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domingo, 1 de agosto de 2010

Cotas: polarizacao em torno do racismo oficial

O debate, já por si acrimonioso, promete continuar dividindo o país, criando aliás duas nações opostas: os defensores de cotas e seus opositores.
Triste destino para um país que se pretendia misturado, o fato de ter agora de dividir artificialmente sua população em "negros" e todo o resto, ou seja, os "não-negros", sendo que os primeiros, supostamente, totalizam mais da metade da população do país (isto segundo os dados da PNAD, já que 53% da população se auto-declararou "afro-descendente", pessoas que, obviamente, estão de olho nas cotas e outras facilidades oficiais, mesmo sem que anteriormente elas se considerassem negras ou afro-descendentes a qualquer título; agora elas o são, por oportunismo).
Caminhamos para o Apartheid, o que estimulará ainda mais o racismo, ainda que invertido.
Paulo Roberto de Almeida

Cotas: polarização continua
Marcelo Medeiros
Jornal da Ciência, 30.07.2010

O sistema de cotas deve ou não ser adotado nas universidades públicas do país? E por quê? As perguntas deram a tônica da sessão "Ciência em Ebulição" desta quinta-feira, penúltimo dia da 62ª Reunião Anual da SBPC
A favor da reserva de vagas estava o antropólogo José Jorge de Carvalho, da Universidade de Brasília (UnB), idealizador do sistema daquela instituição. De outro, Daltro José Nunes, do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Enquanto o professor da universidade gaúcha embasava-se em afirmações de igualdade de competição entre indivíduos, apontando ser injusto oferecer condições favoráveis a uns e não a outros em um concurso público, Carvalho apontava a necessidade de reparação da opressão histórica à qual os negros brasileiros foram submetidos.

Para Nunes, o problema da desigualdade no acesso às universidades públicas é estrutural e não racial. Segundo ele, a diferença na qualidade da educação nas escolas públicas e privadas afeta a entrada no ensino superior. Caso ignorada, esta diferença poderia representar ameaças à excelência das universidades públicas. "Com as cotas, as universidades tendem, em média, a perder qualidade, pois alunos menos preparados tiram lugar de mais preparados", afirmou.

Logo, segundo ele, a questão deve ser debatida como provocador de política pública de melhoria da educação como um todo. "As cotas atacam o efeito [dessa falta de política] e não a causa. Os governos são os verdadeiros culpados, mas as universidades repassam a culpa para os indivíduos", argumentou.

Para o professor de informática, a função da universidade não deve ser reparar injustiças, mas formar bons profissionais, independente de classe social ou cor. "Não me interessa se meu médico é negro, branco ou índio, desde que ele seja bom", provocou.

Nunes não se furtou a apresentar uma solução para resolver o problema da entrada na universidade enquanto o acesso se torna universal. Para ele, o vestibular deveria dar lugar a um sistema de seleção baseado não no conhecimento de disciplinas básicas, mas na capacidade cognitiva do estudante. "Avaliaríamos o raciocínio para ver o quanto ele é capaz de apreender novos conteúdos e superar deficiências", explicou.

Carvalho, por sua vez, lembrou da importância da discussão do sistema de cotas para levantar a questão do acesso à universidade. "Os primeiros debates aconteceram em 1999, na UnB. As cotas geraram um forte debate sobre a inserção dos pobres no ensino superior, onde está a camada dirigente do país", afirmou.

O antropólogo se mostrou contrário a soluções uniformes e defendeu a pluralidade de sistemas, desde que voltados para a garantia de um mínimo de vagas para negros. "A questão é complexa, mas o foco da discussão deve ser o debate", ressaltou. Isso porque, em sua análise, argumentos favoráveis à inserção por níveis de renda e origem escolar apenas esconderiam o racismo estrutural existente na sociedade brasileira e, principalmente, nas universidades.

Apresentando dados que mostram que em nenhuma instituição de ensino superior pública a quantidade de professores negros ultrapassa 1% do total, o professor foi além do tradicional discurso em prol de ações afirmativas na graduação. "Precisamos de cotas na pós. Ou por acaso os negros não chegam à pós-graduação?", questionou. "Temos um passivo muito grande a compensar".

Mostrando que o tema ainda está distante de ser consensual no país, a plateia se dividiu em críticas e elogios. Alguns presentes contaram histórias pessoais para ilustrar a complexidade do tema. As principais questões faziam referências a definições de cor, reparação histórica e injustiça, mas os professores reafirmaram seus argumentos.

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