segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Memória Diplomática: Linha do tempo de Paulo Roberto de Almeida

5072. “Memória Diplomática: Linha do tempo de Paulo Roberto de Almeida”, Brasília, 28 de setembro de 2025, 8 p. Complemento ao trabalho 5062, contendo roteiro cronológico ilustrado sobre as principais etapas da vida pessoal e da carreira diplomática, para subsidiar entrevista gravada com organizadores do Museu da Pessoa, em projeto encomendado pela ADB, em 3/10/2025; incluindo os livros sobre questões internacionais publicados ao longo da carreira. Faltam fotos, recortes das várias etapas.

Memória Diplomática – Linha do tempo de Paulo Roberto de Almeida


Brasília, 29 de setembro de 2025
Pequeno roteiro cronológico ressaltando principais etapas da carreira diplomática, com vistas a entrevista gravada com organizadores do Museu da Pessoa, em projeto encomendado pela ADB, em 3/10/2025.


1) 1977: Ingresso na carreira: origem social; autoexílio na ditadura (1970); estudos na Bélgica: graduação (1975):

032. Idéologie et Politique dans le Développement Brésilien, 1945-1964, “Mémoire” de Licence (Bruxelles : Université Libre de Bruxelles, Faculté des Sciences Sociales, Politiques et Économiques, 1976, 108 p.).

Mestrado e início do doutoramento; decisão de voltar ao Brasil; projeto de carreira acadêmica; concurso em plena tentativa de golpe de Frota; teste para possível fichamento SNI: concurso Itamaraty; fichamento ocorreu logo em seguida: descoberta mais tarde;
(fichado como “diplomata subversivo” no Arquivo Nacional de Brasília: diretório SNI)

2) 1979-1985: casamento; primeiros postos no exterior: Berna e Belgrado: término do doutoramento; viagens pelo socialismo; revisão das concepções políticas e sobre a economia; alguns escritos ainda sob outros nomes: brasileiros na guerra civil espanhola;

Um dos meus primeiros trabalhados publicados, ainda na ditadura:

066. “Brasileiros na Espanha: um estudo preliminar sobre a participação de brasileiros na Guerra Civil Espanhola”, Brasília, 9-28 outubro 1979, 28 p. Ensaio de pesquisa histórica, sintetizando informações de fontes primárias e secundárias. Publicado, [PR], em Temas de Ciências Humanas (São Paulo, Ano 1980, volume 9, p. 125-158). Relação de Publicados n. 013.

084. Classes Sociales et Pouvoir Politique au Brésil : une étude sur les fondements méthodologiques et empiriques de la Révolution Bourgeoise, Thèse présentée en vue de l'obtention du Grade de Docteur ès Sciences Sociales, Directeur : Prof. Robert Devleeshouwer (Bruxelles : Université Libre de Bruxelles, Année Académique 1983-84, Tomes I et II, 503 p.). Disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/15308281/84_Revolution_Bourgeoise_au_Bresil_these_de_doctorat_1984_). Relação de Trabalhos Publicados n. 018.

3) 1985-1987: trabalho na SERE: professor na UnB e no IRBr: sociologia política; inflação e planos econômicos frustrados; primeiros escritos sobre partidos políticos e política externa, parlamento; convocação da Constituinte: trabalhos sobre Diplomacia e Constituição.

100. “Partidos Políticos e Política Externa”, Brasília, 25 novembro 1985, 51 p. Artigo sobre a interação dos partidos políticos com a política externa, do ponto de vista programático e da experiência congressual. Publicado na Revista de Informação Legislativa (Brasília, Ano 23, n. 91, julho-setembro 1986, p. 173-216) e na revista Política e Estratégia (São Paulo, vol. IV, nº 3, julho-setembro 1986, p. 415-450). Relação de Trabalhos Publicados n. 023 e 025.

4) 1987-1990: Convite para Washington de Marcílio Marques Moreira (Paulo Tarso); remoção para Genebra, Desarmamento e Delegação Econômica: Paulo Nogueira Batista e Rubens Ricupero: Rodada Uruguai; Unctad; Ompi; estudos de economia e comércio internacional; primeira tentativa de fazer um trabalho sobre a formulação da política econômica externa

5) 1990-1992: Montevidéu-ALADI; Sensação de grande potência no pequeno Uruguai, ainda muito atrasado; estudo sério da integração: Alalc-Aladi-Mercosul; governo Collor: primeira tentativa de modernização econômica no Brasil; revisão de grandes conceitos da diplomacia terceiro-mundista; algumas incursões acadêmicas;
Livro: Mercosul: Textos Básicos (Brasília: IPRI-Fundação Alexandre de Gusmão, 1992, Coleção Integração Regional nº 1; esgotado).

6) 1992-1993: Breve estada em Brasília: primeiro livro sobre a integração e o Mercosul (1993); intensas atividades acadêmicas em diversas instituições do Brasil; muitas viagens para explicar a integração e divulgar seus principais aspectos;

Livro: O Mercosul no contexto regional e internacional (São Paulo: Edições Aduaneiras, 1993, 204 p.; ISBN: 85-7129-098-9; Estante Virtual; Academia.edu).

7) 1993-1995: Paris: setor econômico da embaixada, Clube de Paris, OCDE; vida universitária; aprofundamento na História; colaboração com a professor Katia Mattoso; livrinho de história do Brasil; viagens pela Europa.

8) 1995-1999: SERE: chefia da DPF, acordos de investimentos; diplomacia bastante casada à política externa; tese sobre Brasil e OCDE rejeitada em 1996; tese sobre a Formação da diplomacia econômica no Brasil (publicada posteriormente).
Livros publicados:
1) José Manoel Cardoso de Oliveira: Actos Diplomaticos do Brasil: tratados do periodo colonial e varios documentos desde 1492 (edição fac-similar, publicada na coleção “Memória Brasileira” do Senado Federal; Brasília: Senado Federal, 1997; 2 volumes; Volume I: 1493 a 1870; Volume II: 1871 a 1912; Academia.edu);
2) Relações internacionais e política externa do Brasil: dos descobrimentos à globalização (Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1998, 360 p.; ISBN: 85-7025-455-5; esgotado; Amazon.com);
3) Carlos Delgado de Carvalho: História Diplomática do Brasil (edição fac-similar: Brasília: Senado Federal, 1998; Coleção Memória brasileira n. 13; 420 p.; Academia.edu);
4) Mercosul: Fundamentos e Perspectivas (São Paulo: Editora LTr, 1998, 160 p.; ISBN: 85-7322-548-3; esgotado; Academia.edu);
5) O Brasil e o multilateralismo econômico (Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, na coleção “Direito e Comércio Internacional”, 1999, 328 p.; ISBN: 85-7348-093-9; Estante Virtual);
6) Velhos e novos manifestos: o socialismo na era da globalização (São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 1999, 96 p.; ISBN: 85-7441-022-5; esgotado; Academia.edu)
7) Mercosul, Nafta e Alca: a dimensão social (São Paulo: LTr, 1999, com Yves Chaloult);
8) O estudo das relações internacionais do Brasil (São Paulo: Editora da Universidade São Marcos, 1999, 300 p.; ISBN: 85-86022-23-3; Estante Virtual; Academia.edu).

9) 1999-2003: ministro-conselheiro em Washington; trabalho com brasilianistas; ataques terroristas em NY e W.DC; eleição de Lula; invasão do Iraque;
Diversos livros publicados:
1) Le Mercosud: un marché commun pour l’Amérique du Sud, Paris: L’Harmattan, 2000, 160 p.; ISBN: 2-7384-9350-5);
2) Formação da diplomacia econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império (São Paulo: Editora Senac, 2001, 680 pp., ISBN: 85-7359-210-9;
3) Une histoire du Brésil: pour comprendre le Brésil contemporain (avec Katia de Queiroz Mattoso; Paris: Editions L’Harmattan, 2002, 142 p.; ISBN: 978-2747514538; Amazon.com.br) ;
4) Os primeiros anos do século XXI: o Brasil e as relações internacionais contemporâneas (São Paulo: Editora Paz e Terra, 2002, 286 p.; ISBN: 85-219-0435-5’esgotado; Estante Virtual; Academia.edu);
5) O Brasil dos Brasilianistas: um guia dos estudos sobre o Brasil nos Estados Unidos, 1945-2000 (ed. Com Marshall C. Eakin; Rubens Antônio Barbosa; São Paulo: Paz e Terra, 2002; ISBN: 85-219-0441-X; Academia.edu).
6) A Grande Mudança: consequências econômicas da transição política no Brasil (São Paulo: Editora Códex, 2003, 200 p.; ISBN: 85-7594-005-8; esgotado; Estante Virtual).

10) 2003-2006: convite para dirigir mestrado do IRBr, vetado pela nova chefia; temas candentes: Alca, política econômica e escolhas diplomáticas do lulopetismo; trabalho no Núcleo de Assuntos Estratégicos, fora do Itamaraty, mas na PR; ministro Gushiken; saída no ingresso de Roberto Mangabeira; retorno ao MRE, mas sem qualquer oportunidade de trabalho na SERE; professor no Ceub, até 2021.
Livros publicados:
1) A Grande Mudança: consequências econômicas da transição política no Brasil (São Paulo: Editora Códex, 2003, 200 p.; ISBN: 85-7594-005-8; esgotado; Estante Virtual);
2) Envisioning Brazil: A Guide to Brazilian Studies in the United States, 1945-2003 (with Marshall C. Eakin; Madison: Wisconsin University Press, 2005, 536 p.; ISBN: 0-299-20770-6; Amazon);
3) Relações Brasil-Estados Unidos: assimetrias e convergências (com Rubens Antonio Barbosa; São Paulo: Saraiva, 2005, 328 p.; ISBN: 978-85-02-05385-4);
4) Formação da diplomacia econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império (2ª edição; São Paulo: Editora Senac, 2005, 680 pp., ISBN: 85-7359-210-9);
5) Relações internacionais e política externa do Brasil: história e sociologia da diplomacia brasileira (2ª ed.: revista, ampliada e atualizada; Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004, 440 p.; coleção Relações internacionais e integração n. 1; ISBN: 85-7025-738-4; esgotado; Amazon.com.br).

11) 2006-2010: ostracismo e refúgio na Biblioteca do Itamaraty; reflexões sobre a diplomacia brasileira e as escolhas do lulopetismo diplomático; intensa atividade acadêmica; viagens pelo Brasil nas universidades.
Livros publicados:
1) O Estudo das Relações internacionais do Brasil: um diálogo entre a diplomacia e a academia (Brasília: LGE Editora, 2006, 385 p.; ISBN: 85-7238-271-2; Amazon.com.br; Academia.edu);
2) O Moderno Príncipe: Maquiavel revisitado (Rio de Janeiro: Freitas Bastos, edição eletrônica, 2009, 191 p.; ISBN: 978-85-99960-99-8; esgotado; ASIN: B00F2AC146);
3) Globalizando: ensaios sobre a globalização e a antiglobalização (Rio de Janeiro: Lumen Juris Editora, 2010, xx+272 p.; ISBN: 978-85-375-0875-6; Amazon.com.br);
4) Guia dos Arquivos Americanos sobre o Brasil: coleções documentais sobre o Brasil nos Estados Unidos (com Rubens Antônio Barbosa e Francisco Rogido Fins; Brasília: Funag, 2010, 244 p.; ISBN: 978-85-7631-274-1; Academia.edu);
5) O Moderno Príncipe (Maquiavel revisitado) (Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2010, 195 p.; ISBN: 978-85-7018-343-9; esgotado; ASIN: B00F2AC146).

12) 2010: curta estada na China; pavilhão brasileira na Exposição Universal de Xangai; viagens pela China, Macau, Hong Kong, Japão; blog: http://shangaiexpress.blogspot.com/

13) 2012: licença-prêmio, convite como professor no IHEAL-Sorbonne: 6 meses em Paris e viagens pela Europa;
Livro publicado:
Relações internacionais e política externa do Brasil: a diplomacia brasileira no contexto da globalização (Rio de Janeiro: LTC, 2012, 328 p.; ISBN: 978-85-216-2001-3; esgotado; não disponível na Amazon; Estante Virtual).

14) 2013-2015: último posto no exterior: consulado geral em Hartford, CT; intenso trabalho acadêmico: livro sobre o lulopetismo diplomático; viagens pela América do Norte; a maior crise da história econômica do Brasil: 2014-15.
Livros publicados:
1) Integração Regional: uma introdução (São Paulo: Saraiva, 2013, 192 p.; ISBN: 978-85-02-19963-7; Amazon.com.br);
2) Volta ao Mundo em 25 Ensaios: Relações Internacionais e Economia Mundial (Brasília: 1ª edição: 2014; 2ª. edição: 2018; Kindle edition; 809 KB; ASIN: B00P9XAJA4);
3) Rompendo Fronteiras: a Academia pensa a Diplomacia (Kindle, 2014, 414 p.; 1324 KB; ASIN: B00P8JHT8Y);
4) Codex Diplomaticus Brasiliensis: livros de diplomatas brasileiros (Kindle, 2014, 326 p.; ASIN: B00P6261X2; Academia.edu; ).
5) Polindo a Prata da Casa: mini-resenhas de livros de diplomatas (Kindle edition, 2014, 151 p., 484 KB; ASIN: B00OL05KYG);
6) Prata da Casa: os livros dos diplomatas (Hartford: edição para a Funag, 2013, 667 p; não publicada; disponível em Research Gate; 2ª. edição de Autor; 16/07/2014, 663 p.; Academia.edu; Research Gate);
7) Nunca Antes na Diplomacia...: A política externa brasileira em tempos não convencionais (Curitiba: Editora Appris, 2014, 289 p.; ISBN: 978-85-8192-429-8; Academia.com.br);
8) The Drama of Brazilian Politics: From 1814 to 2015 (with Ted Goertzel; 2015, 278 p.; Edição Kindle, ASIN: B00NZBPX8A; ISBN: 978-1-4951-2981-0; Amazon);
9) Révolutions bourgeoises et modernisation capitaliste : Démocratie et autoritarisme au Brésil (Sarrebruck: Éditions Universitaires Européennes, 2015, 496 p.; ISBN: 978-3-8416-7391-6 ; Inroduction : Academia.edu; livre complet : Amazon.com);
10) Die brasilianische Diplomatie aus historischer Sicht: Essays über die Auslandsbeziehungen und Außenpolitik Brasiliens (Saarbrücken: Akademiker Verlag, 2015, 204 p.; Übersetzung aus dem Portugiesischen ins Deutsche: Ulrich Dressel; ISBN: 978-3-639-86648-3; Amazon.com; Amazon.com.br);
11) O Panorama visto em Mundorama: Ensaios Irreverentes e Não Autorizados (Hartford: 2a. edição do autor, 2015, 294 p.; DOI: 10.13140/RG.2.1.4406.7682; nova edição, ampliada dos artigos até o final de 2015, em 4/12/2015, em 374 p.; Research Gate; edição original: Academia.edu);
12) Paralelos com o Meridiano 47: Ensaios Longitudinais e de Ampla Latitude (Hartford: Edição do Autor, 2015; 543 p.; 1908 KB; DOI: 10.13140/RG.2.1.1916.4006; Academia.edu; ASIN: B082Z756JH; Research Gate).
13) Nunca Antes na Diplomacia…: a política externa brasileira em tempos não convencionais (Curitiba: Editora Appris, e-book, 2016, 450 p.; 1366 KB; Kindle, ASIN: B0758G8BXL; Amazon.com.br).

15) 2016: Impeachment de Dilma Rousseff; finalmente o retorno a um trabalho na SERE;
Livro publicado:
Carlos Delgado de Carvalho: História Diplomática do Brasil (Brasília: Senado Federal, 2016, 504 p.; ISBN: 978-85-7018-696-6; Academia.edu).

17) 2016-2018: diretor do IPRI: intensa produção de livros e palestras, viagens pelo Brasil e no exterior (Portugal: Estoril Political Forum); relatório de atividades: dezembro 2018.
Livros publicados:
1) Oswaldo Aranha: um estadista brasileiro, Sérgio Eduardo Moreira Lima; Paulo Roberto de Almeida; Rogério de Souza Farias (orgs.); Brasília: Funag, 2017; 2 vols.; vol. 1, 568 p.; ISBN: 978-85-7631-696-1; vol. 2, 356 p.; ISBN: 978-85-7631-697-8);
2) O homem que pensou o Brasil: trajetória intelectual de Roberto Campos (Curitiba: Appris, 2017, 373 p.; ISBN: 978-8547304850; Diplomatizzando; Amazon.com.br);
3) Formação da diplomacia econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império (3ª edição; Brasília: Funag, 2017; 2 vols.; 964 p.; ISBN: 978-85-7631-675-6; 1º volume; 2º volume);
4) A Constituição contra o Brasil: ensaios de Roberto Campos sobre a Constituinte e a Constituição de 1988 (São Paulo: LVM, 2018, 448 p.; ISBN: 978-8593751394; Amazon).

18) 2019-2021: novo ostracismo sob o bolsonarismo diplomático: livros sobre as aberrações da diplomacia bolsolavista; pandemia e os horrores do negacionismo vacinal.
Livros publicados:
1) Contra a corrente: Ensaios contrarianistas sobre as relações internacionais do Brasil (2014-2018) (Curitiba: Appris, 2019, 247 p.; ISBN: 978-85-473-2798-9; Amazon.com.br);
2) Miséria da diplomacia: a destruição da inteligência no Itamaraty (Brasília: Edição do autor, 2019, 184 p., ISBN: 978-65-901103-0-5; Boa Vista: Editora da UFRR, Clube de Autores, 2019, 165 p., Coleção “Comunicação e Políticas Públicas vol. 42; ISBN livro impresso: 978-85-8288-201-6; ISBN livro eletrônico: 978-85-8288-202-3; Academia.edu; Amazon.com.br);
3) Vivendo com livros: uma loucura gentil (Brasília: Edição de Autor, 2019, 344 p.; 557KB; ISBN: 978-65-00-06750-7; Kindle, ASIN: B0838DLFL2);
4) Um contrarianista no limbo: artigos em Via Política, 2006-2009 (Brasília: Edição de Autor, 2019, 331 p; 2439 KB; Kindle, ASIN: B083611SC6; Academia.edu);
5) Minhas colaborações a uma biblioteca eletrônica: contribuições a periódicos do sistema SciELO (Brasília: Edição de Autor, 2019, 525 p.; 920 KB; Kindle, ASIN: B08356YQ6S);
6) Paralelos com o Meridiano 47: Ensaios Longitudinais e de Ampla Latitude (Brasília, Edição do Autor, 2019, 543 p.; 1908 KB; Kindle, ASIN: B082Z756JH);
7) O panorama visto em Mundorama: ensaios irreverentes e não autorizados (Brasília: 2ª. edição do Autor, 2019, 655 p.; 5725 KB; Academia.edu; Kindle, ASIN: B082ZNHCCJ);
8) Pontes para o mundo no Brasil: minhas interações com a RBPI (Brasília, Edição do Autor, 2019, 685 p.; 1693 KB; Kindle, ASIN: B08336ZRVS);
9) Marxismo e socialismo no Brasil e no mundo: trajetória de duas parábolas na era contemporânea (Brasília: Edição do autor, 2019, 200 p.; ISBN: 978-65-00-05969-4; Kindle, ASIN: B082YRTKCH); 2ª edição: Brasília: Diplomatizzando, 2023, 214 p.; ASIN: B0CR31C5YG)

19) 2022: aposentadoria, continuidade do trabalho acadêmico; mais livros e dedicação aos netos e a meus próprios livros.
Livros publicados:
1) A grande ilusão do Brics e o universo paralelo da diplomacia brasileira (Brasília: Diplomatizzando, 2022, 277 p.; 1377 KB; ISBN: 978-65-00-46587-7; ASIN: B0B3WC59F4);
2) Construtores da Nação: projetos para o Brasil, de Cairu a Merquior (São Paulo: LVM Editora, 2022, 304 p.; ISBN: 978-65-5052-036-6; Amazon).

20) 2023-2025: organização da doação de minha biblioteca ao Itamaraty: “Coleção PRA” na Biblioteca do Itamaraty;
Livros e publicações mais recentes:
1) O Brasil no contexto regional e mundial: artigos sobre nossa dimensão internacional (Brasília: Diplomatizzando, 2023, 216 p.; 1323 KB; ISBN: 978-65-00-89870-5; ASIN: B0CR1Z682R);
2) Marxismo e socialismo: trajetória de duas parábolas na era contemporânea (2ª ed.; Brasília: Diplomatizzando, 2023, 307 p.; ISBN: 978-65-00-05969-4; ASIN: B0CR31C5YG; 1ª. edição: Marxismo e socialismo no Brasil e no mundo: trajetória de duas parábolas na era contemporânea (Brasília: Edição do autor, 2019, 283 p.; 844 KB; ISBN: 978-65-00-05969-4; Edição Kindle, ASIN: B082YRTKCH);
3) Treze ideias fora do lugar nas relações internacionais do Brasil: argumentos contrarianistas sobre a política externa e a diplomacia (Brasília: Diplomatizzando, 2024, 91 p.; ISBN: 978-65-00-91081-0; ASIN: B0CS5PTJRL; Kindle).
4) Constituições brasileiras: ensaios de sociologia política (Brasília: Diplomatizzando, 2024, 187 p; ISBN: 978-65-01-23460-1; Kindle: ASIN: B0DNM4G28D; 1456 KB; 266 p. Disponível na Amazon.com.br).
5) Intelectuais na diplomacia brasileira: a cultura a serviço da nação (Rio de Janeiro: Editora Francisco Alves; ISBN: 978-85-265-0497-4; São Paulo: Editora Unifesp; ISBN: 978-65-5632-199-8; 2025, 425 p.);
6) Vidas Paralelas: Rubens Ricupero e Celso Lafer nas relações internacionais do Brasil (Rio de Janeiro: Ateliê de Humanidades, 2025, ISBN: 978-65-86972-43-6, 364 p.).

Brasília, 28 setembro 2025, 8 p.

Airton Dirceu Lemmertz:um mestre na transmissão de conhecimento

 Há anos recebo, por gentileza do próprio, as postagens diárias de Airton Dirceu Lemmerts, uma espécie de anjo da guarda coletivo, na disseminação de conteúdo relevante sobre os mais diversos assuntos, material diário que seria suficuente para cibriruma sema inteira de leituras proveitosas. Registro sempre o qud me parece útil, para mim e para os poucos que me seguem neste meu blog que já alcançou 20 anos de atividades em favor do saber e do conhecimento.

Aqui a totalidade do que ele transmitiu neste dia 28/09/2025:

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Leandro Karnal recusou três convites para cargos políticos, incluindo o de presidente interino durante o impeachment de Dilma Rousseff, afirmou o historiador.

Karnal rejeita rótulos políticos e defende debate plural, ressaltando que já foi visto como conservador de direita e progressista de esquerda em diferentes ambientes.

O professor Leandro Karnal comenta que o ódio que recebe fica apenas na internet; enquanto que na rua, só recebe carinho das pessoas.

Casado há três anos com o cantor Vitor Fadul de 29 anos, o historiador falou sobre os ataques que recebeu ao anunciar o relacionamento com o marido 33 anos mais jovem.

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O programa Canal Livre (Band TV) debate o projeto de reforma administrativa, em 28/9/2025: https://www.youtube.com/watch?v=SgPWahYRyFc (https://www.youtube.com/watch?v=DXSHzZyCk_w), https://www.youtube.com/watch?v=f1TweHgK4tE

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Quem nasce no Rio Grande do Sul é popularmente chamado de gaúcho, embora o gentílico também possa ser sul-riograndense. Então por que se usa o gaúcho? Afinal, o que é um gaúcho?

O que é um gaúcho?

A Revolução Farroupilha:

A Guerra dos Farrapos:

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Hitler como Deus? O culto nazista que persiste até hoje.

"Mein Kampf": o livro usado por seguidores de Hitler.

Hitler acreditava ser o próximo Messias.

As estratégias de Hitler são usadas hoje por líderes globais?

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domingo, 28 de setembro de 2025

Brasil intervém no processo África do Sul v. Israel sobre genocídio - Lucas Carlos Lima (Conjur)

 

OPINIÃO

Brasil intervém no processo África do Sul v. Israel sobre genocídio

Conjur, 28 de setembro de 2025, 13h24

Na mesma semana em que a Comissão Internacional Independente de Inquérito da ONU sobre o Território Palestino Ocupado emitiu relatório reconhecendo a prática de genocídio em Gaza, foi publicada a manifestação de intervenção do Estado brasileiro no caso movido pela África do Sul contra Israel perante a Corte Internacional de Justiça, alegando a violação da Convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio de 1948.

CIJ

Diferentemente do que foi amplamente noticiado, o Brasil não foi à Corte de Haia para acusar Israel de cometer genocídio. A participação brasileira é limitada à intervenção processual de um Estado interessado em oferecer sua visão jurídica sobre o tratado que fundamenta o caso, qual seja, a Convenção contra o Genocídio.

Houve estratégica prudência por parte do Brasil em sua manifestação ao levantar uma série de elementos jurídicos e fáticos perante as juízas e juízes da Corte de Haia, que serão fundamentais na decisão final do julgamento, cujas audiências deverão ocorrer em 2026. A manifestação brasileira não afirma explicitamente que ocorre um genocídio em Gaza — e deixa muito claro, em diversas passagens, que sua intenção é se pronunciar sobre a interpretação da Convenção.

Spacca

Palestinos são grupo protegido

Em primeiro lugar, o Brasil destacou que a população palestina é um dos grupos protegidos pela Convenção do Genocídio, ou seja, detém direitos específicos de não ser vítima de genocídio. Em seguida, analisou cuidadosamente a jurisprudência da Corte e de outros tribunais internacionais sobre os critérios de comprovação do crime.

Como se sabe, o crime de genocídio é uma das violações mais graves que um Estado ou indivíduos podem cometer. Devido à sua gravidade e às consequências jurídicas e reputacionais para um Estado, a jurisprudência internacional desenvolveu padrões muito elevados para aferir sua ocorrência. Segundo a Corte, ao se examinar as provas de genocídio, a conclusão deve ser que “a única inferência razoável” é a intenção genocida. Não bastam atos bárbaros de natureza genocida contra um grupo; é igualmente necessária a comprovação da intenção de eliminar, total ou parcialmente, aquele grupo (o chamado dolus specialis).

Na visão brasileira, a linguagem empregada pela Corte no passado permite que se adote uma abordagem balanceada na identificação das provas da intenção, à luz de diversos elementos destacados em sua manifestação. Os argumentos do Brasil fundamentaram-se em relatórios de organismos internacionais sobre a situação de mulheres e crianças, a fome em Gaza, deslocamentos forçados, a negação de ajuda humanitária, bem como em declarações públicas de autoridades israelenses.

Amparando-se na jurisprudência da Corte, o Brasil observou que “um certo número de órgãos estatais ou outros indivíduos atuando em nome de um Estado pode produzir um padrão de conduta a partir do qual se pode inferir uma política governamental relativa à destruição de um grupo”. Em outras palavras, não seria necessário um plano formal e específico para a prática do genocídio.

Legítima defesa x genocídio

O Brasil também aproveitou a oportunidade para se pronunciar sobre o argumento de legítima defesa e sua relação com o crime de genocídio — uma das principais teses apresentadas por Israel na fase inicial do processo. Para o Brasil, em conformidade com os pilares da Carta da ONU e das regras sobre o uso da força, toda legítima defesa deve ser necessária e proporcional, não podendo ser invocada como excludente de ilicitude nem servir para atenuar as obrigações relativas à proibição de genocídio.

Numa formulação inovadora, o Brasil parece chamar a Corte Internacional de Justiça à sua responsabilidade no julgamento. Dada a excepcional gravidade do crime de genocídio, não cabe apenas à Corte adotar rigor na verificação da intenção, mas também oferecer uma justificação extensiva caso ela não a encontre no caso concreto — algo que, para alguns juízes internacionais, faltou na decisão sobre a acusação de genocídio entre Croácia e Sérvia. Em suma, o ônus probatório rigoroso deve ser acompanhado de uma motivação igualmente rigorosa, especialmente diante da grande atenção da comunidade internacional ao deslinde do caso.

Se o Brasil não argumentou diretamente pela ocorrência de genocídio em Gaza, sua intervenção não pode ser retirada de contexto nem ter diminuído seu valor simbólico. Politicamente, trata-se de um contundente apoio à África do Sul e ao povo palestino. As sofisticadas estratégias jurídicas empregadas na manifestação configuram traçados de potenciais caminhos jurídicos a serem seguidos. Quando a Corte Internacional de Justiça emitir seu julgamento final no Palácio da Paz, na Haia, saberemos o quão efetiva terá sido a política externa jurídica brasileira.

  • é professor de Direito Internacional da UFMG, coordenador do grupo de pesquisa em Cortes e Tribunais Internacionais (CNPq/UFMG) e membro da Diretoria da International Law Association – Brasil.

Um momento decisivo na história da humanidade, ou apenas um soluço que vai passar? - Paulo Roberto de Almeida

Atravessamos, de verdade, um momento tenebroso na diplomacia multilateral?

O que respondi a um amigo que me cumprimentava por uma aula dada a candidatos à diplomacia:

“Eu sou grato a vc pela oportunidade. Normalmente, eu sou de um “natural reservoso”, como o coronel Ponciano de Azeredo Furtado, personagem do romance fabuloso do livro “O Coronel e o Lobisomem” de José Cândido de Carvalho. Mas de vez em quando ouso expressar meus sentimentos sobre certas misérias diplomáticas, como as que vivemos hoje em Gaza, na Ucrânia, em tantos lugares, até mesmo na sede da ONU, em NY, assaltada esta semana por um perigoso alucinado demencial.”

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 28/09/2025

sábado, 27 de setembro de 2025

Gabriel Galipolo e Arminio Fraga em debate sobre a política econômica do Brasil, 6/10/2025, 10h30

 

Neste webinar, promovido pela Fundação FHC, o presidente do Banco Central abordará os desafios da economia brasileira diante do novo cenário internacional. O evento contará também com a participação de Armínio Fraga, responsável pelos comentários após a exposição inicial de Galípolo. O webinar integra o Ciclo ‘O Brasil na visão das lideranças públicas’, iniciado em 2024.

GABRIEL GALÍPOLO
PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL

ARMÍNIO FRAGA
EX-PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL

SERGIO FAUSTO
DIRETOR GERAL DA FUNDAÇÃO FHC

Neste webinar, promovido pela Fundação FHC, o presidente do Banco Central abordará os desafios da economia brasileira diante do novo cenário internacional. O evento contará também com a participação de Armínio Fraga, responsável pelos comentários após a exposição inicial de Galípolo. O webinar integra o Ciclo ‘O Brasil na visão das lideranças públicas’, iniciado em 2024.

A ilusão do Estado palestino (Editorial do Estadão)

A ilusão do Estado palestino

Editorial do Estadão,  26/09/2025

https://www.estadao.com.br/opiniao/a-ilusao-do-estado-palestino/?utm_source=estadao:app&utm_medium=noticia:compartilhamento


_Reconhecer um Estado sem construir as condições para sua existência apenas multiplica frustrações, fortalece os radicais, fragiliza os moderados e torna a paz ainda mais distante_

O reconhecimento de um Estado palestino por países ocidentais tornou-se um gesto recorrente em meio ao impasse prolongado do conflito israelo-palestino. Espanha, Irlanda, Noruega, Portugal, Canadá, Austrália, Reino Unido e França juntam-se a mais de uma centena de nações que adotam tal posição. Em teoria, é um ato de justiça histórica e pressão diplomática sobre Israel. Na prática, é um exercício de exibicionismo moral, na melhor das hipóteses inócuo; na pior – e mais provável –, é contraproducente.

A posição deste jornal é inequívoca: a criação de um Estado palestino é questão de justiça e condição indispensável para uma paz duradoura. Mas um Estado não nasce de resoluções parlamentares nem de pronunciamentos presidenciais. Ele requer instituições legítimas, reconhecimento mútuo e fronteiras negociadas. Nenhum desses requisitos está presente hoje. O reconhecimento prematuro, sem condições e garantias, não aproxima tais requisitos – ao contrário, tende a afastá-los.

A História mostra que Israel nem sempre foi intransigente. Em 1947, aceitou a partilha aprovada pela ONU, rejeitada pela liderança árabe. Em 1967, ouviu da Liga Árabe os “três nãos” – não à paz, não ao reconhecimento de Israel e não às negociações –, política que oficialmente vigora até hoje. Nos anos 1990, assinou acordos de paz, enquanto os terroristas do Hamas ganhavam força e, depois, tomaram o poder. Em 2000, propostas de grande alcance sobre fronteiras e Jerusalém foram rejeitadas por Yasser Arafat, e Camp David fracassou. Em 2008, Mahmoud Abbas não aceitou a oferta de Ehud Olmert, que abrangia quase toda a Cisjordânia.

Nada disso absolve Israel de seus erros e delitos. A expansão incessante de assentamentos, a conduta militar desproporcional em Gaza, a erosão da legitimidade democrática sob Binyamin Netanyahu e a ausência de um plano político crível minam a posição do país e alimentam seu isolamento. Mas culpar exclusivamente Israel é tão simplista quanto injusto. O fracasso palestino em construir uma autoridade legítima e eficaz, a corrupção da Autoridade Palestina e a dominação armada do Hamas em Gaza são obstáculos objetivos à formação de um Estado viável.

Um reconhecimento que ignore esses fatores não ajuda moderados palestinos nem pressiona Israel a negociar. Pelo contrário: reforça a ilusão de que a soberania pode ser concedida de fora, sem reformas internas e sem a obliteração da máquina de guerra do Hamas. Também oferece munição à paranoia dos radicais israelenses que insistem que o mundo está disposto a recompensar o extremismo islamista.

Em vez de proclamações vazias, as democracias ocidentais deveriam vincular qualquer avanço diplomático ao cumprimento de condições concretas: desarmamento de milícias em Gaza, reconstrução institucional da Autoridade Palestina com mecanismos de transparência e legitimidade eleitoral, e compromissos claros dos países árabes de reconhecer Israel e cooperar em segurança. O apoio financeiro e político deveria ser condicionado a esses marcos, de forma verificável.

Em paralelo, é vital que Israel formule um plano político pós-guerra que articule sua disposição a aceitar um Estado palestino quando tais condições forem atendidas. Somente a combinação de pressões externas racionais e transformações internas – dos dois lados – pode pavimentar o caminho para a paz.

Reconhecer o Estado palestino hoje pode apaziguar consciências em capitais europeias, mas não alimenta ninguém em Gaza, não regenera a Autoridade Palestina e não neutraliza o Hamas. Pelo contrário, cristaliza um simulacro de soberania que perpetua a ilusão e adia a solução. Estados não nascem de votos no Parlamento, mas de realidades no terreno.

A existência de um Estado palestino é uma questão de justiça para os palestinos e condição para a segurança de Israel, a manutenção de sua democracia e a paz no Oriente Médio. Mas a ordem dos fatores altera o produto. O reconhecimento desse Estado deveria ser o último tijolo de uma construção política. Lançar mão dele agora é trocar realismo diplomático por teatralidade moral. E cada gesto desse tipo torna o Estado palestino mais distante, não mais próximo."

*N/E*: A realidade é que a maior parte do tempo, nos últimos 77 anos, os intransigentes foram os árabes, não Israel. A começar por 1948 quando basicamente rejeitaram a possibilidade real e imediata de um Estado Palestino e assim foi por décadas, os árabes palestinos pessimamente influenciados pelas ditaduras dos paises árabes vizinhos, rejeitaram absolutamente todas iniciativas de Israel, EUA, Europeus... para um Estado Palestino ao lado e em paz com Israel. As ofertas foram de tal abrangência que governantes israelenses perderam suas posições e influência após oferecer praticamente tudo que os palestinos exigiam, mas não foi o suficiente muito porque, e ficou cada vez mais claro, o que de fato os árabes queriam não era, nem nunca foi, um Estado palestino ao lado de Israel, mas um Estado Árabe (mais um dentre 22 já existentes) *no lugar de Israel*!

https://www.estadao.com.br/opiniao/a-ilusao-do-estado-palestino/?utm_source=estadao:app&utm_medium=noticia:compartilhamento 

Dos retrocessos históricos - Paulo Roberto de Almeida

Dos retrocessos históricos

Putin conseguiu fazer a Rússia retroceder à Segunda Guerra Mundial, ao transformar a base produtiva do país numa economia de guerra (mas desta vez sem qualquer auxílio econômico ou militar dos EUA e do Reino Unido, como ocorreu entre 1941-1945).

Ele próprio conseguiu converter-se numa reencarnação de Stalin, e tão brutal quanto o tirano soviético, ao retroceder à prática monstruosa da regra stalinista que ordenava matar qualquer soldado que recuasse na frente de batalha. Agora está valendo a mesma regra, o que indica o seu desespero em face dos fracassos na sua guerra de agressão contra a Ucrânia.

Só falta agora reintroduzir o Gulag, embora ele também recorra ao hábito de eliminar todos os concorrentes, adversários ou simples críticos, o que inclui jornalistas de modo geral.

Do outro lado do mundo, o desvairado Trump está operando um retorno dos EUA à segunda revolução industrial, à era do petróleo e do motor à explosão, ainda do carvão e das tarifas altas. Provavelmente não vai conseguir, mas tem se esforçado na tarefa. Também adotou as medidas anti-imigratórias dos anos 1920 e um comportamento xenófobo e racista similar aos tempos em que a Ku Klux Kan se exercia livremente na segregação.

No resto do mundo, as democracias recuam ante à disseminação de regimes iliberais e de governos autocráticos. Na América Latina, o populismo continua a prevalecer, sob novas formas. 

É o tal do “eterno retorno”?

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 27/09/2025


quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Uma escritora chinesa universal: Can Xue - Nelson de Sá (FSP)

 Nobel não é importante, quero ser como Shakespeare, diz autora chinesa Can Xue


NELSON DE SÁ


A chinesa Can Xue, de 72 anos, liderou as apostas para o Nobel de literatura nas duas últimas edições. Um ano atrás, estava na dianteira na reta final com probabilidade de dez para um, segundo a empresa londrina de apostas Ladbrokes. Perdeu para a sul-coreana Han Kang.

Questionada, não hesitou. "Não considero o Nobel particularmente importante. Meu objetivo é me tornar um escritor como Shakespeare ou Dante."

Sua obra mistura tradições chinesas com experimentalismo ocidental. Ela conta por que enquadra sua escrita como performance, um ato que convida os leitores a não só observar, mas dançar a seu lado.

Diz que cada personagem é um fragmento da alma da autora e cada história é um teste desses fragmentos em um mundo em que explorar o amor e a liberdade é difícil, um tema central de "Histórias de Amor no Novo Milênio", que é lançado agora pela Fósforo.

Por fim, Can Xue confronta suas experiências durante a Revolução Cultural. Rejeita o envolvimento direto com fenômenos históricos ou sociais, dizendo em vez disso como tais experiências, transformadas no "oceano da memória", tornam-se a força motriz por trás da busca de liberdade de suas personagens.

* * *

— Suas obras são traduzidas e discutidas globalmente, e espera-se que você ganhe o Nobel. Ele significa algo para você? Acha que é capaz de reconhecer, por exemplo, a diversidade das vozes literárias chinesas?

— Não considero o Prêmio Nobel de Literatura particularmente importante. Meu objetivo é me tornar um escritor como Shakespeare ou Dante. Se eu ganhar o prêmio, a voz da literatura chinesa certamente será ouvida. E creio que, mesmo que não ganhe, minha voz ainda será ouvida. Isso foi comprovado em países ao redor do mundo. Estou confiante nisso porque minhas obras são realmente as mais universais e humanas, as melhores.

— Por que você descreve sua escrita como performance? E qual seria o nosso papel, como leitores?

— É porque ela pode ser comparada a uma espécie de dança física que ativa as funções do corpo humano. Os humanos possuem essa função, mas, ao longo da história, os povos de civilizações avançadas a esqueceram, substituindo-a por outras funções menos essenciais. Minha escrita é o despertar e a ressurreição dessa função ancestral. Sempre acreditei nisso. Quem pode se tornar meu leitor? Acho que são aqueles que podem dançar comigo. Estimulados e inspirados pela minha performance, eles iniciam sua própria dança inovadora.

— Sendo uma das raras escritoras chinesas contemporâneas com obras celebradas nos círculos literários estrangeiros, o que você acha que os leitores encontram de maior ressonância em suas histórias? Há temas nelas que requerem contexto adicional para compreensão?

— Creio que o que mais atrai leitores internacionais na obra é a maneira como captura a natureza humana mais universal em seu potencial máximo. Todos vivenciam graus variados de repressão na vida secular e anseiam por liberar seus desejos e emoções. Os romances oferecem um alívio profundamente satisfatório. Essas obras, com seus enredos inusitados, evocam paixão, atraindo inconscientemente para seu reino, liberando nossa própria criatividade em busca de um estilo de vida livre.

Entender as obras requer pouco conhecimento prévio da cultura chinesa. Elas são a essência dessa cultura, únicas, porém adaptáveis às necessidades espirituais e físicas de cada indivíduo. Os leitores que entram e dançam com elas as compreendem verdadeiramente.

— A língua chinesa é conhecida pela ambiguidade poética. Há desafios na tradução de seus escritos para o português decorrentes das nuances da gramática ou do vocabulário chinês?

— O chinês é difícil de traduzir. Mas creio que todas as línguas do mundo são comunicáveis. As línguas ganham vida através da comunicação. Imagino leitores no seu país lendo as obras. Que cena linda deve ser.

— Algum personagem de "Histórias de Amor no Novo Milênio" soou particularmente pessoal para você? Ou que você tenha visto como representativo de mudanças geracionais mais amplas de como o amor é vivenciado na China?

— Nunca descrevo experiências mundanas superficiais, minha literatura é uma espécie de literatura essencial. Cada personagem e objeto em meu livro é um fragmento da minha alma e do meu corpo. No entanto, permaneço desapegada das emoções mundanas. Simplesmente sublimo esses desejos, transformando-os em uma bela canção de humanidade. Coloco os personagens em ambientes hostis para testar sua humanidade e ver até que ponto cada uma de suas paixões pode ser liberada.

Este também é o significado do título do livro, "Histórias de Amor no Novo Milênio". Nele, interrogo a mim mesma e ao coração humano —como será nossa busca por amor e liberdade no novo século? Acredito que cada personagem do livro dá ao leitor uma resposta satisfatória. Em outras palavras, a própria atuação do autor deve inspirar uma atuação semelhante no leitor.

— Sua escrita reúne elementos de tradições culturais chinesas, como contos populares e taoísmo, com influências estrangeiras, como Kafka e Jorge Luis Borges. Como você equilibra essas duas correntes culturais?

— Essa pergunta exigiria um livro substancial para ser respondida. Estou trabalhando nele no momento. É um tratado filosófico sobre o desejo humano, que entrelaça filosofia antiga com ficção experimental. Escrevo há mais de uma década e vou enviar o livro à editora da Universidade de Pequim para publicação no próximo verão. Considero um livro que combina influências chinesas e ocidentais. Tornei as duas culturas mutuamente essenciais, criando uma visão de mundo e uma metodologia completamente novas.

— Você já mencionou Borges como uma influência literária fundamental. Quais aspectos específicos da escrita dele moldaram mais profundamente as suas escolhas?

— Borges não é o único escritor que influenciou fundamentalmente meu trabalho. Há uma longa lista deles: Dante, Shakespeare, Cervantes, Goethe, Musil, Kafka, Calvino, Bruno Schulz e assim por diante. A influência mais fundamental desses escritores, incluindo Borges, é que eles moldaram minha visão de mundo, permitindo-me ver o universo e a mim mesma sob uma luz completamente nova.

A influência de Borges está principalmente em sua obsessão pela prática criativa e em suas belas descrições de jogos simétricos e da integração do universo e do humano. Acredito que meu trabalho hoje continua sua narrativa. Em outras palavras, acredito que sua narrativa, como a de outros escritores experimentais antes dele, permanece atual e pouco apreciada.

— Por que você considera seu trabalho desvinculado de sociedade, história, política, economia e assim por diante? Quais são suas principais preocupações?

— Acho que é um hobby pessoal. Minha escrita não se concentra nos fenômenos que você mencionou. Meu foco está na exploração da essência da natureza humana. Meu trabalho também incorpora material social, cultural e político, mas esses materiais servem a um propósito diferente. Acredito que todos os romancistas experimentais escolhem e utilizam o material da mesma forma que eu. De modo geral, gosto de colocar personagens em situações desesperadoras para compeli-los a agir. Esses cenários geográficos ou históricos não são específicos de um país específico, como a China, mas sim de um cenário utópico.

É claro que, por conveniência, geralmente prefiro material chinês. Os leitores devem observar que essas descrições não são realistas; são materiais que extraio de experiências mundanas para criar uma utopia crua. Quero explorar como as pessoas podem se comportar em situações desesperadoras. Portanto, todos os personagens em minhas obras são partes fragmentadas de si mesmos, todos bons, sem nenhum verdadeiramente mau. Ler minha obra exige uma certa compreensão filosófica, uma necessidade de ver o enredo da perspectiva de toda a humanidade. Caso contrário, é difícil entrar na história, e só se pode vagar pela periferia.

— A Revolução Cultural foi um período de dificuldades para sua família e de censura extrema na China. Apesar dos desafios, suas primeiras leituras de obras filosóficas e literárias continuaram. Como você fez isso? E esse ambiente restritivo inspirou sua maneira de escrever por meio de simbolismo ou subtexto?

— Acho que minha explicação para a pergunta anterior já respondeu. Eu era uma criança sensível e reflexiva, mas nunca me baseei diretamente em experiências da infância ao criar. Toda experiência acumulada serve ao meu processo criativo, que irrompe de uma fonte central. Construo vários aspectos essenciais da natureza humana, permitindo que os personagens cresçam por meio dessas lutas.

Todas essas práticas levam ao surgimento de um reino utópico após o outro. Acredito que o trabalho de escritores experimentais como nós é a forma mais pura de criação. Comprimimos o desejo, permitindo que ele irrompa do centro de nós mesmos, criando um milagre da natureza humana após o outro, um após o outro, do nada.

A Revolução Cultural e o movimento antidireitista certamente tiveram um impacto profundo na formação da minha personalidade, mas esses elementos superficiais não são visíveis em minhas obras. Eles afundaram nas profundezas do oceano da memória, onde passaram por uma transformação fundamental. Quando irrompem do centro de nós mesmos, deixam de ser as experiências superficiais que já foram. Tornam-se a força motriz por trás da busca de liberdade de cada personagem.


Histórias de Amor no Novo Milênio

Preço R$ 104,90 (400 págs.); R$ 73,40 (ebook)

Autoria Can Xue

Editora Fósforo

Tradução Verena Veludo Papacidero

Foto: A escritora chinesa Can Xue, autora de 'Histórias de Amor no Novo Milênio' - Chen Xiaozhen/Divulgação.

FSP 19.09.2025

quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Nova diretriz recomenda meta mais rígida de colesterol; veja o que muda - Ludimila Honorato

 Saúde

Nova diretriz recomenda meta mais rígida de colesterol; veja o que muda
Ludimila Honorato
São Paulo, 23/09/2025

Colesterol alto pode levar à formação de placas de gordura na corrente sanguínea e aumenta risco de doença cardiovascular

Depois de classificar a pressão arterial 12 por 8 como pré-hipertensão, a SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia) trouxe mudanças na forma de acompanhar os níveis de colesterol. As metas foram intensificadas, com valores para pessoas com baixo risco cardiovascular e reconhecimento de uma nova categoria de risco.

O que aconteceu

Nova diretriz redefiniu meta para o LDL, conhecido como "colesterol ruim". Para pessoas com baixo risco cardiovascular, a meta é ficar abaixo de 115 mg/dL. Acima desse valor, a recomendação é adotar hábitos saudáveis de forma sustentada, como uma dieta equilibrada e exercício físico regular. Se o nível estiver acima de 145 mg/dL, deve-se considerar tratamento medicamentoso.

SBC reconhece categoria de risco cardiovascular extremo. Quem tem risco extremamente elevado, a meta é ficar com o LDL abaixo de 40 mg/dL. O risco extremo é definido como histórico de múltiplos eventos cardiovasculares (como AVC e infarto) ou um evento cardiovascular combinado com pelo menos duas condições de alto risco (como diabetes, tabagismo e doença renal crônica).

As metas recomendadas de acordo com a nova diretriz são:

Baixo risco: menor que 115 mg/dL
Risco intermediário: menor que 100 mg/dL
Alto risco: menor que 70 mg/dL
Muito alto risco: menor que 50 mg/dL
Risco extremo: menor que 40 mg/dL

Diretriz inclui novo marcador de risco. A SBC recomenda que todos os adultos façam, ao menos uma vez na vida, a dosagem de lipoproteína(a) —ou Lp(a)— para identificar risco residual elevado. Essa partícula semelhante à LDL tem efeitos pró-inflamatórios e seu nível não é influenciado por dieta, idade, sexo, estado de jejum ou estilo de vida, ou seja, é majoritariamente definida pela genética. Assim, é um marcador importante para o risco de doenças cardiovasculares.

Outros "colesteróis ruins" estão na mira. A diretriz estabelece metas para o colesterol não-HDL, que ficam 30 mg/dL acima da meta para o LDL.

Baixo risco: menor que 145 mg/dL
Risco intermediário: menor que 130 mg/dL
Alto risco: menor que 100 mg/dL
Muito alto risco: menor que 80 mg/dL
Risco extremo: menor que 70 mg/dL

Há uma nova avaliação de risco cardiovascular. A sociedade médica recomenda o escore PREVENT para estratificar o risco de eventos cardiovasculares em adultos sem doença prévia, com idade entre 30 e 79 anos. A avaliação é mais abrangente por incluir medidas como IMC e função renal.

Terapia combinada passa a ser recomendada em casos específicos. A medida é indicada como primeira linha de tratamento, de forma precoce, para pessoas com risco alto, muito alto ou extremo. Trata-se do uso de uma estatina (que reduz o colesterol) com outro medicamento.

https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2025/09/23/nova-diretriz-meta-colesterol.htm?cmpid=copiaecola

Fraude contra Academia.edu, ou apenas fraude contra usuários da plataforma?

 Atenção usuários da plataforma Academia.edu

Alert to the users of Academia.edu platform

    Since some few days, I have been receiving messages like the one inserted below, which are clearly an attempt to commit fraud against me, or at least trying to offer some publication of some of my free articles in an obscure scientific journal, against payment, of course. I recommend not to answer and delete those messages immediately.
    Nos últimos dias tenho recebido mensagens aparentemente elogiosas e atraentes, como esta que transcrevo abaixo, e deduzo que se trata de uma tentativa de fraude, contra mim, ou tentando atrair-me para a publicação de alguns dos meus artigos livremente disponíveis na plataforma em alguma obscura revista científica, contra pagamento, obviamente. Recomendo que não respondam, e apaguem a mensagem imediatamente.
Paulo Roberto de Almeida

Example:

"Enc: Interest in Your Research on Brazilian Multilateralism and International Relations
Dear Professor Almeida,
I hope this message finds you well.
I have been following your work on Academia.edu, particularly your extensive research on Brazil’s multilateral diplomacy, historical sociology, and political development. Your analyses on the evolution of multilateralism—from Bretton Woods to contemporary challenges—have provided me with valuable insights for my own study on Brazil’s role in regional and global governance.
I would greatly appreciate the opportunity to discuss your perspectives on how historical and diplomatic analyses can inform current international relations research, and to learn from your experience bridging academia and diplomatic practice.
Thank you very much for your time and consideration.
Warm regards,
Xxxxxx Xxxx"

Beware, then!
Atenção, portanto!

O Brasil e o multilateralismo: construção e desconstrução - Paulo Roberto de Almeida

 4946. “O Brasil e o multilateralismo: construção e desconstrução”, Brasília, 9 junho 2025, 29 p. Elaboração ampliada a partir do trabalho 4616 (25 março 2024, 23 p.), para aula a candidatos à carreira diplomática. Disponível em Academia.edu (link: https://www.academia.edu/144115270/4946_O_Brasil_e_multilateralismo_construcao_e_desconstrucao_2025_

Paulo Roberto de Almeida

Sumário:
Introdução: o multilateralismo econômico e político, emergência e crise atual
1. Multilateralismo: origens e desenvolvimento até Bretton Woods
2. Bretton Woods, 1944: o multilateralismo econômico
3. ONU: o multilateralismo político: paz e segurança internacionais
4. Desenvolvimento do multilateralismo em suas várias etapas: os grupos regionais
5. A fragmentação e a virtual inoperância do multilateralismo na segunda Guerra Fria
Anexo: Brasil: acordos e organizações multilaterais desde a criação da ONU
Referências bibliográficas

terça-feira, 23 de setembro de 2025

Projeto Cachoeira Seca: exemplo a ser seguido - Rubens Barbosa (O Estado de S. Paulo)

 Opinião:

Projeto Cachoeira Seca: exemplo a ser seguido

Algumas iniciativas em curso na Amazônia para o crescimento e a melhoria das condições sociais dos povos nativos merecem ser ressaltadas
Por Rubens Barbosa
O Estado de S. Paulo, 23/09/2025
        Muito se tem discutido sobre os desafios e oportunidades que a região amazônica apresenta para o governo e para o setor privado. Entre outros, são eles representados pelo desmatamento, pelas queimadas e pelo garimpo ilegal, inclusive nas terras indígenas. A ameaça à soberania nacional, pela crescente presença do crime organizado, torna mais difíceis as iniciativas para aproveitar a biodiversidade em favor da população local e para levar a riqueza da região aos povos nativos.
        Um dos temas mais importantes quando se trata do desenvolvimento da Amazônia é a questão do aproveitamento das riquezas da região pelas comunidades indígenas. O artigo 231 da Constituição prevê que as terras tradicionalmente ocupadas pelos indígenas são destinadas a ser por eles ocupadas para sempre, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes. Sem uma regulamentação mais precisa, essa disposição nem sempre é cumprida e em alguns casos, é flagrantemente desrespeitada, como no caso do garimpo ilegal e do desmatamento em terras indígenas.
        Algumas iniciativas em curso na Amazônia para o crescimento e a melhoria das condições sociais dos povos nativos merecem ser ressaltadas, como importante contribuição para o desenvolvimento econômico da região e para tornar efetivo o cumprimento constitucional. É o caso do projeto Cachoeira Seca, desenvolvido pela comunidade indígena Arara.
        Trata-se do desenvolvimento do maior projeto de carbono em área indígena no Brasil, já de acordo com a lei que regula as bases do mercado de carbono, com todas as aprovações já obtidas, depois de consultas à comunidade, sob a supervisão da Funai e do Ministério Público Federal. O projeto socioeconômico está em andamento para melhorias efetivas para a comunidade e a geração de 1,8 milhão de toneladas/ano de créditos de carbono durante os próximos dez anos.
        A área total da reserva compreende 734.000 hectares da floresta amazônica, rica em biodiversidade e funcionalidade do ecossistema, e está hoje sob pressão pela ocupação ilegal de terras, derrubada seletiva, desflorestamento e mineração. Da área total, aproximadamente, 50 mil hectares já foram devastados e serão objeto de projeto de restauração florestal.
        O território indígena Cachoeira Seca, localizado nos municípios de Altamira (76%), Placas (17%) e Uruará (7%), no Pará, vai beneficiar cerca de 50 famílias indígenas. Todas essas municipalidades são alvos de prevenção prioritária de deflorestação, atividades de monitoramento e controle pelo governo federal. Na realidade, o projeto Cachoeira Seca perdeu mais de 70 mil hectares de floresta natural até 2024. Existem algumas iniciativas de prospecção mineral, ligadas especialmente ao ouro e ao minério de ferro, o que impõe ameaça aos recursos naturais (solo e água) e à vida selvagem do território.
        Levando em conta que a maior parte da área está ainda coberta por florestas nativas e habitadas pelo povo Arara, o projeto Cachoeira Seca representa uma parte crucial da floresta a ser preservada – por reduzir as emissões de GHG (gases de efeito estufa, na sigla em inglês), por preservar a sua biodiversidade e por reconhecer a governança do povo indígena sobre sua terra.
        De fato, essas pressões representam ameaças à valiosa cultura tradicional, herança e modo de vida dos povos indígenas que habitam o projeto. Nos anos recentes, ocorreram frequentes conflitos entre as populações indígenas tradicionais e o crime organizado, que tenta tomar posse da terra para a extração de madeira, expansão da agricultura e transações especulativas de terras. Manter as comunidades indígenas em seus territórios, protegidos de agentes destrutivos como desmatadores ilegais e ocupantes de terra, assegura a preservação da biodiversidade da floresta, na medida em que as práticas tradicionais apoiam o equilíbrio ecológico do ecossistema.
        Um censo socioeconômico vai ser conduzido na comunidade indígena Cachoeira Seca, do povo Arara, que servirá como uma base para planejar e implementar atividades que ofereçam melhoria do bem-estar social, acesso à educação básica e a serviços de saúde para mais de 350 indígenas. Algumas iniciativas servirão também para criar fontes de renda sustentáveis que poderão gerar a independência do povo Arara.
        O projeto, que visa dar relevo ao papel da conservação, do manejo sustentável e do aumento de estoques de carbono florestal, foi desenvolvido pelo REDD+, sigla para Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal. Trata-se de mecanismo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), que oferece incentivos financeiros a países em desenvolvimento para que reduzam o desmatamento e a degradação das florestas, além de conservarem e aumentarem os estoques de carbono.
        O principal objetivo do Projeto REDD+ dos povos Arara é evitar um desmatamento sem planejamento, dentro do território indígena Cachoeira Seca. Deve ser ressaltado que haverá a destinação de 70% do resultado líquido do projeto à comunidade indígena e 5% para um instituto que visa realizar pesquisas para o desenvolvimento da bioeconomia da floresta a benefício da comunidade. No tocante aos créditos de carbono, o projeto já foi aceito pela empresa Verra e foi incluído em sua plataforma para consulta.

Presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), foi embaixador do Brasil em Londres (1994-99) e em Washington (1999-2004)

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...