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quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Ainda o affair Hobsbawm: o que irritou a Anpuh?

Eis a materia, abaixo transcrita, que gerou o ódio da Anpuh, como se todos devessem achar Hobsbawm genial!
A Anpuh, como entidade associativa que é, ou seja, como profissionais e historiadores de todas as tendências ideológicas, precisaria ser neutra em materia de avaliações políticas.

Seu manifesto anti-Veja (em um post anterior) apenas revela o sectarismo e a intolerância de certas pessoas, que deveriam ter vergonha de se considerar acadêmicas.
Paulo Roberto de Almeida
Addendum em 12/10/2012:
Tenho recebido vários comentários aos diversos posts em torno da morte do Hobsbwm, geralmente condenatórios dos ataques do jornalista da Veja. Parece que muita gente, a começar pela Anpuh, pretende defender a reputação do historiador contra ele mesmo, ou seja, o fato de sua grande desonestidade intelectual ao não ter condenado em termos mais veementes os imensos crimes cometidos pelo sistema soviético, e de ter confirmado sua adesão aos regimes socialistas -- para ele superiores, em princípio, ao regime capitalista -- mesmo contra todas as evidências.
Que ele tenha sido cego, é seu direito. Mas é nosso direito criticá-lo.
Que suas opções sejam defendidas por outros aderentes da crença, já escapa ao terreno do racional, e entra no da fé religiosa.

O historiador Eric Hobsbawm ( Roland Schlager/EFE)


Faleceu hoje Eric Hobsbawm, aos 95 anos de idade



Memória

A imperdoável cegueira ideológica de Eric Hobsbawm


Maior historiador esquerdista de língua inglesa, Eric Hobsbawn, morto na última segunda-feira, aos 95 anos, foi um idiota moral. Essa é a verdade incômoda que os necrológios, publicados em profusão, quase sempre fizeram questão de ignorar. Marxista irredutível, Hobsbawm chegou a defender o indefensável: numa entrevista que chocou leitores, críticos e colegas, alegou que o assassinato de milhões orquestrado por Stalin na União Soviética teria valido a pena se dele tivesse resultado uma "genuína sociedade comunista". Hobsbawn foi de fato um historiador talentoso. Nunca fez doutrinação rasteira em suas obras. Mas o talento de historiador, é forçoso dizer, ficará para sempre manchado pela cegueira com que ele se agarrou a uma posição ideológica insustentável.

Essa posição lança sombras sobre uma de suas obras mais famosas, A Era dos Extremos, livro de 1994 que, depois da trilogia sobre o século XIX composta pelos livros A Era das Revoluções,A Era do Capital e A Era dos Impérios, lançados entre 1962 e 1987, se dedica a investigar a história do século XX –  quando Hitler matou milhões em seus campos de concentração e os regimes comunistas empreenderam os seus próprios extermínios. Hobsbawm se abstém de condenar os crimes soviéticos, embora o faça, com toda a ênfase, com relação aos nazistas.
Outro eminente historiador de origem britânica, Tony Judt (1948-2010), professor de história da New York University que fez uma longa resenha do livro de memórias de Hobsbawm, Tempos Interessantes, advertia já em 2008 que o colega ficaria marcado por sua posição política. “Ele pagará um preço: ser lembrado não como ‘o’ historiador, mas como o historiador comunista”, disse em entrevista ao jornal The New York Times. Em texto publicado pela revista The New Criterion, o escritor David Pryce-Jones também apontou o prejuízo da ligação de Hobsbawm com o pensamento marxista. “A devoção ao comunismo destruiu o historiador como um pensador ou um intérprete de fatos.”
O entusiasmo com a revolução bolchevique, aliás, não foi a única fonte de tropeços morais para Hobsbawm. A conflituosa relação com as raízes judaicas – seu sobrenome deriva de Hobsbaum, modificado por um erro de grafia – o levou a apoiar o nacionalismo palestino e, ao mesmo tempo, a negar igual tratamento a Israel.
Biografia – A história pessoal de Hobsbawm ajuda a entender sua adesão ao marxismo. Nascido no ano da Revolução Russa, 1917, em Alexandria, no Egito, ele se mudou na infância para Viena, terra natal materna, onde perdeu ainda adolescente tanto a mãe quanto o pai, um fracassado negociante inglês que permitiu a ele ter desde cedo o passaporte britânico. Criado por parentes em Berlim na época em que Hitler ascendia ao poder, ele viu no comunismo uma contrapartida ao nazismo.
Da Alemanha, Hobsbawn seguiu para a Inglaterra. Durante a guerra, serviu numa unidade de sapeadores quase que inteiramente formada por soldados de origem operária - e daí viria, mais que a simpatia, uma espécie de identificação com aquela que, segundo Marx, era a classe revolucionária. Ele estudou em Cambridge, e se filiou ao Partido Comunista, ao qual se aferraria por anos. Nem mesmo após a denúncia das atrocidades stalinistas feita por Nikita Khrushchov em 1956, quando diversos intelectuais romperam com o comunismo, ele deixou o partido.
Hobsbawm só desistiu de defender com unhas e dentes o sistema após a queda do Muro de Berlim, em 1989. “Eu não queria romper com a tradição que era a minha vida e com o que eu pensava quando me envolvi com ela. Ainda acho que era uma grande causa, a causa da emancipação da humanidade. Talvez nós tenhamos ido pelo caminho errado, talvez tenhamos montado o cavalo errado, mas você tem de permanecer na corrida, caso contrário, a vida não vale a pena ser vivida”, disse ele ao The New York Times, em 2003, em uma das poucas declarações em que admitia as falhas do comunismo – porém, sem dar o braço verdadeiramente a torcer.

7 comentários:

Luciana disse...

A versão da Veja impressa foi semelhante, mas traz um trecho de tom desnecessário, que acaba por enfraquecer um pouco o posicionamento do autor da matéria. O trecho caberia em um blog (e confesso que me fez rir), mas não num veículo de massa como aquele. Segue:
"Isso é clássico Hobsbawn. Ele finge se chocar com as atrocidades de Stalin, mas põe todo o foco sobre os crimes de outro facínora, Hitler. Se Hitler foi pior do que Stalin é uma discussão que eles mesmos devem estar travando até hoje no anel interior do sétimo círculo do inferno de Dante. Quem sabe Hobsbawn não se encontra com Marx na quarta cova do oitavo círculo"

Mariana disse...

Acho que o que irritou a ANPUH foi o tom jocoso e a adjetivação utilizada que, como bem pontuado pela Luciana, talvez não sejam apropriados para esse veículo de informação. Além do fato de a revista prestar-se a questionar preceitos de moralidade intelectual (não entremos no mérito da questionabilidade moral da mesma). Não acho que a ANPUH pregue a genialidade incontestável de Hobsbawm... aliás, em mais de um momento, admite as ambiguidades do autor e os antagonismos historiográficos. Creio que tenha sido mais uma questão de forma que de conteúdo.

Anônimo disse...

E quem faria as vezes de "Virgílio"...Mao..Che Guevara...ou Fidel...caso tenham um pouco de paciência...pois este insiste em não morrer...o papel de "Beatrice" já cabe ao Chávez!

Vale!

Anônimo disse...

Mas pessoal, quem sabe melhor utilizar adjetivacoes do que o dono desse blog? Ja leram o texto sobre o Carlos Nelson Coutinho? Parece uma crianca.

José Marcos disse...

Quando li este artigo no sítio eletrônico da revista Veja, escrevi um comentário em que demonstrava que a afirmação de que o historiador "se abstém de condenar os crimes soviéticos" era destituída de fundamento. No livro "Era dos Extremos", publicado pela Companhia das Letras, o capítulo 13 critica o "socialismo real" implantado pelo Estado soviético. Eis um trecho extraído da página 381, 2ª edição: "...entre 1934 e 1939, 4 ou 5 milhões de membros e funcionários do partido foram presos por motivos políticos; quatrocentos ou quinhentos, executados sem julgamento... O que deu a esse terror uma desumanidade sem precedentes foi o fato de que não conhecia limites convencionais nem de qualquer tipo." Após uma semana, o comentário ainda não foi publicado no "site", embora eu o tenha enviado inúmeras vezes. Tentei escrever para o Reinaldo Azevedo, que também havia comentado a morte de Hobsbawm, mas ele censurou minha opinião e insultou-me,insinuando que eu era uma espécie de barata.O que será que irritou a Veja e o Reinaldo Azevedo em meu comentário?

José Marcos disse...

Post scriptum: Em addendum escrito após eu ter enviado meu comentário, Paulo Roberto de Almeida escreveu que Hobsbawm era intelectualmente desonesto por "não ter condenado em termos mais veementes os imensos crimes cometidos pelo sistema soviético". Conforme citei em meu comentário anterior,extraí um exemplo de "Era dos Extremos" em que Hobsbawm afirmava que os crimes cometidos por Stalin eram de "uma desumanidade sem precedentes". Sobre Stalin, Hobsbawm escreveu na página 371: "Stalin, que presidiu a resultante era de ferro da URSS, era um autocrata de ferocidade, crueldade e falta de escrúpulos excepcionais, alguns poderiam dizer únicas. Poucos homens manipularam o terror em escala mais universal." Sinceramente, não sei como ele poderia ter sido mais veemente em sua condenação do regime stalinista...

Gustavo disse...

Olá, Professor. Antes de tudo, gostaria de felicitar-lhe pelo blog, que tive a alegria de descobrir há pouco, e de agradecer por sua resenha muito simpática a meu livro "Da revolução ao reatamento: a política externa brasileira e a questão cubana (1959-1986)", a qual muito me honrou e me envaideceu. Fico feliz ao ver que minhas opiniões coincidem em vários assuntos com as suas, e que não sou o único a não idolatrar figuras com Eric Hobsbawn, que, apesar de historiador talentoso e inteligente, deixou-se contaminar por sua paixão ideológica (ainda por cima, mal-resolvida) pelo comunismo soviético, que sempre turvou suas análises. Dei-me ao trabalho inclusive de escrever um texto em meu blog refutando ponto a ponto o inacreditável texto da ANPUH (http://gustavo-livrexpressao.blogspot.gr/2012/10/hobsbawn-e-era-dos-idiotas.html). Muito gostaria saber sua opinião a respeito. Abraços (ou melhor: Respeitosamente, como se diz na "Casa")