O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Itamaraty: entre a reforma e a irrelevancia - Marcos Degaut

O autor tem razão, na maior parte das "acusações" -- sim, são acusações -- que ele dirige contra o Itamaraty no que se refere a seus procedimentos internos, o carreirismo e o oportunismo desenfreados da maior parte dos diplomatas, a inadequação do processo de formação (desde o concurso de entrada e os processos internos ulteriores de aperfeiçoamento profissional), sua gestão anacrônica e pouco focada em resultados, o desligamento em relação a outros órgãos da burocracia federal, bem como da própria realidade do país. De tudo isso ele pode acusar os diplomatas e a própria instituição.
Numa outra esfera, porém, ele se engana redondamente: no que se refere à política externa em si, às escolhas, opções e definiçoes do modo de agir no cenário internacional, as decisões que são tomadas no que tocam os mais variados assuntos da agenda externa do país. Essas coisas integram a chamada política externa, e atualmente parece que elas não têm nada a ver, ou muito pouco, com o Itamaraty.
Quem define a política externa é o chefe de Estado, eventualmente a força hegemônica que ocupa o poder, vale dizer, o partido que comanda o governo e suas principais escolhas políticas, entre elas a política externa. Digamos que os companheiros não tenham competência para atuar em determinadas esferas, qualquer uma: ok, deixemos o Itamaraty fazer, pois não vai afetar nossas outras posições em tal e qual área. Mas, aqui, onde eu tenho tais e tais posições, as ordens são estas.
Entendeu? O resto é submissão, pura e simples...
Aliás, o que redunda no quadro anterior: sem submissão não há promoção, remoção para postos A, chefia de cargos interessantes ou estratégicos, determinadas prebendas associadas ao poder, etc...
A vida como ela é, como já dito antes...
Paulo Roberto de Almeida


Itamaraty: entre a reforma e a irrelevância
Marcos Degaut
Muito se discute, hoje, as razões para o corrente desmantelamento institucional do Itamaraty e para os resultados questionáveis da atual política externa nacional. Sobre o governo Dilma tem recaído a maior parte da responsabilidade pelo sucateamento da Secretaria de Estado de Relações Exteriores, em vista da ausência de engajamento da Presidente Dilma na articulação de uma efetiva diplomacia presidencial, de sua inapetência e desconhecimento em assuntos de política externa e de seu aparente desprezo pelos integrantes da carreira diplomática.
Entretanto, os problemas do Itamaraty são significativamente mais profundos do que esses e já vem se arrastando por longa data. Como não poderia deixar de ser, o atual momento pré-eleitoral se apresenta bastante propício para analisar alguns dos fatores que tem levado à perda de prestígio e de qualidade da nossa política externa, bem como para descortinar caminhos que contribuam para restaurar a dignidade, a relevância e a capacidade de formulação estratégica do MRE.
Vítima de suas próprias fraquezas, vícios, tibieza, isolamento, comodismo e conformismo, o Itamaraty é o principal culpado pelo seu próprio processo de esvaziamento. A instituição tem sido incapaz de se posicionar frente aos governantes e de identificar com precisão sua arena de atuação no cenário internacional, que possibilite ao Brasil detectar oportunidades para ampliar sua visibilidade e capacidade de diálogo nos grandes temas de interesse regional e mundial. Para além da retórica oficial de reforma da governança global de alteração da geografia econômica do globo, a análise da atual política externa indica não haver identificação clara de nossos principais objetivos econômicos e políticos, tampouco a formulação de uma agenda internacional consistente e integrada. A diplomacia brasileira, que deveria traduzir nossos interesses na arena internacional, está completamente sem rumo e sem bússola.
Ao que tudo indica, pragmatismo e visão de longo prazo não mais fazem parte do repertório de nossa política externa. Atualmente, possuímos uma diplomacia parnasiana, com muita forma e pouco conteúdo, a qual manifesta acentuado empirismo e penosa carência de paradigmas. Adotamos apenas medidas tópicas e descoordenadas, sem atentarmos que um conjunto de ações dispersas não configura uma estratégia coerente. Inexistem indicadores para determinar metas, priorizar objetivos e avaliar resultados.
Isso é consequência não só de uma interpretação equivocada e ideológica da realidade internacional, mas sobretudo de uma clara inadequação institucional que fez o órgão parar no tempo. Seu desprestígio emana de sua estagnação. O Itamaraty, enlevado por sua autopercepção enganosa de ser um centro de excelência, é hoje, na verdade, um órgão absolutamente anacrônico, quase irrelevante, que se move por inércia, hermético, avesso à inovação e à modernização, preso a tradições que já não resistem ao peso do tempo. A política externa atual não faz parte do debate eleitoral, não tem qualquer impacto sobre os rumos da sociedade e sobre a opinião pública, é absolutamente desconsiderada pelo setor privado, não está presente nos currículos escolares e não encontra respaldo sequer entre outros órgão da Administração Pública. Aliás, um dos sintomas mais evidentes desse enfraquecimento consiste na incapacidade do Itamaraty de atuar de forma coordenada com as demais instituições públicas. Hoje, é notória a rejeição à Chancelaria na esplanada. Isso não é um fato novo. É  fundamental indagar sobre os reais motivos que levaram a essa situação.
O declínio do Itamaraty acentuou-se no governo Dilma em vista da incapacidade do órgão de diagnosticar suas fraquezas, de forma engendrar as reformas necessárias à sua revitalização nos mais variados frontes. Não obstante outros fatores importantes, essas fraquezas se originam de três fontes distintas, porém interligadas: o obsoleto modelo de recrutamento, formação e aperfeiçoamento de nossos diplomatas, o nada profissional processo de promoção, que inclui a falta de critérios definidos para a nomeação de embaixadores, e a ausência de um planejamento estratégico de longo prazo.
            O processo de recrutamento para o MRE, assim como para todo o serviço público, é feito por meio de concurso público, até aí nada de novo. Contudo, em sua essência, o modelo permanece inalterado há décadas. As provas seguem sempre o mesmo estilo, padrão e forma; as mesmas questões, com nova roupagem, são cobradas ano após ano; a mesma bibliografia, com pouquíssima alteração, é sugerida; os “manuais do candidato” oferecidos se perpetuam e são atualizados de forma bissexta; Ignora-se por completo o valor de títulos e produção acadêmica e de experiência profissional. Tudo isso, entre outros aspectos, transforma o concurso de admissão para a carreira diplomática em prato cheio para os concurseiros de plantão, àvidos por uma vaguinha no serviço público, mas sem a menor vocação para a carreira, potencialmente desestimulando o ingresso daqueles que poderiam ter perfil mais adequado e contribuir de forma mais ativa para o adensamento da massa crítica na instituição.
            Ao serem admitidos no Instituto Rio Branco, os novos diplomatas são penosamente submetidos às mesmas matérias às quais se dedicaram intensamente para poderem ser aprovados. Lêem a mesma bibliografia do concurso. Têm palestras com os mesmos autores da bibliografia sugerida. Estudam história, geografia, línguas, linguagem diplomática; têm noções de economia, comércio, direito, negociações internacionais. Mas, e técnicas de Inteligência, coleta, processamento e análise de informações, planejamento estratégico, formulação de cenários, métodos gerenciais, Administração Pública e Segurança Orgânica? Nada.
Os cursos de aperfeiçoamento (CAD, CAP e CAE) seguem a mesma lógica. De curto fôlego, buscam apenas revisar conceitos já consolidados na cultura diplomática, reforçando a inércia que paralisa o ministério. Na prática, esses cursos são apenas pequenos e quase inexpressivos obstáculos que os diplomatas devem superar como requisito para progressão na carreira. Ademais, a ênfase pelo generalismo dificulta a especialização em temas de profunda importância, seja no âmbito bilateral ou no multilateral. A falta de planejamento estratégico e a negligência com o aperfeiçoamento coletivo levam ao descompasso entre as necessidades imperativas de capacitação profissional e os interesses do Estado. Como resultado, o Itamaraty sofre de uma sintomática crise de formação de quadros estratégicos e de geração de líderes para a defesa dos interesses do Brasil nas próximas décadas. Temos hoje uma diplomacia acéfala e burocrática, que atua de forma cartorária no processo de formulação e execução da política externa do país.
Por sua vez, o sistema de promoção é, basicamente, fundado no apadrinhamento. Capacidade profissional, dedicação, cursos de aperfeiçoamento, títulos acadêmicos, nada disso é levado seriamente em consideração. O que conta é a capacidade de influência do padrinho. Já se tornou clássica em Brasília a humilhante peregrinação de diplomatas a gabinetes de políticos, magistrados, sub-procuradores gerais da República, lobistas inseridos na estrutura do poder e outros servidores públicos poderosos em busca de “apoio” para a promoção. Não raro, diplomatas buscam lotação em órgãos de outros poderes em troca de uma promessa de apadrinhamento.
Dinâmica não muito distinta rege a remoção de servidores para o exterior, normalmente para postos de seu interesse, por  diversos  motivos, e não no interesse da administração. A adequação pessoal e profissional de um servidor para determinado posto, seus conhecimentos sobre o país em questão, inclusive a língua, certamente não são critérios para a remoção.
A mesma romaria em busca de apoio político se dá por ocasião da nomeação de embaixadores. Sem apoio político, não se é promovido a embaixador ou não se é nomeado para um posto importante, apesar de eventuais credenciais e da experiência. Como resultado, um pequeno grupo de diplomatas no topo da carreira promove uma verdadeira dança das cadeiras, sempre ocupando os postos mais importantes, costumeiramente trocando de postos entre si, e sempre ocupando as principais posições na Secretaria de Estado. Assim, o processo de renovação é extremamente lento, e os que chegam ao topo, quando chegam, logo se encarregam de perpetuar essa prática nociva.
A inércia do Congresso Nacional, especialmente do Senado, que aprova embaixadores a toque de caixa sem saber se o indicado está efetivamente preparado para suas novas atribuições, agrava ainda mais a situação. As sabatinas são meras formalidades enfadonhas que o futuro embaixador deve cumprir antes de ser designado para exercer suas funções, um aborrecimento para parlamentares e diplomatas. O Senado precisa ser mais ativo na política administrativa com órgão fiscalizador, e não atuar como instância que chancela, inquestionavelmente, as demandas do Itamaraty.  
Essas constatações não significam dizer que não existam funcionários qualificados e com vocação, o que seria uma injustiça e uma inverdade. Sim, existem. E muitos. Na maioria das vezes, entretanto, potencial e vocação são desperdiçados por uma estrutura burocrática que aprisiona, estimula o carreirismo, e desincentiva o aperfeiçoamento buscado de forma individual, autônoma. Como antídoto e válvula de escape para a frustração profissional, muitos obtêm maiores êxitos se dedicando à literatura, à pintura ou a outras artes.
Somente uma profunda reforma estrutural, administrativa e de gestão de recursos humanos, que pode partir da própria casa ou ser feita em parceria com instituições públicas e com a academia, pode salvaguardar a grandeza do Itamaraty. Seu reerguimento e valorização, com o consequente resgate da capacidade de formular uma agenda internacional pró-ativa e de articular uma estratégia coerente e integrada de atuação por meio da qual possamos nos antecipar a novas circunstâncias e desafios, são fundamentais para assegurar a defesa do interesse nacional e auxiliar na missão de retomada do crescimento.
Política externa não se faz no vácuo. Um país com o peso econômico do Brasil não pode se contentar com uma diplomacia reativa e conformista sempre a reboque dos acontecimentos, que pouco influencia as relações internacionais, mas sofre em demasia os efeitos das políticas dos Global Players. A persistir o estado atual, continuaremos exercendo o papel de coadjuvante de luxo, aplaudindo as iniciativas de países mais arrojados, mas exercendo pouca ou nenhuma influência na elaboração das políticas globais. Que a descontrução a que foi submetido o Itamaraty possa se converter em oportunidade para resgatar a identidade, o orgulho e altivez da política externa brasileira.
Marcos Degaut é doutorando em Security Studies pela University of Central Florida, Mestre em Relações internacionais pela Universidade de Brasília e autor do livro “O Desafio Global do Terrorismo: Política e Segurança Internacional em Tempos de Instabilidade” (2014).

Nos corredores da burocracia oficial: a vida como ela e'...

Um artigo recente e meus comentários, mais abaixo...
Talvez se devesse dizer: a vida como ela deveria ser...
Paulo Roberto de Almeida

Por que tanto descaso com o Itamaraty e a Abin?

Fábio Pereira Ribeiro
Revista Exame, 29/09/2014

Já não é de hoje que sabemos que o Itamaraty vem perdendo seu real valor e consistência. Considerado como um dos órgãos de elite do serviço público nacional, e também extremamente reconhecido nos círculos internacionais, o Itamaraty vive um momento de perda de “razão”, simplesmente por falta de um projeto consistente de administração e participação real do Brasil nas relações internacionais.

Na semana que passou, um grupo de mais de 300 Secretários do Itamaraty divulgou uma nota de reclamação e repúdio em relação ao descaso administrativo que o órgão vem sofrendo na gestão do Governo Dilma Rousseff. Os mesmos falam em “anomalias”. As reclamações vão desde o plano de carreira, atrasos nos repasses orçamentários da despesas correntes e ajudas de custos, sem contar a preocupação dos próprios profissionais sobre os rumos da política externa brasileira. É o “espírito de corpo” prevalecendo sobre os interesses da Nação, e não de um grupo político!

Para muitos diplomatas de outros países, o Itamaraty sempre foi um órgão de excelência, que sempre teve em seus quadros grandes nomes da inteligência brasileira, além de perfeitos profissionais na arte da diplomacia. Mas nos últimos anos os mesmos parecem desiludidos e perdidos na burocracia burra do governo brasileiro. Barão do Rio Branco deve estar revirando em 360 graus em seu túmulo.

A questão administrativa está muito mais complicada na estrutura do Itamaraty, principalmente nas questões orçamentárias. Por exemplo pequeno, existe uma reclamação sobre o fechamento das bibliotecas brasileiras nas diversas embaixadas do Brasil espalhadas pelo mundo. Se um estudante brasilianista quiser buscar conhecimentos sobre o Brasil é mais fácil ele comprar uma passagem para Guarulhos.

Conversei com um diplomata brasileiro aqui em Paris, e por questões óbvias não informarei a minha fonte (nem sob tortura, e eu sou preparado para isso). A situação é deprimente, tanto do ponto de vista administrativo como do ponto da própria diplomacia. Os diálogos com Brasília são complicados, a falta de perspectiva é intensa, e os últimos posicionamentos do governo federal sobre os acontecimentos internacionais atrapalham qualquer trabalho de um diplomata. Por exemplo, os serviços de inteligência franceses estão em alerta máximo em função das ameaças do Estado Islâmico que pretende realizar ataques terroristas no Metrô de Paris. E dias antes nossa Presidente Dilma Rousseff, a mesma que não consulta o nosso serviço de inteligência, faz um pronunciamento na ONU em Nova York pedindo diálogo para com um grupo de extremistas, que para eles o diálogo é a única coisa que não existe na face da Terra. Imagina o diplomata tentando explicar para os franceses o que ela tentou falar?

Tanto Itamaraty como a ABIN (Agência Brasileira de Inteligência – o serviço secreto) sofrem pelas faltas de perspectivas. Vivem em ostracismo público e burocrático. Vivem nas mãos de meia dúzia de burocratas partidários que esquecem do real sentido da política externa e da inteligência de Estado para atender os anseios da Nação.

Estes dois órgãos têm os melhores quadros intelectuais e técnicos da estrutura pública brasileira. Mas infelizmente o ostracismo leva muitos profissionais para evasão. Muitos por sinal, com a grande capacidade intelectual, buscam outros concursos públicos e até mesmo cargos estratégicos em empresas privadas. E na boa, a questão não é financeira, é poder fazer o trabalho decentemente, e não sob óticas ideológicas e partidárias.

Dias atrás escrevi um texto sobre consulta ao serviço de inteligência. Conversei com um oficial de inteligência da França e o mesmo me fez a pergunta: “Fábio, por que a sua presidente não consultou a ABIN?”. A questão não é só consultar, é entender o quanto o trabalho de inteligência é importante para um líder de um país como o Brasil.

Somado a tudo isso me pergunto: por que o governo federal faz pouco caso com a diplomacia e inteligência brasileira? Será que o governo federal não percebe que a Nação só perde com isso? Chega de gafes internacionais e de insegurança instalada no Brasil. Chega de ser “anão”. Por sinal, só no governo atual que tal palavra ganhou tanto destaque para o Brasil. De “gigante pela própria natureza” para anão é um longo e triste caminho!

Me lembrei de Romeu Tuma Júnior e seu livro “Assassinato de Reputações – um crime de Estado”. Estão assassinando reputações das próprias instituições brasileiras. Funcionários públicos sérios estão a mercê de projetos de poder e sofrem do ostracismo público. Nós como brasileiros, enquanto Nação, não podemos deixar isto acontecer.

P.S.: Direto de Paris.

==========

Meus comentários (PRA):

    Acho que o artigo peca pela incomprensão de uma coisa muito simples: distinção entre o que corpo técnico dedicado à coleta e processamento de informações (ABIN, MRE) e ao uso dessas informações para negociações externas (MRE) pode fazer, de um lado, e de outro, o que faz, deixa de fazer, decide, ou não, o decisor último de como esses corpos profissionais vão, ou não trabalhar esse material, e atuar, ou não, em suas respectivas esferas de atuação.

    Dois exemplos, entre muitos:
1) a ABIN, tem agentes infiltrados no MST, que sabem que esse grupo planeja invadir fazendas ou algum órgão público, em tal data, em tal lugar. Ela repassa essas informações às instâncias apropriadas para que se faça alguma ação preventiva, pois, afinal de contas, se quer impedir destruição do patrimônio público, ou sua paralização momentânea. O que é feito depois disso?
    O que faz a ABIN, a ver que a ação que ela pretendia desarmar não foi obstada por falta de providências? Divulga isso pelos jornais?

2) o Itamaraty recebe ordens de negociar um acordo de cooperação econômica com Cuba, cujos padrões já chegam definidos em grande medida previamente. Ou ainda: a delegação na OEA recebe instruções para votar a favor da Venezuela, em tal ou qual questão, independente do mérito da resolução, do que se pretende, etc e tal; a instrução é muito clara: coordenar-se com a delegação venezuelana, e com tais e tais outras, para obstar, nos procedimentos, e votar contra, na substância, tal resolução apresentada pelos EUA e outros lacaios do império.
O que faz a delegação? Descumpre as instruções?

    A vida como ela é...
-----------------------------------
Paulo Roberto de Almeida

Corrupcao, a la Nelson Rodrigues; ou, a vida como ela e'...

Atenção: NÃO sou o autor da crônica bem humorada transcrita abaixo. Foi recebida hoje, 2/10/2014, pela internet, aparentemente sem atribuição, a não ser o nome do remetente, que não preciso informar. Se trata obviamente de uma ficção, ainda que muito parecida com a realidade...
Só a Nota final é minha...
Paulo Roberto de Almeida 
 
O Perdão de Marcos Valerio
Hoje Marcos Valério falou com um companheiro de cela...
__"Tá vendo, se tivesse todo esse aparelhamento no meu tempo, eu não estava aqui... Você acha que eu sou otário, tentei a mesma coisa que esse Paulo Roberto e não consegui nada... ele está aí solto em tempo recorde e ninguém estranha tanta agilidade..."
Ao que o companheiro respondeu...
__"Mano, que merda é essa de aparelhamento? Eu sei que você estudou mas não precisa ficar tirando onda com a minha cara, explica essa porra porque se é para sair aqui do xadrez eu também consigo esse tal de aparelhamento..."
__ "Bicho, esse juiz que aceitou a delação premiada e autorizou a saída do marajá da Petrobras que passou a mão em dezenas se não centenas de milhões dólares é o mesmo que o PT plantou no Supremo para livrar a gangue do mensalão da acusação de formação de quadrilha, permitindo assim que eles tenham um pena pequena... Esse cara é de confiança absoluta deles, só faz o que eles mandam... Que nem o cara que agora está na presidência do supremo e o outro que eles plantaram no TSE para garantir um desempate... ou seja, já que você quer saber... aparelhamento é você colocar pessoas suas, da sua gangue ou quadrilha, em postos chaves para lhe dar cobertura, segurança e facilidades... Se você quer aparelhar aqui o presídio você tinha que colocar um tio seu de diretor do presídio, um cunhado carcereiro, um primo na cantina... Aí você receberia bateria para o seu celular, rango diferenciado, ninguém vinha aqui roubar a sua maconha na hora do recreio..."
__ "Agora que eu sei o que é aparelhagem, me diga, o que aconteceu com esse cara aí que sumiu com a bufunfa verdinha..."
__"Ele sabia muito e negociou..... Eu sabia muito mas não consegui negociar porque a justiça não estava aparelhada como está agora..."
__"O que que ele sabia para soltarem ele rapidinho assim?"
__ "Esse cara estava no gargalo de uma rede de propinas, dinheiro que as empreiteiras pagam para ganhar licitações, contratos multimilionários, que envolviam toda a diretoria da maior empresa brasileira, a Petrobras, e uma cambada de políticos do PT e de sua base aliada... gente que pode ser degolada em nome da manutenção do poder... Mas, ele esteve metido numa falcatrua que envolveu centenas de milhões de dólares onde estava envolvida a atual presidente... na época ela era a ministra que mandava na coisa... O que ele fêz? Tá na cara... entregou cabeças de segunda linha para mostrar que tinha bala na agulha, assim como sequestradores mandam a orelha do sequestrado para a família e deu um dá ou desce... Ou vocês me livram dessa porra ou eu entrego a presidente e acabo com a candidatura dela... Quero estar solto antes das eleições, caso contrário vocês ganham a coisa e resolvem me encarar... Rapidinho montaram uma historinha que ele vai devolver uns trocados e que delatou gente importante... Bicho o que esse cara levantou de grana dá varias vezes o dinheiro todo que eu cheguei a ter..."
__ Mas se tá valendo isso tudo eles apagavam o cara, mano... ia pra vala...
__ Não é bem assim não... Esse cara tem grana, o caso teve muita repercussão por conta das eleições... Sumir com ele ia dar muita bandeira... Tem advogados a família... Mandam carta para os inimigos políticos... Ele deve ter prova grande, coisa de arrebentar, caso contrário não teriam contrariado todo o sistema legal para soltá-lo com essa rapidez toda... O disfarce é o suposto interesse de se saber os caras que ele entregou... Mas eu sei como são essas coisas...Jogam para um lado quando é no outro que estão defendendo..."

__ "Mano, eu só sei que você também sabia muito e quando resolveu abrir o bico foi tarde, engavetaram... perdeu meu camarada, da próxima arranja um aparelhamento... De qualquer forma eu entendi porque você dançou... Sabe vou te confessar uma coisa, cada vez que converso contigo aumenta meu medo de voltar lá pra fora, só tem gente desonesta e vendida... Fico impressionado."

========

 Nota final: nenhum personagem, evento, circunstância ou contexto tem a ver com a realidade das coisas. Tudo é uma ficção inventada por alguém com muita imaginação...

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Por que o Brasil cresce pouco? - Debate no TCU, Brasilia, 6/10/2014


Cuba: Kissinger fez planos para um ataque armado em 1976




Photo

Secretary of State Henry A. Kissinger, with President Gerald R. Ford, was angered by Fidel Castro’s 1976 incursion into Angola.CreditGerald R. Ford Presidential Library, via Associated Press

MIAMI — Nearly 40 years ago, Secretary of State Henry A. Kissinger mapped out secret contingency plans to launch airstrikes against Havana and “smash Cuba,” newly disclosed government documents show.
Mr. Kissinger was so irked by Cuba’s military incursion into Angola that in 1976 he convened a top-secret group of senior officials to work out possible retaliatory measures in case Cuba deployed forces to other African nations, according to documents declassified by the Gerald R. Ford Presidential Library at the request of the National Security Archive, a research group.
The officials outlined plans to strike ports and military installations in Cuba and to send Marine battalions to the United States Navy base at Guantánamo Bay to “clobber” the Cubans, as Mr. Kissinger put it, according to the records. Mr. Kissinger, the documents show, worried that the United States would look weak if it did not stand up to a country of just eight million people.
“I think sooner or later we are going to have to crack the Cubans,” Mr. Kissinger told President Ford at a meeting in the Oval Office in 1976, according to a transcript.
The documents are being posted online and published in “Back Channel to Cuba,” a new book written by the longtime Cuba experts William M. LeoGrande, a professor of government at American University, and Peter Kornbluh, the director of the archive’s Cuba Documentation Project.
The previously undisclosed blueprint to strike Cuba highlights the tumultuous nature of American-Cuban relations, which soured badly after the 1959 revolution that brought Fidel Castro to power.
Mr. Kissinger, who was secretary of state from 1973 to 1977, had previously planned an underground effort to improve relations with Havana. But in late 1975, Mr. Castro sent troops to Angola to help the newly independent nation fend off attacks from South Africa and right-wing guerrillas.
That move infuriated Mr. Kissinger, who was incensed that Mr. Castro had passed up a chance to normalize relations with the United States in favor of pursuing his own foreign policy agenda, Mr. Kornbluh said.
“Nobody has known that at the very end of a really remarkable effort to normalize relations, Kissinger, the global chessboard player, was insulted that a small country would ruin his plans for Africa and was essentially prepared to bring the imperial force of the United States on Fidel Castro’s head,” Mr. Kornbluh said.
“You can see in the conversation with Gerald Ford that he is extremely apoplectic,” Mr. Kornbluh said, adding that Mr. Kissinger used “language about doing harm to Cuba that is pretty quintessentially aggressive.”
The plans suggest that Mr. Kissinger was prepared after the 1976 presidential election to recommend an attack on Cuba, but the idea went nowhere because Jimmy Carter won the election, Mr. LeoGrande said.
“These were not plans to put up on a shelf,” Mr. LeoGrande said. “Kissinger is so angry at Castro sending troops to Angola at a moment when he was holding out his hand for normalization that he really wants to, as he said, ‘clobber the pipsqueak.’ ”
The plan suggested that it would take scores of aircraft to mine Cuban ports. It also warned that the United States could seriously risk losing its Navy base in Cuba, which was vulnerable to counterattack, and estimated that it would cost $120 million to reopen the Ramey Air Force Base in Puerto Rico and reposition destroyer squadrons.
The plan also drafted proposals for a military blockade of Cuba’s shores. The proposal warned that such moves would most likely lead to a conflict with the Soviet Union, which was a top Cuba ally at the time.
“If we decide to use military power, it must succeed,” Mr. Kissinger said in one meeting, in which advisers warned against leaks. “There should be no halfway measures — we would get no award for using military power in moderation. If we decide on a blockade, it must be ruthless and rapid and efficient.”
Mr. Kissinger, now 91, declined a request to comment.
The memos show that Donald H. Rumsfeld, who was secretary of defense from 1975 to 1977 under President Ford, and again under President George W. Bush, was also present at the meeting when Mr. Kissinger ordered up the contingency plan. Mr. Rumsfeld, 82, also declined a request to comment.
Some Cuba historians said the revelations were startling, particularly because they took place just as the United States was coming out of the Vietnam War.
“The military piece dumbfounds me a little bit,” said Frank O. Mora, a former deputy assistant secretary of defense who now directs the Latin American and Caribbean Center at Florida International University. “For Kissinger to be talking the way they were talking, you would think Cuba had invaded the whole continent.”
A version of this article appears in print on October 1, 2014, on page A12 of the New York edition with the headline: Kissinger Drew Up Plans to Attack Cuba, Records Show.

Politica Externa: a diplomacia petista em seus piores momentos - Editorial Estadao


Dilma e a diplomacia petista
Opinião
O ESTADO DE S.PAULO,  30 Setembro 2014 
O vexame que a presidente Dilma Rousseff fez o País passar perante uma audiência mundial, ao utilizar a tribuna da ONU para fazer campanha eleitoral, não resultou apenas de reles cálculo marqueteiro. É a consequência natural de uma visão distorcida do que vem a ser o interesse nacional, deliberadamente confundido com o interesse do partido ao qual Dilma pertence. Logo, ao defender na ONU as supostas realizações da era lulopetista, como se elas qualificassem o Brasil no cenário internacional, Dilma sacramentou a diplomacia partidária que vem carcomendo a credibilidade brasileira. Essa crença de que a política externa do País não pode ser "apenas uma política de Estado" foi reafirmada pela presidente, com essas exatas palavras, em entrevista à revista Política Externa, a propósito de seus planos para as relações exteriores, caso seja reeleita.
Na conversa, Dilma afirmou que "aprisionar a política externa em um só modelo" - isto é, a diplomacia de Estado, e não de partido - "denota uma atitude conservadora por parte dos que não querem mudar nada". Para ela, as estratégias diplomáticas são, "antes de tudo", uma "escolha da sociedade, que se faz periodicamente por meio de eleições". Com isso, a presidente reafirma, com a maior clareza possível, que a política externa legítima é aquela ditada pelo partido vencedor das eleições - e os que a isso se opõem são desde logo "conservadores" que "não querem mudar nada".
É evidente que o partido legitimado pelas urnas pode e deve implementar seu programa nos diversos aspectos da administração pública, aí incluída a atuação internacional. No entanto, isso é muito diferente de obrigar a diplomacia brasileira a atuar como braço do PT, alinhando o Brasil a países párias e a ditaduras, somente porque estes compartilham da ideologia companheira, e amarrando o País a compromissos que o impedem de fazer acordos comerciais que o tornariam mais competitivo no mercado internacional. A julgar pelo entusiasmo com que Dilma defendeu esse modelo na entrevista, no entanto, pode-se esperar que ele seja até mesmo aprofundado no eventual segundo mandato.
Indiferente à realidade, em autêntico estado de negação, Dilma disse que as "novas prioridades da política externa brasileira produziram resultados extraordinários" - orgulhando-se do desastroso desempenho comercial de seu mandato, que recentemente obrigou o governo a incluir a exportação fictícia de plataformas de petróleo para ajudar a conta a fechar no azul. Na construção da triunfante narrativa petista, Dilma diz que essa performance "extraordinária" não se deve apenas à demanda internacional por commodities, "mas fundamentalmente porque o Brasil, com sua nova política externa, adaptou-se bem às profundas mudanças que ocorreram, e ainda ocorrem, na geoeconomia e na geopolítica mundiais".
Tal "adaptação" resumiu-se ao aprofundamento das chamadas relações "Sul-Sul" -
A despeito dessa megalomania companheira, no entanto, Dilma dá pouca ou nenhuma importância para a diplomacia formal, e o maior exemplo disso é o contínuo sucateamento do Itamaraty. São abundantes as reclamações de diplomatas a respeito das restrições orçamentárias - causadas em parte pelo fracasso da estabanada política de multiplicação de representações diplomáticas promovida pelo governo Lula.
Além disso, enquanto reivindica para o Brasil um lugar entre os protagonistas globais, Dilma descuida dos rituais mais elementares das relações internacionais. Só isso explica o chá de cadeira que a presidente está dando a 28 embaixadores estrangeiros que estão há meses esperando que ela os receba para lhe apresentar suas credenciais, formalidade necessária para que eles sejam reconhecidos oficialmente como representantes de seus países.

Brasil dos companheiros: a mentira virou verdade - Arnaldo Jabor

A mentira virou verdade 

 Arnaldo Jabor

O Globo, 16/09/2014

Nunca antes se roubou em nome de um projeto político alastrante em todos os escaninhos do Estado

Aproxima-se a hora da verdade política do país. Hora da verdade ou hora da mentira?
Mentira virou verdade? Nossas “verdades” institucionais foram construídas por 500 anos de mentiras. Portanto, virou uma razão de Estado para o governo do PT a proteção à mentira brasileira inventada pela secular escrotidão portuguesa. Se a verdade aparecesse em sua plenitude, nossas instituições cairiam ao chão. Por isso, o Governo acha que é necessário proteger as mentiras para que a falsa “verdade” do país permaneça. E não é só a mentira que indigna. É a arrogância com que mentem. E a mentira vai se acumulando como estrume durante um ano e acaba convencendo muitos ingênuos de que “sempre foi assim” ou de que “erraram com boa intenção”.
Não só roubaram cerca de R$ 2 bilhões desviados de aparelhos do Estado, de chantagem com empresários, de fundos de pensão, de contratos falsos, mas roubaram também nossos mais generosos sentimentos. A verdadeira esquerda se modificou, avançou, autocriticou-se enquanto eles não arredaram os pés dos velhos dogmas da era stalinista e renegaram todo trabalho de uma esquerda mais social-democrata, como aliás fazem desde que não votaram nos “tucanos” da época e o Hitler subiu ao poder.
“Nunca antes”, nunca antes um partido tomou o poder no Brasil e montou um esquema secreto de “desapropriação” do Estado, para fundar um “outro Estado”. Nunca antes se roubou em nome de um projeto político alastrante em todos os escaninhos do Estado, aparelhado por mais de 30 mil militantes.
O ladrão tradicional sabia-se ladrão. O ladrão tradicional roubou sempre em causa própria e se escondia pelos cantos para não ser flagrado.
Os ladrões desse governo roubam de testa erguida, como se estivessem fazendo uma “ação revolucionária”, se orgulham de fingir de democratas para apodrecer a democracia por dentro.
A verdade está sempre no avesso do que dizem.
São hábeis em criar um labirinto de “falsas verdades”, formando uma rede de desmentidos, protelações e enigmas que vão desqualificando as investigações de coisas como a CPI da Petrobras e todos os crimes de seus aliados. Regozijam-se porque seus eleitores são ignorantes e pobres e não sabem nem o que é “dossiê” — pensam que é um tipo de doce. A verdade do Brasil é coloquial, feita de pequenos ladrões, sujos arreglos políticos, emperramentos técnicos. Hoje, sabemos que somos parte da estupidez secular do país. Assumir nossa doença talvez seja o início da sabedoria.
A verdade é que os petistas nunca acreditaram na “democracia burguesa”; como disse um intelectual emérito da USP — “democracia é papo para enrolar o povo”.
O PT que se agarra ao poder degrada a linguagem. Falam de um lugar que é o auge de um baixo voluntarismo aventureiro, de uma ideia de socialismo decaída em populismo. A esquerda petista não tem memória. Dá frio na espinha vê-la tender para os mesmos erros de 64 e 68.
Na cabeça dessa gente ignorante e dogmática nada é real; só a ideologia existe.
Todos os erros eram previsíveis por comentaristas e foram cumpridos à risca pelos governos petistas.
Milhares de petistas ocupam o Estado aparelhado e querem que a Dilma ganhe para permanecerem nas “boquinhas”.
As agências reguladoras estão sendo assassinadas.
Dilma berra que o Banco Central não tem de ter autonomia.
A era Meirelles-Palocci foi queimada, velho desejo dos camaradas.
Qualquer privatização essencial foi esquecida. A reforma da Previdência “não é necessária” — dizem eles — não havendo nenhum “rombo” no orçamento (!). Os gastos públicos aumentaram pois, como afirmam, “as despesas de custeio não diminuirão para não prejudicar o funcionamento da máquina pública”.
Se reeleita, voltará a obsessão do “Controle” sobre a mídia e a cultura. E, como não poderá se reeleger, o bolivarianismo vai florir e o passarinho do Chávez vai cantar em seus ouvidos. Nossa maior doença — o Estado canceroso — foi e será ignorada. Tudo que construíram, com sua militância, foi um novo “patrimonialismo de Estado”, com a desculpa de que “em vez de burgueses mamando na viúva, nós, do povo, nela mamaremos”.
O perigo que corremos é sua reeleição, porque o país de analfabetos é boçal, espera um salvador da pátria. No fundo, brasileiros preferem uma boa promessa de voluntarismo e populismo, na base do “pau no burro” ou “bota para quebrar”. Estamos prontos para ditadores e demagogos; para administradores e reformadores racionais, não.
Enquanto o óbvio se exibe, a covardia de muitos intelectuais é grande. Há o medo de serem chamados de reacionários ou caretas. Continuam ativos os três tipos exemplares de “radicais”: os radicais de cervejaria, os radicais de enfermaria e os radicais de estrebaria. Os frívolos, os burros e os loucos. Uns bebem e falam em revolução; outros alucinam; e os terceiros zurram.
A “presidenta” vive a missão impossível de ser “socialista e dirigir um país... ah... capitalista. A conclusão é que Dilma perdeu o controle da zona geral que Lula sabia “desorganizar” com esmero e competência. Dilma não é competente nem para desorganizar. Não é apenas o fim de dois maus governos; é o despertar de um caos institucional que será mais grave do que pensávamos. Estamos diante de um momento histórico gravíssimo, com os dois tumores gêmeos de nossa doença: a direita do atraso e a esquerda do atraso. É uma herança que vai amaldiçoar o futuro. Como escreveu Bobbio, se há uma coisa que une esquerda e direita é o ódio à democracia.
O Brasil evolui pelo que perde e não pelo que ganha. Sempre houve no país foi uma desmontagem contínua de ilusões históricas. Com a História em marcha a ré, estranhamente, andamos para a frente. Como?
O Brasil se descobre por subtração, não por soma. Chegaremos a uma vida social mais civilizada quando as ilusões chegarem ao ponto zero.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/a-mentira-virou-verdade-13944296#ixzz3ErjxGa7V
© 1996 - 2014. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.

Brasil dos companheiros: Jabor registra em cartorio a listas dos desastres anunciados...

A lista dos perigos
ARNALDO JABOR
O Estado de S.Paulo,  30/09/2014

O que acontecerá com o Brasil se a Dilma for eleita?

Aqui vai a lista:

A catástrofe anunciada vai chegar pelo desejo teimoso de governar um país capitalista com métodos "socialistas". Os "meios" errados nos levarão a "fins" errados. Como não haverá outra "reeleição", o PT no governo vai adotar medidas bolivarianas tropicais, na "linha justa" da Venezuela, Argentina e outros.

Dilma já diz que vai controlar a mídia, economicamente, como faz a Cristina na Argentina. Quando o programa do PT diz: "Combater o monopólio dos meios eletrônicos de informação, cultura e entretenimento", leia-se, como um velho petista deixou escapar: "Eliminar o esterco da cultura internacional e a 'irresponsabilidade' da mídia conservadora". Poderão, enfim, pôr em prática a velha frase de Stalin: "As ideias são mais poderosas do que as armas. Nós não permitimos que nossos inimigos tenham armas, porque deveríamos permitir que tenham ideias?".

As agências reguladoras serão mais esvaziadas do que já foram, para o governo PT ter mais controle sobre a vida do País. Também para "controlar", serão criados os "conselhos" de consulta direta à população, disfarce de "sovietes" como na Rússia de Stalin.

O inútil Mercosul continuará dominado pela ideologia bolivariana e "cristiniana". Continuaremos a evitar acordos bilaterais, a não ser com países irrelevantes (do "terceiro mundo") como tarefa para o emasculado Itamaraty, hoje controlado pelo assessor internacional de Dilma, Marco Aurélio Garcia. Ou seja, continuaremos a ser um "anão diplomático" irrelevante, como muito acertadamente nos apelidou o Ministério do Exterior de Israel.

Continuaremos a "defender" o Estado Islâmico e outros terroristas do "terceiro mundo", porque afinal eles são contra os Estados Unidos, "inimigo principal" dos bolcheviques que amavam o Bush e tratam o grande Obama como um "neguinho pernóstico".

Os governos estaduais de oposição serão boicotados sistematicamente, receberão poucas verbas, como aconteceu em S. Paulo.

Junto ao "patrimonialismo de Estado", os velhos caciques do "patrimonialismo privado" ficarão babando de felicidade, como Sarney, Renan "et caterva" voltarão de mãos dadas com Dilma e sua turminha de brizolistas e bolcheviques.

Os gastos públicos jamais serão cortados, e aumentarão muito, como já formulou a presidenta.

O Banco Central vai virar um tamborete usado pela Dilma, como ela também já declarou: "Como deixar independente o BC?".

A Inflação vai continuar crescendo, pois eles não ligam para a "inflação neoliberal".

Quanto aos crimes de corrupção e até a morte de Celso Daniel serão ignorados, pois, como afirma o PT, são "meias-verdades e mentiras, sobre supostos crimes sem comprovação...".

Em vez de necessárias privatizações ou "concessões", a tendência é de reestatização do que puderem. A sociedade e os empresários que constroem o País continuarão a ser olhados como suspeitos.

Manipularão as contas públicas com o descaro de "revolucionários" - em 2015, as contas vão explodir. Mas ela vai nomear outro "pau-mandado" como o Mantega. Aguardem.

Nenhuma reforma será feita no Estado infestado de petistas, que criarão normas e macetes para continuar nas boquinhas para sempre.

A reforma da Previdência não existirá, pois, segundo o PT, "ela não é necessária, pois exageram muito sobre sua crise", não havendo nenhum "rombo" no orçamento. Só de 52 bilhões.

A Lei de Responsabilidade Fiscal será desmoralizada por medidas atenuantes - prefeitos e governadores têm direito de gastar mais do que arrecadam, porque a corrupção não pode ficar à mercê de regras da época "neoliberal". Da reforma política e tributária ninguém cogita.

Nossa maior doença - o Estado canceroso - será ignorada e terá uma recaída talvez fatal; mas, se voltar a inflação, tudo bem, pois, segundo eles, isso não é um grande problema na política de "desenvolvimento".

Certas leis "chatas" serão ignoradas, como a lei que proíbe reforma agrária em terras invadidas ilegalmente, que já foi esquecida de propósito.

Aliás, a evidente tolerância com os ataques do MST (o Stedile já declarou que se Dilma não vencer, "vamos fazer uma guerra") mostra que, além de financiá-los, este governo quer mantê-los unidos e fiéis, como uma espécie de "guarda pretoriana", como a guarda revolucionária dos "aiatolás" do Irã.

A arrogância e cobiça do PT aumentarão. As 30 mil boquinhas de "militantes" dentro do Estado vão crescer, pois consideram a vitória uma "tomada de poder". Se Dilma for eleita, teremos um governo de vingança contra a oposição, que ousou contestá-la. Haverá o triunfo "existencial" dos comunas livres para agir e, como eles não sabem fazer nada, tudo farão para avacalhar o sistema capitalista no País, em nome de uma revolução imaginária. As bestas ficarão inteligentes, os incompetentes ficarão mais autoconfiantes na fabricação de desastres. Os corruptos da Petrobrás, do próprio TCU, das inúmeras ONGs falsas vão comemorar. Ninguém será punido - Joaquim Barbosa foi uma nuvem passageira.

Nesta eleição, não se trata apenas de substituir um nome por outro. Não é Fla x Flu. Não. O grave é que tramam uma mutação dentro do Estado democrático. Para isso, topam tudo: calúnias, números mentirosos, alianças com a direita mais maléfica.

E, claro, eles têm seus exércitos de eleitores: os homens e as mulheres pobres do País que não puderam estudar, que não leem jornais, que não sabem nada. Parafraseando alguém (Stalin ou Hitler?) - "que sorte para os ditadores (ou populistas) que os homens não pensem".

Toda sua propaganda até agora se acomodou à compreensão dos menos inteligentes: "Quanto maior a mentira, maior é a chance de ela ser acreditada" - esta é do velho nazista.

O programa do PT é um plano de guerra. Essa gente não larga o osso. Eles odeiam a democracia e se consideram os "sujeitos", os agentes heroicos da História. Nós somos, como eles falam, a "massa atrasada".

É isso aí. Tenho vontade de registrar este texto em cartório, para depois mostrar aos eleitores da Dilma. Se ela for eleita.

Estado da nacao: um estrategista analisa a realidade da republica companheira - Afonso Farias

Retórica, incremento e desorientação
Afonso Farias
Correio Braziliense, 29 Setembro  2014


A nação transformou-se em monopólio de negociadores governamentais de plantão. Ocupam cargos para construir suas riquezas materiais e organizar estruturas e sistemas (aparentemente do bem) para se perpetuarem estrategicamente nas posições ocupadas.

Sobre a educação, depois de analisada por organismos internacionais e constatado que o Brasil está mal, foi a vez de o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) apontar os desmandos da gestão nacional do setor. As notas do Ideb caíram no ensino médio de 16 redes públicas estaduais entre 2011 e 2013.

O país não atingiu as metas previstas para 2013 nos anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano) e no ensino médio. A meta de 2013 só foi atingida nos primeiros anos do ensino fundamental (1º ao 5º ano).

Um fato chama a atenção: as escolas particulares não alcançaram as metas em nenhuma das três fases de ensino. Nos anos iniciais do ensino fundamental, as instituições privadas foram as únicas a não alcançar a meta do Ideb. A situação se repete nos anos finais. Tecnicamente, a educação é pouco eficiente.

Relativamente à economia, nos três primeiros trimestres de 2014, o Produto Interno Bruto (PIB) apresentou recuo de 0,6%. O Banco Central, como tem feito costumeiramente, revisou para baixo a expectativa de crescimento deste ano, passando a previsão do PIB de 0,70% para 0,52%.

Com esse percentual, 2015 tem previsão de crescimento em torno de 1%. Crescendo menos que os demais Brics, o Brasil perdeu a confiança do investidor estrangeiro. Hoje, verificando 44 economias que tiveram o desempenho dos três primeiros trimestres analisado pela revista Economist, apenas Japão e Ucrânia estão numa situação pior que a do Brasil.

Com o menor percentual de investimento entre os componentes do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e Árica do Sul), 18% do PIB, o Brasil está comprometendo seu futuro econômico e afastando os investidores. Tecnicamente, o país está em recessão.

Sobre a violência, no que toca aos homicídios, morrem mais de 56 mil pessoas por ano no Brasil. Isso é quase que a totalidade de americanos mortos na sangrenta Guerra do Vietnã (58 mil), durante mais de 10 anos de conflito.

Sobre suicídios, a Organização Mundial da Saúde (OMS) apresentou um relatório recente, sobre a América Latina, no qual apenas cinco países tiveram aumento percentual no número de suicídios entre 2000 e 2012: Guatemala (20,6%), México (16,6%), Chile (14,3%), Brasil (10,4%) e Equador (3,4%).

Torna-se relevante perceber que, no Brasil, o número de mulheres que tiraram a própria vida cresceu mais (17,80%) do que o número de homens (8,20%) no período de 12 anos. A OMS afirmou que há aproximadamente 800 mil suicídios/ano no planeta — a cada 40 segundos, suicida-se uma pessoa. Tecnicamente, matam-se e suicidam-se mais pessoas neste país.

Assim, apenas pela abordagem desses três pontos (educação, economia e violência), é notório que a correção urge e que as estruturas governamentais e institucionais passem realmente a funcionar. Ações retóricas, promessas vazias, mudar para nada acontecer e o politicamente correto afundaram as instâncias públicas nacionais e estão corroendo o tecido social.

O petróleo sempre foi objeto de lucro, de esperança e de sucesso nesta terra. Nunca na história deste país, ele foi notado e carimbado como problema. Agora, depois de sucessivas denúncias e, mais recentemente, da delação, a Petrobras emaranhou-se e afunda-se nos pântanos de uma administração completamente enviesada pela politicagem e fraudulentos procedimentos.

Por fim, os dois grandes problemas nacionais residem na ética tropeçante e na ineficiência da gestão. Ultimamente, as notícias, floridas pelas campanhas eleitorais, explodem desvios, má-gestão e pífios resultados dos governos. A ineficiência só aumenta e as mentiras de autoridades seguem o incremento. Qual é a proa? Onde está a bússola? Socorro! Furtaram o compasso.

» AFONSO FARIAS Especializado em política e estratégia, mestre em administração e doutor em desenvolvimento sustentável, é professor do Programa de Pós-Graduação da Universidade da Força Aérea

Nossa diplomacia nanica - Jolivaldo Freitas (O Correio, Bahia)

Nossa diplomacia nanica

Jolivaldo Freitas

 
 
Ruy Barbosa, o Águia de Haia, José Maria da Silva Paranhos, o Barão de Rio Branco, o português Alexandre de Gusmão, avô da diplomacia brasileira, estão, com absoluta certeza, revoltados nas suas respectivas tumbas, com vergonha daquilo que a diplomacia brasileira vem fazendo passar os brasileiros e os diplomatas de carreira. Não somos, mas estamos nanicos. Como disse diplomata israelense, revoltado com o fato da presidente Dilma ter criticado os ataques retaliatórios de Israel aos palestinos do Hamas.
Mas o governo brasileiro não tomou vergonha e nem aprendeu com o erro de abordagem e avaliação. Acaba de condenar os ataques dos Estados Unidos e França contra o califado formado pelos terroristas do Estado Islâmico, bem no momento em que eles decepavam a cabeça de mais um jornalista. Na ONU, o Brasil se recusou a assinar acordo para eliminar os desmatamentos até 2030.
São muitos os equívocos que vêm sendo colecionados pela diplomacia petista desde os tempos primais de Lula. Por exemplo, foi mais que deserta a afasia dos diplomatas face às retaliações do governo castrista aos dissidentes políticos cubanos que fizeram greve de fome. Para Lula eram ladrões de galinha.
Quando o planeta inteiro se mostrou indignado com a violência perpetrada pelo governo sírio contra a população civil que protestava contra o status quo, nossos diplomatas não esboçaram indignação e tomaram a atitude de procrastinar uma ação de tom humanitário ou mesmo iluminista. Insistiram na confabulação animosa com o ditador Bashar AL-Assad. Fomos isolados e ridicularizados internacionalmente.
É bom lembrarmos juntos que a diplomacia do PT tem mesmo uma tendência de apoiar as ditaduras. Quantas vezes o iraniano Mahmoud Ahmadinejad não foi paparicado. Lula chegou a ir para Teerã para evitar ações que acabassem com o programa nuclear iraniano. Coisa que a CIA, o MI6, a Abin e até a baiana do acarajé sabem que só vai dar em bomba atômica.
Somos amigos do ditador Mugabe, lá do Zimbabue; de José Eduardo dos Santos, de Angola; fomos de Hugo Chávez, da Venezuela, e estamos com seu precursor Nicolas Maduro e todos os bolivarianos; com as Farc, então! Lembre-se que presidente destituído de Honduras, Manuel Zelaya, fez da nossa embaixada em Tegucigalpa seu escritório particular. O governo da Bolívia expropriou uma instalação da Petrobras e nossos diplomatas enfiaram a cebeça no chão. Os agricultores brasileiros que atuam na área de fronteira vêm sendo expulsos pela Bolívia e não têm apoio do nosso governo.
Por sua atitude, o Brasil vem sofrendo derrotas em várias vertentes, como por exemplo quando defendeu o egípcio e antissemita Farouk Hosni para dirigir a Unesco. Não teve nenhum apoio. Dilma esteve na China e ignorou completamente o tema direitos humanos. E tem amor pela Coreia do Norte.   Somos terceiro-mundistas. Estados Unidos, Alemanha, França e Inglaterra? somos contra.
Política externa é coisa de estado. Não dos companheiros. E como bem diria Ruy Barbosa ao neo-Itamaraty: “Sabe nada, inocente”. 

* Jolivaldo Freitas  é jornalista e escritor

Cuba: minha primeira experiencia com o Facebook

Explico: não se trata de Cuba e o Facebook, uma conexão pelo menos bizarra, como vocês devem imaginar.
Mas é que Cuba foi o objeto de minha primeira postagem no FaceBook, em 2010, quando eu ainda resistia a esta ferramenta, e na verdade fiquei ausente por mais três anos depois dessa experiência isolada e pioneira.
Quando decidir testar o novo instrumento, resolvi fazer um comentário sobre o anúncio pelo governo ditatorial em torno das mudanças econômicas na ilha, que pareciam prenunciar uma revolução capitalista no regime castrista, em direção de um sistema de tipo chinês, ou pelo menos vietnamita.
Nada disso aconteceu, como se sabe, mas aproveito para postar aqui o texto que fiz em setembro de 2010, em plena campanha eleitoral no Brasil.
Quatro anos depois, Cuba não mudou muito, ou quase nada, e o Brasil, se mudou alguma coisa, foi para pior, talvez no caminho de Cuba (aliás, ainda não se discutia a sustentação financeira da ditatura pelos companheiros totalitários do partido hegemônico brasileiro.
Em todo caso, rever antigos textos é sempre inspirador...
Paulo Roberto de Almeida 

O desenvolvimento do capitalismo em Cuba

September 20, 2010 at 10:07am
O mesmo título, substituindo Cuba por Rússia, foi usado no único livro de Lênin que foi resultado de pesquisa semi-acadêmica. Ele lidou com estatísticas agrárias, industriais e alguns outros indicadores econômicos, e foi tudo. As teses estavam pré-determinadas, e o resultado final, antecipadamente, era anunciado como sendo o socialismo, como a única via de "salvação" da Rússia, para fora do "purgatório capitalista", construindo o "paraíso socialista".
Depois de outro livro pretensamente teórico -- Imperialismo, etapa superior do capitalismo -- no qual ele copiou desavergonhadamente Hobson e Rosa Luxemburgo, Lênin se entregou a tarefas mais práticas, passando a construir o seu socialismo, depois de seu putsch de novembro de 1917.
Enfim, deu no que deu: miséria humana, escravidão da classe trabalhadora, e o maior desastre social, econômico e humano já vivido pela nação russa. Demorou setenta anos para acabar, mas acabou.
Pois bem, agora é Cuba que ensaia o caminho de volta do socialismo, em direção ao capitalismo.
Já deveriam ter aprendido bem antes: se não cinquenta anos atrás, pelo menos 20 anos atrás, quando a URSS se desfazia.
Vou seguir o edificante exemplo cubano, que se prepara para jogar no olho da rua um milhão (eu disse UM MILHÃO) de trabalhadores estatais, que são redundantes. Para que vocês tenham um ideia do que isso significa, basta dizer que a população total da ilha é de 11,2 milhões de pessoas, com menos de 5 milhões de PEA (ativos), ou seja, uma proporção enorme de desempregados potenciais, mais de 20% jogados na fila de desemprego. Bem, em Cuba eles tem muita experiência de fila, assim que este não é o problema.
O problema é que antes se fazia fila para receber a magra ração do governo, e dorenavante não haverá mais fila pois cada um terá de se virar por si mesmo.
Antevejo um lampejo de capitalismo em Cuba, e com isso a plutocracia gerontocrática será colocada no olho da rua, por sua vez.
Já não era sem tempo...
Paulo Roberto de Almeida