Florestan Fernandes
A USP lembra os 20 anos da morte do sociólogo Florestan
Fernandes, cujas ideias morreram antes do homem que as pegou
emprestadas.
Compreendo a natureza da crítica.
FF foi um grande professor de ciências sociais -- antropologia, sociologia, desenvolvimento político, análise comparativa das sociedades latino-americanas, pensamento marxista, etc. -- que, depois do golpe de 1964, enveredou por um caminho do leninismo tardio, o que o fez deformar suas aulas e escritos por uma postura soi-disant revolucionária que expressava, basicamente, sua frustração com os caminhos tomados pelo regime político e econômico no Brasil.
Funcionalista no início de sua carreira, culturalista no bom sentido da palavra, ele se radicalizou a partir da redação daquela que é considerada sua magnum opus, A Revolução Burguesa no Brasil, objeto de leitura atenta de minha parte e que consistiu no foco de minha tese de doutoramento.
Ao examinar, contudo, com a minha lupa desprovida dos a-prioris que ele vinha justamente adquirindo no decorrer dos anos 1960 e 70, passei de uma postura "florestânica" na elaboração do meu projeto de tese, para uma "anti-florestânica" em sua redação final e defesa em banca.
O que me trouxe vários problemas: diretamente e imediatamente com a banca de defesa, em 1984, já que meu orientador era um velho historiador marxista, que não aceitava as críticas que eu tinha a fazer no qu se refere à interpretação marxista tradicional, congelada, das revoluções burguesas, e mais tarde, na academia brasileira, ao apresentar minha visão crítica sobre essa obra do mestre, em face da atitude beata da maior parte dos convertidos, dos discípulos, dos condescendentes com a postura leninista de FF, que me parecia totalmente distante da realidade brasileira, e apenas uma expressão de suas angústias mentais, psicológicas e, também, políticas.
Em todo caso, num colóquio da Unesp de Marília, em homenagem a ele, em 1986, eu fui o único apresentador a ser vaiado pelo público de professores que assistia ao painel sobre sua obra máxima, o que me fez ver que eu tinha razão, e que a academia tinha renunciado a pensar, contentando-se em reverenciar acriticamente o velho mestre.
Depois FF enveredou por um panfletarismo lamentável, visível nos seus artigos semanais na Folha de S. Paulo, e mais tarde na sua participação, como deputado pelo PT, na Constituinte.
Em todo caso, quem tiver interesse em conhecer o que eu escrevi sobre ele, pode recorrer a meus trabalhos a seguir:
Minha tese de doutoramento:
Classes Sociales et Pouvoir Politique au Brésil: une étude sur les
fondements méthodologiques et empiriques de la Révolution Bourgeoise
(Bruxelles: Université Libre de Bruxelles, 1984, Tomes I et II, 503 pp.).
Relação de Trabalhos nº 084.
Ver o sumário aqui:
A apresentação que fiz das conclusões de minha tese no colóquio sobre FF, onde fui vaiado:
“O
Paradigma Perdido: a Revolução Burguesa de Florestan Fernandes”, in Maria
Angela d’Incao (org.), O Saber Militante:
Ensaios sobre Florestan Fernandes (São Paulo-Rio de Janeiro: UNESP-Paz e
Terra, 1987, p. 209-229; ISBN: 85-7139-000-5). Relação de Publicados n.
42; Originais n. 124.
Ver os links aqui:
http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/04Florestan1987.html; disponível Academia.edu
(links: https://www.academia.edu/5546799/001_O_Paradigma_Perdido_a_Revolu%C3%A7%C3%A3o_Burguesa_de_Florestan_Fernandes_1987_ e https://www.academia.edu/attachments/32642223/download_file.
Um artigo derivado dos mesmos argumentos expostos na tese e no capítulo do livro:
Brasília,
1 set. 2005, 19 p. Reelaboração do trabalho sobre FF, Caio Prado Jr. e
Nelson Werneck Sodré (Trabalho n. 630). Publicado na revista Espaço
Acadêmico (a. V, n. 52, set. 2005). Relação de... more; More Info: In: Espaço Acadêmico (a. V, n. 52, set. 2005); Publication Date: Sep 2005
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