O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Importando cerebros (no Brasil parece que é proibido...)

O pior nacionalismo que possa haver é o nacionalismo educacional. É o mais burro, dito simplesmente.
O Brasil se desenvolveu importando gente, pensando importar braços apenas. Os imigrantes foram pensados como substitutos dos escravos nas fazendas de café, e minha avó italiana veio para o Brasil exatamente para isso mesmo.
Só que com os braços vem os cérebros, pois gente empreendedora costuma trazer o cérebro junto quando vem trabalhar: só os muito servis, deixam o cérebro em casa e se entregam totalmente ao patrão, como ainda acontece em certos serviços muito subservientes...
Pois bem, depois o Brasil achou que já tinha sido generoso demais e fechou as portas à imigração, numa das políticas mais estúpidas de que se tem notícia em nossa história.
A Constituição de 1988 acrescentou mais um grão (ou uma tonelada) à estupidez ambiente, proibindo a contratação de professores estrangeiros pelas universidades brasileiras.
Poucas vezes em nossa história, a estupidez de alguns se manifestou de maneira tão primária como nessa ocasião. Depois, felizmente, se corrigiu parcialmente essa anomalia duplicada com burrice, ao se suspender essa cláusula constitucional, mas o preconceito contra a inteligência estrangeira persiste em vários campos da vida nacional, em primeiro lugar no próprio governo.
Quando vejo, ou ouço, representantes do MEC, de outros setores do governo, ou, em geral, professores do terceiro ciclo dizendo que são contra a abertura da educação nacional no quadro da liberalização dos serviços no GATT-OMC, por que isso "faria com que nossas universidades fossem compradas por investidores estrangeiros", eu me pergunto o que é que pode fazer pessoas universitárias, medianamente alfabetizadas, portanto, serem tão estúpidas a esse ponto, de professarem explicitamente nacionalismo educacional, de se opoerem à internacionalização da educação brasileira, em nome de não se sabe bem qual nacionalismo pedagógico que faria com os os cérebros nacionais fossem inevitavelmente superiores aos estrangeiros?
Como é que as pessoas não se dão conta de que estaríamos muito melhor se, em lugar dessas Faculdades Tabajara de Cabrobó da Serra, nós pudessemos ter pelo menos cópia de Harvard, de Yale, de Princeton.
Claro, não conto com essas universidades da primeira linha vindo inteiras para o Brasil (ainda que todas elas tenham programas de cooperação e de intercâmbio com vários países ao redor do mundo, os menos estúpidos, digamos assim), mas mesmo uma universidade ou faculdade de segunda ou terceira linha, nos EUA, puramente comercial, viria, supostamente, para introduzir padrões mais elevados de educação, e talvez a custos mais razoáveis. Seria, é óbvio, do interesse desses investidores, do contrário eles não viriam, pois ninguém investe para perder dinheiro, e só se ganha dinheiro se você consegue oferecer um produto de melhor qualidade a menor custo.
Sim, a despeito do que possam dizer esses professores obtusos, educação é uma mercadoria, sim, uma das mais sofisticadas, e não só pode, como deve, ser objeto de comércio, isto é, de concorrência, de abertura de mercados, de total liberdade de intercâmbio, para que os melhores possam prosperar, vencer, ficar ricos.
Por isso, considero que o setor no Brasil -- que aliás não está fechado ao capital estrangeiro; ele só não vem porque o Brasil é um país muito complicado para negócios de maneira geral, para negócios que dependam do governo, em particular -- deveria estar mais aberto aos talentos estrangeiros.
Essa característica fez a fortaleza americano ao longo do tempo. É isso que devemos perseguir...
Paulo Roberto de Almeida

Internacional
A grande disputa por cérebros
Ben Wildavsky *
THE WASHINGTON POST, 06/08/2010

A transmissão do conhecimento constitui um novo tipo de livre comércio, o de mentes, e o protecionismo não é positivo

Por décadas, as universidades de pesquisa nos EUA foram as líderes mundiais no campo das ciências e da engenharia, imbatíveis desde a 2.ª Guerra pelo volume e excelência do conhecimento e inovação que criavam. Mas há sinais cada vez mais nítidos de que o restante do mundo vem conquistando terreno muito rápido, criando novas universidades, melhorando as existentes, competindo energicamente pelos melhores alunos e recrutando PHDs nos EUA, convencendo- os a retornar ao país para trabalhar em laboratórios das universidades e da indústria.
A ordem hierárquica no campo acadêmico está em vias de se inverter? Quase 3 milhões de jovens estudam fora do seu país natal - um aumento de 57% na última década. Os estudantes estrangeiros predominam em muitos cursos de doutorado nos EUA, representando 64% dos PHDs em ciência da computação, por exemplo. As universidades de Pequim e Tsinghua juntas ultrapassaram Berkeley com o maior número de alunos em doutorado nos EUA.
Metade dos melhores físicos do mundo não trabalham mais em seus países de origem. E grandes instituições, como as universidades de Nova York e de Nottingham, estão criando filiais no Oriente Médio e na Ásia. Existem hoje 162 campus satélites em todo o mundo, um aumento de 43% somente nos últimos três anos.
Ao mesmo tempo, um número crescente de países que tradicionalmente são os que mais enviam estudantes para fora, desde a Coreia do Sul até a Arábia Saudita, procuram melhorar a qualidade e a quantidade dos seus próprios cursos de graduação, travando uma feroz e dispendiosa disputa para recrutar estudantes e criar universidades de pesquisa de classe mundial.
Durante sua campanha em 2008, o então candidato Barack Obama falou em tom alarmante sobre a ameaça dessa concorrência acadêmica para a competitividade dos EUA. "Se quisermos continuar construindo os carros do futuro aqui não podemos nos permitir ver o número de doutorados em engenharia aumentando na China, na Coreia do Sul e no Japão, ao mesmo tempo que se observa uma queda aqui nos EUA", declarou Obama.
Essa preocupação não se restringe apenas aos EUA. Em alguns países, o nervosismo envolvendo essa competição no campo educacional e a fuga de cérebros resultou num forte protecionismo acadêmico. Índia e China são conhecidos pelos obstáculos burocráticos e legais que colocam às universidades ocidentais que pretendem instituir campus satélites nesses países para atender estudantes locais.
Muitas vezes, os alunos que querem deixar o país também enfrentam barreiras. Há alguns anos, o presidente de um prestigiado instituto de tecnologia na Índia proibiu seus formandos de aceitar estágios remunerados acadêmicos ou em empresas no exterior.
Há ainda outros impedimentos à mobilidade global que não são declaradamente protecionistas, mas limitam o acesso às universidades em todo o mundo. Nos anos posteriores aos atentados de 11 de setembro de 2001, por exemplo, preocupações legítimas com a segurança causaram enormes adiamentos na concessão de vistos e transtornos de caráter burocrático para estrangeiros que aspiravam estudar nos EUA. O número depois aumentou, mas persistem limites severos para vistos de trabalho e residência, que deveriam servir como atração para os mais brilhantes estudarem nos EUA.
Talvez parte da preocupação com esses novos empreendimentos acadêmicos no plano global seja compreensível, especialmente num período de grande incerteza econômica. Mas o protecionismo na área do ensino é um erro tão grande quanto o protecionismo comercial. A globalização do ensino superior deve ser estimulada, não temida - também nos EUA. Existem todas as razões para se acreditar que a disputa global pelo talento humano, a corrida para se produzir uma pesquisa inovadora, o movimento para estender os campus universitários a múltiplos países, e o ímpeto para preparar estudantes talentosos que poderão trazer mais vigor para economias com base no conhecimento, serão muito bons para os EUA também.
Sobretudo, porque a expansão do conhecimento não é um jogo de soma zero. Um maior número de doutorados e o florescimento da pesquisa na China, por exemplo, não vão tirar o acervo de conhecimento dos EUA. Como o conhecimento é um bem público, os ganhos intelectuais de um país sempre beneficiam outros. A pesquisa chinesa poderá muito bem fornecer as bases para empreendedores americanos, ou de outros países, inovarem.
Da mesma maneira que o livre comércio se traduz em produtos e serviços mais baratos, beneficiando produtores e consumidores, a competição acadêmica global terá como resultado uma livre movimentação de pessoas e ideias, com base no mérito, o que será muito positivo para os indivíduos, universidades e países. Hoje, a transmissão e a mobilidade do conhecimento, sempre constantes, constituem um novo tipo de livre comércio, o de mentes.
A redução gradativa no número de estudantes no mercado americano, ou a emergência de novos concorrentes ambiciosos na Ásia, na Europa e no Oriente Médio, não significam que as universidades americanas estão em rota inevitável de declínio.
Resistindo às barreiras protecionistas, internamente e no exterior, continuando a recrutar e acolher os melhores estudantes do mundo, enviando mais alunos para o estrangeiro, fomentando uma colaboração entre nações no campo da pesquisa e fortalecendo suas próprias universidades de pesquisa, os EUA conseguirão manter a excelência acadêmica já estabelecida e ao mesmo tempo expandir a soma da prosperidade e do conhecimento globais.

* PESQUISADOR SÊNIOR DA KAUFFMANN FOUNDATION

TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

A tese da semana (talvez do século)

Não me responsabilizo pela consistência teórica ou pela fiabilidade histórica, sequer pela correção econômica, da tese abaixo.
Mas, considerando-se que seu autor é um legítimo representante da classe operária, do proletariado tão incensado pelo autor original da tese da mais-valia, a quintessência da explicação marxiana para o segredo do valor econômico e o inner sanctum da teoria marxista para explicar a derrocada inevitável do capitalismo e a ascensão também inevitável e triunfante do socialismo, creio que convém dar a maior atenção a essa tese verdadeiramente revolucionária, tanto porque vem de um grupo, o Vanguarda Popular, coerentemente preocupado com o avanço da ciência entre as camadas populares e manifestamente engajado na transformação revolucionária de nossa sociedade, a começar por nossas universidades, infelizmente recheadas, como se sabe, de marxistas vulgares, que nunca leram Marx e não conseguem penetar nos arcanos do Capital, para dali aurir a fonte generosa de elocubrações filosóficas de tão alta relevância quanto essa teoria da menos-valia.
A ler e refletir. Vocês não têm nada a perder, só alguns minutos de seu tempo.
Como diriam os capitalistas vulgares, tempo é dinheiro, mas não neste caso, quando se trata de lutar pela gloriosa causa do proletariado universal.
Aux armes citoyens, ou pelo menos, às telas de computadores...
Paulo Roberto de Almeida

A menos-valia
Escrito por Operário Sindicalizado
Vanguarda Popular, 11.08.2010

Marx nos ensina, e todos sabem, que toda a fonte de valor é o trabalho. Ou seja, se uma pessoa achar por acaso numa caverna um pedaço de ouro, ele não terá valor, porque não tem trabalho algum agregado. Inversamente, se um sujeito passar 30 anos cavando um buraco, será um buraco incrivelmente caro, porque tem MUITO trabalho agregado. Não creio que haja dúvidas quanto a isso. Só cães raivosos da burguesia ousariam negar tão óbvio princípio.

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Brasil: um pais preparado para NAO crescer...

O que emperra o País
Rolf Kuntz
O Estado de S.Paulo, 11 de agosto de 2010

O Brasil continuará crescendo menos que outros Brics, nos próximos anos, se a taxa de investimento permanecer na vizinhança de 20% do Produto Interno Bruto (PIB), ou pouco abaixo, como tem ocorrido há muito tempo. Em 2010 deve ficar em 19%, segundo a estimativa divulgada ontem pelo Ministério da Fazenda, no relatório bimestral intitulado Economia Brasileira em Perspectiva. O PIB deve aumentar 6,5% neste ano e cerca de 5,5% no próximo, sem criar grandes pressões. O potencial de expansão sem problemas está na faixa de 5,5% a 6%, de acordo com o ministro Guido Mantega. Um avanço nesse ritmo está longe de ser desprezível. De fato, é muito bom, se comparado com as perspectivas do mundo rico, ainda afetado pela crise iniciada com o estouro da bolha de crédito. Mas os brasileiros poderiam, com realismo, ambicionar muito mais, e não precisariam fazer grandes sacrifícios para dar maior impulso ao crescimento.

Segundo a candidata Dilma Rousseff, o Brasil só não cresceu mais nos últimos anos porque o governo petista encontrou “uma inflação fora de controle”, havia uma dívida muito grande com o FMI e foi preciso gastar tempo para pôr em ordem as finanças. Deve haver quem acredite nesse besteirol, mas, como o assunto é crescimento econômico, vale a pena recordar alguns dados. O dólar disparou e a inflação aumentou em 2002 porque petistas haviam passado anos defendendo o calote da dívida pública. Se não houvesse desconfiança, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva não precisaria escrever aquela Carta ao Povo Brasileiro. O programa com o FMI foi combinado por causa disso e não envolveu nenhuma dificuldade especial. A inflação foi rapidamente contida em 2003 graças ao uso de instrumentos monetários e fiscais forjados no governo anterior. Quanto às contas públicas, já vinham sendo consertadas e hoje poderiam estar em melhor situação, se uma chefe da Casa Civil, chamada Dilma Rousseff, não houvesse torpedeado a proposta do ministro Antônio Palocci de zerar num prazo razoável o déficit nominal.

A proposta foi recusada porque a ministra, vários de seus colegas e o próprio presidente Lula preferiam continuar aumentando o gasto público. Puderam continuar nessa marcha durante anos graças à elevação da receita. A ideia era gastar mais, inflando a folha de pagamentos, deixando crescer o custeio e aumentando a rigidez orçamentária. O Tesouro sempre investiu muito menos que o valor previsto no Orçamento (neste ano, só 34,3% até 5 de agosto). Depois, elevar a qualidade do gasto nunca foi prioridade. Sempre foi muito mais importante aparelhar o governo e suas empresas, embora isso tornasse inevitável, de vez em quando, demitir algumas pessoas inconvenientes de alguma estatal.

Se o presidente Lula e seus companheiros cuidassem menos da ocupação do poder e um pouco mais da administração, poderiam ter preparado a economia para crescer mais velozmente. Para começar, poderiam ter elevado a qualidade gerencial do governo. Se a máquina federal fosse tocada com um pouco mais de competência, o investimento público teria sido bem maior com o mesmo dinheiro disponível. Basta olhar o Orçamento e conferir o baixo grau de uso das verbas. Um pouco mais de competência teria permitido também um avanço maior em todas as frentes do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Em três anos, a aplicação do dinheiro mal passou de 60% do previsto para 2007-2010, e isso ainda inclui financiamentos de imóveis usados. Na parte das estatais, a Petrobrás foi responsável por cerca de 90% dos investimentos concretizados.
Os 18% ou 19% do PIB investidos anualmente no Brasil dependem essencialmente da Petrobrás e do setor privado. A maior parte do setor público permanece mais aparelhada politicamente do que preparada para atender às necessidades do País. Mas o capital privado poderia ter feito mais, se o governo tivesse adotado as parcerias necessárias ao investimento em infraestrutura. Além disso, o ambiente institucional permaneceu pouco atraente, porque o governo – e nisso a ministra Dilma Rousseff teve um papel importante – emperrou o projeto das agências de regulação. Tudo isso – e é preciso também lembrar o descalabro educacional – limita o potencial de crescimento do PIB.
A última novidade é a política seletiva do BNDES. De 2008 a junho deste ano, a Petrobrás, a Eletrobrás e dez grupos privados ficaram com 57% dos financiamentos, segundo levantamento da Folha de S.Paulo. Mas há, no setor privado, quem assine manifesto a favor dessa política. Impossível, diante da alegria dessa gente, não lembrar a piada da hiena: “De que se ri o animalzinho?”

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A frase sintese da campanha eleitoral...

Deve ser muito criterioso que não se acuse sem provas porque no final da campanha tem gente que vai passar para a história das campanhas eleitorais como ter feito calúnia e difamado desnecessariamente pessoas e campanhas que não tinham provas”.
Candidata Dilma Rousseff (11/08/2010)

Entendeu leitor?
Não se preocupe, eu também não, e acho que ninguém mais.
Como disse um jornalista (Reinaldo Azevedo. de quem copio essa transcrição) é "a sintaxe na sua fase de miséria". Essa frase "rende um tratado de lingüística e neurologia."

Brazil's Foreign Policy: not so praised, anymore...

The Folly of Brazil's Exceptionalism
Daniel Wagner and Tyler Rouillard
The Huffington Post, 10 August 2010

Brazil has been referred to as a regional superpower and an emerging global power, and President Lula has been called the most popular politician in the world by President Obama. But is Brazil's and its President's status well deserved, and have they lived up to their reputation? This article will argue that the answer is 'no' to both questions.

Rather than having earned its much vaunted position among political and economic pundits, Brazil has achieved its status based more on potential than economic performance, and while President Lula has certainly earned his popularity in Brazil, on the global political stage, he has made a mess of things.

To BRIC, or not to BRIC - That is the Question
Goldman Sachs first coined the term "BRICs" in 2001, instantly catapulting Brazil into emerging regional superstar status, which was puzzling since Brazil was in the middle of a financial crisis at the time. Its $210 billion foreign debt equaled 38% of the country's GDP, per capita GDP was just $2,800, and its real GDP growth rate was just 2.7% that year. The value of its currency had plunged by 29% from the previous year, and in 2002 -- the year Lula da Silva was first elected President -- the country took out a $30 billion financial assistance package from the IMF.

Based on its economic performance, Brazil did not deserve to be placed on the same pedestal as China and India. Goldman undoubtedly threw Brazil in the pot because of its 'potential' as an emerging regional power. However, based on its economic performance, Brazil still does not deserve to be in the same company as the other BRIC countries. Consider this:

Brazil's average GDP growth rate from 1997 to 2001 was just 2.0 percent, and from 2002 to 2006, just 3.2 percent;
Its average GDP per capita actually fell from 4,100 between 1997 and 2001 to 4,000 from 2002 to 2006; and
Average annual foreign direct investment to Brazil also fell from 27 billion between 1997 to 2001 to less than 16 billion between 2002 to 2006 (Source: Political Risk Services).
The country's GDP growth rate actually only exceeded 4 percent once between 2001 and 2006, while Russia's, India's, and China's average growth rates for the period were approximately 7, 9, and 10 percent, respectively. Brazil's GDP growth in 2009 was -0.2%. Although Brazil is expected to reach 6 percent growth this year, through 2014 it is projected to revert back to its usual lackluster growth performance (by BRIC standards) of 3 to 4 percent (Source:Business Model International), while China and India are forecast to continue to try to tame double digit growth.

So it appears that Goldman erred by tossing Brazil into the BRIC pot and must have used different criteria for Brazil than it did for China or India. This raises question about the wisdom and validity of having created the term BRIC, and the aura that surrounds it.

A combination of government complacency, an inadequately developed regulatory framework, and a host of infrastructure bottlenecks prevent Brazil from achieving its full potential. Rigid labor laws, a byzantine tax system, and government domination of long-term credit markets conspire to prevent Brazil from breaking out of its well established pattern of below average economic performance. Having been lauded by investment banks for a decade, and having been rescued by the IMF - crisis after crisis -- for more than $40 billion since 1984, Brazil must feel it can do just about anything and retain its stature in the global arena.

Too Big for Its Britches

Politically, Brazil has simply gotten too big for its britches. The country's obvious regional importance and special status among global policy makers gave President Lula the confidence to leap on to the global political stage. Lula naturally sought to project Brazil's power globally, but based more on his popularity as a friend of the global worker than as a skilled statesman. Although Brazil has admittedly been a pivotal player in forming the G20 and played a significant role in WTO and climate change talks, it appears to have bitten off more than it can chew.

Brazil's foreign policy since 1985 has been based on three pillars of achieving autonomy: through diversification of relations with other nations, by maintaining a distance from the liberalizing international order, and participation in international forums. For Brazil, independence is paramount, and in foreign policy, it wants to be all things to all people. As a result, a tendency to 'double deal' with its international partners in order to protect itself has become endemic in Brazilian foreign policy over the past 25 years (Source: Gabrial Capaluni and Tullo Vigevant, Brazilian Foreign Policy in Changing Times).

By embracing Iran and attempting to broker with Turkey the low-enriched uranium swap to France, he has chosen to give priority to Brazil and Iran's $2 billion trade relationship over Brazil's decades-long relationship with Washington. As a result, Lula has burned a lot of political capital with Brazil's second largest trading partner (the U.S.). The attempted exchange with Iran demonstrates clearly that Brazil will pursue its own path, even though it is clearly not yet ready to assume a leading role in superpower politics. As Brazilian foreign affairs analyst Matias Spekor has noted, "Foreign policy requires intellectual capital, and Brazil is ill prepared to engage in a globalized world."

Brazil's attempts to play a broker role in Honduras, when former Honduran President Zalaya was thrown out of power in 2009, and more recently between the Israelis and Palestinians, also both failed - the result of the Brazil overstepping its bounds and sticking its nose where it doesn't belong. In his desire to be all things to all people and maintain a diverse range of bilateral relationships, Lula has gotten himself caught on a rather slippery slope and is causing potentially long-term damage with some of its most important allies.

Pursuit of Autonomy vs. Adversarial Role
Brazil's desire to achieve autonomy in foreign affairs is not new, but a number of historical and current examples makes one wonder whether its pursuit of 'autonomy' in foreign affairs makes the country an ally or adversary of the West. For example, Brazil first embarked on a nuclear program in the 1930s and pursued a covert nuclear weapons program until the 1970s. It retains the ability to create nuclear weapons but agreed not to do so under the terms of the Nuclear Non-Proliferation Agreement, and as a signatory to the 1994 Treaty of Tlatelolco, which bans nuclear weapons in Latin America. But Brazil continues to have a program to produce enriched uranium for power plants, and opened its first uranium enrichment plant in 2006.

In its negotiations with the International Atomic Energy Agency (IAEA) at the time, Brazilian negotiators did not want to allow inspection of its centrifuges, arguing that doing so would reveal technological secrets. Following extensive negotiations, the IAEA relented and agreed not to directly inspect the centrifuges, but rather the composition of the gas entering and leaving the centrifuges. Brazil won a significant victory and the U.S. was forced to resort to merely stating that it was "sure" Brazil had no plans to develop nuclear weapons.

If Brazil decided to pursue a nuclear weapon today its centrifuges could be reconfigured to produce enough highly enriched uranium to produce nuclear weapons. In addition, Brazil has ambition to develop a nuclear submarine fleet, having authorized the construction of a prototype submarine propulsion reactor in 2007. So Brazil has similar proliferation capability as Pakistan and North Korea but is seen as a 'team player,' having gotten a green light as one of the good guys from the IAEA and the United States, while actually having manipulated and emasculated both for its own benefit.

Consistent with its strategy of strengthening ties with poorer countries, Brazil has either abstained or attempted to substantially dilute a number of human rights resolutions in the United Nations. In February 2010, Lula visited Fidel Castro, referred to Cuban human rights hunger strikers as common criminals, and defended Cuba's treatment of political opponents.

This is ironic, since Lula got into politics as a result of being a union leader, and led similar strikes against Brazil's military government in the 1970s. According to Jose Miguel Vivanco, Americas Director of Human Rights Watch, "outside of non-democratic countries like China, Brazil has become the biggest obstacle nation to advancing universal human rights and freedoms." Is this really the reputation Brazil means to forge for itself over the long-term?

Aid Recipient and Provider
As developed countries have done for decades, Brazil is now using its new position in the world to attempt to influence poorer countries by dispensing aid. According to The Economist, Brazil now commits more than $4 billion per year in foreign assistance (including disbursements from Brazil's aid agency --the Brazilian Cooperation Agency--, contributions to individual countries and other aid organizations). That is more than China and about as much as 'generous' developed countries, such as Canada and Sweden. In that regard, Brazil is keeping good company.

Spending by the BCA has trebled over the past two years and recipient nations are quite happy to receive the aid, since Brazil does not impose western-style conditions. Unlike China, which focuses its aid on infrastructure and natural resource extraction, Brazil targets its assistance more on social programs and agriculture, which resonates well with local populations.

Since Brazil is also a recipient of aid, the country's new role as aid giver has helped blur the distinctions between aid recipients and donors. This is consistent with Brazil's tendency to want to shake up the ancient regime and redefine what is means to be a developing country. But it is entirely possible that, as was the case with China, Brazil's foray into development assistance could come back to bite it later.

Its Own Worst Enemy
In spite of all the hoopla over Brazil as one of the world's globalization poster boys, its worst enemy is itself. Brazil has yet to sustain mid-to-high single digit GDP growth rates as the other BRIC countries have done, and looks no better poised to do so in the second decade of the 21st century than it did in the first.

Brazil's inexperience on the global stage, combined with Lula's desire to project Brazilian power, has led to a series of mistakes that are perhaps best described as reckless. By trying to shape the world to reflect its own world view, Lula has succeeded in ringing alarm bells in Washington and the capitals of Europe. That cannot help its objective of gaining a permanent seat on the UN Security Council.

The Brazilian government would be well advised to steer clear of the established powers' neighborhood until such time as it is genuinely accepted as a member of the club, and can demonstrate that it has something meaningful to offer by becoming engaged in the most sensitive diplomatic issues of the day.

Daniel Wagner is Managing Director of Country Risk Solutions, a political and economic risk consultancy based in Connecticut. Tyler Rouillard is a research analyst with CRS and provided research for this article.

Keynes-Hayek: um velho debate sempre atual

Keynes versus Hayek: El gran debate continúa
por Gerald P. O'Driscoll Jr.
The Wall Street Journal, 7 de julio de 2010

Gerald P. O'Driscoll es ex-vicepresidente del Banco de la Reserva Federal en Dallas y académico asociado del Cato Institute.

El debate acerca de qué clase de políticas sacarán a la economía estadounidense de su Gran Recesión repite aquel que se dio durante la Gran Depresión. Gracias a los esfuerzos de Richard Ebeling, profesor de economía en la Universidad de Northwood, tenemos evidencia contundente y concisa. Él ha desempolvado cartas enviadas al Times de Londres desde dos perspectivas que reflejan el debate contemporáneo.

El 17 de octubre de 1932, el Times publicó una larga carta de John Maynard Keynes y cinco otros economistas académicos. Keynes y sus coautores esgrimieron el argumento a favor del gasto —de cualquier tipo, privado o público, ya sea en consumo o inversión.

“La economía privada” era el obstáculo que impedía un retorno a la prosperidad. Si una persona decide ahorrar, no hay garantía de que los fondos “encontraran su camino hacia la inversión en nuevo capital de construcción por parte de emprendimientos públicos o privados”. Ellos citaban a la “falta de confianza” como la razón por la cual los ahorros no se convierten en inversiones. Consecuentemente, “el interés público en las condiciones actuales no conduce hacia una economía privada; gastar menos dinero del que quisiéramos no es patriótico”. Ellos concluían respaldando el gasto público para compensar la miope austeridad privada.

El punto de vista esbozado en esta carta llegó a ser conocido como la economía keynesiana. Las depresiones son causadas por un déficit en el gasto, que puede compensarse mediante gasto público. La economía keynesiana (la cual precede a Keynes) es fácilmente reconocible en los discursos del presidente Obama y su equipo económico.
Dos días después, el 19 de octubre de 1932, cuatro profesores de la Universidad de Londres respondieron a la carta de Keynes y uno de los firmantes era Friedrich A. Hayek quien casi 50 años después ganaría el Premio Nóbel de Economía.

Hayek y sus coautores señalaron tres puntos de divergencia. Primero, identificaron correctamente el argumento de Keynes acerca de la futilidad del ahorro como un argumento sobre lo que tradicionalmente ha sido conocido como los peligros del ahorro, es decir, las consecuencias potencialmente perjudiciales de un aumento en la demanda del dinero a lo largo y ancho de la economía que no es correspondido por un aumento en la oferta de dinero. “Se está de acuerdo con que el acumular dinero, ya sea en efectivo o en cuentas inactivas, tiene efectos deflacionarios. Nadie piensa que la deflación en sí es deseable”.

Segundo, los profesores de Londres cuestionaron la premisa de que no importaba en qué se gastaba, ya fuese en consumo o en inversión. Ellos vieron un “renacimiento de la inversión como peculiarmente deseable”, tal y como lo ven los partidarios actuales de la economía del lado de la oferta. Ellos hicieron una distinción entre acumular dinero y los ahorros que fluyen hacia valores, y reafirmaron la importancia de los mercados de valores en transformar los ahorros en inversión.

Su tercer y más importante punto de desacuerdo con Keynes radicaba en los beneficios del gasto público financiado mediante déficit. Ellos expresaron dudas. “La existencia de una deuda pública a gran escala impone fricciones y obstáculos al reajuste mucho mayores que las fricciones y obstáculos impuestos por la existencia de la deuda privada”. Este no era el momento para “nuevas piscinas municipales” (el ejemplo dado por Keynes). En nuestro contexto actual, sería nada de estímulo.

Finalmente, e igual de importante, sugirieron una estrategia. Los gobiernos a nivel mundial, liderados por EE.UU. con el destructivo paquete de aranceles Smoot-Hawley de 1930, se habían volcado hacia el proteccionismo y las restricciones a los flujos de capitales. Hayek argumentó que era hora de “abolir aquellas restricciones sobre el comercio y el libre movimiento del capital”.

En resumen, ellos argumentaban que la cura para la Gran Depresión era un revigorizado sistema global de comercio. La economía mundial no ha se ha volcado hacia el proteccionismo esta vez, pero esfuerzos por expandir el comercio mundial se han debilitado. Como Allan Meltzer, profesor de economía en la Universidad de Carnegie Mellon, recientemente le recordó a los lectores página de opinión del Wall Street Journal (“Why Obamanomics Has Failed”, 30 de Junio de 2010), solamente la expansión del comercio nos puede permitir pagar la deuda pública que pesa sobre la economía.

El redescubrimiento del profesor Ebeling de estas cartas ha desatado un torrente de comentarios en los blogs. Como dijera Mario Rizzo, economista de la Universidad de Nueva York, “El gran debate todavía es Keynes versus Hayek. Todo lo demás es una nota al pie de página”. Los economistas han cubierto al debate con cada vez más complejidad matemática, pero los asuntos de fondo siguen siendo los mismos.

¿Estaba Keynes en lo correcto cuando decía que los ahorros se convierten en dinero inactivo y deprimen la actividad económica? O, ¿acaso la perspectiva de Hayek, primero articulada por Adam Smith en La riqueza de las naciones en 1776, era la correcta? (Smith: “Lo que es ahorrado anualmente es tan regularmente consumido como lo que es gastado anualmente, y casi al mismo tiempo también”.)

¿Todo gasto es igualmente productivo o deberían las políticas estatales buscar estimular el gasto privado? Si esto último es cierto, entonces Obama ha estado siguiendo los pasos de Franklin Delano Roosevelt e impidiendo la recuperación. Lo hace al demonizar los negocios y crear un régimen de incertidumbre con nuevas regulaciones y programas costosos. En esto no sigue ni a Hayek ni a Keynes, ya que generar incertidumbre era considerado como algo destructivo por ambos.

Finalmente, ¿acaso crear más deuda pública en una economía debilitada será el camino a la recuperación? O, ¿es la “economía” (austeridad en el debate de hoy) y el ahorro el camino a la prosperidad ahora, como usualmente se ha creído?

Expandindo o Estado assistencialista: construindo um Brasil inviavel

Não se trata de considerar que os gastos do Bolsa Família são orçamentariamente insuportáveis, porque não o são: representam menos da metade, talvez uma quarta parte do "Bolsa-Empresários" e do ajutório a banqueiros, que o governo promove por diferentes meios e mecanismos de transferência de dinheiro para quem já é rico. O governo sempre fez isso e continua fazendo.
Trata-se simplesmente da criação de uma mentalidade assistencialista que vai dividir o Brasil em duas nações: a dos assistidos e a dos pagantes, sendo que os primeiros já se consideram titulares de um direito irrevogável, como se constata abaixo.

Beneficiários do Bolsa Família querem mais
Folha.com, 11.08.2010

Setenta e oito por cento dos beneficiários do Programa Bolsa Família preferem a expansão do número de atendidos e outros 22% defendem o aumento do valor do benefício.

Isso é o que revela pesquisa encomendada pelo MDS (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

Entre as pessoas que estão fora do programa, 85% defendem a inclusão de mais famílias e 15% preferem que o valor do benefício seja aumentado.

Somando beneficiários e não atendidos, 82% responderam pela expansão, contra 18% que optaram pelo aumento do repasse do programa.

A pesquisa avaliou também se as famílias têm dificuldades para cumprir as exigências do programa, como permanência das crianças na escola e vacinação em dia.

Do total de entrevistados, 81% responderam não enfrentar problemas no cumprimento das condições exigidas pelo Bolsa Família.

Entre as famílias urbanas, 84% disseram não ter dificuldade, contra 71% das que vivem no meio rural. Mais de 90% dos entrevistados sabe e entende quais são os critérios para ingressar no programa, conforme a pesquisa.

O Ifpri (Instituto Internacional de Pesquisa sobre Políticas Alimentares), responsável pela pesquisa, ouviu famílias beneficiárias e não contempladas pelo programa.

O objetivo é medir os efeitos provocados pelo programa nas condições de vida dos beneficiários.

As famílias beneficiária ou não atendidas pelo programa foram ouvidas em 2005 e em 2009. Na primeira rodada, foram entrevistadas 15.426 famílias em 269 municípios.

Em 2009, cerca de 11 mil famílias foram novamente entrevistadas. De acordo com os pesquisadores, a perda de amostra ocorre por dificuldades em localizar as famílias, mas foi considerada dentro dos padrões.

A maioria dos dados divulgados hoje se referem à avaliação de 2009. O programa atende hoje a 12,6 milhões de famílias.

Mentiras politicas: ate quando os jornalistas aceitam as fraudes eleitorais?

Não digo pela jornalista econômica abaixo transcrito, mas por todos esses repórteres e entrevistadores, que ouvem mentiras e não retrucam na hora.
Tenho horror à mentira e apenas por este motivo transcrevo esta matéria, não por achar que ela é especialmente meritória.
Mas quando num país todos os políticos mentem, alguém precisa restabelecer a verdade dos fatos.
Paulo Roberto de Almeida

Em nome dos fatos
Miriam Leitão
O Globo, 11.08.2010

Inflação fora de controle quem enfrentou foi o Plano Real. O acumulado em 12 meses estava em 5.000% em julho de 1994. Quando a inflação subiu em 2002, no último ano do governo Fernando Henrique, pela incerteza eleitoral criada pelo velho discurso radical do PT, ficou em 12%.

Ela foi reduzida pelo instrumental que o PT havia renegado. Isso é a História. O resto é propaganda e manipulação.

O PT e o governo Lula têm dito que receberam o país com descontrole inflacionário e a candidata Dilma Rousseff repetiu isso na entrevista do Jornal Nacional. O interesse é mexer com o imaginário popular que lembra do tormento da inflação.

A grande vitória contra a inflação foi conquistada no governo Itamar Franco, no plano elaborado pelo então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, como todos sabem. Nos primeiros anos do governo FHC houve várias crises decorrentes, em parte, do sucesso no combate à inflação, como a crise bancária.

Foi necessário enfrentar todas essas ondas para garantir a estabilização. Nada daquela luta foi fácil. A inflação havia derrotado outros cinco planos, e feito o país perder duas décadas.

Todos sabem disso. Se por acaso a candidata Dilma Rousseff andava distraída nesta época, o seu principal assessor Antonio Palocci sabe muito bem o que foi que houve. Ele ajudou a convencer os integrantes do partido a ter uma atitude mais madura e séria no combate à inflação.

O PT votou contra o Plano Real e fez oposição a cada medida necessária para consolidar a nova ordem. As ideias que o partido tinha sobre como derrotar a alta dos preços eram rudimentares.

Em 2002, a inflação subiu principalmente nos dois últimos meses, após a eleição. A taxa, que havia ficado abaixo de 6% em 2000, subiu um pouco em 2001 e ficou quase todo o ano de 2002 em torno de 7%. Em outubro daquele ano, o acumulado em 12 meses foi para 8,5%. Em novembro, com Lula eleito, subiu para 10,9% e em dezembro fechou em
12,5%.

É tão falso culpar o governo Fernando Henrique por aquela alta da inflação — de 12,5% repita-se, e não os 5.000% que ele enfrentou — quanto culpar o governo Lula pela queda do PIB do ano passado, que foi provocada pela crise internacional.

Recentemente, conversei com um integrante do governo Lula que, longe dos holofotes e da campanha, admitiu que essa aceleração final foi decorrente do fato de que a maioria dos empresários não acreditava que o governo Lula fosse pagar o preço de manter a estabilização.

Esse foi o mérito do PT. Foi ter contrariado seu próprio discurso, abandonado suas próprias propostas, por ter percebido o valor da estabilização.

Esse esforço foi liderado por Palocci e pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. A inflação entraria numa rota de descontrole que poderia até ter destruído o esforço feito durante os oito anos anteriores se o governo Lula tivesse persistido nas suas propostas.

A História foi essa e não a que a candidata Dilma Rousseff apresentou.

No coracao da campanha eleitoral: a falta de definicoes

Tendo a concordar com o articulista, o que quer dizer que discordo totalmente da atual campanha eleitoral, em que todos acham que está tudo muito bem, mas que mais pode ser feito, que o Brasil pode fazer melhor, que vamos continuar melhorando o que já é bom, etc.
Como tudo isso é falso, é hipocrisia, seria preciso alguém que dissesse: NÃO, não está bem. A educação é uma porcaria, a saúde pior ainda, os transportes horríveis, a infra-estrutura deplorável, os serviços públicos lamentáveis, a desfaçatez política além da conta.
Sou conta a maior parte das coisas que andam por aí: Bolsa-Família, ativismo estatal, extração tributária, mentiras, corrupção, roubalheiro, mandarinato extensivo, greves de burocratas estatais, enfim, esses espetáculo dantesco a que assistimos todos os dias.
Não tenho nenhuma ilusão de que um dos dois candidatos mais competitivos tenha capacidade e aquela coisa que se chama coragem por outro nome para mudar tudo isso que está errado. Infelizmente isso não vai ocorrer. E o Brasil vai continuar se arrastando penosamente em direção à modernidade, se atrasando em relação a outros países, vai continuar alimentando a corja de ladrões que vivem do dinheiro público (ou seja, do nosso dinheiro), enfim, nada vai mudar de substancial.
Por isso mesmo este blog vai continuar chamando atenção para o que está errado...
Paulo Roberto de Almeida

Presente fictício, futuro estático
CLAUDIO WEBER ABRAMO
Folha de S.Paulo, 10.08.2010

Os candidatos são reacionariamente situacionistas; tanto faz quem seja eleito

ELEIÇÕES TÊM a ver com o futuro. Plataformas eleitorais formulam-se em torno de visões sobre como a comunidade deve orientar-se na projeção do tempo. Para que alguém possa propor algo a respeito do futuro, é imprescindível que se baseie em alguma espécie de apreciação sobre o presente.

Qual é o presente que os candidatos "mainstream" à Presidência da República e aos governos estaduais têm em mente?

Seja porque acreditem, seja porque tenham receio de exprimir claramente o que pensam, para esses candidatos o Brasil seria mesmo aquele país pujante e cheio de gente otimista dos reclames publicitários oficiais e das grandes empresas.

Todos, ou quase todos, parecem entregues ao simbolismo fictício dos Brics, como se realmente fizesse algum sentido mencionar o Brasil na mesma frase em que aparecem China, Rússia ou Índia. Todos acham que sediar a Copa do Mundo de futebol em 2014 seja algo sensato. Ninguém tem alguma palavra crítica ao Bolsa Família.

É claro que deve haver quem seja capaz de apresentar argumentos em favor da Copa de 2014, do Bolsa Família e de outros temas (embora quanto às pretensas condições de desenvolvimento brasileiras isso seja missão impossível). O que espanta é inexistência de vozes discordantes.

Enquanto os candidatos jogam o jogo do contente, o país real convive com um poder Legislativo irrelevante, com partidos com escassa ou nenhuma representatividade política, com um poder Judiciário incapaz de proporcionar justiça, com agências reguladoras capturadas pelos interesses que deveriam vigiar, com um funcionalismo público que, com raras e notáveis exceções, varia de incompetente a aproveitador, com um setor privado avesso ao risco e à inventividade, com uma academia improdutiva... a lista das disfuncionalidades brasileiras é inesgotável.

No entanto, nenhuma dessas e outras ineficiências, incompetências e picaretagens aparece nas plataformas dos candidatos com alguma chance de sucesso eleitoral. Para eles, o presente está ótimo e nada há a mudar em relação ao futuro.
Na prática, portanto, e independentemente das siglas partidárias sob as quais se apresentam ou de seus eventuais apoiadores, os candidatos são todos reacionariamente situacionistas.

O que, ao fim e ao cabo, é natural e esperado. Num país que vive de ilusões, eleições representam apenas mais uma vertente ficcional. De modo que tanto faz quem venha a ser eleito. Mudarão apenas os personagens, os grupos beneficiados por privilégios e os aventureiros entre os quais o Estado será repartido.

CLAUDIO WEBER ABRAMO é diretor-executivo da Transparência Brasil

As bases da burguesia do capital alheio: os fundos de pensao

Desta vez, o bicho pegou! Ou: O coração do sistema
Reinaldo Azevedo, 10.08.2010

Vocês notaram o silêncio sepulcral — acompanhado, no máximo, de alguns borborigmos que se ouvem como a justificativa possível — dos petistas e no geral, e dos acusados no particular, em relação a este caso do bunker montado na Previ? Um grupo é acusado por um ex-membro da equipe de comandar uma espécie de política secreta lotada num fundo de pensão e tem uma reação verdadeiramente indignada: prefere não comentar…

A própria rede petralha ficou em silêncio. Até aqueles que recebem dinheiro público para fingir que fazem jornalismo são modestos no seu trabalho a soldo. Por que isso?

Por que os fundos de pensão são o coração do sistema? Terei de recorrer a um texto publicado no dia 3 de fevereiro do ano passado. Vocês vão ver como, modestamente, costumamos chamar as coisas pelo nome que elas têm neste blog. Havia então uma disputa entre o PT e o PMDB pelo controle do Real Grandeza, o fundo de pensão de Furnas. Tio Rei escreveu, então, o que segue em azul (em itálico, neste post):

O PT TEM DOIS PODERES: O TEMPORÁRIO E O PERMANENTE. O PRIMEIRO DEPENDE DAS URNAS; O SEGUNDO É GARANTIDO PELO CIPOAL LEGAL QUE REGULA OS FUNDOS DE PENSÃO, QUE CONFERE AOS SINDICATOS O CONTROLE DE UM PATRIMÔNIO DE QUASE R$ 300 BILHÕES. E O PT COMANDA BOA PARTE DOS SINDICATOS, ESPECIALMENTE OS DE EMPRESAS ESTATAIS, O QUE LHE FACULTA O COMANDO DOS FUNDOS DE PENSÃO INDEPENDENTEMENTE DO QUE DIGAM AS URNAS.

POUCO IMPORTA QUEM SEJA O PRÓXIMO PRESIDENTE, JOSÉ SERRA OU DILMA ROUSSEFF, A, SEM TROCADILHO, REAL GRANDEZA DO PT SE MANTÉM PRATICAMENTE INALTERADA.

Se vocês procurarem no arquivo do blog, encontrarão centenas de textos em que sustento que o poder real do PT não está no controle das verbas do Orçamento. Sem dúvida, ali se encontra uma fonte imensa de recursos, mas o partido é obrigado a dividi-los com parceiros de igual ou maior apetite, a começar do PMDB - que é o que é, ou não estaria junto com o petismo. O dinheiro do Orçamento disponível para investimento, além de mais escasso, está sujeito a controles e a uma maior vigilância da imprensa. Já os fundos… Na prática, ninguém controla. Como boa parte da sua capitalização é feita com recursos públicos, eles representam uma apropriação do dinheiro público pela máquina sindical.

A própria história da privatização, vista pelo ângulo da participação dos fundos de pensão, nos revelaria que a economia brasileira é bem menos privada do que parece. Não! Escrevo de outro modo: os grandes beneficiários da privatização foram os sindicatos das empresas estatais - e isso quer dizer Central Única dos Trabalhadores.

Uma das maiores lambanças do governo Lula - a disputa entre o banqueiro Daniel Dantas e o petismo pelo controle da Brasil Telecom, finalmente vendida à Oi ao arrepio da lei então vigente, mudada só para possibilitar o negócio - teve os fundos como protagonistas. Os petistas mandaram, e eles romperam com Dantas, aliando-se a seus adversários. Alijado do controle da BrT, o banqueiro acabou concordando com a venda, o que acabou sendo um bom negócio pra ele: rendeu-lhe a bagatela de R$ 2 bilhões…

Volto a 10 de agosto de 2010
Os fundos de pensão financiam a farra do petismo. A rigor, eles podem impor a sua vontade, hoje, a alguns potentados da economia, que apenas aparentemente estão sob controle privado. Só a Previ, este em que Gerardo Santiago diz ter sido montada o que chamo de polícia política para perseguir adversários do governo e do PT, tem um patrimônio de 140 bilhões.

Caso Dilma Rousseff perca a eleição para José Serra, a máquina petista não ficará na chuva. Os “companheiros” continuarão a dar as cartas nos fundos; eles fizeram, assim, a acumulação primitiva do capital que financia o “estato-capitalismo” petista. São eles a melhor expressão da nova classe social que batizei de “burguesia do capital alheio”.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

E por falar em Amazonia, tem maluco para tudo

Este maluco inglês, por exemplo, Ed Stafford, caminhou todo o Amazonas, de sua nascente ao mar.
Um explorador dos tempos modernos...

Veja o relato de seu projeto Walking the Amazon eu seu blog: http://www.walkingtheamazon.com/#top

Ou em seu novo site: http://www.edstafford.org/

Al Capones tupiniquins: as mafias sindicais e a politica brasileira

Bem, os companheiros ainda não circulam de metralhadoras pelas ruas da Chicago do cerrado, mas tem outras armas letais, capazes de matar a democracia brasileira.
Paulo Roberto de Almeida

A 'fábrica de dossiês' do PT
Editorial - O Estado de S.Paulo
10 de agosto de 2010

Em editorial, nesta página, sobre a revelação de que servidores da Receita violaram o sigilo fiscal do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira, presumivelmente para a montagem de um dossiê que poderia ser usado por setores da campanha da candidata Dilma Rousseff contra o opositor tucano José Serra, falou-se do "exército secreto" arregimentado pelo PT na administração federal para fazer o trabalho sujo na disputa pelo Planalto. É mais do que isso. As campanhas eleitorais são apenas uma entre tantas frentes onde atuam essas tropas da treva - e assim também os seus alvos.

Disso não deixa dúvida a confissão de um ex-diretor e ex-assessor da Previ, o colossal fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, Geraldo Xavier Santiago. Em entrevista publicada na edição desta semana da revista Veja, Santiago disse que a entidade é "uma fábrica de dossiês" que funciona como um "bunker" e "braço partidário" a serviço de uma ala petista - comandada pelos poderosos chefões do sindicalismo aboletados na estrutura do poder nacional. Ele citou nominalmente os ex-ministros Ricardo Berzoini e Luiz Gushiken e o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, todos do setor bancário.

O gerente da fábrica, de acordo com a denúncia, era o presidente da Previ até junho, Sérgio Rosa. Santiago era próximo dele até romperem em 2007. No embalo, o então diretor deixou o fundo e saiu do PT. Ele não é um pecador arrependido. Levado a falar do dossiê contra Marina Mantega, filha do ministro da Fazenda, cuja compilação o entrevistado atribui a uma "disputa interna", fez uma especiosa distinção entre o certo e o errado nessas operações: "Uma coisa é fazer com o adversário. É uma involução do PT?"

O sindicalismo selvagem que Lula levou para dentro do governo transpôs para a política a violência característica dos embates entre as máfias sindicais. Parte da premissa de que todo adversário deve ser tratado como inimigo - e, nessa condição, deve ser aniquilado. Santiago, que começou no sindicato dos bancários do Rio, contou que sua estreia na linha de montagem de falsas acusações a terceiros data de 2002, quando as milícias petistas foram incumbidas de investir contra os então gestores da Previ e provar a interferência do governo na instituição.

A cultura da destruição se afirmou em seguida. "Dossiês com conteúdo ofensivo, para atingir e desmoralizar adversários políticos", precisa Santiago, "só no governo Lula mesmo, na gestão do Sérgio Rosa". Foi também quando a cúpula da Previ armou uma teia de conselheiros ligados ao PT em empresas de cujo capital o fundo participava para canalizar em favor da sigla as suas doações partidárias. A central de dossiês trabalhou a todo vapor durante a CPI dos Correios, em 2005, cujo foco incidiu sobre o mensalão, antes que o esquema de compra de votos fosse objeto de um inquérito específico.

A Previ, à época, era a fonte das acusações com que a senadora petista Ideli Salvatti tentava acuar parlamentares oposicionistas. Segundo revelou Santiago, que agora diz que cumpria "ordens superiores", entre os políticos visados estavam os senadores Jorge Bornhausen e Heráclito Fortes e o deputado ACM Neto, todos do DEM. O tucano José Serra também faria parte da lista. Rosa teria ordenado que se juntassem dados sigilosos com " informações sobre investimentos problemáticos da Previ que estivessem ligados a políticos da oposição".

Sintomaticamente, a primeira reação do PT à entrevista foi silenciar. Já o fundo de pensão, hoje dirigido por um ex-vice-presidente do Banco do Brasil, Ricardo Flores, informou que "a atual cúpula desconhece essa prática e está muito tranquila em relação a suas recentes práticas de governança". De notar os termos "atual" e "recentes" - indicando uma dissociação com o que se tenha feito na entidade até há bem pouco tempo. De seu lado, além de assegurar que a sua campanha não tem nenhuma vinculação com a Previ, a candidata Dilma Rousseff instou a imprensa a revolver o caso dos grampos na privatização da Telebrás no governo Fernando Henrique. Como se isso eximisse de culpa os papeleiros da Previ e limpasse a ficha do PT.

Mitos amazonicos, paranoias brasileiras...

Antes de Henry Ford, se acreditava que os EUA queriam conquistar a Amazônia para "exportar" os negros americanos. Depois dele vieram outros iludidos com as "fabulosas riquezas" da selva, apenas para enterrar dinheiro no mato, como fizeram o próprio Ford e Keith Daniel Ludwig nos anos 1970.
Bem depois surgiram os boatos em torno da "internacionalização" da Amazônia, uma fraude que contou com a ativa colaboração de militares de extrema direita e militantes bocós de extrema esquerda, numa pouco santa aliança em torno de montagens deliberadas de mapas e supostos livros americanos (tenho um dossiê sobre isso no meu site).
O livro abaixo é sério e demonstra como os homens mais bem assessorados do planeta podem cometer as piores bobagens com base em informações erradas, mas animados por uma vontade irracional de crer em alguns mitos sem fundamento.
Paulo Roberto de Almeida

Um sonho de sociedade perdido no meio da floresta
Por Anamarcia Vaisencher
Valor Econômico, 10/08/2010 – p. D12

Amazônia: Henry Ford não conseguiu levar para a selva seu ideal do "american way of life"

Fordlândia - Ascensão e Queda da Cidade Esquecida de Henry Ford na Selva
Greg Grandin. Tradução de Nivaldo Montingelli Jr. Rocco. 397 págs., R$ 56,00

Henry Ford pretendia harmonizar agricultura e indústria num projeto que garantiria a segurança americana

A Amazônia ainda carrega a herança deixada por Henry Ford como desdobramento de sua tentativa de implantar na selva um espaço de racionalidade econômica chamado Fordlândia. E com a inestimável colaboração local de governantes, políticos, lobistas e gente que atuava na sombra, como Jorge Dumont Villares (sobrinho de Alberto Santos Dumont), articulador do plano que induziu Ford a pagar por terras que provavelmente teria recebido de graça do governo para implantar seu ambicioso projeto.

Muito se disse e escreveu sobre a tentativa de Ford de levar para a Amazônia, ali no vale do Tapajós, um "american way of life" que ele próprio idealizara. Mas "Fordlândia", de Greg Grandin, professor de história da Universidade de Nova York, não é um relato comum. Apoiado em farta documentação e pesquisa, o encadeamento de fatos proporciona uma leitura de reveladora substância.

Se fosse possível simplificar a aventura fordiana, ela teve menos a ver com a necessidade de assegurar o fornecimento de borracha para a fabricação de pneus e uso em outras partes de automóveis, no imenso complexo industrial de River Rouge, nos Estados Unidos, do que com aquilo que o autor chama de "pastoralismo americano" de Ford - uma concepção de sociedade em que as atividades agrícola e industrial estariam em salutar equilíbrio, sem predomínio de uma sobre a outra, numa espécie de simbiose entre terra, mão de obra, recursos, fabricação, finanças e consumo. "Com um pé na indústria e outro na agricultura, a América estará segura", sentenciava Ford. Fordlândia seria um lugar que permitiria antecipar essa convergência. Ele preservava, porém, uma visão quase onírica da realidade corrente em seu país, pois em 1928 se declarava "otimista" em relação ao ano seguinte, "certo de que a nova fábrica de River Rouge, localizada em Dearborn, sua cidade natal, perto de Detroit, seria capaz de atender à demanda" (por seu novo modelo de carro, agora da série A, depois do T).

Em janeiro daquele ano, Ford aproveitou a inauguração do imenso complexo de River Rouge - que integrava praticamente todo o processo de fabricação do automóvel, desde a produção de aço - para anunciar que logo voaria até a Amazônia para inspecionar sua plantação de seringueiras, no vale do Tapajós. O látex era o único recurso natural que Ford não controlava. Grandin não deixa em branco o paradoxo que seria a semente da falência do megalomaníaco projeto no qual Ford despejou vários milhões de dólares. De um lado, o pioneiro que havia aperfeiçoado a linha de montagem e dividira o processo de fabricação em componentes cada vez mais simples, concebendo-o para tornar um produto reproduzível infinitamente, com o primeiro indistinguível do milionésimo. Do outro, a Amazônia, dona de si mesma, reino da natureza avassaladora.

Ford tinha mais de 60 anos quando fundou Fordlândia (hoje Belterra, e esquecida durante 39 anos após a derrocada do projeto), localizada a leste de Santarém e a 726 quilômetros de Manaus. O lugar era definido por alguns visitantes como um "oásis", um verdadeiro "sonho do Meio-Oeste", nas palavras do major Lester Baker, adido militar dos Estados Unidos, com luz elétrica, telefone, máquinas de lavar, vitrolas, refrigeradores, piscinas e até campo de golfe.

Grandin lembra que hoje, como há 80 anos, ainda são necessárias cerca de 18 horas em um lento barco fluvial para chegar a Fordlândia, a partir da cidade importante mais próxima. Não bastasse isso, "os primeiros anos do local foram marcados por desperdício, violência e vícios" - em suma, tudo que o antissemita, admirador do nazismo e antissindicalista ferrenho mais abominava. Entre as incongruências do projeto, o fato de que não batia com a realidade porque, em 1925, quando Ford e o amigo Harvey Firestone pensavam em entrar no ramo da borracha, a prosperidade da hevea brasiliensis já chegara ao fim. Graças, inclusive, à ação de Henry Wickam, que passara pela Amazônia mais de meio século antes para piratear sementes de seringueira que levaria para Londres e que constituiriam a base genética das plantações britânicas em suas colônias.

Justiça seja feita: já nas primeiras décadas do século XX, Ford falava em reciclagem de resíduos para evitar desperdícios e em uma futura carroceria de automóveis inteiramente feita de plástico à base de soja.

A aventura fordiana não teve (não tem ainda) um final feliz. Mais de meio século depois de a Ford Motor Company abandonar sua propriedade de um milhão de hectares na Amazônia (novembro de 1945), por lá - mesmo a título de isca turística - ainda se espera por Henry Ford. Os "barões da borracha" retomariam o poder, mas perderam uma guerra maior para a importação de látex de Cingapura. Quanto a Ford, que "ajudou a liberar o poder da industrialização para revolucionar as relações humanas, passou a maior parte do resto da vida tentando colocar o gênio de volta na garrafa, conter o rompimento que ele mesmo provocara (...)". Ou seja, segurar as forças do capitalismo.

Manaus foi o retrato em branco e preto das "desenfreadas" forças do capitalismo. A cidade só se recuperou no fim dos anos 1960, quando o regime militar transformou-a numa zona de livre comércio. E, também graças à isenção de impostos, Manaus "tornou-se o empório nacional do Brasil", e uma zona de montagem (semelhantes à das maquiladoras mexicanas), descreve o autor. Uma cidade da Belíndia onde, ao lado de luxuosos condomínios, proliferam palafitas. "Uma paisagem dramática de desigualdade em um dos países mais desiguais do mundo. Em comparação, ela torna desprezível a distância que separava os lares dos gerentes americanos daqueles dos brasileiros", como reportava a imprensa. Citando artigo publicado no "Los Angeles Times" em março de 1993, Grandin sintetiza: "A tentativa de reproduzir a América na Amazônia levou à terceirização da Amazônia pela América".

De algum modo, Manaus se recuperou. Fordlândia também. "(...) Mas a ironia mais profunda está atualmente em exibição no local da tentativa mais ambiciosa dele [Henry Ford] de realizar sua visão pastoralista. No vale do Tapajós, três elementos importantes da visão de Ford - madeira, com a qual esperava lucrar, encontrando ao mesmo tempo maneiras de conservar a natureza; estradas que, para ele, uniriam as pequenas cidades e criariam mercados sustentáveis; e a soja, na qual investiu milhões, esperando que a produção industrial pudesse reviver a vida rural - tornaram-se os principais agentes da ruína da Amazônia, não só de sua flora e fauna, mas também de muitas de suas comunidades."

Chávez tenta dar a volta por cima...

Ainda tenho que escrever uma carta de agradecimento a El Profesor al revés.
Ele alimenta este blog com suas, como direi?, histrionices...
Sempre presente, geralmente não pelas boas razões...
Paulo Roberto de Almeida

FARSA CHAVISTA!
Cesar Maia, 10.08.2010

1. Hoje, Chávez vai a Bogotá se encontrar com o presidente Santos, que assumiu semana passada. De um lado, em seu estilo burlesco, escolheu o dia 10 de agosto. Em 10 de agosto de 1819, Bolívar entrou triunfante em Bogotá após triunfar na Batalha de Boyacá, em 7 de agosto de 1819.

2. Essa visita-fraude tem o objetivo de desviar a atenção para o flagrante dado pelo exército colombiano nos acampamentos da narcoguerrilha FARC em território venezuelano sob a cobertura de Chávez. Chávez desmentiu, rompeu as relações com a Colômbia. Mas as provas são tão irrefutáveis, com vídeos e fotos, que o histriônico Chávez mudou de tática. Condenou os sequestros das FARCs, propôs acordo de paz e agora vai à Bogotá tentar demonstrar que é bonzinho.

3. Escolheu o dia 10 de agosto para retornar à Caracas e fazer uma visita ao esqueleto de Bolívar, que exumou. E continuar a farsa. Só os distraídos entram nessa.

Livros digitais em alta: aceitam-se doacoes...

Bem, agora parece que é irreversível: o livro digital vai definitivamente ocupar um lugar de destaque no mercado editorial. Não que o livro impresso venha a desaparecer ou diminuir rapidamente, mas os lançamentos vão começar a ser feitos, prioritariamente, em formato digital, sendo o formato papel uma espécie de prêmio de consolação para os leitores mais tradicionais...
Eu ainda não me decidi entre o Kindle e o iPad, mas ficaria tranquilamente com os dois, se ganhasse de presente...
Não estou sugerindo nada, apenas divulgando um sonho...

Mídia:
Editora decide publicar só livro digital
Jeffrey A. Trachtenberg, The Wall Street Journal
Valor Econômico, 10/08/2010 – p. B3

Num momento em que os livros digitais continuam a ganhar mercado, uma das mais antigas editoras americanas de livros de bolso decidiu abandonar a publicação impressa tradicional e colocar à venda seus títulos somente no formato digital ou via impressão sob encomenda.

A Dorchester Publishing, uma editora de livros e revistas de capital fechado, informou que está fazendo a mudança depois que as vendas unitárias de livros caíram 25% no ano passado, em parte devido ao declínio das encomendas de algumas de suas contas de varejo mais importantes, entre as quais Walmart Stores . Uma porta-voz do Walmart não quis comentar.

"Não foi uma decisão demorada, porque vínhamos realizando o esforço, mas sem obter os resultados", disse o diretor-presidente da Dorchester, John Prebich.

Os livros eletrônicos estão ganhando popularidade entre os leitores. Mike Shatzkin, diretor-presidente da Idea Logical Co., uma consultoria editorial, prevê que os livros digitais serão 20% a 25% das vendas unitárias até o fim de 2012. A Amazon.com estima que suas vendas de e-livros para o Kindle possam superar as vendas dos livros impressos no formato brochura tradicional em 9 a 12 meses.

A decisão de partir para o digital pode ser um sinal do que está por vir para outras editoras pequenas que enfrentam queda nas vendas na área impressa tradicional. A decisão da Dorchester vai provavelmente resultar em economias significativas num momento em que a empresa espera que suas vendas digitais dobrem em 2011.

A Dorchester, que publica livros de bolso desde 1971, lança de 25 a 30 novos títulos por mês, aproximadamente 65% dos quais são obras românticas.

Os fãs de obras românticas em particular já abraçaram os e-books, em parte porque os leitores podem ler as obras em público sem ter de revelar a capa. Além disso, o tamanho da letra é facilmente ajustável nos e-readers, o que torna os títulos publicados no formato de bolso mais fáceis de ler para clientes mais velhos.

Prebich estimou que 83% dos livros publicados pela Dorchester são vendidos nos Estados Unidos a um preço de tabela de US$ 7,99. Um livro brochura no formato convencional geralmente tem o preço em torno de US$ 14,95.

A troca da Dorchester pelo e-book entra em vigor hoje. A editora planeja colocar à venda novos títulos no sistema de impressão sob encomenda por meio de varejistas ainda este ano. A Ingram Publisher Services, uma divisão da empresa de capital fechado Ingram Industries, informou que vai enviar as encomendas aos varejistas conforme necessário. A notícia da decisão da Dorchester foi revelada primeiro pela "Publishers Weekly", uma publicação do setor editorial.

Prebich admitiu que alguns autores podem ficar tristes por ver seus títulos somente para venda como e-book ou via impressão sob encomenda, mas disse que até agora a resposta tem "sido receptiva ao que estamos fazendo."

A Hard Case Crime, um selo da empresa de capital fechado Winterfall LLC, disse que poderá buscar uma maneira de transferir seus livros de mistério da Dorchester para outra editora.

"Tem sido uma boa parceria, mas se eles não vão mais publicar livros de bolso, teremos que decidir o que fazer", disse Charles Ardai, dono da Hard Case Crime. "Acredito no formato de bolso, mas compreendo o mercado."

A Randon House, subsidiária da alemã Bertelsmann e a maior editora americana de livros, disse que continua a apostar no mercado de livros de bolso. Um dos escritores americanos de mistério de maior sucesso, o falecido John D. MacDonald, é vendido pela Random House só no formato de bolso.

"Ainda é uma alternativa viável, popular e mais barata do que os outros formatos de leitura", disse Stuart Applebaum, porta-voz da Random House. "E também tem um público fiel. Será que essa fidelidade será para sempre num mercado em transformação?"

Peripecias da politica comercial brasileira - Marcelo de Paiva Abreu

Vender não é preciso
Marcelo de Paiva Abreu
O Estado de S. Paulo, 09/08/2010

As incertezas quanto ao futuro dos mercados e o temor de que aumente o protecionismo dão o sinal de alerta: a margem de manobra na disputa comercial, já escassa, pode ficar ainda menor

Avaliar os rumos da política comercial do sucessor de Lula requer análise do que foi a política comercial brasileira nos últimos oito anos e a partir daí considerar os cenários básicos de continuidade ou ruptura, dependendo da vitória de Dilma Rousseff ou de José Serra.

Até mesmo os mais entusiastas defensores da política externa patrocinada pelo triunvirato Garcia-Amorim-Guimarães terão dificuldade em listar iniciativas de política comercial que tenham tido real relevância nos dois mandatos do presidente Lula. A predominância dos objetivos estritamente políticos na agenda de política externa foi marcante. Só as fracassadas negociações multilaterais na OMC caracterizaram exceção importante. Mesmo assim, a sua prioridade na agenda do Itamaraty decorreu em boa medida de argumentos políticos relacionados à posição proeminente do Brasil na coalizão do G-20 a partir do fracasso da reunião de Cancún, em 2003.

No mais, o que se viu foi o enterro da ALCA depois de longa agonia, já iniciada no governo Fernando Henrique Cardoso, e uma postura de protelação sistemática de qualquer solução durável das inúmeras dificuldades de implementação de um Mercosul para valer. No colapso da ALCA, o governo quase que fez questão de proclamar prematuramente a sua aversão a uma iniciativa de integração hemisférica que incluísse os EUA. E, no entanto, parecia óbvio que a ALCA não poderia prosperar sem que houvesse disposição política do governo dos EUA quanto a concessões agrícolas, especialmente ao Mercosul.

As "alianças estratégicas" com as grandes economias em desenvolvimento restringiram-se a juras de cooperação política. As preferências negociadas com Índia e África do Sul retratam bem a mediocridade das ambições de liberalização comercial.

A escolha da França como "parceiro estratégico" desenvolvido, manifestação indireta das reticências em relação aos EUA, não teve implicações práticas em fazer avançar as negociações comerciais estagnadas com a União Europeia. De fato, vista de Paris, a parceria estratégica parece ganhar proeminência quando se trata de vender caças e ficar inativa quando se trata de fazer concessões agrícolas relevantes.

A posição do Brasil foi ativa e construtiva nas negociações da Organização Mundial do Comércio que atolaram em 2008. Foi talvez o único bom momento da política externa brasileira desde 2003. Mas mostrou-se inviável manter a coesão do G-20.

O Itamaraty, entusiasmado com a liderança brasileira, e com o olho no almejado Conselho Permanente da ONU, subestimou as diferenças entre os interesses comerciais do Brasil, produtor agrícola eficiente, e os da China e da Índia. O G-20 foi bom de bloqueio, mas ruim de ataque. Enquanto o Brasil pensava em G-20, China e Índia pensavam em G-33 e G-90, coalizões comprometidas com o protecionismo agrícola.

E a política comercial de Dilma e Serra? Nada indica que a eleição de Dilma possa significar ruptura relevante em relação à sua herança. Grandes negociações comerciais bilaterais ou multilaterais parecem improváveis. Nas negociações na OMC, o Brasil mostrou pouca disposição em reduzir significativamente as suas tarifas sobre produtos industriais.

Dada a reciprocidade que caracteriza as negociações na OMC, o espaço para redução do protecionismo agrícola, demanda principal brasileira, foi restrito pelas limitações das ofertas tarifárias industriais das economias em desenvolvimento.

Há indícios claros de recrudescimento do protecionismo no Brasil como, por exemplo, a provisão extremamente generosa de crédito público subsidiado e o tratamento preferencial de provedores nacionais nas licitações públicas. A nostalgia protecionista sugere que a escassa margem de manobra nas negociações comerciais poderá ter sido ainda mais reduzida. A ênfase da candidata na defesa da participação ativa do Estado na provisão de bens e serviços agrava este quadro. A mixórdia do Mercosul não parece preocupá-la. Por outro lado, alguns de seus comentários têm indicado ser bastante improvável uma reversão da postura antiamericana que caracteriza a diplomacia do atual governo (a despeito de desmentidos meio perfunctórios). No melhor dos casos, mais do mesmo?

José Serra tem feito críticas à política externa de Lula e demonstrado preocupação em perseguir substância em lugar de forma. Fez críticas também à postura do Brasil em relação ao Irã e - provavelmente menos razoáveis - à Bolívia. Tem insistido na necessidade de uma política comercial "agressiva", sem detalhar quais seriam os alvos preferenciais das possíveis iniciativas brasileiras.

Sua insatisfação com o estado de coisas quanto ao Mercosul é conhecida. Acredita, e tem razão, que são custosas as limitações impostas por parceiros do Mercosul, e especialmente a Argentina, a possíveis iniciativas brasileiras de celebração de acordos comerciais bilaterais.

O que não está elucidado é se José Serra, como presidente, realmente renegará seus entusiasmos protecionistas e se realmente acredita que "um libera de um lado, outro de outro; num acordo bem feito os dois saem ganhando".

A política comercial que melhor serviria aos interesses nacionais deveria estar calcada na simultânea redução do protecionismo no Brasil e nos seus parceiros comerciais através de acordos bilaterais e no âmbito da OMC. Deveria ser combinada à maciça renovação da infraestrutura e a políticas efetivas de inovação tecnológica e educacionais que melhorem a capacidade competitiva brasileira. Os dois candidatos parecem longe desse programa. Dilma mais longe do que Serra.

Custo Brasil - mais um exemplo: bancos publicos

Quem diz não sou eu, mas o presidente do Cade.
Acho até que ele foi leniente. Os bancos públicos não são ruins apenas porque distorcem as regras do jogo, concedem subsídios a quem não merece, mas também porque eles impedem a formação de um mercado de capitais digno desse nome.
Eles se prestam a manipulações políticas, servem a fins indevidos, podem (e o fazem) produzir déficit público, enfim, todo tipo de desvio de funções e distorsões econômicas.
Bancos públicos deveriam simplesmente acabar, pois existem outros instrumentos orçamentários, devidamente controlados pelo parlamento, que podem cumprir algumas de suas funções. As demais podem ficar com um sistema bancário aberto, concorrencial, homogêneo e funcionando com regras estáveis e uniformes.
Banco público serve a fins que não são econômicos, nem aliás sociais, apenas políticos.
Paulo Roberto de Almeida

Presidente do Cade critica área econômica
Julianna Sofia
Folha de S. Paulo, Terça-feira, 10 de agosto de 2010

Prestes a deixar o comando do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), o presidente da autarquia, Arthur Badin, irritou o Ministério da Fazenda ao criticar a política adotada pelo governo de lançar mão dos bancos públicos para pressionar a redução de juros no mercado financeiro.
No último dia 4, Badin aproveitou os holofotes no julgamento da compra da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil para atacar o papel dos bancos públicos na gestão petista.
Badin citou declarações do presidente do Banco Central, Henrique Meirellles, de que os bancos públicos não devem ser instrumentos para influenciar ou determinar precificação dos juros.
E acrescentou: De fato, agora são minhas palavras, me parece que, além de ser má política pública, violaria o princípio constitucional de exercício de atividade econômica diretamente.
E foi além. Disse que qualquer subsídio concedido aos consumidores pelo acionista controlador de um banco (leia-se o Tesouro Nacional) implica prejuízo não apenas aos acionistas privados como também ao mercado.
Ao longo das críticas, condenou a política de crédito rural do Banco do Brasil, por não mostrar de forma clara o impacto dos subsídios na contabilidade pública. Classificou de ineficientes tais subsídios, além do potencial de distorcer o mercado.

DECRETO
Os bancos públicos cumprem um papel importante na recuperação econômica, tem, tiveram e terão um papel importante, mas é preciso tomar cuidado, para que, a pretexto de aumentar a competição, não se atinja o contrário no longo prazo, com precificação irracional dos juros. Já se foi o tempo em que se acreditava possível reduzir o preço das coisas por decreto.
Procurado pela Folha, Badin informou que não iria comentar o assunto.
Não foi a primeira vez que ele se manifestou contra a atuação dos bancos públicos na redução dos juros por gerar desequilíbrios na concorrência do setor. No início do ano, Badin fez as primeiras críticas, o que gerou desconforto na equipe econômica.
Assessores do ministro Guido Mantega consideraram que o ataque agora foi acintoso.
O desempenho dos bancos federais na ampliação do crédito, na redução de juros e na conquista de fatias do mercado é monitorado de perto por Mantega, que se vangloria dos resultados obtidos nos últimos anos.

BELIGERÂNCIA
A Folha ouviu de um integrante do secretariado de Mantega o comentário de que a iniciativa de Badin não passou de uma tentativa de se apresentar como bastião da resistência contra setores do governo.
Se, antes, a Fazenda torcia o nariz para a possibilidade de recondução de Badin ao cargo de presidente do Cade, agora, opõe-se frontalmente.
Badin, porém, já declarou que, por motivos pessoais, não pretende permanecer mais dois anos no cargo.
Será a primeira vez nos últimos 14 anos que um presidente do conselho não será reconduzido.

A novela do Mercosul - Rubens Barbosa

A saga do Mercosul
Rubens Barbosa
O Globo - O Estado de S.Paulo, 10.08.2010

A 29° Reunião do Conselho do Mercosul, realizada em San Juan, na Argentina, no início de agosto, ocorreu em um momento particularmente delicado para os países da América do Sul.

A temperatura entre a Colômbia e a Venezuela, em consequência das acusações do ex-presidente Alvaro Uribe sobre a presença das Farc em território venezuelano, subiu a um ponto crítico com mobilização de tropas na fronteira.

Enquanto os problemas institucionais do Mercosul persistem e a desintegração regional se amplia com a crise entre Colômbia e Venezuela, o governo brasileiro parece estar mais preocupado com o conflito no Oriente Médio e em como encontrar uma fórmula para resolver as divergências da comunidade internacional e o Irã, em virtude do controvertido programa nuclear de Teerã.

As críticas do candidato da oposição José Serra ao Mercosul e a suas deficiências institucionais ecoaram fortemente na reunião presidencial.

O ministro Celso Amorim, em entrevista ao jornal “Clarín”, de Buenos Aires, na semana passada, disse que “as criticas ao Mercosul e a possibilidade de seu retorno a uma área de livre comércio significam um grande retrocesso e isso não vai ocorrer porque representa interesses de curto prazo”.

Em resposta indireta a Serra, certamente por inspiração brasileira, os presidentes afirmaram que o Mercosul é um desafio histórico, que compromete a vontade dos seus povos e constitui uma aliança estratégica para enfrentar os desafios do atual contexto internacional.

Coincidência ou não, depois de mais de seis anos, foram finalmente aprovados o Código Aduaneiro do Mercosul e a eliminação da dupla cobrança da Tarifa Externa Comum e a distribuição da renda aduaneira. Embora com prazos dilatados para entrar em plena vigência, os acordos foram sinais positivos.

Os presidentes reconheceram também a necessidade de avanços institucionais, recomendando retoricamente esforços adicionais para fortalecer o Parlamento, o mecanismo de solução de controvérsias e o sistema normativo, a fim de produzir resultados concretos para a integração regional.

O presidente Lula não perdeu a oportunidade para intrigar Serra com os países do Mercosul. Afirmou que “a elite, alguns empresários e políticos consideram perda de tempo a negociação com o Mercosul. Em vez de países pequenos, eles querem negociar com a Alca”, em uma distorcida e equivocada simplificação, que esquece os entendimentos com a União Europeia, aliás sem avanços efetivos até aqui.

Em mais um exemplo da influência da política externa nas negociações comerciais, os países membros assinaram um acordo comercial com o Egito, de pouca relevância do ponto de vista econômico, mas politicamente correto, para fazer contraponto ao já assinado com Israel, e anunciaram a negociação de outros com a Jordânia, a Síria e a Autoridade Palestina.

Continuaram as pressões sobre o Paraguai para aprovar a entrada da Venezuela no Mercosul.

Foram igualmente aprovados nove projetos no valor de US$ 800 milhões para a construção de estrada no Paraguai e a implantação de linhas de transmissão elétrica na Argentina, no Paraguai e no Uruguai, financiados pelo Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul, em larga medida integralizado com recursos financeiros do Brasil.

Durante a última presidência do Mercosul no governo Lula, o Brasil quer discutir os próximos vinte anos do processo de integração, quem sabe acreditando que o PT nesse período estará a frente do governo no Brasil. Na impossibilidade de avanços concretos na área institucional, como evidenciado pelo desrespeito à tarifa externa comum, reconhecido pelo próprio titular do Itamaraty, o Brasil quer promover um esforço adicional para aumentar a visibilidade do Mercosul, para apoiar a participação social e para fazer um balanço sobre os rumos futuros da integração regional. A distância entre a retórica dos governos e a realidade dos fatos continuará aumentando.

Com a recuperação das economias dos países membros, o comércio intraMercosul vai crescer, independentemente da existência do grupo como uma união aduaneira.

A politica externa de Dilma: especulacoes autorizadas...

Dilma, nas pegadas de Lula
Patrícia Campos Mello/ enviada especial, Brasília
O Estado de S. Paulo, 09/08/2010

O projeto da candidata do PT é manter o eixo central da diplomacia lulista, lutando por um espaço nos grandes conflitos

Em uma eventual vitória do PT nas eleições presidenciais, a candidata Dilma Rousseff vai manter as incursões da política externa brasileira em assuntos polêmicos - ela pretende, inclusive, continuar tentando ter uma voz em conflitos como o do Oriente Médio e da questão nuclear iraniana, a exemplo do que fez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Estilo à parte, o Brasil alcançou um espaço internacional que é absolutamente compatível com as ideias da Dilma e com sua própria personalidade", disse ao Estado Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência para assuntos internacionais e principal formulador do programa de governo da candidata. "Quem não entra em questões espinhosas não pode ser presidente nem do Corinthians." Marco Aurélio é a alma da política externa da petista. O mais cotado para chanceler em um eventual governo Dilma é o atual secretário-geral do Itamaraty, Antonio Patriota.

Dilma encara a diversificação de mercados do governo Lula e aproximação com emergentes como um grande trunfo e pretende mantê-las, se chegar ao Planalto. Segundo Marco Aurélio, a "opção sul-americana" iria se aprofundar - ele vê países como a Venezuela e Colômbia fabricando equipamentos para o pré-sal brasileiro. Rebate as acusações de que o posicionamento do Brasil de não condenar o desrespeito a direitos humanos em países como o Irã e Cuba prejudique a reputação do País: "O Brasil não é uma ONG, que faz denúncias, o Brasil opera em episódios de direitos humanos de forma prática". E mantém vivas as críticas aos EUA: "Se os EUA insistem que temos de nos ocupar da América do Sul e eles se ocupam do mundo, isso não vai acontecer."

Boa parte da visibilidade do Brasil no cenário internacional está ligada ao presidente Lula. Como seria isso em um governo Dilma?

A Dilma é diferente e não pretende ser o Lula de saias. Ela vai ter seu estilo. Lula tem uma prodigiosa intuição, já a Dilma é uma pessoa de formação acadêmica, muito assertiva, firme em suas posições.

O Brasil manterá, se ela for eleita, o high profile de política externa?

Estilo à parte, o Brasil alcançou um espaço e responsabilidades internacionais absolutamente compatíveis com as ideias de Dilma e com a própria personalidade de Dilma.

Dá para ver a Dilma tentando mediar o conflito do Oriente Médio?

Por que não?

O que dá para fazer para melhorar o relacionamento com os EUA? Há ruídos, criados pelas divergências em Honduras, no Irã...

Não fomos nós que criamos ruídos. Se os EUA insistem que nós temos de nos ocupar da América do Sul e eles se ocupam do mundo, evidentemente, isso não vai acontecer. Precisamos ter paciência, vamos ver o que ocorre nas eleições nos EUA. Tivemos relações tão boas com os republicanos...

A química era melhor com o Bush?

Lula não apenas se declarou contra a guerra do Iraque, como começou a fazer uma articulação internacional. Em um tema tão crucial para o Bush, o Brasil soube se diferenciar e mesmo assim manter as relações com eles. O Bush veio aqui duas vezes, qual presidente americano veio duas vezes ao Brasil?

E o Obama não veio, e provavelmente não virá neste ano.

Durante um período não veio porque estava sem embaixador. Nós somos sensíveis às dificuldades que Obama enfrenta.

O presidente Lula ainda está chateado com Obama por causa do episódio do Irã?

O presidente Lula está um pouco decepcionado, porque tem muita estima pelo Obama. E uma grande expectativa.

Houve mudança na política dos EUA para a região?

Pouca. Os EUA deveriam ter sido mais peremptórios em Honduras. Não foram, sofreram pressão forte de conservadores.

Digamos que até o fim do ano, ou daqui a dois, o Ahmadinejad apareça com uma bomba nuclear. Com que cara o Brasil vai ficar?

O Brasil condenará duramente. Mas o Irã não vai aparecer com uma bomba.

Como é que vocês têm certeza?

Os americanos dizem que eles não têm. Nós estamos tentando impedir que eles tenham, e a melhor maneira é falando com eles.

Foi uma vitória para a diplomacia brasileira, apesar de o acordo não ter sido aceito?

Nós propusemos um caminho, que foi desconsiderado pelos EUA de forma brusca, ríspida e inamistosa.

No caso da Dilma, ela entraria também nessas questões espinhosas?

É claro, quem não está disposto a entrar em questões espinhosas não pode ser presidente nem do Corinthians.

Uma crítica da oposição: porque não vamos mediar as papeleiras no Uruguai em vez de um problema no Oriente Médio?

Quisemos mediar o caso das papeleiras, não foi aceita nossa mediação. Mediamos Equador e Colômbia, Venezuela e Equador. Recebemos aqui o Shimon Peres, o Mahmoud Abbas, o Ahmadinejad, o Bashar Al Assad, da Síria, e todos pediam que interviéssemos...

Talvez porque o Brasil evite fazer julgamentos sobre respeito aos direitos humanos?

Não é verdade, temos uma posição objetiva, temos votos no Conselho a ONU...

Mas o Brasil se abstém em votos de condenação ao desrespeito dos direitos humanos.

Essa posição de abstenção é histórica do Itamaraty, vem lá de trás.

E por quê?

Porque não queremos ser seletivos e politizar circunstâncias. As pessoas sabem de muitos países que têm gravíssimos problemas de direitos humanos, mas com os quais os EUA se dão muito bem, como a Colômbia. Os americanos têm complacência com países onde há apedrejamento a mulheres. O Brasil não é uma ONG, que faz denúncias . Ele opera em episódios de direitos humanos de forma prática. Quando há violações, nós agimos.

E na eleição do Irã?

Não sei qual é o problema da eleição do Irã.

Mataram manifestantes e prenderam oposicionistas. Isso não é um problema?

Sim, mas não é problema da eleição.

Mas prenderam membros da oposição...

Fizemos várias "démarches" junto ao Irã.

Lula comparou presos cubanos a presos comuns. Não é hora de ser mais assertivo em relação a direitos humanos em Cuba?

Eu conheço Cuba suficientemente para saber que qualquer declaração assertiva produz efeitos opostos.

E no Conselho de Segurança da ONU, continuamos buscando assento permanente?

Entramos em um período de transição que vai em direção a um mundo multipolar. Temos indícios econômicos e políticos da preeminência do sul sobre o norte. Ibas, BRICs, diálogo Sul-Sul, e episódios como Irã mostram isso. O episódio do Irã foi a entrada na cena internacional de dois personagens que não tinham sido convidados, que entraram com uma proposta importante.

O Brasil deveria fazer isso sempre?

Os países vão fazer normalmente, porque não podemos viver hoje sob a tutela de um sistema mundial que foi criado em 1945 e que hoje não tem mais impacto.

O que o sr. acha de flexibilizar o Mercosul e liberar o Brasil para acordos bilaterais?

Bobagem, porque não são os nossos parceiros que estão nos criando dificuldades. No caso da União Europeia foi a Argentina... Os problemas com a Argentina podem ser completamente resolvidos.

Não é necessário o Brasil se mostrar mais ativo em acordos bilaterais sozinho?

Podemos fazer isso com o Mercosul. O Mercosul não é, ao contrário do que o (candidato do PSDB, José) Serra tem dito, um estorvo. Nessas propostas de o Brasil fazer carreira solo em negociações bilaterais há, no fundo, uma tremenda nostalgia da Alca.

O fato de o Brasil não ter fechado nenhum acordo bilateral, a não ser com Israel, nos últimos anos, não indica problemas?

Capitaneamos um esforço coletivo que seria muito mais abrangente e levamos isso às últimas consequências (a Rodada Doha). Quem barrou? EUA e Índia. Agora a Índia está de acordo, mas os americanos não querem.

Doha continuaria como a grande aposta num próximo governo?

Eu estou cético. Vamos fortalecer uma negociação com a União Europeia.

Quais seriam os ajustes na política externa em um governo Dilma?

Temos de aprofundar a opção pela América do Sul, avançar nos projetos de substituição de importação com presença de capitais brasileiros, na Venezuela, na Bolívia.

Haverá proteção de contratos, para não repetir o problema da Odebrecht no Equador?

O problema da Odebrecht no Equador foi absolutamente isolado e já foi resolvido.

Quais outras maneiras haveria para investir na opção sul-americana?

Com o pré-sal teremos de criar uma gigantesca infraestrutura, que a indústria brasileira sozinha não terá condições de absorver. Será que não podemos ter produção desses componentes em outros países? Tem projetos agora na Venezuela, na Colômbia.

E para essa maior integração funcionar, não teria de ser resolvido o problema do protecionismo argentino?

O protecionismo argentino tem incidência marginal. Essas questões são marginais ante os grandes desafios como: a Venezuela vai se industrializar? E a Bolívia? Vamos nos transformar em um mercado de consumo regional, mais de 300 milhões de consumidores. Cada vez mais empresas investem aqui.

Sim, mas no Brasil. Para a Venezuela, onde há insegurança jurídica, ninguém vai.

O problema da Venezuela é menos de insegurança jurídica. O problema é que o modelo ainda não está plenamente configurado. A Venezuela ainda não rompeu com seu modelo petroleiro.

O vasto olhar da diplomacia lulista - Celso Amorim

No novo mapa do mundo, o País está maior
Celso Amorim
O Estado de S. Paulo, 09/08/2010

Uma boa política externa exige prudência, mas também ousadia. Em oito anos, o Brasil mudou de patamar, diz o chanceler

Há sete anos, quando se falava na necessidade de mudanças na geografia econômica mundial ou se dizia que o Brasil e outros países já deveriam desempenhar papel mais relevante na OMC ou integrar de modo permanente o Conselho de Segurança da ONU, muitos reagiam com ceticismo. O mundo e o Brasil têm mudado a uma velocidade acelerada, e algumas supostas "verdades" do passado vão se rendendo à evidências dos fatos. O diferencial de crescimento econômico em relação ao mundo desenvolvido tornou os países em desenvolvimento atores centrais na economia mundial.

A maior capacidade de articulação Sul-Sul - na OMC, no FMI, na ONU e em novas coalizões, como o BRIC - eleva a voz de países antes relegados a uma posição secundária. Quanto mais os países em desenvolvimento falam e cooperam entre si, mais são ouvidos pelos ricos. A recente crise financeira tornou ainda mais patente o fato de que o mundo não pode mais ser governado por um condomínio de poucos.

O Brasil tem procurado, de forma desassombrada, desempenhar seu papel neste novo quadro. Completados sete anos e meio do governo do Presidente Lula, a visão que se tem do País no exterior é outra. Já não precisamos ouvir os líderes mundiais e a imprensa internacional para sabermos que o Brasil tem um peso cada vez maior na discussão dos principais temas da agenda internacional, de mudança do clima a comércio, de finanças a paz e segurança.

Países como Brasil, China, Índia, África do Sul, Turquia e tantos outros trazem uma maneira nova de olhar os problemas do mundo e contribuem para um novo equilíbrio internacional.

No caso do Brasil, essa mudança de percepção deveu-se, em primeiro lugar, à transformação da realidade econômica, social e política do País. Avanços nos mais variados domínios - do equilíbrio macroeconômico ao resgate da dívida social - tornaram o Brasil mais estável e menos injusto. As qualidades pessoais e o envolvimento direto do presidente Lula com temas internacionais ajudaram a alçar o Brasil à condição de interlocutor indispensável nos principais debates da agenda internacional.

Foi nesse contexto que o Brasil desenvolveu uma política externa abrangente e pró-ativa. Construímos coalizões que foram além das alianças e relações tradicionais, as quais tratamos de manter e aprofundar, como no estabelecimento da Parceria Estratégica com a União Europeia ou do Diálogo de Parceria Global com os Estados Unidos.

O crescimento expressivo de nossas exportações para os países em desenvolvimento e a criação de mecanismos de diálogo e concertação, como a Unasul, o G-20 na OMC, o Fórum IBAS (Índia-Brasil-África do Sul) e o grupo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) refletiram essa orientação de uma política externa universalista e livre de visões acanhadas sobre o que pode e deve ser a atuação externa do Brasil.

A base dessa nova política externa foi o aprofundamento da integração sul-americana. Um dos grandes ativos de que o Brasil dispõe no cenário internacional é a convivência harmoniosa com sua vizinhança. O governo do presidente Lula empenhou-se, desde o primeiro dia, em integrar o continente sul-americano por meio do comércio, da infraestrutura e do diálogo político.

O Acordo Mercosul-Comunidade Andina criou, na prática, uma zona de livre comércio abrangendo toda a América do Sul. A integração física do continente avançou de forma notável, inclusive com a ligação entre o Atlântico e o Pacífico. Nossos esforços para a criação de uma comunidade sul-americana (CASA) resultaram na fundação de uma nova entidade - a União das Nações Sul-Americanas (Unasul).

Sobre as bases de uma América do Sul mais integrada, o Brasil ajudou a estabelecer mecanismos de diálogo e cooperação com países de outras regiões, fundados na percepção de que a realidade internacional já não comporta a marginalização do mundo em desenvolvimento. A formação do G-20 da OMC, na Reunião Ministerial de Cancún, em 2003, marcou a maioridade dos países do Sul, mudando de forma definitiva o padrão decisório nas negociações comerciais.

O IBAS respondeu aos anseios de concertação entre três grandes democracias multi-étnicas e multiculturais, que têm muito a dizer ao mundo em termos de afirmação da tolerância e de conciliação entre desenvolvimento e democracia. Além da concertação política e da cooperação entre os três países, o IBAS tornou-se um modelo em projetos em favor dos países mais pobres, demonstrando, na prática, que a solidariedade não é um apanágio dos ricos.

Também lançamos as cúpulas dos países sul-americanos com os países africanos (ASA) e com os países árabes (ASPA). Construímos pontes e políticas entre regiões que vivem distantes umas das outras, em que pesem as complementaridades naturais. Essa aproximação política resultou em notáveis avanços nas relações econômicas. O comércio do Brasil com países árabes quadruplicou em sete anos. Com a África, foi multiplicado por cinco e chegou a mais de US$ 26 bilhões, cifra superior à do intercâmbio com parceiros tradicionais como a Alemanha e o Japão.

Essas novas coalizões estão ajudando a mudar o mundo. No campo econômico, a substituição do G-7 pelo G-20 como principal instância de deliberação sobre os rumos da produção e das finanças internacionais é o reconhecimento de que as decisões sobre a economia mundial careciam de legitimidade e eficácia sem a participação dos países emergentes.

Também no campo da segurança internacional, quando o Brasil e a Turquia convenceram o Irã a assumir os compromissos previstos na Declaração de Teerã demonstraram que novas visões e formas de agir são necessárias para lidar com temas antes tratados exclusivamente pelos atuais membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. Apesar dos ciúmes e resistências iniciais a uma iniciativa que nasceu fora do clube fechado das potências nucleares, estamos seguros de que a direção do diálogo ali apontada servirá de base para as negociações futuras e para a eventual solução da questão.

Uma boa política externa exige prudência. Mas exige também ousadia. Não pode fundar-se na timidez ou no complexo de inferioridade. É comum ouvirmos que os países devem atuar de acordo com seus meios, o que é quase uma obviedade. Mas o maior erro é subestimá-los.

Ao longo desses quase oito anos, o Brasil atuou com desassombro e mudou seu lugar no mundo. O Brasil é visto hoje, mesmo pelos críticos eventuais, como um país ao qual cabem responsabilidades crescentes e um papel cada vez mais central nas decisões que afetam os destinos do planeta.