Já que estamos falando da "prata da casa" (mais casa do que prata), e antecipando sobre a publicação da revista da ADB, que ainda demorará uns três meses para sair (num momento em que eu provavelmente não vou estar mais inteiramente disponível para esperar sua entrega, permito-me colocar aqui as mini-resenhas já preparadas dos seis livros trimestrais (ou seja, dois por mês) que me couberam por prazer, ofício ou distinção (whatever).
Os do quarto trimestre talvez demorem para sair, a ver. Por enquanto fiquem com estes, e vou logo recomendando o primeiro, ainda que não concorde inteiramente com alguns dos argumentos do autor sobre o regime militar. Mas este é um assunto para uma resenha mais larga.
Paulo Roberto de Almeida
2852. “Prata da Casa, Boletim ADB – 3ro.
trimestre 2015”, Hartford, 11 julho 2015, 3 p. Notas sobre os seguintes livros:
1) Sérgio da Veiga Watson: Reflexões de
um civil sobre as Forças Armadas (Brasília: Thesaurus, 2015, 245 p.; ISBN:
978-85-409-0355-5); 2) Vera Cíntia Álvarez: Diversidade
cultural e livre comércio: antagonismo ou oportunidade? (Brasília: Funag,
2015, 342 p.; ISBN: 978-85-7631-541-4; coleção CAE); 3) Synesio Sampaio Goes
Filho: Navegantes, Bandeirantes,
Diplomatas: um ensaio sobre a formação das fronteiras do Brasil (ed. rev. e
atual.; Brasília: Funag, 2015, 409 p.; ISBN: 978-85-7631-544-5; coleção
História Diplomática); 4) Sérgio Eduardo Moreira Lima (org.): Visões da obra de Hélio Jaguaribe (Brasília:
Funag, 2015, 135 p.; ISBN: 978-85-7631-539-1) ; 5) Benjamin Mossé: Dom Pedro II: Imperador do Brasil (O
Imperador visto pelo barão do Rio Branco) (Brasília: Funag, 2015, 268 p.;
ISBN: 978-85-7631-551-3); 6) Sérgio Eduardo Moreira Lima (ed.): Global governance, Crossed perceptions (Brasília:
Funag, 2015, 444 p.; ISBN: 978-85-7631-538-34; coleção eventos). Revista da Associação dos Diplomatas
Brasileiros, ADB (ano 22, n. 89, julho-agosto-setembro 2015, p. 3x-3x; ISSN:
0104-8503).
Prata da Casa - Boletim ADB: 3ro.
trimestre 2015
Paulo Roberto de Almeida
Boletim da Associação dos Diplomatas
Brasileiros
(ano
23, n. 90, julho-agosto-setembro 2015, p. 3x-3x; ISSN: 0104-8503)
(1)
Sérgio da Veiga Watson:
Reflexões
de um civil sobre as Forças Armadas
(Brasília: Thesaurus, 2015, 245 p.; ISBN:
978-85-409-0355-5)
Como diz o título, se trata de reflexões, mas elas são absolutamente
sinceras e feitas em tom coloquial, ademais de embasadas num vasto conhecimento
pessoal, em leituras e pesquisas, com um rico suporte bibliográfico (e na filmografia)
sobre o papel das FFAA no Brasil (e em países do Cone Sul), uma trajetória de
alternância entre, de um lado, experimentos democráticos e governos civis, e
golpes e governos militares, de outro. Sem esconder um viés antimilitarista e
abertamente contrário à ditadura militar brasileira, o autor faz uma leitura honesta
dessa complicada relação. O ponto final, dado no cinquentenário do golpe,
convida as FFAA a, finalmente, reconhecer os lamentáveis excessos cometidos
naquele período e a se desvincular dos torturadores. Um livro que demorou quarenta
anos para ser escrito; deve ser saudado com uma bela continência.
(2)
Vera Cíntia Álvarez:
Diversidade
cultural e livre comércio: antagonismo ou oportunidade?
(Brasília: Funag, 2015, 342 p.; ISBN:
978-85-7631-541-4; coleção CAE)
Diversidade cultural é um fato razoavelmente bem aceito atualmente,
sobretudo em tempos e ambientes politicamente corretos. Livre comércio, por sua
vez, já é objeto de controvérsias, alguns dizendo que não existe, outros
sabotando-o deliberadamente, se por acaso existir. Os mesmos acham que a
globalização mata a diversidade, impondo uma homogeneidade artificial. O
subtítulo do livro já denota alguma dúvida sobre essa relação problemática,
sobretudo no plano do sistema multilateral de comércio (onde o tema tem um
estatuto muito ambíguo). A obra mapeia a questão, inclusive a “astúcia do poder
econômico para perpetuar hegemonias” (p. 248), e parece que o perigo aqui vem
das “pressões dos EUA” (quem diria?). Até quando o Brasil e os europeus
temerosos vão continuar na defensiva, apelando para a Unesco e os amigos da
diversidade?
(3)
Synesio Sampaio Goes Filho
Navegantes,
Bandeirantes, Diplomatas: um ensaio sobre a formação das fronteiras do Brasil
(ed. rev. e atual.; Brasília: Funag, 2015,
409 p.; ISBN: 978-85-7631-544-5; coleção História Diplomática)
O autor vem navegando com este livro desde 1982, e ele já atravessou
pântanos, corredeiras e despenhadeiros, para converter-se no que é hoje,
apropriadamente, um clássico de nossa historiografia das fronteiras, na
companhia do Barão, de Hélio Vianna, de Jaime Cortesão e de outros
especialistas e negociadores, sem esquecer bandeirantes e diplomatas, que também
deram sua contribuição para o Brasil ser o que é, desde o início da República.
Nesta nova edição, o livro traz mais mapas e acrescenta revisões feitas a
partir de suas outras encarnações, inclusive comerciais. O autor, tanto por esta
obra de síntese didática e interpretativa, como pelas suas aulas no Instituto
Rio Branco e outros trabalhos publicados, merece ser incluído entre os
diplomatas-historiadores, uma distinção que vale tanto quanto ser classificado
de grande negociador em prol do país.
(4)
Sérgio Eduardo Moreira Lima (org.):
Visões
da obra de Hélio Jaguaribe
(Brasília: Funag, 2015, 135 p.; ISBN:
978-85-7631-539-1)
Em 2013, o IHGB acolheu um evento em homenagem aos 90 anos do
pensador do nacionalismo brasileiro e da integração no Cone sul. Coube ao
diplomata Samuel Pinheiro Guimarães analisar sua contribuição para a diplomacia,
o que fez enfatizando a “notável atualidade nas ideias que [HJ] defendeu para a
política externa” (p. 81). Para “demonstrar” essa atualidade, destacou trechos
do livro O Nacionalismo na Atualidade
Brasileira, de 1958, indicando as similaridades com as políticas e posturas
defendidas desde 2003 pela diplomacia brasileira, da qual ele foi um dos
principais ideólogos. As mesmas oposições à época destacadas por HJ, entre o
capital estrangeiro e o nacional, a autonomia ou a submissão ao império, a
união da América Latina para “neutralizar o poder de retaliação dos Estados
Unidos” (p. 89), seriam válidas ainda hoje. CQD...
(5)
Benjamin Mossé:
Dom
Pedro II: Imperador do Brasil (O Imperador visto pelo barão do Rio Branco)
(Brasília: Funag, 2015, 268 p.; ISBN:
978-85-7631-551-3; História diplomática)
Benjamin Mossé, grande rabino de Avignon, foi apenas a marca de
fábrica, como se diz. O verdadeiro ghost
writer desta biografia, menos ghost
e mais writer, foi o barão, como já
se sabia, e como destaca Luis Cláudio Villafañe em seu prefácio. A edição
original do livro, de 1889, em francês, e a primeira edição em português (1890),
encontram-se disponíveis na openlibrary. Mossé, sozinho, teria feito uma
biografia medíocre, e altamente encomiástica, do seu amigo que estudava
hebraico e a história judaica. O barão escreveu, não só uma verdadeira
biografia do monarca, mas uma história completa do Brasil, incluindo Dom Pedro
I e todos os problemas dos dois reinados do período monárquico: guerras
platinas, escravidão, a emancipação gradual e a abolição, as viagens do
imperador. Ainda elogioso, o barão, mas com bom conteúdo.
(6)
Sérgio Eduardo Moreira Lima (ed.):
Global
governance, Crossed perceptions
(Brasília: Funag, 2015, 444 p.; ISBN:
978-85-7631-538-34; coleção eventos)
O editor “preservou”,
como prefácio ao livro, as palavras introdutórias do verdadeiro organizador do
seminário que lhe deu origem, uma colaboração com a Universidade de Bolonha, promovida
pelo ex-presidente da Funag, Emb. José Vicente Pimentel. Foi ele quem assinou,
em 2012, o acordo de cooperação ao abrigo do qual foi realizado o encontro, no
Rio, em 2013, que também dirigiu. Ele convidou 17 peritos, entre os quais um
único diplomata brasileiro, o Secretário de Assuntos Internacionais da Fazenda,
Carlos Márcio Cozendey. Mas este tratou da União Europeia e da governança
global à luz da Grande Recessão, na segunda parte, que tratou do papel da
Europa. A primeira se ocupou do papel da China e dos EUA, e as duas últimas dos
emergentes, da América Latina e da Ásia e da África. Percepções bem
fundamentadas em todo caso.
Paulo
Roberto de Almeida
Hartford,
5 de agosto de 2015.
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