sábado, 4 de setembro de 2010

Republica Mafiosa do Brasil (14): o quilombo da resistencia democratica

O sentimento de indignidade não deve nos abandonar nunca...
Ainda que fiquemos poucos, no quilombo da resistência democrática...
Paulo Roberto de Almeida

CHEGOU A HORA DE A CAMPANHA DA OPOSIÇÃO ENTRAR NO “MODO DA RESISTÊNCIA INSTITUCIONAL”. É PRECISO CHAMAR LULA ÀS FALAS!
Reinaldo Azevedo, 5.09.2010

A gravidade das violações de sigilo na Receita Federal subiu estupidamente de patamar depois da fala de ontem de Lula, no Rio Grande do Sul. Ela pede uma reação enérgica da oposição — e não cabe nem mesmo o cálculo se uma resposta à altura dá ou tira votos. Estou convencido, sem prejuízo de o tucano José Serra continuar a apresentar suas propostas, de que a campanha da oposição entra no que eu chamaria “Modo de Resistência Institucional”. Ontem, Lula usou a sua popularidade para pedir carta branca à sociedade para fazer o que bem entende. É preciso dizer com todas as letras: ONTEM, LULA REIVINDICOU O DIREITO DE DAR UM GOLPE DE ESTADO, tendo, circunstancialmente, as urnas como arma.

Se alguma dúvida havia sobre o compromisso de Lula com a democracia, ela se desfez ontem. Não tem compromisso nenhum! Está evidenciado que ele a usa como arma tática e que a escalada petista supõe a desconstrução do estado de direito conforme nós o conhecemos. É a Constituição da República Federativa do Brasil que está sendo fraudada com as invasões de sigilo. Um órgão do Estado, a Receita Federal, converteu-se, como tem deixado claro o notável trabalho de reportagem do Estadão, em instrumento de luta de um partido político. E tudo caminha para que mais esse crime reste impune.

Sim, agora é preciso entrar no MODO DE RESISTÊNCIA INSTITUCIONAL. E o próprio presidente Lula — pouco importa se sua popularidade atingiu 8795%, segundo a última medição Vox Diaboli — tem de ser chamado às falas. Ele passou de todos os limites. Ontem, comentando a questão da invasão de sigilos — e ele estava numa solenidade em que falava como presidente! — afirmou que “Serra precisa saber que eleição a gente ganha convencendo os eleitores a votar na gente, não tentando convencer a Justiça Eleitoral a impugnar a adversária”. Para Lula, “isso já aconteceu em outros tempos, na ditadura militar.” E recomendou: “Na democracia, o senhor Serra que vá para rua, que melhore a qualidade de seu programa [de TV]“. Lula classificou ainda o episódio — a violação da Constituição — de “futrica menor”.

O sr. Lula precisa saber que, na democracia, “a gente convence o eleitor a votar na gente” segundo regras — todas aquelas que o PT tem desrespeitado sistematicamente. Na democracia, a gente “vai para a rua” não para pisotear as leis, mas para pedir a sua efetiva aplicação. Método típico de uma ditadura é fraudar o sigilo fiscal e bancário de adversários. Método típico de uma ditadura é organizar bunkers de bandidos para produzir dossiês. Método típico de uma ditadura é querer criar constrangimentos morais para que as pessoas exerçam o direito, também ele constitucional, de recorrer à Justiça. Método típico de ditadura é considerar a violação da Constituição mera “futrica”.

Toda essa baixeza merece uma resposta à altura das instituições que ela fere. Não estou entre aqueles, mesmo!, que consideram que a eleição já está decidida e coisa e tal. Já disse os motivos e não vou repisá-los. Mas acho que essa questão, agora, ficou menor. Outro valor mais alto se alevanta. Se o custo de a oposição dizer o que tem de ser dito — QUE O PRESIDENTE LULA, NA PRÁTICA, PROTEGE CRIMINOSOS AO DAR DECLARAÇÕES COMO A DE ONTEM — foi for perder votos, que assim seja. Com quantos a democracia e o estado de direito, VIVIDOS NA PRÁTICA, podem contar? Pois que a causa siga com estes bons. Bento 16 afirmou certa feita, não com estas palavras, mas o sentido era este, que a Igreja se fortalece recuperando a dimensão de sua fé, não concedendo condescendendo com valores que lhe são estranhos; a sua permanência está nos valores de sua doutrina, ainda que isso lhe custe perder os fiéis… infiéis. Exato!

As lideranças do país que deploram a contínua violação da Constituição, das leis e do decoro têm apenas um caminho: voltar ao livro-texto da democracia e do estado de direito e repudiar, sem meias-palavras, o discurso irresponsável de Lula. Sua popularidade não lhe dá o direito de jogar a Carta que nos rege — ou deveria nos reger — no lixo. O regime democrático não se define apenas pela realização das eleições. Elas são um dos instrumentos do exercício da soberania popular. O sufrágio universal não elege ditadores, mas procuradores do estado de direito.

Indignidade
A reação tem de ser dura, severa, clara. E saiba a oposição: enfrentará, à diferença de outros tempos, a maledicência até de setores da própria imprensa, que passaram a chamar a Justiça de “tapetão”, em mais um claro sintoma da degradação de valores que está em curso. Trata-se de uma óbvia indignidade. A maioria que o PT teria hoje nas urnas, segundo esse raciocínio, permitiria, então, a esses majoritários fraudar as próprias leis que legitimam o pleito que disputam. As instituições existem justamente para que os homens se sucedam no poder sem que as balizas que nos orientam sejam derrubadas. Esse já foi um dia um norte da imprensa brasileira, quase sem exceções. Hoje, os áulicos e candidatos a tanto contaminam o ambiente com sua tese da maximização da vontade popular: se o governante tem a maioria, então faz o que bem entende — e isso inclui esmagar a minoria. Ora, tão importante na democracia quanto o governo da maioria é o respeito à minoria que lhe dá legitimidade. Mas será mesmo isso o que quer o PT?

Hora de perceber a gravidade da questão e de ter uma reação correspondente — nem que seja, reitero, para mobilizar os poucos e bons. Assim me expresso apenas para encarecer o momento já que, de fato, são milhões os brasileiros que não estão dispostos a ceder a Lula e ao PT os seus direitos constitucionais. Fossem apenas os 300 de Esparta, então se deveria lutar com eles. Mas há muito mais gente do que isso pronta para resistir.

CHEGOU A HORA DE A CAMPANHA DA OPOSIÇÃO ENTRAR NO “MODO DA RESISTÊNCIA INSTITUCIONAL”. É PRECISO CHAMAR LULA ÀS FALAS. TALVEZ ISSO CUSTE AINDA MAIS VOTOS. PARA O VALOR QUE SE QUER E QUE SE TEM DE PRESERVAR, ELES NÃO FAZEM FALTA.

Perder a eleição é do jogo. Não dá é para perder a vergonha!

A caminho do capitalismo de Estado - o caso da Vale

Sem comentários...

Radar Veja - A Vale
Lauro Jardim
Revista Veja, 5/09/2010

Roger Agnelli percebeu e começou a reagir desde que ficou patente que uma ala ligada a Dilma Rousseff trabalha para ejetá-lo da presidência da Vale em 2011, caso ela vença as eleições. É a turma de sempre que, agora, quer instalar um político no comando da empresa.

Agnelli já procurou interlocutores no entorno de Dilma para ficar onde está. Independentemente da competência de Agnelli, aideia é assustadora, pois não se pode tratar a Vale como se fosse um ministério. Não é aceitável permitir o loteamento político na maior exportadora brasileira, uma empresa privada.

Brasil e China: much ado about almost everything

A culpa pode até ser do Estado brasileiro, mas não pelas razões apontadas por esses pretensos especialistas em China.
Contrariamente ao que diz Delfim Neto, vários outros países já reconheceram a China como economia de mercado, mas o ponto não está aí. Quer se reconheça, ou não, a China como economia de mercado, seus produtos continuam e continuarão a ser imbatíveis no plano da competitividade internacional. O não reconhecimento funciona apenas para medidas de defesa comercial, ou seja, disfarçar a própria falta de competitividade colocando barreiras protecionistas discriminatórias contra os produtos chineses, que entram nos países porque simplesmente são mais baratos, não porque um país reconhece ou deixa de reconhecer a China como economia de mercado. De toda forma, se não for agora, será dentro de 3 ou 4 anos, quando a China terminar o período de transição regulado em seu protocolo de acesso e tiver de cumprir todas as regras da OMC, e aí os parceiros só poderão reconhecê-la como economia de mercado. Pode-se até argumentar que até lá ela vai continuar conquistando poições de mercado, o que é seu direito.
Quanto ao câmbio, simplesmente não é verdade que o câmbio está fixo em 7 yuans há cinco anos, não é verdade. Nesse período, o moeda chinesa já passou por duas fases de revalorização, o que implicou um movimento de quase 20%. Correto é dizer que a taxa está estável atualmente em torno de 6,7 yuans por dólar, mas já depois de uma valorização que a trouxe, justamente, de mais de 7 no ano passado (sendo que era mais de oito até 2006).
E não é pela nossa suposta valorização cambial que os produtos brasileiros não são competitivos. Os industriais, exportadores e economistas precisam parar de chorar e pedir desvalorização para passar a atuar nas verdadeiras causas da falta de competitividade do Brasil, começando por uma carga tributária extorsiva.
Por que é que os industriais não lutam contra o governo por causa disso? Só porque querem o dinheiro do BNDES? Querem créditos fiscais e isenções tributárias setoriais? Querem tarifas altas e mais proteção? Poltrões: deveriam atuar nas causas certas, não pedir políticas erradas e distorsivas.
Não é verdade, tampouco, que as empresas chinesas que estão exportando para o Brasil sejam estatais. Apenas algumas o são, e são as que importam, não as que exportam. É verdade que os chineses trabalham com pequenas margens de lucro, ganhando na quantidade, mas isso é um direito deles, e uma estratégia inteligente. É patético ver brasileiros reclamando de uma estratégia comercial legítima.
Os industriais brasileiros precisam parar de reclamar da China e atacar as causas corretas, que estão, sim, no Estado brasileiro, mas não pelas razões apontadas por eles...
Paulo Roberto de Almeida

Para analistas, invasão chinesa é culpa do Estado brasileiro
João Villaverde, de São Paulo
Valor Econômico, 01/09/2010

A competição comercial entre Brasil e China, que envolve importados chineses mais baratos que os equivalentes nacionais, e a conquista de outros mercados pelos chineses, não é culpa da China. O responsável pela sequência de derrotas entre os dois países nas relações mercantis é o Estado brasileiro. Essa é a avaliação de economistas e especialistas em comércio exterior presentes ontem no 7º Fórum de Economia, realizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) em São Paulo.

"Apenas dois países, no mundo inteiro, acreditam que a China é uma economia de mercado. Um acredita com alguma dúvida: a China. O outro, de maneira convicta: o Brasil", afirma Antônio Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda, do Planejamento e da Agricultura entre os anos de 1967 a 1985. Para Delfim, a política industrial, cambial e comercial chinesa não está errada. "Eles fazem o que qualquer país que quer crescer faz. O erro está aqui", diz o ex-ministro.

As críticas à estratégia adotada pelo Estado brasileiro, consensuais entre os analistas, estão centradas nas políticas econômica e comercial adotadas. Para eles, é preciso reduzir as taxas de juros brasileiras e permitir maior desvalorização cambial, que serviriam por tornar o crédito às empresas mais barato e ampliaria a remuneração oriunda das exportações. O câmbio chinês é fixo em torno de 7 yuans por dólar há cinco anos, enquanto o dólar oscila próximo ao patamar de R$ 1,70. As taxas de juros chinesas são de 2,47% ao ano, enquanto a Selic está fixada em 10,75% ao ano - hoje, o Banco Central anuncia a nova taxa.

Além disso, dizem os especialistas, o governo é "tímido" em fiscalizar a entrada de mercadorias subfaturadas provenientes da China. Segundo números apresentados por Roberto Giannetti da Fonseca, diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o saldo entre vendas e compras internacionais de bens manufaturados saiu de superávit de US$ 5,1 bilhões, em 2006, para um déficit projetado de US$ 60 bilhões neste ano.

"Do jeito que está, o déficit da indústria de transformação atingirá US$ 100 bilhões em um ou dois anos. Não só a indústria precisa reverter sua produção para o mercado interno, porque o importado chinês chega mais barato e o câmbio para exportar está ruim, como também estamos perdendo mercado no exterior para os chineses", diz Giannetti da Fonseca.

Para Renato Amorim, ex-secretário-executivo do Conselho Empresarial Brasil-China e atualmente sócio-diretor da Strategus, o governo brasileiro tem olhado para o alvo errado. Amorim, que chegou ontem de viagem à China, avalia que a disputa se dá em terreno onde os chineses "obviamente" têm vantagens. "As empresas chinesas contratam ótimos engenheiros a US$ 400 por mês. Não temos como competir com isso", afirma Amorim, para quem a disputa não se dá entre empresas, mas entre companhias brasileiras e o Estado chinês.

"As empresas chinesas trabalham com margens muito apertadas, uma vez que não remuneram acionistas e não precisam dar lucro. Por quê? Simplesmente porque são estatais", diz Amorim.

O empresário Antônio Maciel Neto, presidente da Suzano, afirmou ao Valor que a desigualdade de condições se dá também na comparação entre custos para investimentos fixos. A planta da Suzano em Mucuri, no sul da Bahia, a maior unidade produtora de celulose da companhia, teve custo total de US$ 2 bilhões. "O mesmo projeto teria custo de capital US$ 70 milhões menor, por ano, se fosse feito na China", diz Maciel.

Para Vera Thorstensen, que acaba de retornar ao Brasil depois de 15 anos na assessoria econômica do governo brasileiro na Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra, os chineses "não respeitam regra alguma". "Eles não respeitam o artigo 4 do FMI, que veta a manipulação cambial, além de terem pendurados uma série de ações antidumping e pedidos de salvaguardas comerciais", diz ela. Para Giannetti da Fonseca, o Brasil "ainda não sabe usar medidas antidumping ou de salvaguardas".

A politizacao da Petrobras: jogando com o dinheiro dos investidores

A largada para o pré-sal
Editorial - O Estado de S.Paulo
04 de setembro de 2010

As ações da Petrobrás subiram vigorosamente ontem, depois de anunciados os detalhes da capitalização da empresa. Se o entusiasmo dos investidores se mantiver nas próximas semanas, a empresa poderá realizar sem dificuldade a maior oferta de ações da história. Serão lançados 2,174 bilhões de ações ordinárias e 1,586 bilhão de preferenciais, mais um lote adicional e um suplementar já planejados, se a fome do mercado for muito grande. A corrida aos papéis, logo depois de conhecido o prospecto preliminar da operação, pode ser atribuída a mais de um fator.

Só neste ano a estatal perdeu cerca de 30% de valor de mercado, por causa das incertezas quanto à capitalização e aos planos de exploração do pré-sal. Eliminada boa parte das dúvidas, alguma recuperação deveria ocorrer e todos sabiam disso. Em segundo lugar, pode ser bom negócio reforçar a carteira antes da nova emissão. Em terceiro, pelo menos parte do público pode estar de fato animada com as possibilidades de ganho a longo prazo. Mas só nas próximas semanas será possível avaliar com alguma segurança a disposição da grande massa de minoritários.

O retorno de 8,83% estimado para a exploração dos 5 bilhões de barris cedidos à empresa pela União foi considerado baixo por investidores. O resultado efetivo poderá ser melhor, quando ocorrerem "ganhos de sinergia" e integração com outras áreas exploradas, disse o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli. Mas as perspectivas mais otimistas são, obviamente, para longo prazo. A taxa interna de retorno por enquanto prevista praticamente empata com o custo de capital da empresa, esclareceu o executivo.

Os investidores também levarão em conta o preço efetivo de lançamento dos papéis. Esse preço será fechado no dia 23, depois de encerrado o registro das intenções de compra. Até essa data, segundo alertou uma corretora, as cotações poderão oscilar, "em virtude do rearranjo de posições e expectativas".

Mesmo com a divulgação do prospecto, sobraram dúvidas importantes e motivos de inquietação para os investidores. A fixação do preço médio dos 5 bilhões de barris cedidos pela União à Petrobrás continua mal explicada. O valor de US$ 8,51 por barril foi apresentado, oficialmente, como a média ponderada dos valores atribuídos a produtos de vários campos. Mas esse preço, por uma notável coincidência, corresponde quase precisamente à média entre os valores extremos - muito diferentes - sugeridos por duas consultorias, uma contratada pela Petrobrás, outra, pela Agência Nacional do Petróleo (ANP).

Mal explicada, também, continua a seleção dos campos oferecidos à Petrobrás. Inicialmente se falava de um. Finalmente foram oferecidos sete campos, mas só depois de divulgadas pela imprensa as dúvidas sobre o potencial produtivo do primeiro. Ainda não há segurança, porém, sobre o assunto, porque só um poço foi perfurado em todas essas áreas. Mas isso não é problema, de acordo com Gabrielli: se não forem achados os 5 bilhões de barris, a Petrobrás será indenizada.

Acionistas privados criticaram o valor médio proposto para os barris cedidos pela União. É muito alto, segundo eles, e por isso os minoritários terão de aplicar muito dinheiro para manter sua participação. O governo não terá desembolso. Poderá antecipar sua contribuição por meio da emissão de títulos.

Há a possibilidade, portanto, de um aumento da participação estatal na Petrobrás. Essa hipótese é mencionada no prospecto. A União detém 55,66% das ações ordinárias - isto é, do capital com direito a voto - e sua fatia poderá aumentar para 57,33%, se os minoritários não quiserem ou não puderem acompanhar toda a capitalização.

Mas o dado mais inquietante é a evidente politização do tema. Desde o início, a política do pré-sal foi subordinada não só a critérios ideológicos, mas principalmente às concepções de governo e ao projeto de poder de um grupo. A conversão da Petrobrás em instrumento de política industrial é parte desse projeto. O cumprimento das metas de nacionalização dos equipamentos e materiais será gradual. Mas isso não elimina o risco de ineficiência e de custos adicionais na exploração e na produção.

Os candidatos e a politica externa - revista Veja

Desafios brasileiros
Os presidenciáveis e a política externa
Campanha de Dilma foi a única que não citou os direitos humanos
Site da revista Veja, 3/09/2010

Durante esta semana, o site de VEJA apresentou reportagens e entrevistas sobre os principais desafios que o próximo governo deverá enfrentar na área das relações exteriores. Encerrando a série, apresentamos as propostas dos três principais candidatos à Presidência da República, que, a partir de 2011, terão a missão de comandar a política externa do país e ditar novos rumos. As informações apresentadas a seguir foram fornecidas pela coordenação de campanha dos candidatos Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV).

Chama a atenção o destaque dado por Serra e Marina à promoção dos direitos humanos na relação com outras nações. O tema foi debatido em reportagem da série devido ao fato de o governo Lula haver mantido uma postura leniente em relação a abusos cometidos por colegas - como Hugo Chávez, na Venezuela, e a ditadura castrista de Cuba. [postado in fine]

A campanha de Serra ressalta que, em um eventual governo tucano, as posições a serem defendidas pelo Brasil no tocante aos direitos humanos e à democracia "refletirão os valores que defendemos internamente e não afinidades ideológicas". Marina, por sua vez, diz que o Brasil, sob um eventual governo verde, deveria adora uma postura firme diante de violações dos direitos humanos e democráticos. "Nesse sentido, (o país) deve adotar, considerando sempre o princípio da não intervenção, uma postura crítica com relação a países que violem os direitos humanos e, ao contrário do que tem acontecido, o país não deve relativizar esses princípios em suas relações de estado".

A equipe de Dilma afirma que o atual governo manteve a "estabilidade macroeconômica, reduzindo nossa vulnerabilidade externa (...) num ambiente de aprofundamento da democracia". Contudo, não explica como poderia lidar com a questão dos direitos humanos em um eventual governo da petista. Deixa apenas uma certeza: não haverá mudanças em relação à atual política externa.

Vizinhança - Um ponto em comum entre as propostas de Serra, Marina e Dilma é relativa à integração regional. "Ao Brasil interessa que todos os seus vizinhos cresçam e prosperem. Como maior economia da região, o Brasil dará todo o apoio, de forma realista e sem arroubos de generosidade, para que esse objetivo seja alcançado", diz o texto do tucano. A campanha de Dilma explica que a candidata "seguirá valorizando uma agenda positiva com nossos vizinhos, promovendo a integração física, energética, produtiva, social e política da América do Sul".

Referindo-se especificamente aos destinos do Mercosul, Marina Silva propõe um comércio mais livre, justo e sustentável. "O Brasil deve ter um papel ativo na eliminação das barreiras e distorções que prejudicam o livre comércio. Para isso, deve se valer dos instrumentos que a globalização jurídica lhe oferece, seja no âmbito multilateral (OMC), seja no âmbito regional (Mercosul)", diz a proposta.

Serra promete continuar mantendo o apoio ao bloco, como processo que levará a uma crescente integração comercial dos países do Cone Sul, a médio e longo prazo. O tucano, porém, aponta que será preciso introduzir inovações no grupo. "Para beneficio de todos os países membros, contudo, algumas regras terão de ser flexibilizadas, permitindo que cada país possa negociar individualmente e que o mecanismo de solução de controvérsias seja efetivo". Dilma também apoia o aprofundamente do Mercosul. Mas afirma que, se eleita, trabalharia pelo avanço das negociações com União Européia e "outros blocos".

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Desafios brasileiros
Diplomacia brasileira: muitas embaixadas e afagos a ditadores
Revista Veja, 30/08/2010 - 20:49

[Foto] O chanceler Celso Amorim e o presidente Lula comemoram acordo assinado com o Irã, em maio de 2010 (AFP)

Sob a batuta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Ministério das Relações Exteriores inaugurou 62 representações diplomáticas e consulares pelo mundo - outras 17 estão em processo de abertura. Atualmente, o país conta com 212 postos. Muitos deles não têm qualquer relevância no cenário político e econômico internacional. Mas fazem parte de uma estratégia deste governo, que tem priorizado as relações com nações africanas e emergentes. Nos últimos oito anos, por exemplo, Lula visitou 27 nações da África, contra três de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Analistas acreditam que o método pode estar ligado ao desejo brasileiro de conseguir uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Uma segunda característica da política externa da atual gestão é a pretensão de mediar conflitos em regiões distantes. Em julho, o chanceler Celso Amorim foi ao Oriente Médio, onde envolveu-se em conversações sobre o processo de paz. Meses antes, palestinos e israelenses já haviam dispensado a intromissão brasileira no complicadíssimo conflito. O Irã também entrou na agenda brasileira. Na contra-mão do que pedia a comunidade internacional, o Brasil queimou parte sua credibilidade ao respaldar um acordo que pretendia garantir aos aiatolás o acesso a urânio enriquecido para fins medicinais. Nenhuma nação, exceto a Turquia, aceitou o tratado, que fracassou: os líderes mundiais sabem que o sonho do radical Mahmoud Ahmadinejad é destruir Israel - e o caminho para isso são as armas atômicas.

Em outro momento, Lula deixou de repreender o opressor governante iraniano em questões relacionadas aos direitos humanos. Foi o caso da condenação por apedrejamento da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, acusada de adultério. Esquivando-se de censurar publicamente o colega, Lula apenas ofereceu refúgio a Sakineh. Teerã se negou a entregá-la, dizendo que "não havia necessidade de criar problemas ao presidente brasileiro". Acrescentou ainda que "Lula tem um temperamento muito humano e emotivo e provavelmente não recebeu informações suficientes sobre este caso".

Não foi a primeira vez em que Lula preferiu afagar colegas ditadores a zelar pelos direitos humanos. Em fevereiro, o presidente recebeu uma carta de 50 dos 75 presos políticos cubanos detidos na onda de repressão que ficou conhecida como Primavera Negra. Os dissidentes pediam que o governo brasileiro advogasse em favor de sua libertação e, principalmente, falasse sobre a situação de Orlando Zapata, que estava em greve de fome havia mais de 80 dias. Nada disso foi feito. Zapata morreu. E Lula ainda comparou os perseguidos pelo regime castrista a criminosos comuns detidos em prisões brasileiras.

Além dos irmãos Castro e Ahmadinejad, Lula encerra o seu mandato com uma lista de pelo menos outros sete ditadores-amigos. O último agraciado com o título foi Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, presidente de Guiné Equatorial, durante visita oficial em julho. O conjunto da obra faz mal à imagem do Brasil.

Há ainda outras questões relevantes a discutir. É o caso dos rumos do comércio exterior. O Brasil deve seguir financiando projetos em nações vizinhas e até em Cuba? E os grandes acordos comerciais, devemos retomar negociações com blocos regionais? Qual a atual situação do Mercosul e também as suas perspectivas?

Este é um breve panorama das questões mais polêmicas ligadas à atual política externa do governo brasileiro. Durante esta semana, VEJA.com vai analisá-las, ouvindo especialistas e as campanhas presidenciais, para saber que linha o Itamaraty deve adotar no próximo governo. Você também pode participar, dizendo o que pensa sobre o assunto. Deixe sua opinião na área de comentários desta página e participe da enquete a seguir.
[http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/diplomacia-brasileira-muitas-embaixadas-e-afagos-a-ditadores]

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Pausa para um servico de utilidade pública...

Eu sempre me surpreendo com a inventividade do brasileiro. Mas como sou ingênuo: um país com tantos problemas, ainda consegue ser um país de otimistas incuráveis, dispostos a ratificar e confirmar tudo aquilo que provoca esses mesmos problemas é mesmo de surpreender qualquer um.
Não é que recebo, em minha caixa do site, uma oferta imperdível?
Dispenso a publicidade do nome e local, mas me permito citar por completo os serviços oferecidos, como a seguir:

Mensagem: Meu nome é [SICRANO DE TAL], sou consultor NOTÓRIO SABER EM NEGOCIAÇÃO DE DÍVIDAS, escritor e instrutor de palestras.
Venho apresentar proposta de parceria, você divulga aos seus clientes nosso livro e serviços, com base nos negócios fechados terá uma excelente participação.
Nossos serviços à disposição de são:
-Evitamos busca apreensão de veículos
-Reduzimos as prestações
-Garantimos acordos para quitação total do financiamento bastante favorável.
-Pendências com Bancos, Cartões de crédito, etc.
-Reduzimos os valores significativamente e baixamos serasa e spc legalmente.
-Cursos, palestras para funcionários de empresas que estão com problemas e sem rumo.
Aceitamos outras sugestões de parceria.
Positivamente,

[SICRANO DE TAL]
site, e-mail, etc...

Comovente a mensagem do cidadão de notório saber. Deve ser um discípulo de Rui Barbosa, no mínimo.
Enfim, parece esses anúncios que proclamam a solução de problemas com o Fisco, como veiculado na coluna de Carlos Brickmann:

Veja este anúncio que circula na Internet:
"Nome sujo? Por apenas R$ 50,00 você pode agora mesmo renovar seu CPF. Digite a palavra RELAMPAGO, para o e-mail xxxxxxxxxx@xxxx.com e tenha maiores informações".
O preço pode ser ainda mais baixo, conforme outro anúncio. "Está com o nome sujo? Então limpe ele em apenas 10 dias! Volte a usar cartões de crédito e talões de cheque! Pode voltar a pagar parcelado! Não tem que pagar sua dívida! Você NÃO precisa de advogados!" Sai por R$ 39. Polícia e Receita, com toda a certeza, também recebem essas mensagens. Mas parece que trabalhar cansa
.

Mas, quem é que precisa de serviços especializados para "arreglar" algumas coisas na Receita? Dispondo dos canais apropriados, a própria Receita faz o serviço...

A frase da semana, talvez da campanha eleitoral...

Sem fantasia

Chega de intermediários: em vez de perder aquele tempo todo na Internet, entregue sua declaração de imposto de renda ao petista mais próximo.
Carlos Brickmann, 3/09/2010
(Coluna de domingo, 5 de setembro)

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...