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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

A (des)universidade brasileira afunda no anacronismo e na mediocridade

Se eu fosse o Nelson Rodrigues -- um escritor que não tinha medo de chocar e de ser politicamente incorreto -- eu diria que essa questão foi feita por uma militante feminista, mal amada e com desejos de vingança sobre os homens, sobre todos os homens.
Como eu não sou, apenas direi que os formuladores dessa questão não são historiadores, e sim seres patéticos, anacrônicos, absolutamente ridículos nessa transposição de conceitos e temáticas contemporâneas para a Idade Média.
Depois da raiva, ou da estupefação, segundo os casos, vem a confurmação de que, realmente, a universidade brasileira vai afundar no pântano da vastíssima ignorância e da estupidez deliberada, desejada, buscada (e conseguida) de grande parte de seus "profeççoris" de desumanidades.
É para rir ou para chorar?
Paulo Roberto de Almeida

Comentário recebido:

"Olá, Paulo.
O comentário (meio longo) que farei abaixo está fora do tópico. Caso queira, descarte.

Depois de me aposentar no TRE-Xxxxxx e vir morar em [bonita capital do Sul maravilha], decidi prestar concurso para professor de História/História Antiga e Medieval, na UFXX.

Minha formação correspondia aos pre-requisitos exigidos para o certame, é claro. Mas o surpreendente - no sentido negativo do termo - foi o tema de um dos dois tópicos sorteados para a prova escrita. Era ele: "Vida doméstica, relações de gênero e sexualidade no mundo antigo".

É claro que quando vi esse tópico na lista dos 17 listados, eu achei ridículo. Mas quando ele foi sorteado, eu não me contive e abri a minha prova escrita com o seguinte comentário: já imaginaram Sócrates, ou um alto funcionário do Egito Antigo ou mesmo um centurião romano discutindo a relação com sua querida companheira helênica, egípcia ou romana?

É inacreditável: aplicam-se conceitos do séc. XIX (sexualidade é um conceito freudiano, como todo mundo civilizado sabe) ou do ideológico e literário século XX (relações de gênero) numa prova para professores de História Antiga e Medieval.

E, aliás, apesar de se tratar de professor de História Antiga e Medieval, todos os 17 tópicos versaram sobre História Antiga (ou, como você pode comprovar, sobre um arremedo medonho e pós-moderno de História Antiga).

Esta é a universidade federal brasileira, na modalidade "Ciências Humanas" que se vê hoje.

O resultado da prova escrita sai amanhã. Seja ele qual for, eu me considero uma lamentável perdedora.

O Brasil é um país de miercoles."

Minha solidariedade, e o registro aqui, que serve como protesto e denúncia. Os, ou as, energúmen@s que prepararam a prova saberão que é deles, ou delas mesmo que estou falando.
Posso até apostar que, sob o anacronismo gritante da questão, se esconde uma combinação das mais fraudulentas para atribuir a vaga para alguém previamente escolhid@.
Essa patifaria é hoje a universidade brasileira no que antes se chamava Humanidades, e que se converteu hoje numa ação entre boçais da mesma tribo ideológica.
Paulo Roberto de Almeida

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COMPLEMENTO: 


Paulo,

fiquei muito feliz com suas palavras. Sem querer ser piegas - mas já sendo - creio que um diplomata de verdade tem, entre outras funções de muita dignidade - defender os cidadãos brasileiros que estejam em situação de ameaça e risco. Talvez eu esteja atribuindo valores muito românticos e glamourosos à vocação a que você ouviu o chamado.

De qualquer maneira, Paulo, eu me senti defendida e acolhida com a sua corajosa solidariedade.

Quem tem o reconhecimento e o apreço de uma pessoa especial como você, é claro que não precisa ser aprovada em nenhum certame, principalmente do tipo destes incertos no quesito lisura.

Só mais um detalhe: é claro que não consegui os 70 pontos necessários na prova escrita. Sabe que no atual contexto universitário brasileiro eu estou me sentindo honrada com a reprovação?

Copiei do edital da UFXX para todas as áreas do "conhecimento" o trecho do edital para professor de História Antiga e Medieval. Veja os tópicos 5 e 7, por favor. Observe que o de número 5 (o outro tópico que foi sorteado) eles escreveram "circulação" e tascaram um ponto final. Circulação de quê, caras pálidas? Circulação de ar? Se for, isto prova que eles são, na melhor das hipóteses, uns cabeças de vento. Isto se não forem cabeças de camarão.

14.1.9.4 – Departamento de História

14.1.9.4.1 – Área/Subárea de Conhecimento: História/História Antiga e Medieval: 1) História Antiga: conceito e periodização; 2) Mito e ritual no mundo Antigo; 3) Artes e pensamento no mundo Antigo; 4) Trocas culturais no mundo Antigo; 5) Trocas econômicas e circulação na Antiguidade; 6) Crenças e vida religiosa no mundo antigo; 7) Vida doméstica, relações de gênero e sexualidade na Antiguidade; 8) Trabalho e produção no mundo antigo; 9) Poder e Lei na Antiguidade; 10) Formas de Organização Política no mundo antigo; 11) Metodologias de pesquisa e produção do conhecimento na Antiguidade; 12) Historiografia e modelos interpretativos sobre a Antiguidade; 13) Fontes e documentos para o estudo da História Antiga; 14) "Ocidente" e "Oriente" nos estudos sobre o mundo antigo; 15) O mundo antigo no ensino de história; 16) Conceitos de tempo e história no mundo antigo; 17) Cultura material: pesquisa e interpretação.

Um comentário:

Leo Teles disse...

Isso me lembra, em muito, os comentários da 'Cambridge School of Analysis of Political Thought', tal qual era chamada. As tais 'falácias do presentismo', o risco destas, os 'atos ilocutivos' e a necessidade de se ler EM CONTEXTO. Infelizmente isso não é feito no Brasil... ALIAS, não só não se faz como se ridiculariza quem lê a história/política/filosofia imerso em seu contexto de época e a linguagem politica do momento.