Sempre fui contra o assistencialismo governamental, em qualquer época, de qualquer governo, sob qualquer circunstância.
Sob o lulopetismo, o assistencialismo governamental expandiu-se exagerada e deliberadamente e converteu-se num imenso curral eleitoral. Foi feito expressamente para isso mesmo: faz parte do projeto de dominação permanente, monopólica e totalitária de seus autores.
Agora se descobre que é tambem mais um foco de fraude e de mentiras oficiais.
Eles sempre foram assim, se voces querem saber...
Como conviver com essa nova vergonha governamental?
Paulo Roberto de Almeida
Miséria publicitária
Editorial da Folha de S. Paulo de 10/2/2013
Ao distorcer dados da emancipação de miseráveis, governo solapa a seriedade necessária para discutir os rumos da política social
A área econômica do governo Dilma Rousseff faz escola. O malabarismo estatístico, ou "contabilidade criativa", difunde-se também para outros setores da administração federal.
O Planalto alardeia ter tirado da miséria quase 20 milhões de pessoas. São 10% da população brasileira, e isso em apenas dois anos.
O segredo da prestidigitação, no caso, está em manipular os dois aspectos cruciais da contabilidade: a definição do que vem a ser pobreza extrema (ou miséria), de um lado, e o cadastro das famílias declaradas miseráveis, do outro.
Desde 2009 está fixado em R$ 70 o teto da renda mensal familiar per capita que define a miséria para fins do Bolsa Família e de outros programas federais de assistência.
Já o rendimento dos mais pobres no mercado de trabalho veio aumentando, nesse período, mais depressa que a inflação.
Trata-se de uma emancipação social independente da ação do governo. Mas ela seria menor que a alegada na propaganda oficial superlativa, e mais corretamente medida, se o Planalto reajustasse a linha da indigência pelos índices de preço.
Corrigidos pelo IPCA, os R$ 70 de 2009 correspondem a quase R$ 90 hoje.
A alquimia para simular tamanha progressão social instantânea envolve outro sortilégio. Em 2010, o Censo do IBGE apontava cerca de 16 milhões de brasileiros com rendimento inferior a R$ 70 mensais.
Abaixo, portanto, dos 19,5 milhões que o governo anuncia terem saído da miséria nos dois anos seguintes.
Em vez de fiar-se no IBGE, o governo passou a contabilizar os indigentes de acordo com seu próprio cadastro, realizado em parceria com os mais de 5.500 municípios brasileiros. Daí surgiu o milagre da multiplicação dos miseráveis, dois anos atrás.
Não é preciso muita reflexão para atribuir ao cadastro dos beneficiários do governo um grau de vulnerabilidade técnica - para não falar das brechas a fraudes- bem mais elevado que o do Censo do IBGE.
A discussão sobre a pobreza e as formas de enfrentá-la está pronta para subir de patamar. Sabe-se hoje, por exemplo, que as condições de moradia e instrução dos mais pobres evoluíram bem mais lentamente que a renda.
Deveriam ganhar mais destaque na política social e originar novos indicadores.
Os reiterados lances de pirotecnia estatística do governo federal, porém, chamuscam sua seriedade e sua credibilidade nesse debate.
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