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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Como eu diria, a História não se repete, mas tem gente que gosta de repetir erros passados - Carlos Brickmann


APRENDER, JAMAIS 

COLUNA CARLOS BRICKMANN

EDIÇÃO DOS JORNAIS DE QUARTA-FEIRA, 15 DE SETEMBRO DE 2021

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Esta é uma história que nada tem a ver com o Brasil, embora nos dê lições. Nas décadas de 1920 e 1930, o nazismo estava longe de ser o partido mais forte da Alemanha. Maiores eram a Social-Democracia (SPD) e o Comunista (KPD), ambos fortes no movimento operário. O KPD, de extrema-esquerda, considerava que seu principal adversário, por buscar adeptos no mesmo campo, era o SPD, de meia-esquerda. União, nem pensar: o KPD achava que os anos 30 seriam os últimos do capitalismo. Chegariam ao poder os esquerdistas, inevitavelmente, e o KPD queria ser o representante único da esquerda. Logo, o inimigo era a social-democracia. A SPD era tratada como “social-fascismo”, “ala moderada do fascismo”.

O KPD, até na cor preferida, o vermelho, obedecia às ordens do líder vermelho Stalin, que ditava, de Moscou: “O fascismo (...) e a social-democracia (...) não se excluem (...). Ao contrário, se complementam”. O KPD não aceitava críticas a Stalin (a quem chamava de “guia genial dos povos) e jamais admitiu que ele pudesse errar. Enquanto isso, os nazistas cresciam, passavam de 800 mil para 13 milhões de votos, até se aliavam aos vermelhos no combate à SPD. Em 1931, por exemplo, se aliaram nazistas e vermelhos num plebiscito sobre a dissolução do Legislativo da Prússia, baluarte da SPD. Perderam, mas os nazistas mostraram força. A SPD ainda propôs uma aliança, os vermelhos a recusaram. Hitler chegou ao poder. Já não havia mais como contê-lo.


Desculpem meus amigos americanos, mas a sociedade americana está profundamente doente, e não apenas por causa de Trump

Em um novo livro. Bob Woodward faz novas revelações surpreendentes sobre os últimos meses de Donald Trump na Casa Branca. Como uma sociedade pode ainda suportar um sujeito desses eu não entendo. Mas, os EUA também estão doentes por uma série de outros problemas, entre eles o racismo, o armamentismo e a violência, assim como a incompreensão de certas questões mundiais pelos seus mais altos governantes. O declínio já começou, pelo alto e por baixo, nas mentes sobretudo...

Paulo Roberto de Almeida 

 

Stephen Collinson and Caitlin Hu

CNN Meanwhile in America, September 14, 20221

'I don’t want to be your friend anymore'

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You’d think it impossible to be shocked anymore by Donald Trump. But Bob Woodward, the Washington Post legend, with a new sidekick, Robert Costa, has done it again.

 

In the new book “Peril,” the duo lift the lid on the final days of the Trump White House amid the trauma of the Capitol insurrection. The book, obtained ahead of publication by CNN’s Jamie Gangel, is packed with staggering revelations — and also digs in to the first few months of the Biden administration, including the decision to withdraw from Afghanistan. 

  

Among the juiciest bits:  

  

— Gen. Mark Milley, the top US military officer, inserted himself into the nuclear chain of command, ordering that subordinates consult him before accepting any strike orders. This appears to be a stunning subversion of the US’s sacred civilian control of the military – committed, Milley says, to protect the world from an unstable President. 

  

— Milley and House Speaker Nancy Pelosi had a blunt phone call in which the chairman of the Joint Chiefs of Staff tried to assure her that US nuclear weapons were secure. “You know he’s crazy. He’s been crazy for a long time,” Pelosi said, referring to Trump, according to a call transcript. “Madam Speaker, I agree with you on everything,” Milley replied. 

  

— Then-CIA chief Gina Haspel worried the US was on the verge of a right-wing coup in November 2020, telling Milley, “[Trump] is acting out like a six-year-old with a tantrum." Haspel also worried that Trump might try to attack Iran. 

  

— Milley assured his Chinese counterpart in several phone calls that the US would not strike Beijing, after intelligence reports suggested that China believed Trump might target it to divert from the embarrassment of his election loss.
 

— According to Woodward and Costa, Trump screamed at Mike Pence after the vice president told him repeatedly that he had no power to change the election results. "You don't understand, Mike. You can do this. I don't want to be your friend anymore if you don't do this,” Trump reportedly yelled. 

 

terça-feira, 14 de setembro de 2021

Um presidente vulgar, grosseiro, ofensivo, inconveniente, insultuoso: chamou os diplomatas de veados - A ADB vai responder?

Os diplomatas, quaisquer que sejam suas orientações sexuais, deveriam soltar uma nota de desagravo CONTRA o presidente, pois ele os insultou, e falou a frase com o objetivo expresso de denegrir, de desprezar, de menosprezar os diplomatas. Acredito que a Associação dos Diplomatas Brasileiros (ADB) deveria soltar uma nota contra essa frase do presidente, e se não o fizer, respondo eu: 

"O presidente é o caráter mais vulgar, mais desprezível, mais asqueroso que já ocupou o cargo de maior relevância na história da República e até na história do Brasil, desde 1549, quando aqui aportou D. Tomé de Souza, para ser o primeiro governador geral do Brasil, então colônia de Portugal. Trata-se de uma pessoa sem qualquer princípio, sem qualquer ética, sem qualquer moral para ocupar o cargo que desonra, no qual ofende não só os diplomatas, mas todos os cidadãos que são homossexuais, sem que isso represente qualquer motivo para serem ofendidos da forma como o foram por um ser desprezível, que envergonha o Brasil e os brasileiros. Eu lhe devoto todo o meu desprezo, como diplomata e como cidadão brasileiro, ou como simples ser humano, o que ele manifestamente não é."

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 14 de setembro de 2021

“É tudo veado aqui”, a frase chocante de Bolsonaro a presidente da Guiné-Bissau

Diário do Centro do Mundo, 11 de setembro de 2021

Publicado em 11 setembro, 2021 8:55 am
O presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, e Jair Bolsonaro
O presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, e Jair Bolsonaro. Foto: Isac Nóbrega/PR

Em reunião com Umaro Sissoco Embaló, Jair Bolsonaro soltou uma frase que chocou o chefe de Estado. “É tudo veado aqui”, disse o presidente, referindo-se aos membros do Itamaraty. O presidente da Guiné-Bissaú havia elogiado a instituição.

Ele foi rapidamente socorrido por uma outra autoridade, segundo a coluna de Ancelmo Gois no Globo. Segundo ele, “veado”, no português brasileiro, significa o mesmo que “paneleiro” no português de lá.

O encontro ocorreu duas semanas depois de reunião com Marcelo Rebelo, presidente de Portugal.

Bolsonaro também chocou presidente de Portugal com “piadas”

Em almoço com Rebelo, Bolsonaro também causou constrangimento. Como tiozão do churrasco, ele se referiu ao povo europeu de maneira jocosa e contou piadas de cunho sexual. A comitiva portuguesa saiu do Brasil horrorizada.

A Associação Pela Fraternidade Portugal-Brasil (APFPB) repudiou o comportamento do mandatário. Para o grupo, o presidente  “destilou com desenvoltura um repertório de asneiras e grosserias que constrangeu o seleto grupo de autoridades internacionais”

Leia também:

1 – Presidente é condenado a indenizar repórter em R$ 20 mil por ataque machista: “Queria dar o furo”

2 – Em SC, mandatário volta a atacar: “Aquele filho da puta do Barroso”


sábado, 11 de setembro de 2021

A História se repete, nem sempre como farsa - Paulo Roberto de Almeida

 A História se repete, nem sempre como farsa

Paulo Roberto de Almeida 

A “grande estratégia” de Bolsonaro: recuar, para melhor saltar. 

Já vimos isso na história, várias vezes. Mussolini (ao preparar 1922); Stalin, na luta contra Trotsky (1927); Hitler no acordo de Munique (1938); Mao, na campanha das “Cem Flores” (1957); Pinochet sob Allende (1972). 

Totalitários são capazes de acenar para aqueles a quem pretende destruir, na primeira oportunidade. O cenário costuma revelar-se trágico para os crédulos.

Os liberais italianos preocupados com o avanço dos socialistas e comunistas, pagaram o preço, a partir de 1924, com o assassinato de vários opositores do fascismo (inclusive em Paris). Bukharin e Preobajenski ao se unirem a Stalin na luta contra a oposição de esquerda. Os “apaziguadores” ingleses e franceses, que acreditaram em Hitler e sacrificaram a Tchecoslováquia. Os intelectuais chineses, que acreditaram na abertura oferecida por Mao e foram todos ceifados em seguida. Allende, que confiava na capacidade de Pinochet em controlar os golpistas nas FFAA chilenas.

São inúmeros os exemplos de candidatos a ditadores que sabem pavimentar seu caminho para o poder. Fulgencio Batista, por exemplo, ainda não era general, quando deu seu primeiro golpe contra a democracia cubana nos anos 1930. Chávez era apenas coronel (e assim permaneceu) quando ensaiou sua primeira tentativa de tomada do poder. Prestes, que não passou de capitão, foi convencido pelos dirigentes do Komintern e do PCUS que poderia tentar um putsch contra o governo (já constitucional) de Vargas em 1935. O mesmo já tinha ocorrido com os comunistas chineses em 1927, e foram massacrados por Chiang Kai-shek, que já os esperava.

A única circunstância atenuante no atual caso brasileiro é que o ex-tenente terrorista (poupado pelos oficiais superiores de uma merecida prisão quando planejou atentados a explosivos) é reconhecidamente inepto, por estúpido confirmado, para conduzir um golpe de Estado na devida forma. Mas tem capacidade e sordidez suficientes para causar muita confusão até as eleições de outubro de 2022.

Com a colaboração conivente de políticos corruptos, que só pretendem extrair mais alguns bilhões de reais do Executivo.

O Brasil encena mais um capítulo da novela “Como morrem as democracias”, já vista em outros deploráveis experimentos, à direita e à esquerda.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 11/09/2021

Convite para número especial da Revista Locus: história recente da politica externa na AL

 Um convite que se destina a todos os interessados nesse campo relevante dos temas das relações exteriores e política internacional dos países da América Latina:

Caro Paulo:

Espero que se encontre muito bem.

Eu sou Diego Crescentino, professor da Universidade Autônoma de Madrid, e pesquisador do LABMUNDO, do IESP-UERJ. Eu tive a sorte de entrevistar você no Itamaraty há já dois anos. É um verdadeiro prazer para mim, escrever para convidar-lhe para publicar na chamada nº 28 (1) da LOCUS: Revista de História (2594-8296).

O objetivo principal desta edição é contribuir para a discussão sobre a história recente da política externa da América Latina, publicando pesquisas que busquem aprofundar na reflexão sobre os processos de democratização e elitização da política externa. Portanto, serão priorizados textos que abordam a história da política externa da América Latina, a partir de leituras histórico teórico críticas para uma discussão com foco regional ou transnacional, e que analisam, discutem e aprofundam sobre as narrativas em torno da política externa da América Latina; a instrumentalização do discurso da política externa em favor das elites; os fenômenos, interesses e consequências da diplomacia pública; os diferentes aportes teóricos na compreensão da política externa como como política pública; o papel da sociedade civil e as forças transnacionais na política externa; a relação entre política externa e modelos de desenvolvimento; as redes de crime organizado e política externa; e a influencia de outros atores e espaços alternativos na articulação da política externa. Para mais informações sobre a chamada de contribuições, você pode acessar o seguinte link: https://periodicos.ufjf.br/index.php/locus/announcement/view/456

O prazo para submissão de artigos é a data 31 de outubro de 2021, o que vai permitir que os artigos passem pelo processo editorial de revisão pares e edição. Por outro lado, o número será publicado ao longo do mês de maio de 2022. 

Teremos o maior prazer em receber uma contribuição sua. Agradeceríamos, também, se pudesse divulgar esta chamada a todos aqueles que, na sua opinião, possam ter interesse nela.

Gostaria de desejar-lhe o melhor nestes tempos de persistentes desafios e espero que o convite seja do seu interesse.

Cordialmente,

-- 
Diego S. Crescentino 
Docente - Investigador 
Editor-in-Chief de Relaciones Internacionales (1699-3950

Departamento de Historia Contemporánea 
Facultad de Filosofía y Letras 
Universidad Autónoma de Madrid 
Ciudad Universitaria de Cantoblanco · 28049 Madrid 

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Dossiê: História recente da política externa da América Latina: uma questão de elites? Vol 28, n. 1 (2022)

2021-01-22

O estudo da história recente das relações internacionais latino-americanas é essencial para explicar uma etapa histórica em que a integração regional e global se acelera - apesar dos sintomas atuais de um colapso da tendência regionalista em alguns estados da região. A importância desses estudos reside, portanto, na análise da multiplicidade de consequências que esses processos acarretam, tanto para os fenômenos nacionais internos quanto para as mudanças que ocorrem no cenário regional e global.

Nesse contexto, é imperativo olhar para os processos e dinâmicas históricas que, nas últimas décadas, cimentaram o cenário que moldou as principais características das relações externas latino-americanas. A sua característica principal corresponde a um sistema de gestão de poder político-econômico controlado e dirigido pelas elites nacionais, com sigilo significativo e uso do sistema para fins próprios. Essa situação resultou em uma patrimonialização - por essas elites - de espaços de decisão longe das realidades nacionais. Diante dessa situação, o papel da sociedade civil foi marginalizado, invisibilizado ou esquecido, tanto pelo controle efetivo do fenômeno por essas elites quanto por uma narrativa excessivamente propensa a conceber e representar a construção da política externa e da integração regional como um processo hierárquico, ou seja, de cima para baixo.

O debate ontológico em torno da política externa levou a várias leituras do conceito. Essas interpretações variaram desde um entendimento de que a política estatal está separada da política doméstica e que resulta de pouco interesse para os cidadãos, até a sua plena incorporação ao debate epistemológico em torno às políticas públicas, entendidas como resultado da negociação entre múltiplos atores e do enfrentamento de diversos interesses que intervêm na sua definição.

As possibilidades de abertura de espaços de participação para diferentes atores da sociedade civil levaram a um novo panorama. Os processos de transição democrática em vários países, os esforços contínuos para modernizar as instituições responsáveis pelo planejamento e execução da política externa, bem como o aumento da presença de discursos sobre a necessidade de prestação de contas e a incorporação de setores sociais marginalizados nas organizações e instituições políticas despertam um interesse renovado no que significa a política externa.

O objetivo principal desta edição da Revista LOCUS é contribuir para a discussão sobre a história recente da política externa da América Latina, publicando pesquisas que busquem aprofundar na reflexão sobre os processos de democratização e elitização da política externa. Portanto, serão priorizados textos que abordam a história da política externa da América Latina, a partir de leituras histórico-teórico críticas para uma discussão com foco regional ou transnacional -que excede a estrutura nacional-, e que analisam, discutem e aprofundam as seguintes dimensões, categorias e conceitos:

-           Processos de democratização e elitização da política externa

-           Narrativas em torno da política externa da América Latina

-           Instrumentalização do discurso da política externa em favor das elites

-           Influências extra regionais na política externa

-           Fenômenos, interesses e consequências da diplomacia pública

-           Multilateralismo e regionalismo na articulação da política externa

-           Teorias da política externa: política externa como política pública

-           Política externa comparada na América Latina

-           Influências ideológicas na definição de política externa

-           Sociedade civil e forças transnacionais na política externa

-           A relação entre política externa e modelos de desenvolvimento

-           Redes de crime organizado e política externa

-           Outros atores e espaços alternativos de articulação da política externa


José Jobim: o embaixador que sabia demais - André Bernardo

 José Jobim escrevendo

Quem é o embaixador José Jobim, assassinado na ditadura militar e homenageado por alunos do Instituto Rio Branco?

Era para ser uma formatura como outra qualquer. Dessas que o Instituto Rio Branco, criado em comemoração ao centenário de nascimento do Barão do Rio Branco (1845-1912), o patrono da diplomacia brasileira, organiza desde 1945. Mas, a escolha do embaixador José Pinheiro Jobim (1909-1979)– sequestrado, torturado e morto pela ditadura – como patrono da mais nova turma de alunos do Curso de Formação de Diplomatas reverteu as expectativas. O presidente da República, Jair Bolsonaro, não compareceu à cerimônia. Em vez disso, mandou um discurso gravado aos 20 novos diplomatas. Mais: a imprensa sequer foi credenciada para cobrir a formatura. “Fiquei feliz de ver que, no Itamaraty, há uma juventude que resiste”, afirma a jornalista e advogada Lygia Maria Jobim, de 71 anos. “Essa homenagem é a negação do negacionismo e da barbárie. Gestos como esse são fundamentais para que consigamos continuar a respirar enquanto atravessamos este mar de lama”. 

Em seu discurso, o chanceler Carlos França declarou que Jobim é “referência de diplomata e de dedicação ao Brasil”. Jobim também foi citado no discurso da embaixadora Maria Celina de Azevedo Rodrigues, a paraninfa da turma. “Espero que, como o patrono que escolheram, o embaixador José Jobim, se mantenham sempre fiéis aos seus princípios e valores”, declarou ela. “Não podemos nos deixar sufocar pela estupidez que este governo representa”, prossegue Lygia. “Temos que, sem violência, mas, com firmeza, colocá-los de volta no esgoto de onde saíram. São gestos como o desta turma que nos dão a certeza de que conseguiremos. Ainda há vida neste país”. 

Segundo a assessoria de imprensa do Ministério das Relações Exteriores (MRE), o Presidente da República não compareceu à cerimônia porque, no dia do evento, cumpria agenda fora de Brasília, mas enviou, por vídeo, a tradicional mensagem dirigida aos formandos. Ainda segundo o órgão, a escolha do embaixador José Jobim como homenageado da turma decorreu de deliberação dos formandos. “O Itamaraty não participa da decisão e, em respeito à vontade expressa pelos alunos, acolhe integralmente a eleição, sem emitir avaliação sobre o homenageado”, informou o ministério.  

Cerimônia de nomeação do Itamaraty com 23 participantes

Queima de arquivo

No dia 22 de março de 1979, pouco depois do almoço, José Jobim saiu de casa no Cosme Velho, Zona Sul do Rio, para visitar um amigo, o jornalista cearense Marcial Dias Pequeno (1908-1991), chefe de gabinete do governador Chagas Freitas (1914-1991), e não voltou mais. Segundo jornais da época, dois homens armados interceptaram seu carro a poucos metros de sua residência, na Rua Tobias do Amaral, sequestrado o embaixador e abandonado o veículo, um Corcel placa RM6072, numa ribanceira de Santa Teresa. “Meu marido não tem inimigos e está afastado da política. Não somos milionários, nem ostentamos riqueza. Por que, então, essa desgraça?”, indagou sua esposa, a embaixatriz Lygia Collor Jobim, ao jornal O Globo, de 24 de março de 1979. 

Na manhã do dia 23, segundo testemunhas, o embaixador foi até uma agência bancária na Barra da Tijuca, pediu uma folha de papel ao gerente, bateu um bilhete à máquina e saiu. Em seguida, dirigiu-se a uma farmácia, a poucos metros do banco, e entregou o bilhete à proprietária. Pediu a ela que, por gentileza, telefonasse para os números 205-1288 ou 226-9394 e falasse com Lygia (sua mulher), Lygia Maria (sua filha) ou Ênio (seu genro). Mais informações não poderia dar porque estava sendo vigiado. “Estou muito cansado, mas, até agora, nada me aconteceu de irreparável”, dizia o bilhete. Os supostos sequestradores não fizeram exigências ou pediram resgate. 

No dia 24 de março de 1979, por volta das sete da manhã, o corpo do embaixador foi encontrado morto por um gari na Barra da Tijuca. Estava pendurado numa árvore pelo pescoço, amarrado a um galho de árvore por uma corda de nylon. O local ficava a cerca de dois quilômetros da farmácia onde estivera no dia anterior. “Eu estava no terceiro mês de gravidez”, recorda Lygia Maria, então com 28 anos. “A primeira coisa que veio à mente é que tinha que cuidar da vida que carregava em mim e que era o/a neto/a dele. Fiquei em estado de choque, mas a informação de que ele havia aparecido numa árvore, com os joelhos dobrados e os pés no chão, me tirou da paralisia e me fez perceber, de imediato, que aquilo era uma farsa”. 

Segundo o médico legista Roberto Blanco dos Santos, do Instituto Médico Legal Afrânio Peixoto, que realizou a necrópsia, o diplomata já estava morto, há pelo menos uma hora, quando foi pendurado na árvore. Descartada a hipótese de suicídio por enforcamento, a polícia investigava os crimes de latrocínio e envenenamento. “Horas depois, soube por meu marido, o editor Ênio Silveira (1925-1996), e Frei Betto, que o acompanhou para fazer o reconhecimento do corpo, que minha mãe e eu não o poderíamos ver, pois as marcas de tortura eram muitas”, relembra Lygia. O corpo do embaixador José Jobim foi sepultado no domingo, dia 25 de março, às 10h30, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul do Rio. 

Já no dia seguinte, porém, o caso sofreu uma reviravolta. Responsável pela investigação, o delegado Ruy Dourado, da 16ª DP (Barra da Tijuca), convocou uma coletiva de imprensa para declarar que não houve sequestro. O embaixador, afirmou Dourado, cometera suicídio. Para corroborar sua tese, o IML chegou a desmentir o que o legista dissera no dia anterior: que Jobim já estava morto, há pelo menos uma hora, quando foi pendurado na árvore. Três dias depois, outra coletiva. Dessa vez, seus filhos, Leopoldo e Lygia Jobim, contestaram a versão de suicídio. “Seu crime foi ter querido, através das memórias que estava escrevendo, denunciar a corrupção na construção de Itaipu”, esclarece Lygia. 

Uma semana antes de sua morte no Rio, o embaixador José Jobim estivera em Brasília. A convite do diplomata baiano Ramiro Saraiva Guerreiro (1918-2011), compareceu, no dia 15 de março de 1979, à posse do presidente da República, o general João Baptista de Oliveira Figueiredo (1918-1999), o quinto e último do regime militar. Guerreiro foi ministro das Relações Exteriores do Brasil entre 1979 e 1985. Durante a cerimônia, Jobim comentou com amigos que estava escrevendo sua autobiografia. Entre outros assuntos, revelaria detalhes do esquema de superfaturamento na construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu. Disse mais: a documentação que comprovava o que dizia estava em uma mala xadrez azul e branca, guardada em sua casa. Lá pelas tantas, o senador Gilberto Marinho (1909-1985) chamou Jobim num canto e pediu a ele que parasse de falar porque as pessoas que pretendia denunciar estavam todas ali, na recepção. 

Crime de Estado

Paulista de Ibitinga, a 360 quilômetros da capital, José Pinheiro Jobim ingressou no Itamaraty em 1938, por indicação do poeta e diplomata Raul Bopp (1898-1984), e se aposentou em 1975, quando estava à frente da representação brasileira no Marrocos. Antes de chegar a ministro de primeira classe, atuou em países como Japão, EUA, Argentina, Uruguai e Finlândia. Como embaixador, serviu no Equador (1959-1962), Colômbia e Jamaica(1965-1966), Argélia (1966-1968) e Vaticano (1968-1973). Em 18 de fevereiro de 1964, foi designado pelo presidente João Goulart (1919-1976) para conversar com autoridades paraguaias sobre o aproveitamento hidrelétrico do rio Paraná, na altura das Sete Quedas. Como resultado da missão, Jobim elaborou um relatório que recomendava a construção da usina. 

O golpe militar de 1964, porém, alterou o projeto original. As turbinas, em vez de serem importadas da extinta União Soviética, foram compradas de uma multinacional alemã. Resultado: a obra, orçada em US$ 1,3 bilhão no governo Jango, teria custado dez vezes mais, US$ 13 bilhões, no regime militar.“Existem evidências de que houve corrupção durante a ditadura. O cerceamento dos mecanismos de controle, a elevação do fundo público e o aparelhamento do Estado por agentes empresariais privados levou a uma elevação significativa dos desvios de recursos públicos, pagamentos de propina e outras formas de irregularidade”, afirma o historiador Pedro Henrique Pedreira Campos, Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), professor do Departamento de História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e autor do livro Estranhas Catedrais – As Empreiteiras Brasileiras e a Ditadura Civil-Militar (1964-1988) (2014). “No caso da Usina Hidrelétrica de Itaipu, existem acusações de que teria havido desvio na realização da obra, em particular no fornecimento das turbinas e dos equipamentos elétricos usados na obra. Não existe um número preciso sobre o custo da corrupção e a elevação de preço. Na época, não foi feita a apuração do caso, mas, tudo aponta que a obra custou mais caro devido à apropriação indevida de recursos”. Para piorar a situação, a tal mala xadrez, que guardava os documentos que comprovariam o esquema de corrupção, foi encontrada vazia por sua mulher e filha na casa do Cosme Velho. 

Indignada com a tese de suicídio, Lygia Jobim não se deu por vencida. Travou incontáveis batalhas para provar que seu pai não tirara a própria vida. Uma dessas batalhas foi vencida em dezembro de 2014 quando, por ocasião da publicação de seu relatório final, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) declarou que Jobim foi sequestrado, mantido em cativeiro por dois dias e meio, em local incerto, e interrogado sob tortura. “Suas características levam-nos a crer que se tenha tratado de um crime de Estado, consumado por motivação exclusivamente política”, concluiu o relatório. “Não nos surpreenderia que o sequestro, a tortura e o assassinato do embaixador José Pinheiro Jobim tivessem conexão com seu projeto de livro acerca da construção de Itaipu, cujo lançamento poderia suscitar amplo debate sobre o tema”. 

“A ditadura militar trouxe consigo um regime de terror. Agentes do Estado perpetraram graves violações de direitos humanos, protegidos pela impunidade. As vítimas nem sempre tinham relação direta com ações voltadas à derrubada da ditadura, mas eram atingidas pelo simples fato de suas condutas significarem alguma contestação aos governos militares”, contextualiza o advogado Pedro Dallari, ex-relator da Comissão Nacional da Verdade (CNV). “O assassinato da estilista Zuzu Angel (1921-1976) é demonstrativo desse regime de terror: sem ter militância política, ela foi morta em função de sua persistência na procura do filho Stuart Angel Jones (1946-1971), preso e executado pela ditadura e cujos restos mortais nunca foram localizados”. 

Outra vitória importante foi conquistada em setembro de 2018 quando, quase 40 anos depois da morte de Jobim, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), órgão ligado ao Ministério dos Direitos Humanos (MDH), determinou que sua certidão de óbito fosse retificada. A causa de sua morte, então, passou a constar como “morte não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro, no contexto da perseguição sistemática e generalizada à população identificada como opositora política ao regime ditatorial de 1964 a 1985”. “O reconhecimento da responsabilidade do Estado foi, sem dúvida, importantíssimo. Mas, ainda tenho esperança de saber os nomes de seus torturadores e onde o mantiveram preso”, declara Lygia. “Além disso, não luto só por mim. Minha luta nunca chegará ao fim enquanto este país não tiver dignidade e não respeitar seus cidadãos. Enquanto outros sentirem a dor que, até hoje, eu sinto”. 

Quer conhecer mais sobre a história do Itamaraty? Confira o post sobre os 60 anos da nomeação do primeiro embaixador negro do Brasil.



André Bernardo
André Bernardo 

André Bernardo é jornalista. Aficcionado por cinema, literatura e música produziu conteúdo para mais de 80 jornais, como Zero Hora, Correio Braziliense e Diário de Pernambuco. Colabora para sites, como BBC Brasil, VICE e UOL, e revistas, como Superinteressante, MONET e Galileu. É autor do livro "A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo (Panda Books)", sobre teledramaturgia brasileira.

A diáspora brasileira - Taísa Szabatura e Vinícius Mendes (IstoÉ)

 A diáspora brasileira

Nunca tantos brasileiros foram morar no exterior: são 4,2 milhões só na última década. E como expressão do desalento com o Brasil, a maioria deles não têm planos de voltar
Taísa Szabatura e Vinícius Mendes 
IstoÉ, 10/09/21 - 09h30 - Atualizado em 10/09/21 - 12h09

“Dificilmente voltaremos”, é a frase mais comum de se ouvir de famílias brasileiras morando fora do País. Ela tem sido dita também porque muitas delas engrossam um dado histórico: o número de brasileiros morando no exterior nunca foi tão alto como agora, segundo levantamento feito pelo Itamaraty. Até o fim de 2020, 4,21 milhões de pessoas haviam deixado o Brasil — um aumento de 35% em relação a 2010, quando este número era de 3,12 milhões. Foi o caso de Adriana Tanzi, de 49 anos: ela não pensava em morar fora até meados de 2019, mesmo possuindo cidadania europeia. No entanto, quando o orçamento doméstico caiu, em meio à crise econômica, ela e o marido, o soldador Edson Monteiro, de 54, resolveram partir junto com a filha, Vitória, de nove anos, para a Itália. “No começo foi difícil.Nós não falamos o idioma e ainda veio a pandemia”, relata. Hoje, um ano e meio depois, a situação é mais tranquila: vivendo em Mântua, na Lombardia, Edson voltou a trabalhar e Adriana já está no processo de validação de seu diploma.

A psicóloga Monise Valzacchi, de 32 anos, por sua vez, foi ao lado do namorado, o nutricionista Felipe Jorge Melo, de 31, para a Austrália em setembro de 2014, quando o Brasil já estava em crise. O objetivo inicial era estudar inglês, mas eles acabaram ficando em busca de uma residência permanente na cidade de Perth, uma das maiores do país. O processo demorou, mas saiu no começo desse ano, quando eles, enfim, compraram uma casa. Agora estão esperando a primeira filha, que vai nascer em novembro. “Nunca imaginamos que teríamos condições de comprar um imóvel como o nosso por aqui, mas deu certo”, diz Monise. Já o futuro pai, engenheiro, não quer deixar mais a vida australiana. “Mesmo na hipótese de que tudo desse errado, faríamos o possível para não voltar. Desde que nós chegamos, temos o mesmo pensamento: não estamos aqui para passear”.

Destinos brasileiros
Para o antropólogo Igor Renó Machado, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), o crescimento da presença brasileira no exterior se explica, principalmente, pela falta de perspectivas no País. Esse fenômeno tem se acentuado nos últimos anos. Pelo levantamento do Itamaraty, por exemplo, apenas entre 2018 e 2020, cerca de 625 mil pessoas deixaram o Brasil em direção a outros países — o que representa 14% do total de saídas nacionais em toda a década passada. “No início de 2010 havia até gente voltando. Mas, depois de 2016, quando as condições por aqui se deterioraram, começou uma saída violenta em busca de uma nova vida lá fora”, diz. Os Estados Unidos abrigam quase metade (42%) da população. Em números absolutos, trata-se de 1,77 milhão de pessoas.

No Canadá, a ida de brasileiros capacitados, em grande parte no setor de tecnologia, é até incentivada pelo governo. Foi esse chamado que atraiu o casal de desenvolvedores Bárbara Lourenço, de 28 anos, e Thiago de Lima Pacheco, de 27, por exemplo. Quando ele conseguiu um emprego na área em Montreal, no fim de 2019, os dois se casaram correndo para terem acesso ao visto canadense. Hoje, não querem voltar. “Aqui há segurança até para esperar um ônibus à noite”, justifica Bárbara. “Apesar disso, a saúde pública é mais burocrática. Eu prefiro o SUS”, confessa Thiago.

Mas o fenômeno ganhou mesmo força em Portugal. O país concedeu residência a 42,2 mil cidadãos do Brasil somente em 2020, segundo números oficiais. Hoje, 183,9 mil brasileiros — quase um terço do total de estrangeiros — vivem no país europeu. “O boom dessas chegadas aconteceu entre 2014 e 2018, quando elas triplicaram”, diz o advogado Felipe Tramujas, que, de Lisboa, ajuda brasileiros que buscam estabilidade em solo português. Neste período, porém, ele viu o perfil dos migrantes se transformar. “São pessoas já formadas e com filhos, sem contar o alto número de aposentados”, conta.

Um desses brasileiros é o executivo William Silva, de 33 anos. Ele mandou mais de 500 currículos até conseguir ser contratado por uma empresa em Lisboa, em 2019. “Eu vivia bem no Rio de Janeiro, mas a corrupção e a violência eram intransponíveis”, explica. A esposa, Bianca Costa, busca agora a revalidação do diploma, enquanto a filha, Júlia, de cinco anos, já está matriculada em uma escola pública. Nessa toada, o prefeito de Braga tem incentivado a migração brasileira como forma de lidar com o envelhecimento da população local. Logo após a eleição de Jair Bolsonaro, em 2018, ele escreveu um artigo que resumia esse acolhimento com um trocadilho: “Bem-vindos ao Braguil”.

https://istoe.com.br/a-diaspora-brasileira/


Uma confusão vista de fora - Duda Teixeira (Crusoe)

Uma confusão vista de fora

Como governos estrangeiros e players que costumam orientar investimentos no país enxergam o caótico cenário brasileiro
Duda Teixeira | 10 de setembro de 2021

O presidente Jair Bolsonaro está prestes a ingressar em seu último ano de mandato quase que totalmente isolado do resto do mundo . Com a chance de se reeleger em 2022, ele tem sido cada vez mais ignorado por outros chefes de governo, que mencionam o seu nome e passam longe dos aeroportos brasileiros. Nos atos antidemocráticos do 7 de Setembro não foi diferente. A imprensa estrangeira deu pouco destaque aos protestos e nenhum político de peso levou a sério, ao menos publicamente, conforme declaração golpista do presidente. Para eles, mais vale acompanhar o desenrolar dos acontecimentos à distância e aguardar até que o Bolsonaro deixe o poder. Investidores estrangeiros, por sua vez, já não se animam tanto com uma recuperação da economia e já começaram a fazer as contas de olho no que virá depois.

Os danos à imagem externa do Brasil durante o governo de Bolsonaro têm ocorrido de maneira progressiva e já têm três momentos capitais até agora. O primeiro foi em 2019, ainda no primeiro ano de mandato, quando as queimadas na Amazônia e no Pantanal alcançaram números recordes. A destruição da floresta virou assunto em reunião do G7 e a chanceler alemã Angela Merkel foi flagrada dizendo que ligaria depois para o presidente. Dos Estados Unidos, Donald Trump telefonou para Bolsonaro e disse que seu país estava “pronto para ajudar”. O francês Emmanuel Macron quis conversar pessoalmente com o brasileiro em uma reunião do G20, em Osaka, para discutir a Amazônia. Ainda não há nenhuma esperança de envolver Brasília em questões globais. O Brasil era chamado para ajudar em crises regionais, como a Venezuela, e integrantes do governo eram convocados para reuniões na Casa Branca.

O segundo momento em que a imagem do país foi arranhada se deu em maio do ano passado. Com o número de mortes diárias por Covid ultrapassando o dos Estados Unidos, o Brasil apareceu em manchetes do mundo todo. O país ganhou, assim, o título de “epicentro da pandemia”. Como todos os governantes estavam preocupados com seus problemas próprios, as críticas à forma como Bolsonaro lidou com a Covid partiram principalmente dos brasileiros. O terceiro grande momento aflorou agora, com o presidente incitando uma ruptura democrática. Mas,  diferente dos dois anteriores, ele foi ignorado. Diplomatas de países que antes eram considerados aliados do governo brasileiro foram convidados a participar dos atos de 7 de Setembro, mas preferiram ficar em casa. Sem poder contar com Donald Trump, dos Estados Unidos, e Benjamin Netanyahu, de Israel, o Brasil ficou sozinho.

Ao calcular como devem lidar com um presidente em confronto direto com o Judiciário e a imprensa, os mandatários estrangeiros têm optado pelo menor vínculo possível. A falta de iniciativas na política externa, com um governo atolado na crise doméstica, contribui para que os contatos sejam ainda menos frequentes. O Brasil foi escanteado, por exemplo, das negociações entre a ditadura venezuelana e a oposição, e tem recebido atenção ínfima do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

Desde que Biden tomou posse, em janeiro, notas e os comunicados do Departamento de Estado americano sobre o Brasil evitam menções ao presidente ou ao seu governo. Ao mesmo tempo, mensagens enfatizam que os americanos valorizam a democracia, o que é uma forma de dizer que não apoiam uma ruptura da ordem. Em resposta enviada a Crusoé sobre se o Brasil seria convidado para a Cúpula pela Democracia, em dezembro, o Departamento de Estado deixou a questão no ar, e afirmou que os EUA pedem que os países “mostrem compromissos que promovam a democracia, combatam a corrupção e incentivo o respeito pelos direitos humanos”. No 7 de Setembro, outra nota defendeu a liberdade para reunir e protestar pacificamente, mas afirmava que, “como fazemos com todas as democracias, esperamos que o governo brasileiro e as instituições respeitem totalmente suas leis”.

Com quase três anos do mandato de Bolsonaro, os líderes mundiais já não acreditam que seja possível convencer o presidente brasileiro de alguma coisa - e não consideram que valha a pena citá-lo. “O presidente brasileiro segue o mesmo roteiro dos populistas de direita com inclinações e ambições autoritárias. Ele sabe que o meio que tem de conseguir seguidores e retê-los é polarizando o país, espalhando o medo e mobilizando uma base própria ”, diz o sociólogo americano Larry Diamond, professor da Universidade Stanford e especialista em democracia. Mas a atenção limitada que o resto do mundo está dando ao Brasil também tem outro motivo. Ainda que as declarações do presidente assustem, acadêmicos e analistas entendem que as instituições nacionais estão em condições de resistência. “No geral, há uma expectativa de que as instituições irão prevalecer no Brasil, que tem muita força em sua sociedade civil, no Judiciário e na imprensa independente ”, diz Diamond.

Essa visão é compartilhada pelo instituto sueco V-Dem, que monitora o estado da democracia em vários países. Nos últimos seis anos, o V-Dem incluiu o Brasil no grupo com democracias em declínio, ao lado de Hungria, Tailândia, Bolívia, Venezuela, Bielo-Rússia e Polônia. Mas, em comparação, o Brasil se sai melhor em alguns pontos importantes. “Notamos que a capacidade de o Legislativo brasileiro conter o Executivo diminuiu um pouco. Mas o Brasil segue com um Judiciário forte e, principalmente, com uma nota muito boa no seu sistema eleitoral. Com essas qualidades ainda presentes, o risco para a democracia brasileira é baixo”, diz a pesquisadora Yuko Sato. “Se as alterações ocorrerem normalmente em 2022 e o poder passar para o vencedor do pleito, como é esperado, todos ficarão bem menos preocupados com o Brasil”.

Em relatório para clientes de dentro e fora do Brasil, a consultoria Eurasia disse que existem poucos perigos para a eleição do ano que vem. Para os analistas, o resultado da próxima eleição presidencial será respeitado pelo Congresso, pelos tribunais, pela imprensa e pelos militares, independentemente de quem for o vencedor. “Quando os clientes nos perguntam sobre a possibilidade de uma ruptura democrática, nós respondemos que os índices são baixos. Os atritos recentes ocorrem justamente porque as instituições brasileiras estão resistindo. Os freios e contrapesos estão funcionando. Além disso, Jair Bolsonaro não tem apoio popular suficiente para fazer uma grande mudança”, diz Christopher Garman, diretor-executivo para as Américas da consultoria.

O problema é que a crise política contaminou o setor econômico. Investidores que estavam pensando em uma possível retomada, com o fim da pandemia no ano que vem, estão reticentes. “Até a eleição de 2022, tudo indica que teremos Bolsonaro encurralado, brigando com as instituições e aumento a polarização. Esse conflito tem alimentado muitas incertezas, como a situação fiscal do país, o pagamento de 00precatórios, a inflação elevada e a crise hídrica. Há um pessimismo grande com a economia brasileira atualmente, e isso não vai se dissipar tão cedo”, diz Garman.

A partir de 2023, o consultor afirma que o próximo presidente terá de governar em um ambiente difícil. A situação fiscal não possibilita muita folga para gastos, em um momento em que a população, principalmente a classe média, pode externar inquietações represadas durante uma pandemia. Além disso, o descontentamento com as instituições, o sentimento que origina a eleger Bolsonaro e que depois foi estimulado por ele, seguirá em alta em grande parte da população. “A principal missão do presidente, a partir de 2023, será devolver a legitimidade às instituições democráticas brasileiras”, afirma o diretor-executivo da Eurasia. Será difícil para o país vencer, tão cedo, uma condição de pária internacional.

https://crusoe.com.br/edicoes/176/a-confusao-vista-de-fora

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Colonial Legacies in the Luso-Brazilian World - Newberry Library, Chicago

Newberry Library, Chicago:

Colonial Legacies in the Luso-Brazilian World

Cartes marines: a la svbstitvtion dv Valdec proche Solevre en Svisse, MDCCXXVII

Symposium in Partnership with the Consulate General of Brazil in Chicago
Friday, September 10, 2021

2-5:15 pm CDT

Virtual event with in-person audience.

Q&A available for in-person and virtual attendees.

Please register below to attend in person or virtually.

This symposium will be available in English and Portuguese with simultaneous interpretation.

Open to the Public

Opening Ceremony

2-2:15 pm Central Time

Daniel Greene, President and Librarian, Newberry Library

Benoni Belli, Consul General of Brazil

Introduction to the Brazilian Collection and Symposium

2:15-2:30 pm Central Time

Will Hansen, Curator of Americana and Director of Reader Services, Newberry Library

Panel One: “Ruptures, Continuity, and Identity”

2:30-3:20 pm Central Time

The Impact and Legacies of Brazilian Independence in Portugal (c. 1825-50), Gabriel Paquette, University of Oregon 

Historians have long recognized how the formal achievement of independence in Brazil and Spanish America meant neither that the legacies of colonialism had been extirpated nor that the newly won sovereignty was unencumbered. The colonial inheritance was ubiquitous and often pernicious (e.g., the persistence of indigenous tribute and taxation labor regimes such as slavery; legal codes; the unfavorable position of the post-colonial polity in the world economy), as scholars working in the Dependency Theory, Informal Empire, and World Systems intellectual traditions have demonstrated.

Many connections between Europe and Latin America survived the disintegration of the Ibero-Atlantic empires. New links, both overtly coercive and less so, proliferated, too. The severance of the formal imperial relationship produced lingering effects on individuals, institutions, and states. Portugal’s situation in the decades following formal recognition of Brazilian independence in 1825 is an ideal case study. Portuguese statesmen grappled with numerous pressing and significant dilemmas generated by the sudden deprivation of Brazil, including those related to political organization and overseas empire, which are addressed in this paper. Brazil’s independence, then, cast a long shadow on Portugal’s subsequent political, economic, and cultural development.

From colony to nation: political identities before, during, and after the Independence of Brazil, João Paulo Pimenta, Universidade de São Paulo

This paper will present a panoramic perspective of the history of political identities in Brazil in the transformation from a colonial world to a national one. In this history, the process of the independence of Brazil in relation to Portugal played a central role, since out this emerged the contours of a Brazilian identity which did not exist previously. Finally, the continued relevance of the question will be discussed, to the extent that the history discussed here is still present in Brazilian identarian dynamics of the twenty-first century.

Moderator: Elisa Frühauf Garcia, Universidade Federal Fluminense

Break

3:20-3:40 pm Central Time

Panel Two: Portuguese Authority, Republicanism, and Rebellion

3:40-4:45 pm Central Time

Republican Ideas in the age of Independence, Heloisa Starling, Universidade Federal de Minas Gerais

Retrace how a republican language was formed in Brazil between the Conspiracy of Minas, in 1789, and the Revolution of 1817, in Pernambuco. This language sustained an alternative project of Independence and established a connection, in the domain of ideas, with the American Revolution.

An Atlantic History: Brazil, France, and the United States of America (1776-1792), Kenneth Maxwell, Historian

A discussion of the impact of the “Recueil des Loix Constitutives des Colonies Anglois, confédérées sous la dénomination D’Etats-Unis de l’Amérique Septentrional,” a Collection of the Constitutional laws of the United States of North America confederated under the title of the United States of North America - published in France in 1778. It was from France that two copies of this book reached Minas Gerais in 1788 and was the basis of discussions among the Minas conspirators who between late 1788 and early 1789 planned to overthrow Portugues rule in an armed uprising and establish a constitutional republic on the North American model.

The paper discusses the role of Benjamin Franklin, the American envoy in Paris, in collecting the translations and encouraging the publication of this collection of key American constitutional documents in France in 1778, as part of his effort to gain French military and political support for the American cause. It also follows the secret meeting in Nimes in Southern France in 1787 between Thomas Jefferson, who had succeeded Franklin as the American envoy in Paris, and a young Brazilian revolutionary who was a postgraduate student at the University of Montpellier. At Nimes the two men discussed details of the proposed revolt in Brazil and the possibility of support from the United States.

Moderator: Elisa Frühauf Garcia, Universidade Federal Fluminense

Closing Remarks with Daniel Greene and Benoni Belli

4:45-5 pm Central Time

Cost and Registration Information 

This event is free, but all participants must register in advance and space is limited.

To attend in person at the Newberry Library, please register here.

To attend virtually via Zoom, please register here.