao apresentar a sucessora, o presidente reterou que foi Lula o parteiro do Brasil Maravilha. Mas quem amamentou o colosso, ressalvou, foi aquela sumidade político-administrativa por ele promovida a Mãe do PAC.

Obediente a Maluf e monitorado pelo marqueteiro Duda Mendonça, Pitta atravessou a campanha driblando debates e entrevistas, declamando obviedades e louvando o criador de meia em meia hora. Como herdaria uma cidade sem problemas, sua missão seria torná-la mais que perfeita com espantos de matar de inveja a rainha da Inglaterra. Grávido de orgulho, o padrinho ordenou aos eleitores que nunca mais votassem em Paulo Maluf se o afilhado fracassasse.

Obediente a Lula e tutelada pelo marqueteiro João Santana,  Dilma percorreu o atallho para o Planalto desconversando em debates e entrevistas, gaguejando platitudes e bajulando o criador a cada 15 minutos. Como lhe cairia no colo um país pronto, caberia à herdeira tocar em frente o pouco que faltava para torná-lo uma espécie de Noruega com praia, mulher bonita e carnaval. Grávido de confiança, o padrinho comunicou ao eleitorado que ele e ela eram a mesma coisa. Votar em Dilma seria a mesma coisa que votar no maior dos governantes desde o Descobrimento.

São Paulo demorou três anos para entender que estava nas mãos do pior prefeito de todos os tempos. Descoberta a tapeação, milhões de iludidos escorraçaram Pitta do emprego e atenderam à vontade do seu inventor: nunca mais Paulo Maluf foi eleito para qualquer cargo executivo. O Brasil demorou quatro anos para compreender que, ao conferir um segundo mandato a Dilma Rousseff, ratificara a mais desastrosa opção presidencial de todos os tempos.

Pena que as multidões não tenham acordado algumas semanas mais cedo. Mas enfim despertaram — e despertaram de vez, berram as manifestações de rua e o sumiço do único “líder de massas” do mundo que só discursa para plateias amestradas. Antes do fiasco de Alexandre Padilha nas urnas de outubro, Lula caprichou na ironia presunçosa: “De poste em poste estou iluminando o Brasil”, repetia.

O terceiro poste afundou a muitas léguas do Palácio dos Bandeirantes. O segundo, Fernando Haddad, pedala no mundaréu de ciclovias para fugir do naufrágio inevitável. O poste inaugural vai sendo tragada pelo mar de corrupção e incompetência. Dilma Rousseff debate-se furiosamente milímetros acima da superfície. Lula quer que afunde sozinha. Mas não escapará do abraço de afogado.

Resenha de livro: O Homem que Amava os Cachorros, de Leonardo Padura - Olavo de Carvalho

Mensagem do passado
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 31/03/2015

         A Editora Boitempo publicou em tradução o romance de Leonardo Padura, “El Hombre que Amaba a los Perros”, com o título de “O Homem que Amava os Cachorros”. Eu teria preferido “Cães”, porque, ao lidar com uma língua irmã da sua própria, o tradutor deve ter o bom gosto e bom senso de escolher, seja palavras de igual raiz com significado idêntico nas duas línguas, seja palavras que inexistem no idioma original, jamais palavras idênticas com significado diverso. “Cachorro”, em espanhol, é “filhote”. Talvez o tradutor achasse que “cão” é termo do vocabulário “burguês”.

         Mas o problema maior não é esse. Dedicada eminentemente à promoção de idéias e autores comunistas, a equipe da Boitempo mostrou que é capaz de traduzir e divulgar um dos grandes romances do século, ganhando algum dinheiro com ele, sem se deixar afetar pelo seu conteúdo no mais mínimo que seja. É um caso de insensibilidade literária que raia a psicastenia. Pois raramente, no mundo, o comunismo, não nos detalhes do imensurável horror físico que produziu, mas nas profundezas da deformidade psicopática que o inspira, foi descrito em termos tão cruamente realistas como nesse livro: é uma imagem do inferno ou, para usar as palavras do autor, algo que se parece “antes a um castigo divino do que a uma obra de homens”.

         Com base em farta documentação, só complementando-a com a especulação imaginativa nos pontos onde isso é indispensável, o livro conta a história dos últimos anos de vida de Leon Trotski e do seu assassino, Ramon Mercader, paralelamente à do narrador, um escritor cubano reduzido à impotência criadora pelas imposições da burocracia castrista empenhada em tudo rebaixar e mediocrizar. Os três são homens que apostaram tudo no socialismo e aos quais só resta, no fim da história, a consciência amarga da “vida inteira que poderia ter sido e que não foi”.

         Embora a maior parte do enredo se passe no tempo de Stalin, o romancista não apela ao expediente costumeiro de trocar “comunismo” por “stalinismo”, usado para branquear a imagem do regime nas épocas subseqüentes, mas mostra com muita clareza que, de um modo ou de outro, a mistura de violência assassina e mendacidade alucinante que caracterizou o stalinismo se conservou em ação em todos os países comunistas muitas décadas depois da morte do ditador. Padura, que nasceu e ainda mora em Cuba, publicando seus livros no México, viveu tudo isso de perto e colocou no personagem do narrador de “El Hombre que Amaba a los Perros” muito da sua experiência pessoal.

         Hoje os brasileiros se espantam ante um governo que lhes rouba bilhões de reais enquanto, com a maior cara dura, continua posando de paladino da moralidade, e, rejeitado por noventa por cento da população, ainda se faz de porta-voz do “povo” contra a “elite”.  Se conhecessem algo da história do comunismo, como a trama urdida por Stalin para dar cabo de Trotski, entenderiam que a mendacidade psicopática, em proporções tão vastas que raiam o diabolismo puro e simples, não é uma invenção do PT: é inerente à mentalidade comunista em todas as épocas e lugares.

         Os capítulos finais deste livro mostram o próprio assassino de Trotski, Ramon Mercader, consciente de haver jogado sua vida fora numa farsa demoníaca, concebida para fazer de Trotski, então um exilado sem dinheiro e quase sem seguidores, chutado de cá para lá por todos os governos do mundo, o todo-poderoso líder de uma conspiração global para derrubar o governo soviético com a ajuda simultânea – porca miséria! -- dos nazistas e dos americanos. Durante décadas, Mercader foi adestrado para odiar Trotski com todas as suas forças, só para descobrir, depois, que na realidade nada sabia contra ele além de balelas e invencionices absurdas e antinaturais, injetadas em sua cabeça com violência comparável à do golpe de picareta no crânio com que ele deu fim à existência da sua vítima.

         Após ter ido parar na cadeia num dos muitos expurgos que eram rotina na política soviética, o próprio agente secreto que treinou e disciplinou a mão assassina de Mercader tem, na velhice, a mesma consciência de ter servido apenas aos caprichos insensatos de um ditador enlouquecido pelo medo, que não se acalmaria antes de haver eliminado da face da Terra todos os seus inimigos reais, hipotéticos, virtuais ou totalmente imaginários.

         Especialmente significativa é uma personagem secundária, a mãe de Mercader, Caridad. Mulher frígida que o marido burguês corrompe para ver se desperta nela o desejo sexual, ela se entrega então a uma vida devassa e ao consumo de drogas, chegando a uma tentativa de suicídio. Só emerge da depressão quando encontra uma saída existencial no comunismo e reestrutura sua personalidade com base nos valores da militância, tornando-se uma combatente fanática, odiando o marido e o capitalismo como se fossem uma só entidade e contribuindo decisivamente para fazer do filho um assassino a soldo de Stalin. Eu não poderia ter encontrado melhor ilustração para o conceito do outsider como militante, que descrevi em artigo recente neste mesmo jornal (http://www.dcomercio.com.br/categoria/opiniao/os_desajustados).

          No fim, o desencanto de Caridad é o mesmo de Ramón e de seu instrutor, com a diferença de que ela não tem nem mesmo a força deles para meditar sobre a insensatez do seu passado.

         O vazio, a secura, a tristeza vã e desesperançada que são tudo o que resta a esses homens quando compreendem a pantomima tola e sangrenta da qual se fizeram servidores e agentes, são a mensagem derradeira legada pelo século XX à presente geração, aí incluídos os editores brasileiros incapazes de ouvi-la.

         Não é preciso dizer que perseguições em massa, cruéis e insensatas, no mais puro modelo stalinista, aconteceram também na China comunista, em Cuba, no Vietnã, no Camboja, em todos os países-satélites da URSS e por toda parte onde a opinião comunista tenha saído do subsolo psicopático que lhe é natural e conquistado um lugar de respeito na sociedade. O modelo universalizou-se. A única coisa que varia é a dosagem respectiva da violência e da mendacidade que a fórmula da loucura comunista assume em distintos lugares do mundo. Nos países onde não tem força bastante para tomar o poder pelas armas, o comunismo apela à estratégia gramsciana do engodo geral e, por isso mesmo, como aconteceu no Brasil, rouba mais do que mata, pelo menos até que o produto do roubo, crescendo até dimensões oceânicas, lhe assegure a posse dos meios de matar.

Diplomacia brasileira: bolivarianizando-se? - Veja

Parece brincadeira de criança, mas os companheiros levam a sério essas bobagens que eles fazem. Tudo faz parte do Foro de São Paulo. 
Paulo Roberto de Almeida 

Bolivarianismo diplomático
Veja.com, 1/04/2015

No governo petista, a diplomacia brasileira perdeu a sua relevância na defesa dos interesses nacionais e se transformou em uma peça de defesa da ideologia do partido que está no poder. Ano após ano, o Brasil foi ampliando o seu alinhamento com o chamado "bolivarianismo", o populismo de esquerda inaugurado pelo falecido presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e imitado em maior ou menor grau na Argentina, na Bolívia, no Equador e na Nicarágua. Esse alinhamento exige o gradual afastamento dos Estados Unidos, país que no discurso bolivariano é apontado como a causa de todos os males da região.

No ano passado, o Brasil deu um passo drástico no esfriamento das relações com os Estados Unidos, ao se recusar a pagar a sua contribuição obrigatória à Organização dos Estados Americanos (OEA), entidade que reúne as nações das Américas do Sul, Central e do Norte. Dos 8,1 milhões de dólares esperados, o Brasil depositou apenas 1 dólar, conforme revelou o jornal Folha de S.Paulo em janeiro passado. Para este ano, são previstas contribuições de 10 milhões de dólares, mas até o momento o Brasil não realizou nenhum repasse para organização.

Acreditava-se que o calote era resultado de um contingenciamento do orçamento do Itamaraty. No entanto, a reportagem de VEJA fez uma análise das transferências internacionais realizadas nos últimos anos e descobriu um curiosa coincidência: no ano passado, o Brasil transferiu para União das Nações Latino Americanas (Unasul) 16,24 milhões de reais - o equivalente a mais de 6 milhões de dólares, considerando a cotação nas datas dos pagamentos. O repasse para a Unasul foi mais que o dobro do previsto no Orçamento da União aprovado pelo Congresso: 7,2 milhões de reais. Em 2013, a contribuição brasileira para a Unasul, entidade multilateral criada por Hugo Chávez, foi de apenas 344.000 reais. O calote na OEA, portanto, é intencional. Não faltou dinheiro. Simplesmente, a diplomacia petista optou por privilegiar a Unasul e negligenciar a OEA.

Esse processo começou em 2011, quando a Unasul foi criada com o intuito de excluir os Estados Unidos, o Canadá e o México das discussões regionais. Em abril daquele ano, a presidente Dilma Rousseff determinou que Ruy Casaes, embaixador brasileiro na OEA, fosse chamado de volta a Brasília em protesto contra a manifestação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) pedindo asuspensão das obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Desde então, o Brasil tem apenas um representante interino na organização, Breno Dias Costa. Para o ex-embaixador do Panamá na OEA, Guillermo Cochez, a entidade é vítima de um processo de esvaziamento liderado pela Venezuela e do qual o Brasil faz parte. "É triste ver uma potência regional como o Brasil deixar-se guiar por uma política externa contrária aos valores democráticos", diz Cochez.

No ano passado, quando a então deputada Maria Corina Machado tentou levar para o âmbito da OEA o debate sobre a violência contra manifestantes que invadiram as ruas da Venezuela contra o regime chavista, o representante brasileiro se uniu ao coro dos chavistas para desqualificar o depoimento da venezuelana e para impedir que ele acontecesse em reunião aberta. Breno Dias da Costa disse, na ocasião: "O objetivo desta reunião não é transformá-la em um circo para o público externo, como alguns representantes mostraram que querem fazer." O episódio demonstrou que o governo brasileiro não apenas não aceita ser criticado em questões de direitos humanos, como toma as dores quando o mesmo acontece com a Venezuela.

Para governos que não gostam de críticas, a Unasul é o clube perfeito. Toda vez que é chamada para "mediar" a crise política na Venezuela, a organização dedica-se basicamente a endossar as acusações feitas pelo presidente Nicolás Maduro à oposição e silencia sobre o fato de que há presos políticos no país. (Veja.com).

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Africanos "aceitaram" perder a liberdade? - Paulo Roberto de Almeida


Africanos Aceitaram Perder a Liberdade de Conduzir a sua História?
Minhas observações

Paulo Roberto de Almeida


Hoje, 1o de Abril (mas não por isso), recebi uma mensagem, dessas que são disparadas a número indeterminado de receptores, todos eles, provavelmente, estudantes de “coisas” brasileiras, da parte de alguém que se dispõe a subsidiar o conhecimento desses estudantes com elementos de informação ou com material de estudo sobre o tema em pauta, que se resume, segundo a linha do assunto da mensagem, nesta pergunta:
Como os Africanos Aceitaram Perder a Liberdade de Conduzir sua História?
Não tenho certeza de que isso ocorreu, se ocorreu, alguma vez na História – com H maiúsculo – mas tenho problemas com a questão, e com as questões subsidiárias que se seguem, que transcrevo imediatamente aqui:

On Apr 1, 2015, at 06:00, [Nome] <email@mail.com> wrote:
Bom dia, Paulo!
1) Você já parou para pensar como foi o processo que conduziu os africanos Aceitarem o Jugo Colonialista dos países europeus?
2) Você sabe que até a primeira metade do século XIX os africanos apresentaram aos europeus apenas a "Casca" do seu continente?
3) Você já refletiu sobre os motivos que levam nós Brasileiros a negar a África que Existe em cada um nós?

Tenho não apenas problemas, mas objeções aos termos, aos conceitos e aos enunciados dessas questões, objeto de meus comentários, enviados a expedidor, e que transcrevo aqui.

Minhas observações sobre as questões:

            Meu caro [Nome],
1)         Tenho um problema com essa expressão: “Você já parou para pensar como foi o processo que conduziu os africanos Aceitarem o Jugo Colonialista dos países europeus?”
            Creio que existe um problema maior nesta mensagem e no tipo de alegação que é feita nela.
            África, simplesmente não existe para os “africanos”, uma multitude de povos diferentes com culturas, línguas e histórias muito diferentes entre si.
            Falar de “processo que conduziu os africanos Aceitarem o Jugo Colonialista dos países europeus” equivaleria a dizer que ocorreu um “processo que levou os europeus a se tornarem colonialistas, exploradores, imperialistas, invasores de outros povos e outros continentes, e instalarem a supremacia dos europeus sobre o mundo”.
            Existiu tal coisa? É evidente que não.
            Alguns empreendimentos, de alguns soberanos ou aventureiros europeus, deram início ao processo de descobertas de outras terras alcançadas pelos mares (Oceano Atlântico, depois Índico), num episódio histórico que ficou identificado com as grandes navegações, começando pelos portugueses, ainda no início do século 15 e que se estende até o século 17, mais ou menos, quando todos os continentes estavam mais ou menos mapeados, com base em empreendimentos “estatais” (ou de soberanos), de aventureiros, comerciantes, etc., aqui incluindo espanhóis, franceses, ingleses, e alguns outros.
            Foi um processo coordenado em escala europeia? É evidente que não. Cada um foi tentar a sua sorte, geralmente com o objetivo de alcançar riquezas (ouro, produtos raros e preciosos, conquista de novos territórios, propagação da fé cristã, busca de prestígio, etc.).
            Falar de um “processo que conduziu os africanos Aceitarem o Jugo Colonialista dos países europeus” equivaleria igualmente a dizer que ocorreu um “ processo que levou povos nativos do Novo Mundo Aceitarem o Jugo Colonialista dos países europeus”, o que tampouco é verdade.
            Existiam povos muito diferentes no hemisfério ocidental, que foram conquistados, submetidos, eliminados, escravizados em épocas diferentes, por métodos diferentes, por empreendedores, conquistadores, aventureiros, guerreiros muito diferentes, atuando com motivações muito diversas.
            Simplesmente não havia povos africanos, nem povos do Novo Mundo, num conceito unificado, pois isto não faz nenhum sentido, nem histórico, nem cultural, nem étnico, nada.
            Quanto aos “povos europeus”, talvez o único elemento a identificá-los seria o cristianismo, que se disseminou lentamente, paulatinamente, progressivamente, a partir do final do Império Romano, quando a religião cristã se torna oficial no Império. Mas foi um processo muito lento, que levou séculos. Alguns povos, mesmo bárbaros, pós Império Romano, tiveram suas línguas latinizadas, ou emergiram a partir de remanescentes linguísticos e literários do latim (que era a língua franca e dos documentos escritos durante os séculos de completa anarquia política nesse minúsculo território que é a Europa ocidental), e que por isso mesmo acabaram se remetendo a uma fonte comum de autoridade política que durante anos foi uma espécie de "ONU" da Idade Média: o poder papal, e sua capacidade de emitir bulas sagrando tal e qual soberano como o legítimo detentor da autoridade política sobre um determinado território. Foi assim que nasceu o Portugal moderno, um dos primeiros Estados cristãos a receber a bula confirmatória do chefe da Igreja em Roma. 
            Nada disso existia na “África” – um conceito genérico, sem real significação política ou mesmo cultural – ou nos territórios do hemisfério ocidental. No máximo, alguns povos, no norte da África e no Sahel, penetrando em alguns pontos da África subsaárica, ou negra, foram islamizados, à força, pelos invasores vindos da península arábica ou de territórios já conquistados no norte da África, e se tornaram "povos islâmicos", mas mesmo esse conceito é enganoso, pois compreende uma grande diversidade de situações. Não podemos esquecer que tanto no norte da África quanto no Oriente Médio, existiam tanto povos quanto chefes de Igreja se reclamando da fé cristã, que foram conquistados pelos árabes muçulmanos, depois reconquistados em algumas cruzadas, mas que depois vieram a cair novamente sob o julgo muçulmano, e mais exatamente otomano, quando foi o caso.
            Ou seja, falar de povos africanos não faz nenhum sentido, como não faz sentido o politicamente correto de alguns beócios acusar a “invasão colonizadora” no Novo Mundo como fonte de exploração e pilhagem, quando em vários continentes, em várias épocas, esse foi o padrão civilizatório seguido invariavelmente ao longo dos séculos: invasões de povos guerreiros, escravização ou eliminação, em todo caso sujeição, dos povos “autóctones”, novas estruturas e novos aportes humanos criando novas comunidades e sociedades. Tanto incas quanto astecas, por exemplo, eram povos conquistadores, que se impuseram sobre tribos pré-existentes em seus “impérios” respectivos. O mesmo ocorreu na África, onde determinadas etnias submeteram outras etnias, reduzindo-as à escravidão (por vezes até na própria etnia), e depois inserindo esse processo no tráfico transatlântico, quando a ocasião se apresentou.

2)         Esta outra expressão, tampouco faz qualquer sentido: “até a primeira metade do século XIX os africanos apresentaram aos europeus apenas a 'casca' do seu continente”.
            Não faz sentido porque não foram “africanos” que apresentaram a “europeus” qualquer coisa. Foram determinados chefes de tribo de determinados pontos da África que apresentaram a alguns europeus – traficantes portugueses, espanhóis, franceses, ingleses, americanos ou até brasileiros – escravos que eles “pegavam” no interior, e traziam até a costa para vende-los aos mercadores escravistas “europeus”, da mesma forma como mercadores árabes, ou de outros povos do índico, pegavam nas costas da África oriental (Somália, Zanzibar, ou Tanganica, no atual Moçambique), sua cota de escravos que iam trabalhar no Oriente Médio.
           
3) Por fim, também não concordo com esta terceira expressão: “Você já refletiu sobre os motivos que levam nós Brasileiros a negar a África que Existe em cada um nós?”
            De que brasileiros se está falando? Os descendentes de imigrantes europeus que povoaram o Sul e Sudeste, levam alguma África dentro de si? Isso não faz nenhum sentido. Algumas regiões do Brasil foram mais tocadas do que outras pela escravidão de “africanos” e ficaram mais marcadas em seus traços culturais que persistem até hoje. Esses traços não são “africanos”, a não ser numa acepção extremamente larga, geograficamente, desse termo. Existiam povos bantus, ou ovambos, ou xossas, ou de quaisquer outras etnias de origem que foram trazidos de pontos diversos daquele continente para pontos diversos do Brasil: eventualmente, em alguns lugares ocorreu uma agregação de determinadas etnias, o que permitiu a sobrevivência de seus traços culturais de origem e até reflexos disso na sociedade de “acolhimento”, como por exemplo na revolta dos malês da Bahia, conduzidas por escravos islâmicos, ou islamizados, que não poderia ser escravizados, segundo as prescrições da sociedade islâmica.
            Na maior parte dos casos, os diferentes povos, mais exatamente grupos de indivíduos, ou pessoas isoladas foram imersas no novo ambiente e acabaram se dissolvendo no mainstream cultural que emergiu no Brasil, com certas “sobrevivências” das culturas de origem por afinidades naturais de origem, costumes, línguas, etc. (inclusive porque a maior parte dos novos aportes consistia de adultos dotados de toda uma carga cultural de origem).

            Sinto muito dizer, mas eu sempre gosto de refletir sobre a História, e não me deixo levar pelo politicamente correto.
            Recomendo, a propósito, ler Jared Diamond: Armas, Germes e Aço.
-----------------------------------
Paulo Roberto de Almeida 
Hartford, 1o de abril de 2015

A partilha da Africa: excerto de livro - Delanceyplace

Today's selection -- from The Fortunes of Africa: A 5000-Year History of Wealth, Greed, and Endeavor by Martin Meredith. In the scramble for Africa, European powers arbitrarily merged 10,000 different African polities representing highly diverse ethnic and religious groups into just forty colonies, an action that still haunts the countries of Africa today:

"A greedy and devious European monarch, Leopold II of Belgium, set out to amass a personal fortune from ivory, declaring himself 'King-Sovereign' of a million square miles of the Congo Basin. When profits from the ivory trade began to dwindle, Leopold turned to another commodity -- wild rubber -- to make his money. Several million Africans died as a result of the rubber regime that Leopold enforced, but Leopold himself succeeded in becoming one of the richest men in the world.

"In turn, Leopold's ambition to acquire what he called 'a slice of this magnifique gateau africain' was largely responsible for igniting the 'scramble' for African territory among European powers at the end of the nineteenth century. Hitherto, European activity in Africa had been confined mainly to small, isolated enclaves on the coast used for trading purposes. Only along the Mediterranean coast of Algeria and at the foot of southern Africa had European settlement taken root. But now Africa became the target of fierce European competition.

"In the space of twenty years, mainly in the hope of gaining economic benefit and for reasons of national prestige, European powers claimed possession of virtually the entire continent. Europe's occupation precipitated wars of resistance in almost every part of the continent. Scores of African rulers who opposed colonial rule died in battle or were executed or sent into exile after defeat. In the concluding act of partition, Britain, at the height of its imperial power, provoked a war with two Boer republics in southern Africa, determined to get its hands on the richest goldfield ever discovered, leaving a legacy of bitterness and hatred among Afrikaners that lasted for generations.

"By the end of the scramble, European powers had merged some 10,000 African polities into just forty colonies. The new territories were almost all artificial entities, with boundaries that paid scant attention to the myriad of monarchies, chiefdoms and other societies on the ground. Most encompassed scores of diverse groups that shared no common history, culture, language or religion. Some were formed across the great divide between the desert regions of the Sahara and the belt of tropical forests to the south, throwing together Muslim and non-Muslim peoples in latent hostility. But all endured to form the basis of the modern states of Africa. ...

"Colonial rule was expected to last for hundreds of years, but turned out to be only an interlude in Africa's history, lasting for little more than seventy years. Facing a rising tide of anti-colonial protest and insurrection, European governments handed over their African territories to independence movements. The colonial legacy included a framework of schools, medical services and transport infrastructure. Western education and literacy transformed African societies in tropical Africa. But only a few islands of modern economic development emerged, most of them confined to coastal areas or to mining enterprises in areas such as Katanga and the Zambian copper belt. Much of the interior remained undeveloped, remote, cut off from contact with the modern world. Moreover, while European governments departed, European companies retained their hold over business empires built up over half a century. Almost all modern manufacturing, banking, import-export trade, shipping, mining, plantations and timber enterprises remained largely in the hands of foreign corporations. As the end of colonial rule approached, Europeans followed the old adage: 'Give them parliament and keep the banks.' " 



The Fortunes of Africa: A 5000-Year History of Wealth, Greed, and Endeavor
Author: Martin Meredith 
Publisher: PublicAffairs a Member of the Perseus Books Group
Copyright 2014 by Martin Meredith
Pages xv-xvi
If you wish to read further: Buy Now