terça-feira, 29 de junho de 2010

O Leao e o Chacal Mergulhador - Mamede Mustafa Jarouche

Agradeço a meu amigo Vinicius Portella por esta referência de leitura, que vou procurar:

O Leao E O Chacal Mergulhador
Autor: Anônimo
Tradutor: Mamede Mustafa Jarouche
Rio de Janeiro: Globo, 2009
ISBN: 8525047848
ISBN-13: 9788525047847

Sinopse:
'O leão e o chacal Mergulhador' constitui-se numa mescla de tratado político, livro de etiqueta da corte, crítica de costumes e fábulas sapienciais de animais à la Esopo. Encadeando e desencadeando ensinamentos, sentenças, máximas, provérbios e pequenos contos, trama-se uma narrativa, cujas partes vão se urdindo como as figuras de uma tapeçaria oriental. O livro conta com prefácio de Olgária Chaim Féres Matos, e com posfácio e notas, tanto gerais quanto linguísticas, do próprio tradutor.

Mamede Mustafa Jarouche
Professor de língua e literatura árabe na USP. Entre outros trabalhos, preparou e prefaciou uma edição das 'Poesias da Pacotilha'e das 'Memórias de Um Sargento de Milícias'. Atualmente, dedica-se à tradução do 'Livro das 1001 Noites' a partir de seus originais árabes.

Segundo me escreve Vinicius, o livro está em sua primeira tradução mundial completa: possuía uma para o inglês, porém com base em manuscritos que apresentavam lacunas. A descoberta de um novo manuscrito na Índia (os outros manuscritos, 2, são do Egito) possibilitou o preenchimento daquelas e deu mais unidade, coerência e beleza ao texto.
A história trata de um leão (um rei) e da sua relação com um chacal (um conselheiro). É, em verdade, um tratado político sobre a relação entre o poder e o saber, seus benefícios ao bem comum e os perigos que envolve, as artimanhas que se insinuam nela. Eu creio que apreciarás muito sua leitura.

Vinicius fez o favor de me transcrever as seguintes passagens:

"Impus à minha alma a reflexão e a proibi de falar amiúde, deixando as contendas para os outros e buscando para mim o saber; vivi toda a minha vida como cativo dos livros e camarada do pensamento. A língua necessita de uma ocupação que a solte e de um movimento que a exercite e aguce, e o falcão calado é melhor que o corvo de muito crocitar."

Sobre o porquê de seu apelido, assim justifica a personagem:

"Por meu mergulho nos sentidos sutis e minha extração dos segredos dos saberes ocultos. Quem muito faz alguma coisa é por meio dela conhecido."

E esta última passagem:

"Serve ao líder ignorante procurando-lhe a satisfação, e ao líder inteligente oferecendo-lhe argumentos."

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Crescimento no e do Brasil: contradicoes oficiais?

Vejam as duas matérias abaixo. A primeira diz que é imprescindível que o Brasil cresça a 7%, para "superar" o subdesenvolvimento e a distância que nos separa do PIB per capita dos países desenvolvidos.
A segunda denota a preocupação das autoridades econômicas com a pressão inflacionária, mas também revela (o que não foi revelado deliberadamente) os estrangulamentos que atingiriam o Brasil no plano das infra-estruturas (transportes, energia, comunicações, portos e estradas sobretudo) e da oferta de mão-de-obra qualificada (já faltam engenheiros para as empresas).
Na verdade, o Brasil não consegue crescer muito pois não tem investimentos suficientes em várias áreas, e ele não tem investimento porque sua poupança é muito reduzida, e esta é muito reduzida porque o Estado "despoupa" demais, ou seja, se apropria de uma fração muito grande da renda nacional.
Isso as autoridades não vão querer reconhecer.
Trato de todos esses aspectos num ensaio que acabo de escrever:
Como (Não) Crescer a 7%
Ele está sendo publicado, aguardem...
Paulo Roberto de Almeida

Crescer a 7% é perfeitamente possível
Entrevista do ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro Guimarães, ao programa Bom Dia Ministro
Em Questão (Secom-PR, 25/06/2010).

A média histórica do Brasil de crescimento, por volta de 7%, é a única taxa que permite reduzir a distância entre nós e os países desenvolvidos. Se não reduzirmos essa distância, poderemos até fazer crescer e melhorar a situação social do País, mas continuaremos relativamente subdesenvolvidos. Essa é uma taxa perfeitamente possível.
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Não é ‘muito prudente’ crescer acima de 5,5% em 2011, diz Mantega
Reuters, 28.06.2010

Ministro defende ajuste após forte recuperação esperada para a economia neste ano

TORONTO - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendeu patamar mais "prudente" de expansão da economia no ano que vem. Depois de um 2010 de forte recuperação, em que economistas estimam crescimento ao redor de 7%, ele recomenda pisar no freio para que o país não cresça mais que 5,5%.
(mais no link da data)

Corrupcao no futebol: dimensoes gigantescas

Quem foi que disse, ou pensou, que só políticos roubam?
OK, já sabíamos que o futebol, como qualquer indústria milionária que vive para "encantar" milhões de fãs around the world, se prestava a mutretas, patifarias e roubalheiras, asi no más.
Mas, não se sabia que era tão descarado e corrupto como relatado nesta entrevista com um jornalista investigativo (coisa que praticamente já não existe mais no Brasil).
Resta saber se um dia virá à tona os milhões que o Brasil, ou melhor, o governo, gastou para ter a Copa de 2014.


Uma entrevista explosiva. E verdadeira
Blog do Juca Kfouri, 27/06/2010

No Estado de S.Paulo deste domingo:

Ante o silêncio cúmplice dos governos e de quase toda a imprensa.
A ginga perfeita dos donos da bola
A Fifa controla o dinheiro, marca os adversários e dribla a Justiça
Flavia Tavares
O Estado de S. Paulo, 26 de junho de 2010

Enquanto o English Team sofria para passar às oitavas contra a Eslovênia, o escocês Andrew Jennings desfiava o sarcasmo adquirido ao longo da vida de repórter investigativo na Inglaterra, na BBC e em grandes jornais. Com a pontaria muito mais calibrada que a dos artilheiros desta Copa do Mundo, o jornalista vai relatando casos de corrupção que apurou para produzir seus três livros sobre o Comitê Olímpico Internacional (COI) e outro sobre a Federação Internacional de Futebol (Fifa) – mesmo sendo o único jornalista do mundo banido das coletivas da entidade desde 2003.
O jornalista inglês Andrew Jennings relata em livro casos de corrupção dentro da Fifa

Um dos escândalos relatados por ele em 2006, no livro Foul! The Secret World of Fifa (não traduzido no Brasil), teve um desfecho na sexta-feira. Altos dirigentes da organização máxima do futebol receberam propina, admitiu a Justiça suíça. Mas eles não serão punidos porque a lei do país, que é sede da Fifa, permitia o “bicho” na época.

Os figurões pagarão apenas os custos legais e suas identidades não serão reveladas. “É por isso que meu segundo livro sobre o tema será uma comparação da Fifa com o crime organizado”, conta. Ele optou por publicar a obra depois das eleições na entidade, em maio de 2011, embora duvide que alguém vá enfrentar o dono da bola, Joseph Blatter. “Ninguém ousa desafiar a Fifa porque eles controlam o dinheiro. E a imprensa cala”, dispara Jennings.

Em suas investigações sobre a Fifa, o que o senhor descobriu?
A Fifa é comandada por um pequeno grupo de homens – não há mulheres em altos postos da entidade e isso fala por si – que está lá há muitos anos. São homens em quem não devemos confiar e contra quem temos provas contundentes. Eles podem continuar no poder porque controlam o dinheiro. E tornam a vida dos dirigentes das confederações nacionais muito boa e fácil. Fico envergonhado porque ninguém se manifesta contra esse poder.
Como os dirigentes se manifestariam?
Zurique, sede da Fifa, é uma Pyongyang do futebol. O líder fala e os outros agradecem. Numa democracia é esperado que haja discordância, oposição. Na Fifa, não há. Eles têm um congresso a que, ironicamente, chamam de parlamento. São cerca de 600 delegados – acho que são 2 ou 3 por país representado, e são 208 países. Se você chegasse de Marte acharia que o mundo é perfeito, porque todos concordam. É vergonhoso. Nisso, a CBF é tão culpada quanto todas as outras confederações.

Que instrumentos a Fifa usa para manter esse poder?
A Fifa dá cerca de US$ 250 mil por ano para cada país investir em futebol. Na Europa, não precisamos desse dinheiro. A indústria do futebol fatura o suficiente para se alimentar. Mas é uma forma de a Fifa se manter. Esse dinheiro nunca é auditado. Na Suíça, a propina comercial não era ilegal até pouco tempo, apenas o suborno de oficiais do governo. O caso que eu conto no meu livro é justamente sobre um esquema de propinas pagas pela International Sport and Leisure (ISL), empresa que negociava os direitos televisivos e de marketing da Fifa. A história é cheia de detalhes, mas no final a ISL só foi responsabilizada pelo fato de gerenciar mal seus negócios enquanto devia para outras empresas.

Não houve punição?
Como eu disse, o pagamento de propina não era ilegal na Suíça. Portanto, não havia crime a ser punido. As acusações contra a Fifa foram retiradas e a entidade foi multada em 5,5 milhões de francos suíços (cerca de US$ 5 milhões) para custos legais.

Por que os governos não se envolvem ou a Justiça não faz algo?
Porque a sede da Fifa é na Suíça e a lei lá é muito permissiva. Para outros países, é inaceitável que esses homens se safem tão facilmente e que os altos dirigentes riam da nossa cara desse jeito. O que me deixa enojado é que os líderes dos países – o primeiro-ministro britânico, o presidente Lula e todos os outros – façam negócio com essas pessoas. Eles deveriam lhes negar vistos, deveriam dizer que não querem se relacionar com dirigentes tão corruptos. E tenho certeza de que, se os governantes se voltassem contra a corrupção da Fifa, teriam apoio maciço dos torcedores/eleitores.

Por que todos são tão complacentes?
Suponhamos que você seja uma torcedora fanática pelo seu time. Você vai à Copa do Mundo, mas como sempre há escassez de ingressos. Você então compra suas entradas de cambistas, mesmo sabendo que parte desse ágio vai voltar para o bolso da Fifa, já que ela é suspeita de liberar esses ingressos para os ambulantes. Você não pode provar, claro, mas você sabe. As pessoas não são estúpidas. Os governos menos ainda, eles podem investigar o que quiserem. Mas não investigam a Fifa porque os políticos simplesmente ignoram os torcedores. É o que já está acontecendo com a Copa de 2014. Qualquer brasileiro com mais de 10 anos sabe que a corrupção já está instalada. Por que ninguém faz nada?

Por quê?
É difícil saber. Se um país relevante enfrentasse a Fifa ela recuaria. Ou você acha ela excluiria o Brasil de uma Copa? Eles conseguem enganar países pequenos, esquecidos pelo mundo. Mas, se o Brasil dissesse não à corrupção, provavelmente a América Latina se uniria a vocês. E você acha que esses líderes latino-americanos nunca discutiram a possibilidade de um levante, de fazer o que os europeus já deveriam ter feito há tempos? Acho que lhes falta coragem.

O Brasil tentou fazer uma investigação, por meio de uma CPI.
Tentou e foi ao mesmo tempo uma vitória para o país e uma grande decepção, porque pararam de investigar no meio. O povo vai ter de pressionar os políticos a fazer algo. É realmente uma pena que o Brasil tenha chegado tão longe na investigação e tenha desistido no caminho. Havia provas para seguir em frente, para tirar a CBF das mãos do Ricardo Teixeira e, quem sabe, colocar auditores independentes lá dentro. A Justiça também poderia ser mais ativa. Por mais que eles tenham comprado alguns juízes, não compraram todos, certamente.

Sabendo de tudo isso o senhor ainda consegue curtir o futebol, se divertir com ele?
Sim, porque a corrupção não está tão infiltrada nos jogos, embora chegue a essa ponta também. Ela fica mais nos bastidores. Há exceções, como na Copa de 2002, em que a Espanha e a Itália foram roubadas grotescamente. Era importante para a Fifa que a Coreia do Sul passasse adiante. Não foi culpa dos jogadores, mas as razões políticas e econômicas se impuseram. Na Coreia, o beisebol é mais popular do que o futebol. Se eles fossem desclassificados, os estádios se esvaziariam. Neste ano, todos ficaram de olho nos jogos de times africanos. Blatter também precisa de um time do continente nas oitavas. A questão é que, quando assistimos às partidas, assistimos aos atletas, ao esporte, então, é possível confiar. É fácil punir um árbitro corrupto e a maioria não é corrompida.

Então, a corrupção não interfere tanto no esporte?
Cada centavo que os dirigentes tiram ilicitamente da Fifa ou das organizações nacionais é dinheiro que eles tiram do esporte e de investimentos. Portanto, estão desviando de nós, torcedores, e dos atletas que jogam no chão batido em países subdesenvolvidos. Eles tiram dos pobres.

É possível para os jogadores, técnicos e dirigentes se manterem distantes da corrupção no futebol?
Bom, o dinheiro normalmente é tirado do orçamento do marketing, não afeta jogadores e técnicos dos times nacionais. Uma coisa interessante é o comitê de auditoria interna da Fifa. Um dos membros é José Carlos Salim, que foi investigado muitas vezes no Brasil. Por que você acha que ele está lá? Para fingir que não vê.

A corrupção no futebol começa nos clubes e se espalha ou vem de cima para baixo?
Sempre haverá um nível de roubalheira em todas os escalões. Para isso temos leis e, às vezes, conseguimos aplicá-las. Mas a pior corrupção está na liderança mundial. Quase todos os países assinam tratados internacionais anticorrupção, mas não fazem nada quanto aos desmandos da Fifa e do COI. E, quando algum governante tenta ir atrás de dirigentes de futebol corruptos, a Fifa ameaça suspender o país. Só que ela faz isso com os pequenos. Fizeram isso com Antígua! Suspenderam o país minúsculo que ousou processar o dirigente nacional. Ninguém falou nada. Eu escrevi sobre isso porque tenho fãs lá que me avisaram do caso.

O senhor se sente uma voz solitária na imprensa?
Não confio na cobertura esportiva das agências internacionais. Em outras áreas elas são ótimas. Não no esporte. É uma piada. Apresento documentários com denúncias graves sobre a Fifa na BBC, num programa de jornalismo investigativo chamado [ITALIC]Panorama[/ITALIC], e dias depois a BBC Sport faz um programa inteiro em que Joseph Blatter apresenta alegremente a nova sede da Fifa em Zurique.

O senhor acompanhou a briga do técnico Dunga com a imprensa brasileira?
Não vou comentar o episódio porque não acompanhei de perto. Posso dizer que a imprensa inglesa e a da maioria dos países é puxa-saco. E sem razão para isso. A desculpa é que os editores têm medo de perder o acesso às seleções e à Fifa. Bobagem. Ora, eu fui banido das coletivas da Fifa sete anos atrás e ainda consegui escrever um livro e fazer várias reportagens. A imprensa deve atribuir as responsabilidades às autoridades. Se não fizer isso, é relações públicas. Tenho milhares de documentos internos da Fifa que fontes me mandam e não param de chegar. Por que só eu faço isso?

A cobertura se concentra mais no evento esportivo em si e nas negociações de jogadores?
Exato, também porque a chefia das redações tende a se concentrar nos assuntos de política nacional, internacional e na economia e deixar o esporte em segundo plano.

O que o senhor espera da Copa no Brasil, em 2014?
Há algumas semanas, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, deu um piti público cobrando o governo brasileiro para que acelerasse as construções para a Copa. Estranhei muito, porque não imagino que o governo brasileiro se recusaria a financiar uma Copa. Vocês são loucos por futebol, estão desenvolvendo sua economia, têm recursos e podem achar dinheiro para isso. Uma fonte havia me dito que Valcke e Ricardo Teixeira tinham tirado férias juntos, estavam de bem. Então, o que está por trás dessa gritaria? É pressão para o governo brasileiro colocar mais dinheiro público nas mãos da CBF. Mundialmente, as empreiteiras têm envolvimento com corrupção. Dá para sentir o cheiro daqui.

Três de seus livros são sobre as Olimpíadas. As falcatruas acontecem em qualquer esporte ou são predominantes no futebol?
Sou cuidadoso ao falar disso. Sei que a liderança da Fifa é muito corrupta – e venho publicando isso há mais de dez anos sem que eles tenham me processado nem uma vez sequer, o que diz muito. O COI era muito pior sob o comando de Juan Antonio Samaranch (morto em abril deste ano), que presidiu a entidade de 1980 a 2001. Ele era um fascista e o fascismo é, além de tudo, uma pirâmide de corrupção. Samaranch trabalhou ao lado do generalíssimo Franco. Essa cultura franquista e fascista se transformou em uma cultura gângster.

A corrupção no COI diminuiu com a saída de Samaranch?
Vou ilustrar com uma história. No meu site publiquei uma foto de Blatter cumprimentando um mafioso russo, em 2006, em um encontro com dirigentes do país. O russo foi quem fez o esquema em Salt Lake, na Olimpíada de Inverno de 2002, para que os conterrâneos ganhassem o ouro em patinação artística. Pois bem, Blatter, Havelange e muitos outros da Fifa são parte do comitê do COI. Essa é a dica de como a Rússia está agindo para sediar a Copa de 2018.

Foi assim que o Brasil conseguiu a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016?
Na votação em Copenhague, que deu a sede olímpica para o Rio de Janeiro, o nível de investigação jornalística foi ridículo, só víamos a praia de Copacabana com o povo feliz. Há um grupo no COI que já foi denunciado por receber propina no escândalo da ISL – e quem acompanha a entidade sabe quem eles são. Os dirigentes dos países só precisam pagar umas seis ou sete pessoas para conseguir o voto. Existe, com certeza, uma sobreposição entre os métodos da Fifa e do COI. Mas a cultura das duas entidades não é tão estrita quanto à de uma máfia, é mais como se fossem máfias associadas, apoiadas umas nas outras. Coca-Cola, redes de fast-food, Adidas, você acha que essas companhias não sabem o que está acontecendo? Eles não são estúpidos. A cara de pau é tamanha que Jacques Rogue, presidente do COI, disse em Turim, em 2006, que o COI e o McDonald’s compartilham os mesmos ideais. Será que ele não sabe quanto a obesidade infantil é um problema gravíssimo em vários países? Ou faz parte do jogo ceder a esses interesses?

Por Juca Kfouri às 22:35

Ricos e Arrogantes - Nuevo Herald

Com esse título, "Ricos e Arrogantes", foi publicada, anos atrás, uma entrevista minha nas Páginas Amarelas da revista Veja (neste link), o que me fez um pouquinho mais famoso, mas também despertou ciumes (de homens; colegas, quero dizer) e suscitou uma punição funcional tão injusta quanto ilegal, mas que guardo com certo orgulho intelectual (e algumas conclusões quanto às vaidades).
Eu me referia, obviamente, aos países desenvolvidos, incapazes de desmantelar seu arsenal protecionista contra a produção agrícola dos mais pibres (não necessariamente o Brasil, que não depende disso, mas certamente de países pobres, entre eles os africanos).
Os ricos e arrogantes desta vez são nossos velhos conhecidos: os milionários da América Latina, imensamente ricos e gananciosos, praticantes modestíssimos da benemerência e da filantropia.
Leiam na matéria abaixo...
Paulo Roberto de Almeida

Los ricos latinoamericanos
Andrés Oppenheimer
El Nuevo Herald (Miami), domingo, 06.27.2010

Un nuevo estudio según el cual los ricos de Latinoamérica se han hecho aún mas ricos a pesar de la crisis económica seguramente enfurecerá a varios líderes populistas. Pero lo que debería ser más preocupante del informe es que los ricos de la región planean donar menos para caridad que sus contrapartes de otros lugares del mundo.
Según el Informe sobre la Riqueza Mundial 2010, publicado por Capgemini y Merril Lynch, la suma de las fortunas de los ricos latinoamericanos --definidos como quienes tienen más de 1 millón de dólares en inversiones financieras, excluyendo sus casas y colecciones de arte-- creció en un 15 or ciento el año pasado, apenas por debajo del promedio mundial del 19 por ciento.
Sin embargo, si medimos las fortunas de los ricos latinoamericanos desde principios de la crisis económica mundial del 2007, sus inversiones financieras crecieron un 8 por ciento, más que en cualquier otra región del mundo.
Según me dijeron los autores del informe, eso ocurrió porque mientras los ricos estadounidenses y europeos perdieron mucho con el derrumbe de las bolsas de valores en el 2008, los latinoamericanos se beneficiaron por tener inversiones más seguras, y porque sus ingresos subieron gracias a las monedas fuertes de sus países.
"Los individuos latinoamericanos de alto nivel adquisitivo tuvieron un buen índice de crecimiento", me dijo Ileana Van der Linde, de Capgemini, una de las autoras del informe. "En los últimos dos años, sus fortunas en general crecieron más rápidamente que las de cualquier otra región del mundo".
No resulta sorprendente que el magnate mexicano de las telecomunicaciones, Carlos Slim, se convirtiera este año en el billonario más rico del ranking de la revista Fortune.
En lo que hace al número de ricos en Latinoamérica, creció de 400,000 en el 2007 a 500,000 el año pasado, según el informe Capgemini-Merrill Lynch.
¿Esto debería provocarnos indignación? Probablemente no, porque además de beneficiarse de sus inversiones más seguras y de las monedas fuertes de sus países, los ricos de la región invirtieron más que antes en sus países. El informe dice que aumentaron sus inversiones domésticas en un 2 por ciento el año pasado, hasta alcanzar el 47 por ciento.
Lo que debería resultar más preocupante es que los ricos de la región son, en promedio, menos generosos que sus contrapartes de otras partes del mundo. Una versión anterior del mismo informe, en el 2007, decía que los ricos latinoamericanos destinaban tan sólo un 3 por cientos de sus fortunas a la caridad, mientras que los ricos de Estados Unidos y de Asia donaban un 12 por ciento de su dinero.
Este año, el estudio anual de Capgemini-Merrill Lynch --que se basa en información proporcionada por bancos y empresas financieras-- no les preguntó a los ricos cuál era el porcentaje de sus fortunas que destinaban a donaciones. En cambio, les preguntaron cuánto dinero pensaban donar a entidades filantrópicas en el 2010. Una vez más, las cifras correspondientes a Latinoamérica resultaron desalentadoras.
En el mundo, el 55 por ciento de los ricos de Asia, el 41 por ciento de los de Europa, el 37 por ciento de los de Estados Unidos, el 35 por ciento de los del Medio Oriente y el 33 por ciento de Latinoamérica dijeron que planeaban donar más dinero en el 2010. El promedio mundial de donaciones previstas fue del 41 por ciento, me dijo Van der Linde.
Es cierto que los ricos latinoamericanos donan menos que sus contrapartes del resto del mundo porque muchos de sus países no ofrecen incentivos impositivos para deducir las donaciones de sus impuestos, como ocurre en Estados Unidos. Además, muchos ricos latinoamericanos donan dinero de manera anónima, porque temen ser secuestrados.
Y también hay un factor cultural, según me dicen dirigentes de instituciones filantrópicas. Mientras en Estados Unidos hacer donaciones es un símbolo de estatus, no ocurre lo mismo en Latinoamérica, afirman.
Mi opinión: Lo importante no es que los ricos latinoamericanos se hayan hecho más ricos, porque en general tienden a crear más empleo y a contribuir más a reducir la pobreza que los líderes populistas que los atacan, y que ahuyentan las inversiones.
Y aumentar los impuestos de los ricos puede ser complicado en algunos países de gran economía subterránea, en que la base tributaria se reduce a unos pocos empresarios acaudalados.
Pero sí creo que los ricos de la región podrían ser más generosos. ¿Acaso alguno de ellos ha prometido donar por lo menos la mitad de su patrimonio en vida o después de su muerte, como ya lo hicieron los billonarios estadounidenses Bill Gates y Warren Buffett, y exhortaron a hacer a sus pares este mes?
Yo no sé de ninguno. Es hora de empezar a pensar en maneras de incentivar a los ricos de la región a donar más, y a convertir la filantropía en un símbolo de estatus entre ellos.

domingo, 27 de junho de 2010

"Eixo dos valentes" vai organizar competicao de "queda de braco"

Bem, é só uma sugestão. Outra sugestão seria daqueles concursos de crianças, para saber quem cospe mais longe. Ou corrida de sacos, ou qualquer coisa do gênero.
Só estou sugerindo coisas inocentes, pois tem gente que pode imaginar, aqui mesmo no Brasil, que o eixo dos "valentes" seja uma aliança dos fracotes da escola e que se destina a chamar para a briga os grandalhões habituais...
Tem gente que gosta de bravatas, como já falou alguém...
Paulo Roberto de Almeida

Chávez y El Asad crean “eje de los valientes” frente al imperialismo
El País, 27.06.2010

Caracas – Los presidentes de Venezuela, Hugo Chávez, y de Siria, Bachar el Asad, han constituido en Caracas un “eje” que han bautizado “de los valientes” -en contraposición al eje del mal de Bush, compuesto por Irak, Corea del Norte e Irán- y han definido como una “alianza estratégica” por un mundo nuevo frente al “imperialismo”. En sus intervenciones en un acto en el Palacio presidencial de Miraflores, ambos mandatarios han coincidido en expresar su voluntad de ampliar la cooperación entre sus dos países y trabajar para la consecución de la anunciada alianza entre Damasco y Caracas. “Se está configurando un mundo nuevo”, ha dicho Chávez, quien ha recordado las recientes visitas a su país de dirigentes como Vladímir Pútin y ha augurado un final anunciado del “imperialismo”, en alusión a EE UU.

“No debemos dar tregua” en el empeño de construir el “nuevo mapa” mundial, ha manifestado el presidente venezolano que ha alentado a trabajar para un “plan de integración” entre los dos países y dijo que quiere ir a Damasco antes de que finalice el año. “Aspiramos a una relación estratégica con ese continente (…) y comienza en Venezuela”, ha señalado por su parte el presidente sirio, quien ha iniciado hoy en Caracas su primera gira por América Latina. El Asad, que ha elogiado en varias ocasiones las posiciones de Chávez con respecto a diversas cuestiones internacionales, como la “causa palestina”, ha considerado que Venezuela y su presidente son “símbolos de la resistencia en contra de los vientos que vienen del Norte”.

“Algún día será puesto en su lugar”
“Debemos ser fuertes para que el mundo nos respete”, ha declarado el gobernante sirio y en ese sentido ha afirmado la necesitad de “no estar aislados” y la importancia de la cooperación entre su país y Venezuela. Asimismo ha señalado que el objetivo de su visita es pasar del diálogo, que se instaló con el primer viaje de Chávez a Damasco en 2006, y llegar “al nivel estratégico en estas relaciones”. “El reto es ampliar más esta cooperación en diversos ámbitos”, ha afirmado El Asad, que ha coincidido también con Chávez en las críticas y rechazo a las políticas de Israel y de EE UU, aunque ha subrayado que no busca enemistarse con nadie.

Chávez -que rompió relaciones con Israel después de que acusara de “holocausto” la ofensiva militar israelí en la franja de Gaza en el 2009- ha ido mucho más lejos, al calificar a Israel de “Estado genocida” y al acusarle de actuar como un “brazo asesino del Gobierno estadonidense”. “Algún día el Estado genocida de Israel será puesto en su lugar, el lugar que le corresponde”, ha añadido Chávez durante la visita. “Y ojalá nazca ahí un Estado democrático, con el que se pueda compartir ideas”, ha indicado. Además, el mandatario venezolano ha manifestado su apoyo a la lucha pacífica para que le sean devueltos a Siria los Altos del Golán, territorio ocupado por Israel en 1967 tras la Guerra de los Seis Días. “El territorio que algún día volverá al mano del pueblo sirio, porque pertenecen al pueblo sirio los Altos del Golán, y por supuesto queremos que sea pacíficamente porque no queremos más guerra”, ha dicho.

El Asad, que ha recibido de Chávez la orden del Libertador Simón Bolívar y una réplica de la espada del prócer independentista -él le ha obsequiado con una condecoración de la orden de los Omeyas-, ha invitado a la comunidad siria residente en Venezuela a participar en el nuevo impulso de cooperación. En el acto, retransmitido en cadena obligatoria de radio y televisión, ministros de ambos gobiernos han firmado cuatro acuerdos -dos memorando de entendimiento y dos actas de compromiso- en materia de cooperación científica y tecnológica, y agricultura y tierras. Además de comprometerse a la colaboración para establecer programas de investigación y formación, sirios y venezolanos han ratificado el proyecto de constitución de una empresa mixta para la producción y distribución en Venezuela de aceite de oliva de Siria.

Asimismo, han suscrito un memorándum para fortalecer la cooperación bilateral en materia de producción de algodón. El presidente venezolano también ha informado de la decisión de ambos ejecutivos de crear un fondo mixto de financiamiento con aportaciones de 50 millones de dólares por parte de cada uno de los países para impulsar proyectos bilaterales. El Asad, al que Chávez ha llamado “uno de los libertadores del pueblo nuevo”, llegó el viernes por la tarde a Venezuela, en su primera etapa de una gira que le llevará mañana a Cuba, antes de continuar en Brasil y Argentina. El presidente sirio inició su jornada de visita oficial ayer sábado por la tarde con una ofrenda floral ante la tumba de Bolívar, en el Panteón Nacional, en el centro de Caracas, antes de acudir al Palacio de Miraflores para su encuentro con Chávez, que le recibió con todos los honores. Ambos presidentes mantuvieron una reunión a solas de unas tres horas.

Protestos com misterio no G20: contra quem, exatamente, manifestam os manifestantes em Toronto?

Desde meados dos anos 1990 aproximadamente, manifestantes identificados a grupos e movimentos antiglobalização protestam contra toda e qualquer reunião internacional que ocorra em qualquer lugar: as reuniões mais visadas, obviamente, são as de Bretton Woods (FMI e Banco Mundial), mas também entram no circuito as da OMC, da OCDE, e todo e qualquer summit internacional, especialmente as do antigo G7, as do G8 e agora também as do G20.
Supostamente, as manifestações são para protestar, pacificamente (dizem os organizadores), contra a globalização, contra as desigualdes e injustiças do capitalismo, contra o desemprego, a fome, a destruição ambiental e a poluição, enfim, contra todos e quaisquer dos problemas globais, locais, regionais, ambientais, econômicos, sem falar nas discriminações de raça, de gênero, de religião, etc., etc., etc. (bota etcetera nisso).
Não existe reunião sem manifestantes, que manifestam por causas aparentemente contraditórias, pois eles presumivelmente querem impedir delegados, ministros, chefes de Estado de se reunirem para discutir soluções para aqueles mesmos problemas contra os quais eles estão manifestando. Contraditório, não é mesmo?
Sempre e quando ocorrem essas manifestações, grupos violentos de anarquistas, nihilistas, ou qualquer outra corrente desse tipo irrompem os protestos pacíficos para causar depredações, degenerando por vezes em atos tão violentos a ponto de causar a morte de pessoais (dos dois lados), sem falar dos imensos prejuizos causados a propriedades públicas e particulares.
O direito de manifestação é assegurado em todas as democracias avançadas, e até em algumas menos avançadas também. Só as ditaduras -- e os países que praticam discriminação religiosa, sem qualquer protesto dos antiglobalizadores -- não permitem esse tipo de manifestação democratica.
Ainda que lamentando a violência desses eventos, o que me motiva a escrever esta pequena nota introdutória à matéria de agência abaixo transcrita é o seguinte:
se os manifestantes possuem razões legítimas para protestar e propostas racionais a apresentar, por que eles não as apresentam de forma legível, inteligente, democrática, ou seja, através dos canais de comunicação, submetendo-se ao escrutínio da razão, da lógica e da fundamentação dessas propostas?
Ou será que eles não têm nada de muito inteligente a propor?
Será que eu devo concluir que todos esses manifestantes são apenas idiotas inúteis?
Paulo Roberto de Almeida
(Beijing, 28.06.2010)

Polícia prende mais de 400 por manifestações violentas contra o G-20
Reuters, 27 de junho de 2010

Forças de segurança canadenses se dizem prontas para responder a protestos neste domingo

TORONTO - A Polícia de Toronto prendeu mais de 400 pessoas no centro da cidade canadense depois de manifestações contra a realização da cúpula do G-20 que foram tomadas pela violência no sábado, informaram as autoridades. Neste domingo, 27, último dia do encontro, o governo mantém-se em alerta para a possibilidade de novos distúrbios.

A porta-voz da Polícia, Michelle Murphy, disse que 412 pessoas foram presas na cidade depois do que descreveu como um protesto que "passou da calma ao caos" no sábado. Os detidos são acusado de causar danos ao patrimônio público e atacar oficiais da Polícia, entre outros delitos.

Os protestos de sábado começaram como uma marcha pacífica, mas rapidamente se tornaram violentos quando grupos de pessoas mascaradas se juntaram à multidão e passaram a quebrar vitrines de lojas e bancos e incendiara, ao menos dois veículos policiais. O Canadá havia gasto US$ 1 bilhão para reforçar a segurança durante a realização da cúpula.

A Polícia espera que qualquer protesto marcado para o domingo, último dia do encontro, seja pacífico, mas está disposta a responder qualquer ato de violência. "Se algo fugir ao controle, como no sábado, reagiremos de acordo com isso", disse a porta-voz.

A Polícia admitiu que perdeu o controle da situação em alguns momentos e, por isso, teve de usar gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes. "O que vimos no sábado é uma série de vândalos que queriam expressar pela violência sua diferença de opinião com a Polícia", disse Dimitri Soudas, porta-voz do premiê canadense, Stephen Harper.

Na manhã deste domingo, Toronto, a maior cidade do Canadá, estava mais calma. A cúpula do G-20 reúne as oito maiores economias do mundo e outros 12 países em desenvolvimento.

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Os canadenses estão chocados: a polícia nunca tinha usado gás lacrimogênio antes:

Police arrest more than 600 at Toronto summit
By ROB GILLIES
The Associated Press
Monday, June 28, 2010; 12:48 AM

TORONTO -- Police raided a university building and rounded up hundreds of protesters Sunday in an effort to quell further violence near the G-20 global economic summit site a day after black-clad youths rampaged through the city, smashing windows and torching police cars.

The violence shocked Canada, where civil unrest is almost unknown. Toronto police Sunday said they had never before used tear gas until Saturday's clashes with anti-Globalization activists.

Police said they have arrested more than 600 demonstrators, many of whom were hauled away in plastic handcuffs and taken to a temporary holding center constructed for the summit.

Police adopted a more aggressive strategy Sunday by going into the crowd to make arrests, compared to the previous day when they stood back as protesters torched four police cars and broke store windows.

No serious injuries were reported among police, protesters or bystanders, Toronto Police Constable Tony Vella said Sunday.

Thousands of police officers in riot gear formed cordons to prevent radical anti-globalization demonstrations from breaching the steel and concrete security fence surrounding the Group of 20 summit site.

Security was being provided by an estimated 19,000 law enforcement officers drawn from across Canada. Security costs for the G-20 in Toronto and the Group of Eight summit that ended Saturday in Huntsville, 140 miles (225 kilometers) away, were estimated at more than US$900 million.

Prime Minister Stephen Harper deplored the actions of a "few thugs" and suggested the violence justified the controversial cost. "I think it goes a long way to explaining why we have the kind of security costs around these summits that we do," he said.

The disorder and vandalism occurred just blocks from where U.S. President Barack Obama and other world leaders were meeting and staying.

On Sunday, protesters gathered at a park near the detention center - about 2 1/2 miles (four kilometers) east of where the leaders were meeting.

Plainclothes police jumped out of an unmarked van, grabbed a protester off the street and whisked him away in the vehicle. The protest was then quickly broken up by riot police, who set off a device that created a cloud of smoke that sent protesters running down the street. Vella said it was not tear gas.

Bridie Wyrock, 20, from Cleveland, Ohio, said she was arrested for public mischief for sitting on a street in the financial district. Wyrock, held for 19 hours before being released, said there weren't enough toilets and said some people resisted detention, but said police treated most people with respect.

"They put us in cages, blocked off on all three sides," Wyrock said. "It was cold and dirty."

An anti-poverty group called The Global Call to Action Against Poverty criticized the protesters who committed violence.

"A bunch of pimply faced teenagers trashing shops and burning cars does not help anyone," said Rajesh Latchman of GCAP South Africa. "These hooligans obscure the real issues."

Previous global summit protests have turned violent. In 1999, 50,000 protesters shut down World Trade Organization sessions in Seattle as police fired tear gas and rubber bullets. There were some 600 arrests and $3 million in property damage. One man died after clashes with police at a G-20 meeting held in London in April 2009.

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Associated Press Writers Ian Harrison and Charmaine Noronha contributed to this report.

Pobreza sem mistério - Editorial Estadao

Diagnósticos equivocados sobre causas de problemas sociais levam a políticas equivocadas para tentar corrigir os supostos problemas, e estas costumam levar a resultados no mínimo inadequados ou insuficientes.
O governo Lula -- e creio que vou receber protestos indignados neste mesmo post (a menos que esta minha colocação preventiva impeça alguns entusiastas da causa) -- é pródigo nos três fenômenos, e continua reincidindo nos equívocos, sobretudo na reforma agrária e em políticas de "emprego", que só produzem empregos para os companheiros da máfia sindical.
Na área social, dispensando-se a propaganda do governo, espera-se ainda diagnósticos mais corretos e sobretudo políticas mais focadas na eliminação da pobreza via mercados (emprego e renda no setor privado), não subsídios para o consumo dos mais pobres, por mais "justos" que estes possam ser.
Na educação, os EQUÍVOCOS são maiores ainda, e o governo fica criando universidades de fachada e descurando dos problemas reais nos ciclos precedentes, aliás agravando a situação desses ciclos criando "porcarias" obrigatórias.
Abaixo um editorial do Estadão, que toca rapidamente em alguns desses problemas.
Paulo Roberto de Almeida
(Beijing, 27 de junho de 2010)

POBREZA SEM MISTÉRIO
Editorial Estado de São Paulo, 27.06.2010

A economia brasileira criou 8,7 milhões de empregos formais entre 2003 e 2008, os programas de transferência de renda se ampliaram, milhões de famílias saíram da pobreza, a classe média cresceu e a indústria de bens de consumo prosperou. Mas 35,5% das famílias ainda se queixaram em 2008-2009 de insuficiência de comida, ocasional ou frequente, segundo a nova Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF).Essa pesquisa, divulgada na quarta-feira pelo IBGE, dá uma boa ideia de como têm melhorado as condições de vida da maioria dos brasileiros. Mas também mostra a permanência de amplas desigualdades e de uma significativa parcela da população atolada no atraso e na pobreza.

Como pode faltar comida para mais de um terço das famílias, num país com uma agropecuária eficiente e competitiva e um custo de alimentação dos mais baixos do mundo? Esse paradoxo aparente é um dos aspectos mais notáveis da pesquisa. Nos últimos 30 anos o peso da alimentação nos orçamentos familiares diminuiu seguidamente. Na média, passou de 33,9% em 1974-75 para 20,8% em 2002-2003 e 19,8% em 2008-2009.

Essa mudança refletiu tanto a elevação dos ganhos das famílias quanto a queda do preço relativo dos alimentos, consequência normal da produtividade crescente da agropecuária e da indústria processadora de comida. O aumento de eficiência resultou da incorporação de tecnologias, criadas em boa parte pelos institutos nacionais de pesquisa, e das mudanças da política agrícola, com mais estímulos à competitividade e abandono dos controles de preços, tão inúteis quanto contraproducentes.

Ao chegar ao governo, em 2003, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mal assessorado, ainda repetia os chavões sobre a necessidade de aumentar a produção de alimentos. Mas não demorou muito a abandonar essa tolice. Se havia famílias com fome, não era por escassez de comida, mas de renda.

O problema não era produzir, mas ajudar as pessoas em pior situação a comprar o necessário para sobreviver com decência. Mesmo sua política de reforma agrária, um fracasso previsto desde o começo e confirmado amplamente pelos fatos, foi insuficiente para impedir o crescimento da agropecuária de verdade, apesar da permanente insegurança imposta aos produtores. A competência e a produtividade dessa agropecuária são reconhecidas internacionalmente pelos competidores do Brasil, embora menosprezadas por uma parte do governo federal.

Mas políticas de transferência de renda têm alcance limitado. Podem reduzir a miséria e permitir a melhora dos padrões de consumo de muitas famílias, mas não bastam, isoladamente, para criar capacidade de trabalho nem para ampliar as oportunidades de ocupação.

A média nacional das famílias com insuficiência ocasional ou frequente de comida é de 35,5%. No Nordeste, essa parcela equivale a 49,8%. No Norte, a 51,5%. As porcentagens são bem menores nas outras grandes áreas: no Sudeste, 29,4%; no Sul, 22,9%; e no Centro-Oeste, 32%.

De modo geral, essa distribuição corresponde à insuficiência de renda apontada pelas famílias em cada região e, naturalmente, há uma relação entre esses problemas e os níveis educacionais. A POF mostra tudo isso claramente.

Noutros tempos, boa parte da população menos educada se integrava na vida urbana por meio de empregos na construção. Investimentos em obras ainda podem produzir algum efeito desse tipo, mas em escala certamente menor. Também essa atividade requer, e cada vez mais, pessoal qualificado para funções tecnicamente mais complexas que as de 30 ou 40 anos atrás.

Há, no Brasil, um desajuste cada vez mais claro entre a qualidade do emprego oferecido e a da mão de obra disponível. Esse problema não se resolverá com a multiplicação de cursos universitários de utilidade muito duvidosa. É preciso cuidar muito mais seriamente da preparação nos níveis básicos e intermediários.

A presença de um quinto de 20% de analfabetos funcionais na população com idade igual ou superior a 15 anos explica boa parte dos impasses econômicos e sociais do País e dos aparentes paradoxos da POF 2008-2009.

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Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...