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domingo, 8 de setembro de 2013

Cruzada anti-idiotas; entrevista com Olavo de Carvalho - Marco Rodrigo Almeida (FSP)

Folha de S.Paulo, 08/09/2013 - 03h10

Cruzada anti-idiotas | Entrevista com Olavo de Carvalho

MARCO RODRIGO ALMEIDA

RESUMO Novo livro de Olavo de Carvalho, que reúne ensaios publicados em jornais e revistas, tornou-se um best-seller quase instantâneo. Em entrevista, o filósofo radicado nos EUA analisa criticamente tanto a esquerda brasileira como uma parte da "direita nascente", que ele diz serem formadas e formadoras de idiotas.
*
O mínimo que todo mundo precisa saber para não ser um idiota não é tão mínimo assim. Ao menos na visão de Olavo de Carvalho, ela engloba quase 200 textos, espalhados por 616 páginas. Abarca uma miríade de temas --como história, democracia, religião, ciência, linguagem, educação, guerra (mas não só). Todo esse material, publicado originalmente pelo filósofo em jornais e revistas entre 1997 e 2013, é agora reunido em "O Mínimo que Você Precisa Saber para Não Ser um Idiota" [Record; 616 págs.; R$ 51,90].

Felipe Moura Brasil foi responsável pela seleção do material. "E agora o reparto com você, leitor, na esperança de que também se afaste da condição de bichinho e se eleve à altura dos anjos", escreve o jornalista na empolgada apresentação do volume.
Apontar um idiota, reconhece o livro, é tarefa fácil. Mais difícil é não sê-lo, nem fazer papel de um. Na nada modesta cruzada de livrar o leitor de toda forma de idiotice, o volume elege como alvo principal o pensamento de esquerda que considera hegemônico no país.
Dispara contra políticos e intelectuais (também sobra munição para a "direita nascente"), artistas, o MST, o movimento gay e as recentes manifestações no país. O autor destas parcas linhas também leva seu quinhão de farpas.

Olavo de Carvalho é um dos principais representantes do pensamento conservador no Brasil. Publicou diversos livros ("O Imbecil Coletivo", "O Futuro do Pensamento Brasileiro") e criou o site Mídia sem Máscaras (www.midiasemmascara.org).
Seus textos e aulas on-line têm conquistado um público fiel ao longo dos anos. O novo livro vendeu em apenas uma semana, segundo a editora Record, 10 mil exemplares. Dos Estados Unidos, onde vive desde 2005, Olavo de Carvalho concedeu à Folha a seguinte entrevista por e-mail.
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Folha - O título do livro é um tanto provocativo, até mesmo para atrair o leitor. Mas não seria pouco filosófico chamar de "idiota" quem não compartilha certas ideias?
Olavo de Carvalho - Ninguém é ali chamado de idiota por "não compartilhar certas ideias", e sim por pretender julgar o que não conhece, por ignorar informações elementares indispensáveis e obrigatórias na sua própria área de estudo ou de atuação intelectual.
Nesse sentido, creio ter demonstrado meticulosamente, neste e em outros livros, que alguns dos principais líderes intelectuais da esquerda brasileira, assim como uns quantos da direita nascente, são realmente idiotas e fabricantes de idiotas.

O sr. comenta que a normalidade democrática é a concorrência "efetiva, livre, aberta, legal e ordenada" entre direita e esquerda. Mas também que todo esquerdista é "mau, sem exceção". Como é possível equilibrar esses dois aspectos?
Depende do que você chama de esquerda. Há uma esquerda que aceita concorrer democraticamente com a direita, sair do poder quando perde as eleições e continuar disputando cargos normalmente sem quebrar as regras do jogo. O Partido Trabalhista inglês é assim. Nosso antigo PTB era assim. Disputavam o poder, mas sabiam que, sem uma oposição de direita, perderiam sua razão de ser.
Há uma segunda esquerda que deseja suprimir a direita pela matança dos seus representantes reais ou imaginários. Esta governa Cuba, a China, a Coreia do Norte etc., assim como governou a URSS e os países satélites.
Há uma terceira esquerda que, aliada da segunda, diverge dela em estratégia: pretende conquistar primeiro a hegemonia, de modo que, nos termos de Antonio Gramsci, o seu partido se torne "um poder onipresente e invisível, como um mandamento divino ou um imperativo categórico"; e, em seguida, tendo controlado a sociedade por completo, apossar-se do Estado quando já não haja nem mesmo a possibilidade remota de uma oposição de direita. Só aí virá um toque de violência, para dar acabamento à obra-prima.
A existência da primeira esquerda é essencial ao processo democrático. A segunda e a terceira devem ser expulsas da política e dos canais de cultura porque sua essência mesma é a supressão de todas as oposições pela violência ou pela fraude e porque se infiltram na primeira esquerda, corrompendo-a e prostituindo-a.
Ninguém pode apoiar esse tipo de esquerda por "boa intenção". Você já viu algum militante dessa esquerda sonhar em implantar o socialismo e depois ir para casa e viver como um humilde operário do paraíso socialista? Eu nunca vi.
Cada militante se imagina um futuro primeiro-ministro ou chefe da polícia política. Quando matam, é para conquistar o direito de matar mais, de matar legalmente. São porcos selvagens -sem ofensa aos mimosos animais.

O sr. argumenta que o brasileiro é maciçamente conservador, mas desprovido de representação política. Por que não temos políticos e partidos que tomem tal bandeira?
Já está respondido na pergunta anterior. O método da "ocupação de espaços" realizou no Brasil o ideal gramsciano de fazer com que todo mundo nas classes falantes seja de esquerda mesmo sem sabê-lo, de modo que toda ideia que pareça "de direita" já seja vista, instintivamente, sob uma ótica deformante e caluniosa, com chances mínimas ou nulas de argumentar em defesa própria.
Suas próprias perguntas ilustram o sucesso dessa operação no Brasil. Você pode não ser um militante de esquerda, mas raciocina como se fosse, porque na atmosfera mental criada pela hegemonia esquerdista isso é a única maneira "normal" de pensar, às vezes a única maneira conhecida.
Por isso, você, ao formular as perguntas, fala em nome dos meus críticos de esquerda, como se eles, e não o público que gosta do que escrevo, fossem os juízes abalizados aos quais devo satisfações.

Suas ideias podem ser consideradas de direita?
Algumas sim, outras não. Nem tudo no mundo cabe numa dessas categorias. Você não viu a turma da direita enfezada cair de paus e pedras em cima de mim quando afirmei que homossexualismo não é doença nem "antinatural"? É ridículo tomar uma posição ideológica primeiro e depois julgar tudo com base nela por mero automatismo, embora no Brasil de hoje isso seja obrigatório.

Em quais pontos suas ideias podem ser classificadas de direita e em quais não?
Não tenho a menor ideia, nem me interessa. O coeficiente de esquerdismo ou direitismo está antes nos olhos do observador e varia conforme as épocas e os lugares.
Só gente muito estúpida --isto é, a esquerda brasileira praticamente inteira-- imagina que direita e esquerda são categorias metafísicas imutáveis, a chave suprema para a catalogação de todos os pensamentos.
Outros, principalmente na direita, dizem que direita e esquerda não existem mais, o que é também uma bobagem, porque basta uma corrente se autodefinir como "de esquerda" para que todos os que se opõem a ela passem a ser julgados como se fossem a "direita", querendo ou não. A esquerda define-se a si mesma e define seu adversário, por menos que este se encaixe objetivamente na definição.
Nos EUA, alinho-me nitidamente à direita, porque ela existe como agente histórico, é definida e é autoconsciente, mas no Brasil essas coisas são uma confusão dos diabos na qual prefiro não me meter. O sr. Lula não foi, na mesma semana, homenageado no Fórum Econômico de Davos por sua adesão ao capitalismo e no Foro de São Paulo por sua fidelidade ao comunismo?
A última moda na esquerda nacional é cultuar o russo Alexandre Duguin, que é o suprassumo do reacionarismo, enquanto na "direita liberal" muitos adoram abortismo e casamento gay, pontos essenciais da estratégia esquerdista. Prefiro manter distância da direita brasileira, seja isso lá o que for.

No capítulo sobre o golpe de 64, o senhor diz que Castelo Branco foi "um grande presidente", e Médici, "o melhor administrador que já tivemos". Comenta ainda que está na hora de repensar o governo militar. Qual é sua opinião hoje?
No Brasil de hoje não se pode louvar um mérito específico e limitado sem que imediatamente a plateia idiota transforme isso numa adesão completa e incondicional. Neste país, as pessoas, mesmo com algo que chamam de "formação universitária", só sabem louvar ou condenar em bloco, perderam totalmente o senso das comparações, das proporções e das nuances. Isso é efeito de 30 anos de deseducação.
Os méritos dos governos militares no campo econômico, administrativo e das obras públicas são óbvios e, comparativamente, bem superiores a tudo o que veio depois. Ao mesmo tempo, esses governos destruíram a classe política, infantilizaram os eleitores e, por timidez caipira de entrar na guerra ideológica ostensiva, preferiram matar comunistas no porão (embora em doses incomparavelmente menores do que os próprios comunistas matavam em Cuba ou no Camboja) em vez de mover uma campanha de esclarecimento popular sobre os horrores do comunismo. Tudo isso foi uma miséria.
Foi o que eu sempre disse, mas, hoje em dia, se você reconhece uma pontinha de mérito em alguém, já o transformam em devoto partidário dele. Não distinguem nem mesmo entre aplaudir um governo enquanto ele está no poder e tentar avaliá-lo com algum senso de objetividade histórica depois de extinto, mesmo se você, como foi o meu caso, o combateu enquanto durou. O fanatismo idiota tornou-se obrigatório. É disso que o meu livro fala.

O sr. é bastante crítico ao movimento gay. Não acredita que ele foi o responsável por conquistas importantes?
No começo, quando lutava apenas contra a discriminação e a violência anti-homossexual, esse movimento parecia bom e necessário. Mas isso foi só a fachada, a camuflagem do que viria depois: um projeto de dominação total que proíbe críticas e não descansará enquanto não banir a religião da face da Terra ou criar em lugar dela uma pseudorreligião biônica, dócil às suas exigências.

O que o sr. pensa sobre o projeto da cura gay?
Ninguém pede ajuda a um psicólogo para livrar-se de uma conduta indesejada se é capaz de controlá-la pessoalmente ou se não quer abandoná-la de maneira alguma. Quando alguém vai a uma terapia com o propósito de livrar-se do homossexualismo, é porque não o vivencia como uma tendência natural da sua pessoa, e sim como uma compulsão neurótica que o escraviza.
É bem diferente de alguém que é homossexual porque quer, ou de alguém que deixou de ser homossexual porque quis e teve forças para isso. Proibir o tratamento de uma compulsão é torná-la obrigatória, é fazer de um sintoma neurótico um valor protegido pelo Estado. É uma ideia criada por psicopatas e aplaudida por histéricos.

O sr. apoiou a invasão do Iraque em 2003. Nos anos seguintes, vários abusos e atrocidades dos soldados americanos foram divulgados. Acredita que, no saldo geral, a guerra foi positiva?
Não apoiei a invasão do Iraque. De início fui contra. Foi só depois, quando os americanos começaram a exumar os cadáveres das vítimas de Saddam Hussein e viram que eram mais de 300 mil, que comecei a achar que a guerra era moralmente justificável.
Das tais "atrocidades americanas", a maioria é pura invencionice, e as genuínas, inevitáveis em qualquer guerra, nem de longe se comparam ao que Saddam Hussein fez contra o seu próprio povo em tempo de paz.
A guerra, em si, foi positiva do ponto de vista moral, mas a tentativa de forçar o Iraque a adotar uma democracia de tipo ocidental foi ridícula e suicida. A primeira Guerra do Golfo foi bem-sucedida porque se limitou às metas militares, sem sonhos "neocons" de reformar o mundo.

E como o sr. avalia as recentes manifestações em cidades do Brasil?
Tudo começou como uma tentativa de golpe, planejada pelo Foro de São Paulo [coalizão de partidos de esquerda latino-americanos] e pelo governo federal para fazer um "upgrade" no processo revolucionário nacional, passando da fase de "transição" para a da implantação do socialismo "stricto sensu".
Isso incluía, como foi bem provado, o uso de gente treinada em guerrilha urbana para espalhar a violência e o medo e lançar as culpas na "direita". Aconteceu que os planejadores perderam o controle da coisa quando toda uma massa alheia à esquerda saiu às ruas, e eles decidiram voltar atrás e esperar por uma chance melhor. Isso foi tudo. Não há um só líder da esquerda que não saiba que foi exatamente isso.

domingo, 1 de setembro de 2013

Folha: nao li e nao gostei! Uai, pelo menos dos titulos

Nada posso afirmar sobre o conteúdo, ao qual não tive acesso (ainda; mas se alguém quiser me mandar a matéria, agradeceria), mas a julgar pelos títulos, a matéria é totalmente fora de foco.
Eduardo Saboia como o "nosso Snowden"????
Ou que ele vire o "queridinho da oposição"???
Ou a jornalista não entendeu nada, ou a redação da Folha extrapolou totalmente.
Em todo caso, os títulos desse caderno dominical da FSP são absolutamente inadequados para o caso em questão.
Paulo Roberto de Almeida

31/08/2013 - 04h00
'Folha 10' traz análise sobre diplomata que ajudou na fuga de boliviano

A revista digital "Folha 10" desta semana destaca a análise da repórter especial Patrícia Campos Mello sobre o diplomata Eduardo Saboia, que participou da fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina para o Brasil.
O colunista Vinicius Torres Freire recorda algumas das respostas que o governo deu aos apagões que aconteceram nos últimos anos.
Confira também a análise sobre a fala de Barack Obama em homenagem aos 50 anos da Marcha sobre Washington -- o vídeo com o discurso de Martin Luther King está disponível para os usuários de iPad.

Leia também nesta edição
1 - O nosso Snowden
Patrícia Campos Mello: É irônico que Saboia vire o queridinho da oposição
2 - Surpresas no Itamaraty
Editorial: Dilma substitui Patriota por chanceler que ainda é uma incógnita
3 - Um sonho incompleto
Editorial: Obama enaltece Luther King, mas relembra desigualdade econômica
4 - Um sonho incompleto
Editorial: Obama enaltece Luther King, mas relembra desigualdade econômica
5 - Recordar é viver: apagões
Vinicius Torres Freire: Dada a frequência do problema, o público mereceria explicação
6 - Moda é cultura
Marta Suplicy: Sem famosos, não teremos condição de projetar nossas confecções
7 - Barganha médica
Por economia, 11 cidades decidem trocar profissionais para ficar com os do Mais Médicos
8 - Milhões expostos
Brechas em sites do Bradesco e do Banco do Brasil expõem seus clientes
9 - Piada de mau gosto
Gestora ambiental é barrada em voo para a Indonésia por menção a terrorismo
10- Melhor da semana
Queda de prédio na zona leste de SP foi destaque; veja essa e outras fotos

sábado, 29 de junho de 2013

Popolo mobile: pesquisa de opiniao politica: to the brink, inesperadamente

Brazil Focus – David Fleischer
Special Report-29-06-13 

New Datafolha Poll – Dilma down 27 points

Datafolha conducted a new poll on 27-28 June - two weeks after the massive street demonstrations began that reached over 100 cities in Brazil, complaining that “we don’t feel represented by the political class” – meaning the three powers of the federal government as well as the state and municipal governments.

This poll interviewed 4,717 voters in 196 municípios with a two-point margin of error.  The previous poll was conducted on 6-7 June – where the approval rating of Pres. Dilma declined by eight points (65%57%).  The Folha de São Paulo published this poll on Saturday, 29th June and the results should have a very heavy impact on the strategies of the Dilma government as of 1stJuly.

In this latest poll, her approval rating fell by yet another 27 points to just 30%, while the “Bad/Terrible” rating jumped up 9%25%.  This is the most dramatic change ever detected byDatafolha in such a short (three-week) period – since March 1990, when Pres. Collor imposed his economic plan that confiscated Brazilians’ savings (71%36%)!!!

In December 2005, after the explosion of the mensalãoscandal, Lula’s approval rating dropped to 30%.  The worst approval rating for Pres. Cardoso was 13% in September 1999.  

On the other hand, 68% of those interviewed favored the convocation of a national plebiscite.

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Comments by Tim Power: 

DataFolha: the way they present the numbers is never easy to digest. It's best to subtract ruim/péssimo from ótimo/bom (and leave out the regulares) to get the net approval (positives minus negatives). It would look like this overall:

in March: net +55 points of popularity
on June 6-7: net +46
and now June 27-28: net +5 (the largest recorded drop since Plano Collor)

Doing the same by region with the newest numbers:

Southeast:  +4
South:  -1
Northeast:  +24
North/Center-West: +4 (always distorted by DF)
Overall:  +5

And then the same with MW income brackets:

less than 2 MW: +12
from 2-5 MW: +3
from 5-10 MW: -6
over 10 MW: -12
Overall: +5

These numbers are very interesting: they are like peeling an onion. When things go wrong and you strip away the "soft" support for a popular president, you see the "hard core" of the loyal base. The hard core for Dilma looks an awful lot like the hard core for Lula.

Lula underwent his only popularity meltdown in 2005 because of the mensalão. Here is his "bad year" from May 2005 to the point at which he recovers previous levels of net popularity in mid-2006 (the scandal broke on June 6, 2005):

LULA NET POPULARITY
May-05    21.00
Jun-05    21.00
Jul-05    20.30
Aug-05    16.05
Sep-05    11.80
Oct-05    7.05
Nov-05    2.30
Dec-05    6.90
Jan-06    11.50
Feb-06    16.10
Mar-06    14.80
Apr-06    13.50
May-06    16.23
Jun-06    18.97

So it took Lula about 5 months of twisting in the wind with the mensalão scandal to get to his lowest point, which was +2. Dilma is more or less there already, and it took her 3 weeks, not 5 months. So the Dilma collapse is much more spectacular than Lula's: it's like the difference between running out of gas versus running into a telephone pole.

A few quick thoughts:

1. In terms of distance from the onset of crisis (June 2005 and June 2013) to the next presidential election, the electoral calendar is identical: each president had/has a time horizon of 15 months before facing reelection.

2. It took Lula about 7 months to recover the popularity he enjoyed before the onset of mensalão: a long time, but still with time to spare before the campaign heated up.

3. BUT: Lula needed 7 months at the very height of the commodity boom. The economy was then growing at around 4% with inflation also around 4%: rising expectations. Dilma will probably have equivalent numbers of 2% and 7% over the next year: not as easy to claw her way back in the current economic scenario.

4. On the positive side for Dilma, the numbers for the poor and for the Northeast show a very similar firewall for both presidents. Lula had an obvious base onto which he could retreat and then rebuild from there; that's what he did in 2006. He got beat up badly in the South but it didn't matter much in the end. The numbers show pretty much a similar scenario for Dilma. She remains in a comfortable position among the poor and very secure indeed (+24 points) in the Northeast.

5. If these trends hold for a while, they might (a) make it difficult for a challenger to emerge from the Northeast (like Eduardo Campos), and (b) encourage a future opposition candidate, predictably, to start building off the "old" middle class and the South/Southeast. That's a losing strategy, as Geraldo Alckmin showed us in 2006.

6. But: you can't beat somebody with nobody. So far the wave of protests has not advantaged any single party or candidate in a meaningful way, and that is good news for Dilma. There is still a path to reelection by default.

7. Never underestimate the capacity of the Brazilian political system to absorb dissent!

Warning: in the current scenario, these comments have a short shelf life. I am only certain about the last one :-)


Tim
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Calor do asfalto ‘derrete’ Dilma e reabre 2014
Josias de Souza
29/06/2013 08:28

Digamos que há três semanas Dilma Rousseff tinha fama de gerentona, 57% de popularidade, uma coligação gigantesca, uma reeleição garantida e um padrinho chamado Lula. A situação dela agora é a seguinte: precisa verificar, urgentemente, o que Lula vai fazer quando voltar de sua viagem à África. Ele pode ser a única coisa que lhe resta.
O Datafolha informa que a popularidade de Dilma desabou 27 pontos percentuais em três semanas –de uma altura de 57%, despencou para 30%. E pensar que em março ela colecionava 65%! O último presidente a viver a experiência de um mergulho tão radical foi Fernando Collor. Entre março e junho de 1990, a popularidade dele ruiu 35 pontos –de 71% para 36%.
No caso de Collor, a explicação estava na cara: o confisco da poupança. No caso de Dilma, não há explicações peremptórias. Há no máximo duas probabilidades: o asfalto e a inflação. Se as ruas ensinaram alguma coisa na última quinzena foi que a irritação e a cobrança já não admitem ficar trancadas no Facebook.
Quanto à economia, relatório divulgado nesta semana pelo BC rebaixou a previsão do PIB anual e e elevou a da inflação. E o eleitor, agora tomado de rigores insuspeitados até bem pouco, grita nas esquinas. De acordo com o Datafolha, caiu de 49% para 27% a avaliação positiva da gestão econômica de Dilma.
Assim, a não ser que ocorra o milagre da combinação de um PIBão com uma carestia mixuruca, a vida de Dilma dificilmente voltará a ser como antes. Hoje, se dependesse da vontade da maioria do PT, o candidato do partido à Presidência da República se chamaria Lula.
Antes do tsunami de protestos, a especulação sobre uma eventual derrota de Dilma em 2014 era um desafio à lógica. Era algo equivalente a uma previsão de que o Brasil, jogando no Maracanã, perderia para a seleção do Taiti um jogo em que o juiz seria o Felipão.
O despertar das ruas –na verdade um bocejo de gigante que levou a felicidade do petismo junto com o ar— teve um quê de punição antecipada. Mostrou a Dilma e Lula que a arrogância não é boa conselheira. E informou ao PT que o meio-fio não tem dono.
A elevação da temperatura das ruas produziu em Dilma uma espécie de meltdown –termo incorporado pelo economês na década de 90 para simbolizar a situação de uma economia que desanda e começa a derreter. Mal comparando, pode-se dizer que Dilma está derretendo. O que faz de 2014 uma janela de oportunidades.

- Atualização feita às 17h06 deste sábado (29): medido em intenções de voto, o tombo de Dilma Rousseff mede 21 pontos percentuais, informa o Datafolha. Em três semanas, a ex-favorita despencou de 51% para 30%. Principal beneficiária da erosão, Marina Silva ganhou sete pontos. Foi de 16% para 23%. Aécio Neves beliscou três pontos. De 14%, foi a 17%. Eduardo Campos oscilou um ponto. Tinha 6% e foi a 7%. Se a eleição fosse hoje, haveria um segundo turno, disputado entre Dilma e Marina. Mas a disputa só ocorrerá daqui a um ano e meio. E as ruas informaram que, no Brasil, hoje parece anteontem. Quer dizer: pode acontecer tudo. Ou o contrário.

domingo, 23 de junho de 2013

Emprestimos secretos a Cuba e Angola: Senado precisa fazer o seu dever - FSP, Senador Alvaro Dias

O Senado Federal é o órgão constitucionalmente mandatado para aprovar, ou não, todas as operações financeiras externas do Brasil, inclusive a dos Estados. Ou seja, a União, ou o Executivo, não pode perdoar dívidas de países, ou conceder empréstimos externos sem que o Senado aprove, ou desaprove, a operação.
Parece que o Senado não anda fazendo o seu papel...
Paulo Roberto de Almeida

FOLHA TRANSPARÊNCIA
Medida foi assinada pelo ministro Fernando Pimentel um mês após entrada em vigor da Lei de Acesso à Informação
BNDES fez operações com 15 países em 2012, mas só as dos dois países receberam o carimbo de 'secreto'
RUBENS VALENTEDE BRASÍLIAFolha de S.Paulo, 9 de Abril de 2013

O ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) tornou secretos os documentos que tratam de financiamentos do Brasil aos governos de Cuba e de Angola. Com a decisão, o conteúdo dos papéis só poderá ser conhecido a partir de 2027.
O BNDES desembolsou, no ano passado, US$ 875 milhões em operações de financiamento à exportação de bens e serviços de empresas brasileiras para Cuba e Angola. O país africano desbancou a Argentina e passou a ser o maior destino destes recursos.
Indagado pela Folha, o ministério disse ter baixado o sigilo sobre os papéis porque eles envolvem informações "estratégicas", documentos "apenas custodiados pelo ministério" e dados "cobertos por sigilo comercial".
Os atos foram assinados por Pimentel em junho de 2012, um mês após a entrada em vigor da Lei de Acesso à Informação. É o que revelam os termos obtidos pela Folhapor meio dessa lei.
Só no ano passado, o BNDES financiou operações para 15 países, no valor total de US$ 2,17 bilhões, mas apenas os casos de Cuba e Angola receberam os carimbos de "secreto" no ministério.
Segundo o órgão, isso ocorreu porque havia "memorandos de entendimento" entre Brasil, Cuba e Angola que não existiam nas outras operações do gênero.
O ministério disse que o acesso a esses outros casos também é vetado, pois conteriam dados bancários e comerciais já considerados sigilosos sem a necessidade dos carimbos de secreto.
INEDITISMO
Antes da nova Lei de Acesso, já existia legislação que previa a classificação em diversos graus de sigilo, mas é a primeira vez que se aplica o carimbo de "secreto" em casos semelhantes, segundo reconheceu o ministério. O órgão disse que tomou a decisão para adaptar-se à nova lei.
O carimbo abrange quase tudo o que cercou as negociações entre Brasil, Cuba e Angola, como memorandos, pareceres e notas técnicas.
As pistas sobre o destino do dinheiro, contudo, estão em informações públicas e em falas da presidente Dilma.
Em Havana, onde esteve em janeiro para encontro com o ditador Raúl Castro, ela afirmou que o Brasil bancava boa parte da construção do porto de Mariel, a 40 km da capital, obra executada pela empreiteira Odebrecht.
Ela contou ainda que o Brasil trabalhava para amenizar os efeitos do embargo econômico a Cuba. "Impossível se considerar que é correto o bloqueio de alimentos para um povo. Então, nós participamos aqui, financiando, através de um crédito rotativo, US$ 400 milhões de compra de alimentos no Brasil."
Na visita a Luanda, em Angola, Dilma falou em 2011 que "os mais de US$ 3 bilhões disponibilizados pelo Brasil fazem de Angola o maior beneficiário de créditos no âmbito do Fundo de Garantias de Exportações" do BNDES.
O Desenvolvimento diz que os financiamentos têm o objetivo de estimular e dar competitividade às empresas brasileiras nas vendas ao exterior. A Folha não conseguiu falar com as embaixadas de Cuba e de Angola.
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Pronunciamento do Senador Álvaro Dias a respeito da operação, num plenário praticamente vazio: 
https://www.youtube.com/watch_popup?feature=player_embedded&v=3DE9E8LVuAo

domingo, 19 de maio de 2013

O esquizofrenico sistema tributario brasileiro - Folha de S.Paulo


PESADELO FISCAL
Gargalo tributário
Série mostrará, a cada 15 dias, os entraves tributários do país; veja hoje como o governo leva R$ 45 de cada R$ 100 pagos por um vinho gaúcho
RICARDO MIOTO, DE SÃO PAULO
Folha de S. Paulo, 1905/2013
Alguns países se orgulham da sofisticação das suas cadeias produtivas. Não é, com frequência, o caso brasileiro. Aqui, complexa é a cadeia tributária, tão cheia de detalhes e siglas que, em uma representação gráfica, como a desta página, quase oculta a ação do setor produtivo.
Em 2012, a carga tributária do país chegou a inéditos 36,27% do PIB, minando a competitividade. Aqui, uma garrafa de vinho paga 45% de impostos. Na concorrente Argentina, apenas 26%.
Além da carga alta, duas questões tornam a tributação um tema momentoso.
Uma é que em junho se torna obrigatório incluir a carga tributária na nota fiscal. Para os entusiastas, a população criará uma consciência inédita, passando a cobrar (e votar pela) redução de impostos.
A outra questão é que o governo federal tem levantado a bandeira da desoneração tributária. Não é renúncia fiscal pura, mas troca: em alguns setores, deixa-se de arrecadar 20% da folha de pagamento das empresas para cobrar de 1% a 2% do faturamento.
As empresas fizeram as contas. Alguns setores, como TI, intensivo em mão de obra, comemoram. Outros viram que seria uma fria. Mesmo as vinícolas, ainda não contempladas, não querem o "benefício".
"Não vale a pena. O vinho usa muita mão de obra no campo, mas a folha de pagamento da indústria em si não é grande", diz Kelly Bruch, pesquisadora em direito e agronegócio na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
A noção de que as "desonerações" propagandeadas pelo governo nem sempre significam de fato redução da carga tributária traz uma pergunta maior: será possível em algum momento reduzir para valer os impostos no país?
A resposta passa pela Constituição de 1988. Ela foi generosa em expressões como "é direito de todos e dever do Estado". Assim, criou aqui, em tese, um sistema de proteção social de país rico europeu.
Mas o texto pouco tratou de financiamento. Roberto Campos, provavelmente o mais famoso constituinte crítico a isso, viveu até 2001 reclamando que ninguém se perguntou quem pagaria a conta.
Alguns direitos, até pelo exagero, não pegaram. O lazer é um exemplo: difícil imaginar alguém processando o Estado por estar entediado. A moradia também é utopia.
Direitos mais objetivos, porém, acarretaram mudanças bem concretas na sociedade --e custos para o governo.
Exemplos são o SUS e a expansão dos benefícios previdenciários. Outro direito social, a educação, foi em alguma medida levado a sério, e nos anos 1990 o país teve sucesso em universalizar a educação básica. Processos contra o Estado por ele não estar provendo tratamentos ou pensões se tornaram comuns.
Como nossa renda segue pequena (PIB per capita de US$ 12 mil ao ano, ante US$ 50 mil dos EUA), a conta ficou difícil de pagar. Foi preciso aumentar muito os impostos --e nem assim eles são suficientes para financiar serviços públicos que prestem. No começo dos anos 90, a carga tributária era de 24% do PIB.
Houve ainda certa moralização das contas públicas. O Brasil sempre financiou gastos públicos com dívidas ou expandindo sua base monetária --na prática e traduzindo do economês, isso significa imprimir dinheiro.
As duas opções nada mais são do que jeitos de jogar o custo para as gerações futuras, que terão respectivamente de pagar a dívida ou lidar com maior inflação (pense que mais dinheiro circulando significa que ele vai ficando menos valioso).
Mudanças na gestão econômica (no fim dos anos 80, o Banco Central parou de imprimir dinheiro para bancar empréstimos irresponsáveis do Banco do Brasil; nos anos 1990, foram criadas metas de gasto público, via superavit primário) e na legislação (em 2000, a Lei de Responsabilidade Fiscal) tornaram mais difícil elevar gastos públicos sem aumentar impostos. Resultado: eles aumentaram.
Para reduzir tal mordida, quantificada na relação entre impostos e PIB, é possível:
1) Cortar impostos. Mas vamos desistir do Estado de bem-estar social de 1988?
2) Aumentar o PIB. Mas o números mostram que estamos tendo dificuldade nisso.
Assim, o cenário não é de otimismo. Se não for possível cortar a carga tributária, é razoável fazê-la ao menos deixar de ser o Frankenstein atual.
O Brasil tem mais de 80 tributos. Surgem mais 30 normas por dia. Nas palavras do economista Clóvis Panzarini, "a cada edição do Diário Oficial', o sistema tributário brasileiro fica pior".

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Republica companheira (3): Estatisticas criativas para os numeros do governo

Existem progressos fantasticos na redução da pobreza, como vocês podem verificar nesta matéria da FSP. O governo pretende "acabar com a miséria" que existe no Brasil. Nobre intenção.
O que eu vejo, sinceramente, é um subsídio ao consumo dos miseráveis. Se o subsídio terminar, o pessoal volta para a miséria, ou para a insegurança alimentar, como eles gostam de dizer.
Isso significa acabar com a miséria, ou criar um exército de assistidos que se acostuma com a caridade pública?
Paulo Roberto de Almeida

13 mil famílias deixam lista da miséria após extra de R$ 2

DANIEL CARVALHO
ENVIADO ESPECIAL AO PIAUÍ
Folha de S.Paulo, 03/02/2013

"Com R$ 2 não dá para comprar nem meio quilo de frango. Comprei um coco hoje com R$ 2", afirma Luiza Sousa, 51, desempregada em Demerval Lobão, no Piauí.
Para o governo, ela e seus quatro filhos deixaram de ser "miseráveis" no fim de 2012, quando passaram a receber R$ 2 mensais do programa Brasil Carinhoso.
Com esse programa, famílias já beneficiadas pelo Bolsa Família recebem um complemento financeiro para tecnicamente deixar a miséria. Segundo os critérios do governo, uma família com renda mensal de até R$ 70 por pessoa é "miserável".
Ex-miseráveis vivem de maneira precária, mas têm o que comer
Programas de transferência de renda se encontram em fase de 'consolidação'
Famílias deixam pobreza extrema, mas ainda enfrentam dificuldades; leia histórias
Análise: Boa conta, sem truques, inclui mais parâmetros além da renda
Luiza já recebia R$ 140 do Bolsa Família. No final do ano passado, os R$ 2 do Brasil Carinhoso foram somados ao benefício, a doações e ao que ela, como lavadeira, e o filho mais velho, como caseiro, conseguem com bicos.
Com esses R$ 2 extras, Luiza e seus filhos passaram a engrossar a estatística oficial, que comemora 16,4 milhões de "ex-miseráveis" apenas nos últimos sete meses.
Próximo à Luiza vivem Joelina Maria de Sousa, 31, e a filha Jucélia, 7, que também receberam R$ 2 para sair oficialmente da miséria.

Beneficiários do Bolsa Família

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Eduardo Anizelli/Folhapress
Conheça histórias de quem recebe benefício do Brasil Carinhoso e, segundo o governo, deixou a miséria extrema, mas ainda enfrenta dificuldades
Para o governo, por exemplo, um casal com três crianças com renda mensal de R$ 350 é "miserável" (R$ 70 por pessoa). Com mais R$ 2 do Brasil Carinhoso, atinge R$ 352 e deixa oficialmente a "miséria" (com renda de R$ 70,40 por pessoa).
Segundo dados do programa obtidos pela Folha com base na Lei de Acesso à Informação, as piauienses Luiza e Joelina e outras 13,1 mil famílias em todo o país recebem R$ 2 por mês para integrar essa estatística que ajuda Dilma a chegar perto de sua promessa: acabar com essa "miséria" até o "início de 2014".
O programa foi lançado em meados do ano passado com o objetivo de erradicar a pobreza extrema.
"Quando a gente tem essa preocupação de retirar da miséria (...) estamos não só praticando um ato moral, um ato ético, mas, também, nós estamos olhando para o futuro do Brasil", disse a presidente Dilma em recente discurso em Teresina (PI).
Complementar ao Bolsa Família, o benefício do Brasil Carinhoso varia de R$ 2 a R$ 1.140, sendo que esse valor máximo é pago a apenas uma única família, segundo mostra documento do programa ao qual a reportagem teve acesso. O valor médio do complemento é de R$ 86.
Em média, uma família beneficiada pelo Bolsa Família e pelo Brasil Carinhoso recebe R$ 245 ao mês do governo.
META
De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Social, há ainda cerca de 600 mil famílias na extrema pobreza em todo o país. Antes do lançamento do Bolsa Família, em 2003, havia 8,5 milhões de famílias nessa situação, segundo a pasta.
Economistas ouvidos pela Folha dizem que é preciso levar em consideração outros aspectos, além da renda da família, para se falar em erradicação da miséria.
"A saída da pobreza, efetivamente, é quando a pessoa tem condições de moradia, vestuário, educação, saúde e emprego para poder se autofinanciar", diz Socorro Lira, coordenadora do doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do Piauí (UFPI).
Jaíra Alcobaça, também da UFPI, afirma que iniciativas que trazem algum tipo de melhoria de vida são válidas, mas precisam ser encaradas como políticas emergenciais e também deveriam levar em conta as diferenças regionais.
As avaliações remetem à piauiense Luíza. Ela recebeu a Folha na casa de tijolos em que vive há dois anos. O imóvel foi erguido pelo irmão após a casa de taipa desmoronar.
Na cozinha, ela tinha pão, dois cocos e um pouco de arroz. "Só não fico sem porque como na casa da minha mãe", diz Luiza.

Editoria de Arte/Folhapress

domingo, 6 de janeiro de 2013

Japao: demografia declinante - Alexandre Vidal Porto

Onde as crianças nascem menos
Alexandre Vidal Porto
Folha de S. Paulo, 5 de janeiro de 2013

População do Japão não para de cair; vendem-se mais fraldas para adultos que para crianças no país

NO JAPÃO, a cada 31 segundos, nasce uma pessoa. A cada 26, morre outra. Ou seja, tem mais gente morrendo que nascendo.

Desde 2007, a população japonesa não para de diminuir. Segundo o governo, de 2011 a 2012, o país perdeu o número recorde de 212 mil pessoas. Nesse ritmo, até 2060, os japoneses, hoje 128 milhões, estariam reduzidos a 86 milhões apenas.

Em 2012, nasceram 18 mil crianças a menos que em 2011. Essa tendência está diretamente vinculada à baixa taxa de fertilidade das japonesas. Hoje, a média de filhos por mulher é de 1,39. Para que a população se mantivesse estável, seria necessário que ela alcançasse 2,1.

A redução do número de filhos é explicada, ao menos parcialmente, por razões econômicas. A conjuntura de recessão desencoraja a constituição de novas famílias. As pessoas se casam menos e mais tarde. A manutenção de um filho é cara: em 2009, os cinco primeiros anos de educação infantil custavam cerca de US$ 73 mil, 2,5 vezes mais que nos Estados Unidos, por exemplo.

Além disso, ter filhos dificulta o avanço profissional das mulheres. Como trabalhar 15 horas por dia - coisa comum no Japão- quando se tem criança pequena em casa? Diante desse dilema, número cada vez maior de mulheres tem priorizado a carreira profissional e decidido não ter filhos.

Com a redução no número de nascimentos e uma das expectativas de vida mais elevadas do planeta, o Japão se transformou no país desenvolvido com a mais alta proporção de idosos. No mercado japonês, vendem-se mais fraldas descartáveis para adultos que para crianças. Hoje, 24% da população total é de idosos. Em 2060, os idosos serão 40%.

Essa tendência é uma bomba-relógio populacional. A cada cem segundos, o Japão tem uma criança a menos. Segundo Hiroshi Yoshida, professor de economia da Universidade de Tohoku, a prevalecer esse quadro, em maio de 3011, não haverá mais crianças no país.

O envelhecimento da população imporá sobrecarga crescente ao sistema previdenciário. Também terá impacto sobre o nível da produtividade e o ritmo do crescimento. Agora, mesmo que a taxa de fertilidade subisse, tomaria mais de uma geração para que a diferença pudesse ser economicamente verificada.

A incorporação de imigrantes poderia ajudar a compensar o deficit demográfico, mas essa hipótese parece não ser considerada pelas autoridades japonesas. O governo está ciente da questão e estabeleceu um ministério específico para o tema. Algumas políticas têm sido implementadas, mas os resultados têm ficado aquém das expectativas.

Contudo, a despeito do que faça o governo, é fundamental que a comunidade empresarial reconheça e assuma seu quinhão de responsabilidade. É importante para toda a nação que a cultura corporativa e o ambiente laboral incorporem regras de proteção ao convívio familiar e protejam o avanço profissional das trabalhadoras com filhos. A contribuição que as mulheres japonesas podem dar ao sistema produtivo de seu país, mais do que valiosa, é necessária. Não deve ser desprezada.

ALEXANDRE VIDAL PORTO é escritor e diplomata. Este artigo reflete apenas as opiniões do autor.

domingo, 22 de julho de 2012

Falcatrua politica: como sempre, se diz uma coisa, e se faz outra

Na academia, isso se chamaria, simplesmente, desonestidade intelectual (ainda que o termo intelectual não se aplique na maior parte dos casos, no máximo se trataria de uma tramoia "subintelequitual").
Como estamos na política, se trata simplesmente de falcatrua, mas isso não nos deveria surpreender: eles sempre farão isso, pois está embebido nos seus genes políticos, se ouso dizer.
Vamos ler, apenas...
Paulo Roberto de Almeida 


PT busca “vacina” para concessões de Dilma a iniciativa privada
Natuza Nery e Márcio Falcão
Folha de S.Paulo, 22/07/2012

Preocupado com o pacote de concessões públicas que o governo Dilma Rousseff pretende lançar em agosto, o PT quer manter distância de qualquer coisa que associe a sigla, o governo ou suas lideranças à pauta “neoliberal”. Em suas bases eleitorais, representantes do partido já operam vacinas contra possíveis ataques políticos relacionados ao assunto concessões ou privatizações. Apesar de o partido pontuar de forma quase coreografada as diferenças entre as “concessões petistas” e as “privatizações tucanas”, há nos bastidores forte preocupação com a exploração eleitoral do conjunto de iniciativas definido pelo Palácio do Planalto para alavancar investimentos.
Alguns setores do PT reconhecem, reservadamente, que o tema concessões arranha o discurso histórico do partido contra a agenda neoliberal. No início deste ano, durante a preparação do leilão de três dos principais aeroportos brasileiros, tucanos acusaram petistas de praticar “estelionato eleitoral”, exigindo um pedido público de desculpas. A reação foi imediata. O PT usou as redes sociais e seus contatos políticos junto a sindicatos e entidades do movimento social para evitar que essas críticas “pegassem” no imaginário popular de sua militância.
Os petistas conhecem bem o potencial eleitoral do tema, explorado à exaustão pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha pela reeleição, em 2006, e depois pela própria Dilma Rousseff na campanha de 2010. Desta vez, porém, o pacote de concessões do governo federal é mais ambicioso, e exigirá um esforço extra para neutralizar o provável desgaste político. Par dar conta do desafio, emissários da sigla já voltaram a procurar seus contatos no mundo sindical. Eles também pedem para que, na medida do possível, o governo federal inclua representantes dos trabalhadores nas negociações em curso.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Uma visao chinesa (otimista) dos Brics - Zhou Zhiwei (FSP)


A crescente influência política dos Brics


Por Zhou Zhiwei, de Pequim
A reunião de cúpula dos Brics, em Nova Déli, foi o evento mais notável da semana passada. Desde a invenção do termo “Bric”, em 2001, passou-se de um conceito puro de investimento a um processo de transformação rumo a um mecanismo de cooperação multilateral, com impacto crescente nos âmbitos político e econômico. O mundo não esperava esse fenômeno, incluindo o inventor desse termo, Jim O´Neil, e mesmo os países Brics. Nos países ocidentais tradicionais, esse novo mecanismo provocou reações de confusão e até de terror.
Desde a invenção do termo “Bric”, foram oito anos até a primeira cúpula dos Brics em 2009. E, nos três anos seguintes, o mecanismo dos Brics se formou e se desenvolveu para se tornar um poder emergente, exercendo grande impacto no antigo sistema internacional. Quais são os fatores que têm promovido o desenvolvimento rápido desse mecanismo?
Em primeiro lugar, a maioria dos países Brics (exceto a Rússia) conta com uma tradição diplomática de cooperação com os países Sul-Sul. Como países emergentes e países maiores em desenvolvimento, as conexões entre esses países Brics fazem parte importante nas suas próprias estratégias envolvendo a cooperação com os países Sul-Sul.
Em segundo lugar, a transformação do padrão internacional acelerou o processo de cooperação interna dos países Brics. A crise financeira de 2008 é um fator importante, que tem contribuído na formação do mecanismo dentro dos Brics. A cooperação tem como objetivo promover a economia dos países Brics e contribui para a formação da nova ordem internacional (multipolarização).
A cooperação e a coordenação entre os Brics nos últimos anos vêm tendo efeitos positivos, tais como a reforma do FMI e do Banco Mundial e a posição unânime sobre a criação da “zona de exclusão aérea” na Líbia.
Esses fatos demonstram que os países Brics compartilham os interesses e as aspirações e podem se unir e se posicionar em bloco em eventos internacionais, refletindo, ao mesmo tempo, o valor diferente de cada membro. Por isso, os cinco membros dos Brics estão com uma atitude cada vez mais positiva com relação ao mecanismo de cooperação.
Na cúpula em Nova Déli, o que se destacou foi o mecanismo de cooperação financeira: expansão dos negócios de liquidação em moeda local e da escala de negócios de empréstimo, construção do banco dos Brics e ampliação de contatos entre as bolsas de valores dos membros, tudo para oferecer mais conveniências à cooperação interna dos Brics. As cooperações financeiras entre os países-membros podem não apenas trazer os avanços econômicos para os membros mas também ajudar a economia global a sair do atual estado sombrio. O banco dos Brics está procurando um novo modelo de desenvolvimento sustentável para o mundo. Comparando com as maiores instituições mundiais _o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial_ o banco dos BRICS, possivelmente, assistirá os países em desenvolvimento na área de construção de infraestrutura, de inovação tecnológica, de higiene e medicina e de eliminação da pobreza, oferecendo investimentos e assistência mais específicos sem pré-requisitos.
Essa tendência reflete, em certo grau, a insatisfação dos Brics com o fato de que os Estados Unidos e a Europa dominam os postos de líderes das duas maiores instituições financeiras do mundo há muito tempo.  Também demostra que esse grupo se possui uma capacidade de ser cada vez mais autossuficientes.
Contudo não se pode negar que o banco dos Brics ainda é uma idéia, cujo movimento estará relacionado não apenas com o problema de financiamento mas também com a seleção do objetivo de assistência e da área de investimento e a cooperação com outras instituições financeiras. Portanto, a construção desse banco demanda mais tempo. Mas esse passo inicial já ilustra a resolução e a força dos Brics na participação dos assuntos globais.
Os Brics ainda não são uma aliança política. Mas, como esses membros são emergentes regionais, a cooperação entre eles se disseminará para áreas de política, segurança e gestão global. A discussão sobre a situação da Oriente Médio e do norte da África na cúpula de Nova Déli refletiu essa tendência. Na futura discussão sobre a gestão global, os países BRICS, possivelmente, formarão uma nova força, diferente dos grupos de países desenvolvidos ou de países em desenvolvimento. Os Brics já começam a mostrar na cúpula de Nova Déli os “músculos” políticos do seu mecanismo.
Zhou Zhiwei é especialista em Brasil do Instituto da América Latina da Academia Chinesa de Ciências Sociais e secretário-geral do Centro de Estudos Brasileiros. Foi pesquisador visitante de relações internacionais na USP e no BRICS Policy Center da PUC-RJ. As suas principais áreas incluem estudo sintético do Brasil, política externa, estratégia internacional do Brasil, relações bilaterais e integração latino-americana

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Relacoes EUA-Brasil: entrevista com Emb. Shannon

Brasil 'tem oportunidade' de passar da abstenção à ação, diz embaixador dos EUA

FÁBIO BRANDT - DE BRASÍLIA
Folha de S.Paulo, 27/10/2011

O embaixador do Estados Unidos no Brasil, Thomas Shannon, disse nesta quarta-feira (26) que "o Brasil tem a oportunidade de tomar passos importantes e de passar de um país que se abstenha para um país que atua". Shannon se referiu às recentes abstenções brasileiras na ONU sobre conflitos na Líbia e na Síria.
O diplomata falou sobre o assunto no programa "Poder e Política - Entrevista" conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues no estúdio do Grupo Folha em Brasília. O projeto é uma parceria do UOL e da Folha.
Sobre a vontade do Brasil de se tornar membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, Shannon disse que o país faz parte de um grupo de países que têm capacidade de "atuar no mundo". Mas ressalvou que "o processo de reformar o Conselho [de Segurança da ONU] e determinar os novos integrantes ou membros do Conselho não é tanto uma troca transacional, como [também] um processo de reconhecer poder, o poder no mundo".
O americano concedeu a entrevista em português. Entre outros assuntos, falou sobre as mortes de Muamar Gaddafi e Osama bin Laden. Também respondeu sobre a extinção do visto de entrada nos EUA para brasileiros e sobre as relações comerciais entre os dois países.
A transcrição está disponível em texto.
Thomas Shannon - 26/10/2011
Narração de abertura: Thomas Shannon Jr. é diplomata de carreira e assumiu como embaixador dos Estados Unidos no Brasil em fevereiro de 2010. Shannon tem 53 anos e fala português.
Antes de ser embaixador no Brasil, Thomas Shannon trabalhou no Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos. No governo de George W. Bush, foi assessor especial do presidente e diretor sênior para assuntos do Hemisfério Ocidental.
Em agosto de 2011, Shannon foi chamado de volta a Washington. Ocupou interinamente o importante cargo de subsecretário de Estado para Assuntos Políticos. Agora, em outubro de 2011, reassumiu o posto de embaixador no Brasil.
Folha/UOL: Olá internauta. Bem-vindo ao "Poder e Política Entrevista".
O programa é uma realização do jornal Folha de São Paulo, do portal UOL e da Folha.com. A gravação é realizada aqui no estúdio do Grupo Folha em Brasília.
O entrevistado desta edição do Poder e Política é o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Thomas Shannon.
Folha/UOL: Embaixador, muito obrigado pela sua presença. E eu começo perguntando: como andam as relações entre Brasil e Estados Unidos? Melhoraram depois da posse de Dilma Rousseff?
Thomas Shannon: As relações são excelentes. Realmente estamos em um momento positivo nas relações. Positivo não somente bilateralmente, mas também no que o Brasil e os Estados Unidos estão fazendo globalmente. Então, para mim, este é o momento de ser o embaixador dos Estados Unidos no Brasil.
Folha/UOL: O presidente Barack Obama visitou o Brasil neste ano [2011], a presidente Dilma Rousseff tem uma visita pré-agendada aos Estados Unidos para o ano que vem [2012]. Qual é o saldo até agora da visita de Barack Obama ao Brasil?
Thomas Shannon: A visita do presidente Obama, especialmente a sua conversa com a presidente Rousseff, foi importante para definir uma agenda do século 21 entre o Brasil e os Estados Unidos. Uma agenda com enfoque na infraestrutura, na ciência e tecnologia, na educação, na inovação e na maneira como os Estados Unidos e o Brasil podem colaborar nessas quatro áreas entre eles, mas também no mundo.
Folha/UOL: Já há algum projeto mais específico que foi tratado e sobre o qual se avançou nessas áreas?
Thomas Shannon: Vários. Começando com os acordos que assinamos durante a visita, como o acordo de céus abertos, que vai permitir grande movimento de linhas aéreas brasileiras para os Estados Unidos e dos Estados Unidos para o Brasil. Vai melhorar o turismo, vai melhorar o intercambio comercial e de investimento.
Mas também estamos trabalhando em cooperação comercial na área espacial e nosso administrador da Nasa [a agência espacial dos EUA] está aqui no Brasil hoje. Amanhã eu vou para São Paulo para me reunir com ele. Mas também assinamos um acordo de cooperação econômica que vai promover as negociações especialmente em setores de nossas economias onde há complementaridade, que realmente abrem muito espaço para o Brasil e os Estados Unidos avançarem em nossas relações.
Folha/UOL: O caso desse acordo que o sr. mencionou, o "céu aberto", para companhias americanas operarem no Brasil e vice-versa. Quando se pode esperar algum acordo para que alguma companhia americana comece a operar novos voos no Brasil e vice-versa?
Thomas Shannon: Já estamos experimentando novos voos em diferentes cidades aqui no Brasil. Mas primeiro o Congresso tem que aprovar ou ratificar o tratado. Mas temos um memorando de entendimento que vai permitir uma abertura durante os próximos três anos, com a ideia de que, em 2015, o mercado, em termos de linhas aéreas, vai ser totalmente aberto.
Folha/UOL: Já há alguma data prevista, mais firme, para a visita da presidente Dilma Rousseff a Washington?
Thomas Shannon: Ainda estamos trabalhando com o Planalto para determinar a data. Mas eu acho que... a nossa ideia é que vá ocorrer em março [de 2012].
Folha/UOL: Em março de 2012. Os pontos da agenda que o sr. acha que poderão ser incluídos nessa visita seriam quais os mais importantes?
Thomas Shannon: Nossas relações são super amplas. Então vamos obviamente falar de muitas coisas. Mas os dois presidentes têm muito interesse em melhorar a relação comercial e também de investimento. Também têm muito interesse de avançar nos programas de intercâmbio educacional, especialmente o programa da presidente Rousseff, Ciência sem Fronteiras. Mas também o Brasil por ser um poder global hoje abre um espaço para um diálogo, uma conversação muito mais ampla sobre o mundo.
Folha/UOL: Há um tema que sempre interessa muito aos brasileiros, sobretudo os brasileiros que viajam aos Estados Unidos, que é a obtenção de visto de entrada nos Estados Unidos. Já houve alguma melhoria nos últimos tempos sobre a validade do visto. Mas há sempre a discussão possível de que, no futuro, Brasil e Estados Unidos poderiam abolir o visto de entrada mutuamente. O que o sr. acha disso e qual é essa possibilidade?
Thomas Shannon: Eu acho que isso vai ocorrer no futuro. Simplesmente pela relação entre o Brasil e os Estados Unidos e também pela economia do Brasil, a potencia que é o Brasil hoje e que vai ser o Brasil no futuro.
Folha/UOL: O que está faltando para isso acontecer?
Thomas Shannon: Nos Estados Unidos o Congresso determina os critérios para abolir a necessidade de um visto. Tem a ver com a quantidade de pessoas que viajam aos Estados Unidos e os que podem obter o visto. E também uma série de regras e acordos entre o Brasil e Estados Unidos sobre a integridade de documentos e a confiança que os dois países têm e na identidade de cada pessoas que está viajando. Estamos trabalhando em todas essas áreas. Agora mesmo temos um diálogo bilateral consular entre Itamaraty e Estados Unidos e também entre diferentes entidades do governo dos Estados Unidos e aqui do Brasil para abrir um espaço para progredir nessa área.
Folha/UOL: O sr., sendo realista, acredita que o horizonte para que isso evolua para um acordo seria um ano, cinco anos, dez anos? Ou é difícil dizer?
Thomas Shannon: É difícil dizer neste momento. Porque depende de cada passo desse processo. Mas no momento estamos fazendo todo o possível para facilitar as entrevistas em nossos consulados e também em nossa embaixada e facilitar a autorização dos vistos. Incluindo aumento do [número de] oficiais que estão aqui trabalhando nos assuntos de visto e também ampliando nossa capacidade física de receber mais brasileiros.
Folha/UOL: O Brasil hoje, entre os países que necessitam de visto ara entrar nos Estados Unidos, encontra-se em qual posição no ranking de países que mais pedem visto de entrada?
Thomas Shannon: É o terceiro país no mundo, depois de China e México.
Folha/UOL: Isso vem sendo assim já há algum tempo?
Thomas Shannon: Isso é coisa nova, durante os últimos anos. Reflete a economia do Brasil, especialmente a emergência de uma classe média aqui. Ou seja, neste ano vamos autorizar mais de 800 mil vistos no Brasil e no ano que vem estamos esperando mais de 1 milhão de vistos.
Folha/UOL: O Brasil tem ficado cada vez mais proeminente no cenário global, atuado em várias frentes diplomáticas e uma delas é o pleito, o desejo do Brasil, de integrar de maneira permanente o Conselho de Segurança da ONU. Os Estados Unidos já demonstraram simpatia a respeito disso, mas não há um comprometimento. É possível evoluir nessa área, o comprometimento dos Estados Unidos a respeito do desejo do Brasil?
Thomas Shannon: É parte de nosso diálogo bilateral com o Brasil. E o importante é que durante a visita do presidente Obama ele mostrou mais que simpatia. Ele mostrou respeito. E também reconhecimento do papel importante que o Brasil já está assumindo no mundo. Mas também é importante reconhecer e entender que não é simplesmente um compromisso entre países sobre quem vai estar no Conselho. Temos que construir um processo para chegar a esse ponto. Ou seja: como reformar o Conselho de Segurança? E nesse sentido o Brasil e os Estados Unidos andamos juntos porque reconhecemos a importância de reformar o Conselho.
Folha/UOL: O sr. acha que na visita da presidente Dilma o palavreado diplomático pode evoluir um pouquinho? Porque na última visita do presidente Obama ele realmente declarou respeito pela posição brasileira de querer uma reforma do Conselho e uma vaga. O sr. acha que vai evoluir um pouco mais ou vai ficar nesse estágio ainda?
Thomas Shannon: Temos trabalho a fazer. E por isso temos essa conversa, esse diálogo bilateral entre o Brasil e os Estados Unidos. Então eu não vou antecipar os resultados, mas estamos trabalhando.
Folha/UOL: O sr. acha que tem sido mais positiva do que negativa a negociação nessa área entre os dois países? Ou neutra?
Thomas Shannon: Eu acho que, pelo papel do Brasil no mundo, a cada dia é mais positiva. Mas, outra vez, temos que reconhecer que o desafio mais importante é construir um processo de reformar o Conselho. Não somente identificar os países que podem integrar um novo Conselho.
Folha/UOL: Qual seria a ação ou a atitude que o governo brasileiro poderia empreender para ter realmente condições de integrar o Conselho de Segurança [da ONU]?
Thomas Shannon: O processo de reformar o Conselho e determinar os novos integrantes ou membros do Conselho não é tanto uma troca transacional, como [também] um processo de reconhecer poder, o poder no mundo, e os países que têm capacidade de atuar no mundo. E nesse sentido eu acho que o Brasil é obviamente parte deste grupo de países. Porque a reforma vai indicar países que vão ficar no Conselho por muitos anos. Então é bem difícil dizer que eu vou trocar ou intercambiar uma presença permanente para uma ação particular. Então não é transacional. É muito mais importante do que isso.
Folha/UOL: Vamos falar de relações comerciais Brasil-Estados Unidos. O Congresso do seu país deve em 2012 aprovar uma nova lei de subsídios agrícolas. A chamada "Farm Bill". Em tese haverá ali alguns elementos que serão contestados pelo governo brasileiro em termos de subsídios. Como o sr. acha que vai ser esse novo pacote de subsídios que o Congresso deve aprovar?
Thomas Shannon: Sempre é perigoso para um diplomata antecipar o que vai fazer o nosso Congresso, porque os fatores de poder lá são complicados. Mas eu acho que essa votação no Congresso em 2012 vai ser em suma positiva. Então eu acho que vão avançar as relações agrícolas entre o Brasil e os Estados Unidos.
Folha/UOL: Porque há sempre essa negociação a respeito de alguns produtos principais como etanol e algodão. Nessas duas áreas o sr. acha que pode haver algum avanço em relação ao que se tem hoje?
Thomas Shannon: Pois, outra vez, eu vou deixar essas coisas do Congresso. Mas eu acho que já estabelecemos um palco, uma área de negociação entre o Brasil e os Estados Unidos nessa área. Uma área de cooperação, que é positiva e que indica para o nosso Congresso os benefícios que podem existir com um Farm Bill adequado.
Folha/UOL: Mas o seu governo tem interagido para que, enfim, digamos no caso do etanol, que é um caso sempre mencionado. Que possa ser mais facilitada a compra do etanol brasileiro por americanos?
Thomas Shannon: Há um debate no Congresso e entre a administração e o Congresso sobre isso. E parte tem a ver com nossa política de energia, ou energética, e tem a ver com nosso orçamento público e os gastos de nosso orçamento público. Mas eu acho que o Brasil e os Estados Unidos somos parceiros em [fazer] avançar a ideia de energia renovável. E especialmente a capacidade de criar novos tipos de biocombustíveis.
Folha/UOL: O sr. está aqui desde 2010. Então conviveu um pouco com o governo Lula. Agora com o governo Dilma Rousseff. Com dois chanceleres, Celso Amorim e Antonio Patriota. Há alguma mudança no dia a dia, no tratamento, nas relações Brasil-Estados Unidos com essa troca de governo?
Thomas Shannon: O fantástico das relações entre o Brasil e os Estados Unidos é que não é status quo. Ou seja, cada dia é um dia novo. Porque tem que ver como é a transformações do Brasil domesticamente e internacionalmente. E tem que ver como são as transformações de que ocorrem no mundo, na área global. Então da maneira com que o Brasil e os Estados Unidos estabelecem relações e estabelecem diálogos dinâmicos que mudam a cada dia. Durante o tempo de Lula e de Celso Amorim havia avanços importantes na relação. Especialmente na estrutura da relação, essa estrutura de diálogo. Mas também com a presidente Rousseff e o ministro Patriota estamos avançando. Ou seja, há continuidade no sentido de uma trajetória positiva.
Folha/UOL: Surgiu algum tema novo, com a chegada de Patriota e Dilma Roussef ao governo, nas relações? Ou foi só uma continuidade.
Thomas Shannon: Como falou o ministro Patriota, a continuidade não quer dizer repetir. Ou seja, estamos construindo realmente a cada dia mais coisas importantes na relação. Eu acho que a troca de ideias e a conversa entre o Brasil e os Estados Unidos em assuntos de Oriente Médio já está a cada dia mais sofisticada e mais útil para os dois países e também na área social. Especialmente na área de educação. E essa iniciativa da presidente Rousseff, Ciência sem Fronteiras, estamos trabalhando para abrir um espaço para brasileiros nas universidades nos Estados Unidos. Então eu acho que na área de diplomacia tradicional e também na área da diplomacia nova, essa diplomacia social, que conecta nossas sociedades. Estamos avançando de uma maneira superinteligente.
Folha/UOL: O sr. mencionou que houve uma evolução, uma sofisticação nas conversas Brasil-Estados Unidos a respeito, por exemplo, de Oriente Médio. O sr. teria como dar um exemplo de como evoluiu essa discussão?
Thomas Shannon: Eu acho que pela crise na Líbia e, depois, na Síria. Havia uma intensificação nessas conversas entre o Brasil e os Estados Unidos. E também pelo fato de que o Brasil hoje é membro do Conselho de Segurança da ONU. E isso ajuda muito, para nós, a entender a posição do Brasil. E também acho que ajuda o Brasil a entender a posição dos Estados Unidos. Por exemplo: o papel do Brasil no Conselho de Direitos Humanos. Para nós é sumamente interessante, especialmente sua capacidade de falar abertamente sobre a importância de não reprimir civis durante manifestações e outras atividades na Líbia e na Síria e sua capacidade de falar diretamente da importância dos Direitos Humanos na Primavera Árabe.
Folha/UOL: Mas então como o sr. e seu governo interpretariam as abstenções do Brasil no Conselho de Segurança neste ano sobre ação militar na Líbia, sobre repressão a manifestantes pelo governo da Síria. O Brasil se absteve várias vezes, não votou com os Estados Unidos. Qual é a sua interpretação disso?
Thomas Shannon: Obviamente nosso desejo é que o Brasil vote conosco. Mas entendemos o papel do Brasil neste momento. Especialmente essa intenção de balancear sua relação nos Brics [grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul] e na Ibsa [Ibas, grupo formado por Índia, Brasil e África do Sul]. Mas o importante é reconhecer que, a cada instante, o Brasil falou publicamente da importância dos direitos humanos, falou publicamente da importância de o governo não usar violência contra seus próprios cidadãos e que com o processo dos eventos, especialmente na Líbia, o Brasil efetivamente mudou [sua posição] de abstenção a participação na reconstrução da Líbia. Ou seja, o Brasil mostrou capacidade de avançar com a comunidade internacional.
Folha/UOL: Mas o sr. não acha que o país, no caso o Brasil, poderia manter o discurso sobre direitos humanos e ainda assim ter uma posição mais assertiva no Conselho [de Segurança da ONU] ao invés de se abster?
Thomas Shannon: Eu acho que o Brasil, com seu papel a cada dia mais importante no mundo, está entendendo de uma forma nova o seu próprio poder e a sua própria influência no palco global. Eventualmente o Brasil vai entender que é uma coisa atuar dentro da formalidade das organizações internacionais e outra coisa é falar de seus princípios e valores. E eu acho que, nesse sentido, o Brasil tem a oportunidade de tomar passos importantes e de passar de um país que se abstenha para um país que atua.
Folha/UOL: O governo brasileiro nos últimos anos manteve relações amistosas com certos governos de países que não têm tradição democrática. O sr. acha que nesse caso também o Brasil vai evoluir para uma posição diferente?
Thomas Shannon: Esse é um pecado que todos nós temos, estabelecer relações com países que, às vezes, não são 100% democráticos. Mas é um pecado que podemos reconhecer e tentar pedir desculpas. Meu próprio país, nesta etapa, está tentando mostrar, no Oriente Médio, mostrar que reconhecemos a importância da Primavera Árabe e que é necessário trabalhar para abrir um espaço para a democracia no Oriente Médio. E eu acho que o Brasil está na mesma etapa.
Folha/UOL: O Brasil tem posições críticas sobre, por exemplo, a prisão de Guantánamo. O chanceler Patriota esteve aqui, deu uma entrevista. Disse que, enfim, vê com certo desconforto a manutenção da prisão de Guantánamo. Diz também que alguns procedimento da Guerra ao Terror nos Estados Unidos "revelaram suas limitações, estão sendo revistos". Essas críticas do governo brasileiro, Guantánamo, certos procedimentos que foram usados na Guerra ao Terror, são positivas na relação entre os dois países, que se faça esse tipo de crítica?
Thomas Shannon: Da maneira com que o Brasil fala de direitos humanos no mundo, vai falar sobre temas não somente sobre o Oriente Médio mas também sobre nós, de vez em quando. Da mesma maneira em que nós vamos falar de situações no Brasil. E são bem-vindos, porque são parte de um diálogo. Eu acho que esse comentário é um comentário dado com respeito.
Folha/UOL: Estamos falando de Oriente Médio. Agora, recentemente, foi morto Muammar Gaddafi. As circunstâncias em que ele morreu ou foi assassinado ainda não são conhecidas. E há uma suspeita de que as forças aliadas da Otan facilitaram para que os rebeldes capturassem e, eventualmente, matassem Muammar Gaddafi. O que seu governo tem a comentar sobre este episódio?
Thomas Shannon: O nosso governo expressou nosso interesse na investigação por parte do Conselho Nacional de Transição [órgão político do governo interino da Líbia] da Líbia sobre as circunstâncias da morte de Gaddafi. E nossa secretária de Estado [Hillary Clinton] falou da importância desta investigação. Mas é importante também reconhecer que o fim de uma ditadura sempre é complicado. Porque a ditadura destrói as instituições judiciais, destruí as instituições policiais e destrói as outras instituições que realmente podem facilitar uma transição de poder. Infelizmente no momento em que Gaddafi decidiu ir para Sirte e antecipar seu próprio fim dizendo que estava disposto a ser morto.
Folha/UOL: Mas não teria sido mais prudente que as forcas aliadas tivessem tentado evitar esse desfecho até como um certo esforço didático para a nova democracia que pode surgir?
Thomas Shannon: Claro. Sempre. Mas o mundo é complicado. E é importante nesse momento se concentrar no futuro da Líbia e no futuro de um país que realmente tem inspirações democráticas e que precisa de ajuda do mundo para realizar essas aspirações.
Folha/UOL: No caso de outro líder que também foi morto, Osama Bin Laden, há também muita dúvida sobre a forma como ele acabou sendo morto. Nesse caso o sr. acha que nós ainda temos dúvida sobre o que aconteceu? O sr. poderia compartilhar conosco qual é a versão, no momento, para a morte de Bin Laden naquele episódio?
Thomas Shannon: Não, eu acho que é óbvio. Ou seja, durante a tentativa de capturá-lo, ele foi morto. Assim fechou o capítulo.
Folha/UOL: O sr. não acha que deveria ter havido também um esforço das forças americanas para capturá-lo e colocá-lo em julgamento?
Thomas Shannon: Olhe, nossas forças armadas não são policiais. E estamos em guerra com a Al Qaeda. Osama Bin Laden era o líder da Al Qaeda, o autor intelectual dos ataques contra os Estados Unidos em vários instantes e também ataques em outros países. Nossa intenção é atacar da maneira possível a hierarquia da Al Qaeda. E ele foi um alvo legítimo.
Folha/UOL: Há uma interpretação dos Estados Unidos sempre sobre a Tríplice Fronteira, Brasil, Paraguai e Argentina, de que ali seria um foco potencial ou verdadeiro de ativistas que praticam atos terroristas. O governo brasileiro não compartilha dessa avaliação. Por que há essa divergência de avaliação sobre a Tríplice Fronteira entre Brasil e Estados Unidos?
Thomas Shannon: É importante dizer que há uma cooperação excelente entre o Brasil, Argentina, Paraguai, os Estados Unidos e outros países na luta contra o terrorismo. Seja na América do Sul, seja em outras partes do mundo. E também do meu ponto de vista, a atuação da Polícia Federal, da Abin e outras entidades do Brasil muito responsáveis nessa área. Mas o Brasil como outros países na América do Sul tem uma concepção de terrorismo que está limitado ao ato de terrorismo, ou seja, está limitado ao ato de violência. Nosso entendimento é muito maior. Tem a ver com o financiamento, com as estruturas logísticas e também com a maneira com que grupos que não são diretamente terroristas se vinculam a grupos terroristas fora da área. E obviamente para nós há grupos e pessoas que usam seus negócios e outras atividades, especialmente atividades ilegítimas, para financiar outros grupos. Nisso temos uma conversa mais aberta e mais importante entre o Brasil e os Estados Unidos.
Folha/UOL: No caso da Tríplice Fronteira há uma convicção de que lá existem esses grupos?
Thomas Shannon: Indivíduos. São homens de negócios. Nosso Ministério do Tesouro já identificou algumas pessoas que, para nós, estão usando seus negócios para financiar grupos, especialmente no Líbano.
Folha/UOL: Recentemente o Brasil, o Itamaraty, Ministério das Relações Exteriores no Brasil, abriu seus arquivos diplomáticos. A Folha de S.Paulo teve acesso a mais de 10 mil documentos, o que foi uma medida muito positiva para a transparência. E num dos telegramas analisados, vindos de Washington, o embaixador à época, Rubens Barbosa, identificou que havia um... ele tinha, ele escrevia, certeza de grampo. De que o telefone da Embaixada em Washington havia sido grampeado. E suspeitava do governo dos Estados Unidos. O sr. conhece esse episódio e sabe em que circunstância isso ocorreu?
Thomas Shannon: Não. Infelizmente eu não conheço esse episódio.
Folha/UOL: Quando a notícia foi divulgada, que foi agora que o sr. já era embaixador aqui em Brasília, o sr. fez algum relatório, recebeu alguma informação dos Estados Unidos sobre isso?
Thomas Shannon: Não. Não. Nossa ideia é enfocar no futuro.
Folha/UOL: O sr. acha possível que isso possa ter ocorrido?
Thomas Shannon: Eu realmente não posso fazer nenhum comentário. Tem que falar com o embaixador Barbosa.
Folha/UOL: Lixo hospitalar. Uma notícia recente nos jornais brasileiros dando conta de que lixo hospitalar de origem dos Estados Unidos chegou ao Brasil para ser vendido. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos [do PSB], que é onde chegaram esses materiais, disse que a fiscalização dos Estados Unidos foi deficiente e permitiu o embarque do lixo hospitalar para o Brasil. O sr. concorda?
Thomas Shannon: Eu falei com o governador Campos sobre isso. Depois de nossa conversa eu mandei a Pernambuco agentes do FBI e também de nossa agência de imigração e aduanas para trabalhar com a Polícia Federal e também com o secretário de Segurança do Estado de Pernambuco na investigação. Estamos fazendo um avanço importante. Parte desta investigação tem a ver com a companhia que exportou essas coisas e a maneira como foi fiscalizada nos Estados Unidos.
É importante reconhecer que esse lixo são lençóis já usados e que esse uso de lençóis não é nada que é estritamente dos Estados Unidos. Quer dizer, há lençóis também do Brasil que são usados nessa indústria de roupa. Mas eu acho que nossa conversa, entre eu e o governador, e nossa participação indicam que estamos preocupados por esses lençóis e pelo processo de fiscalização. Mas também pela relação entre a companhia nos Estados Unidos e a companhia aqui no Brasil.
Folha/UOL: Agora, houve de fato uma falha na fiscalização? E mais: é proibido exportar esse tipo de material nos Estados Unidos, ou não?
Thomas Shannon: A investigação vai determinar isso. Não é proibido exportar lençóis. É proibido exportar outro tipo de lixo hospitalar. Então temos que determinar exatamente que tipo de lixo entrou no país e que tipo de lixo foi autorizado a sair dos Estados Unidos.
Folha/UOL: Já há alguma informação preliminar a respeito do que aconteceu?
Thomas Shannon: Nessa etapa da investigação eu não posso falar do progresso da investigação. Mas eu acho que vai ajudar muito o governador Campos e o Estado de Pernambuco a enfrentar esse tipo de desafio.
Folha/UOL: Estamos chegando no final. Cuba: um país que tem relações problemáticas com os Estados Unidos. O sr. vê avanços no regime cubano recentes? E qual a perspectiva que o sr. imagina que exista para melhorar a relação com os Estados Unidos em breve?
Thomas Shannon: Há mudanças dentro de Cuba. Especialmente na área agrícola e a capacidade dos cubanos obterem, como donos, terra, imóveis etc. Esse é um passo importante. Mas infelizmente em nossa relação bilateral temos um problema bem difícil. A detenção de um cidadão norte-americano Alan Gross, que complica de uma maneira não muito feliz nossa capacidade de dialogar. E para nós é realmente muito importante que o governo de Cuba dê liberdade ao sr. Gross.
Folha/UOL: O sr. acha que, numa perspectiva temporal, quantos ainda vai durar tudo isso?
Thomas Shannon: É impossível dizer. Porque esse é um jogo que precisa de avanços reais, verdadeiros. Não é um jogo de tempo. É um jogo de acontecimento.
Folha/UOL: Passados alguns meses do episódio WikiLeaks, o sr. acha que o vazamento causou mais prejuízo ou há também alguns aspectos benéficos em todo esse episódio para que todo o mundo, os países, conheçam mais as opiniões dos Estados Unidos?
Thomas Shannon: Para mim WikiLeaks foi um ato contra não somente os Estados Unidos, mas também a diplomacia internacional. Porque a ideia é impor uma transparência que não permita um lugar de confidencialidade entre países para ter uma conversa. Então, nesse sentido, o vazamento prejudicou.
Mas a transparência geralmente é bom. As decisões do Congresso do Brasil, recentemente, em permitir acesso a documentos do governo é algo positivo e mostra a maneira com que democracias têm que fazer este tipo de coisa. Ou seja, usar suas instituições, seus representantes eleitos democraticamente para determinar qual é o direito do cidadão conhecer ou saber o que faz o seu governo mas também o direito do Estado de ter um espaço de confidencialidade para tomar decisões. Nesse balanço encontra-se a melhor estrada para chegar a uma transparência verdadeira.
Folha/UOL: No seu dia a dia, depois do episódio WikiLeaks, o que mudou em termos de segurança e cuidado na transmissão de informações reservadas? Houve mudanças?
Thomas Shannon: Nosso sistema tem a capacidade de proteger a si mesmo. WikiLeaks não foi um problema sistemático dentro dos Estados Unidos, foi o problema de uma pessoas que roubou essa informação. Mas no sentido mais comum, no sentido de nossas relações com as pessoas com que conversamos a cada dia não mudou muito. Ou seja, há reconhecimento de que as pessoas falam conosco porque querem influir nossa maneira de atuar e isso vai continuar.
Folha/UOL: O sr. é um diplomata de carreira. Recentemente esteve em Washington a chamado do presidente Obama, ocupou interinamente um cargo no Departamento de Estado. Como foi essa sua experiência recente em Washington, o que o sr. fez nesses cerca de dois meses?
Thomas Shannon: Eu estava lá atuando temporariamente como subsecretário de Assuntos Políticos. Ou seja, eu estava trabalhando em assuntos globais e preparando para a Assembleia Geral [da ONU]. Foi uma experiência excelente porque estava trabalhando diretamente com a secretaria de Estado, mas também com meus colegas lá na Casa Branca. Eu sai com uma excelente ideia de como é o mundo neste momento. Mas também voltar ao Brasil foi um momento feliz para mim porque comparado ao resto do mundo, o Brasil anda muito bem.
Folha/UOL: O sr. é diplomata de carreira e trabalhou já com presidentes republicanos e agora um democrata. Há uma diferença de trabalho no dia a dia de um para outro sensível no seu caso?
Thomas Shannon: Excelente pergunta. Eu não sei se eu tenho uma excelente resposta porque realmente os interesses dos Estados Unidos não mudam muito entre um governo democrata e um governo republicano, especialmente nas embaixadas os problemas que enfrentamos a cada dia, mais ou menos, são os mesmos problemas. Eu acho que até o mais importante desses assuntos, da diferença entre os partidos, é a diferença entre as pessoas. Principalmente entre presidentes e secretários de Estado. Porque eles impõem certos aspectos de suas personalidades no trabalho e sua visão de mundo no trabalho.
Folha/UOL: O sr. poderia citar um diferença entre o presidente Obama e o presidente George W. Bush?
Thomas Shannon: Olhe, há muitas diferenças. Da mesma maneira há muita semelhança. Eu realmente não quero comparar ou contrastar líderes americanos. Mas eu posso dizer que, para mim, durante a visita do presidente Obama aqui ao Brasil, algo que realmente me afetou foi a emoção exibida pelo povo brasileiro pelo presidente americano. Durante muitas presidências nos Estados Unidos essa foi a primeira vez que eu vi um bem-vindo tão...
Folha/UOL: Haverá eleições presidenciais nos Estados Unidos no ano que vem. Qual o peso do estado da economia para as chances de reeleição do presidente Obama na sua opinião?
Thomas Shannon: A economia é importante. É básica. Mas também o povo americano é mais sofisticado do que isso. Ou seja, o povo americano vai selecionar um presidente baseado não somente na economia mas também na capacidade de projetar nosso poder no mundo, de colaborar no mundo para nosso benefício.
Folha/UOL: Embaixador Thomas Shannon, muito obrigado por sua entrevista à Folha e ao UOL.
Thomas Shannon: Um grande prazer. Muito obrigado.