Recuo
no comércio: estratégia ou tática?
Rubens
Ricupero
Folha de São Paulo, segunda feira 1/10/2012, p. A-15
Ninguém notou a mais importante mudança da política externa da
presidente Dilma em relação ao governo Lula: o abandono das negociações da
Rodada Doha da Organização Mundial de Comércio (OMC).
Não é
que se tenha anunciado isso de modo formal. Mas, ao aumentar as tarifas de uma
centena de produtos, o governo sinalizou que no fundo já não acredita mais na
possibilidade de conclusão da Rodada. Com efeito, a fim de ganhar algo nas negociações,
o Brasil precisaria não só se abster de agravar a proteção, mas teria de efetuar
reduções adicionais significativas nas tarifas de manufaturas.
Era o
que o governo Lula havia aceito em julho de 2008 quando, junto com a Europa,
fomos os protagonistas da última tentativa séria de garantir o êxito da Rodada,
abortada pela recusa simétrica dos EUA, de um lado e da Índia e China, do
outro.
Desde
então nos retraímos e agora ingressamos em zona controvertida: praticamente
voltamos as costas à estratégia de dar prioridade às negociações multilaterais
da OMC, seguida por todos os governos brasileiros das décadas recentes. No
governo Lula, a posição de privilegiar a OMC a fim de obter ganhos em
agricultura se tornou uma das razões principais do prestígio e da credibilidade
conquistadas pelo país nos foros internacionais.
Por que
então a mudança súbita? Não se trata obviamente de capricho ou ideologia. A
explicação é que a crise de competitividade, sobretudo da indústria, atingiu seu
ponto crítico. O Brasil perdeu a capacidade de negociar acordos comerciais,
multilaterais ou de qualquer tipo. Como viabilizar acordos que exigem
concessões se essas vão expor ainda mais setores que mal se mantêm de pé apesar
de doses maciças de anabolizantes?
É por
isso que se supõe que o retrocesso (pois é disso que se trata) seja de ordem
tática. Isto é, que se destina a ganhar tempo para que se recupere a
competitividade. De nada serve pretender que não é protecionismo e sim medidas
de defesa comercial. Essas últimas – antidumping, taxas compensatórias,
salvaguardas – só podem ser aplicadas mediante processo regulamentado pela OMC.
A ação brasileira não foi ilegal, mas teve caráter unilateral, não obedeceu ao
formato das medidas de defesa e certamente violou o compromisso adotado pelos
membros do G20 no sentido de não agravarem o nível de proteção.
Falta
autoridade moral a Washington para protestar, pois a administração Obama deve
ser o governo americano com menor contribuição à liberalização do comércio
mundial de que se tem memória. Porém, o ponto não é esse. Se o governo
brasileiro entendeu que não tinha alternativa do que dar esse grave passo,
certamente o terá feito por dispor de estratégia coerente. Estratégia não só
para melhorar as condições de competitividade, como começou a fazer
parcialmente com redução de juros, correção do câmbio e anúncios sobre custo da
eletricidade e melhoria de infraestrutura.
Se o
esforço der certo, ainda será necessário ao Brasil ampliar seus mercados. Ao
abrir, para isso, mão da OMC, só nos sobra o combalido Mercosul, que não
convence ninguém como estratégia global. Será que temos efetivamente essa
estratégia?
ResponderExcluirEric Hobsbawm dies, aged 95
Lifelong Marxist, whose work influenced generations of historians and politicians, dies after long illness
Esther Addley guardian.co.uk, Monday 1 October 2012 11.02 BST
http://www.guardian.co.uk/books/2012/oct/01/eric-hobsbawm-died-aged-95
Vale!
http://www.guardian.co.uk/books/2012/oct/01/eric-hobsbawm?intcmp=239
ResponderExcluirVale!