O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Fidel-ZéDirceu-Chavez: os humoristas da vez (não consigo parar de rir...)

Incrível essa: a gente acaba justo de fechar uma notícia hilariante, como a que eu postei logo abaixo, e pensa que vai descansar, parar de sacudir a barriga de tanto rir, e esse pessoal não perdoa, não dá trégua: aí vem eles outra vez para nos fazer morrer de rir...
Vou ter de mudar de ramo nesta coisa de blog: só notícias mortuárias, para ninguém sair por aí rindo do que não se deve...
Vejam essa:

José Dirceu segue Fidel e acusa EUA de manipular noticiário contra… Kadafi!
O Estado de S.Paulo, 27/02/2011

Na última terça-feira, Fidel Castro escreveu em uma das suas “reflexões” que a Líbia era vítima de uma forte campanha midiática e isentou o ditador Muamar Kadafi do massacre que deixou centenas de mortos na última semana. Ontem, as palavras do líder cubano ganharam o apoio do ex-ministro e deputado cassado José Dirceu. Em seu blog, ele atribuiu aos EUA a responsabilidade por uma “manipulação do noticiário e uma intervenção branca”. Dirceu criticou ainda as sanções unilaterais anunciadas na sexta-feira pelos americanos, dizendo que seu real objetivo, ao apressar a queda de Kadafi, seria “comandar a transição para controlar as reservas e a produção de petróleo e evitar um governo antiamericano ou pró-palestino ao fim da crise líbia”. Dirceu questiona a razão para que sanções não tenham sido impostas ao Egito.

No texto de Fidel, que também contou com o apoio do presidente venezuelano, Hugo Chávez, o líder cubano sustentou que os EUA não hesitariam em enviar ao país as forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) se isso lhes conviesse. Ao final, reforçou seu apoio a Kadafi, ressaltando os laços que uniam os dois países.

Diplô: involuntariamente hilariante (nao pude evitar de rir...)

Certos jornais são feitos para serem sérios, para lutar contra a "mídia golpista", para veicular posições alternativas, ou seja, para combater "pensamento único" (obviamente neoliberal até a medula), para defender as ideias do socialismo redivivo num mundo que, torce e retorce, acaba virando irremediavelmente capitalista. E se não bastasse, ainda vêm esses deserdados árabes do Terceiro Mundo, que só precisavam ser antissionistas e anti-imperialistas e resolvem também ser anti-autocracias e a favor da democracia burguesa e dos direitos humanos, tout court.

Vai daí que de vez em quando alguns desses veículos da esquerda dinossáurica, que deveriam ser sérios, se tornam involuntariamente hilariantes. Sinto muito, com perdão dos redatores do Diplô -- nome simpático esse, até eu me encantei -- mas não pude evitar um acesso de riso ao ler não mais do que as manchetes do número em curso.
Estou absolutamente certo que quando abrir para ler as matérias, vou rir às bandeiras despregadas, como se dizia antigamente...
Vejam as manchetes; eu acrescento os comentários maldosos, entre colchetes: [xxx]

bibliotecadiplô e OUTRASPALAVRAS
Boletim de atualização de Outras Palavras e Biblioteca Diplô - Nº 30 - 28/2/2011

Cuba revê sua relação com a internet
Chegada de cabos óticos (foto) permitirá oferecer, em teoria, banda larga para todos. Mas qual será a política para o uso da rede? Por Leonardo Padura Fuentes

[PRA: Como assim? Cuba vai sentar com Madame internet e ver como será daqui prá frente? Vai distribuir banda larga no boleto de racionamento? Se for como na cartelita, deve dar para 12 dias por mês, no máximo, depois cada um deve comprar o resto no mercado negro...]

Retrocesso econômico: o ministro que se deve ouvir
Entrevista com Guido Mantega não esclarece motivo para aumento dos juros e cortes no Orçamento. Recomenda-se, para tanto, ouvir um ministro mais poderoso

[PRA: Que incompetente esse ministro da Fazenda; melhor falar com o seu antecessor, muito mais poderosos, para ver se ele tem alguma ideia mais palatável, do que ficar sempre aumentando juros e cortando o orçamento. Isso não é coisa que se faça. Aposto como o anterior, que justamente ordenou todas essas despesas orçamentárias, era incapaz de cometer esses gestos crueis com a economia popular...]

Previdência: as duas primeiras contribuições
Leitores atendem a chamado e apresentam alternativas à contra-reforma que a mídia julga necessária

[PRA: Essa mídia golpista! Sempre inventando um déficit da Previdência... Malhor falar com os futuros aposentados, ou aposentandos, diria alguém: eles não têm nenhum interesse em fazer uma contra-reforma, e sim em ter uma Previdência saudável, cheia de recursos, assim como ela é hoje. Outra Previdência é possível...]

Ainda estou rindo, desculpem. Agora vou abrir o meu "Diplô"...

Paulo Roberto de Almeida

Serviço de utilidade publica: nova forma de roubo

Recebido, como sempre ocorre, pela internet, e suficientemente importante para merecer postagem aqui, como informação de interesse relevante para nossa vida diária, num Brasil cada vez mais entrega à violência e à delinquência.
Só tem um problema de Português, que é o de misturar o tratamento "você" com "tu", mas esses pequenos atentados cometidos contra a língua não correm o risco de matar ninguém...
Paulo Roberto de Almeida

UM ALERTA PARA TODOS - NOVA FORMA DE ROUBO

A imaginação dos marginais não tem limites...
Esperam num estacionamento, e depois de você sair do carro, eles mudam a placa e ficam à espera.
Depois, te seguem, te ultrapassam e mostram a placa pela janela, como se ela se tivesse desprendido do teu carro.
Talvez você fique um pouco espantado por ver a tua placa ali mas, sem desconfiar e porque acha que ela caiu, resolve parar para recuperá-la e agradecer a quem tão "generosamente" deseja devolver a placa que você nem reparou que tinha caído...
Parar é tudo o que eles querem que você faça e aí já é tarde demais e terá sorte se não for violentamente tratado, raptado, ferido ou morto (que ironia: será ótimo se for apenas um assalto).
Não pare, seja por que motivo for. Uma placa não é nada, comparada com a tua integridade física.
Pense no que poderá acontecer, antes de agir.

Os criminosos são espertos e podem ser extremamente violentos quando querem conseguir alguma coisa.

Este e-mail é para defesa de todos.

Minitratados sobre as grandes questoes da humanidade: apenas deixando de ser serio, por uma vez

Recebo, de vez em quando, algum comentário sobre meus posts menos sérios, digamos assim.
Por posts menos sérios eu quero indicar aqueles que não têm nenhum outro objetivo senão o de me distrair um pouco, saindo daqueles textos prolixos -- e por vezes chatos -- que costumo escrever, para adentrar no terreno do "divertissement".
Isso acontece quando deparo com alguma palavra, ou situação -- pode ser um simples ponto de exclamação, bem ou mal colocado (não importa agora) -- que me faz refletir sobre os imponderáveis da existência humana e sobre os mais graves problemas que assolam a humanidade.
Enfim, coisas como os desencontros, os subterfúgios, as "dérobades" -- preciso encontrar o equivalente exato, em Português, dessa palavra francesa; alguém me ajude, por favor -- mas também podem ser simples regras ou normas gramaticais, como as reticências e as entrelinhas.
A vida já é bastante complicada como ela é: os meus minitratados têm, precisamente, a intenção de fazê-la ainda mais complicada, ao discorrer de maneira pedante sobre problemas simples.
Mas, pelo menos, eu me divirto assim...
Abaixo, uma relação dos minitratados produzidos até agora, sem transcrição completa, mas com os links para sua leitura integral.
Ainda tenho outros no pipeline, mas aceito sugestões para novos minitratados.
Só uma condição: eles não podem ser sobre nenhum problema realmente importante para a humanidade.
Para isso já temos revistas, jornais e livros em número suficiente.
Apenas divertissement, lembrem-se...
Paulo Roberto de Almeida

Série dos minitratados (so far...)

1) Minitratado das reticências:
Pouca gente dotada de uma certa familiaridade com a palavra escrita consegue atribuir real importância às reticências, inclusive este cidadão que aqui escreve. Quero falar das reticências stricto sensu, isto é, os famosos três pontinhos ao final de alguma frase ou expressão...
Ler a suite deste minitratado neste link.

2) Minitratado das interrogações:
Interrogantes são inerentes à espécie humana, e talvez mesmo a certos primatas. Determinadas escolhas, ou caminhos, nos levam a uma situação de melhor conforto material ou de maior segurança pessoal, sem que, no entanto, saibamos, ou tenhamos certeza, ao início, que aquela opção selecionada é, de fato, a de melhor retorno ou benefício possível. Dúvidas, questionamentos, angústias, em face das possibilidades abertas em nossa existência, são inevitáveis em todas as etapas e circunstâncias da vida. Daí a interrogação, normalmente simbolizada pelo sinal sinuoso que colocamos ao final de certas frases: ?
Ler a suite deste minitratado neste link.

3) Minitratado das entrelinhas:
Tratados, em geral, costumam ser solenes, como convém aos grandes textos declaratórios, escritos em tom impessoal e devendo refletir alguma realidade objetiva, uma relação entre Estados...
Minitratados, por suposição, deveriam ser versões reduzidas de seus irmãos maiores...
Ler a suite deste minitratado neste link.

4) Minitratado da imaginação:
A imaginação não é um simples sentido natural, e sim um ato da vontade, embora não possamos impedir nossa própria consciência de imaginar “coisas”. Mas essas coisas imaginadas são instruídas, orientadas, criadas e administradas por nós, como se fossemos um diretor de cinema ou de teatro, quando eles dizem aos atores como o script deve ser realmente lido e interpretado.
Ler a suite deste minitratado neste link.

5) Minitratado da reencarnação:
Não, não quero falar da reencarnação "real", aquela na qual acreditam piamente hindus e tibetanos, pelo menos os religiosos, nisso seguindo, ao que parece, os antigos egípcios, que já não estão mais entre nós para contar como a sua, supostamente rica, experiência nessa matéria. Os primeiros são radicais, capazes até de interromper a construção de um templo por uma minhoca que apareceu no canteiro de obras; afinal, nunca se sabe: pode ser a mãe de alguém. Enfim, se os egípcios ainda nos assustam com múmias de Hollywood, os outros nunca provaram o que afirmam.
Ler a suite deste minitratado neste link.


OK, OK, já tem vários na fila, cada um mais desimportante que o outro; os mais estranhos passam na frente...
Paulo Roberto de Almeida

Minitratado da Reencarnação - Paulo Roberto de Almeida


Minitratado da Reencarnação

Paulo Roberto de Almeida

Não, não quero falar da reencarnação “real”, aquela na qual acreditam piamente hindus e tibetanos, pelo menos os religiosos, nisso seguindo, ao que parece, os antigos egípcios, que já não estão mais entre nós para contar como era a sua experiência nessa matéria, supostamente rica. Os primeiros são radicais, capazes até de interromper a construção de um templo por uma minhoca que apareceu no canteiro de obras; afinal, nunca se sabe: pode ser a mãe de alguém. Enfim, se os egípcios ainda nos assustam com múmias de Hollywood, os outros nunca provaram o que afirmam.
Quero falar de outra reencarnação, de tipo virtual; uma que mobilizaria, ao que parece, os simples escritores, ou escrevinhadores, como eu, que ficam imaginando vidas alternativas com base no famoso what if?, isto é, o que eu faria se me fosse dado retomar o curso (que dizem retilíneo) da história, se eu pudesse inverter a flecha irrecorrível do tempo? O que eu faria se pudesse reescrever meu itinerário, se me fosse dado viver a mesma vida, mas escolhendo, com o benefício do hindsight, o melhor caminho para algumas das velhas (ou novas, diferentes) situações, se eu pudesse prever as consequências e fazer, assim, as escolhas mais convenientes?
Em outros termos, o que eu faria se me fosse dado configurar o “ótimo paretiano” de minha existência em nada extraordinária, mas bastante diferente da de muitos outros de minha geração? O que eu teria feito de diferente para, digamos, ficar rico, famoso e admirado? Bem, estou apenas usando uma figura de estilo. Nunca pensei em ficar rico, de verdade; embora, algumas vezes, as loterias, que eu não joguei, bem que poderiam ter ajudado a trocar algum carro velho. Mas todo mundo, pelos menos normal, sempre quer ser admirado pelos outros, o que implica ser famoso primeiro. Minhas vantagens comparativas nunca estiveram, hélas, nos esportes ou na música – sou o maior desafinado que jamais encontrei na vida e no mundo –, as duas áreas que mais rendem fama e dinheiro para os sortudos ou talentosos.
Minhas (poucas) vantagens comparativas sempre estiveram naquele setor infelizmente tão depreciado e desvalorizado no Brasil: a educação e a cultura. Fui um rato de biblioteca desde o início, e não poderia ser de outro modo, ao residir perto de uma biblioteca pública infantil. Enfim, poderia, sim, ter sido diferente, se eu tivesse preferido ficar mais tempo jogando pelada na rua, com a molecada do bairro, em lugar de me enterrar na biblioteca todos os dias depois da escola, e ainda retirar livros para ler em casa, no exato momento em que ela fechava, às 6 horas da tarde. Quase todo dia, eu levava um ou dois livros para casa, tentando devolvê-los já no dia seguinte; não era fácil, pois ler na cama, à contraluz, não era uma das coisas mais confortáveis que se pode imaginar para o devorador de livros que eu era (ainda sou).
Mas então o quê: como seria com alguma reencarnação de encomenda? Será que eu poderia ter ficado famoso como jogador de futebol? Não acredito! Eu só era um pouco menos ruim jogando que cantando; não creio que teria feito uma brilhante carreira do lado dos esportes e certamente nenhuma no campo das artes. Melhor, assim, ter ficado com os livros, que pelo menos me deram prazer intelectual, sem que eu me arriscasse a desafinar ou a desmantelar a armação do time a cada página virada.
Agora, retomando minhas opções preferenciais, como teria sido então? Com exceção de alguns poucos intelectuais de peso, quem, alguma vez, ficou famoso, no Brasil, por gostar de livros, ou por pretender ter uma carreira na educação, ou seja, no magistério e na redação de livros? Deveria eu trocar de reencarnação? Em qual tipo de personagem eu deveria reencarnar, exatamente? Teria de ser o contrário de tudo o que sempre gostei de fazer? Ler, refletir, escrever, eventualmente publicar o que resultar de tudo isso? Sei que jamais ficarei rico, muito menos famoso; mas quem sabe eu seria, enfim, admirado por todos aqueles que gostam dessas mesmas coisas?
OK, OK, então por onde começamos essa reencarnação dirigida para o que eu sempre gostei de fazer? Bem, eu recomeçaria exatamente pelo mesmo cenário infantil: uma biblioteca pública. O que mudaria, talvez, para aumentar minhas chances de sucesso no futuro projetado, seria a condição social de minha família: em lugar de pai e mãe que saíram da escola primária para trabalhar, pessoas de classe média. Não que eu tenha vergonha da pouca educação de meus pais, pois isso faz parte da vida, mas o fato é que eu cresci em uma casa sem livros e sem revistas ou jornais; seria preciso, pelo menos um pouco, dispor de dinheiro para comprar livros (e também aqueles sundays e banana-splits que eu cobiçava sem poder comprar).
Será que tudo é uma questão de dinheiro? Uma reencarnação com mais livros e mais dinheiro mudaria, de fato, a minha vida? Talvez ajudasse um pouco. Não creio que eu chegaria a ser, de verdade, muito diferente do que sou hoje: um amante dos livros, um obcecado por livros, um maluco que passa o seu tempo a ler, a refletir a partir dessas leituras e a escrever, colocando no papel as impressões de tudo isso. Um pouco mais de livros, não teria mudado essa “fatalidade”; afinal de contas, lendo o tempo todo, seria fisicamente impossível, talvez, ler mais ainda.
Enfim, se eu tivesse crescido em outro meio social, talvez eu pudesse ter comprado os livros que não estavam à minha disposição, nas várias bibliotecas que frequentava intensamente, e talvez tivesse publicado mais cedo, tendo alcançado aquela fama – não exatamente narcisista – que permite ter livros resenhados na grande imprensa e comentados pela chamada intelligentsia. Isso eu confesso que não consegui fazer, e talvez o meu projeto de reencarnação poderia ter ajudado em algo nesse departamento. Quem sabe eu poderia reencarnar como editor de mim mesmo? (Não! Isso seria uma fraude contra as boas práticas da difícil profissão de editor; os honestos, quero dizer, pois também existem os que fazem ação entre amigos.)

OK, reconheço agora que não estou escrevendo o que disse que iria fazer, ou seja, um minitratado da reencarnação; para restar fiel aos exemplos precedentes desta minha série, esta deveria ser uma peça sistemática, expondo rigorosamente, isto é, “cientificamente”, as bases da reencarnação, para depois retomar literariamente meu “outro” destino neste mundo tão imprevisível. O que na verdade flui do meu teclado é uma espécie de minibiografia saudosista falando apenas da minha obsessão por livros e pela palavra escrita. O que posso fazer se não sou perito nessa coisa de reencarnação, e sequer acredito nesse tipo de baboseira? Bem, peço o perdão dos crentes sinceros nesse tipo de coisa, ou seja, as “almas puras”. Acredito, também sinceramente, que os reencarnados verdadeiros, quando inteligentes, sempre têm coisas boas para contar.
Aqui entre nós, existem, de fato, reencarnados verdadeiros? Vocês também, como eu, não desconfiam dessas pessoas que pretendem ser a reencarnação de Cleópatra, de Júlio Cesar, de Napoleão? Nunca encontrei alguém que dissesse ter sido a reencarnação de algum escravo egípcio que construiu as pirâmides dos grandes faraós, que foi um dos assassinos do mesmo Cesar, ou um simples soldado de Napoleão, que morreu nas planícies geladas da Ucrânia, na inútil tentativa de voltar para casa. Alguém admite ter sido uma simples minhoca, como aquelas mães de tibetanos? Todos pretendem ter vivido algum personagem famoso. Blefe, tudo isso!

Bem, voltando ao meu projeto de reencarnação, ou melhor, ao espírito deste meu minitratado, quero dizer simplesmente isto: o que todo mundo procura, afinal, numa eventual volta ao mundo em condições melhores do que as anteriores – sim, também não conheço ninguém que pretenda voltar pior – é que, salvo um acidente ocasional, uma surpresa do acaso, é a virtude de pelo menos ser feliz no amor. Como teria sido se, em lugar daquela timidez incontrolável, eu tivesse tido a coragem de falar com aquela loirinha da terceira fila, tê-la convidado para o cinema de domingo, supondo-se que eu também teria dinheiro para o sorvete na saída? Como teria sido se eu tivesse tido a coragem de dar-lhe um beijo, e declarar o meu amor eterno? OK, mudando agora de assunto: suponhamos que eu tivesse tido a chance de ter ajudado no trabalho escolar da filha daquele editor famoso, que ele tivesse em seguida me convidado para escrever meu primeiro livro para jovens do ensino médio? Eu já teria sido famoso antes de entrar na Faculdade, onde eu evidentemente assombraria os professores com a minha erudição fenomenal e precoce. Talvez fosse convidado para ser assistente daquele famoso sociólogo que depois virou presidente por acaso...

Mas que coisa: estou sonhando. Reencarnação não existe, e o melhor que podemos fazer por nós mesmos é levar esta vida terrena – a única de que dispomos – de forma responsável, tentando ser bons para nós mesmos, para todos os que nos cercam, sem esquecer a humanidade em seu conjunto (estou sendo exagerado e pretensiosamente generoso, claro). Creio que a essência e o princípio de tudo para merecer uma boa reencarnação – para os que acreditam nessas coisas, claro – é fazer isso mesmo o que acabo de escrever: deixar o mundo melhor, pelo menos um pouco melhor, do que aqueles que encontramos quando aqui chegamos. Afinal de contas, somos todos responsáveis pela administração deste pequeno planeta perdido na imensidão da galáxia. Boa sorte aos que reencarnarem. É melhor ser ativo aqui mesmo, sem perda de tempo e sem esperar um ponto de partida melhor.
Ser responsável com o mundo e a espécie humana é difícil, mas isso se faz pelo trabalho honesto, pela participação cidadã nos negócios da comunidade, pela elevação material e espiritual – isto é, pela educação e cultura – de todos os que nos cercam e de todos aqueles que podem se beneficiar de nossas boas ações. Em resumo, devemos sempre visar bastante alto em nossos objetivos de vida, para que consigamos realizar pelo menos uma parte de tudo aquilo que almejamos. Isso, supostamente, nos traria um vale-brinde para a reencarnação, a ser descontado em algum momento de nossas vidas (inclusive, e de preferência, nesta aqui mesmo, na terrena). Pode também valer um ingresso em algum livro de recordações.
Em todo caso, boa sorte a todos os que miram na reencarnação. A minha, virtual, já está feita: ela se expressa naquilo que escrevo e publico. Vale!

Brasília, 28 de fevereiro de 2011 [Revisão: 05/11/2011]

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Livros: extorsivos no Brasil, baratissimos na Abebooks...

Meus caros companheiros de leitura,
Ainda não me recuperei do choque, raiva, frustração, por ter pago 89 reais (53 dólares) por uma tradução vagabunda e um Português horroroso de um livro de um historiador inglês, publicado por uma Editora brasileira inqualificável de criminosa (pela edição, talvez não pelo preço), quando eu poderia ter pago 5 dólares um usado na Abebooks, ou downloadado por 11 dólares no Kindle.

Pois hoje eu tinha de citar um livro que já possuo (comprei o meu em Hong Kong, por algo como 16 dólares, mas ainda não me chegou da China), e verifiquei rapidamente no site da Cultura. Deu isto:

Donos Do Dinheiro, Os (em Portugues) (2010)
AHAMED, LIAQUAT
CAMPUS
Preço R$ 109,90
ou
Lords Of Finance - The Bankers Who Broke The World (em Ingles) (2009)
AHAMED, LIAQUAT
PENGUIN USA
Preço R$ 41,22

Ou seja, no caso da edição brasileira CUSTA APENAS US# 64,50 e na edição original US$ 24,40.

Vejo agora na Amazon, edição Kindle: US$ 11,99 (como sempre)
E na Abebooks:
Lords of Finance: The Bankers Who Broke the World (ISBN: 0143116800 / 0-14-311680-0)
Liaquat Ahamed
Bookseller: MissionBasedBooks LLC
(Ann Arbor, MI, U.S.A.)
Bookseller Rating:
Quantity Available: 1
Book Description: Penguin (Non-Classics). Book Condition: Used - Good. Used - Good. Bookseller
Price: US$ 3.58
Frete para o Brasil: US$ 15,-

Ou seja, por menos de 19 reais (se você possuir um Kindle, você pode recebé-lo imediatamente, embora nem todos gostem de ler na pequena tela, sem poder folhear o livro, consultar index, notas bibliografia, etc).
Mas, por menos de 32 reais, você pode ter o livro em casa, se esperar 3 semanas, aproximadamente.

Por que pagar, então R$ 109 ???
Só maluco...
Com 70 reais dá para comer muito bem num bom restaurante, tomar um café e ler o seu livro deitado na rede...

Extorsivo Brasil...

Faraos, mullahs, mandarins, etc. - Ricardo Velez Rodriguez

Um interessante artigo de um colega acadêmico liberal, sobre as revoltas em curso em países muçulmanos (e se a sorte ajudar, na China). Partilho amplamente da visão do professor.
Tanto é assim que, seis dias antes da publicação desse artigo, abaixo transcrito, eu escrevia (e postava neste blog dois dias depois), este meu artigo:

Reflexões ao léu, 2: sobre as revoltas nos países islâmicos
QUINTA-FEIRA, 24 DE FEVEREIRO DE 2011

A conferir nossos pontos de vista, portanto.
Paulo Roberto de Almeida

Faraós, califas, mulás, sovietes e mandarins
RICARDO VÉLEZ RODRÍGUEZ
O Estado de S.Paulo, 26 de fevereiro de 2011

A revolta que assombra os países islâmicos coloca uma questão: as respectivas sociedades, em que pese a diversidade delas, na Tunísia, no Egito, na Argélia, no Iêmen, no Irã, na Líbia, no Marrocos, no Bahrein, etc., buscam uma coisa: melhores condições de vida, liberdade e participação. Tudo isso comunicado, em rede, pelas pessoas, driblando controles policiais e censuras. Um primeiro capítulo dessa onda libertária ocorreu no final do século passado, quando desabaram as ditaduras da União Soviética e do Leste Europeu e quando os cubanos fugiram em massa para Miami, no episódio conhecido como os "Marielitos", na época do governo Reagan. Terremoto semelhante ocorreu na China, com a ocupação da Praza da Paz Celestial pelos estudantes, primeiro, e, depois, pelos tanques.

Uma conclusão salta à vista: o que os revoltosos de ontem e de hoje procuram é o que sempre foi apregoado pelas democracias liberais: liberdade de ir e vir, liberdade para empreender negócios, liberdade de pensamento e expressão, liberdade para as mulheres e para as minorias, controle da sociedade civil sobre o aparelho do Estado, conquista do conforto como expressão do desenvolvimento econômico, tolerância, pluralismo, enfim, tudo aquilo que as elites corruptas dos países sacudidos pela onda de insatisfação negam aos seus cidadãos.

Palmas para o liberalismo que consegue, em pleno século 21, seduzir com os seus ideais as grandes massas dos países que ficaram por fora das reformas ensejadas no Ocidente pelos seguidores de Locke, Tocqueville e Adam Smith. Os ideais liberais superaram a prova da História, não ocorrendo assim com os ideais totalitários de Marx e quejandos.

No final da primeira década do século 21 encontramos, consolidada pela opinião pública mundial, a modalidade de Estado contratualista estudado pelos liberais doutrinários e por Max Weber. Segundo o pensador alemão e os seus precursores franceses (Benjamin Constant, Guizot, Tocqueville, etc.), ali onde houve uma experiência feudal completa, as respectivas sociedades se diversificaram em ordens diferentes de interesses, que ensejaram o surgimento das classes sociais, sendo o jogo político uma luta entre elas. Esse processo ensejou o moderno parlamentarismo, civilizada arena onde se realiza o confronto entre interesses diversos, abandonando o campo da guerra civil. A alternativa a esse modelo liberal ficou por conta do pensamento de Rousseau, ao longo dos três últimos séculos, que consolidou o ideal da democracia totalitária, alicerçada na unanimidade construída mediante a eliminação da dissidência.

Ora, a luta que observamos presentemente é uma reação de sociedades dominadas por ditaduras, que se constituíram em herdeiras do velho despotismo oriental. O que egípcios, tunisianos, iemenitas, iranianos, chineses dissidentes, etc. buscam é a substituição do modelo do patrimonialismo hidráulico por arquétipos inspirados na prática da representação política e de respeito aos direitos individuais. Ora, isso é possível, inclusive no seio de sociedades diferentes das ocidentais. A Turquia encarna hoje, por exemplo, um regime que se aproxima das modernas democracias.

As ditaduras somente são aceitáveis para aqueles que dominam, jamais para os dominados. Como dizia Talleyrand, a raposa aristocrática, a Napoleão: "Sire, as baionetas servem para muitas coisas, menos para se sentar encima delas." Ou seja: você, governante, quer estabilidade? Construa a livre participação dos seus cidadãos! Essa, aliás, foi a genial lição que o nosso precursor liberal Silvestre Pinheiro Ferreira passou ao seu chefe, Dom João VI, no final da primeira década do século 19, nas suas famosas Cartas sobre a Revolução Brasileira.

Faraós, califas, sovietes, mulás e mandarins jamais conseguiram - nem conseguirão - satisfazer às suas respectivas sociedades, porque está viciado, ab origine, o modelo de patrimonialismo oriental em que se inspiram e que se define como a organização do Estado como se fosse propriedade familiar de uma casta, de um czar ou de uma oligarquia.

Chamou-me a atenção uma reportagem que li num jornal canadense no ano passado: o maior grupo étnico de milionários que busca residência no Canadá é constituído pelas famílias de altos dirigentes chineses. O repórter indagava acerca das razões dessa preferência. O motivo alegado por eles era bem curioso: a China, sim, é uma grande potência econômica e política. Mas ninguém tem certeza de que as conquistas de bem-estar atingidas pela elite - calculada em 400 milhões de pessoas - serão garantidas para as próximas gerações. Assim sendo, os mandarins cuidam para que as suas famílias passem a gozar das benesses do desenvolvimento, não na terrinha (pátria do despotismo hidráulico), mas ali onde estão garantidas, por uma longa tradição liberal, as conquistas dos indivíduos. Ou seja: a China pode ser uma grande potência, mas não é o paraíso, mesmo para as famílias dos seus dirigentes, que preferem um país desenvolvido do Ocidente para ali gozarem as benesses do progresso e do conforto, com a certeza de que esses direitos serão garantidos num clima de liberdade.

A América Latina, na trilha do populismo da última década, abjura justamente o liberalismo e fica presa à manutenção de odiosos privilégios oligárquicos (vide os pactos realistas do partido governante no Brasil com ícones da oligarquia nordestina, que ainda conseguem manter sob censura o mais importante diário do País, justamente por ter sido denunciada nas suas páginas a prática de arcaico patrimonialismo). Nesse ponto, o Brasil consegue ser ainda mais retardatário que o Egito, onde caiu o faraó de plantão, enquanto nós mantemos, felás pagadores de impostos, os privilégios de odiosa nomenclatura em que se converteu a nossa classe política.

COORDENADOR DO CENTRO DE PESQUISAS ESTRATÉGICAS DA UFJF E-MAIL: RIVE2001@GMAIL.COM

Europa maior que os EUA?: deve ser a sede do FMI?

A despeito de interessante, este artigo tem uma falha: a Europa tem, realmente, no conjunto dos 27 membros, um PIB maior do que o dos EUA, e um comércio global superior ao comércio exterior dos EUA.
Mas ela não tem uma moeda única a 27: são apenas 17 (com certo esforço) os membros da Eurolândia e não se imagina que a força do euro se torne superior à do dólar antes de algum tempo.
Assim, os EUA ainda são a economia mais importante -- mesmo quando a China ultrapassar o PIB americano, em mais alguns anos -- e a mais influente no mundo.
Paulo Roberto de Almeida

Iran defeats Russia, Europe overtakes USA
Author: Dr. Greg Austin
New Europe, 27 February 2011 - Issue : 924

International competition has many levels. In Brussels this past week, Prime Minister Putin felt the need to disparage the leadership of Iran as a negative outcome of European foreign policy. After railing against alleged “European” support of Ayatollah Khomeini before 1979, Putin took on Palestine.

"Not long ago at all, our partners came out actively for honest democratic elections in the Palestinian territories," Putin said. "Wonderful! Well done, lads! And it turns out Hamas wins, the same people you are calling a terrorist organization and have started to fight against." (Moscow Times).

At one level of politics, Putin’s analysis of Iran and Palestine is rational. On another level, there is a deep neuralgia in Russia about the Muslim world. Putin said that Russia was concerned about the consequences of the recent uprisings in Arab countries for Russian security. He also warned (correctly) that the events could have negative consequences for Europe. The underlying anxiety here is not unique to Mr Putin. He is showing a discomfort here many Western leaders share and that will only grow.

The anxiety comes about because of shifting power relationships in many fields of national endeavor. On a much lower level, this was symbolized in a tantalizing way in the shock defeat of Russia by Iran (1-0) in a football friendly in Dubai on 9 February. Perhaps the patriotic, sports-loving Mr Putin was smarting from the defeat. The Dubai game, a warm-up for the Euro 2012 qualifiers, was only held in Dubai so that the Russian football federation could get the money from the TV rights involved in playing a team from the region.

More seriously though, the Putin visit to Brussels and the concerns he expressed reflect fundamental shifts in world power at a time when, with the uprisings, revolts and wars in the Muslim world, there is an historic shift under way in world politics. Russia’s relations with the European Union (EU) now look very different from three years ago. Russia has overtaken China as an economic partner of the EU and Putin is determined to make Russia and the EU partners in international security affairs as well.

At exactly the time when the world press was trumpeting the statistic that the Chinese economy had overtaken the Japanese economy, and would eventually surpass the American economy, a different data set from the IMF revealed another shift. The US economy was correctly reassigned to number two spot behind the European Union in GDP on a Purchasing Power Parity basis. And Indian GDP is within a whisker of Japan’s. The bargaining power relationships within the G20 and IMF are shifting and on the global stage have shifted in Europe’s favor.
So, the EU is not a country, some might say. Yes, but it is an “economy”, a single economy, in a world where, as a good Marxists might tell you, economics is in command. The Articles of Agreement of the IMF (Section XIII) dictate that “The principal office of the Fund shall be located in the territory of the member having the largest quota”. Well the European Union now has almost double the quota of the United States, around 30 per cent of the total for the EU compared with just over 17 per cent for the United States, and China’s un-naturally low 3.72 per cent. So the IMF headquarters really should move to Europe.

Journalistic flourishes aside, what does this growing list of re-alignments of politics and power mean? At the very least, in economic and social terms, it means that the initiative for change, the impulse for reform and the power for transformation are slipping even faster from American hands. Russia knows it and is looking for European partnership, especially to secure the southern flanks not just of Russia but of Europe as a whole.

Entre Davos e Dacar: dois mundos impossíveis? - Paulo Roberto de Almeida

Não tenho certeza de ter postado, neste formato, este meu artigo
Entre Davos e Dacar: dois mundos impossíveis?,
publicado no portal iG de economia em 10/02/2011.

Entre Davos e Dacar: dois mundos impossíveis?
Paulo Roberto de Almeida
Especial para o iG, 10/02/2011

Os antiglobalizadores se tornaram agora um grupo “importante” para apenas protestar ruidosamente contra os encontros capitalistas

Dois personagens à procura de um enredo

Entre o final de janeiro e o começo de fevereiro de cada ano são realizados, sucessivamente ou por vezes simultaneamente, dois fóruns mundiais, mas “inimigos”: de um lado, o dos capitalistas de Davos – o Fórum Econômico Mundial, ou WEF, na sua sigla em inglês – e, de outro, nos últimos dez anos, o dos antiglobalizadores do Fórum Social Mundial (FSM), em diferentes cidades tidas como, momentaneamente, “alternativas” (e Porto Alegre o foi, enquanto esteve sob o comando do PT). Já passou o tempo em que os militantes do segundo grupo se organizavam para perturbar, ou mesmo para tentar impedir a realização do primeiro, como faziam com todos os demais encontros “capitalistas” de par le monde, formando correntes de bloqueio, destruindo algumas propriedades e enfrentando a polícia nas ruas dessa pacata estação de esqui da Suíça (ou de outras cidades que por acaso abrigam reuniões periódicas dos “poderosos” do mundo).

Os antiglobalizadores – graças, justamente, à globalização, mas isso eles não reconhecem – se tornaram agora um grupo por demais “importante” para apenas protestar ruidosamente contra os encontros de capitalistas: eles já têm seu espaço garantido na mídia e na agenda de muitas ONGs e por isso se dedicam, hoje, com a mesma seriedade de uma multinacional “grisalha”, a transmitir suas próprias “soluções” aos problemas mundiais, chegando até a obscurecer, em algumas ocasiões, as propostas do primeiro grupo. Cabe, assim, tratar de suas agendas respectivas e de suas propostas, se é que alguma proposta significativa pode “emergir”, de um ou outro fórum, para “resolver”, de fato, problemas cruciais da humanidade.

Esses problemas, como se sabe, têm nome e “endereço”: pobreza ainda disseminada em diferentes regiões do planeta, ameaças à paz e à segurança internacionais em diversos hotspots do mundo, conflitos renitentes, sob a forma de guerras civis, enfrentamentos étnicos ou religiosos, em países próximos daquela condição associada a um “Estado falido”, poluição e perspectivas de novos cenários malthusianos com o aquecimento global antrópico, enfim, questões que estão há muito tempo na agenda das principais potências e organismos internacionais e que são, ou deveriam ser, tratadas também nos encontros mundiais de globalizadores e antiglobalizadores, onde quer que eles se reúnam. Vamos tentar ver um pouco mais de perto o que representam, de fato, esses encontros e analisar suas “soluções”.

Fórum de Davos: capitalistas “arrependidos” e fora de foco

O Fórum de Davos surgiu no início dos anos 1970 com a finalidade explícita de reunir representantes da elite do empresariado mundial e os dirigentes políticos com responsabilidade de governos em torno das questões mais relevantes da agenda mundial, num momento – choques do petróleo e revolução islâmica no Irã – em que o mundo se debatia entre a estagflação dos países ricos e as crises econômicas – geralmente de dívida externa – dos países em desenvolvimento. Seu organizador, Klaus Schwab, tinha a intenção de facilitar o diálogo entre esses dois grupos, já que o G7 se reunia praticamente a portas fechadas e que as reuniões das instituições de Bretton Woods – FMI e Banco Mundial – e do Gatt tampouco permitiam a participação do setor privado; haveria, portanto, um espaço a ser preenchido por uma ONG como a que ele criou precipuamente com essa finalidade: juntar reguladores e decisores em torno dos problemas do momento.

Os objetivos eram, sem dúvida alguma, meritórios: encontrar um terreno neutro, quase de lazer (já que Davos sempre se distinguiu pelas suas pistas de esqui), para fazer avançar a coordenação de políticas entre os principais atores da economia mundial – Estados e companhias globalizadas –, sempre com intenção de, através do diálogo informal, despojado do peso das burocracias governamentais, fazer com que algumas novas ideias pudessem ser concretizadas no terreno das políticas práticas e das iniciativas intergovernamentais, com vistas a incrementar, de modo adequado e mutuamente benéfico, a chamada interdependência econômica global. Nesse sentido, a agenda de Davos não era muito diferente daquela do G7, da OCDE ou daqueles entidades multilaterais, com a vantagem de oferecer um espaço de discussão informal, sem os rigores e os compromissos das declarações oficiais de governos e entidades.

Passados quarenta anos de sua criação, qual seria o balanço a ser feito do WEF e de suas contribuições, eventualmente positivas, para a melhoria das condições econômicas e sociais no nosso planeta? Elas são inegavelmente positivas, pelo simples fato de se ter mais um espaço de diálogo entre a chamada “sociedade civil” – ainda que representada majoritariamente pelos capitalistas, ou seja, os “ricos e poderosos”, como diriam seus opositores – e líderes governamentais, tratando de problemas relevantes da agenda mundial: crescimento econômico, desenvolvimento sustentável (que é o novo mantra da agenda ecológica de radicais e cientistas do meio ambiente), comércio internacional (que sempre anda aos “trancos e barrancos”, ao sabor das rodadas de negociações comerciais multilaterais), sistemas financeiros (e a verdadeira anarquia monetária e cambial que existe nessa área), questões tópicas de saúde, segurança, comunicações, ou questões mais amplas, como desenvolvimento social, distribuição de renda, diversidade cultural, etc.

Aos poucos, porém, essa agenda passou a refletir o “politicamente correto” das agências intergovernamentais, com uma linguagem cuidadosamente escolhida para não ofender “gregos e goianos”, e tomando o cuidado para tampouco contrariar as prioridades governamentais, para não afastar os líderes governamentais, que, junto com os capitalistas, são os que sustentam financeiramente o WEF. Na verdade, os encontros de Davos são uma ocasião adequada para que estes últimos, em suas missões de lobby e de novas oportunidades de negócios, encontrem os decisores de governo, ou seja, continuem a fazer aquilo que eles normalmente fazem em direção de suas capitais e nos países focados para investimentos e transações comerciais. Podem até ocorrer cenas implícitas de corrupção, dado que a profusão de atores tornam menos visíveis certos encontros e conversas que, no plano puramente nacional, seriam refletidas pela imprensa local e pelos competidores de outros países.

Nesse ambiente de “mútuo congraçamento”, de troca de favores gentis, de palavras amenas uns com os outros, só poderia dar no que deu: a agenda do WEF foi capturada pelas prioridades repetidamente reincidentes – com perdão pela redundância – das agências intergovernamentais, das ONGs de “bem-pensantes” – como Raymond Aron se referia a essas “almas cândidas”, interessadas, equivocadamente, em fazer o “bem” para o mundo, mas sempre pelas vias erradas – e das personalidades beneméritas, sempre prontas a agitar alguma “ideia generosa”, desde que aquilo lhes garantisse alguns minutos de publicidade gratuitas nas telas dos canais internacionais e dos grandes jornais de circulação mundial.

Pois foi assim que pudemos ver, poucos anos atrás, uma conhecida artista de Hollywood, seduzida pela agenda de um cantor idiota (mas de sucesso) de “salvar os africanos” da miséria e da fome, conduzir numa plenária do WEF, ao vivo, uma campanha imediata de doações em favor do continente africano, anunciando imediatamente que estava depositando um milhão de dólares na caixinha de uma entidade qualquer que se dedicava, justamente a essa atividade benemerente. Foi o sinal para que os capitalistas entusiasmados – não tanto pela África, mas provavelmente pela atriz sedutora – passassem a soltar seus milhares de dólares pela mesma causa. No espaço de uma hora, a conta deve ter subido a vários milhões, que provavelmente foram perdidos nas semanas e meses seguintes com a triste realidade da assistência oficial e privada ao “desenvolvimento” africano: metade gasta nos meios e suprimentos adquiridos nos próprios países desenvolvidos, outro quarto nos canais de intermediação africanos (com pelo menos uma parte voltando para os bancos offshore que mantêm contas numeradas) e o que sobrou sendo finalmente aplicado na atividade-fim (sem qualquer esperança de algum tipo de mudança nas realidades africanas).

Patéticos esses capitalistas de Davos, que agora precisam ser um pouco de tudo: sustentáveis, igualitários, socialmente conscientes, ecologicamente ativistas, politicamente equilibrados, culturalmente diversificados, includentes em matéria de gênero, raça e cor, sexualmente abertos, compreensivos com todas as religiões, favoráveis a cotas para todo tipo de minoria, apoiadores sinceros de uma “diplomacia supranacional da generosidade”, enfim, superhomens (e supermulheres), tudo menos simples capitalistas, vocês sabem, daquele velho estilo, interessados apenas em lucros e resultados para seus acionistas e proprietários. Eles estão quase pedindo desculpas por serem ricos e poderosos, por produzirem resultados tangíveis para suas empresas, ou simplesmente por serem capitalistas. Estão com a consciência culpada por terem um estilo de vida tão “luxuoso”, enquanto mais da metade da humanidade patina na miséria: “o que podemos fazer?”, suplicam eles...

Eu diria que eles deveriam voltar a ser o que sempre foram: capitalistas, apenas isso. Sua função principal é, essencialmente, a de produzirem resultados para seus proprietários e acionistas, quanto mais lucro melhor. Como o lucro só pode ser proveniente de alguma atividade lícita de mercado – claro, tem aqueles que vão a Davos para conseguir um contrato suculento com algum príncipe, mas esses são minoria – eles estarão cumprindo, assim, a função que lhes foi atribuída pela economia de mercado. Qualquer outra atividade “politicamente correta” que eles resolverem empreender, como empreendem de fato, é pura hipocrisia social, é uma rendição às novas patrulhas ideológicas que frequentam – infestam, seria o termo mais apropriado – esses encontros a partir dos organismos internacionais e das entidades não governamentais pretensamente caritativas e humanitárias.

O mundo dos capitalistas é o mundo dos retornos de mercado, dos lucros crescentes, das inovações tecnológicas, da competição desenfreada, da promoção das novas ideias para vencer a concorrência, enfim, o mundo que eles sempre conheceram antes de começar essa onda do “politicamente correto” que se revela economicamente estúpido. Os capitalistas não vão produzir um “outro mundo possível”, melhor do que o atual, entenda-se, seguindo as recomendações economicamente irracionais de ONGs e dinossauros intergovernamentais; eles apenas vão prolongar os diferenciais de produtividade, as desigualdades sociais e regionais, a não-educação, a corrupção, a ineficiência dos aparatos estatais na maior parte dos países em desenvolvimento, enfim, as mesmas realidades a que assistimos atualmente, depois de quatro ou cinco “décadas do desenvolvimento” decretadas pela ONU.

Mas também suspeito que eles vão para Davos praticar a mais velha das vaidades humanas, o exibicionismo do rico perdulário: “eu chego de jatinho particular, eu alugo um chalé a 300 mil dólares por um fim de semana, eu dou uma festa regada a champagne legítimo, eu vou esquiar em pista exclusiva, e depois, se sobrar tempo, passo naquela mesa-redonda para demonstrar minha compreensão com as causas do momento” (aproveitando para ver aquele velho corrupto do Oriente Médio). Enfim, isso também existe, e Davos até pode sair mais barato em matéria de lobby, ao concentrar toda essa fauna no mesmo lugar. Aposto como teremos mais quarenta anos de WEF, no mesmo estilo, com capitalistas cada vez mais encurralados no politicamente correto dos tempos que correm. Enfim, more of the same...

Os “alternativos” do FSM: socialistas reciclados na economia solidária

Outra é a fauna dos encontros anuais (e regionais) do FSM: viúvas do socialismo, órfãos do comunismo, frustrados com o prolongamento (várias vezes repetido) das “crises finais” do capitalismo, filhos ingratos da globalização, ingênuos de todo gênero e um gênero especial de velhos “velhacos” do altermundialismo profissional, aqueles capazes de vender ideias vazias para mentes igualmente vazias, como são as dos jovens que frequentam em sua grande maioria esses encontros ruidosos e caóticos. Assim como Davos é um convescote de luxo para os capitalistas (e outros poderosos do globo), os encontros do FSM são um piquenique catártico, geralmente austero, para todos esses rebentos rebeldes da globalização.

As grandes estrelas são esses embromadores de sempre, nomes conhecidos na academia e nos meios de comunicação para serem repetidos aqui gratuitamente. A eles se somam alguns populistas e demagogos do chamado Terceiro Mundo, em maior número, atualmente, da América Latina, um continente atrasado que costuma produzir esse tipo de fauna política (já que em outras regiões, o pessoal está mais ocupado em realmente fazer emergir suas economias). Eles vêm “debater” – conforme leio no programa – “a conjuntura global e a crise, a situação dos movimentos sociais e cívicos e o processo do Fórum Social Mundial.”

Em matéria de resultados efetivos para a prosperidade do mundo, eles conseguem ser ainda mais negativos, e irrelevantes, do que os capitalistas de Davos, pois que estes últimos pelo menos produzem bens, serviços, utilidades mercantis que entram nos vastos circuitos da globalização, ao passo que os primeiros só produzem palavras, palavras e mais palavras. Nunca tantos se reuniram tanto, para transpirar tanto, sem qualquer inspiração útil, em torno de tão magras ideias (if any). Parece incrível, mas eles conseguem se repetir a cada ano, sem trazer nada de novo para o debate público. Senão vejamos.

Leio no documento de base dos antiglobalizadores: “A situação global está marcada pelo aprofundamento da crise estrutural da globalização capitalista.” Ou então: “Análises do movimento altermundista estão sendo aceitas, reconhecidas e contribuem para a crise do neoliberalismo. As propostas produzidas pelos movimentos são aceitas como base, por exemplo, para o monitoramento dos setores financeiro e bancário, para a eliminação dos paraísos fiscais, de tributos internacionais, para o conceito de segurança alimentar, até então considerados heresias, estão nas agendas do G8 e do G20.” Mais ainda: “Essas propostas tem sido acolhidas, mas não se efetivam por causa da arrogância das classes dominantes confiantes no seu poder.” (ver: “O que está em jogo no Fórum Social Mundial 2011”; 25.01.2011; disponível: http://www.forumsocialmundial.org.br/noticias_01.php?cd_news=2996&cd_language=1.)

Também leio na imprensa que um desses líderes latino-americanos presentes ao FSM de Dacar foi enfático em condenar a exploração e a dominação dos malvados de sempre, exaltando a liberação dos povos pela mão de dirigentes anti-imperialistas como ele: “Assim como a África foi colonizada e submetida, a América Latina também foi invadida pela Europa, que para ali foi aniquilar povos indígenas.” O caminho para a liberdade, porém, passa pela correta identificação dos adversários: “Sabemos bem quem são os inimigos do povo: o capitalismo, o neoliberalismo, o neocolonialismo, que possuem instrumentos para seguir impondo políticas e saqueando as riquezas da população.” Basta isso: já sabemos o resto.

O mais curioso, nesse tipo de catarse “social”, é que esses líderes condenam a exploração dos países ricos e poderosos, mas querem liberdade de emigração, ou seja, fronteiras livres para que seus “povos explorados” possam ter acesso aos mercados de trabalho das potências exploradoras. Não seriam eles cúmplices daqueles europeus que foram saquear as riquezas dos “povos originários”, querendo agora que esses mesmos povos sejam explorados desta vez no centro mesmo do sistema explorador?
É isso, pelo menos, que deduzo de algumas palavras de ordem do documento de base, que pede um “mundo diferente da globalização dominante”. Para isso, os antiglobalizadores pretendem colocar a questão dos “direitos dos migrantes e da migração que questione o papel das fronteiras, bem como a organização do mundo.” Mas se é para escapar da globalização assimétrica, como é que eles pretendem agora oferecer seus povos no altar da globalização, como vítimas expiatórias de um “novo mundo possível”? Vai entender...

E como é que os antiglobalizadores pretendem construir esse “outro mundo possível”? Segundo eles, mobilizando as forças de “movimentos de campesinos, sindicatos, grupos feministas, de juventude, habitantes locais, grupos de imigrantes reprimidos, grupos indígenas e culturais, comitês contra a pobreza e contra a dívida, a economia informal e a economia solidária, etc.” Enfim, majoritariamente os lumpen, e bem menos os trabalhadores da economia formal, que costumavam ser os “coveiros do capitalismo” naquela versão antiga das velhas teses alternativas à economia de mercado. Para piqueniques culturalmente diversos está muito bem, mas para construir uma alternativa real e credível a essa globalização assimétrica que está aí, deve-se reconhecer que essa tribo é bem menos homogênea do que os capitalistas de Davos. Vai ser difícil um entendimento sobre uma plataforma comum, e abrangente, de mudanças sociais e políticas que conduzam a esse “outro mundo possível”, se é verdade que os antiglobalizadores sabem onde querem chegar (o que eu duvido).

Na sua linguagem sempre enrolada, típica de acadêmicos que vivem sua labuta constante na embromação cotidiana de alunos passivos, os antiglobalizadores reconhecem que a luta não é fácil: “O processo do FSM pôs em cena as bases para essa nova cultura política (horizontalidade, diversidade, convergência das redes de cidadãos e dos movimentos sociais, atividades autogestionadas, etc.) mas ainda deve inovar mais em muitas dificuldades relativas à política e ao poder, para conseguir superar a cultura política caduca, que para a imensa maioria persevera dominante.” Pois é, o mundo é mesmo pouco complacente com suas ideias vazias (se que eles têm alguma). Os capitalistas de Davos, pelo menos, costumam expressar seus objetivos apontando para resultados mais tangíveis: tanto de crescimento (descontada a inflação), lucros aumentados em x%, investimentos em y%, empregos criados em tal ou qual país, novos centros de pesquisa e desenvolvimento, z% do faturamento global aplicado em inovação, dividendos em alta, abertura de capital, etc.

Se os antiglobalizadores tivessem algum tipo de benchmark, e fossem avaliados por uma dessas consultorias globais em organização e métodos, eles provavelmente seriam reprovados. Só não fecham a “barraca” porque conseguem operar a custos mínimos, graças, entre outras benesses do capitalismo, ao free lunch da globalização: e-mail e blogs gratuitos (thanks Google), telefonia de graça por VOIP, patrocínio de empresas estatais e de governos “iluminados”, milhas acumuladas e passagens e diárias dadas pelas entidades de fomento à pesquisa pública, enfim, um sem número de benefícios do sistema que eles conspurcam de forma totalmente ingrata e incompreensível.

Capitalistas e antiglobalizadores: defasados e esquizofrênicos

Ao fim e ao cabo, tanto os capitalistas de Davos, quanto os antiglobalizadores do FSM (que são, em grande medida, anticapitalistas, com exceção dos jovens, que não são nada; são apenas a favor de um “mundo melhor”) estão de certa forma em descompasso com as realidades do mundo e aparentemente sem propostas sobre como empreender a construção desse “outro mundo possível” a que ambos os grupos aspiram (ao que parece). Os primeiros porque deixaram de ser apenas capitalistas para se apresentarem em “reformadores sociais”, quando esta não é a sua tarefa e a sua “missão histórica” (como diria Marx). Os segundos porque não têm mesmo nenhuma proposta viável a apresentar para a “reconstrução” do mundo, e se contentam em repetir slogans vazios e dar voltas em torno de suas teses requentadas sobre a globalização não-assimétrica e a economia solidária.

A rigor, ambas as tribos já fazem parte da paisagem da globalização, com seus rituais consagrados e seus estilos respectivos de promover encontros, convescotes requintados no primeiro caso, piqueniques rústicos no segundo. Não se espera que ofereçam, por isso mesmo, soluções inovadoras aos problemas do mundo atual. Os capitalistas porque parecem estar perdendo seus “espíritos animais” e domando aquela ganância por lucros em favor de “ações socialmente responsáveis” – que são um travestimento das únicas atividades que deveriam empreender vigorosamente, que são: inovar, vender e ganhar dinheiro – e os antiglobalizadores porque não dispõem, de nenhum modo, de estatura intelectual para apresentar propostas concretas a problemas concretos: eles ficam no seu mundo de palavras vazias, de discursos erráticos, de soluções utópicas, sem qualquer aplicabilidade ao mundo real.

O mundo vai ter de esperar mais um pouco: talvez um recesso da onda de “politicamente correto” de um lado e um cansaço dos slogans repetitivos de outro. Quando isso vai ocorrer, eu não sei; só sei que os espetáculos anuais de Davos e dos encontros do FSM começam a ser aborrecidamente recorrentes, como esses produtos pasteurizados que já saíram do gosto popular. Um outro Davos é possível, um outro FSM é possível: ninguém tem nada a perder inovando em cada uma das frentes, só tem um mundo novo a ganhar.

Paulo Roberto de Almeida é professor de Economia Política Internacional e autor de: Globalizando: ensaios sobre a globalização e a antiglobalização (Rio de Janeiro: Lumen Juris Editora, 2010)

Supersalarios de juizes: quer saber onde vai parar o seu dinheiro, caro contribuinte?

Você, como eu, devemos nos perguntar onde vai parar todo o dinheiro que o governo arrecada em impostos.
Não precisa mais perguntar, pelo menos por enquanto.
Nem preciso comentar, acho...
Paulo Roberto de Almeida

STJ ignora teto e paga supersalário a seus ministros
FILIPE COUTINHO
Folha de S.Paulo, Domingo, 27/02/2011

Dos 30 ministros que compõem a corte, 16 receberam mais do que a lei permite
Tribunal gastou quase R$ 9 milhões em 2010 com o pagamento de salários superiores ao teto de R$ 26.700

DE BRASÍLIA - O STJ (Superior Tribunal de Justiça) usou brecha para driblar o teto salarial de R$ 26.700 imposto pela Constituição e pagou no ano passado em média R$ 31 mil aos ministros que compõem a corte-quase R$ 5.000 acima do limite previsto pela lei.
O tribunal gastou no ano passado R$ 8,9 milhões com esses supersalários. Um único ministro chegou a receber R$ 93 mil em apenas um mês.
Uma planilha com as despesas de pessoal do STJ mostra que, na ponta do lápis, o valor depositado na conta da maioria dos ministros supera o teto constitucional.
Dos 30 ministros, 16 receberam acima do limite em todos os meses de 2010.
No total, o STJ pagou mais de 200 supersalários -em apenas 26 casos houve devolução de parte do que foi depositado pelo tribunal.
O salário final dos ministros é aumentado, na maioria dos casos, graças ao abono de permanência -benefício pago a servidores que optam por continuar em atividade mesmo tendo contribuído o suficiente para se aposentar.
Esses valores variaram entre R$ 2.700 e R$ 5.500, e foram depositados em 2010 nas contas de 21 ministros.
"Por que um servidor que ganha R$ 10 mil pode receber e quem está perto do teto não? A lei não vale para todos?", questiona o presidente do STJ, Ari Pargendler.

"VANTAGEM PESSOAL"
A Constituição afirma que esse pagamento -rubricado como "vantagem pessoal"- deve estar incluído na conta do teto constitucional.
O pagamento de R$ 93 mil foi feito em agosto, para um ministro que recebeu auxílio de R$ 76 mil para se mudar para Brasília com a mulher e os filhos. O tribunal não divulga o nome dos ministros na folha salarial.
Os supersalários pagos no STJ não se repetem em órgãos similares.
Nenhum ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ou do TST (Tribunal Superior do Trabalho) recebeu pagamento acima do teto -com exceção dos meses em que saíram de férias e receberam 13º salário.
O STM (Superior Tribunal Militar) afirma que também paga só até o limite.

RESOLUÇÃO
O CNJ (Conselho Nacional de Justiça) editou, em 2006, resolução sobre os salários dos magistrados.
De acordo com o texto do CNJ, o "subsídio constitui-se exclusivamente de parcela única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, verba de representação ou outra espécie remuneratória".
Como a Folha apurou com integrantes da Corregedoria Nacional de Justiça, órgão do CNJ responsável por investigar irregularidades no Judiciário, o entendimento da Constituição deveria prevalecer e o pagamento de qualquer benefício não poderia levar os rendimentos totais a ultrapassar o teto.
Um dos conselheiros do CNJ disse que os pagamentos devem ser estudados caso a caso. Uma das ideias discutidas no órgão para a questão, diz ele, é pedir uma lista com os depósitos acima de R$ 26.700 e as justificativas para serem analisadas.
O CNJ, oficialmente, disse que não pode se pronunciar porque há várias ações no STF (Supremo Tribunal Federal) que tratam do teto e a questão está "sub judice" até o Supremo definir quais as "vantagens pessoais" citadas pela Constituição.
O ministro do STF Marco Aurélio Mello critica o uso de brechas que fazem os salários superarem o teto.
"Quando se abre exceções há sempre o risco de generalizar e dar o famoso jeitinho. O teto é furado a partir de jogo sutil de palavras, mas a Constituição é categórica: o teto é efetivo e deve valer", afirmou o ministro.
O Conselho Nacional de Justiça manda os tribunais federais publicarem seus gastos na internet desde dezembro de 2009.
O STM mantém os gastos sob sigilo. O Supremo, que não é subordinado ao CNJ, não publica as despesas.

O botox do ditador (bolivariano): tirano narciso...

Não havia pensado nisso, mas o tirano de Tripoli realmente deve usar botox. Já repararam se Chávez seguiu pelo mesmo caminho?
Ele está, pelo menos, mais gordinho, mas isso eu atribuo ao colete para-balas embaixo da camiseta vermelha, bolivariana...
Paulo Roberto de Almeida

Columnistas
El botox y la democracia
Alfonso Oramas Gross
El Universal (Guaiaquil, Equador), sábado 26 de febrero del 2011

Fidel Castro rinde homenaje a su liderazgo histórico, Daniel Ortega lo denomina “su hermano en la Jamahiriya, en el Alba y el Poder de los Pueblos”, Hugo Chávez lo proclama “soldado revolucionario, líder del pueblo libio, líder de los pueblos de África y líder también para los pueblos de América Latina”, agregando que lo que es Bolívar para nosotros, lo es él para el pueblo libio. Así es. Muamar Gadafi, el hermano en el Poder de los Pueblos, el Bolívar de los pueblos árabes, es todo eso pero también y sobre todo, un tirano megalómano y asesino que trata de reprimir a punta de fuego y bombardeos, con mercenarios y sin merced y –por lo que se sabe– sin mucho éxito, la rebelión de su pueblo.

A estas alturas, la rebelión libia no tiene punto de retorno, más allá de que el dictador se haya dirigido ayer a sus simpatizantes diciendo “salid a las calles, divertiros, Muamar Gadafi es uno de los vuestros”; supongo que en tan estrafalaria mente, la diversión consista en dar bala a sus adversarios, mientras que a lo lejos Chávez lo sigue respaldando en su cuenta Twitter, proclamando ¡Viva la Independencia de Libia! Se necesita ser o demasiado cínico o demasiado cretino para no percibir el repudio de un pueblo hacia un tirano, que pensó que nunca le llegaría la hora. De paso y para que nos sirva de lección, la absoluta censura que impone el gobierno libio a través del control de los medios de comunicación impone una verdad mutilada, pese a lo cual Gadafi perderá su última batalla.

Por cierto, no hay revolución en el mundo árabe que ponga más sensible a unos cuantos líderes latinoamericanos que la rebelión libia, pero no por las exaltaciones ridículas realizadas en términos eufóricos por los gobernantes citados, sino porque en realidad el proyecto político de Gadafi, su presencia como líder supremo y su permanencia por décadas en el poder, forman parte del modelo e inspiración de cierta melosa izquierda latinoamericana y, si tienen alguna duda, sería interesante que revisen el Libro verde escrito por Gadafi con sus proclamas revolucionarias y su rechazo a la democracia liberal moderna, sustituyéndola por una democracia directa participativa (se acuerdan de la tesis que aquí se sugirió de que la democracia representativa ya no servía), la llamada “Jamahiriya” o gobierno de las masas que supuestamente permitiría que el pueblo, siempre el pueblo, finalmente dirija su destino a través de consejos populares que, finalmente, nunca lograron maquillar el control absoluto que Gadafi ha ejercido sobre las instituciones de su país.

No debería sorprender que el presidente venezolano haya caído en la aberración de comparar a Gadafi con Bolívar, imagínense ustedes, Bolívar con Gadafi, pero en el fondo, esa comparación es lo de menos, lo que realmente debemos tomar en cuenta es que para justificar proyectos totalitarios, desde hace algún tiempo se viene vendiendo a nuestros pueblos la tesis que formas despóticas de gobierno, como la libia, son simplemente vías distintas que tienen los pueblos de vivir la democracia, que nuestra limitada y cerrada mentalidad no alcanza a entender y respetar. Bajo ese análisis, la democracia debería aprender del camaleón o, lo que es peor, acostumbrarse tal como lo hace Gadafi, a inyectarse botox.

Brasil: a caminho de novo desastre economico, no medio prazo

Reflexões ao léu: o Brasil a caminho de novo desastre econômico
Paulo Roberto de Almeida

Calma, não estou anunciando mais uma dessas crises de balanço de pagamentos ou de hiperinflação, como já tivemos várias vezes no passado, ou seja, no último meio século.
Desde os anos 1960, o Brasil conheceu seis moedas (acho que não estou errando as contas) e quase todas as vezes eliminou três zeros da moeda que se enterrava, o que deve dar pelo menos quinze zeros eliminados, ou seja, tivemos uma inflação de milhões por cento, cumulativamente (parcialmente neutralizada pelos mecanismos de indexação monetária e cambial).

Mas, observando o cenário de empreendimentos públicos esquizofrênicos patrocinados pelo próprio Estado – entre eles, Copa de 2014, Olímpiadas em 2016, trem-bala, dinheiro para o BNDES, para a Petrobras, para qualquer empresário que consegue o dinheiro barato do BNDES, tudo isso financiado pelo Tesouro, ou seja, por todos nós – só posso prever um aumento extraordinário da dívida pública, em todos os níveis, nos próximos anos.

Nos anos 1995-1998, foi um enorme sacrifício para as autoridades da Fazenda colocar em ordem e depois renegociar a imensa dívida pública dos estados e municípios, e colocar um termo às emissões clandestinas e irresponsáveis de moeda pelos bancos estaduais, refazendo todo o imenso cipoal de finanças públicas surrealistas que tinha sido criado ao longo dos anos de caos econômico vivido pelo Brasil no período anterior ao Plano Real. Como consequência disso, a União assumiu toda as dívidas das unidades subfederadas, trocando os títulos das dívidas estaduais e municipais por novos títulos da dívida federal, com prazo de 30 anos e juros razoáveis, em lugar dos juros de banqueiros que antes eram pagos por dirigentes irresponsáveis.
Como consequência, a dívida interna, que até então se situava em torno de 30% do PIB saltou para mais de 50%, sob as acusações irresponsáveis de líderes da oposição que acusavam o governo de ser “neoliberal”. Como? Como ser neoliberal estatizando dívidas públicas? Neoliberais simplesmente deixariam estados, municípios e bancos públicos quebrar simplesmente, com o que a conta seria paga pelos que emprestaram dinheiro a esses irresponsáveis. O governo foi até estatizante demais sob esse aspecto. E ainda acusam o governo de ter aumentado a dívida pública, a despeito de ter promovido um dos mais gigantescos programas de privatização já vistos na história do capitalismo mundial. Imaginem onde estaria a dívida pública total brasileira na ausência de privatizações!

Pois bem: atualmente, este governo irresponsável – a despeito de não ter acabado com a Lei de Responsabilidade Fiscal, e de não ter, ainda, permitido nova farra de gastos e endividamentos pelos estados e municípios, mesmo abrindo brechas aqui e ali – conduz, alegremente, nova fase de irresponsabilidade fiscal, autorizando grandes obras e grandes gastos, sempre com garantia do governo, ou seja, com dinheiro do Tesouro. Já passam de 200 bilhões de reais, provavelmente, o dinheiro que o Tesouro repassou ao BNDES, dinheiro que vai para a Petrobras – que podia tranquilamente capitalizar-se no mercado internacional – e para grandes grupos brasileiros, que também poderiam abastecer-se de outro modo.
Estados e municípios apressam-se para aproveitar o maná da Copa e das Olimpíadas para fazer passar goela abaixo dos fiscais do TCU e do Ministério Público projetos megalomaníacos supostamente necessários para cumprir essas obrigações com a FIFA e o COI – e de fato o são – aproveitando-se, obviamente, da “urgência” e da “relevante função social”. No mesmo movimento – aliás atrasadíssimo tendo em conta os calendários apertados para fazer isso – eles vão aproveitar para pedir dispensa da lei de licitações assim como vão abrir a porta para todo tipo de abuso que administradores públicos conseguem cometer com a “ajuda” de empresas sempre dispostas a “apressar as obras” em troca de menos controles: vai ser um festival de superfaturamento e de desvio de dinheiro público, como todos podem imaginar.
Aí que entra o meu título: a dívida pública de todos esses entes vai aumentar, além das possibilidades reais, e como todos sabemos, o fim é aquele mesmo dos filmes que já vimos: crise fiscal e crise econômica. Só existem três maneiras de os governos fazerem mais do que podem: inflação, dívida pública, calote. Em todas as três, alguém vai pagar a conta: vocês, contribuintes, ou os seus filhos, vão pagar essa fatura que começa a ser construída agora (de fato já está sendo desde 2003). Não se iludam: o Brasil vai continuar a sua trajetória de baixo crescimento, finanças públicas desarranjadas e irresponsabilidade fiscal. Temos um encontro marcado com a crise, no futuro de médio prazo. Aguardem (ou façam algo desde já).

Brasília, 27 de fevereiro de 2010

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Um democrata de volta ao Egito: Saad Eddin Ibrahim

THE WEEKEND INTERVIEW
A Democrat's Triumphal Return to Cairo
By BARI WEISS
The Wall Street Journal, February 26, 2011, page A13

Saad Eddin Ibrahim, the former prisoner of the Mubarak regime, on the Muslim Brotherhood and Egypt's political future.

For 18 days, the people of Cairo massed in Tahrir Square to bring down their pharaoh. Many carried signs: "Mubarak: shift + delete," "Forgive me God, for I was scared and kept quiet," or simply "Go Away." Barbara Ibrahim, a veteran professor at the American University in Cairo, wore large photographs of her husband—Egypt's most famous democratic dissident—as a makeshift sandwich board.

Her husband, Saad Eddin Ibrahim, couldn't be there. After being imprisoned and tortured by the Mubarak regime from 2000 to 2003, he went into a sort of exile, living and teaching abroad. But the day Hosni Mubarak gave up power, Feb. 11, Mr. Ibrahim hopped a plane from JFK International. Landing in his native Cairo, he went directly to the square.

"It was just like, how do you say, the day of judgment," Mr. Ibrahim says. "The way the day of judgment is described in our scripture, in the Quran, is where you have all of humanity in one place. And nobody recognizes anybody else, just faces, faces."

And what faces they were: bearded, shorn, framed by hijabs, young, old—and at one point even a bride and groom. "The spirit in the square was just unbelievable," says Mr. Ibrahim, whose children and grandchildren were among the masses. "These people, these young people, are so empowered. They will never be cowed again by any ruler—at least for a generation."

For the 72-year-old sociologist, the revolution against Hosni Mubarak has been many years in the making. His struggle began 10 years ago with a word: jumlukiya. A combination of the Arabic words for republic (jumhuriya) and monarchy (malikiya), the term was coined by Mr. Ibrahim to characterize the family dynasties of the Mubaraks of Egypt and the Assads of Syria.

He first described jumlukiya on television during the June 2000 funeral of Syrian dictator Hafez al-Assad. Then he wrote about it in a magazine article that "challenged all the autocrats of the region to open up and have a competitive election."

The magazine appeared on the morning of June 30, 2000. But it vanished from Egyptian newsstands by midday. By midnight, Mr. Ibrahim was arrested at his home. "Then began my confrontation with the Mubarak regime—the trials, and three year imprisonment, and the defamation, all of that. That was the beginning."

Not a month before, he had written a speech about women's rights for Mr. Mubarak's wife Suzanne—Mr. Ibrahim had been her thesis adviser in the 1970s at the American University in Cairo, when her husband was vice president to Anwar Sadat. None of it mattered. In the end, some 30 people connected to Mr. Ibrahim's Ibn Khaldun Center—the Muslim world's leading think tank for the study of democracy and civil society—were rounded up.

Most were ultimately released. But Mr. Ibrahim was tried in a cage within a courtroom, sentenced for "defaming" Egypt (criticizing Mr. Mubarak) and "embezzlement" (for accepting a grant to conduct election monitoring through his center). His stints in prison—always in solitary confinement and, for a period, enduring sleep deprivation and water torture—left him with a serious limp. The former runner now relies on a cane.

Yet he believes that his case helped create the atmosphere for this year's uprising. "It started as a series of challenges with individuals. With me, with [liberal opposition leader] Ayman Nour . . . What you saw is the accumulation of all these incremental steps that have taken place in the past 10 years," he says.

"But to give credit where it is due," Mr. Ibrahim adds, "the younger generation was more innovative and far more clever than we were by using the technology at their disposal. These guys discovered the tools that could not be combated by the government." He notes that many of them, like Wael Ghonim from Google, operated from outside of Egypt. "That's something new."

With elections set for September, the most urgent question facing Egypt is how to structure the democratic process—and how dominant the Islamist Muslim Brotherhood may become. In a 2005 election, the Brotherhood won 20% of the seats in parliament. According to the Ibn Khaldun Center's research, the group could earn about 30% in an upcoming vote.

Mr. Ibrahim thinks that holding elections six months from now is "not wise." If he had his druthers, it would be put off for several years to allow alternative groups to mature. Still, he insists that the Brothers—some of whom he knows well from prison, including senior leader Essam el-Erian—are changing.

"They did not start this movement, nor were they the principal actors, nor were they the majority," he says. When they showed up in Tahrir Square on the fourth day of the protests, most were members of the group's young guard. Mr. Ibrahim points out that they didn't use any Islamist slogans. "Their famous slogan is 'Islam is the solution.' They use that usually in elections and marches. But they did not." This time, they chose "Religion is for God, country is for all." That slogan dates to 1919 and Egypt's secular nationalist movement.

What's more, some Brothers carried signs depicting the crescent and the cross together. "One of the great scenes was of young Copts [Christians], boys and girls, bringing water for the Muslim brothers to do their ablution, and also making a big circle—a temporary worship space—for them. And then come Sunday, the Muslims reciprocated by allowing space for the Copts to have their service. That of course was very moving. "

Maybe so. But this week Muslim Brotherhood member Mohsen Radi declared that the group finds it "unsuitable" for a Copt or a woman to hold a high post like the presidency. Then there's the Brotherhood's motto: "'Allah is our objective; the Prophet is our leader; the Quran is our law; Jihad is our way; dying in the way of Allah is our highest hope." Looking around Egypt's neighborhood, it's not hard to guess what life would be like for Coptic Christians, let alone women, under a state guided by Quranic Shariah law.

"That's still their creed and their motto," Mr. Ibrahim says. "What they have done is to lower that profile. Not to give it up, but to lower it." He adds that the Brothers have promised not to run a candidate for the presidency for the next two election cycles.

To skeptics like me, such gestures seem like opportunism—superficial ploys aimed at winning votes, not a genuine transformation. I press Mr. Ibrahim and he insists that the younger guard is evolving, and that they are "fairly tolerant and enlightened." Enlightened seems a stretch, but nevertheless, what other option is there? Banning the Brotherhood, as the Mubarak regime did, is a nonstarter.

If Mr. Ibrahim is a fundamentalist about anything, it's democracy. And his hope is that participating in the democratic process will liberalize the Muslim Brothers over the long term. They "have survived for 80 years, and one mechanism for survival is adaptation," he says. "If the pressure continues, by women and by the middle class, they will continue to evolve. Far from taking their word, we should keep demanding that they prove that they really are pluralistic, that they are not going to turn against democracy, that they are not going to make it one man, one vote, one time."

He compares the Brothers to the Christian Democrats in Western Europe after World War II. "They started with more Christianity than democracy 100 years ago. Now they are more democracy than Christianity." True, but the Christian Democrats never embraced violent radicalism in the way the Muslim Brotherhood has.

Turkey's Justice and Development Party (AKP)—formerly the Virtue Party—is a more recent model. "The Muslim Brothers seem to be moving in the same direction," he says.

That would probably be a best case, but it too is problematic. The AKP—and, by extension, contemporary Turkey—is democratic but hardly liberal. Over the past decade, it has dramatically limited press freedom, stoked anti-Semitism, supported Hamas, and defended murderous figures like Sudan's Omar al-Bashir.

Still, the Turkish scenario is far better than the Iranian one—the hijacking of Egypt's revolution by radical clerics like Yusuf al-Qaradawi, who returned from Qatar to Cairo last week. For his part, Mr. Ibrahim doesn't think that Mr. Qaradawi—a rock-star televangelist with an Al Jazeera viewership of some 60 million—is positioned to dominate the new Egypt as Ayatollah Khomeini dominated post-1979 Iran.

Mr. Qaradawi had messages of Muslim-Christian unity for the hundreds of thousands who heard him preach in the square. But about Jews, he has said that Hitler "managed to put them in their place. This was divine punishment for them. Allah willing, the next time will be at the hands of the believers [Muslims]."

When I asked Mr. Ibrahim about the scourge of anti-Semitism in the Middle East generally, he's dismissive. "Have you seen any pogroms in Morocco or Tunisia or Egypt?" he asks rhetorically. As I point out, though, the Arab Middle East has had a negligible Jewish population since 1948, when roughly 800,000 Jews were expelled. It's hard to carry out a pogrom when Jews aren't around.

So what if the Brothers prove increasingly radical, not moderate? "I would struggle against them. . . . As a democrat and as a human rights activist I would fight, just as I fought Mubarak, like I fought Nasser. All my life I've been fighting people who do not abide by human rights and basic freedoms."

Might he run for political office when his professorship at New Jersey's Drew University ends in May? "I'm 72 years old. And I'd really like to see a younger generation." But, he adds, "in politics you never say no."

"I am more interested in having the kind of presidential campaign similar to what you have here or in Western Europe. . . . That's part of creating or socializing our people into pluralism—to see it at work, to have debates, to have a free media," he says.

One political role he's already playing is as an informal adviser to Obama administration officials, his friends Michael McFaul and Samantha Power, scholars who serve on the National Security Council staff. But he doesn't mince words about Mr. Obama's record so far. The president "wasted two and a half years" cozying up to dictators and abandoning dissidents, he says. "Partly to distance himself from Bush, democracy promotion became a kind of bad phrase for him." He also made the Israeli-Palestinian conflict his top priority, at the expense of pushing for freedom. "By putting the democracy file on hold, on the back burner, he did not accomplish peace nor did he serve democracy," says Mr. Ibrahim.

'Dislikable as [President Bush] may have been to many liberals, including my own wife, we have to give him credit," says Mr. Ibrahim. "He started a process of some conditionality with American aid and American foreign policy which opened some doors and ultimately was one of the building blocks for what's happening now." That conditionality extended to Mr. Ibrahim: In 2002, the Bush administration successfully threatened to withhold $130 million in aid from Egypt if Mr. Mubarak didn't release him.

So what should the White House do? "Publicly endorse every democratic movement in the Middle East and offer help," he says. The least the administration can do is withhold "aid and trade and diplomatic endorsement. Because now the people can do the job. America doesn't have to send armies and navies to change the regimes. Let the people do their change."

Ms. Weiss is an assistant editorial features editor at the Journal.

Libia: operacao do MRE de evacuacao de cidadaos brasileiros

Abaixo transcrevo informação do MRE sobre as operações de evacuação de cidadãos brasileiros da Líbia; uma nota concisa, objetiva, sem concessões à demagogia ou fazendo propaganda indevida de suas virtudes. Assim como deve ser, em todas as circunstâncias.
Uma simples homenagem a registrar a todos os que trabalharam no empreendimento.
Paulo Roberto de Almeida

Operação de evacuação de cidadãos brasileiros da Líbia
Ministério das Relações Exteriores
Nota à Imprensa nº 78, 25 de fevereiro de 2011

Como resultado de esforço conjunto do Itamaraty com suas embaixadas e empresas nacionais que operam na Líbia, foi possível iniciar, no dia 24 de fevereiro, operação em grande escala de retirada dos nacionais brasileiros daquele país.

No dia 24, decolaram do aeroporto de Trípoli dois aviões jumbo, transportando todo o pessoal brasileiro da empresa Odebrecht, em meio a cerca de 900 funcionários da empresa. O grupo já se encontra em Malta, onde o Itamaraty montou equipe de apoio emergencial para acolhê-los. Haverá um terceiro vôo nas próximas horas que levará para Malta funcionários de nacionalidade estrangeira da mesma empresa. De Trípoli, já partiram em diferentes vôos todos os funcionários da Petrobras e da Andrade Gutierrez. Diplomatas brasileiros vêm acompanhando os embarques no aeroporto, tendo em vista o clima de grande tensão em que vêm ocorrendo.

Funcionários da Odebrecht de outras nacionalidades, bem como alguns brasileiros dispersos que se encontravam em Trípoli deverão embarcar em navio fretado, em direção a Malta, tão logo as condições climáticas o permitam. Todos os brasileiros identificados têm sido orientados a contactar a Embaixada em Trípoli, que vem logrando incluir nos navios fretados em direção a Malta todos aqueles que manifestam desejo em sair do país. Alguns brasileiros com dupla nacionalidade não manifestaram, contudo, interesse em partir neste momento, muitos dos quais com famílias de nacionalidade líbia.

A operação de resgate de nacionais brasileiros por via aérea e marítima exigiu numerosas gestões das Embaixadas em Trípoli, Atenas e Roma. À primeira, coube obter autorização das autoridades líbias para sobrevôo e pouso de aviões fretados, buscando dar prioridade a essa operação em meio a dezenas de solicitações de igual teor de outros países. Logrou ainda, mediante gestões com funcionários aeroportuários líbios, solucionar uma infinidade de problemas de documentação que poderiam ter dificultado ou impedido a evacuação - tarefa essencial, embora pouco visível, do processo de evacuação. A Embaixada em Atenas logrou que zarpasse navio em direção a Bengazi, em meio a greve geral no país que paralizara também as operações marítimas, tendo êxito nas gestões feitas junto às autoridades gregas ao enfatizar os motivos humanitários. À Embaixada em Roma, coube solicitar ao Governo de Malta facilidades migratórias que permitissem o desembarque ordenado e ágil de centenas de brasileiros e nacionais, por via aérea e marítima.

O grupo de 148 brasileiros em Bengazi, funcionários da empresa Queiroz Galvão, foi embarcado hoje, 25/02, juntamente com funcionários da empresa de outras nacionalidades (48 portugueses, 13 espanhóis e 1 tunisiano). O navio deverá permanecer aportado até a manhã do dia 26, à espera de condições climáticas que permitam sua partida em direção ao Porto de Pireu, na Grécia. Lá, serão recebidos por equipe de apoio da Embaixada em Atenas, que providenciará documentação e embarque imediato em vôo fretado para o Brasil. A opção de resgate por via aérea, com aviões da FAB ou fretados, mostrou-se inviável, em virtude da total inoperabilidade do aeroporto em Benghazi.

Percebe-se grande solidariedade entre os governos que possuem nacionais na Líbia, com diversos oferecimentos, de parte a parte, de acomodação de estrangeiros nas respectivas operações de evacuação. O Brasil, por exemplo, vem auxiliando no embarque de nacionais de Portugal, Espanha, Tunísia, Ucrânia, Chile, Vietnã, Tailândia e outros países. De sua parte, recebeu ofertas da Turquia e de outros governos. Neste momento, o Brasil é o único país a ter evacuado todos os próprios nacionais que assim o desejavam, incluindo-se neste grupo aqueles que já se encontram embarcados em navio à espera de condições para zarpar.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O cinismo da semana (vindo de quem vem...)

"It is unimaginable that someone is killing his citizens, bombarding his citizens," Ahmadinejad said in an interview broadcast on state television. "How can officers be ordered to use bullets from machine guns, tanks and guns against their own citizens?"
"This is unacceptable. Let the people speak, be free, decide to express their will," he added. "Do not resist the will of the people."

Mahmoud Ahmadinejad

Pois é: eu fico imaginando quem pode ser assim tão bárbaro para reprimir selvagemente o seu próprio povo, que pretende se manifestar de maneira pacífica...
Paulo Roberto de Almeida

Cochilo diplomatico (mas cercado de obras de arte...)

Sumiço em Paris
Obras de arte desaparecem de embaixada do Brasil na França, diz jornal
O Globo, 25/02/2011 às 13h24m

RIO - Pelo menos 18 obras de arte doadas por autoridades e artistas sumiram da Embaixada do Brasil em Paris. De acordo com reportagem publicada nesta sexta-feira pelo jornal "Correio Braziliense" , o assunto vem sendo tratado de forma sigilosa pelo Ministério das Relações Exteriores, que abriu uma sindicância para apurar o caso. O objetivos desaparecidos são quadros, gravuras e tapetes, mas nenhum servidor da embaixada sabe explicar como as obras de arte sumiram do local.

A reportagem teve acesso aos documentos internos e restritos do Itamaraty que tratam do desaparecimento dos objetos. São telegramas trocados por meio do sistema de comunicação especial usado pela diplomacia em todo o mundo, para tratar assuntos mais delicados entre o ministério e seus postos no exterior. Foi desta forma que o embaixador do Brasil na França, José Maurício Bustani, comunicou à Coordenação de Patrimônio do Itamaraty, em 29 de outubro de 2010, o desaparecimento das 18 peças.

Quando assumiu o cargo de embaixador na França, em fevereiro de 2008, Bustani designou um funcionário para fazer o inventário de todas as obras de arte e móveis da embaixada e da residência oficial do Brasil na França. A medida não é praxe no meio diplomático, já que, por cortesia, não se costuma conferir o inventário deixado pelo antecessor. No momento em que foi feita a conferência, as obras de arte não foram encontradas.

"Tais bens não puderam ser localizados após intensos e exaustivos trabalhos de procura e de identificação realizados dentro das dependências da Chancelaria e da Residência", disse Bustani no telegrama enviado a Brasília na época.
Confira a seguir as obras que são procuradas:

- Tapete Boukara, Royal Russo, feito à mão (3,50m x 2,28m)
- Tapete Mesched, com borda em rosa, fundo azul (2,30m x 1,60m)
- Quadro de Marilu do Prado Wang, intitulado Enchaté (0,97m x 0,78m)
- Quadro de Gilda Basbaum, obra Volume I (0,90m x 0,90m)
- Quadro de Orlando de Magalhães Mollica, intitulado Mulher espichada (1,80m x 0,70m)
- Quadro de Orlando de Magalhães Mollica, intitulado Homem espichado (1,80m x 0,70m)
- Quadro de Chico Liberato, intitulado A vida é da cor que pintamos (1m x 1m)
- Quadro de Waltrand, intitulado Rodinha (0,40m x 0,50m)
- Quadro de Gervásio Teixeira (0,25m x 0,25m)
- Montagem de João Franck da Costa, intitulada Peixe (1,25m x 0,68m)
- Litografia antiga, com moldura em madeira dourada, intitulada Quinta da Boa Vista (0,68m x 0,63m)
- Gravura Ana Letícia, de 1967 (0,77m x 0,59m)
- Gravura representando mapa antigo, com moldura em madeira dourada e vidro (0,71m x 0,55m)
- Fotografia do Rio de Janeiro (0,60m x 0,45m)
- Fotografia do Rio de Janeiro (0,70m x 0,55m)

Há outros três itens não descritos nos telegramas aos quais o Correio teve acesso.

A piada da semana (pensando bem, faz todo sentido...)

Não precisa nem comentar. É o tipo da piada pronta, como diria um outro "humorista" (aliás, dos mais vulgares e sem graça...):

Tiririca vai integrar Comissão de Educação e Cultura da Câmara
O próprio deputado pediu para entrar na comissão por ela tratar da área em que atua, a cultura.

As comissões do Congresso constituem, por falar nisso, as piadas mais sem graça pagas com o nosso dinheiro...

Turismo Parlamentar

Falta de representantes brasileños posterga reinicio de trabajos en Parlasur

Por falta de renovación de la representación brasileña, la reanudación de los trabajos del Parlamento del Mercosur (Parlasur) necesitará ser postergada. El paraguayo Ignacio Mendoza Unzain, actual presidente del Parlamento, envió un oficio convocando a todos los miembros del Parlasur para una sesión que se celebrará el lunes (28), en Montevideo. Sin embargo, la sesión deberá ser suspendida, ya que los mandatos de los miembros de la delegación brasileña han terminado el 31 de diciembre de 2010, según la Resolución Nº 1/07, del Congreso Nacional.

De acuerdo con el artículo 117 del Reglamento Interno del Parlasur, las sesiones del parlamento y las reuniones de sus comisiones sólo podrán comenzar con la presencia de al menos un tercio de sus miembros, “en la que estén representados todos los Estados Parte”. Es decir, las sesiones sólo podrán ser abiertas con la presencia de parlamentarios de los cuatro países del bloque –Argentina, Brasil, Paraguay y Uruguay.

Los nuevos miembros de la Representación Brasileña en el Parlasur serán nombrados sólo después de la aprobación de una nueva resolución por el Congreso. Esta resolución deberá determinar que los mandatos de los nuevos miembros duren hasta la celebración de elecciones directas para el Parlamento. Y se aumentará de 18 para 37 el número de miembros de la representación, tal como se ha establecido en el acuerdo político firmado el año pasado. Según el mismo acuerdo, Argentina tendrá 26 representantes a partir de este año, mientras que Paraguay y Uruguay mantendrán a sus 18 representantes por país.

–Tenemos que aprobar la nueva resolución, para que lleguemos a una conclusión para esta historia –dijo la senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), quien ha participado de la representación nacional hasta el año pasado y deberá volver a integrarla este año.

Los 37 futuros miembros de la representación deben estar ejerciendo sus mandatos en Brasil. No obstante, todavía no se sabe el número de senadores y el de diputados. En la opinión de la senadora, por lo menos 10 senadores deberán integrar el grupo, indicados según el mismo criterio adoptado para la composición de la Mesa Directiva del Senado. De acuerdo con sus cálculos, PT y PMDB indicarían dos senadores cada, mientras que los otros partidos serían representados por un senador cada uno.

También un ex miembro de la representación, el senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) apoya la participación de 11 a 12 senadores en el grupo. En su opinión, el retraso en el nombramiento de los miembros de la representación se explica por el hecho de que las atenciones en el Senado están puestas en la conformación de las comisiones permanentes de la Casa. Para él, no habrá dificultades políticas en aprobar la resolución que aumentará el número de miembros de la representación y que les concederá nuevos mandatos.
(Agência do Senado Federal do brasil)

A frase do ano (a pior, quero dizer...)

País rico é país sem pobreza

O gênio que bolou esta frase merece ser lembrado, a cada dia do ano, como o maior idiota que já tivemos no marketing governamental.

A tristeza, para nós, é que somos nós mesmos que pagamos toda a reprodução visual, impressa, sonora, sobre os mares e as terras descobertas desse nosso Brasil imenso a divulgação constante, regular, incessante, irritante dessa frase que concorre ao troféu "Imbecilidade do ano", categoria governamental (e tem muita concorrência, podem acreditar).
Paulo Roberto de Almeida