Reproduzo abaixo uma postagem de meu amigo e colega diplomata Stelio Amarante sobre o processo de “self-depletion” da e na Argentina, destruída pelos seus próprios dirigentes, em especial Perón, mas também dirigentes de outras correntes.
“A causa principal do empobrecimento da Argentina foi a fuga de imensa parcela do capital que se havia acumulado durante as primeiras décadas do século passado.
O agrobusiness (trigo, carne e lã) havia naqueles tempos dourados elevado a renda Argentina a níveis estratosféricos. Teve início porém lá pelos anos 30 e 40 um encadeamento catastrófico. O país tinha população pequena e sem mercado interno que sustentasse processo industrial. Teve início a migração de capital argentino para os mercados financeiros da Europa e da América do Norte. Com os imigrantes chegaram também as conflitivas ideologias políticas europeias: comunismo, fascismo, anarquismo e nazismo, criando um ambiente que acentuou a fuga de capitais argentinos. A versão argentina do fascismo mussolínico, o Peronismo, foi porém a mais assustadora onda a induzir os detentores de capital a se protegerem, transferindo recursos para o exterior. Dizem que os capitais argentinos entranhados nos mercados financeiros internacionais há muito tempo superam as reservas oficiais do país.
A política econômica assistencialista iniciada com Perón gerou outro monstro, a inflação, devastadora de capital e rebaixador do padrão de vida das classes assalariadas.
Gradualmente, a perda de confiança na moeda argentina levou a uma dolarização dos meios de pagamento. Das cidades em que vivi, Buenos Aires foi a única em que não abri conta bancária. Apenas usava, como todos os amigos argentinos, cartão de crédito. Quando chegava o dia de pagar a conta mensal, trocava dólares.
Quem vá a Buenos Aires hoje em dia achará ainda deslumbrante o comercio da zona elegante da cidade. Pois ele é sustentado pelo consumo dos detentores de recursos aplicados no exterior, que trazem a conta-gotas para a Argentina os dividendos de seus investimentos fora.
íFuncionários e trabalhadores que sobrevivem nesta atmosfera pouco oxigenada trocam lucros e saldos salariais por dolares. Não há forma de governo, arcabouço fiscal, genialidade de economista de Chicago, Viena ou PUC Rio que consiga trazer para a Argentina parcela substancial do dinheiro aplicado fora.
Esperemos que fenômeno semelhante não nos faça perder capital em benefício de terceiros países. A Bolsa que detecta este medo, já desceu de 120 mil pontos para menos de 100 mil…”
Stelio Amarante
Comentário de Dalton Melo de Andrade:
“ Comentários pertinentes. Cheguei a comprar sapatos excelentes por um dólar! (1974,1975). Quando trabalhei na OEA, tinha um bom amigo argentino, Rodolfo Martinez, ex-Ministro de Frondizi, Professor de Ciências Políticas da Universidade de Buenos Aires, então Diretor Cultural da Organização. Perguntei-lhe, numa das nossas conversas, como ele explicava o problema de seu país; respondeu, com uma palavra, Peron.”
Resposta do Stelio:
“Dalton Melo de Andrade: Verdade. Perón foi o “Anjo exterminador” da Argentina. Nosso Getúlio Vargas, também adepto da escola fascista salazarista, era muito mais inteligente e soube modernizar o Brasil, sobretudo através do excelente DASP, que racionalizou os serviços públicos, contendo o chamado “empreguismo” que atualmente consome imensa parcela do PIB e nos oferece pífios serviços públicos.”
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