Algumas recomendações de
leituras: lista seletiva
Paulo Roberto de Almeida
Sergio Florencio: Os Mexicanos (São Paulo: Contexto,
2014, 240 p.)
Paulo Estivallet de Mesquita: A Organização Mundial do Comércio (Brasília:
Funag, 2013, 105 p.)
Lauro Escorel: Introdução ao Pensamento Político de
Maquiavel (3a. ed.; Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul, FGV, 2014,
344 p.)
Paulo Roberto de Almeida: Nunca Antes na Diplomacia...: a política
externa brasileira em tempos não convencionais (Curitiba: Appris, 2014, 289
p.)
Rogério de Souza Farias: A palavra do Brasil no sistema multilateral de comércio (1946-1994) (Brasília:
Funag, 2013, 885 p.)
Uma coletânea, de alta
qualidade, dos mais importantes pronunciamentos feitos por representantes
brasileiros desde as negociações que precederam a constituição do Gatt
(1946-47), passando pela Unctad (1964), até a criação da OMC (1994). O livro representa
um repositório de grande relevância para todos os pesquisadores da história
econômica brasileira, uma vez que compila documentos originais e outros
materiais de referência (fotos, resumos biográficos dos negociadores
brasileiros, etc.), mas constitui, igualmente, um instrumento de trabalho para
os negociadores diplomáticos de nossos livros. O livro vem acompanhado por
informações e fotos dos representantes e de notas de rodapé explicativas de
cada contexto negociador. O denso prefácio e a longa introdução merecem leitura
atenta; os temas abordados em cada capítulo constituem matéria prima
indispensável para conhecer a história econômica e diplomática brasileira no
plano do comércio internacional. Parece que pouco mudou...
Eugênio Vargas Garcia: Conselho de Segurança das Nações Unidas (Brasília:
FUNAG, 2013, 133 p.)
Carlos Márcio B. Cozendey: Instituições de Bretton Woods (Brasília: FUNAG, 2013, 181 p.)
Harvey
J. Kaye: The Fight for the Four Freedoms:
What Made FDR and the Greatest Generation Truly Great (New York: Simon
& Schuster, 2014, 292 p.).
O livro foi
feito a partir dos papeis deixados por Franklin Delano Roosevelt em seus
arquivos de Hyde Park: o eixo central é dado pelas quatro liberdades que
Roosevelt proclamou no State of the Union
de janeiro de 1941, logo após conquistar o seu terceiro mandato, antes,
portanto, que os Estados Unidos fossem atacados e entrassem na guerra. Roosevelt,
que já vinha procurando superar as resistências isolacionistas do Congresso,
para converter os EUA no “Arsenal da Democracia”, insistiu na tecla de que
seria ilusório tentar esconder-se atrás de muralhas defensivas. Os quatro
grandes conceitos, em torno dos quais os americanos deveria estar unidos, não
apenas para si mesmos, mas para todo o mundo, foram os seguintes: liberdade de
expressão, de religião, da penúria e do medo. Esses princípios seriam inscritos
na Carta do Atlântico, que Roosevelt assinou com Winston Churchill, em agosto
de 1941, nas costas do Canadá, e foram consagrados no ano seguinte na Carta das
Nações Unidas, uma espécie de “New Deal for the world”, que seria a base da
Carta da ONU, assinada em San Francisco, em 1944.
Neill
Lochery: Brazil: The Fortunes of War,
World War II and the Making of Modern Brazil (New York: Basic Books, 2014,
314 p.)
O autor é um historiador
britânico, professor de Mediterranean and Middle Eastern Studies do College
University of London, e seu livro está dedicado ao envolvimento do Brasil na
guerra, o que é feito de maneira minuciosa e competente. A introdução da obra
já começa destacando o famoso documento-guia que Oswaldo Aranha preparou para
as conversas de Vargas com Roosevelt, no encontro que ambos tiveram no Rio Grande
do Norte, em janeiro de 1943, uma lista de objetivos de guerra que o Brasil
declarava aos EUA, mas que também podem ser vistos como uma espécie de
planejamento estratégico feito pelo grande chanceler para assegurar uma posição
de realce para o Brasil na ordem internacional que estaria sendo desenhada
pouco mais à frente para assegurar a paz e reconstruir o mundo. Oswaldo Aranha
acreditava, pragmaticamente, que a política tradicional do Brasil, de apoiar os
Estados Unidos no mundo, em troca do seu apoio na América do Sul, deveria ser mantida “até a vitória das armas
americanas na guerra e até a vitória e a consolidação dos ideais americanos na
paz.” Os Estados Unidos iriam liderar o mundo quando a paz fosse restaurada e
seria um grave erro se o Brasil não estivesse do seu lado. Ambas nações eram
“cósmicas e universais”, com características continentais e globais. Ele tinha
plena consciência de que o Brasil era uma “nação economicamente e militarmente
fraca”, mas o seu crescimento natural, ou as migrações do pós-guerra, lhe
dariam o capital e a população que o fariam tornar-se, “inevitavelmente um dos
grandes poderes políticos do mundo”. Pena que Oswaldo Aranha não se tornou
presidente do Brasil.
Henry
Kissinger: World Order (New York:
Penguin Press, 2014, 433 p.)
Trata-se, provavelmente, do
último livro, de tipo conceitual, de um dos mais destacados intelectuais americanos
(de origem germânica), acadêmico de longa carreira, que também se destacou em
atividades executivas, primeiro como conselheiro de segurança nacional, depois
como Secretário de Estado, ator de primeiro plano das relações exteriores dos
Estados Unidos e das próprias relações internacionais, consultor de quase todos
os presidentes americanos desde os anos 1950 e de alguns governos estrangeiros
também. Frustrante para os leitores de nossa região, o livro não devota nem
mesmo um capítulo, sequer uma mísera seção, à América Latina ou ao Brasil, nas
dez grandes unidades da obra, todas elas dedicadas aos grandes atores ou aos
problemas percebidos como relevantes para o estabelecimento ou a preservação de
uma ordem que de fato não existe. Após uma introdução de tratamento conceitual
da questão título, ele dedica dois capítulos à ordem europeia surgida com a paz
de Westfália e o sistema de balanço de poder daí resultante, um ao mundo
islâmico e às desordens do Oriente Próximo, outro voltado exclusivamente para
as relações entre os Estados Unidos e o Irã, dois outros sobre a Ásia (sua
multiplicidade e a emergência de uma ordem “asiática”), dois capítulos inteiros
sobre a diplomacia dos Estados Unidos (a ideia de uma ordem internacional na
tradição wilsoniana e o seu papel atual como “superpotência ambivalente”) e,
finalmente, dois capítulos finais voltados para questões tecnológicas e de
informação e de proliferação, e sobre a evolução provável de uma ordem mundial
ainda largamente indefinida. Para ser mais preciso, a América Latina não
aparece sequer no índice remissivo do livro, embora nele exista a entrada western hemisphere. O Brasil só é
mencionado duas vezes, ambas en passant
e de maneira irrelevante: a primeira para falar sobre o impacto mundial das
revoluções europeias de 1848, a segunda na companhia da Índia (que recebe
tratamento mais amplo nos capítulos asiáticos da obra) como exemplo de nações
emergentes. Fora isso, um grande livro.
Francis
Fukuyama: The Origins of Political Order:
From Prehuman Times to the French Revolution (New York: Farrar, Straus and
Giroux, 2011, 620 p.) e Political Order
and Political Decay: From the Industrial Revolution to the Globalization of
Democracy (New York: Farrar, Straus and Giroux, 2014, 660 p.)
Bom proveito.
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 2782: 16 dezembro 2014
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