O que eu poderia legar de útil aos sobreviventes do próximo apocalipse?
Paulo Roberto de Almeida
Minha atenção foi despertada para essa questão justamente por uma pergunta similar feita por uma usuária do Linkedin que se interrogava sobre suas capacidades resilientes a um eventual fim de mundo (não sei se ela estava pensando no Putin ou no Trump, dois destruidores do mundo pacato em que vivíamos até a pouco).
Ao que parece, trata-se de uma especialista em políticas públicas, uma expertise sempre necessária, já que o Estado, surgido logo após a expulsão de Adão e Eva do paraíso, não deve dar trégua mesmo após um conflito nuclear devastador.
Excelente pergunta, eu primeiro observei: o que se deveria deixar de seu aos sobreviventes de um eventual apocalipse? Depois refleti sobre minhas modestas capacidades.
Expertise em políticas públicas é uma excelente contribuição, desde que disseminada numa forma escrita, registrada, podendo ser acessada em proveito dos “sobreviventes”.
Posso me fazer a mesma pergunta: o que deixarei de útil à posteridade? Políticas públicas é um terreno muito amplo para a minha modesta expertise numa política setorial, a diplomacia profissional e as relações exteriores do Brasil, em geral, talvez numa dimensão ainda mais restrita, a da história diplomática da minha própria contemporaneidade (embora eu também me atreva na anterioridade, por uma razão muito simples: os mortos já não poderão reclamar de minhas interpretações de suas ações passadas, ao passo que alguns muito vivos poderiam vir tomar satisfação).
Pensando nisso, cabe retomar meu livro já meio escrito sobre a Formação do Diplomata Brasileiro, que se segue a um já em 3a edição sobre a Formação da Diplomacia Econômica no Brasil (mas este cuidava basicamente do século XIX, ao passo que o novo, mais perigoso, pretende chegar a nossos dias). Vou perseverar!
Brasília, 4/05/2025