Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
terça-feira, 8 de abril de 2014
SambaFest 2014, Hartford, Connecticut; Trinity College, Consulate of Brazil
Filme: O Dia que Durou 21 Anos - minha avaliacao (PRA)
Dou a minha opinião sobre o filme.
Trata-se de um filme extremamente simplista, redutor, deformado, ainda que tecnicamente bem feito.
Ele parte justamente dessa ideia simplista de que antes, no Brasil, havia uma democracia, que os perversos americanos armaram uma conspiração com os militares, os grandes grupos econômicos, a direita brasileira, para dar um golpe contra um presidente progressista, que só estava querendo fazer reformas de base, em beneficio dos brasileiros, mas que os americanos e a direita o derrubaram, e implantaram a ditadura. Depois vem, num sucessão desonesta de imagens, cenas de tortura, de repressão, e vários depoimentos de personagens ligados ao golpe ou ao regime militar, alguns contra, outros a favor, mas numa completa barafunda de temas, épocas, imagens, sem qualquer sequenciamento correto do processo histórico.
A única coisa válida, penso eu, são as transcrições dos telegramas de Lincoln Gordon, então embaixador dos EUA no Brasil, na fase imediatamente anterior e posterior ao golpe.
Na verdade, Lincoln Gordon tinha sido designado por Kennedy para lidar com um presidente que os americanos consideravam "reformista", que era o Jânio Quadros (na verdade, um maluco com tendências autoritárias). Jânio renunciou assim que Gordon foi designado, e ele teve de lidar com um regime confuso, anárquico, incapaz de fazer reformas, apenas aprofundando a crise brasileira. Nada no filme revela o caos administrativo que era o governo Goulart, a espiral inflacionária, a deterioração das instituições.
Em primeiro lugar, não se pode caracterizar o processo histórico como sendo um de "democracia-golpe-regime militar-ditadura-volta à democracia". Isso é simplismo, sobretudo no que se refere à conspiração americana para derrubar Goulart.
O Brasil tinha motivos suficientes para fazer aquilo que já tinha sido feito em 1930, 1937, 1945, diversas vezes nos anos 1950, 1961 e finalmente 1964: crises políticas, incapacidade das elites, intervenção militar.
Os americanos entram pelo lado da Guerra Fria, mas como não considerar a crise dos foguetes em Cuba, em 1962, e as simpatias do governo Goulart pelos regimes socialistas?
Enfim, um filme simplista, redutor, historicamente deformado.
Paulo Roberto de Almeida
PS.:
Como disse, no filme, não há nada sobre o quadro econômico e social dos anos Goulart, com inflação indo para os 100% ao ano, sem qualquer correção, seria bom relembrar.
Tampouco existe uma palavra sequer sobre as ações guerrilheiras que vieram antes, muito antes, que o governo autoritário virasse uma ditadura.
Permito-me reproduzir aqui um trecho, apenas um trecho do manifesto divulgado durante o sequestro do embaixador Burke Elbrick:
"Este ato (...) se soma aos inúmeros atos revolucionários já levados a cabo: assaltos a bancos, nos quais se arrecadam fundos para a revolução, tomando de volta o que os banqueiros tomam do povo e de seus empregados; ocupação de quartéis e delegacias, onde se conseguem armas e munições para a luta pela derrubada da ditadura; invasões de presídios, quando se libertam revolucionários, para devolvê-los à luta do povo; explosões de prédios que simbolizam a opressão; e o justiçamento de carrascos e torturadores. Na verdade, o rapto do embaixador é apenas mais um ato da guerra revolucionária, que avança a cada dia e que ainda este ano iniciará sua etapa de guerrilha rural."
A miseria educacional brasileira, ao vivo, em cores
Eu sempre acreditei que deveria ser pior do que esses simples resultados objetivos.
Agora temos a prova.
Por isso mesmo eu sou ABSOLUTAMENTE PESSIMISTA quanto ao itinerário da educação (o termo não se aplica) brasileira nos próximos anos. Não há nenhum risco de melhorar, e tenho certeza de que vai continuar piorando. Não é possível que melhore, com coisas como essas...
Em um post feito em sua página oficial no Facebook, Valesca diz acreditar que a polêmica ocorreu por terem chamado uma funkeira de "pensadora contemporânea" e diz achar a situação "uma bobagem".
UnB: uma palestra sobre a dificuldade de se livrar de gangs - Seria coincidencia?
Não sei se é pura coincidência, ou intencional.
Seria muita ironia, não é mesmo.
Ao mesmo tempo, assustador: parece ser realmente muito difícil se livrar de gangs, bandidos, quadrilhas, mafiosos em geral...
Paulo Roberto de Almeida
Petrobras: sobre a sua defesa e contra os que a roubam...
Lula diz que Petrobrás precisa ser defendida com 'unhas e dentes'
Ou não é verdade que ela tinha uma capitalização de 340 bilhões de dólares, e que esse valor diminuiu para menos de 120 bilhões NO PERÍODO em que os companheiros estiveram na sua direção?
Por que o megalomaníaco não comenta esse dado, e diga por que, e contra quem a Petrobrás precisa ser defendida?
Paulo Roberto de Almeida
Big Brother tropical: o fascismo em construcao no Brasil, pela Receita Federal
Canal Aduaneiro, 07 Apr 2014
Lu Aiko Otta, Jornal ” O Estado de S.Paulo”, 07/07/2.014
No primeiro bimestre, compras feitas pelos brasileiros no exterior e entregues pelos Correios cresceram 40% em relação ao ano passado.
Em janeiro e fevereiro deste ano, as compras de mercadorias feitas por brasileiros no exterior via internet e entregues pela via postal deram um salto da ordem de 40% sobre o ano passado, e alertaram a máquina de arrecadação do Fisco, que já prepara ações para atacar esse “nicho”. O País tem recebido perto de 1,7 milhão de pacotes a cada mês, quando no início de 2013 o volume era da ordem de 1,2 milhão. No ano passado, foram 18,8 milhões no total, segundo dados da Receita Federal.
A maior parte dessa farra de consumo tem chegado ao comprador sem a cobrança de tributos, mas isso está prestes a mudar. Um sistema que está sendo montado em parceria com os Correios e a Receita vai automatizar a fiscalização, que hoje é feita por amostragem.
E, ao contrário do que muita gente pensa, o que se adquire de estabelecimentos comerciais no exterior é sujeito a tributação, independentemente do valor. Há exceções, como livros, periódicos, medicamentos com receita médica e bens enviados por pessoa física de valor até US$ 50,00.
O sistema deverá entrar em teste em setembro deste ano, segundo informou a chefe da Divisão de Controles Aduaneiros Especiais da Receita, Edna Beltrão Moratto. A previsão é que seja implantado em janeiro de 2015.
Segundo Edna, os impostos federais incidentes sobre as compras no exterior pela via postal são de 60%. Mas ainda tem o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que é estadual. Os Correios poderão ser incumbidos de recolher essa parte.
Rapidez. A expectativa do governo é que, por outro lado, a liberação das mercadorias se torne mais rápida. Hoje, quando um produto chega e cai na amostragem, é calculado o valor do imposto e o comprador recebe um comunicado dos Correios em casa. Ele deve recolher o tributo e retirar a mercadoria na agência.
Com o novo sistema, o governo vai saber o que está sendo comprado antes mesmo de a mercadoria chegar, segundo explicou José Ademar de Souza, do Departamento Internacional dos Correios. “A partir da compra, o site repassa antecipadamente as informações para a Receita”, informou.
Os dados, explicou ele, podem ser fornecidos tanto pelo exportador quanto pelo operador logístico – no caso, o correio do país de onde a mercadoria vem. Existe uma legislação internacional que prevê a troca de informações entre os serviços postais.
“Temos a possibilidade de, a partir da informação, fazer a parte da tributação”, explicou Souza. “E fazer uma interação com o cliente via internet.” A ideia é permitir que ele pague os tributos via internet e receba o bem em casa, em vez de ter de buscá-lo nos Correios.
Edna explicou que o sistema terá filtros para detectar as mercadorias que exigirão mais atenção dos fiscais. Por exemplo, se a compra está subfaturada, ou seja, com um valor declarado baixo, para diminuir o valor do imposto a pagar. Para isso, a Receita se baseia num parâmetro internacional de preços e outras fontes de informação. “Às vezes, a mercadoria está lá com um valor muito menor do que o que a loja anuncia no site”, exemplificou Edna.
Hoje, todas as compras que chegam ao País passam por uma análise da Receita e, às vezes, de outros órgãos do governo, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Todos os pacotes passam por um raio X, onde se verifica se a mercadoria não é de importação proibida – como armas e drogas.
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Venezuela: nao se pode dialogar dentro da cadeia, nao e' mesmo?
Oposição venezuelana só negocia se Nicolás Maduro anistiar presos
Presidente pretende se encontrar na terça-feira, em Caracas, com membros da Mesa de Unidade Democrática, mas exigências podem frustrar diálogo
Denise Chrispim Marin, Enviada Especial / Caracas
O Estado de S. Paulo, 07 de abril de 2014
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Relacoes (pouco) afetivas Brasil-EUA - Carlos Eduardo Lins da Silva
Na ditadura, os atritos do Brasil com os EUA foram frequentes. Na democracia, as trombadas são atenuadas pela força dos elos econômicos e sociais.
"Chega de intermediários: Lincoln Gordon para presidente do Brasil." Depois da deposição de João Goulart da Presidência da República, em 1964, a brincadeira em alusão ao embaixador dos Estados Unidos no país refletia uma convicção de parte da opinião pública brasileira: o golpe contra Jango fora engendrado pelos americanos e o regime militar era uma mera marionete de Washington.
O bordão "O que é bom para os EUA é bom para o Brasil", criado por Juracy Magalhães, o primeiro embaixador dos militares em Washington, e algumas decisões do novo regime pareciam sugerir que a previsão de alinhamento automático entre Washington e Brasília se cumpriria. Em 1965, Castelo Branco mandou tropas brasileiras para a Força Interamericana, formada pela Organização dos Estados Americanos (OEA) por pressão dos EUA, para intervir na República Dominicana. Em 1971, Garrastazu Médici foi recebido na Casa Branca por Richard Nixon com a frase: "Para onde o Brasil for, o resto da América Latina irá".Durante a maior parte da ditadura, no entanto, as trombadas entre os dois países foram constantes. O idílio diplomático rompeu-se a partir de 1974, no governo Ernesto Geisel, por causa do acordo nuclear Brasil-Alemanha. O rápido reconhecimento dado por Brasília à independência de antigas colônias portuguesas na África, especialmente Angola, onde os EUA estavam diretamente envolvidos, também desagradou a Washington. Com a eleição de Jimmy Carter em 1976, o governo americano passou a pressionar o Brasil em casos de desrespeito a direitos humanos.Gestos simbólicos importantes mostram o grau de desacordo à época entre os dois países. O Brasil não aderiu nem ao boicote à Olimpíada de Moscou, em 1980, nem ao embargo de exportação de grãos à União Soviética, ambos liderados pelos EUA. A visita de Ronald Reagan ao país em 1982, quando o Brasil se opunha a sua política na Nicarágua e em El Salvador, não mitigou as tensões, ainda mais porque, ao final de um jantar, ele propôs um brinde ao "povo da Bolívia". A. década de 1980 foi marcada por rusgas relacionadas à crise da dívida externa brasileira.O fim do regime militar não teve o efeito de melhorar o diálogo com Washington. No governo José Sarney, a moratória de 1987 e a política de reserva de mercado na informática aumentaram as desconfianças no governo e no mercado americanos e provocaram sanções comerciais contra o Brasil. Só com o fim da Guerra Fria, a redemocratização do Brasil, com a Constituição de 1988, e a eleição de Fernando Collor, as tensões aliviaram um pouco.Durante o governo Fernando Henrique Cardoso, Brasil e EUA se entenderam melhor no nível oficial. Mas as fricções não cessaram na área do comércio, com as frustradas negociações em torno da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Nem na área do combate ao tráfico de drogas, com a gélida recepção de Brasília às investidas de Washington na Colômbia e Bolívia, para as quais Bill Clinton esperava apoio de FHC. Após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, o Brasil invocou o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca para dar solidariedade aos EUA. Mas se afastou do governo George W. Bush quando a guerra ao terrorismo extrapolou para o mundo árabe, como FHC deixou claro em discurso na França, em 2001.No governo Lula, houve vários atritos com os EUA: o veto ao uso pelos americanos da base espacial de Alcântara, o anúncio de uma aliança militar estratégica com a França, o abrigo na embaixada brasileira dado ao presidente hondurenho deposto, Manuel Zelaya. O principal problema com os EUA foi o acordo entre Brasil, Turquia e Irã em 2010, sobre o programa nuclear iraniano. Ele provocou enorme reação negativa ao Brasil em Washington. Mas Lula agradou muito aos americanos ao enviar tropas para a estabilização do Haiti, a partir de 2004, e ao mediar, como fizera FHC, as difíceis relações dos EUA com a Venezuela.O mais recente contencioso, ainda em curso e sem solução à vista, ocorreu com a revelação de que a NSA, a agência de inteligência americana, espionou a presidente Dilma Rousseff e empresas brasileiras. Dilma cancelou uma visita de Estado a Washington (teria sido a primeira em 18 anos), fez um duro discurso contra os EUA na ONU e preteriu a Boeing na compra dos novos caças para a FAB.Neste meio século depois do golpe, apesar das desavenças governamentais, Brasil e EUA se aproximaram muito, por meio de suas sociedades. Os investimentos diretos e as exportações dos EUA aumentaram significativamente - e o Brasil passou também a ter maior presença nos EUA. Três das principais marcas de consumo para o americano comum pertencem atualmente a brasileiros: a rede de lanchonetes Burger King, a cerveja Budweiser e o ketchup Heinz.A Embraer é a maior fornecedora de jatos de médio porte para empresas aéreas americanas. A Gerdau tem dezenas de usinas americanas. A JBS é dona da Pilgrims, a maior produtora de carne de frango dos EUA. A Odebrecht construiu uma das linhas de trem do aeroporto de Miami. O Brasil é o terceiro país não vizinho que mais manda turistas para os EUA, abaixo apenas de Reino Unido e Japão. Os americanos serão o maior contingente estrangeiro de torcedores na Copa. O intercâmbio de universitários entre o Brasil e os EUA teve o maior aumento já registrado na história durante o ano letivo 2012-2013.Os governos brasileiro e americano podem não se dar muito bem. Mas seus povos se entendem.Carlos Eduardo Lins da Silva é global fellow do Woodrow Wilson Center
Eleicoes 2014: Aecio Neves fala aos capitalistas
Carlos José Marques
Uma lufada de otimismo tomou conta do ambiente empresarial quando propostas concretas de modernização da economia entraram no horizonteUma lufada de otimismo tomou conta do ambiente empresarial quando propostas concretas de modernização da economia entraram no horizonte. Aconteceu na semana passada e o arauto da boa-nova era o presidenciável Aécio Neves. Em dois encontros com representantes do PIB – de uma parcela gorda do PIB, registre-se –, o candidato à sucessão estabeleceu uma verdadeira carta-compromisso de mudanças que, caso adotada, pode decerto recolocar o País no trilho do crescimento sustentável. Havia ali um projeto de governo substancioso.Com tudo incluso: da simplificação tributária ao aumento de renda; do corte nos gastos públicos à redução pela metade do número de ministérios; das reformas trabalhista e política à ampliação da Lei de Responsabilidade Fiscal, que deve abranger também a União. No conjunto, as ideias causaram boa impressão, de maneira unânime, e significaram para aquele público mais que meras promessas eleitoreiras. Demonstraram que o aspirante ao Planalto Aécio estava propositivo, olhando para a frente e oferecendo saídas. Era tudo que CEOs e empresários esperavam e queriam ouvir.O entusiasmo geral ficou visível. Ao aceitar sugestões dos interlocutores e ir além da crítica pura e simples contra o atual estado de letargia, o tucano encantou a fauna de líderes e obteve uma resposta tão vigorosa que foi, por vezes, aplaudido de pé nos convescotes. É algo sintomático. A falta de canais de diálogo com o poder tem sido uma das queixas recorrentes dessa turma. Não por menos, nos últimos dias o mercado vem manifestando sua clara insatisfação com o governo em vigor. E de tal ordem é essa frustração que a bolsa de valores chega a subir a qualquer rumor de pesquisas eleitorais apontando uma queda na popularidade de Dilma.Aécio como potencial rival parece, ao contrário, estar cativando. De forma sólida e gradativa. E não se trataria de uma preferência movida por coloração partidária. O que anima os empreendedores é a perspectiva de um novo modelo de gestão. Aécio, ciente desse anseio, vem vocalizando alternativas e atendendo às demandas. Diga-se do candidato que ele, positivamente, vem se cercando de bons quadros para dar cabo a ameaças monetárias, como o repique inflacionário, e ao desequilíbrio da balança comercial.O ex-presidente do BC Armínio Fraga, que fez escola pela rigidez no controle do cofre, já está escalado como possível ministro da Fazenda de seu governo, caso eleito. A plataforma de Aécio talvez soe subversiva aos ouvidos daqueles que aparelharam o Estado, degradaram estatais e não querem perder o status quo. Mas é notável a carga simbólica da claque desse presidenciável em meio aos que sonham com um país desenvolvido, empenhado em superar suas limitações.IstoÉ Dinheiro - O dia em que Aécio encontrou o PIB
Pré-candidato do PSDB à Presidência da República, o senador mineiro Aécio Neves apresenta a empresários as suas principais propostas econômicas. E sai de São Paulo aplaudido de péPor Luís Artur NogueiraA insatisfação com os rumos da economia brasileira não é um fenômeno restrito aos investidores do mercado financeiro, cuja reação nas últimas semanas tem sido a de comprar papéis na mesma velocidade em que surgem rumores de queda da popularidade da presidenta DilmaRousseff. A inércia do governo federal, que não consegue promover um diálogo franco com o setor produtivo nem virar o jogo das expectativas econômicas, está claramente deixando inquietos os empresários, que buscam na oposição um futuro promissor para os seus negócios.Na segunda-feira 31, em um rápido movimento oportuno, o senador por Minas Gerais Aécio Neves, neto do presidente Tancredo Neves e pré-candidato do PSDB à Presidência da República, atraiu a atenção de mais da metade do PIB privado brasileiro em dois eventos promovidos pelo Lide (Grupo de Líderes Empresariais), em São Paulo. Neles, o senador mineiro transmitiu a mensagem exata que soou como música aos ouvidos corporativos e, praticamente, selou o apoio da maior parte da classe empresarial à sua campanha. Por volta do meio-dia, centenas de homens engravatados e executivos em trajes formais se aglomeravam no saguão do Hotel Grand Hyatt, na zona sul da capital paulista, à espera do político tucano.A presença recorde de 518 convidados já era um indicativo do interesse que a palestra de Aécio despertava. Ainda no aperitivo, antes de entrar no auditório principal, empresários e executivos de grandes companhias conversavam, com um indisfarçável sorriso, sobre como seria o Brasil nos próximos quatro anos em caso de vitória da oposição. “Já escrevi a minha pergunta sobre como o Aécio pretende corrigir os preços de energia, gasolina e transporte público sem explodir a inflação”, disse Davide Marcovitch, presidente do Grupo Moët Hennessy na América Latina, que se sentou à mesma mesa do diretor-geral da Dell no Brasil, Luis Gonçalves.“Quero conhecer as alternativas que talvez ainda não estejam no nosso radar”, afirmou Gonçalves. Ao iniciar sua palestra, Aécio demonstrou estar inteiramente à vontade naquele ambiente. Dispensou a formalidade das apresentações em PowerPoint e falou durante 45 minutos sob os olhares atentos da plateia, que degustava o frugal salmão servido como prato principal. Na abertura, falou sobre a “indignação” dos brasileiros com o atual momento do País. Ao contrário do que costumam fazer os seus adversários, o tucano não ignorou os acertos deles, em particular do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Mas agora precisamos de correção de rumo”, afirmou.A despeito da deferência com Lula, com quem sempre manteve relações cordiais quando esteve à frente do governo de Minas Gerais, Aécio, quase ao final de sua intervenção, adotou uma postura desafiadora em relação ao pleito de outubro. “Ouço sempre que pode haver até mesmo uma mudança de candidatura no campo governista. Eu quero dizer aqui: não importa se será o presidente Lula ou a presidente Dilma”, afirmou. “O que precisamos é de uma mudança de modelo econômico.” Mas foram suas propostas para a economia que mais lhe renderam aplausos. Na área fiscal, Aécio criticou a explosão dos gastos públicos e prometeu cortar pela metade a quantidade de ministérios – atualmente são 39.“É fundamental enxugar a máquina pública”, diz Flávio Rocha, presidente da Riachuelo e do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV). “Não é sustentável o gasto crescer acima do PIB.” Aécio prometeu ainda apresentar um plano para reduzir a carga tributária logo nos seis primeiros meses de um eventual mandato. A ideia, no caso, é criar, já no dia da posse, uma supersecretaria de duração transitória, encarregada de apresentar uma proposta de simplificação fiscal e tributária. Ele insistiu, também, na importância da lei de responsabilidade fiscal, que não deve ficar restrita aos Estados e municípios.“Prometo aos senhores que a lei de responsabilidade será estendida ao governo federal.” O senador não deixou de comentar a atual situação da Petrobras, que recebe críticas por conta de sua gestão em refinarias nos Estados Unidos, no Japão e na Argentina, e o controle de preços da gasolina e do diesel promovido pelo governo federal. “Vamos reestatizar a Petrobras”, afirmou Aécio, salientando que vai tirar os políticos que ocupam cargos na estatal. “A Petrobras não é instrumento de política econômica.” Ao lado do governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia, ele ressaltou os resultados obtidos no Estado desde a sua primeira gestão, em 2003, e defendeu a concessão de bônus para os gestores eficientes.“Gostei da ideia de se adotar a meritocracia no serviço público”, afirmou Sônia Hess, presidente da Dudalina. No topo da lista atual de preocupações dos empresários estão a inflação e os seus impactos em 2015. A alta dos preços tem, inclusive, obrigado o Banco Central a elevar os juros (leia reportagem AQUI). Aécio criticou o controle de preços de energia, combustíveis e transporte público e garantiu que “a tampa da panela de pressão será aberta”. Na avaliação do presidente da Boa Vista Serviços, Dorival Dourado, o próximo governante precisa ter a mesma atitude das empresas privadas. “A eficiência operacional, a racionalização dos custos e as melhorias de processo devem fazer parte da pauta de qualquer governo”, diz o executivo.O pré-candidato do PSDB também criticou a política comercial dos governos petistas e prometeu aprimorar o Bolsa Família. Ao término do seu discurso, a plateia, de pé, o aplaudiu durante 34 segundos. “Em dez anos de eventos, nunca vi um convidado ser aplaudido de pé”, diz João Doria Jr., presidente do Grupo Lide. Aécio ainda levaria mais dez minutos até conseguir deixar o salão principal, tamanho o assédio dos empresários – alguns até fizeram “selfies” ao lado do senador. No cafezinho e na longa espera do serviço de valet, a palestra continuaria sendo comentada – com satisfação, diga-se – pelos convidados.CARTA COMPROMISSO A investida de Aécio sobre o PIB empresarial teria ainda uma segunda etapa. À noite, na residência do presidente do Lide, João Doria Jr., no bairro nobre do Jardim Europa, o pré-candidato tucano se encontraria com um grupo de 150 pesos-pesados do setor produtivo. Entre os convidados, líderes do setor financeiro, como Luiz Carlos Trabuco (Bradesco), Rodrigo Xavier (Bank of America) e André Esteves (BTG). Da área de serviços e do varejo estavam diversos empresários, como Acacio Queiroz (Chubb Seguros), Chieko Aoki (Blue Tree Hotels), Claudio Lottenberg (Albert Einstein), João Pedro Paro Neto (Mastercard), Luiza Trajano (Magazine Luiza), Manoel Correa (Telhanorte), Marcos Eduardo Ferreira (Mafre) e Rômulo Dias (Cielo), além de Caco Alzugaray (Editora Três) e Fábio Barbosa (Abril), do ramo de comunicações.A indústria foi representada por nomes como o de Artur Piñeiro (BMW), Carlos Sanchez (EMS), Carlos Tilkian (Estrela), Carlos Terepins (Even), Fernando Bomfiglio (Souza Cruz), Francesco Abbruzzesi (Citroën), Guilherme Leal (Natura), Horácio Lafer Piva (Klabin), José Luis Cutrale (Cutrale), Jose Varela (3M), Paulo Campbell (Pepsico), Roberto Cortes (MAN) e Jorge Gerdau Johannpeter (Gerdau), que atualmente coordena a Câmara de Gestão e Planejamento do governo Dilma Rousseff. Por duas vezes, o empresário gaúcho referiu-se ao pré-candidato como presidente.Numa delas, Gerdau “exigiu” de Aécio uma carta compromisso de que dobrará a renda brasileira sem aumentar a carga tributária. Além de um discurso ainda mais informal, o jantar, preparado pela chef paulistana Morena Leite, do restaurante Capim Santo, apresentou um cardápio à altura dos convivas. Entrada de blinis de tapioca com surubim defumado, ravióli de abóbora recheado com queijo da Serra da Canastra e mignon de cordeiro, regados a vinhos como o Sancerre Comte Lafond Blanc 2010 e o Brunello di Montalcino 2006. Mas a peça de resistência da noite ficou por conta, mesmo, das duas surpresas reservadas aos participantes.A primeira foi a presença do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que dividiu com Aécio a cabeceira da mesa principal de 18 lugares e as atenções dos convidados. “Digo o quanto para mim têm sido importantes o seu apoio e os seus conselhos”, afirmou o senador ao “craque” FHC, como se referiu ao ex-presidente. A outra surpresa da noite foi o destaque dado ao ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, um dos inúmeros quadros com os quais o senador pretende contar em um eventual governo tucano e conquistar a confiança do mercado, segundo suas próprias palavras. Nas entrelinhas, ficou claro que Aécio já escolheu o seu ministro da Fazenda, em caso de vitória. Após responder a uma pergunta de Esteves, do BTG, o tucano pediu um complemento ao seu “ministro”. “Fala Armínio, para já ir se acostumando.”O ponto mais forte do discurso de Aécio, feito enquanto os convidados saboreavam macaron de baba de moça com sorvete de coco, tendo como pano de fundo uma parede forrada até o teto com telas do pintor Di Cavalcanti, foi político. “Defendo o mandato de cinco anos, sem reeleição, para que tenhamos paz para governar”, afirmou durante resposta à presidente do Instituto Ayrton Senna, Viviane Senna, que perguntara sobre reformas trabalhistas, tributárias e política. “Foi um discurso bem armado”, afirma Piva, do grupo Klabin. “O desafio é fazer com que essa mensagem chegue à população.” Nos dois eventos, os empresários mostraram-se entusiasmados com o que ouviram do pré-candidato. “Ele tem uma história bárbara em Minas Gerais”, disse Sônia Hess, da Dudalina.Ainda no almoço, o senador tucano receberia com indisfarçável satisfação o resultado de uma enquete, feita com voto secreto e eletrônico junto aos convidados do Lide. Do total dos participantes, 56% disseram que Aécio vai ganhar as eleições, 28% apostam na presidenta DilmaRousseff e 13%, no governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Sob condição de anonimato, muitos empresários admitem estar em busca de alternativas ao nome da presidenta Dilma, apontada como favorita nas pesquisas eleitorais. Ciente da inquietação empresarial, Aécio foi ao PIB e proclamou: “Se o preço de ajustar o País for ficar quatro anos com impopularidade, pagarei esse preço”, afirmou. “Que venha outro depois de mim.” Para os empresários, era como se as vozes deles estivessem finalmente ressoando em Brasília
Capitalistas de todo o Brasil: uni-vos! O governo os esta' esfolando...
Exportação do Custo Brasil
Revista Veja, 5/04/2014Um projeto sobre a cobrança de tributos põe em risco a expansão internacional das multinacionais brasileirasPara um grupo de grandes empresas brasileiras, expandir suas atividades no exterior é vital. Só assim elas podem ganhar escala e não ser sobrepujadas por seus competidores. A internacionalização traz benefícios ao país, que ganha a oportunidade de aumentar as exportações e de criar empregos. Esse avanço pode esbarrar em uma lei que está prestes a ser aprovada pelo Congresso, a Medida Provisória 627, que trata, entre outros assuntos, da tributação dos lucros obtidos no exterior. A depender de como o texto seja aprovado, as empresas ficarão em uma situação de absoluta desvantagem em relação a suas concorrentes de outros países.Desde 2001 os lucros das filiais estrangeiras são tributados em 34%, a mesma alíquota cobrada dos lucros obtidos no Brasil. Pouquíssimos países possuem um imposto de renda tão alto (a média nos desenvolvidos é 25%). Para pagar menos, as empresas estabeleceram holdings em países com os quais o Brasil mantém acordo de bitributação. A Receita, obcecada por arrecadar sempre mais, insiste em cobrar a diferença entre o pago lá fora e a alíquota de 34%. As empresas não reconhecem essa cobrança e começaram a receber multas bilionárias, e o caso foi parar na Justiça. Para apaziguar o conflito, o governo apresentou uma nova lei. Problema: foi mantida a cobrança de 34%. Nenhum país relevante faz algo parecido. Na maior parte da Europa, os lucros auferidos no exterior não são tributados pelo país-sede da companhia. Nos Estados Unidos, apenas os resultados remetidos pagam imposto.Pela lei brasileira, os lucros são sempre tributados em 34%, mesmo sem remessa de dividendos. O quadro abaixo ilustra a diferença de condições entre uma empresa brasileira e suas concorrentes. Na semana passada, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) encaminhou uma carta ao presidente da Câmara, Henrique Alves, alertando para o fato de que a lei estimulará as empresas de capital nacional a transferir sua sede para o exterior. "O Brasil poderá se tornar um país de filiais de suas próprias empresas", diz o texto.Incapaz de reduzir o custo Brasil, o governo encontrou uma maneira de exportá-lo – e atingir em cheio os planos de expansão das empresas nacionais.