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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
1687) Nao so na Argentina, nos EUA tambem...
Eu não acho, posto que o dinehrio que colocam nos bancos poderia ser usado para pagar os depósitos de gente comum.
Mas eu não sou banqueiro, nem banqueiro central, apenas um acadêmico, como Bernanke...
Paulo R Almeida
Para Bernanke, juro baixo não causou a crise financeira
David Wessel, The Wall Street Journal
Valor Econômico, 14/01/2010
Andrew Harrer/Bloomberg
EUA: Presidente do Fed diz que só uma pequena parte do aumento no valor dos imóveis se deve à política monetária
Ben Bernanke, presidente do Fed: "Fomos lentos demais em alguns aspectos da proteção ao consumidor"
Ben Bernanke parece um sujeito que não aprendeu nada. Num discurso na Associação Americana de Economistas, o presidente do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, argumentou que os juros ultrabaixos que ele e Alan Greenspan determinaram no início da década passada não causaram a bolha imobiliária responsável pelo que o próprio Bernanke chama de "a pior crise financeira da história recente".
Bernanke não isentou o Fed. Ele disse que "reguladores" e "supervisores" - o que inclui o Fed - e o "setor privado" escorregaram feio quando permitiram tantas hipotecas para pessoas que não podiam pagá-las, e também por deixar que os bancos construíssem um castelo de cartas financeiras fundado na premissa de que o valor dos imóveis nos EUA nunca cairia.
Mas, mesmo com o benefício de ver tudo em retrospecto, Bernanke insistiu que cortar os juros de 6% no fim de 2000 para 1% em 2003 e sua elevação gradual de 2004 a 2006 era o remédio adequado em meio a uma recuperação sem a criação de empregos e com o temor de deflação - mesmo com a bolha imobiliária que se seguiu. "Só uma pequena parte do aumento do valor dos imóveis no início da década pode ser atribuído à posição da política monetária dos EUA", disse ele.
Esse argumento desafia o bom senso. Quando os juros estão lá embaixo, as pessoas tendem a se endividar bastante. Quando as pessoas tomam muitos empréstimos, tendem a comprar ativos como casas e ações e assim a elevar o valor deles. Se o Fed decidir que o valor dos imóveis e das bolsas está subindo rapidamente demais para um patamar excessivo, pode certamente restringir essa alta elevando os juros para tornar o crédito mais caro.
Mas Bernanke não é bobo. Há meses que pensa sobre esse discurso e determinou que uma equipe de sete economistas do Fed labutasse num artigo contextual com mais de cem referências. Então o que é que ele tem na cabeça? No fundo, Bernanke continua um acadêmico. Ele estudou a Grande Depressão da década de 1930 e chegou à conclusão que deixar os bancos quebrarem pioraria uma situação já ruim e prometeu que o Fed não cometeria o mesmo erro. Seus estudos serviram bem ao mundo. Em outras pesquisas, destiladas num discurso de 2002, Bernanke disse que o "Fed deveria usar a política monetária para atingir a economia, não o mercado de ativos", e deveria também "usar seus poderes de regulador, supervisor e credor de última instância para proteger e defender o sistema financeiro".
Só dados concretos podem mudar sua opinião e ele não vê nenhuma evidência convincente de que os juros teriam feito uma grande diferença no valor dos imóveis. Se estiveram baixos demais, não foi muito, argumentou ele. Se o Fed tivesse seguido uma regra de 1993 para os juros criada pelo professor John Taylor, da Universidade de Stanford, as prestações das hipotecas com juros variáveis teriam subido apenas US$ 75. Os juros mais altos não teriam evitado a bolha imobiliária, insistiu ele, que diz ter os cálculos para provar.
Mas essas equações não conseguiram prever o que acabou de acontecer. Os críticos mais convincentes de Bernanke argumentam que, ao deixar os juros baixos e prometer com todas as letras deixá-los assim, a estratégia Greenspan-Bernanke detonou uma busca mundial por investimentos mais rentáveis. Os gênios de Wall Street atenderam a essa demanda transformando empréstimos imobiliários de alto risco em títulos de curto prazo supostamente seguros. A demanda mundial era quase insaciável e as comissões, irresistíveis para Wall Street e os originadores de hipotecas. Quando acabaram os tomadores confiáveis, esse pessoal passou a conceder hipotecas a qualquer um que conseguisse assinar o nome, porque Wall Street estava ansiosa para poder vender um produto a investidores ávidos.
"Claro que ninguém está dizendo que a política monetária foi a única culpada", disse o economista Raghuram Rajan, da Universidade de Chicago. "Mas num cenário em que há um 'excesso de poupança' em algum lugar, o baixo rendimento dos ativos seguros empurrou os investidores mundiais para ativos mais arriscados. Será que essa busca por rentabilidade não foi parte do problema?"
"Os economistas monetários vão aplaudir [o discurso de Bernanke] porque ele defende que o que têm feito há anos está certo", disse ele. "Nós é que deveríamos nos preocupar."
Bernanke é politicamente vulnerável. O Congresso americano está estudando seu futuro e o do Fed. Por isso, num momento em que o público quer contrição, por que fazer um discurso tão caricaturável como uma declaração de que "não foi minha culpa". Não é que ele não esteja disposto a mostrar arrependimento: "Fomos lentos demais em alguns aspectos da proteção ao consumidor. (...) Deveríamos ter exigido mais capital, mais liquidez (...) mais controles de administração de risco", disse mês passado a uma comissão do Senado.
Assim, o discurso de Bernanke foi motivado pelos temores de que o Congresso possa diluir a capacidade do Fed de regulamentar os aventureiros das finanças. Ele tentou fundar as bases intelectuais de uma promessa ao Congresso: não fizemos o suficiente na última vez, mas aprendemos a lição. Não enfraqueça nossa autoridade sobre os grandes bancos. Se fizer isso, a única arma que o Fed terá para combater uma bolha será elevar fortemente os juros, e isso nos forçaria a punir as famílias, os trabalhadores e as empresas, não apenas a bolha. Seria como dizer ao presidente que ele só tem duas escolhas: nada e a bomba atômica. Mas Bernanke não colocou as coisas dessa maneira. Como já fez em outras ocasiões, falou como se estivesse num seminário da Universidade de Princeton e não numa arena política. Ele não estava num seminário.
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