sexta-feira, 23 de outubro de 2009

1439) O futuro do futuro: George Friedman

E assim caminha a humanidade?
Entrevista: Autor de "Os Próximos 100 Anos" vê futuro mais modesto para o Brasil.
Por Eduardo Graça, para o Valor, de Nova York
Valor Econômico, 23/10/2009

No Texas, agentes americanos fiscalizam a fronteira com o México: "Se os EUA perdessem seus 12 milhões de imigrantes ilegais, a complicação econômica em que se meteria seria enorme", diz Friedman

O Brasil não é um dos protagonistas de "Os Próximos 100 Anos - Uma Previsão para o Século XXI", livro do cientista político George Friedman que acaba de chegar às livrarias brasileiras em edição da Best Business. Para ele, os Bric são mais um acrônimo da moda do que possíveis novas potências globais e o poderio americano está apenas em seu alvorecer. Campeão de vendas nos Estados Unidos, "Os Próximos 100 Anos" é um exercício de futurologia escancarado de Friedman. Aqui, o estrategista ignora o senso comum que pauta suas disputadas análises anuais geopolíticas, lidas atentamente tanto no Pentágono quanto em Wall Street, e investe na imaginação.

Sempre calcado em dados estatísticos, tendências e fatos históricos, Friedman revela um futuro surpreendente. Um século XXI em que o terrorismo islâmico se arrefece, a China se fragmenta e a Turquia, a Polônia e o Japão surgem como novas potências globais, um patamar abaixo dos EUA. Enquanto a Turquia controlará quase todo Oriente Médio, o México se aproveita de sua posição estratégica, com acesso ao Atlântico Norte e ao Pacífico, para se tornar a maior potência latino-americana, pronto para desafiar os EUA na disputa pelo coração do mundo a partir de 2080.

Na bola de cristal de Friedman aparecem ainda o fim de 300 anos de explosão populacional, a valorização do trabalho dos imigrantes e o desenvolvimento de um sistema de energia solar a partir do espaço que eclipsará o petróleo e diminuirá o apelo dos discursos conservacionistas e ambientalistas, assim como de questões como o aquecimento global.

Aos 60 anos, com mais de duas décadas passadas na Universidade de Louisiana, Friedman reclama em "Os Próximos 100 Anos" que a análise política convencional sofre de uma profunda falta de imaginação e lembra, profético: "As mudanças que nos levam em direção às novas eras são sempre chocantes, inesperadas". Há 13 anos ele criou a primeira empresa privada de inteligência do planeta, a Stratfor, por ele definida como uma organização noticiosa que usa inteligência, em vez de métodos jornalísticos, para capturar a informação. Em entrevista ao Valor, o consultor de grandes corporações fala dos desafios do Brasil - que, segundo ele, terá um programa espacial relevante por volta de 2060, ainda que "incompleto e desconectado de uma realidade geopolítica importante" - e das surpresas do cenário mundial em um século que apenas começou.

Friedman: o Brasil "ainda precisa superar muitos obstáculos até que possa, de fato, alterar o balanço global"

Valor: Pelo menos desde os anos 80, com "A Ascensão e Queda das Grandes Potências", do historiador Paul Kennedy, a tese do "mundo pós-americano" é tema constante para a inteligência ocidental. Mais recentemente, a noção ganhou fôlego com o best-seller de Fareed Zakaria. O sr., no entanto, aposta em mais um século americano...

George Friedman: O declínio dos EUA vem sendo previsto antes mesmo de sua emergência e depois do Vietnã todos diziam que ele era irreversível. No entanto, desde 1991, com o fim da União Soviética, eles se tornaram a única superpotência mundial. A história não se move tão rapidamente assim, e estamos falando de uma supremacia de apenas duas décadas. A economia americana responde a cerca de 25% de tudo o que é produzido no planeta, sua armada domina todos os oceanos do mundo. É o único grande poder com acesso tanto ao Atlântico quanto ao Pacífico. E, enquanto o Japão tem 364 pessoas por quilômetro quadrado e a Alemanha, 260, os EUA têm apenas 34. Ao contrário dessas duas grandes economias, os EUA seguirão crescendo em termos populacionais durante todo o século. Ou seja, quando você considera os fatos mais importantes na avaliação da força de um país - atividade econômica, poder militar e demografia -, é impossível pensar em outra potência neste século pronta para desalojar os EUA de sua liderança. O declínio, se acontecer, será lento.

Valor: Mesmo levando-se em conta o baque na economia americana por causa da atual crise financeira global.

Friedman: Há uma tendência em confundir popularidade com poder. Com certeza os EUA se tornaram recentemente mais e mais impopulares, talvez tanto quanto durante a Guerra do Vietnã ou os anos [de Ronald] Reagan. E também há a ilusão de que eventos cíclicos como a atual crise financeira podem ser analisados como grandes mudanças históricas. Admiro Fareed Zakaria, mas discordo quando ele afirma que os chamados Bric [Brasil, Rússia, Índia e China] vão desafiar o poder dos EUA. Esses quatros países têm de crescer estupidamente ao mesmo tempo em que os EUA fiquem estagnados, precisam investir enormemente em seu poderio militar e lidar com problemas sociais gigantescos que os EUA simplesmente não têm. Como é que a Rússia vai resolver seu problema demográfico? E China e Índia, como vencerão a pobreza? E o Brasil, como é que vai superar os revezes da própria localização geográfica e desenvolver Forças Armadas de peso ao mesmo tempo?

Valor: O sr. não crê em um mundo multipolar no século XXI?

Friedman: Minha visão é de que o mundo é sempre multipolar. O que muda são as forças relativas nos dois extremos. Está na moda a ideia dos Bric, mas Brasil, Rússia, Índia e China são países em condições diferentes de crescimento, em estágios de desenvolvimento singulares, com posições diversas no cenário mundial. A Rússia não pode ser comparada a nenhum dos outros Bric. Ela é hoje uma grande exportadora de matéria-prima, não uma potência industrial. Já a China, bem, é um país com muitas faces. Mais de 600 milhões de chineses têm um ganho familiar entre US$ 1 mil e US$ 2 mil por ano. Apenas 60 milhões de 1,3 bilhões de chineses chegam a US$ 20 mil/ano, computando o salário de toda uma família. Mais de 1 bilhão de chineses vivem na mais extrema forma de pobreza. Uma situação semelhante à da Índia, mas aqui temos de levar em conta os vastos problemas de infraestrutura que tornam o desenvolvimento inviável na China.

Valor: Em "Os Próximos 100 Anos" o sr. chega a prever a desintegração do país e um papel menor no cenário mundial para Pequim.

Friedman: A China é uma ilha. Ao Sul, montanhas e florestas. No Sudeste, o Himalaia. No Nordeste, o infinito das estepes. E no Norte, bem, no Norte há a Sibéria. Suas Forças Armadas são voltadas para a segurança interna e sua Marinha nem sequer existe propriamente. Há três características para um poder global: o dinamismo da economia, a estabilidade social e o poderio militar. A China conta com uma economia dinâmica, mas sua estabilidade social é comprometida por profundas divisões internas e suas Forças Armadas não são moldadas para exercer o poder em projeção global. Não creio que a China possa ser um poder global. E acredito que os chineses, que sabem bem de suas características e peculiaridades, já escolheram não ser este poder global.

Valor: O sr. também vê a decadência da Comunidade Europeia. Os europeus, o sr. escreve, lembram os EUA de antes da Guerra Civil. Pode explicar melhor essa comparação?

Friedman: Durante a crise financeira global, a Comunidade Europeia não usou Bruxelas para atacar seus problemas econômicos. Eles foram resolvidos, de forma independente, a partir das capitais de cada país membro. Os alemães não quiseram usar seu dinheiro para salvar bancos irlandeses. A crise serviu para descobrirmos de fato os limites de poder desta instituição chamada Comunidade Europeia. Era assim com os EUA, concebido como uma federação de Estados soberanos, até que os sulistas decidiram se separar da União em 1861. Foi somente depois da guerra, terrível, que a unidade dos EUA foi assegurada. Quem é que estaria preparado para lutar na Europa se a Itália, por exemplo, decidisse sair da União Europeia? Não há Exército comum, não há sequer uma moeda única, com alguns países adotando o euro e outros não. O Mercosul, por exemplo, é uma ideia interessante, desde que se entenda que o Brasil, que fala português e tem uma rica e particular história, vive uma realidade completamente diferente das circunstâncias da Argentina. Tentar criar uma potência que englobe Brasília e Buenos Aires é tão improvável como imaginar uma única Europa.

Valor: Já que falamos da América Latina, uma de suas previsões é a de uma guerra entre EUA e México na sua zona de fronteira, provocada pela imigração em massa, que transformará o sudoeste americano em área de população majoritariamente hispânica. Esse será o tendão de Aquiles dos EUA no século XXI?

Friedman: O problema da imigração ilegal é simples: neste momento os dois países precisam e querem esse fluxo de trabalhadores. Se os EUA perdessem esses 12 milhões de imigrantes ilegais, a complicação econômica em que se meteria seria enorme. Por sua vez, o México precisa do dinheiro enviado pelos trabalhadores vivendo nos EUA. Mas, especialmente para os americanos, essa é uma verdade extremamente impopular. Somente quando o jogo demográfico virar - e os EUA precisarem mais e mais de imigrantes - é que os dois países agirão de fato. Em um mundo onde a escassez de trabalhadores será a regra, e com a economia mexicana produzindo ofertas de trabalho suficientes para sua população, os EUA vão procurar desesperadamente por trabalhadores nos quatro cantos do planeta.

Valor: O sr. acredita que o México vai mesmo superar o Brasil neste século como maior economia latino-americana?

Friedman: O Brasil também é uma ilha, separada por florestas, montanhas e oceanos do resto da América Latina, com uma pequena ponte natural em direção ao Uruguai e à Argentina. O país está crescendo a uma velocidade tremenda, mas segue isolado como poder global e regional, embora não haja dúvida de que é um país importante e sua relevância só tende a aumentar, mas ainda precisa superar muitos obstáculos até que possa, de fato, alterar o balanço global.

Valor: Uma das razões pela qual o Brasil cresce é a necessidade de alimentar o planeta. Mas a revolução agrícola pode ter menos importância neste século se chegarmos à estabilidade demográfica sugerida em seu livro.

Friedman: Essa tendência não será modificada em curto prazo. A população global seguirá crescendo até o fim do século XXI, mas com velocidade progressivamente menor. Projeto que o Brasil, no fim do século, terá desenvolvido sua economia de modo ainda mais diversificado. A revolução da agricultura brasileira foi a alavanca do crescimento do país, mas não será seu sustentáculo. O Brasil vai crescer muito neste século e se diversificar ainda mais.

Valor: Em "Os Próximos 100 Anos" o sr. deixou de lado o aquecimento global. Aposta que o fim da explosão populacional e a exploração de fontes de energias alternativas vão resolver o problema. O discurso conservacionista, que margeia a discussão do desenvolvimento sustentável da Amazônia, por exemplo, seria, em sua visão, menos importante do que a busca incessante por novas fontes de energia?

Friedman: Não acredito que o conservacionismo possa resolver nossos problemas. Não é razoável pedir que se reduza o processo de industrialização do planeta. Os países mais avançados não vão reduzir suas emissões de gás carbônico à custa da redução de seu padrão social e é fantasioso acreditar na possibilidade da diminuição do consumo em escala global. O discurso conservacionista parte da premissa de que haveria uma mudança radical do estilo de vida das populações. Veja bem: ir de bicicleta para o trabalho não fará diferença alguma. O que precisamos é buscar fontes de energia avançadas, que não sejam baseadas em hidrocarbonetos, como o petróleo.

Valor: E o sr. aposta na energia solar...

Friedman: Sim, creio que essa nova fonte de energia será solar, mas gerada no espaço, pois do contrário teríamos de reservar vastas áreas do planeta apenas para os painéis solares, o que seria um desastre ecológico. Um consórcio japonês liderado pela Mitsubishi já começou a desenvolver essa ideia e o investimento impressiona. Nos EUA, a Nasa também tem um projeto nessa direção. Aposto que em 50 anos já enxergaremos a solução: energia solar baseada no espaço

1438) A marcha da democracia (?) na AL: Nicaragua

Da coluna diaria (em 23.10.2009) de Cesar Maia:

O GRAVÍSSIMO PRECEDENTE DA NICARÁGUA: A CONSTITUIÇÃO É INCONSTITUCIONAL!

1. Daniel Ortega e o ex-presidente Aleman (que ficou em prisão domiciliar por corrupção e sem mobilidade por ordem de arresto através da Interpol), num acordo anos atrás, dividiram entre si o STF de lá. No pacote, a acusação contra o maleteiro de Aleman foi esquecida e a lei eleitoral mudada, para que Ortega pudesse ganhar a presidência com maioria simples.

2. A Constituição da Nicarágua proíbe a reeleição. É um dispositivo que tem muitos anos de vigência. Na medida em que Ortega não tem maioria parlamentar para mudar a constituição, usou um canal direto junto ao STF, que explicitamente controla. Arguiu a inconstitucionalidade da própria constituição. Foi além de Chávez, que para mudar a constituição, convoca eleições de oportunidade para uma assembleia confiável ou faz plebiscito. Ortega não teve esse trabalho.

3. Propôs a inconstitucionalidade da proibição de reeleição, em nome do direito de todos serem eleitos. Isso é desdobramento da crise de Honduras em que o explícito Zelaya, não tendo apoio do parlamento, tentou aplicar o kit-chavista na marra. Mas no caso, o STF o impediu. Então a solução de Ortega foi declarar, pelo STF manipulado, inconstitucional a própria constituição. Os "magistrados" decidiram que o artigo 147 é "inaplicável" e ponto final.

4. Esse precedente cria nos países de instituições menos sólida, dois caminhos para um golpe cinza: substituir o parlamento por outro era um caminho, e agora substituir o STF por outro. A gravidade disso não tem antecedentes. Espera-se que a OEA, ou cortes internacionais acionadas se pronunciem.

(Sem comentarios, pois acho que nao precisa, a realidade basta a si mesma. PRA)

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

1437) A construcao do Apartheid no Brasil -- O pré-sal e as cotas raciais...

Também achei estranho vincular o pré-sal, a discriminacão racial e as políticas (ainda bem) reparadoras. Todos ficamos aliviados ao constatar que uma pequena parte das fabulosas riquezas do pré-sal pode e deve ir para as minorias oprimidas no país.
Ops, espere um pouco, alto lá, vamos com calma.
Também li na imprensa que, na última PNAD cerca de 54 por cento dos brasileiros se (auto)definiram como negros ou pardos. Ou seja, para todos os efeitos, afro-descendentes são maioria neztepaiz.
Sendo assim, nós brancos caucasianos é que somos minoria, e devemos, assim receber todas as proteções e benesses da lei: cotas, reservas, dinheiro do pré-sal, e tudo o que mais for.
Somos minoria (quase oprimida), em todo caso assistindo a um poderoso movimento de construção do Apartheid neztepaiz.
Não acredita? Leia abaixo...
PRA


O pré-sal e a equidade de gênero e raça
Adilton de Paula
Jornal do Brasil, 21/10/2009

RIO - No dia 5 de outubro, em Curitiba, um grupo de técnicos e especialistas nas questões de energia, raça e gênero, convidados pelo Instituto Adolpho Bauer (IAB) e pela Associação Nacional dos Coletivos de Afro-Empreendedores Brasileiros (Anceabra), discutiram O marco regulatório do pré-sal e a promoção da igualdade de gênero e raça.

Partimos do pressuposto de que o petróleo é de propriedade de todo o povo brasileiro, e que qualquer novo processo do país advindo da exploração e uso deste combustível (como no caso do pré-sal) deve reverter em benefício e riqueza para o conjunto da população brasileira.

Partimos também da premissa de que a sociedade brasileira tem uma dívida histórica com grande parcela de nossa população (negros e mulheres), a qual vem sendo excluída e precarizada ao longo da história de desenvolvimento de nosso país e sociedade. E, por isso, neste sentido, qualquer enriquecimento do país deverá levar em conta, de forma substancial, a presença desta população na distribuição e partilha destas riquezas.

Verificamos, também, que ao longo da história da sociedade brasileira, tivemos diversas benesses naturais, que geraram imensas margens de enriquecimento do país, mas que, no entanto, excluíram e impediram a participação dos negros e das mulheres deste processo. Assim foi com o ciclo da madeira, com a cana de açúcar, com o ciclo do ouro, da borracha, do café e mesmo com o amplo processo de industrialização por que passamos a partir das primeiras décadas do século passado.

Com o advento do pré-sal, economistas e especialistas mostram que o Brasil passará a ser a quinta economia mais rica do planeta. Vemos isto como altamente positivo, mas não podemos aceitar que este enriquecimento mais uma vez sirva à apropriação individual ou esteja a serviço de grupos fechados e tradicionais (homens, brancos, jovens).

Nós nos posicionamos conjuntamente com as lutas e mobilizações propostas pela FUP (Federação Unificada dos Petroleiros) e com o posicionamento da UNE (União Nacional dos Estudantes), de que a maior parcela dos recursos que serão gerados nesta nova onda de riquezas do pré-sal deverá ser direcionada ao setor educacional brasileiro.

Hoje, mais que nunca, investir em educação é investir no futuro da sociedade brasileira.

Ressaltamos, entretanto, que para não manter o criminoso fosso de separação social de classe, gênero e raça no país, é fundamental que estes recursos reforcem as políticas afirmativas como o Prouni, levando em consideração que este é um real espaço e mecanismo de promoção da justiça social e da equidade de gênero e raça.

O grupo levantou dado e informações e está produzindo um documento, mais denso de justificativa sócio-histórico, sobre o porquê e a importância de o pré-sal ser uma peça fundamental na promoção do combate ao machismo e ao racismo e na promoção da igualdade de gênero e raça.

Partimos da seguinte pergunta geradora: é possível com o pré-sal gerar riquezas e promover a igualdade de gênero e raça?

Julgamos que sim, é possível, mais que possível, é necessário e devido, já que ao longo de nossa história jogamos estas parcelas da sociedade à marginalização e as deixamos nos piores processos de pobreza e miserabilidade. Julgamos que não há desenvolvimento sustentável, sem a promoção da igualdade de gênero e raça. E entendemos que o Brasil não chegará a ser uma grande economia e uma grande nação, se não houver solidariedade e justiça social.

Acreditamos também que este é um debate muito promissor, e por isso convocamos todos a dialogar conosco.

Não queremos ficar no reducionismo do debate do pré-sal pelo pré-sal, queremos discutir crescimento e desenvolvimento, queremos discutir como fortalecer e desenvolver todo o povo brasileiro e principalmente como podemos romper com as amarras e dores da exclusão, principalmente com a exclusão de classe, gênero e raça.

Saímos desse diálogo fortalecidos e animados porque vamos fazer o debate reverberar em todas as nossas redes sociais e em todos os espaços políticos e institucionais.

Chamamos a atenção de todos e todas para a cegueira institucional e pobreza da grande mídia, que tenta nos taxar e evitar o diálogo. Solicitamos que se abra o diálogo, sem dogmas, racismos, machismos e outros preconceitos, pois temos certeza de que, com uma conversa franca e aberta, todos teremos muito mais a ganhar do que a perder.

O Congresso Nacional terá que votar o marco regulatório até o fim de outubro. Portanto, solicitamos a todos e a todas que monitorem seus políticos, enviem e-mail, telefonem, entrem em contato e perguntem sobre seus respectivos posicionamentos sobre o pré-sal e principalmente como pensam sobre este tema em conjunto com a promoção da igualdade de gênero e raça.

Defendemos o pré-sal em regime de partilha, acreditamos que esta riqueza é de todos e que por todos e todas precisa ser usufruída.

Espalhe este debate, mobilize sua família, amigos e comunidade, e vamos contribuir mais uma vez para a construção de um grande país e de uma grande nação com espaços, direitos e oportunidades iguais para todos e todas.

Adilton de Paula é presidente do Instituto Adolpho Bauer

1436) O ministro volatil e a especulacao nacional

O Ministro Mantega e o IOF sobre os capitais especulativos estrangeiros (oh, que horror!)
(eu comento a nota que segue mais abaixo, PRA)

O ministro Mantega me parece alguém bizarro, como uma pessoa que acaba de desembarcar de Vênus, de Marte, ou quem sabe até de Plutão, e ainda não percebeu que vivemos todos num único planeta, com regras que são basicamente globais, ou que pelo menos deveriam ser (salvo decreto divino).
Mas, o Brasil, parece, continua a ser o país da jabuticaba, do peru à brasileira, das coisas, enfim, feitas do nosso jeito (ou do jeito dele), sem que se perceba que as regras devem valer para todos, sem distinção.
O ministro Mantega decretou que quem faz especulação no Brasil é estrangeiro. Pior? capitalistas perversos, desembarcados de alguma nave alienígena, que vêm sugar os nossos recursos, drenar os nossos capitais, fazendo, oh, que horror!, especulações em bolsa das mais desenfreadas, entrando e saindo dos mercados de capitais com a desenvoltura de bailarinas numa peça de Tchaikowski.
Ele quer reservar a capacidade de fazer especulações apenas aos brasileiros, aos bondosos capitalistas brasileiros, que aqui residem, e que podem assim entrar e sair das bolsas, sem precisar desembarcar de naves alienígenas, com toda essa sofreguidão especulativa de que apenas os capitalistas estrangeiros são capazes.
O ministro Mantega ainda não percebeu que quem faz especulação é o próprio governo, ao mudar as regras do dia para a noite, depois voltar atrás, hesitar mais um pouco, mudar de idéia, enfim, especular com a nossa infinita paciência de ficar assistindo ao governo fazer uma bobagem atrás da outra e dizer, oh céus, quanta bondade!, que ele está protegendo o Brasil da sanha especulativa dos capitalistas estrangeiros.
O ministro Mantega ainda não percebeu que quem é volátil é especialmente o governo, e seu bando de tecnocratas amestrados nas artes de um keynesianismo vulgar, que ficam babando de raiva ao ver tanto capital estrangeiro entrar impunemente no nosso augusto país, e que ficam esperando a melhor oportunidade para se vingar desses capitalistas manhosos, de fala estrangeira, e zás, lhes aplicar um bom IOF, para que eles aprendam, de uma vez, que especulação é um jogo reservado unicamente aos brasileiros, de preferência ao próprio governo brasileiro.
O ministro Mantega e seus meninos amestrados ainda não aprenderam que existe um princípio básico nas relações econômicas internacionais que se chama tratamento nacional, que recomenda -- mas isso é apenas para os mais crentes, claro -- que se trate de igual forma os estrangeiros e os nacionais, na suposição de que ambos sabem especular por igual, em todo caso, bem menos e com menor competência do que o próprio governo.
O ministro Mantega e seus meninos amestrados ainda não aprenderam que a especulação e a volatilidade são oferecidas assim, de graça, aos capitalistas estrangeiros e brasileiros pelo próprio governo, asi no más, pelo simples fato de que é o governo quem fixa as taxas de juros, quem determina as demais condições dos mercados de crédito (dominados em mais de 60% por entidades públicas, aliás, usando os nossos recursos, FAT e tudo o mais), que é o governo quem fixa as regras das aplicações financeiras que podem e não podem ser feitas, enfim, o governo pode tudo, inclusive especular com o seu, o meu, o nosso dinheiro (como no pré-sal, como nas "mamonas assassinas" do biodiesel, como na bolha imobiliária que ele está construindo agora mesmo com o seu magnifico programa "Minha Casa Minha Vida", tão eficiente quanto o PAC), o governo é quem faz as melhores e as piores especulações privadas, públicas e outras menos conhecidas (sobretudo no orçamento congressual).
O ministro Mantega, por fim, quer proteger os capitalistas especuladores (não os nacionais, apenas os estrangeiros) de todos os riscos que eles poderiam incorrer, apostando o seu (deles) dinheiro na nossa bolsa. Vejam como ele é magnânimo: ele quer evitar que eles ganhem muito dinheiro às nossas custas, esquecendo que eles também podem perder, especulando na bolsa. Mas isso ele quer evitar, quanta bondade.
Ele quer que apenas brasileiros especulem contra o Brasil, o que, convenhamos, é uma nova espécie de reserva de mercado, digna de alguma teoria da jabuticaba (como estou elaborando uma, vou incorporar essa contribuição genial do ministro Mantega).
Enfim, o ministro Mantega é também previdente: ele quer taxar logo na entrada, e mesmo que o capitalista estrangeiro especule mal, e perca dinheiro, ele ainda assim terá de deixar 2% por cento por aqui, apenas pela permissão magnânima que lhe é dada de especular. Quanta sapiência...

Sim, quase esqueço de dizer. Tudo isso é para evitar que o real se valorize demais e o dólar deprecie. Se posso fazer uma aposta com (ou uma especulação contra) o Ministro Mantega, eu diria que isso não vai acontecer. Posso apostar um dólar furado como o real vai continuar se valorizando, mesmo com 2, 3 ou 5% de taxação.
Enfim, se me permito fazer uma sugestão para contrarrestar essa tendência: que tal se o BC deixasse de acumular absurdas reservas, notoriamente exageradas (a um custo fiscal inaceitavel, posto que se trata de dívida pública e de custo-oportunidade) e que tal se a Fazenda liberalizasse um pouco mais o comércio exterior (especialmente o de importação), para que o mercado enxugasse naturalmente os dólares em excesso?
Trata-se apenas de uma sugestão especulativa, claro...
Paulo Roberto de Almeida
22.10.209


(Ver este editorial do Estado de S. Paulo, de 23.10.2209, neste link)

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Mantega: IOF na entrada barra capital especulativo
Boletim da Liderança do PT na Câmara dos Deputados, 22.10.2009

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem na Câmara que a cobrança de 2% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nas aplicações estrangeiras em ações e renda fixa não irá reduzir investimentos para as empresas, mas cumprirá o objetivo de barrar a entrada do capital especulativo no país. Mantega destacou que o governo está disposto a discutir a tributação com os setores interessados e disse acreditar numa repercussão positiva da medida.

“Nós acabamos de lançar a medida e temos de observar sua repercussão. Acredito que será positiva, mas isso não impede que a gente possa pensar em medidas complementares, adicionais. Estamos abertos a todas as propostas. Eu não podia dialogar com os setores porque não podia revelar essa medida com antecedência. Agora irei discutir com todos os setores que quiserem fazer isso”, afirmou.

Mantega disse ainda que não acredita que haja uma diminuição da abertura de capital por conta do novo IOF. “Quando se faz uma subscrição numa ação de uma empresa, a preocupação não é com o ganho financeiro, mas com a rentabilidade da empresa, o dividendo que a ação vai render. Ou seja, está-se apostando na produção e isso não foi afetado pela medida”.

O ministro disse ainda que a taxação de 2% na entrada e não na saída do capital é mais favorável. “É mais fácil tributar na entrada, porque o governo tem esse dado preciso, porque quando entra o capital de fora ele tem de fazer o câmbio, tem de traduzir de dólar ou de euros em reais, e é nesse momento em que se faz a tributação, na saída é mais complicado”, disse.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

1435) Debumking Thucydides: já estava na hora (afinal sao mais mais de 2.500 anos)

Eu adoro revisionismo histórico, sobretudo quando é bem feito. Ainda não tenho certeza sobre a obra deste revisionista americano, Donald Kagan, que se encarregou de esquartejar (no sentido acadêmico, claro) o primeiro historiador digno desse nome. Demorou um bocado, já que até aqui Tucidides foi incensado, repetido, citado, sem que alguém duvidasse da sua palavra. Ora, sendo apenas um homem, um cidadão político e, o que mais é, parte interessada numa história sempre controversa, seria natural se duvidar da sua palavra, ou da sua escrita. Afinal de contas, são 2.500 anos de distância, o que dá algum recuo histórico, que os historiadores dizem necessitar para julgar com calma eventos passados.
Ainda não conferi o material, mas vale exame acurado...
PRA

Did Thucydides Really Tell the Truth?
The hidden agenda of the pioneering historian.
By Anthony Grafton
Slate Magazine, Monday, Oct. 19, 2009
http://www.slate.com/id/2232862/

Thucydides: The Reinvention of History
Donald Kagan
Vikin, 272 p.; ISBN-13: 978-0670021291
Price: $17.79 (Amazon)

Modern readers are often shocked to learn that the Athenians—citizens of a free city who defeated the Persians when they invaded Greece, built the Parthenon, and staged the tragedies of Aeschylus and Sophocles—also massacred the citizens not of an enemy state but of a neutral power. Ancient readers were also shocked when they learned this story from the same source: Thucydides, the exiled general who recorded the atrocity, and the dialogue that preceded it, in an account that is in many ways the model for all subsequent western histories of high politics and war.

The drama is riveting. In 431 BC a conflict now called the Peloponnesian War had erupted between two sets of cities, one led by Athens and one by Sparta. It had raged for 15 years when the Athenians demanded the allegiance of the heretofore neutral Melians, whose city traced its origin to Sparta. The Melians balked, and at their request, the leaders of the two sides held a private conference.

The Athenians spoke first. With breathtaking frankness they dismissed considerations of justice as irrelevant. Justice could obtain only between equals. "For ourselves," the Athenians said, "we shall not trouble you with specious pretences … since you know as well as we do that right, as the world goes, is only in question between equals in power, while the strong do what they can and the weak suffer what they must."

The Melians claimed the right to hope that they could resist the Athenians' overwhelming power and that the gods might support them. The Athenians responded with contemptuous clarity: "Of the gods we believe, and of men we know, that by a necessary law of their nature they rule wherever they can." When the Melians refused to submit, the Athenians, helped by local traitors, besieged and captured the city. They executed all adult males, sold the women and children into slavery, and sent out colonists of their own to repopulate the island.

Powerfully written scenes like this one have fascinated, excited, and worried readers for two millennia and more. One critic, Dionysius of Halicarnassus, insisted that the Athenians' words "were appropriate to oriental monarchs addressing Greeks, but unfit to be spoken by Athenians to the Greeks whom they liberated from the Medes." Modern readers continue to feel the illuminating and frightening power of this great history, and they still try to use it to understand the present. When American soldiers destroyed villages in Vietnam, protesters at universities in the States bitterly recalled what the citizens of democratic Athens said and did at Melos.

What lesson or lessons did Thucydides hope to teach? And did his desire to draw lessons conflict with his professed belief that historians should tell the truth? Over the centuries, scholarship has grown like kudzu over the text. Older generations collated Thucydides' work with other sources and debated the order in which parts of it were composed or revised. More recently, scholars have updated an approach put forward by F.M. Cornford in 1907. They have taken the existing text as a coherent whole and used literary techniques to analyze it. From this standpoint, it looks as if when Thucydides composed the Melian dialogue, he modeled history partly on tragedy. Did he mean this distinctive episode as a comment on the war as a whole?

The literary approach is one of many that Donald Kagan does not take in his eloquent new study of Thucydides—just as the Melian dialogue is one of many passages that he does not analyze (even though he notes its suggestive power). That Kagan admires the Greek historian is clear. He argues, at length, that Thucydides invented real history. Unlike his predecessors, Thucydides believed that history must be true to be instructive,and did systematic research. Unlike them, too, he believed that men made their own history, without divine intervention, in a world ruled by force and fear. Kagan emphasizes, and shows sympathy for, Thucydides' claim that his book would offer indispensable guidance for those engaged in future wars, for centuries to come. But he argues that we should not trust Thucydides too far—not, in fact, very far at all—when it comes to understanding the Peloponnesian War.

A long-serving professor at Yale and a pre-eminent modern historian of fifth-century BC Greece, Kagan has mastered every source, from the contemporary comedies of Aristophanes and inscriptions that recorded treaties and tribute payments to the later biographies of Plutarch, that can confirm or qualify Thucydides' account. He mobilizes all of these resources to support what he presents as a revisionist approach to Thucydides. The Greek historian, Kagan notes, was not a disinterested observer but a participant in the events he described. A member of the Athenian elite, he served as a military commander, and the city sent him into exile when he failed to protect Amphipolis, a strategically valuable colony. When he began to write, he had an agenda of his own.

Thucydides' narrative, Kagan argues, was an effort to clear the Athenian elite of blame for multiple errors and to put the blame on Athenian democracy: Thucydides wanted his readers to believe that Pericles, the statesman and general who dominated Athenian politics at the start of the war, had had a viable plan to defeat the Spartans. But after he died of the plague, demagogues gained control of the city. One of them, Alcibiades, persuaded the Athenians to send an armada to Sicily. It failed catastrophically. But Thucydides insisted that the disaster wasn't the fault of the aristocratic general Nicias, who led the campaign. The decay of Athenian politics, itself largely caused by the death of Pericles and the pressures of warfare, led to the Sicilian disaster. In fact, the campaign could have worked if Nicias hadn't made crucial mistakes. For all Thucydides' careful research and for all the dry precision of much of his prose, he didn't just give the facts; he mounted a highly successful campaign to shape posterity's view of the great events of his time.

Powerfully argued and beautifully written, Kagan's book has a paradox at its core. Thucydides, according to Kagan, invented the project of objective political history. He analyzed what Machiavelli would call "the effective truth of things"—the granular, ugly facts of political life. And yet his work distorted the events in vital ways. The great revisionist who removed the gods from history played tricks of his own on the past. But no one could see through them until another great revisionist, Donald Kagan, pulled the magician's curtain to the side and revealed him at work.

All historians write in part about themselves. Kagan wants to be the heir of Thucydides, the tough-minded historian who thought the past could illuminate the future. A liberal turned conservative activist, he has used historical analogies to argue that America needs more muscular policies and stronger armed forces. But Kagan also wants to be the heir of the Athenian democratic politicians who fearlessly invaded far-off Sicily: After 9/11, he ardently supported plans for the invasion of Iraq, talking as tough as Alcibiades and disparaging unpatriotic "defeatists" who criticized the invasion or doubted its positive effects. These two ambitions are in tension, and they leave fault lines throughout Kagan's book.

Kagan has some right on his side: Thucydides did select his evidence, as all historians do, and he had firm views about the nature of the Athenian polity and much else. But his approach is only partly novel. Historians have made similar arguments for generations. Theodore Wade-Gery argued 60 years ago, in an article in a standard reference work, The Oxford Classical Dictionary, that Thucydides misrepresented major Periclean policies and actions. And the literary approach that Kagan largely rejects shows, in its own way, how Thucydides artfully shaped his material.

Thucydides also aimed at intellectual and literary targets that Kagan doesn't touch on. Kagan systematically avoids detailed discussion of passages like the Melian dialogue and Pericles' funeral oration for the Athenian dead—the set pieces that glow like literary constellations in the dark night sky of Thucydides' history, and that make it hard to use his work—even by reading it, as Kagan does, against the grain—as a warrant for imperialism.

In his account of the revolution in Corcyra, Thucydides tells his readers what happens to society, and even to language itself, in an age of civil war: "Words had to change their ordinary meaning and to take that which was now given them. Reckless audacity came to be considered the courage of a loyal ally; prudent hesitation, specious cowardice; moderation was held to be a cloak for unmanliness; ability to see all sides of a question, inaptness to act on any." Almost two and a half millennia before Orwell, Thucydides diagnosed the diseases of language caused by war and faction. He admitted that men could live by lofty sentiments in peacetime. But "war takes away the easy supply of daily wants, and so proves a rough master, that brings most men's characters to a level with their fortunes." Hence the corruption of character and language, which "have occurred and always will occur, as long as the nature of mankind remains the same."

Through the whole fever dream that is human history, no one has ever written more cogently of the disasters of war than this retired general, who saw war as the natural condition of states. No one has ever dissected more meticulously the character of a great democratic state, or revealed more vividly the moral corruption that war brings with it. Of that Thucydides—who was every bit as real as Kagan's consummately political historian, and who speaks to us every bit as powerfully—the reader will find few traces in this book.

Anthony Grafton teaches European history at Princeton. His recent books include What Was History?and Worlds Made With Words.

Article URL: http://www.slate.com/id/2232862/

1434) A vida como ela é: mas nao exatamente na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa

O reporter da Folha, Fabiano Maisonnave, correspondente em Caracas, e temporariamente deslocado para Tegucigalpa (coitado) é o que os americanos chamam de "embedded reporter", ou seja, inserido no meio da confusão. Ele manda seus relatos chistosos (como diriam nuestros hermanos) sobre o que acontece no meio que está cobrindo (acho que não vai deixar saudades em sua vida de reporter).

Zelaya é “hóspede”. E os 36 demais, o que são?
Fabiano Maisonnave
Blog da Folha de S. Paulo, 19/10/2009

Tenho evitado descrever episódios pessoais, mas o incidente da tarde de ontem é mais um exemplo de que a embaixada brasileira em Tegucigalpa, há quatro semanas abrigando Manuel Zelaya e seus “acompanhantes”, se encontra em uma situação administrativa pra lá de anômala e não deveria permanecer como está por mais tempo.
Como é de praxe, aos domingos familiares de Zelaya (e apenas dele) visitam a embaixada. Na saída, também como é de praxe, fui até o portão para ver se haveria constrangimentos na hora da sempre rigorosa revista. Estavam de saída a mãe de Zelaya, a sogra, a filha e uma neta de 4 anos.
A revista geralmente é feita bem diante do portão da embaixada. Nessas situações, os jornalistas ficamos acompanhando da calçada _pela regra dada pela polícia, ainda é “território brasileiro”. Desta vez, no entanto, o ponto era uns poucos metros mais para baixo, no meio da rua, bloqueada para veículos.
No mesmo instante, a cerca de 20 metros do portão, o padre Andrés Tamayo celebrava, na garagem, uma missa com a presença de Zelaya.
Como os leitores têm acompanhado aqui, há um crescente cerco policial-militar à embaixada, e a saída dos familiares era, a meu ver, jornalisticamente relevante.
O problema é que o “porteiro” da embaixada, Mario Irias, um ex-militar que trabalha para Zelaya, queria trancar a porta, mas eu disse para esperar até que a revista terminasse. Ele não me fez caso: simplesmente fechou a porta da embaixada comigo do lado de fora, a passos de alguns policias e militares que assistiam à cena.
Foi preciso que eu forcejasse até reabrir a porta, que é de correr. Na discussão, eu disse a ele que não poderia fechar a porta da embaixada brasileira a um cidadão do país sendo que nem sequer é funcionário.
“Estou cumprindo ordens”, disse. “Ordens de quem?”, perguntei a ele, três vezes, sem ouvir resposta.
As ordens, claro, não vieram do diplomata Lineu de Paula, o enviado do Celso Amorim. São de Zelaya e de seus “assessores de segurança”.
Obviamente, De Paula discordou e foi pedir explicações a Irias, que se justificou afirmando que Zelaya estava perto da entrada _argumento razoável, mas que ele não usou comigo, apenas me deixou do lado de fora.
Irias sabe que me colocou em situação de risco: poderia facilmente ter sido preso por um dos policiais e militares a poucos metros de mim. As pessoas que a conta-gotas deixam a embaixada só o fazem na presença de um promotor do Ministério Público, que vem com hora marcada.
O problema de fundo de tudo isso é que, embora De Paula tenha a palavra final sobre o que ocorre na embaixada, seu subordinado se resume a um guarda de uma empresa privada de segurança. Já o “batalhão” de Zelaya tem 36 pessoas. São eles, e não o pessoal da embaixada, os encarregados da limpeza, da distribuição dos quartos e dos banheiros e, principalmente, da segurança (os guarda-costas de Zelaya entregaram um pequeno arsenal de 17 armas à embaixada, que as mantém numa sala fechada).
É gente demais por tempo demais _ são 28 dias hoje que Zelaya e seus seguidores tomaram a embaixada.
Amorim já disse e redisse que o “hóspede” Zelaya pode ficar por tempo indeterminado. Mas, e os demais 36, são o quê? E por quanto tempo?
Não tem havido relatos de perseguição do lado de fora para quem já saiu _esta embaixada já suportou 313 pessoas dormindo aqui, nos primeiros dias. Conversei com duas pessoas que deixaram a casa há semanas, e ambas estão bem.
A embaixada precisa voltar a funcionar e precisa de seus funcionários. Há uma comunidade de cerca de 500 brasileiros aqui, e uma desnecessária decisão do governo brasileiro agora obriga os hondurenhos a tirar visto para viajar ao Brasil.
Se o acordo não sair hoje, já passou da hora de repensar essa hospedagem.

PS: na foto acima, um cartaz colocado pela segurança de Zelaya na entrada de metade do andar de cima da embaixada.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

1433) Semana de relacoes internacionais do Uniceub, Brasilia

Abaixo a programação da Semana de Relações Internacionais do Centro Universitário de Brasília - UniCEUB, organizada pelo Diretório Acadêmico do Curso de Relações Internacionais, da qual devo participar, em formato de workshop, nos dias 22 e 23 de outubro.
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Paulo Roberto de Almeida

IX Semana de Relações Internacionais
Centro Universitário de Brasília – UniCEUB
Diretório Acadêmico do Curso de Relações Internacionais

O Papel brasileiro no cenário internacional contemporâneo


Palestras (19h10):

Segunda – feira (19/10) – Papel da Sociedade Civil (Mediador: Emb. Fernando Guimarães Reis; diretor do Instituto Rio Branco)
O processo de formulação da política externa e a participação da sociedade

Terça – feira (20/10) – Política Externa Brasileira (Mediadora: Profa. Renata Rosa)
Marco Aurélio Garcia (PR) – “Prioridades da Política Externa Brasileira.”

Quarta – feira (21/10) – Economia Global (Mediador: Prof. Carlito Zanetti)
19h10: Prof. Renato Baumann (CEPAL/Unb) – “Os principais desafios da economia brasileira e da economia global no atual contexto internacional”
21h10: Mansueto Almeida (IPEA) – “Internacionalização das empresas brasileiras: a criação de líderes nacionais e competidores globais.”

Quinta – feira (22/10) – Comércio Internacional (Mediadora: Profa. Silvia Menicucci de Oliveira Selmi Apolinário)
19h10: Welber Barral (Secex/MDIC) – “O comportamento e perspectivas do comércio exterior brasileiro no cenário atual.”
21h10: Carlos Federico Dominguez Ávila (UNIEURO) – “A atuação do Brasil na crise hondurenha e as implicações políticas.”

Sexta – feira (23/10) – Política Externa e Direitos Humanos (Mediador: Prof. Renato Zerbini Ribeiro Leão)
19h10: Antônio Jorge Ramalho da Rocha (Unb) – “O papel da Academia na formulação da política externa brasileira.”


Workshops - 17h30 às 19h:

1) Terça, 20 e Quarta 21 - “A crise financeira de 2008: surgimento, características e perspectivas.” Prof. Márcio de Oliveira Jr.

2) Quinta 22 e Sexta 23 - “Características da Política Externa do Brasil: o jeito brasileiro de fazer diplomacia.” Prof. Paulo Roberto de Almeida.

Local: Auditório da Reitoria – Bloco 1 - SEPN 707/907 - Campus do UniCEUB - Asa Norte Brasília - DF - CEP: 70790-075

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...