Um alto funcionário do setor nuclear brasileiro revelou-me, no ano passado, o teor de suas respostas a consultas de um pesquisador brasileiro em relações internacionais, consultando-me sobre um ou outro ponto de seu interesse. Desconheço se suas respostas foram publicadas, onde o foram, se eventualmente o foram e quanto disso tornou-se público.
Como o assunto parece ter evoluído, e como o governo brasileiro atual parece ter assumido outras atitudes -- embora os envolvidos, do governo passado, ainda teimem em defender suas posições --, o funcionário em questão autorizou-me a publicar suas respostas, enviadas em confiança.
Creio que elas refletem um conhecimento mais técnico, mas também político, das implicações do envolvimento do governo anterior com o governo iraniano e permitem detectar certas contradições nas posições de analistas (jornalistas, acadêmicos), que continuam a manter ilusões sobre a natureza exata do chamado "acordo iraniano".
A questão do programa nuclear iraniano
Funcionário governamental brasileiro do setor nuclear
1) Quais são os pontos positivos do acordo assinado entre Brasil, Irã e Turquia? E os negativos?
Em primeiro lugar, é preciso que fique bem claro que não se trata de um acordo, como a imprensa vem falando (alguns até falaram de “tratado internacional”, numa incompreensão manifesta do que sejam acordos ou tratados internacionais). Formalmente, se trata de uma simples declaração, como aliás expressamente mencionado no ato assinado pelos três ministros das relações exteriores: “Tendo-se reunido em Teerã em 17 de maio, os mandatários abaixo assinados acordaram a seguinte Declaração”. É surpreendente, assim, que jornalistas e analistas políticos continuem a falar em acordo. Pela sua forma e, sobretudo, pelo seu teor trata-se, pura e simplesmente, de uma espécie de “nota trilateral unilateral”, entendendo-se por isso uma declaração que os três ministros oferecem ao mundo num gesto de boa vontade, que serve mais para enganar os incautos, e todos aqueles propensos a acreditar em tudo o que certos dirigentes proclamam, do que para resolver de fato a questão.
Como ponto positivo, não vejo absolutamente nenhum, pois para isso teria de ter havido progressos em relação aos entendimentos que os países 5+1 vinham mantendo desde muito tempo com o Irã, e até aqui sem qualquer resultado prático. A declaração – que diz claramente que se trata de um “ponto de partida”, mera peça de papel destinada a criar a “oportunidade de começar um processo prospectivo, que criará uma atmosfera positiva, construtiva, não-confrontacional” – representa, num certo sentido, um retrocesso, já que ela remete vagamente a novas etapas de consultas e negociações para o que é um processo já suficientemente mapeado em seus contornos básicos: a necessidade de o Irã submeter o seu programa nuclear, em sua integralidade, aos controles da AIEA. Ora, o pretenso “acordo”, de fato uma declaração puramente retórica, em nenhum momento toca nessa questão crucial.
A declaração apresenta, portanto, diversos pontos negativos; pode-se dizer que ela constitui uma completa e rotunda manifestação de fracasso: o Irã continua a tergiversar em torno de seu programa nuclear, e os dois países que desempenharam esse patético papel de patrocinadores de uma operação “engana-ingênuos” se prestaram a ser manipulados por um regime que vem se colocando, por suas próprias ações, à margem da comunidade internacional. O que é preciso acrescentar, também, é que jornalistas brasileiros não sabem ler declarações, e muito menos interpretá-las.
2) Como tal negociação se insere na política externa do governo Lula?
Falar de negociação seria dar muita relevância ao que constitui, tão simplesmente, mais uma operação de pirotecnia externa de um governo que tem uma necessidade obsessiva de buscar os holofotes da mídia mundial, tão somente para construir uma falsa imagem de líder internacional para o presidente Lula. Como no caso de outras operações do gênero, de tão triste registro nos anais da diplomacia brasileira, se trata de uma cortina de fumaça em torno do nada, pois nenhum resultado concreto foi obtido, a não ser a vaga promessa de troca de combustível por urânio enriquecido, a ser hipoteticamente detalhada em eventuais negociações ulteriores.
Assim ocorreu com outras proezas antecipadas por esse governo – ingresso do Brasil no Conselho de Segurança, integração da América do Sul e conclusão das negociações comerciais multilaterais – que da mesma forma redundaram no mais completo fracasso. É lamentável ver o Brasil democrático dar seu apoio a regimes autoritários na região, como o dos irmãos Castro (aliás, um dos últimos totalitarismos remanescentes no planeta), à ditadura nascente do bufão de Caracas, para nada dizer da inacreditável solidariedade com o personalismo caudilhista de Evo Morales, que expropria investimentos brasileiros na Bolívia e é pelo menos conivente com o envio de toneladas de coca de seu país ao Brasil; sem mencionar Sudão e Coréia do Norte.
De forma geral, este governo está pronto a dar sua aprovação a qualquer gesto gratuito de ofensa aos Estados Unidos por parte dos piores regimes do planeta, por que isto faz parte de sua natureza primária, de sua essência. Não se trata do antiamericanismo “normal” do Itamaraty, que sempre foi naturalmente antiamericano, mas moderadamente; se trata do antiamericanismo exacerbado do PT e de seus patéticos seguidores no Itamaraty. Tem sido assim na região, onde sistematicamente estão sendo criados organismos que excluem expressamente os EUA de qualquer papel significativo na cooperação regional; agora se pretende também estender as mesmas posições no plano universal, em iniciativas de tal dimensão megalomaníaca que não encontram paralelos na história precedente de nossa diplomacia.
3) Por que os EUA se mostraram insatisfeitos com tal acordo? Quais os interesses secundários por de trás?
Os Estados Unidos de Obama, depois de alguma ilusão com a retórica aparentemente amistosa do Itamaraty, se deram conta do verdadeiro sentido da ação diplomática do Brasil. Em primeiro lugar, não cabe falar de “acordo”, como já explicitado acima. A declaração de Teheran, imediatamente saudada pelos seus próprios promotores como uma vitória da diplomacia – e inacreditavelmente acolhida pela imprensa mundial como uma nova era nas relações mundiais de poder, como sendo a da emergência das potências médias – teve seu conteúdo corretamente avaliado pelas principais potências ocidentais, que focaram o que ficou obscurecido no pretenso “acordo”. O essencial do dossiê iraniano se refere ao programa nuclear desse país, que as principais potências garantidoras do TNP suspeitam de ter objetivos militares, questão ainda não suficientemente esclarecida. Mas o fato, corretamente percebido pelos EUA e demais países, é que o pretenso “acordo” de Teheran não toca absolutamente nesses aspectos, e não oferece nenhuma garantia quanto ao que essas potências garantidoras do TNP demandam desde o início: a supervisão integral das atividades de enriquecimento de urânio do Irã pela AIEA, de conformidade com as disposições aplicáveis em casos similares.
Se por “interesses secundários” se entende a preocupação dessas potências com a proliferação nuclear, pode-se dizer que, efetivamente, esses são os interesses por trás das pressões que são feitas desde muitos anos em relação às atividades nucleares do Irã. Conhecendo-se o perfil dos dirigentes políticos iranianos, pode-se dizer que esses interesses, primários, no caso, e essas preocupações são perfeitamente legítimos e justificados.
4) Não é legítimo o enriquecimento de urânio iraniana para fins pacíficos? Existem violações ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear para tamanho receio dos EUA e outros países?
Há uma pressuposição ingênua – aliás comprada pelo seu valor face pelo Brasil e por grande parte da imprensa brasileira – de que o programa iraniano se destina a fins inteiramente pacíficos. Se este é o caso, por que então o país persa se empenha, desde longos anos, num jogo de gato e rato com a AIEA? A violações começam justamente pela indisponibilidade de submeter o conjunto de suas instalações, equipamentos e estoques de material aos controles da AIEA. Não por outra razão o Conselho de Segurança da ONU já aprovou resoluções tendentes a enquadrar o Irã no regime normal de não-proliferação, mas o país se recusa a colaborar com os procedimentos aplicáveis ao caso. Atividades de enriquecimento legítimo não precisam recorrer aos subterfúgios que caracterizam o Irã.
5) Existem de fato duas linhas de política externa diferentes postas em contraposição? A do dá ou desce e a da negociação?
Os termos usados pelo presidente são tão vulgares, e chulos, que não merecem qualquer comentário. A única coisa que poderia ser dita, justamente, é que as potências garantidoras do TNP vêm tentando a via da negociação, até agora sem sucesso, desde o início desse processo. O entendimento primário que o presidente mantém sobre procedimentos de política externa o fazem interpretar o mundo com essa visão maniqueísta, que na verdade apenas revela o antiamericanismo elementar que caracteriza toda a sua diplomacia.
6) A imagem do Estado brasileiro realmente se desgastou com o episódio? A ONU não sinalizou que aprova a iniciativa trilateral?
Não propriamente a do Estado brasileiro, mas certamente a da diplomacia de Lula, crescentemente identificada com o apoio insensato a regimes pouco palatáveis em diversas regiões do globo. O ridículo ativismo bolivariano no caso patético de Honduras – onde rompemos diversas tradições de nossa diplomacia, a começar pelo princípio da não-intervenção – e a inaceitável solidariedade com a ditadura castrista – em face das flagrantes violações aos direitos humanos que ocorrem num dos dois últimos totalitarismos comunistas ainda remanescentes no mundo – são apenas dois exemplos de uma diplomacia deplorável para os padrões profissionais a que estávamos acostumados no Itamaraty. Isso é o resultado do seqüestro do Itamaraty pelos interesses partidários do PT e seus instintos primários, em nítida contradição com os interesses permanentes do Brasil.
Quanto à ONU, ela ainda não se pronunciou formalmente sobre o pretenso “acordo” de Teheran. O que ocorreu foi um apoio inicial do Secretário Geral da ONU, Ban Ki Moon, provavelmente mal assessorado, ao princípio das negociações com o Irã, o que aliás os países vem conduzindo desde o início, contra a manifesta má vontade do regime iraniano.
7) Não se está dando mais importância para os agentes envolvidos do que para o próprio teor do acordo? No que se refere ao conteúdo do documento: ele é eficiente tendo em vista que apenas uma quantidade limitada de urânio será enriquecida na Turquia? E o resto que continua no território iraniano?
Esse é um ponto importante, mas os observadores ainda não parecem ter se dado conta desse aspecto: está sendo mais importância à ação diplomática do Brasil e da Turquia – que são meros intermediários para uma determinada finalidade – do que o conteúdo mesmo do assunto em causa: o programa nuclear do Irã, que resta largamente obscurecido pelas suas manobras diversionistas e obstrucionistas. É inacreditável que a diplomacia brasileira tenha se prestado ao papel de linha auxiliar de um regime que já demonstrou seu nítido desprezo pelos direitos humanos, pelas liberdades democráticas e pelo cumprimento de suas obrigações internacionais.
Quanto à operação em si, é claro que desde a oferta feita em outubro de 2009, o Irã acumulou uma quantidade superior de material nuclear do que aquela que seria supostamente colocada sob a responsabilidade da Turquia, segundo modalidades pouco claras, aliás, o que permitiria ao Irã retroceder nos supostos compromissos assumidos ao abrigo de uma declaração vaga e desprovida de qualquer mecanismo de verificação. Toda a operação, aliás, revela um amadorismo diplomático que não combina absolutamente com as tradições diplomáticas do Brasil.
8) Quais são as perspectivas futuras desta questão geopolítica?
Difícil dizer, nesta fase, mas é evidente que o Irã construiu, para si mesmo, um difícil contencioso com a comunidade internacional que pode ter desdobramentos imprevisíveis nos meses à frente. De imediato, o Irã está encaminhando o Oriente Médio em direção de uma competição nuclear que é notoriamente prejudicial aos objetivos de paz e de segurança internacionais, que devem ser defendidos por todos os países comprometidos com princípios basilares da Carta da ONU. É lamentável que a diplomacia brasileira não esteja atentando para esses aspectos potencialmente desestabilizadores da aventura nuclear iraniana, e que ela continue a emprestar seu apoio a um regime problemático desse ponto de vista.
9) Israel atacou uma embarcação com fins humanitários em alto mar. Como isto se encaixa à discussão? Fala-se que Israel possuem diversas bombas atômicas. Por que também não passa pelas mesmas pressões que o Irã? Caso seja por que não assinou o Tratado de Não-Proliferação, o que ocorreria caso o Irã denunciasse este mesmo Tratado?
O infeliz episódio do ataque israelense a barcos de uma pretensa “flotilha da liberdade” – na verdade, de militantes pró-Hamas, ou manipulados por esse movimento terrorista – não tem nada a ver com o dossiê nuclear iraniano, a não ser muito indiretamente e circunstancialmente. Israel possui, obviamente, uma capacidade nuclear, ainda que seus contornos exatos permaneçam indefinidos. Não foi Israel, contudo, que prometeu obliterar do mapa do Oriente Médio um outro Estado e sim o regime iraniano. A capacitação nuclear israelense tem, nitidamente, propósitos dissuasivos e defensivos, e Israel jamais ameaçou qualquer país vizinho com uma guerra nuclear; apenas alertou que se defenderia por todos os meios disponíveis de um ataque que colocaria em risco sua existência como Estado independente e pacífico. Não sendo signatário do TNP, Israel não tem, formalmente, de cumprir com suas obrigações, às quais se obrigou o Irã (e não vem cumprindo).
O Irã, como qualquer outro Estado soberano da comunidade internacional, tem todo o direito de denunciar e de retirar-se de qualquer tratado a que tenha aposto sua assinatura, inclusive o TNP e seu estatuto de membro da AIEA. A Coréia do Norte fez justamente isso, e se transformou em pária da comunidade internacional. Com o Irã ocorreria provavelmente o mesmo, com o elemento adicional disso servir para deslanchar uma provável corrida armamentista na região, com possíveis desdobramentos nucleares (legais e ilegais), que não contribuiriam em nada para os objetivos de estabilidade e de paz na região e de segurança estratégica, num contexto mais amplo. Todos os Estados responsáveis e os países amantes da paz deveriam estar conscientes desse fato. É lamentável que a atual diplomacia partidária do Brasil não atente para esse lado da questão: ou é muita ingenuidade, ou é má-fé; em ambos os casos, é deplorável do ponto de vista de nossas tradições diplomáticas. Como diplomata profissional, tenho vergonha de nossa atual diplomacia; acho que ela vai deixar uma herança muito negativa nos anos à frente. Será muito difícil reconstruir a confiança nas características impecáveis de nossa diplomacia antes desse governo. Na prática, o PT, com a conivência de alguns chefes do Itamaraty, a colocou ao duplo serviço de seus obscuros interesses partidários e aos de uma ideologia anacrônica.
3 de junho de 2010.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
sábado, 23 de abril de 2011
Politica Externa Brasileira: antecipando as mudancas (um texto de 2010)
O texto que segue abaixo foi elaborado em Shanghai, em setembro de 2010, sob solicitação externa, e nele tentei ser moderado em relação aos absurdos visíveis que se cometiam na política t do Brasil nessa época: amizades e intimidades com ditadores e violadores dos direitos humanos, intervenção nos assuntos internos de outros países, desejos megalomaníacos de grandeza, enfim, toda sorte de despautérios que necessitavam de correção.
Minha única virtude foi a de anunciar que essas mudanças viriam...
Paulo Roberto de Almeida
O legado de Lula em política externa: corrigir as amizades bizarras
Paulo Roberto de Almeida
Shanghai, 16 setembro 2010
Ao cabo dos dois mandatos de Lula, a posição do Brasil no cenário internacional se encontra realçada. Saber quanto desse prestígio é devido à sua diplomacia, qual é o efeito da ascensão geral dos emergentes, ou quanto pode ser atribuído ao próprio país, enquanto economia estabilizada com base na política econômica do governo anterior de FHC, são dúvidas legítimas na avaliação desse legado na frente externa.
Numa linguagem coloquial, pode-se dizer que a diplomacia de Lula teve bem mais transpiração do que inspiração, registrando-se a preeminência da forma – o hiperativismo presidencial, feito de incontáveis viagens ao exterior – sobre a substância, ou seja, resultados efetivos da agitação. Olhando-se por esse lado, a constatação que se faz é a de muitos dossiês abertos e poucos sucessos alcançados.
As prioridades externas de Lula podem ser alinhadas em três conjuntos de objetivos: (a) a conquista de um assento permanente para o Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas; (b) o reforço, a consolidação e ampliação do Mercosul; (c) a conclusão da Rodada Doha da OMC e a “correção de rumo” nas negociações do projeto americano da Alca.
Ora, com exceção da “implosão da Alca” – que era, digamos, uma meta “negativa” – nenhum dos demais objetivos foi alcançado, sequer de modo parcial. É certo que o prestígio internacional do Brasil e sua audiência internacional cresceram no período, mas isso se deu sobretudo em função da preservação da estabilidade macroeconômica e da ausência dos equívocos econômicos de tipo populista cometidos por outros governos na região.
Algo dos fracassos pode ser atribuído às concepções partidárias, equivocadas, do PT, e impostas ao Itamaraty, sobretudo no caso, inexplicável, dos recuos em direitos humanos, das estranhas amizades com personagens de regimes pouco freqüentáveis no plano internacional ou da prevalência de critérios ideológicos nas preferências políticas externas. Em diversas ocasiões, o próprio presidente manifestou seu apoio político a candidatos de esquerda em eleições na região, o que rompe com a tradição brasileira de não ingerência nos assuntos internos de outros países. Outra manifestação indevida da mesma tendência foi a clara tomada de posição no caso da crise política em Honduras, quando o Brasil ficou caudatário das posições chavistas no imbróglio. O próximo governo, qualquer que seja ele, precisaria restabelecer os fundamentos profissionais, e não partidários, da diplomacia brasileira.
Shanghai, 16 setembro 2010
Publicado como “Corrigir amizades bizarras internacionais é desafio”, no portal iG, Último Segundo, “Era Lula e os Desafios de Dilma” (2/12/2010; link: http://ultimosegundo.ig.com.br/governolula/artigo+corrigir+amizades+bizarras+internacionais+e+desafio/n1237826574910.html).
Minha única virtude foi a de anunciar que essas mudanças viriam...
Paulo Roberto de Almeida
O legado de Lula em política externa: corrigir as amizades bizarras
Paulo Roberto de Almeida
Shanghai, 16 setembro 2010
Ao cabo dos dois mandatos de Lula, a posição do Brasil no cenário internacional se encontra realçada. Saber quanto desse prestígio é devido à sua diplomacia, qual é o efeito da ascensão geral dos emergentes, ou quanto pode ser atribuído ao próprio país, enquanto economia estabilizada com base na política econômica do governo anterior de FHC, são dúvidas legítimas na avaliação desse legado na frente externa.
Numa linguagem coloquial, pode-se dizer que a diplomacia de Lula teve bem mais transpiração do que inspiração, registrando-se a preeminência da forma – o hiperativismo presidencial, feito de incontáveis viagens ao exterior – sobre a substância, ou seja, resultados efetivos da agitação. Olhando-se por esse lado, a constatação que se faz é a de muitos dossiês abertos e poucos sucessos alcançados.
As prioridades externas de Lula podem ser alinhadas em três conjuntos de objetivos: (a) a conquista de um assento permanente para o Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas; (b) o reforço, a consolidação e ampliação do Mercosul; (c) a conclusão da Rodada Doha da OMC e a “correção de rumo” nas negociações do projeto americano da Alca.
Ora, com exceção da “implosão da Alca” – que era, digamos, uma meta “negativa” – nenhum dos demais objetivos foi alcançado, sequer de modo parcial. É certo que o prestígio internacional do Brasil e sua audiência internacional cresceram no período, mas isso se deu sobretudo em função da preservação da estabilidade macroeconômica e da ausência dos equívocos econômicos de tipo populista cometidos por outros governos na região.
Algo dos fracassos pode ser atribuído às concepções partidárias, equivocadas, do PT, e impostas ao Itamaraty, sobretudo no caso, inexplicável, dos recuos em direitos humanos, das estranhas amizades com personagens de regimes pouco freqüentáveis no plano internacional ou da prevalência de critérios ideológicos nas preferências políticas externas. Em diversas ocasiões, o próprio presidente manifestou seu apoio político a candidatos de esquerda em eleições na região, o que rompe com a tradição brasileira de não ingerência nos assuntos internos de outros países. Outra manifestação indevida da mesma tendência foi a clara tomada de posição no caso da crise política em Honduras, quando o Brasil ficou caudatário das posições chavistas no imbróglio. O próximo governo, qualquer que seja ele, precisaria restabelecer os fundamentos profissionais, e não partidários, da diplomacia brasileira.
Shanghai, 16 setembro 2010
Publicado como “Corrigir amizades bizarras internacionais é desafio”, no portal iG, Último Segundo, “Era Lula e os Desafios de Dilma” (2/12/2010; link: http://ultimosegundo.ig.com.br/governolula/artigo+corrigir+amizades+bizarras+internacionais+e+desafio/n1237826574910.html).
sexta-feira, 22 de abril de 2011
Academicos escrevem sobre politica externa (grande bocejo...)
Sempre me pergunto o que pensam os acadêmicos. Acho que pensam muito e mas sua reflexão é sempre carente de algum elemento mais consistente. Aliás, como as próprias políticas brasileiras, internas e externa. Improvisação é o nosso forte, ao contrário do que pensam muitos vizinhos.
Não creio, por exemplo, que o Itamaraty está à deriva. O governo certamente sim, mas o Itamaraty é profissional. Apenas que ele necessita refletir os "impulsos" -- este é o conceito -- de um governo que não sabe bem o que quer, ou se sabe, não pensou ainda em como obter.
Nossos principais problemas estão aqui no Brasil, não lá fora. Mas isso, nem o governo, nem os acadêmicos parecem ter percebido.
Um dia chega, talvez tarde...
Paulo Roberto de Almeida
TENDÊNCIAS/DEBATES
Itamaraty não pode ficar à deriva
MARCELO COUTINHO
Folha de São Paulo, sexta-feira, 22 de abril de 2011
O Itamaraty já entendeu que estamos em uma transição de poder no mundo, mas se enganou quanto ao estágio dessa transição e seus efeitos
Virou lugar-comum no governo classificar a atual fase da política externa de "consolidação". Ideia sem sentido. Afinal, em matéria de direitos humanos houve sensíveis mudanças, felizmente para o bem.
O governo Lula aproximou-se de ditadores que Dilma agora censura.
Mesmo com essa modificação, parte do mundo passou a olhar com desconfiança para o Brasil nessa matéria, levando inclusive a OEA a interferir em assuntos internos, como a construção de Belo Monte, e com isso estabelecer uma crise.
Se, por um lado, o elemento de descontinuidade na diplomacia é motivo de comemoração, por outro, não apaga marcas e salienta um aspecto variável preocupante da política externa brasileira. Tais mudanças indicam que o Itamaraty nem sempre dispõe de bons cenários de referência.
No mundo árabe, por exemplo, o governo buscou identificação com velhos regimes autoritários. Investimos anos em relações acríticas, chegando mal a uma região em fim de ciclo político. Mais uma vez atrás dos acontecimentos, Brasília assistiu o desenrolar do maior processo histórico dos últimos 20 anos.
As alterações periódicas em nosso relacionamento internacional, mesmo as que corrigem erros, retiram força da política externa brasileira. Leva-se menos a sério um país que oscila a cada troca presidencial e apresenta uma política de interregno, ziguezagueando entre "realpolitik" e liberalismo.
O Itamaraty já entendeu que estamos em uma transição de poder no mundo. Mas se enganou quanto ao estágio dessa transição e seus efeitos. Além disso, confundiu uma interessante posição de centro flexível no espectro político com um vaivém improdutivo.
Estressamos relações com os EUA para apaziguá-las sobre bases indefinidas. A China é concorrente industrial e, simultaneamente, a maior parceira. Depois dos Rafales franceses, piscamos para os caças americanos, não nos dando conta de que ambos são da Otan, de cujas pretensões no Atlântico Sul o próprio governo suspeita. Os russos são dos Brics, mas, por algum motivo, não podemos cogitar seus aviões de combate.
Embora tenha perdido importância, a visita de Obama serviu para restabelecer um canal mais aberto de diálogo entre a Casa Branca e o Palácio do Planalto. Foi uma massagem ao ego brasileiro. Insuficiente, mas não desprezível.
Obama cedeu um meio apoio ao Brasil para a vaga fixa no Conselho de Segurança da ONU. Menos do que o necessário. "Apreço pela aspiração brasileira" pode significar apenas que os EUA admiram a vontade do país em assumir responsabilidades. O pronunciamento chinês de apoio foi quase tão vago.
Ninguém imagina que uma reforma que amplie o principal foro de decisões mundiais poderá deixar o Brasil de fora. A governança global precisará refletir o novo conjunto de forças internacionais também nas questões de guerra e paz.
Cabe a nós mantermos firmeza.
Sem maiores conflitos no Pacífico, Washington segue como ator-chave no sistema internacional.
Sua influência hemisférica é grande e representa, até certo ponto, desafio à ascensão brasileira, cuja perícia diplomática consistirá em abrir condições políticas à acomodação externa do nosso crescimento. Para o país que deseja ser tratado como igual pelos EUA, a inconstância não é bom negócio.
O Itamaraty vive pressões pendulares, ora para o Ocidente rico, ora para os países em desenvolvimento. Nós não podemos ficar à deriva, levados por correntes para o Norte e para o Sul.
MARCELO COUTINHO, professor de relações internacionais da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro ) e do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), é coordenador do Laboratório de Estudos da América Latina (Leal).
Não creio, por exemplo, que o Itamaraty está à deriva. O governo certamente sim, mas o Itamaraty é profissional. Apenas que ele necessita refletir os "impulsos" -- este é o conceito -- de um governo que não sabe bem o que quer, ou se sabe, não pensou ainda em como obter.
Nossos principais problemas estão aqui no Brasil, não lá fora. Mas isso, nem o governo, nem os acadêmicos parecem ter percebido.
Um dia chega, talvez tarde...
Paulo Roberto de Almeida
TENDÊNCIAS/DEBATES
Itamaraty não pode ficar à deriva
MARCELO COUTINHO
Folha de São Paulo, sexta-feira, 22 de abril de 2011
O Itamaraty já entendeu que estamos em uma transição de poder no mundo, mas se enganou quanto ao estágio dessa transição e seus efeitos
Virou lugar-comum no governo classificar a atual fase da política externa de "consolidação". Ideia sem sentido. Afinal, em matéria de direitos humanos houve sensíveis mudanças, felizmente para o bem.
O governo Lula aproximou-se de ditadores que Dilma agora censura.
Mesmo com essa modificação, parte do mundo passou a olhar com desconfiança para o Brasil nessa matéria, levando inclusive a OEA a interferir em assuntos internos, como a construção de Belo Monte, e com isso estabelecer uma crise.
Se, por um lado, o elemento de descontinuidade na diplomacia é motivo de comemoração, por outro, não apaga marcas e salienta um aspecto variável preocupante da política externa brasileira. Tais mudanças indicam que o Itamaraty nem sempre dispõe de bons cenários de referência.
No mundo árabe, por exemplo, o governo buscou identificação com velhos regimes autoritários. Investimos anos em relações acríticas, chegando mal a uma região em fim de ciclo político. Mais uma vez atrás dos acontecimentos, Brasília assistiu o desenrolar do maior processo histórico dos últimos 20 anos.
As alterações periódicas em nosso relacionamento internacional, mesmo as que corrigem erros, retiram força da política externa brasileira. Leva-se menos a sério um país que oscila a cada troca presidencial e apresenta uma política de interregno, ziguezagueando entre "realpolitik" e liberalismo.
O Itamaraty já entendeu que estamos em uma transição de poder no mundo. Mas se enganou quanto ao estágio dessa transição e seus efeitos. Além disso, confundiu uma interessante posição de centro flexível no espectro político com um vaivém improdutivo.
Estressamos relações com os EUA para apaziguá-las sobre bases indefinidas. A China é concorrente industrial e, simultaneamente, a maior parceira. Depois dos Rafales franceses, piscamos para os caças americanos, não nos dando conta de que ambos são da Otan, de cujas pretensões no Atlântico Sul o próprio governo suspeita. Os russos são dos Brics, mas, por algum motivo, não podemos cogitar seus aviões de combate.
Embora tenha perdido importância, a visita de Obama serviu para restabelecer um canal mais aberto de diálogo entre a Casa Branca e o Palácio do Planalto. Foi uma massagem ao ego brasileiro. Insuficiente, mas não desprezível.
Obama cedeu um meio apoio ao Brasil para a vaga fixa no Conselho de Segurança da ONU. Menos do que o necessário. "Apreço pela aspiração brasileira" pode significar apenas que os EUA admiram a vontade do país em assumir responsabilidades. O pronunciamento chinês de apoio foi quase tão vago.
Ninguém imagina que uma reforma que amplie o principal foro de decisões mundiais poderá deixar o Brasil de fora. A governança global precisará refletir o novo conjunto de forças internacionais também nas questões de guerra e paz.
Cabe a nós mantermos firmeza.
Sem maiores conflitos no Pacífico, Washington segue como ator-chave no sistema internacional.
Sua influência hemisférica é grande e representa, até certo ponto, desafio à ascensão brasileira, cuja perícia diplomática consistirá em abrir condições políticas à acomodação externa do nosso crescimento. Para o país que deseja ser tratado como igual pelos EUA, a inconstância não é bom negócio.
O Itamaraty vive pressões pendulares, ora para o Ocidente rico, ora para os países em desenvolvimento. Nós não podemos ficar à deriva, levados por correntes para o Norte e para o Sul.
MARCELO COUTINHO, professor de relações internacionais da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro ) e do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), é coordenador do Laboratório de Estudos da América Latina (Leal).
Terceira carta aos leitores do blog Diplomatizzando (uau: 355!)
Terceira carta aos leitores do blog Diplomatizzando
Paulo Roberto de Almeida
Meus caros leitores (agora em número de 355 seguidores),
Escrevo muito, eu sei. Nem sempre dirigido a alguém em particular, geralmente textos de caráter impessoal, de cunho acadêmico, de análises políticas ou econômicas, frequentemente críticas, algumas ácidas, em face do que observo no Brasil (e no resto do mundo). Sim, sou um leitor compulsivo, o que é um vício adquirido na primeira infância e do qual não consigo me redimir (nem quero). Sei que por vezes isto é um incômodo (quando estou dirigindo, por exemplo, fica difícil continuar as leituras, mas aí estou com as notícias no rádio), mas carrego esta sina com bom humor e ótima disposição.
Sempre estou pensando em algo (obviamente), quero dizer, em coisas novas, diferentes, sobretudo quanto não tenho nada para fazer, o que é raro, como vocês podem adivinhar, mas também acontece: quando estou embaixo da ducha (alguns minutos apenas, hélas, mas confesso que gostaria de ficar mais), quando estou passeando com os cachorros (quase uma hora, noite adentro), ou quando vou dormir (e o sono pode durar uma infinidade para me abater, dependendo justamente do que estou “pensando”, ou arquitetando).
Quando não estou lendo, me deslocando, trabalhando, fazendo compras, ou comendo, estou escrevendo, invariavelmente, ou num dos meus dois caderninhos de bolso (um pequeno para o bolso da camisa, outro médio, no bolso do paletó), ou num dos três ou quatro computadores nos quais trabalho alternadamente (sim, preciso reduzir o número, pois a bagunça nos arquivos tende a crescer). Depois que escrevo, publico, e cada vez mais – não por decisão minha, mas por demandas externas – publico sob encomenda, em colunas regulares, o que não é, esclareço, minha preferência pessoal (como não sei dizer não, acabam abusando da minha boa vontade). Gosto mesmo de escrever ao léu, por impulso do momento, os temas que decido, na perspectiva que prefiro, com os argumentos que defendo.
Como já escrevi em outros trabalhos, meu único critério na escrita, ou na argumentação oral, é o da honestidade intelectual, que significa mais ou menos o seguinte: procure coletar todas as fontes de informação sobre um determinado assunto a que você pode ter acesso pelas vias normais (e elas são infinitas, hoje em dia); leia tudo cuidadosamente; coloque todas essas informações nos seus devidos contextos (histórico, ambiental, geopolítico, econômico, relacional, etc.); reflita seriamente sobre as implicações de tudo isso para o Brasil, para o mundo, para você mesmo; ordene seus pensamentos segundo prioridades muito simples, que o ajudem a oferecer soluções para determinados problemas da sociedade, do Brasil e do mundo, em função daquilo que é relevante em nosso mundinho meio desconjuntado: economia de meios, boa relação de custos e benefícios, utilidade para o maior número, melhoria das condições de vida (material ou espiritual) das “populações” implicadas (que, por vezes, podem ser uma só pessoa); por fim, tente antecipar as consequências de seus atos, pois que sempre existem efeitos (por ação ou omissão) daquilo que fazemos ou deixamos de fazer.
Estes são meus critérios – aqui um pouco mais elaborados ou racionalizados do que o que de verdade acontece na vida prática, sempre mais bagunçada, claro – e é em função deles que escrevo e publico o que penso, sem pensar em agradar ninguém, e sem esconder de ninguém o que realmente penso. Confesso que tenho certa alergia à burrice – deve ser um defeito de quem leu muito e continua a ler exageradamente, e que acha que ninguém tem do direito de ser ignorante, já que as informações estão livremente disponíveis, mas também sei que a maior parte da humanidade tem preguiça e não lê quase nada, assumindo passivamente o que entra pela televisão aberta – mas confesso que também tenho, e em grau infinitamente maior, desprezo pela desonestidade intelectual, o que infelizmente encontro sempre pela frente: geralmente nos políticos, mas também entre colegas de academia, que não teriam o “direito” (penso eu) de ignorar os dados da realidade para defender ideias idiotas e propostas nocivas para a sociedade.
Sou intolerante, apenas nesses casos, tolerando na maior parte das vezes erros e equívocos que emergem da falta de estudos e de reflexões (já que, afinal de contas, ninguém tem a obrigação de ser intelectual). Mas, e aqui creio fazer a minha parte, sempre procuro diminuir o quantum de equívocos que existe na humanidade (e ele é enorme, obviamente), contribuindo da melhor forma possível para o que eu chamo de obra de “elevação espiritual da humanidade” – pelo menos neste cantinho de mundo que é o meu – escrevendo e divulgando o que é fruto de minhas leituras e experiências de vida. Este é o sentido deste blog e por isso creio que tenho o dever e prestar contas aos meus leitores, que são vocês aqui presentes, e aos quais sou grato pela vigilância demonstrada nos muitos comentários que recebi, direta e indiretamente (nem todos publicados), nos pedidos de ajuda para estudo ou trabalhos, nas simples mensagens de solidariedade, de cumprimentos, de críticas. Sem leitores, não existiriam escritores, e eu sou devedor, em primeiro lugar a todos os que me lêem.
Escrevi uma primeira carta aos leitores deste blog em Shanghai, em setembro de 2010, quando eles eram apenas pouco mais de duas centenas, para dizer-lhes, justamente, de meus deveres para com eles (vejam aqui, neste link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/09/aos-leitores-deste-blog-conversa-tete.html). Pouco depois, em Kyoto, em outubro do mesmo ano, eu dava continuidade ao diálogo com os seguidores e leitores deste blog, discutindo as reações de alguns comentaristas, e prometendo escrever mais (vejam este link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/10/segunda-carta-aos-leitores-do-blog.html). Não o fiz, pois viajei, me reinstalei, e só agora acabei recebendo minha mudança da China – duas enormes burocracias no meio – e pude retomar algumas leituras interrompidas então.
Enfim, esta terceira carta não tem muito a ver com as duas primeiras, embora represente uma continuidade do diálogo, num momento em que “meus” leitores aparentemente chegaram à marca dos 355 seguidores (talvez mais, talvez menos, dependendo de quem acesso, quem repassa, quem lê e como lê). Não creio que eles me devam qualquer explicação sobre os motivos pelos quais seguem este blog (alguns por razões talvez inconfessáveis, a maior parte por real interesse, suponho), mas esse simples fato, objetivo, me faz refletir que também tenho certas responsabilidades para com todos esses leitores, curiosos, passantes, navegantes, interessados e críticos de ocasião.
A minha primeira responsabilidade seria a de não decepcionar os leitores, entregando-lhes gato por lebre, como se diz. A segunda é a de preservar o padrão e os princípios que me motivam a ler, estudar, refletir, escrever e publicar, entre esses princípios o primordial e já referido da honestidade intelectual. O blog representa para mim uma espécie de divertissement intelectual, ou seja, nada de muito sério que me distrai de minhas ocupações principais – no plano profissional e acadêmico – e que se refletem em meus trabalhos mais “sérios” – geralmente coletados em meu site pessoal, www.pralmeida.org, salvo copyright de algum editor comercial – mas ainda assim material sério de informação e alguma coisa para divertir, no meio de tanta tragédia e misérias humanas.
Como disse, leio muito – praticamente todos os grandes jornais diários de maior importância internacional, as principais revistas, e dezenas de outros sites, blogs e arquivos que, remetidos por entidades ou correspondentes pessoais, ocorrem de cair sob a minha lupa implacável – e procuro socializar minhas leituras mais interessantes (algum besteirol também, que ninguém é de ferro) com meus leitores e passantes ocasionais. O resultado deve ser satisfatório, pois o número de “assinantes” deste serviço não pago (mas que me dá muito trabalho) tem aumentado regularmente. Amigos já me recomendaram deixar tudo isto de lado, para me concentrar no que é essencial: terminar dois ou três livros de pesquisa que estão no meu pipeline há algum tempo, e fazer coisas mais sérias do que responder a aluninhos em busca de alguma “facilidade universitária”.
Talvez faça isso, no que certamente vou decepcionar alguns leitores, mas de fato preciso me concentrar no que é essencial, e naquilo que apenas eu poderia fazer, que é produzir trabalhos originais com a profundidade que meus estudos e pesquisas me permitem fazer, exclusivamente. Fazer blog, divulgar matérias de imprensa, precedidos, ou não, de comentários inteligentes, isso qualquer um pode fazer, o que me leva às recomendações smithnianas sobre a divisão social do trabalho: eu deveria me concentrar naquilo que apenas eu posso fazer, usando todas as minhas vantagens absolutas e relativas, estas ricardianas...
Que seja!
Em todo caso, gostaria de desejar boa Páscoa a todos os meus leitores – uma oportunidade para se empanturrar de chocolate e para mergulhar em mais leituras e escritos – e dizer que vou tentar moderar minha frequência neste espaço, para liberar mais tempo para coisas um pouco mais profundas e que exigem maior dedicação e empenho redacional.
Quero agradecer a todos e a cada um pela confiança demonstrada – que se revela nos comentários publicados – e dizer-lhes que tentarei cumprir meus objetivos de vida, sempre de forma honesta e dedicada: ler com paixão, escrever com reflexão, viver a vida com emoção, sempre distribuindo o que temos de melhor a oferecer aos que nos cercam e um pouco a todos os demais membros da imensa família humana. O mundo ainda é o que é, e que todos reconhecemos não ser o ideal – muito menos o Brasil – mas já melhoramos bastante em relação a um passado não muito distante (a geração de meus pais e avós, por exemplo, atravessou duas guerras devastadoras, e outras catástrofes “magníficas”), e esperamos melhorar ainda mais nos anos à frente.
Espero continuar dando minha contribuição para esses pequenos progressos da humanidade em direção a melhores materiais e elevação espiritual.
Vale.
Paulo Roberto de Almeida
(Brasília, 22 de abril de 2011)
Cartas anteriores:
2194. “Aos leitores deste blog Diplomatizzando”, Shanghai, 28 setembro 2010, 2 p. Conversa com os seguidores do blog, e seus leitores eventuais, em torno do espírito do blog, seus objetivos e as responsabilidades e princípios do autor. Postado no blog (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/09/aos-leitores-deste-blog-conversa-tete.html).
2209. “Segunda carta aos leitores do blog Diplomatizzando”, Kyoto, 22 outubro 2010, 2 p. Continuidade do trabalho 2194, sob a forma de diálogo com os seguidores e leitores do blog, discutindo as reações de alguns comentaristas. Postado no blog (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/10/segunda-carta-aos-leitores-do-blog.html).
Paulo Roberto de Almeida
Meus caros leitores (agora em número de 355 seguidores),
Escrevo muito, eu sei. Nem sempre dirigido a alguém em particular, geralmente textos de caráter impessoal, de cunho acadêmico, de análises políticas ou econômicas, frequentemente críticas, algumas ácidas, em face do que observo no Brasil (e no resto do mundo). Sim, sou um leitor compulsivo, o que é um vício adquirido na primeira infância e do qual não consigo me redimir (nem quero). Sei que por vezes isto é um incômodo (quando estou dirigindo, por exemplo, fica difícil continuar as leituras, mas aí estou com as notícias no rádio), mas carrego esta sina com bom humor e ótima disposição.
Sempre estou pensando em algo (obviamente), quero dizer, em coisas novas, diferentes, sobretudo quanto não tenho nada para fazer, o que é raro, como vocês podem adivinhar, mas também acontece: quando estou embaixo da ducha (alguns minutos apenas, hélas, mas confesso que gostaria de ficar mais), quando estou passeando com os cachorros (quase uma hora, noite adentro), ou quando vou dormir (e o sono pode durar uma infinidade para me abater, dependendo justamente do que estou “pensando”, ou arquitetando).
Quando não estou lendo, me deslocando, trabalhando, fazendo compras, ou comendo, estou escrevendo, invariavelmente, ou num dos meus dois caderninhos de bolso (um pequeno para o bolso da camisa, outro médio, no bolso do paletó), ou num dos três ou quatro computadores nos quais trabalho alternadamente (sim, preciso reduzir o número, pois a bagunça nos arquivos tende a crescer). Depois que escrevo, publico, e cada vez mais – não por decisão minha, mas por demandas externas – publico sob encomenda, em colunas regulares, o que não é, esclareço, minha preferência pessoal (como não sei dizer não, acabam abusando da minha boa vontade). Gosto mesmo de escrever ao léu, por impulso do momento, os temas que decido, na perspectiva que prefiro, com os argumentos que defendo.
Como já escrevi em outros trabalhos, meu único critério na escrita, ou na argumentação oral, é o da honestidade intelectual, que significa mais ou menos o seguinte: procure coletar todas as fontes de informação sobre um determinado assunto a que você pode ter acesso pelas vias normais (e elas são infinitas, hoje em dia); leia tudo cuidadosamente; coloque todas essas informações nos seus devidos contextos (histórico, ambiental, geopolítico, econômico, relacional, etc.); reflita seriamente sobre as implicações de tudo isso para o Brasil, para o mundo, para você mesmo; ordene seus pensamentos segundo prioridades muito simples, que o ajudem a oferecer soluções para determinados problemas da sociedade, do Brasil e do mundo, em função daquilo que é relevante em nosso mundinho meio desconjuntado: economia de meios, boa relação de custos e benefícios, utilidade para o maior número, melhoria das condições de vida (material ou espiritual) das “populações” implicadas (que, por vezes, podem ser uma só pessoa); por fim, tente antecipar as consequências de seus atos, pois que sempre existem efeitos (por ação ou omissão) daquilo que fazemos ou deixamos de fazer.
Estes são meus critérios – aqui um pouco mais elaborados ou racionalizados do que o que de verdade acontece na vida prática, sempre mais bagunçada, claro – e é em função deles que escrevo e publico o que penso, sem pensar em agradar ninguém, e sem esconder de ninguém o que realmente penso. Confesso que tenho certa alergia à burrice – deve ser um defeito de quem leu muito e continua a ler exageradamente, e que acha que ninguém tem do direito de ser ignorante, já que as informações estão livremente disponíveis, mas também sei que a maior parte da humanidade tem preguiça e não lê quase nada, assumindo passivamente o que entra pela televisão aberta – mas confesso que também tenho, e em grau infinitamente maior, desprezo pela desonestidade intelectual, o que infelizmente encontro sempre pela frente: geralmente nos políticos, mas também entre colegas de academia, que não teriam o “direito” (penso eu) de ignorar os dados da realidade para defender ideias idiotas e propostas nocivas para a sociedade.
Sou intolerante, apenas nesses casos, tolerando na maior parte das vezes erros e equívocos que emergem da falta de estudos e de reflexões (já que, afinal de contas, ninguém tem a obrigação de ser intelectual). Mas, e aqui creio fazer a minha parte, sempre procuro diminuir o quantum de equívocos que existe na humanidade (e ele é enorme, obviamente), contribuindo da melhor forma possível para o que eu chamo de obra de “elevação espiritual da humanidade” – pelo menos neste cantinho de mundo que é o meu – escrevendo e divulgando o que é fruto de minhas leituras e experiências de vida. Este é o sentido deste blog e por isso creio que tenho o dever e prestar contas aos meus leitores, que são vocês aqui presentes, e aos quais sou grato pela vigilância demonstrada nos muitos comentários que recebi, direta e indiretamente (nem todos publicados), nos pedidos de ajuda para estudo ou trabalhos, nas simples mensagens de solidariedade, de cumprimentos, de críticas. Sem leitores, não existiriam escritores, e eu sou devedor, em primeiro lugar a todos os que me lêem.
Escrevi uma primeira carta aos leitores deste blog em Shanghai, em setembro de 2010, quando eles eram apenas pouco mais de duas centenas, para dizer-lhes, justamente, de meus deveres para com eles (vejam aqui, neste link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/09/aos-leitores-deste-blog-conversa-tete.html). Pouco depois, em Kyoto, em outubro do mesmo ano, eu dava continuidade ao diálogo com os seguidores e leitores deste blog, discutindo as reações de alguns comentaristas, e prometendo escrever mais (vejam este link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/10/segunda-carta-aos-leitores-do-blog.html). Não o fiz, pois viajei, me reinstalei, e só agora acabei recebendo minha mudança da China – duas enormes burocracias no meio – e pude retomar algumas leituras interrompidas então.
Enfim, esta terceira carta não tem muito a ver com as duas primeiras, embora represente uma continuidade do diálogo, num momento em que “meus” leitores aparentemente chegaram à marca dos 355 seguidores (talvez mais, talvez menos, dependendo de quem acesso, quem repassa, quem lê e como lê). Não creio que eles me devam qualquer explicação sobre os motivos pelos quais seguem este blog (alguns por razões talvez inconfessáveis, a maior parte por real interesse, suponho), mas esse simples fato, objetivo, me faz refletir que também tenho certas responsabilidades para com todos esses leitores, curiosos, passantes, navegantes, interessados e críticos de ocasião.
A minha primeira responsabilidade seria a de não decepcionar os leitores, entregando-lhes gato por lebre, como se diz. A segunda é a de preservar o padrão e os princípios que me motivam a ler, estudar, refletir, escrever e publicar, entre esses princípios o primordial e já referido da honestidade intelectual. O blog representa para mim uma espécie de divertissement intelectual, ou seja, nada de muito sério que me distrai de minhas ocupações principais – no plano profissional e acadêmico – e que se refletem em meus trabalhos mais “sérios” – geralmente coletados em meu site pessoal, www.pralmeida.org, salvo copyright de algum editor comercial – mas ainda assim material sério de informação e alguma coisa para divertir, no meio de tanta tragédia e misérias humanas.
Como disse, leio muito – praticamente todos os grandes jornais diários de maior importância internacional, as principais revistas, e dezenas de outros sites, blogs e arquivos que, remetidos por entidades ou correspondentes pessoais, ocorrem de cair sob a minha lupa implacável – e procuro socializar minhas leituras mais interessantes (algum besteirol também, que ninguém é de ferro) com meus leitores e passantes ocasionais. O resultado deve ser satisfatório, pois o número de “assinantes” deste serviço não pago (mas que me dá muito trabalho) tem aumentado regularmente. Amigos já me recomendaram deixar tudo isto de lado, para me concentrar no que é essencial: terminar dois ou três livros de pesquisa que estão no meu pipeline há algum tempo, e fazer coisas mais sérias do que responder a aluninhos em busca de alguma “facilidade universitária”.
Talvez faça isso, no que certamente vou decepcionar alguns leitores, mas de fato preciso me concentrar no que é essencial, e naquilo que apenas eu poderia fazer, que é produzir trabalhos originais com a profundidade que meus estudos e pesquisas me permitem fazer, exclusivamente. Fazer blog, divulgar matérias de imprensa, precedidos, ou não, de comentários inteligentes, isso qualquer um pode fazer, o que me leva às recomendações smithnianas sobre a divisão social do trabalho: eu deveria me concentrar naquilo que apenas eu posso fazer, usando todas as minhas vantagens absolutas e relativas, estas ricardianas...
Que seja!
Em todo caso, gostaria de desejar boa Páscoa a todos os meus leitores – uma oportunidade para se empanturrar de chocolate e para mergulhar em mais leituras e escritos – e dizer que vou tentar moderar minha frequência neste espaço, para liberar mais tempo para coisas um pouco mais profundas e que exigem maior dedicação e empenho redacional.
Quero agradecer a todos e a cada um pela confiança demonstrada – que se revela nos comentários publicados – e dizer-lhes que tentarei cumprir meus objetivos de vida, sempre de forma honesta e dedicada: ler com paixão, escrever com reflexão, viver a vida com emoção, sempre distribuindo o que temos de melhor a oferecer aos que nos cercam e um pouco a todos os demais membros da imensa família humana. O mundo ainda é o que é, e que todos reconhecemos não ser o ideal – muito menos o Brasil – mas já melhoramos bastante em relação a um passado não muito distante (a geração de meus pais e avós, por exemplo, atravessou duas guerras devastadoras, e outras catástrofes “magníficas”), e esperamos melhorar ainda mais nos anos à frente.
Espero continuar dando minha contribuição para esses pequenos progressos da humanidade em direção a melhores materiais e elevação espiritual.
Vale.
Paulo Roberto de Almeida
(Brasília, 22 de abril de 2011)
Cartas anteriores:
2194. “Aos leitores deste blog Diplomatizzando”, Shanghai, 28 setembro 2010, 2 p. Conversa com os seguidores do blog, e seus leitores eventuais, em torno do espírito do blog, seus objetivos e as responsabilidades e princípios do autor. Postado no blog (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/09/aos-leitores-deste-blog-conversa-tete.html).
2209. “Segunda carta aos leitores do blog Diplomatizzando”, Kyoto, 22 outubro 2010, 2 p. Continuidade do trabalho 2194, sob a forma de diálogo com os seguidores e leitores do blog, discutindo as reações de alguns comentaristas. Postado no blog (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/10/segunda-carta-aos-leitores-do-blog.html).
Diplomacia lulista: desenterrando velhos escritos... (PRA)
Parece incrível, mas acontece.
Escrevo tanto (deve ser uma mania, talvez uma compulsão, mais provavelmente um vício e uma loucura terminal, mas que ainda não me matou...), e publico tanto (e nem sempre me avisam quando alguma coisa minha saiu em algum lugar), que por vezes me escapa um artigo ou outro publicado em algum veículo menos relevante.
Mas, neste caso, não se trata de um veículo "irrelevante" e sim da revista da qual sou editor adjunto, para a qual faço pareceres (rigorosos, como devem ser) e com a qual colaboro desde seu segundo nascimento em Brasília, em 1993 (um renascimento ou uma reencarnação que tem muito a ver com meu ativismo acadêmico).
Pois bem, acabei não registrando a publicação do artigo abaixo, o que só vim a constatar porque um amigo me mandou um trabalho sobre temas relativamente similares, quais sejam: as interpretações sobre a diplomacia do "nunca antes" (e espera-se que "nunca mais", ou em todo caso, "não mais agora, ou daqui por diante"). Acabei me lembrando deste, fui buscar e, êpa!, ai aparece este arquivo de um texto publicado, mas não devidamente registrado.
Agora corrigi minha lista de publicados, incluindo a posteriori o registro abaixo, e deixo o artigo à disposição dos eventuais interessados. Esclareço que ele foi foi concebido no final de 2005 e preparado e elaborado no começo de 2006, com os registros de publicações até os primeiros meses desse último ano. Minha bibliografia -- sobretudo de artigos de imprensa -- era muito maior, mas tive de deixar de lado por imposições de espaço editorial.
Creio que caberia uma atualização, ou um novo artigo, enfatizando talvez novas tendências entre apoiadores e críticos da diplomacia lulista e fazendo um balanço de seus resultados (if any). Aliás, já fiz isso em outros escritos. Vou preparar uma lista atualizada desses trabalhos sobre diplomacia brasileira e política externa do governo Lula (não são a mesma coisa, para os entendidos).
Por enquanto fiquem com este registro:
Uma nova ‘arquitetura’ diplomática?: Interpretações divergentes sobre a política externa do Governo Lula (2003-2006)
Brasília, 19 maio 2006, 24 p. Artigo de revisão bibliográfica sobre a diplomacia do governo Lula. Relação de Originais n. 1603; Publicados n. 739bis.
Revista Brasileira de Política Internacional (ano 49, n. 1, 2006, ISSN 003U-7329; p. 95-116; link: http://www.scielo.br/pdf/rbpi/v49n1/a05v49n1.pdf).
E por falar em balanço dos resultados, deixo este registro de um artigo ainda não suficientemente divulgado, mas que está em Francês:
La diplomatie de Lula (2003-2010): une analyse des résultats
In: Denis Rolland, Antonio Carlos Lessa (coords.), Relations Internationales du Brésil: Les Chemins de La Puissance; Brazil’s International Relations: Paths to Power (Paris: L’Harmattan, 2010, 2 vols; vol. I: Représentations Globales – Global Representations, p. 249-259; ISBN: 978-2-296-13543-7).
Postado no blog Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/10/relations-internationales-du-bresil.html).
Relação de Originais n. 2184; Publicados n. 998.
Preciso colocar em ordem meus escritos, meus arquivos inacabados, meus livros, minhas bibliotecas, minha vida...
Ufa!
Escrevo tanto (deve ser uma mania, talvez uma compulsão, mais provavelmente um vício e uma loucura terminal, mas que ainda não me matou...), e publico tanto (e nem sempre me avisam quando alguma coisa minha saiu em algum lugar), que por vezes me escapa um artigo ou outro publicado em algum veículo menos relevante.
Mas, neste caso, não se trata de um veículo "irrelevante" e sim da revista da qual sou editor adjunto, para a qual faço pareceres (rigorosos, como devem ser) e com a qual colaboro desde seu segundo nascimento em Brasília, em 1993 (um renascimento ou uma reencarnação que tem muito a ver com meu ativismo acadêmico).
Pois bem, acabei não registrando a publicação do artigo abaixo, o que só vim a constatar porque um amigo me mandou um trabalho sobre temas relativamente similares, quais sejam: as interpretações sobre a diplomacia do "nunca antes" (e espera-se que "nunca mais", ou em todo caso, "não mais agora, ou daqui por diante"). Acabei me lembrando deste, fui buscar e, êpa!, ai aparece este arquivo de um texto publicado, mas não devidamente registrado.
Agora corrigi minha lista de publicados, incluindo a posteriori o registro abaixo, e deixo o artigo à disposição dos eventuais interessados. Esclareço que ele foi foi concebido no final de 2005 e preparado e elaborado no começo de 2006, com os registros de publicações até os primeiros meses desse último ano. Minha bibliografia -- sobretudo de artigos de imprensa -- era muito maior, mas tive de deixar de lado por imposições de espaço editorial.
Creio que caberia uma atualização, ou um novo artigo, enfatizando talvez novas tendências entre apoiadores e críticos da diplomacia lulista e fazendo um balanço de seus resultados (if any). Aliás, já fiz isso em outros escritos. Vou preparar uma lista atualizada desses trabalhos sobre diplomacia brasileira e política externa do governo Lula (não são a mesma coisa, para os entendidos).
Por enquanto fiquem com este registro:
Uma nova ‘arquitetura’ diplomática?: Interpretações divergentes sobre a política externa do Governo Lula (2003-2006)
Brasília, 19 maio 2006, 24 p. Artigo de revisão bibliográfica sobre a diplomacia do governo Lula. Relação de Originais n. 1603; Publicados n. 739bis.
Revista Brasileira de Política Internacional (ano 49, n. 1, 2006, ISSN 003U-7329; p. 95-116; link: http://www.scielo.br/pdf/rbpi/v49n1/a05v49n1.pdf).
E por falar em balanço dos resultados, deixo este registro de um artigo ainda não suficientemente divulgado, mas que está em Francês:
La diplomatie de Lula (2003-2010): une analyse des résultats
In: Denis Rolland, Antonio Carlos Lessa (coords.), Relations Internationales du Brésil: Les Chemins de La Puissance; Brazil’s International Relations: Paths to Power (Paris: L’Harmattan, 2010, 2 vols; vol. I: Représentations Globales – Global Representations, p. 249-259; ISBN: 978-2-296-13543-7).
Postado no blog Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/10/relations-internationales-du-bresil.html).
Relação de Originais n. 2184; Publicados n. 998.
Preciso colocar em ordem meus escritos, meus arquivos inacabados, meus livros, minhas bibliotecas, minha vida...
Ufa!
Siglas: do BRIC ao BRICS, ao BRIS, a BRISA: volare... dipinto di blu...
Quando se usam siglas emprestadas, e quando se bota tudo num caldeirão, ou num moedor de carne, para atender a desejos inconfessáveis e a ambições não reveladas, corre-se o risco de ver emergir siglas ainda mais confusas, e situações curiosas, no limite do risível.
Pois este parece o destino do novo animal político na fauna geopolítica planetária: o BRIC, ou BRICS, ou talvez BRIS, quem sabe BRISA, como acaba de sugerir um leitor deste blog, e que pode acabar em alguma outra coisa ainda não definida.
Vejam o que me escreveu um correspondente a propósito deste meu post:
Dos BRICS ao BRIS?: ilusoes anti-hegemonicas (inclusive do Brasil)
(21 de Abril de 2011)
Anônimo disse...
Sugerimos no lugar de BRICS o acrônimo BRISA!(...se a intenção é viver dela..!)
Vale!
Sexta-feira, Abril 22, 2011 10:24:00 AM
Concordo inteiramente. O BRIC surgiu porque a Rússia se sentia desconfortável no G8 (que na verdade continuava a se reunir sob o formato de G7 para as questões "sérias", como as financeiras, e guardava para o formato G8 apenas as questões amenas, suscetíveis de acomodar as posições de uma ex-superpotência em declínio) e porque o Brasil, ou melhor, certo presidente queria porque queria aparecer na liga das grandes potências, na companhia dos grandes, enfim essas megalomanias de declinantes e ascendentes, muito comuns em adolescentes e senis...
A inclusão (indesejada para os demais) da África do Sul pelas mãos da China não parece ter resolvido muitos dos problemas internos do grupo (ou bloco, ou fórum, whatever...) e deve complicar ainda mais as suas possibilidades de coerência e de coordenação internas, para uma instância que já não tinha muitos pontos em comum de uma agenda que era mais do contra do que a favor de algo: contra a arrogância imperial, contra o unilateralismo, contra o congelamento do poder mundial, etc., etc., etc...
De fato, como sugere meu anônimo correspondente, o nome BRISA é muito mais condizente com o espírito e a letra desse grupo que carrega nas tintas para não precisar explicar substância, e pode ir assim levando na maciota dos ventos alísios, até surgirem desafios reais (que, espera-se, eles resolvam).
A questão da Líbia, por exemplo, era uma excelente oportunidade para uma postura conjunta dos BRICS, ou da BRISA: eles resolveram se abster, o que pode até ser considerado uma posição: uma posição pela não posição, pelo atentismo, pela lavagem de mãos, pelo muro...
Boa sorte ao BRISA... ou ao BRICS, whoever, whatever...
Paulo Roberto de Almeida
Pois este parece o destino do novo animal político na fauna geopolítica planetária: o BRIC, ou BRICS, ou talvez BRIS, quem sabe BRISA, como acaba de sugerir um leitor deste blog, e que pode acabar em alguma outra coisa ainda não definida.
Vejam o que me escreveu um correspondente a propósito deste meu post:
Dos BRICS ao BRIS?: ilusoes anti-hegemonicas (inclusive do Brasil)
(21 de Abril de 2011)
Anônimo disse...
Sugerimos no lugar de BRICS o acrônimo BRISA!(...se a intenção é viver dela..!)
Vale!
Sexta-feira, Abril 22, 2011 10:24:00 AM
Concordo inteiramente. O BRIC surgiu porque a Rússia se sentia desconfortável no G8 (que na verdade continuava a se reunir sob o formato de G7 para as questões "sérias", como as financeiras, e guardava para o formato G8 apenas as questões amenas, suscetíveis de acomodar as posições de uma ex-superpotência em declínio) e porque o Brasil, ou melhor, certo presidente queria porque queria aparecer na liga das grandes potências, na companhia dos grandes, enfim essas megalomanias de declinantes e ascendentes, muito comuns em adolescentes e senis...
A inclusão (indesejada para os demais) da África do Sul pelas mãos da China não parece ter resolvido muitos dos problemas internos do grupo (ou bloco, ou fórum, whatever...) e deve complicar ainda mais as suas possibilidades de coerência e de coordenação internas, para uma instância que já não tinha muitos pontos em comum de uma agenda que era mais do contra do que a favor de algo: contra a arrogância imperial, contra o unilateralismo, contra o congelamento do poder mundial, etc., etc., etc...
De fato, como sugere meu anônimo correspondente, o nome BRISA é muito mais condizente com o espírito e a letra desse grupo que carrega nas tintas para não precisar explicar substância, e pode ir assim levando na maciota dos ventos alísios, até surgirem desafios reais (que, espera-se, eles resolvam).
A questão da Líbia, por exemplo, era uma excelente oportunidade para uma postura conjunta dos BRICS, ou da BRISA: eles resolveram se abster, o que pode até ser considerado uma posição: uma posição pela não posição, pelo atentismo, pela lavagem de mãos, pelo muro...
Boa sorte ao BRISA... ou ao BRICS, whoever, whatever...
Paulo Roberto de Almeida
Pausa para... alguns pensamentos cristaos a proposito da Pascoa
Não tenho certeza de que tudo esteja conforme ao original, já que recebi por uma dessas infindáveis correntes de internet, na qual tudo se transforma, nada se mantém igual, e tudo é reciclado (sem pagar os devidos direitos autorais ao autor).
Publico como recebi, creditando a autoria do texto a Luiz Fernando Veríssimo, que já foi mais engraçado, quando ele não apoiava ditaduras como a de Fidel Castro -- o que suponho que só faça por anti-imperialismo primário e anti-americanismo infantil -- e quando ele não apoiava governos corruptos e mistificadores como o que acaba de passar.
Não que tudo isso mude minha opinião positiva sobre este texto deveras engraçado, mas pelo menos me oferece a oportunidade de manifestar minha opinião sobre um dos nossos melhores escritores (e humorista eventual). Mesmo os melhores escritores (como Saramago, por exemplo) podem ser singularmente idiotas quando se trata de questões políticas e econômicas.
Deixando de lado esta longa (e chata) introdução, vamos ao que interessa.
Paulo Roberto de Almeida
Por favor resolva essa confusão
-Papai, o que é Páscoa?
-Ora, Páscoa é... bem... é uma festa religiosa!
-Igual ao Natal?
-É parecido. Só que no Natal comemora-se o nascimento de Jesus, e na Páscoa, se não me engano, comemora-se a sua ressureição.
-Ressurreição?
-É, ressurreição. Marta , vem cá !
-Sim?
-Explica pra esse garoto o que é ressurreição pra eu poder ler o meu jornal.
-Bom, meu filho, ressurreição é tornar a viver após ter morrido. Foi o que aconteceu com Jesus, três dias depois de ter sido crucificado. Ele ressuscitou e subiu aos céus. Entendeu ?
-Mais ou menos... Mamãe, Jesus era um coelho?
-O que é isso menino? Não me fale uma bobagem dessas! Coelho! Jesus Cristo é o Papai do Céu! Nem parece que esse menino foi batizado! Jorge, esse menino não pode crescer desse jeito, sem ir numa missa pelo menos aos domingos.
Até parece que não lhe demos uma educação cristã ! Já pensou se ele solta uma besteira dessas na escola ? Deus me perdoe ! Amanhã mesmo vou matricular esse moleque no catecismo!
-Mamãe, mas o Papai do Céu não é Deus ?
-É filho, Jesus e Deus são a mesma coisa. Você vai estudar isso no catecismo. É a Trindade. Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.
-O Espírito Santo também é Deus?
-É sim.
-E Minas Gerais?
-Sacrilégio!!!
-É por isso que a ilha de Trindade fica perto do Espírito Santo?
-Não é o Estado do Espírito Santo que compõe a Trindade, meu filho, é o Espírito Santo de Deus. É um negócio meio complicado, nem a mamãe entende direito. Mas se você perguntar no catecismo a
professora explica tudinho!
-Bom, se Jesus não é um coelho, quem é o coelho da Páscoa ?
-Eu sei lá ! É uma tradição. É igual a Papai Noel, só que ao invés de presente ele traz ovinhos.
-Coelho bota ovo ?
-Chega ! Deixa eu ir fazer o almoço que eu ganho mais !
- Papai, não era melhor que fosse galinha da Páscoa ?
-Era... era melhor,sim... ou então urubu.
-Papai, Jesus nasceu no dia 25 de dezembro, né ? Que dia ele morreu ?
-Isso eu sei: na Sexta-feira Santa.
-Que dia e que mês?
- (???) Sabe que eu nunca pensei nisso ? Eu só aprendi que ele morreu na Sexta-feira Santa e ressucitou três dias depois, no Sabado de Aleluia.
-Um dia depois!
-Não três dias depois.
-Então morreu na Quarta-feira.
-Não, morreu na Sexta-feira Santa... ou terá sido na Quarta-feira de Cinzas ? Ah, garoto, vê se não me confunde ! Morreu na Sexta mesmo e ressuscitou no sábado, três dias depois!
-Como ?
- Pergunte à sua professora de catecismo!
-Papai, porque amarraram um monte de bonecos de pano lá na rua ?
-É que hoje é Sabado de Aleluia, e o pessoal vai fazer a malhação do Judas. Judas foi o apóstolo que traiu Jesus.
-O Judas traiu Jesus no Sábado ?
-Claro que não ! Se Jesus morreu na Sexta !!!
-Então por que eles não malham o Judas no dia certo ?
-Ai...
-Papai, qual era o sobrenome de Jesus?
-Cristo. Jesus Cristo.
-Só ?
-Que eu saiba sim, por quê?
-Não sei não, mas tenho um palpite de que o nome dele era Jesus Cristo Coelho. Só assim esse negócio de coelho da Páscoa faz sentido, não acha?
-Ai coitada!
-Coitada de quem?
-Da sua professora de catecismo!
Texto de Luiz Fernando Verissimo
Publico como recebi, creditando a autoria do texto a Luiz Fernando Veríssimo, que já foi mais engraçado, quando ele não apoiava ditaduras como a de Fidel Castro -- o que suponho que só faça por anti-imperialismo primário e anti-americanismo infantil -- e quando ele não apoiava governos corruptos e mistificadores como o que acaba de passar.
Não que tudo isso mude minha opinião positiva sobre este texto deveras engraçado, mas pelo menos me oferece a oportunidade de manifestar minha opinião sobre um dos nossos melhores escritores (e humorista eventual). Mesmo os melhores escritores (como Saramago, por exemplo) podem ser singularmente idiotas quando se trata de questões políticas e econômicas.
Deixando de lado esta longa (e chata) introdução, vamos ao que interessa.
Paulo Roberto de Almeida
Por favor resolva essa confusão
-Papai, o que é Páscoa?
-Ora, Páscoa é... bem... é uma festa religiosa!
-Igual ao Natal?
-É parecido. Só que no Natal comemora-se o nascimento de Jesus, e na Páscoa, se não me engano, comemora-se a sua ressureição.
-Ressurreição?
-É, ressurreição. Marta , vem cá !
-Sim?
-Explica pra esse garoto o que é ressurreição pra eu poder ler o meu jornal.
-Bom, meu filho, ressurreição é tornar a viver após ter morrido. Foi o que aconteceu com Jesus, três dias depois de ter sido crucificado. Ele ressuscitou e subiu aos céus. Entendeu ?
-Mais ou menos... Mamãe, Jesus era um coelho?
-O que é isso menino? Não me fale uma bobagem dessas! Coelho! Jesus Cristo é o Papai do Céu! Nem parece que esse menino foi batizado! Jorge, esse menino não pode crescer desse jeito, sem ir numa missa pelo menos aos domingos.
Até parece que não lhe demos uma educação cristã ! Já pensou se ele solta uma besteira dessas na escola ? Deus me perdoe ! Amanhã mesmo vou matricular esse moleque no catecismo!
-Mamãe, mas o Papai do Céu não é Deus ?
-É filho, Jesus e Deus são a mesma coisa. Você vai estudar isso no catecismo. É a Trindade. Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.
-O Espírito Santo também é Deus?
-É sim.
-E Minas Gerais?
-Sacrilégio!!!
-É por isso que a ilha de Trindade fica perto do Espírito Santo?
-Não é o Estado do Espírito Santo que compõe a Trindade, meu filho, é o Espírito Santo de Deus. É um negócio meio complicado, nem a mamãe entende direito. Mas se você perguntar no catecismo a
professora explica tudinho!
-Bom, se Jesus não é um coelho, quem é o coelho da Páscoa ?
-Eu sei lá ! É uma tradição. É igual a Papai Noel, só que ao invés de presente ele traz ovinhos.
-Coelho bota ovo ?
-Chega ! Deixa eu ir fazer o almoço que eu ganho mais !
- Papai, não era melhor que fosse galinha da Páscoa ?
-Era... era melhor,sim... ou então urubu.
-Papai, Jesus nasceu no dia 25 de dezembro, né ? Que dia ele morreu ?
-Isso eu sei: na Sexta-feira Santa.
-Que dia e que mês?
- (???) Sabe que eu nunca pensei nisso ? Eu só aprendi que ele morreu na Sexta-feira Santa e ressucitou três dias depois, no Sabado de Aleluia.
-Um dia depois!
-Não três dias depois.
-Então morreu na Quarta-feira.
-Não, morreu na Sexta-feira Santa... ou terá sido na Quarta-feira de Cinzas ? Ah, garoto, vê se não me confunde ! Morreu na Sexta mesmo e ressuscitou no sábado, três dias depois!
-Como ?
- Pergunte à sua professora de catecismo!
-Papai, porque amarraram um monte de bonecos de pano lá na rua ?
-É que hoje é Sabado de Aleluia, e o pessoal vai fazer a malhação do Judas. Judas foi o apóstolo que traiu Jesus.
-O Judas traiu Jesus no Sábado ?
-Claro que não ! Se Jesus morreu na Sexta !!!
-Então por que eles não malham o Judas no dia certo ?
-Ai...
-Papai, qual era o sobrenome de Jesus?
-Cristo. Jesus Cristo.
-Só ?
-Que eu saiba sim, por quê?
-Não sei não, mas tenho um palpite de que o nome dele era Jesus Cristo Coelho. Só assim esse negócio de coelho da Páscoa faz sentido, não acha?
-Ai coitada!
-Coitada de quem?
-Da sua professora de catecismo!
Texto de Luiz Fernando Verissimo
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