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terça-feira, 2 de abril de 2013
O grande desmanche do saldo comercial, a unica taboa de salvacao do governo...
O Estado de S. Paulo - Balança tem pior março em 12 anos e alarma governo
A balança comercial teve saldo positivo de US$ 164 milhões em março, pior resultado desde 2001 para o mês. No trimestre, há um déficit de US$ 5,15 bilhões, também o pior em 12 anos. Os resultados acenderam a luz amarela no governo, e técnicos do Ministério da Fazenda veem risco de superávit inferior a US$ 10 bilhões neste ano.
Balança comercial tem pior resultado em 12 anos e preocupa o governo. Brasil tem déficit de US$ 5,1 bi no primeiro trimestre e técnicos da Fazenda já veem risco de saldo ticar abaixo de US$ 10 bi este ano.
Adriana Fernandes e Renata Veríssimo, de Brasília e Fernando Dantas, do Rio.
A balança comercial fechou março com saldo positivo de US$ 164 milhões, pior resultado para o mês desde 2001. As exportações foram de US$ 19,323 bilhões, e as importações de US$ 19,159 bilhões. No trimestre, há um déficit de US$ 5,150 bilhões, o o primeiro resultado negativo desde 2001. Esses resultados acenderam a luz amarela no governo, e técnicos do Ministério da Fazenda já veem risco de superávit comercial inferior a US$10 bilhões este ano. No primeiro trimestre, as exportações brasileiras, que acumularam US$ 50,839 bilhões, apresentam retração de 3,1% em relação a igual período de 2012.
As causas apontadas para a queda do superávit comercial são a crise internacional (que reduz a demanda por exportações), a baixa competitividade dos produtos manufaturados brasileiros e o câmbio um pouco mais valorizado do que 110 fim do ano passado. A área técnica do governo está decepcionada pelo fato de que o câmbio mais desvalorizado no ano passado e o juro mais baixo não tenham impulsionado mais as exportações. A constatação agora é de que pouco pode ser feito para garantir uma melhora da balança comercial, principalmente porque o cenário externo está marcado por muitas incertezas e a economia global segue com crescimento baixo. Por outro lado, as medidas de aumento da produtividade devem demorar a surtir efeito.
A piora da balança comercial faz parte de um quadro mais amplo de deterioração das contas externas, o que representa mais um problema para a equipe econômica, já às voltas com a inflação e o baixo crescimento. O déficit em conta corrente, que, além da balança comercial, inclui serviços, juros, dividendos e remessas, saiu de 2,12% do PIB em 2011 para 2,79% nos 12 meses até fevereiro de 2013. Para um ex-diretor do Banco Central (BC), "o déficit em conta corrente está abrindo e vai abrir ainda mais - se a economia ganhar fôlego, ele vai para 3,5%, 4% do PIB". Revisão. O BC reviu de US$ 17 bilhões para US$ 15 bilhões o superávit da balança comercial este ano. Já a previsão dos analistas financeiros, coletadas pela pesquisa Focus do BC, aponta um superávit de US$ 13 bilhões.
A previsão deve cair mais. "Já era para a balança ter melhorado em fevereiro e março", alerta o ex-secretário de Comércio Exterior do Ministério de Desenvolvimento, Welber Barral. Ele prevê saldo comercial de apenas US$ 4 bilhões em 2013. Barral acha que os preços das commodities exportadas pelo Brasil devem melhorar em abril, mas a perspectiva para os manufaturados está cada vez pior. A balança comercial de petróleo, diz, terá déficit muito alto nos próximos anos. "No médio prazo, há o risco de o Brasil ter um déficit estrutural." Para o economista José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, o problema está na oferta. "Como passamos anos sem lidar com isso, o problema ficou sistêmico. Não tem bala de prata, solução rápida, porque melhorar a competitividade é trabalho para cinco anos", destaca, citando a alta dos custos trabalhistas e as filas nos portos. Mendonça de Barros nota que a pressão inflacionária impôs um limite para o governo usar a taxa de câmbio para ajudar as exportações. "Teria quer ser uma taxa de R$ 2,20 e R$ 2,25, mas aí a inflação fica impossível", diz.
Investimento. Segundo o economista Samuel Pessoa, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, no Rio, "há uma piora inequívoca das transações correntes". Um problema adicional é que a qualidade do financiamento do déficit também piorou no primeiro bimestre de 2013, com menor proporção sendo bancada pelo investimento direto externo (IED), em produção. Em janeiro e fevereiro deste ano, o déficit atingiu US$ 18 bilhões, e o investimento, de US$ 7,5 bilhões, só financiou 42% do saldo negativo da conta corrente. O resto foi coberto com investimentos em carteira (aquisição de ações e títulos de renda fixa brasileiros) e "outros investimentos", uma rubrica variada, na qual entram linhas ligadas ao comércio internacional. Em comparação, nos dois primeiros meses de 2012, o déficit em conta corrente de US$ 8,8 bilhões foi coberto pelos investimentos de US$ 9,1 bilhões. Pessôa diz que o aumento do I déficit em conta corrente tem a ver com o aquecimento do consumo no Brasil, que reduz a poupança doméstica para financiar investimentos. Assim, parte do investimento acaba sendo financiado com poupança externa. "O mais preocupante é que o déficit esteja aumentando e o investimento caindo - isto significa que a poupança (doméstica) está caindo mais que o investimento", diz.
Para Pessôa, o aumento do déficit externo para financiar um consumo crescente, com queda do investimento, "é uma combinação ruim". Os analistas em geral, incluindo Pessoa, não veem uma situação de alarme em relação às contas externas do Brasil, que tem reservas internacionais de US$ 376,4 bilhões. Ainda assim, a piora na posição externa do Brasil é vista como um problema de médio e longo prazo. Uma preocupação é com a possível mudança do cenário internacional de juros extremamente baixos (negativos em termos reais nos mundo rico e outros países) e liquidez abundante para os países emergentes. "Caminhamos para um momento em que vai ocorrer um início de normalização da política monetária americana, o que vai afetar os fluxos como aconteceu em 1994, mas não da mesma maneira" diz Tony Volpon, diretor de pesquisas para a América Latina da Nomura./Colaboraram Célia Froufe e Laís Alegretti
Valor Econômico – Saldo de 2013 pode ser inferior a US$ 10 bilhões.
Por Rodrigo Pedroso | De São Paulo.
O mau resultado da balança comercial no primeiro trimestre (déficit de US$ 5,1 bilhões) e o comportamento dos preços de algumas commodities provocaram redução nas projeções do mercado para o superávit de 2013. Gradualmente, bancos e consultorias econômicas estão reajustando os números, em movimento que se refletiu no boletim Focus, do Banco Central. Cinco semanas atrás, o consenso de mercado registrava um saldo positivo de US$ 15,2 bilhões. No boletim divulgado ontem, a média das estimativas apontou superávit de US$ 12,4 bilhões em 2013. Entre os economistas, contudo, já há previsões de saldo entre US$ 7 bilhões e US$ 8 bilhões, o que representa resultado cerca de 60% inferior ao do ano passado.
A piora do resultado projetado decorre tanto de uma exportação mais fraca de manufaturados (especialmente em função de mercados tradicionais, como o argentino) como do aumento do consumo e do preço de bens importados, além do efeito estatístico do registro atrasado nas compras da Petrobras. A safra agrícola, embora recorde, não será suficiente para compensar os demais efeitos negativos sobre o comércio exterior, dizem os analistas. A consultoria MB Associados começou o ano prevendo um superávit de US$ 15 bilhões. Em função dos números em janeiro e fevereiro, a projeção para o saldo diminuiu pela metade: US$ 7,4 bilhões. Dois fatores principais explicam a redução, diz o economista Sérgio Vale: primeiro, a conjuntura para este ano, com uma piora no cenário externo, em especial na Europa, e uma deterioração das vendas de manufaturados para a Argentina. Além disso, o atraso na contabilização nas importações de combustíveis realizadas no fim do ano passado também teve influência no novo cálculo. Vale também chama a atenção para a progressiva piora no saldo comercial brasileiro nos últimos anos, consequência da desaceleração chinesa e seu apetite por commodities e a "piora significativa da competitividade do Brasil, ao mesmo tempo que o mundo está se tornando muito mais competitivo." O atraso na contabilização dos combustíveis e a perspectiva de um resultado pior no comércio com a Argentina também fez a Tendências Consultoria reajustar a previsão do saldo comercial, que passou de US$ 15 bilhões para US$ 12,5 bilhões. A GO Associados, consultoria comandada pelo ex-presidente da Sabesp Gesner Oliveira, tem uma das previsões mais baixas para o saldo comercial deste ano. No início de 2013, o cenário era de superávit de US$ 9,5 bilhões. Agora, a projeção para o saldo positivo desacelerou para US$ 8 bilhões. De acordo com Fabio Silveira, diretor de pesquisa econômica da consultoria, não houve um fator específico que levou à redução.
"Quando você junta alterações de preços, com perspectivas de volumes embarcados e desembarcados, o modelo aponta para esse saldo", afirma. O saldo bem menor do que o do ano passado, quando o superávit verificado foi de US$ 19,4 bilhões, deve acontecer principalmente em função "da quase total dependência do desempenho externo comercial do agronegócio", diz Silveira. A balança de bens intermediários também ajudou na revisão do superávit. Em 2011, esses produtos proporcionaram um saldo positivo de US$ 21 bilhões. Ano passado, o superávit desse grupo caiu para US$ 6,9 bilhões, e neste ano a balança de intermediários deve ficar em torno de zero, prevê o economista da GO.
Na análise da distribuição por setores, o agronegócio deve contribuir com um superávit de cerca de US$ 70 bilhões em 2013, enquanto os bens de consumo devem ter déficit de cerca de US$ 5 bilhões, e os bens de capital têm projeção de um saldo negativo de US$ 47 bilhões. "Isso sugere que é o agronegócio que está trazendo dólares ao Brasil, enquanto bens duráveis e não duráveis, petróleo e derivados e bens de capital levam essas divisas para fora", diz Silveira.
A Quest Investimentos também projeta superávit de US$ 8 bilhões. O valor é o mesmo desde o início do ano, quando a consultoria previa cenário mais pessimista para o comércio exterior. Para o economista Fabio Ramos, os dois primeiros meses do ano são tradicionalmente deficitários, mas este ano o resultado foi agravado pela contabilização atrasada das importações de petróleo e derivados. "Esse é um dos diferenciais. Mas nós também estamos observando uma tendência de conjuntura que vai definir o superávit menor: preços mais baratos das commodities e industrializados mais caros, afetando as importações", afirma Ramos. O Banco Fator, que estimava superávit de US$ 17 bilhões, está em processo de revisão dos números. A instituição deve baixar a projeção para o saldo até o fim da semana.
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