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segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Reeleição ou derrota do candidato americano incumbente? - Paulo Roberto de Almeida

 Reeleição ou derrota do candidato americano incumbente? 

Mini-reflexão histórica sobre um dos piores sistemas eleitorais do mundo contemporâneo

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 2 de novembro de 2020


São raros, na história política americana, os presidentes que não conseguem se reeleger no cargo. 

Na história recente, apenas um Democrata, Jimmy Carter, e um Republicano, George Bush pai, realizaram tal “proeza”. 

Na Depressão, o Republicano Herbert Hoover não o conseguiu contra o Democrata Franklin Delano Roosevelt, um campeão de reeleições (que foram então limitadas a um único e definitivo segundo termo). 

Lyndon Johnson, um Democrata do Texas, desistiu de tentar, na segunda metade dos anos 1960, por causa da guerra do Vietnã, iniciada por John Kennedy, assassinado no primeiro mandato, em novembro de 1963.


Retrospectivamente, pouco mais de um século atrás, em plena Grande Guerra, Woodrow Wilson, um Democrata do Sul (o primeiro desde a guerra civil, e um notório racista), só ganhou por estreita margem no Colégio Eleitoral por ter acusado seu rival Republicano, Charles Hughes, de ser “the war candidate” e de estar a serviço dos “aproveitadores de Wall Street”, que estavam lucrando alto com as exportações para os países beligerantes da Europa (dos dois lados).

Wilson só prevaleceu no Colégio Eleitoral graças a uma pequena margem de 3.755 votos da Califórnia, e foi o primeiro Democrata a conseguir se reeleger para um segundo mandato desde Andrew Jackson nos anos 1830, isto porque uma larga fração do eleitorado americano expressou seu desejo de manter os EUA fora da guerra europeia. 

Mas, no ano seguinte, 1917, Wilson declarava guerra aos Impérios centrais, e o ingresso dos EUA no teatro do norte da Europa foi o fator principal que determinou a vitória da Entente contra o Reich alemão.


Atualmente, Donald Trump baseia parte de sua campanha pela reeleição pelo fato de não ter iniciado nenhuma nova guerra e por estar retirando tropas americanas de teatros estrangeiros de guerra (o que não é exatamente verdade, e generais do Pentágono hesitam, por razões de “estabilidade estratégica”, em fazer os EUA se retrairem do Oriente Médio e da Ásia Pacífico).

Talvez, o principal fator de uma eventual derrota de Trump no Colégio Eleitoral — os Republicanos sempre perdem no voto popular — seja a pandemia da Covid, que desempenharia, assim, um papel similar (mas não semelhante) ao da guerra do Vietnã para Lyndon Johnson. 

Independentemente de sua inevitável derrota no voto popular e provável insuficiência de votos no Colégio Eleitoral, Trump parece disposto a provocar a maior confusão imediatamente após o encerramento do processo de votação neste 3 de novembro de 2020.

Talvez seja um tumulto ainda maior do que aquele que ocorreu em 2000 por causa de poucos votos na Florida, cuja recontagem foi interrompida pela Suprema Corte e porque o candidato Democrata Al Gore, vencedor no voto popular nacional, resolveu conceder a vitória ao opositor Republicano George Bush filho.


O sistema eleitoral americano é a coisa mais irracional e anacrônica que existe, e que só persiste porque uma minoria de supremacistas brancos insiste em controlar as circunscrições eleitorais de uma maneira que os favoreça.

Mas, o peso eleitoral da maioria branca deixará de sê-lo em poucos anos mais: persistirá o sistema esquizofrênico atual?

Veremos, em pouco tempo mais, se a Suprema Corte será novamente chamada a dirimir os efeitos nefastos de um sistema eleitoral notoriamente e monstruosamente anacrônico. 


Os EUA estão precisando de um novo Tocqueville para apontar claramente os graves defeitos da democracia americana, que ele tinha saudado de maneira entusiástica (mas também com reservas “aristocráticas) cerca de 190 anos atrás.

Mais recentemente, eu “enviei” Tocqueville duas vezes ao Brasil e à América Latina, a serviço do Banco Mundial, para examinar nossas idiossincrasias políticas e econômicas, em dois ensaios que fazem parte de minha série de “clássicos revisitados”. Talvez eu cogite de uma terceira missão, pois o estado de nossa “democracia” se deteriorou terrivelmente desde suas duas precedentes visitas.


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 2/11/2020


PS: Minhas "missões" de Tocqueville por aqui: 

2035. “De la Démocratie au Brésil: Tocqueville de novo em missão”, Brasília, 10 agosto 2009, 10 p. Resumo de relatório da missão ao Brasil empreendida por Alexis de Tocqueville, a pedido do Banco Mundial, para determinar a situação do Brasil em termos de democracia e de economia de mercado. Espaço Acadêmico (ano 9, n. 103, dezembro 2009, p. 130-138; ISSN: 1519-6186; link: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/8822 ; pdf: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/8822/4947). Postado no blog Diplomatizzando (12/07/2011; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2011/07/tocqueville-de-novo-em-missao-o-brasil.html). Relação de Publicados n. 939.


2958. “Da democracia na América do Sul: o que Tocqueville diria das atuais mudanças políticas e econômicas no continente?”, Brasília, 13 abril 2016, 43 p. Notas para palestra na UnB, em 14/04/2016. Inserido em formato pdf na plataforma Academia.edu (https://www.academia.edu/s/7fe09f1081) e anunciado no blog Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/04/da-democracia-na-america-do-sul.html). Feita nova versão, em 20/05/2016, sob o título de “Tocqueville revê a agruras da democracia na América do Sul”, In: Camilo Negri, Elisa de Sousa Ribeiro (coords.), Retratos sul-americanos: perspectivas brasileiras sobre história e política externa, vol. IV (Brasília, DF: [s. n.], 2016, livro eletrônico. – Kindle eISBN: 978-85-448-0286-1, p. 10-56). Relação de Publicados n. 1238.


3284. “De la (Non) Démocratie en Amérique (Latine): a Tocqueville report on the state of governance in Latin America”, Brasília, 9 junho 2018, 41 p. Paper presented in the Estoril Political Forum; round-table “Brazil and Latin America: the challenges ahead”; postado em Academia.edu (link: https://www.academia.edu/s/a4cbf778cf/de-la-non-democratie-en-amerique-latine-a-tocqueville-report-on-the-state-of-governance-in-latin-america), em Research Gate (link: https://www.researchgate.net/publication/325809199_De_la_Non_Democratie_en_Amerique_Latine_A_Tocqueville_report_on_the_state_of_governance_in_Latin_America); divulgado no blog Diplomatizzando (17/06/2018; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/06/de-la-non-democratie-en-amerique-latine.html). Publicado na Revista de Estudos e Pesquisas Avançadas do Terceiro Setor, REPATS (vol. 5, n. 1, janeiro-junho 2018, p. 792-842; ISSN: 2359-5299; link: https://portalrevistas.ucb.br/index.php/REPATS/article/view/10020/5909DOI:http://dx.doi.org/10.31501/repats.v5i1%20Jan/Jun.10020). Relação de Publicados n. 1289.



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