terça-feira, 5 de julho de 2011

Deu Brasil (ou Brazil) no New York Times...

Aqui uma matéria sobre o Brasil, no indefectível (seja lá o que isso queira dizer), NYT:

OP-ED COLUMNIST
Brazil’s Giddy Convergence
By ROGER COHEN
The New York Times, July 4, 2011

RIO DE JANEIRO, BRAZIL — Tom Jobim is famous for having written “Girl from Ipanema,” the sensuous, playful anthem of a sensuous, playful land. He’s almost equally famous for having said, “Brazil is not for amateurs.”

I lived a quarter-century ago in that Brazil where if you didn’t have the “jeitinho,” or insider’s knack for circumventing rules, you were toast. It was a Brazil of hyperinflation and runaway violence that mocked the words on the national flag: “Order and Progress.” I went down to the city morgue one day, researching a story about poor kids who “surfed” the tops of trains for kicks, and an official idly lifted the lid of a garbage can in which a young man’s body was twisted like a corkscrew. I asked what had happened. He said he’d been murdered by fellow inmates at a prison and stuffed in there.

No, Brazil was not for amateurs.

Today, in the Brazil of the “Ms. Continuity” leader, President Dilma Rousseff, I’m not so sure. Certainly a lot of people suddenly fancy themselves as Brazil pros.

They’re piling in. They want a piece of the action in the big South American nation that posted 7.5 percent growth last year. Oil discoveries, a commodities boom, sound economic management, political stability, the World Cup in 2014 and the Olympics in 2016 have combined to produce a Brazil fever that feels a touch heady to me.

In Leblon, the area adjacent to Ipanema where I used to live, apartment prices have quadrupled in a year. Sotheby’s International Realty is expecting a quadrupling of real estate sales this year, according to O Globo newspaper. The big price hikes reflect growing interest among foreigners, especially Europeans and Chinese who see opportunity ahead of the two big sporting events.

Take your pick of the head-turning figures. There were 12 new Brazilian billionaires on this year’s Forbes list of the world’s wealthiest people. Foreign direct investment has grown at a compound rate of 26 percent over the past five years and reached close to $48.5 billion in 2010. Consumer credit is taking off. In a land where loans were long hard to get, the net stock of credit increased 21 percent in the past year. Streets are clogged with cars, restaurants full.

A bubble in the making? It’s possible. But Brazilian banks have generally proved prudent, and macroeconomic policies now have a steady track record over three presidencies, one that has contrived to ease the worst extremes of poverty while satisfying international investors eager to put capital behind Brazil’s rapid emergence.

A new buzzword in economic circles is “convergence,” the process by which the developing economies in which five billion people live (194 million of them in Brazil) are closing the gap on developed economies more than 150 years after the Industrial Revolution first opened the gulf. To arrive in Brazil these days from the United States or Europe is to feel the world turned on its head.

Breathless optimism replaces economic gloom. A new $22 billion high-speed train will link Rio and São Paulo. People believe their kids are going to live better than they do. Brazilians talk to the Indians and to the Chinese about investments; they feel the old powers are becoming marginal to the 21st century. China alone has invested $37.1 billion in Brazil since 2003, mainly in mining and oil.

What you think of convergence depends on where you sit. I’d say it’s a good thing — a lot of people are going to live a lot better before too long — but also very disruptive. Brazilians and Indians and Chinese and Indonesians and South Africans do better in part because, thanks to technology, they can do what were once U.S. or European jobs just as efficiently. Their gain is linked in some measure to American and European pain.

I talked here to an executive of a major international cement company who said it had just divested interests in Portugal in order to make investments of over $1 billion in Brazil. Extrapolate from that trend and you see the developed world’s huge economic challenge. Convergence will also place huge strains on the environment and resources — hence those Chinese investments in oil and iron ore.

For now, emergent powers and the developed nations talk more past each other than to each other. Institutions lag a changed world just as the infrastructure of these emergent powers lags the speed at which millions of people are joining the market. Indeed, lack of adequate infrastructure and lack of education are two of the main brakes on countries like Brazil.

I’m bullish on Brazil, but some of the new “pros” are going to get burned. Brazil remains a country of violent inequality. A few days ago a French tourist, Charles Damien Pierson, fell off the tram in Rio at the Lapa viaduct, slipped between a badly installed fence and the bridge, and tumbled to his death. Before the police got there, his wallet was stolen by kids.

Convergence will continue — and in time separate the real pros from the amateurs in the new global economy.

You can follow Roger Cohen on Twitter at twitter.com/nytimescohen

Como fazer uma monografia academica - Paulo Roberto de Almeida

Caro aluno em dificuldades para concluir um trabalho acadêmico,

Aqui segue um trabalho antigo, mas que acabo de rever, tentando melhorá-lo, já que percebi que a demanda de alunos desesperados por alguns conselhos nesta área anda muito alta. Espero que sirva para algo, mais não fosse apenas para deixá-lo um pouco menos desesperado com o seu TCC.
Se quiser, pode me pagar os devidos "moral rights", sem precisar se preocupar agora com o chamado copyright.
No fundo, desejo que você não fique desesperado ou brigue com a noiva ou namorado por causa de um reles trabalho acadêmico. Vamos ao que interessa.

Como Fazer uma Monografia Acadêmica
Paulo Roberto de Almeida
(www.pralmeida.org)

Este pequeno guia formula algumas recomendações essencialmente práticas em intenção daqueles que devem escrever artigos, ensaios, monografias, papers acadêmicos e assemelhados, com ênfase nos famosos TCCs, trabalhos de conclusão de curso de graduação, um monstro metafísico que parece assustar muitos graduandos que não encontram muito apoio entre seus professores ou na própria instituição acadêmica. Não tenho nenhuma pretensão à originalidade neste texto, mas não deixo de alertar que tampouco consultei os guias disponíveis no mercado – vários na internet – que se encaixam nesse gênero da ajuda especializada, tipo “How To Do a Perfect Dissertation”, ou “The Idiot’s Guide for Making an Academic Paper”. Acredito, porém, preencher de graça as necessidades básicas de alunos desesperados ao oferecer meus conselhos pessoais para torná-los menos desesperados. Como existem dezenas de guias do gênero, pretendo simplesmente escrever com base nas minhas próprias recomendações, sem necessariamente efetuar uma síntese dos manuais mais habitualmente usados e disponíveis na Internet (este segue, portanto, meu estilo e minhas preferências). A maior parte dos guias e manuais práticos disponíveis na internet está em inglês, como se pode verificar pela lista que agrego in fine, e aos quais os interessados em maiores desenvolvimentos poderão recorrer.

1. O que é uma monografia acadêmica?
Trata-se de um trabalho com finalidades “científicas”, numa acepção lata do termo. Ou seja, a exposição de um problema qualquer com relevância para o estudo ou aplicação prática na vida cotidiana (ou até para especulação “filosófica” ou deleite literário), com algumas regras indispensáveis ligadas ao formato e à elaboração desse tipo de trabalho. Em primeiro lugar, o trabalho deve enfocar uma descrição a mais acurada possível do problema, ou objeto, escolhido. A descrição deve ser clara, o mais possível exaustiva ou completa (sem ser redundante), seguida de uma discussão desse problema, para fins de conclusões baseadas numa certa racionalidade lógica, isto é: expusemos isto, discutimos suas implicações e chegamos a estas conclusões.
Deve-se evitar um jargão excessivamente pedante, ou ultra-especializado, e procurar utilizar-se de conceitos usualmente aceitos pela comunidade acadêmica e também por um público cultivado, uma vez que uma monografia acadêmica sempre visa um conhecimento especializado (mas compreensível a quem não é da área). De preferência se deve adotar uma linguagem enxuta, próxima do ideal de Graciliano Ramos: uma vez terminado de redigir um texto, devemos voltar atrás e começar a eliminar todos os adjetivos supérfluos, todos os argumentos impressionistas ou puramente “literários”, e buscar reduzir o texto à sua essencialidade básica: expor o problema, discutir suas implicações, chegar a conclusões claras, sem mais floreios ou redundâncias. Ou seja, quanto menos palavras melhor, ou dito em linguagem popular: não fique “enchendo lingüiça”, nem dando espaço dois para “aumentar” o texto.

2. Qual o formato ideal de uma monografia acadêmica?
Como deve ser organizada uma monografia acadêmica para atender aos requisitos do gênero?
Muito simples, ela deve pautar-se pela conhecida fórmula IMAC: Introdução; Metodologia; Apresentação (ou Análise) do Problema; Conclusões. A rigor, ela conterá também a bibliografia, que é de rigor em qualquer trabalho acadêmico, mas isto é um suposto básico de qualquer trabalho do gênero.
O que deveria conter cada uma dessas partes?

Introdução:
Depois de um eventual prefácio – e outros prolegômenos, nos quais muitos agradecem a Deus padre, a todos os santos, aos familiares, aos professores, aos colegas, ao namorado (ou noivo), enfim a tutti quanti colaboraram com o seu trabalho (o que é absolutamente dispensável, mas respeitemos esse direito do autor) –, o candidato a acadêmico deve, simplesmente, dizer o que pretende fazer ou oferecer com o trabalho. A rigor, bastaria uma simples descrição esquemática do que pretende ser o trabalho. Mas pode também conter uma justificação da escolha daquele tema, sua relevância ou legitimidade para a área de pesquisa em causa, e dizer (antecipando, digamos assim), aonde se pretende chegar com o trabalho em si; ou seja, sua contribuição para o estudo daquele tema. A descrição esquemática pode conter uma breve exposição do que conterão os diferentes capítulos – na parte de Apresentação do Problema – mas isso a rigor também é dispensável. O essencial deve ser dito em poucas palavras.
Escusado dizer que essa Introdução será escrita em último lugar, para que ela seja um retrato fiel do corpo do trabalho, e não um anúncio grandiloqüente que depois não é confirmado pelo desenvolvimento do tema. Essa introdução, finalmente, servirá para compor o resumo inicial e as palavras-chave, indispensáveis (em inglês também).
Se ouso oferecer uma sugestão de início substantivo, seria esta:
Este trabalho trata do (problema, assunto, tema, em duas linhas, no máximo), segundo uma abordagem (descritiva, analítica, interpretativa, etc.; à escolha), com vistas a alcançar o objetivo de (discorrer brevemente sobre a finalidade do trabalho). Para cobrir (ou abordar) essa questão, procedeu-se à análise do (ou ao exame) de tais e tais questões, consideradas as mais relevantes para este exercício analítico. Foram adotadas as seguintes hipóteses de trabalho: (apenas se existirem, de fato, premissas que sustentam a tese ou argumentos do autor). As conclusões preliminares indicam que (apresentar brevemente os resultados do trabalho), como resultado (ou decorrente) da análise desenvolvida no (capítulo central, parte principal, etc.). A bibliografia e a documentação listada no final (e as fontes primárias eventuais) consolidam o material de referência utilizado na confecção do trabalho, que apresenta utilidade para (avanço do estado da arte, reflexões teóricas, propostas de políticas, ou qualquer outra utilidade prática ou contribuição intelectual que o trabalho possa oferecer).
Depois disso, geralmente se apresenta o trabalho, dizendo o que conterá cada parte, capítulo, seções, etc., sublinhando eventualmente onde está o principal esforço ou contribuição do autor. Listar eventuais dificuldades no empreendimento. Ponto.

Metodologia:
Trata-se, basicamente, de descrever a abordagem utilizada na monografia, ou paper. Ou seja: método histórico-dedutivo, analítico-conceitual, expositivo-crítico, ou qualquer outro que o autor decida, segundo alguns manuais do gênero (e a possível orientação do professor de metodologia). O autor dirá aqui como ele abordou o tema de sua preferência e por que escolheu aquele método e não outro. Poderá discorrer, eventualmente, sobre métodos alternativos, não usados; mas isso não é necessário.
O “método” a ser descrito nesta parte é um pouco a famosa “fundamentação teórica”, que muitos professores exigem dos candidatos, como se fosse um elemento absolutamente indispensável do trabalho acadêmico, o que nem sempre é o caso. Ou seja, o trabalho pode ser – este é um direito do candidato – simplesmente expositivo-descritivo, sem referência a qualquer autor famoso na comunidade acadêmica, posto que o tema escolhido se presta, hipoteticamente, a uma descrição empírica de fatos da vida real, ou que o autor tenha decidido, por exemplo, fazer uma síntese da literatura existente a respeito do seu tema, sem maiores inovações teóricas. Por isso alguns alunos tropeçam nessa parte, e acabam escrevendo uma “metodologia” que tem pouco a ver, finalmente, com o conteúdo em si do trabalho.
Resumindo: metodologia é simplesmente a forma como o autor organiza os seus dados, seus materiais primários, seus elementos empíricos, e até suas leituras, e os apresenta em seguida na discussão fundamentada da terceira parte, com análise crítica e um levantamento de outros problemas que tenha detectado em sua pesquisa. O autor pode, também, aproveitar essa parte para dizer como outros analistas do mesmo problema estudaram a questão, se concorda com eles, se utilizará métodos já empregados anteriormente, etc.
Pessoalmente, considero, que nem todo trabalho acadêmico tenha de possuir o famoso “marco teórico”, que muitas vezes nada mais é do que uma exigência pedante de algum professor, geralmente destacada de qualquer necessidade concreta. Para mim, o “marco teórico” funciona como uma espécie de farofa: alguns pratos requerem, outros não; assim que posso conceber monografias perfeitas, sem qualquer necessidade de fundamentação teórica, mormente em temas pedestres e práticos, como podem ser muitos TCCs em direito, ou administração, por exemplo.

Apresentação (ou Análise) do Problema:
Aqui está, obviamente, a parte principal do trabalho, a que justifica todo o esforço do autor, e por isso mesmo deve ser objeto de um cuidado redobrado na sua organização e estruturação. Normalmente, uma monografia acadêmica – que sempre é algo maior do que um simples paper, ou artigo – encontra-se organizada em capítulos (eventualmente distribuídos em partes e subdivididos em seções). A maneira mais simples de organizar uma monografia seria numerar sequencialmente cada uma das unidades, de forma simplesmente linear: 1 para a Introdução, 2 para a Metodologia, de 3 a 5 (ou mais) na parte central do seu trabalho, que é esta que nos ocupa agora.
Pode-se organizar todo o trabalho em partes, ou seja, uma primeira parte para os “prolegômenos” (Introdução e Metodologia); uma segunda parte para a Análise, propriamente dita (com tantos capítulos e seções quanto requeridos pela pesquisa do autor e sua própria organização dos materiais); e uma terceira parte de Conclusões. Isso não impede a numeração seqüencial dentro das partes, e seria até recomendável que assim fosse feito, uma vez que a numeração linear dos capítulos facilita muito a elaboração do trabalho e a própria leitura do trabalho.
Mas deixando de lado essa questão puramente formal, vamos nos concentrar no que deve conter uma apresentação ou análise da problemática escolhida pelo autor. A descrição exaustiva – ainda que resumida – do problema selecionado é necessária, para que se possa julgar, a partir de elementos concretos, da capacidade de leitura, de pesquisa, de apreensão-compreensão do tema que o candidato escolheu para debater. Uma volta à literatura existente nessa área – eventualmente já apresentada na seção de metodologia – pode ser útil, para indicar não apenas pesquisa efetiva e leitura atenta dos “antecessores” do autor no tratamento daquele problema. Não preciso insistir aqui sobre a fidelidade absoluta entre leituras efetivas e listagem bibliográfica, sem aquele recurso muito comum de “nutrir” sua bibliografia de dezenas de obras conhecidas “de orelha”, ou por vezes nem isso, apenas um pequeno esforço de compilação com base no Google ou na Wikipédia: trata-se de desonestidade, pura e simples. Em frente!
Pode-se escolher fazer um retrato muito amplo do problema – começando na idade da pedra, por exemplo – mas o ideal é que a apresentação se limite ao essencial, pois se supõe que os leitores da monografia – que são “atentos” professores, velhos “conhecedores” do problema – já saibam que “antigamente” os homens eram todos uns ingênuos e que, só a partir da Revolução Industrial, da Revolução Francesa, ou de qualquer outro evento genial na história da humanidade, eles despertaram para o conhecimento e o saber... Enfim, isto para dizer que você não precisa dar voltas pela Grécia clássica para enfrentar o “seu” problema, que supostamente é contemporâneo.
Descreva, em palavras secas, à la Graciliano, o que você tem a dizer, e não tente enrolar o seu orientador com aquela “encheção de lingüiça” que só serve para rechear páginas e páginas de verbosidade inútil e aborrecida. Apresente os dados do problema e diga como se deve interpretá-los (ou como autores mais “sábios” do que você os interpretaram anteriormente, geralmente professores que já publicaram extensamente nessa área). Não é preciso dizer que você precisa colocar entre aspas tudo, absolutamente tudo, o que você recolheu nas fontes “primárias”: qualquer tentativa de enganar a “autoridade” nesse particular é punível da forma mais estrita, como crime suscetível de flagelação em público, por fraude ou plágio deliberado.
Por isso, não faça glosa, reescrita, ou copy and paste do que você encontrar por aí: transcreva honestamente tudo o que você recolheu da “inteligência” (ou falta de) de outros autores e dê o crédito a quem merece (sim, você pode aproveitar para criticar a “ingenuidade” de autores que o precederam na gloriosa tarefa de explorar aquele tema). Não se paga direito autoral por reconhecer a anterioridade de ideias já circulando no mercado e você deve reconhecer os direitos morais de autores que se especializaram naquele tema por você escolhido. Todos os dados (ou números) devem ser checados; para isso, indique claramente todas as fontes utilizadas, mesmo quando elas são de domínio público (IBGE, ministérios, agências públicas, por exemplo).
Uma vez apresentados os dados, os argumentos, a problemática em questão, está na hora de você discutir esses elementos, analisar seu impacto ou implicações para a área ou contexto nos quais o seu problema se insere Aqui você vai tentar inferir resultados a partir dos problemas detectados (em princípio situados no “passado”, em face das novas “perspectivas” que se abrem a partir do seu trabalho). Ou seja, você vai “discutir” os seus dados, qualquer que seja o sentido desta “discussão”. Você pode concluir, por exemplo, que aquela área é carente de regulação legal, e que o Estado deveria, supostamente, suprir essas lacunas (oportunamente já detectadas por outros autores, o que você deve também referir). Não tenha medo de referir-se a problemas não abordados em seu trabalho, por estarem à margem do assunto principal, ou por exigirem outro tipo de abordagem ou levantamento de dados adicional: isso pode poupar alguma cobrança na hora da defesa oral do trabalho, por exemplo.
Eventualmente, a discussão efetuada leva o problema a alguma generalização – casos semelhantes ocorridos em outros contextos, ou em perspectiva comparada (com outros países, por exemplo) –, ou você pode proceder por “analogia”, ou seja, por aproximação a outros casos detectados em outras situações e que podem servir como modelo ou base empírica para alguma sugestão na área de que se ocupa seu trabalho. Evite, porém, redundâncias, ou seja, não fique repetindo, em seções diferentes, as mesmas “descobertas” feitas por você ou outros autores: essa é também outra forma de “encher linguiça”, ainda que de maneira substantiva.
Importante: não tente esconder dados, ou argumentos de outros autores, que se oponham ou que confrontem, ainda que parcialmente, aos seus próprios argumentos. Uma exposição honesta dessas visões “divergentes” é mais relevante do que uma tentativa de “harmonia”, ou de unidade analítica, artificialmente construídas. Alguns dados poderão ser considerados uma “exceção”, mas isso precisa emergir da própria exposição completa do problema, não de uma seleção arbitrária das “perspectivas convergentes”, à exclusão dos “elementos discordantes”. Por isso, uma revisão ampla da literatura é necessária para identificar pontos de vista contrários e argumentos que destoem do sentido geral que você pretenderia dar ao seu trabalho. Melhor concluir pela impossibilidade de “conclusões” do que tentar escamotear problemas evidentes que surgem do próprio enunciado contraditório do problema. E com isso chegamos ao item final de nosso “guia”.

Conclusões:
Muito simples: se trata, geralmente, de um resumo da parte anterior, ou seja: uma revisão geral dos argumentos apresentados nos capítulos anteriores e um ensaio de conclusão geral. Mais complicado: o que são, exatamente, conclusões?
Em primeiro lugar, trata-se de uma síntese dos “achados” – findings, como se diz na linguagem acadêmica americana –, o que significa expor as “descobertas” que você fez (não necessariamente originais, no sentido de Colombo, mas pelo menos de uma forma nova). Desses resultados você pode tirar “recomendações” para as autoridades (quanta pretensão, não é mesmo? Mas você não precisa ser modesto aqui, à condição que tenha mesmo conclusões interessantes para apresentar).
Discuta o que significam esses resultados, para a literatura da área, para a realidade em questão, para o trabalho legislativo, paras as medidas dos policy-makers. Esta discussão poderá já figurar na última parte da seção (ou parte) anterior, mas você pode reservá-la para as conclusões, como uma espécie de grande finale. Se você tiver algo de inteligente a expor, diga-o claramente, pois sua monografia poderá ganhar um desses prêmios que se prometem aos alunos mais aplicados.
Depois de tudo isso, você ainda precisa voltar e escrever a Introdução, fazer o resumo (absolutamente claro quanto ao objeto e conclusões), agradecer a Deus, etc. Não se esqueça de revisar a bibliografia, colocar as notas em ordem, segundo o padrão da ABNT (o que é sempre uma chatice), e rever cuidadosamente a linguagem – recorra a um parente mais velho, se o seu Português é destes tempos de incultura generalizada – antes de imprimir e depositar. Um texto mal escrito, mal revisado, um trabalho mal organizado e pobremente apresentado, indispõe seguramente os seus leitores, que vão para a banca de mau humor.

3. O que fazer da sua monografia?
Bem, você chegou ao termo de um extenuante processo de pesquisa, garimpo de dados, compilação de argumentos de outros autores, redação cansativa de um texto que precisa ser constantemente revisto – se o seu orientador fizer o trabalho que lhe compete, honestamente – e o realinhamento de parágrafos (aí sim, na base do cut and paste), e aguarda ansiosamente a defesa da monografia e a proclamação do brilhante resultado: aprovado suma cum laude (nem toda instituição cultiva estes bons valores de antigamente). Você trabalhou durante meses – ou anos – pela sua monografia; pois agora é hora de fazê-la trabalhar por você (em especial para o seu futuro profissional).
Pois tenha isto bem presente, no momento mesmo em que for escolher um tema para trabalhar: ele vai ser um irmão maior – às vezes menor, e muito chato – por um longo tempo (mais até do que você pensa, se alimenta essa ideia que a monografia é apenas uma obrigação “chata” e que é preciso deixar para trás o quanto antes). Uma monografia pode ser uma importante alavanca no seu futuro profissional e até mesmo lhe garantir um emprego bem pago. Assim, ponha a mão na consciência e diga a si mesmo: eu quero fazer um trabalho que discuta um problema relevante, com argumentos originais (não precisam ser todos seus, mas dê o crédito, por favor), e apresenta resultados derivados diretamente da discussão efetuada, eventualmente com a apresentação de “soluções”, ou sugestões, que encantarão os seus leitores (e futuros empregadores).
Dessa monografia poderá resultar um livro ou mais publicações (artigos em revistas, por exemplo), embora eu esteja certamente exagerando. Mas nunca é demais sonhar e, sobretudo, trabalhar ativamente para que isso se realize. Por isso, trabalhe bastante suas conclusões e aqui, sim, você poderá ser um pouco redundante: elas poderão aparecer já na parte final da discussão (ou Apresentação e Análise), nas conclusões, propriamente, e na Introdução do trabalho, quando não, de forma obviamente ultra-resumida, no resumo inicial (abstract).
Nesse sentido, a sua Introdução pode servir como apresentação geral do trabalho, para fins de marketing e oferecimento ao mercado. Por isso, exponha com clareza o objeto do seu trabalho, a relevância do tema pesquisado e discutido, cite os autores mais importantes que embasaram sua análise, eventualmente a metodologia, antecipe os argumentos principais da discussão e resuma, de forma compreensível (isto é, racionalmente), as conclusões a que você chegou. Se você produziu uma obra original, não seja modesto; diga isto logo de cara, mas tenha cuidado no autoelogio, sobretudo se ele for imerecido: uma pesquisa no Google Scholar poderá indicar os 15 mil artigos que existem sobre aquele mesmo assunto. Você não precisa ser tímido, mas também não se ache o novo Cristóvão Colombo.

Finalmente, se quiser seguir um pequeno conselho simpático, enfeite o início do seu trabalho com uma dessas frases geniais de algum cientista ou filósofo famoso, ou coloque uma pequena poesia ou canção popular na página anterior ao sumário. Se for verdadeiramente inteligente, a transcrição desse trecho, ou frase, fará sorrir o seu leitor, que já lhe dará alguns pontos pela graça da iniciativa. Mas, por favor, escolha coisas inteligentes, pois a televisão e a vida política já estão cheias de banalidades...
Seja feliz na sua monografia e tire proveito dela assim que puder!

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 5 de julho de 2011

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Algumas recomendações de leituras adicionais (hélas, em inglês):

1) Steps to Effective Library Research:
http://www.lib/libguides/1-1.html

2) A-Plus Research and Writing for High School and College Students:
http://www.ipl.org/div/aplus/

3) Writing a Research Paper, from Purdue University:
http://owl.english.purdue.edu/workshops/hypertext/ResearchW/

4) Writing Term Papers, from the Chinese University of Hong Kong:
http://www.lib.cuhk.edu.hk/uli/bi/writers/writers.htm

5) Research Paper Help .Net:
http://www.researchpaperhelp.net/

6) The Elements of Style, by William Strunk, Jr., and E. B. White:
http://www.bartleby.com/141/index.html

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Notas de leitura: balanco pouco critico dos anos Lula (livro)

Estou terminando de ler mais este livro:

João Paulo de Almeida Magalhães et alii:
Os anos Lula: contribuições para um balanço crítico, 2003-2010
(Rio de Janeiro: Garamond, 2010, 424 p.; ISBN: 978-85-7617-196-6)

O livro é patrocinado pelo Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro, cujos economistas são todos comprometidos, ao que parece, com uma visão do mundo que está claramente expressa na Apresentação de seu ex-presidente no período 2009-2010, Paulo Passarinho.
Seus associados sempre se “pautaram pela defesa de um novo modelo econômico para o Brasil, coerente com nossas preocupações com a real democratização do país, a defesa da soberania nacional e de uma concepção do desenvolvimento econômico e social capaz de reduzir as imensas desigualdades que nos marcam.” (p. 7)
Dito assim, quem não concordaria com as palavras do apresentador?
O problema é que logo em seguida ele confessa que se posicionam claramente contrários “às reformas implantadas no Brasil a partir dos governos Collor de Mello, Itamar Franco e FHC. Essas reformas procuraram conferir ao país um novo quadro jurídico-institucional, particularmente como suporte para um novo modelo econômico, baseado nas aberturas financeira, comercial, produtiva e tecnológica.” (p. 8).
Ou seja, o presidente do Conselho confessa que ele e seus associados são contra qualquer abertura. E qual seria a razão?
“Esse conjunto de reformas – verdadeiras contrarreformas, pelos seus aspectos antinacionais e antipopulares – tiveram o papel de introduzir em nosso país, de forma tardia, o receituário propugnado pelo chamado Consenso de Washington, anteriormente já aplicado em vários países da América Latina”.

Supõe-se, a partir daí, que o livro conterá uma análise dessas prescrições e o que delas resultou, concretamente, nos países que as aplicaram, com base em dados objetivos e passíveis de confronto com a realidade empírica. Não é isso, entretanto e infelizmente, que ocorre, pois todo o livro é pautado por críticas ligeiras às administrações anteriores, sem muitos dados comparativos. A intenção seria denegrir o suposto neoliberalismo dos antecessores, embora a administração Lula tampouco seja isenta de críticas, não porque tenha afundado a economia do país, mas porque não rompeu com o modelo neoliberal do antecessor.
Como então condenar o modelo anterior, se o governo Lula não rompeu com ele, e sobre sua base construiu seu sucesso econômico e social? Esta é a quadratura do círculo que este livro não consegue responder.

O livro pretende verificar como se desempenhou o governo Lula, ou, em suas palavras: “avaliar em que medida os compromissos históricos de mudanças estruturais no país, inclusive reafirmados na polêmica Carta aos brasileiros, foram satisfeitos” (p. 9).
O espírito que anima os autores e organizadores do livro pode ser evidenciado nesta frase: “Os efeitos que a ideologia dominante exerce sobre o conjunto da sociedade são notórios, em particular com a brutal apologia do individualismo e do exercício do consumismo como formas de realização humanas” (p. 11-12). Em outras palavras: os autores são contra o consumismo e o individualismo, preferindo, por dedução lógica o não consumo e o coletivismo.
Trata-se, sem dúvida alguma, da mesma ideologia ingênua, anticapitalista e antimercado, que permeia quase todo o discurso acadêmico, geralmente inócuo e totalmente desprovido de consistência real, como ainda evidenciado por esta frase:
“No plano objetivo do desenvolvimento econômico e social, aprofundamos [entendo que isto se refira ao governo Lula também] a inserção subalterna da economia brasileira a um mundo sob hegemonia da globalização financeira e fortemente marcado por pressões das potências econômicas, soberanas nas definições de suas prioridades.” (p. 12).
Ou seja, mais uma vez estamos em face de um déjà vu absoluto, um linguajar tão batido e repisado que custa a crer que pessoas do século 21 ainda retomem o vocabulário e as opiniões de meio século atrás para apresentar um livro supostamente de balanço crítico. Custa a crer que nossa academia tenha avançado tão pouco, e que ela continue movida ainda por esse festival de besteirol requentado.
Para esses autores, a “adoção da agenda liberalizante [dos anos 1990, ou seja FHC] ganha hegemonia e sepulta de vez o passado desenvolvimentista do país, ao construir um novo consenso em torno da pauta de reformas ditada pelos interesses do capital financeiro, cristalizando uma unidade programática entre os seus diversos setores – bancos, multinacionais e grandes corporações nacionais”. (p 14).
Eu me pergunto se o mesmo não se aplica ao governo Lula?
O balanço desse governo é oferecido ao final da apresentação de Paulo Passarinho:
“Junto com a aparência de avanços das políticas governamentais – em particular na área macroeconômica, e com o apoio explícito da mídia dominante –, observamos um forte e contínuo endividamento do Estado, o comprometimento de nossas finanças com uma gigantesca carga de pagamento de juros e o sacrifício permanente de áreas vitais ao dia a dia da população, como são os casos notórios da saúde, da educação, dos transportes de massa ou das segurança pública.” (p. 17)
Tirando-se o chavão “mídia dominante”, pode-se até concordar com esse tipo de diagnóstico, com alguns matizes.
Mas é surpreendente que os autores não façam nenhuma conexão entre o endividamento do Estado e a carga de juros, entre a constante rapina de recursos privados por parte do Estado e a ausência do atendimento adequado a todos esses problemas apontados acima, entre uma carga tributária extorsiva e o baixo nível dos investimentos produtivos.
O que surpreende nos economistas que participaram neste tipo de livro é que eles pedem a volta das mesmas políticas que foram aplicadas durante anos e décadas no Brasil “desenvolvimentista” dos anos 1950 e durante o período militar e não se dão conta que foram as mesmas políticas que nos levaram à situação em que nos encontramos hoje.

Para evidenciar a “metodologia” bizarra adotada pelos autores, ressalto apenas uma das áreas notoriamente carentes de mudança e sobre a qual pairam perspectivas sombrias: a educação.
O capítulo dedicado a este tema, “Educação no governo Lula da Silva: a ruptura que não aconteceu”, assinado por Roberto Leher. O autor já começa dizendo que “no governo Cardoso já estava em curso a adequação da educação ao padrão de acumulação advindo da crise da dívida de 1982 e do ajuste provocado pela renegociação da dívida nos anos 1990, processo que engendrou mudanças importantes na economia e que, na perspectiva dos setores dominantes, exigiria a conformação de um outro ethos educativo.” (p. 369)
Por aí se vê a mentalidade do analista da educação brasileira, que é contra o setor privado e acha que tudo foi feito pelos setores dominantes para desmantelar a educação brasileira: “De fato, o governo Cardoso foi abertamente contra a educação pública. (...) Sua opção inequívoca foi pela mercantilização da educação e pelo ajuste da educação de massa a um padrão de acumulação do capital que requer grande volume de trabalho simples.” (p. 370-371).
Este é o compasso das “análises” registradas ao longo de um livro que não oferece exatamente um balanço do governo Lula, e se ele é crítico, o é geralmente pelas vias equivocados e por motivos errados, supostamente pelo lado da “esquerda”, mas que acaba sendo uma via conservadora e até reacionária de “não-mudança” social e econômica. Como diz o próprio autor: “O ProUni e o Fies estão em antípoda com os valores da esquerda.” (p. 388). Constatando-se que esta é a opinião da maioria dos professores e dos seus sindicatos, pode-se confirmar que a educação brasileira não corre nenhum risco de melhorar no futuro previsível, como, aliás, nem a qualidade das políticas econômicas do governo.
O balanço é melancólico, se podemos extrair alguma conclusão...

Paulo Roberto de Almeida
4/07/2011

Notas de leitura: A financeirizacao e o retrocesso mental (livro)

Estou lendo este livro:

Luiz Cláudio Marcolino e Ricardo Carneiro (organizadores):
Sistema financeiro e desenvolvimento no Brasil: do Plano Real à crise financeira
(São Paulo: Publisher Brasil e Editora Gráfica Atitude Ltda., 2010, 264 p.; ISBN: 978-85-85938-64-2)

O apresentador, jornalista Luís Nassif, começa seu Prefácio dizendo que “Desde o século 19, trava-se uma luta intestina, dentro do capitalismo, entre o capital financeiro e o industrial” (p. 7).
Apenas esta frase poderia servir para caracterizar um empreendimento que apresenta boas colaborações sobre o sistema financeiro brasileiro, mas que vem eivado desse tipo de contradições que embotam sua validade para uma análise isenta da realidade financeira, e econômica, brasileira.
O apresentador identifica as funções complementares dessas duas vertentes do capitalismo; por exemplo, ele acha que na “economia real vicejam os empreendedores, aqueles que identificam oportunidades de negócio, montam suas empresas e galgam com suas próprias pernas os degraus do crescimento, de forma lenta e sistemática”. Na outra ponta, existiria a economia financeira, ou seja, “os gestores de recursos, trabalhando em geral com capital de terceiros, de capitalistas ou do público, enxergando os negócios exclusivamente pelo prisma do preço. A meta é comprar ativos baratos e vende-los caros”.
Ele acha que em “economias maduras, através do mercado de capitais, convivem de forma harmoniosa as empresas da economia real e o capital financeiro”, mas que os problemas “surgem nos grandes ciclos de financeirização, como ocorreu nas três últimas décadas do século 19 e do século 20”. Ele então considera que “Aí o capital financeiro tomas as rédeas nos dentes [sic] e deixa de ser funcional”.
Incrível divisão artificial a desse apresentador, como se o capitalista empreendedor, o homem da economia real, não tomasse dinheiro dos bancos e como se ele também não especulasse, quando podia, na vertente da economia financeira. Ele também partilha da teoria conspiratória da história, pois acha que o capital financeiro, “Controlando a política monetária, a economia financeira controla todo o preço dos ativos” (p. 8), que para ele é o centro do capitalismo.
Tudo está, segundo ele, na teoria, ou numa certa teoria, a de que “criando condições favoráveis ao capital especulativo, o desenvolvimento se faria por si só, com os capitais arbitrando os preços, transbordando para os emergentes [sic], auxiliando-os a chegar ao patamar dos desenvolvidos”.
Curioso que ao arvorar esse tipo de concepção, típica dos que atualmente determinam a política econômica no Brasil, ele faz um prognóstico sobre o que não seria desejável de acontecer:
“Um deles [dos mitos criados ao longo dos anos de chumbo da ortodoxia econômica no Brasil] – que ainda persiste – está baseado na lógica de que o desenvolvimento se daria permitindo a concentração econômica em grandes grupos nacionais – amparados por benevolência no Direito Econômico e financiamentos do BNDES. Caberia a esses novos grupos aplainar o caminho do desenvolvimento brasileiro”. (p. 8)
“Toda a lógica da financeirização servia a esse propósito”, segundo o autor, mas isso felizmente acabou. “A reconstrução da nova política, a recuperação do papel proativo do Estado e o aproveitamento virtuoso do mercado de capitais exigem uma espécie de exumação do cadáver do neoliberalismo das últimas décadas” (p. 9).
Ele então elogia este livro, que “permitirá uma reflexão cuidadosa sobre as razões que levam tantos, durante tanto tempo, a se iludirem com miragens e a usarem com tanta sem-cerimônia o conceito de interesse nacional para acobertar interesses óbvios do capital financeiro”.
Seria cômico, se não fosse trágico, pois parece que ele está falando do governo Lula e do governo Dilma, quando ele na verdade quer referir-se exclusivamente aos neoliberais da era FHC.

Um dos organizadores, Luiz Cláudio Marcolino, assina, com Juvândia Moreira Leite [na verdade, o primeiro é economista, a segunda bacharel em direito, mas ambos, respectivamente, presidente e secretária geral do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região], uma introdução, “Perspectivas do sistema financeiro brasileiro” (p. 17-32), na qual confirmam que “a despeito do expressivo crescimento após 2003, o sistema financeiro brasileiro tem se caracterizado por fraco desempenho e por uma contribuição pouco significativa ao desenvolvimento econômico do país” (p. 17).
Eles dizem então que “Ao longo dos últimos anos, esse desempenho só não foi mais negativo por conta da presença de um sistema público de financiamento, do qual fazem parte instituições de peso como o BNDES, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal; fundos públicos com origem parafiscal, como o FGTS e o FAT, e as exibilidades sobre o passivo bancário. Foi esse sistema de direcionamento do crédito que permitiu financiar o investimento, bem como algumas atividades específicas de maior risco ou prazo de maturação como agricultura, habitação, exportações e microcrédito.
Parece incrível que os autores, como vários outros no livro, não percebam as óbvias conexões entre o excesso de dominação estatal sobre o sistema de crédito, como de resto sobre todo o sistema de poupança compulsória no Brasil – acima descritas, justamente –, e as disfunções do mercado de capitais no Brasil, gerando a tal de “desarmonia” entre os capitalismos financeiro e “real”, seja lá como caracterizar essa divisão artificial na economia.

Essa mesma visão acadêmica sobre uma tal de “financeirização” do sistema econômico brasileiro, e sua dominação sobre o resto da pobre economia brasileira, sujeita à perversidade da especulação, externa e interna, domina quase todo o livro, com poucas exceções.
O capítulo 1, por exemplo, “Dinâmica e crise do capitalismo com dominância financeira” (p. 33-54), do outro organizador, Ricardo Carneiro [professor da Unicamp e cotado para ser o principal assessor econômico do PT, caso a coordenação econômica da campanha de Lula, em 2002, tivesse continuado sob as mãos de Celso Daniel, depois assassinado misteriosamente], afirma a mesma deformação que se instalou após a crise do regime de Bretton Woods, ou seja, a dominância financeira nas economias capitalistas, restaurando as características de um capitalismo desregulado. O ideal, para os anti-financeiros, seria que o capitalismo fosse inteiramente regulado, obviamente, para que os financistas não predominassem sobre os capitalistas “reais”. A solução, também obviamente, seria uma nova forma de regulação, capaz de reduzir a instabilidade e a propensão a crises, típicas do capitalismo. Para que isso seja feito, é óbvio, também, que se deve limitar a mobilidade de capitais no plano internacional e a “lógica do investimento de portfólio que a sustenta”. Em seu lugar entraria o DES, como unidade de conta e meio de troca, facilitando o comércio e o investimento produtivo. Os gênios da nova finança só não dizem quem vai emitir, e quanto será emitido da nova “moeda”, uma reedição do velho Bancor proposto por Keynes em Bretton Woods, ou seja, um sistema de compensações automáticas pelo qual os superavitários financiariam, sob certas condições, os deficitários, permitindo ajustes mais adequados aos desequilíbrios entre as economias nacionais. Se tudo fosse assim tão fácil, bastaria que as economias nacionais se juntassem à mesa para discutir esse padrão, e que os empresários privados consentissem em ficar dependentes de governos nem sempre realistas ou sensatos.
O capítulo 2, “A abertura financeira no Brasil: um balanço crítico”, de André Martins Biancarelli, também professor da Unicamp, partilha da mesma visão que a supremacia financeira resulta num balanço negativo, fase iniciada na gestão anterior a FHC e continuada sob o governo Lula, já que a inserção econômica brasileira teria sido muito mais baseada nas finanças do que no comércio, não sendo portanto capaz de diminuir nossa fragilidade financeira externa. Inevitavelmente, a demanda é por controle e restrições, para alcançar maior liberdade econômica e de autonomia nas políticas macroeconômicas. Ele pretende que “a literatura mostra que países de menor grau de abertura ou que de alguma forma instituíram controles temporários possuem não só um histórico de maior estabilidade monetária como também de melhor desempenho econômico”: a solução, portanto, são controles na entrada e quarentena para os capitais puramente especulativos, bem como a regulação no mercado de derivativos.

Todo o livro possui essas características de demonização do capital financeiro, típicas da academia, e essencialmente desse suprassumo da metafísica econômica que é a UniCamp. Não surpreende que não se tenha, propriamente, uma visão equilibrada do sistema financeiro no Brasil e do mercado de créditos. Quanto tudo é culpa da tal de financeirização, e quando o Estado sempre age racionalmente, sabiamente, em favor da economia real, sendo que a presença do Estado não é só necessária como urgente para restabelecer a sanidade do sistema financeiro, não se pode mesmo pretender uma análise equilibrada da economia brasileira, que forma um todo, financeira ou real.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4 de julho de 2011.

Nao era para "reformar a governanca mundial"?, Bretton Woods inclusive?

Estamos perplexos, todos os brasileiros que, nos últimos anos, ou décadas, ouvimos falar que era preciso reformar as velhas estruturas da governança mundial, em especial as instituições econômicas, com destaque, obviamente, para as duas instituições de Bretton Woods, o FMI e o Banco Mundial.
Durante anos, o PT, seus economistas e apoiadores gramscianos nos diziam que era preciso abrir para os emergentes em ascensão e redistribuir as rédeas do poder econômico mundial.
E não é que quando surge a oportunidade de fazê-lo, no FMI, o Brasil, pela boca autorizada do ministro da Fazenda, o governador do Brasil junto aos dois órgãos, escolhe justamente a candidata da continuidade, a francesa Christine Lagarde, cujo adversário era o diretor do Banco Central do México, Agustín Carstens?

Como é possível?
Se são justamente os países europeus que estão bloqueando o processo de reformas no FMI, evitando redistribuir poder de voto dos pequenos europeus (que têm uma representação completamente desproporcional à sua importância econômica real), como evitar esta oportundidade raríssimo de mudar as regras do jogo?

Segundo leio na imprensa, o Brasil optou por apoiar Lagarde:
"Em cima da hora, terça-feira, dia 28, o ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega, formalizava publicamente o apoio à ministra francesa em detrimento do candidato mexicano. Mantega justificou o apoio com o compromisso assumido por Lagarde de dar continuidade a reformas de fundo no FMI, envolvendo o reforço da participação dos países emergentes. A eleição da francesa foi comemorada em Brasília."

Vocês entenderam alguma coisa?
Comemoraram a vitória de uma francesa contra um mexicano?
Como? Por quê? Qual a razão? Quais os motivos?
Então, não vamos mais mudar nada na governança mundial?

O ministro da Fazenda deve explicações mais amplas, que se ajustem à lógica formal e se coadunem com o interesse nacional...
Paulo Roberto de Almeida

Quarta carta aos leitores do Blog Diplomatizzando: temas de busca

Quarta carta aos leitores do Blog Diplomatizzando e aos seguidores do meu site www.pralmeida.org
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4 de julho de 2011.

Meus caros leitores (agora em número de 392 seguidores),
Escrevi uma terceira carta em 22 de abril último, para tecer considerações sobre minha atividade blogueira e sobre a necessidade de me concentrar em alguns temas de pesquisa histórica. Desta vez quero falar sobre algumas estatísticas que recolhi agora (acho que pela primeira vez) em torno das visitas a meu site: www.pralmeida.org.
Examinando essas estatísticas de visitas ao meu site nas últimas semanas, constatei que elas se situam entre 16 mil e 20 mil “unique visitors” cada mês, com mais de 20 mil visitas no total (e um número maior de páginas, mais de 30 mil, e de hits, número superior a 85 mil). Na verdade, eu estava, mais interessado nos temas de busca e de visita, do que propriamente no volume de visitas.
Como o meu site é, expressamente, didático e acadêmico, eu tenho interesse em saber que temas, exatamente, meus visitantes buscam no meu site. Pois parece que a preocupação em terminar o famoso TCC (trabalho de conclusão de curso) prima sobre todos os demais temas (todos eles podem ser encontrados no meu site, bastando agregar essas terminações ao URL genérico):
1) /05DocsPRA/1892GuiaMonografia.pdf (1613 downloads em junho; 1803 em maio)
2) /05DocsPRA/1205GlobalizDesenv.pdf (988 em junho; 800 em maio;)
3) /05DocsPRA/798MSulAlca.html (893 em junho; 1060 em maio)
4) /05DocsPRA/772EconSecXX.html (850 em junho; 1019 em maio)
5) /05DocsPRA/1277HistorPlanejBrasil.pdf (845 em junho; 705 em maio)
5) /05DocsPRA/1920BricsAduaneiras.pdf (590 em junho; 745 em maio)

Quanto às palavras-chave mais usadas nas buscas em meu site, elas são estas (e retiro a primeira de todas, o meu próprio nome):
1) como fazer uma monografia;
2) monografia como fazer;
3) vantagem e desvantagem da globalização;
4) desvantagens da globalização;
5) como escrever uma monografia
6) como organizar uma apresentação de monografia
7) como ser diplomata

Na verdade, todas essas palavras cobrem menos de 3% das buscas, ficando entre 1 e 2%, sendo que o meu nome vem na frente com 3,7% das buscas; todas as demais palavras confundidas fazem a grande maioria das buscas, com 87,4 % dos casos. Para ser mais preciso, juntando os itens 1, 2, 5 e 6, que todos se referem à preocupação em fazer uma monografia, isso dá um total de 4,5 a 5% das buscas.

Quais são os ensinamentos que eu posso tirar desses dados?
Em primeiro lugar, que os que acessam o meu site, em primeira mão, são, visivelmente, estudantes desesperados com seu trabalho de conclusão de graduação, ou seja, que eles não tem sequer orientação, em suas faculdades, sobre como fazer esses TCCs. Ponto negativo para seus professores, portanto, ou para as próprias instituições. Quanto a mim, vou revisar este meu trabalho e reforçá-lo, no sentido de torná-lo mais explícito, mais completo, mais detalhado, para colocar à disposição dos alunos com maior evidência no meu site e blogs.
Em segundo lugar, que o tema da globalização é o hit do momento, da década, da nossa época, mas é curioso constatar que os professores, provavelmente daquela tribo de antiglobalizadores que eu já dissequei bastante bem em meus trabalhos, insistem nos aspectos negativos do processo. Sem problemas, vou insistir nos dois aspectos e tratar de responder às preocupações dos alunos.
Em terceiro lugar, parece incrível que, quase dez anos depois de enterrada a Alca, para todos os efeitos práticos, os mesmos professores – e eu aposto que eles são “anti-alcalinos” a 99% – pedem trabalhos sobre esse fantasma da luta anti-imperialista. Não posso fazer nada, pois já disse tudo o que eu tinha a dizer sobre processo negociador. Mas quem sabe eu não faço um pouco de análise em retrospecto, ou de história virtual, comentando sobre como seria o continente com uma Alca (sem que saibamos, exatamente, o tipo exato de zona de livre comércio que poderia surgir, se o processo negociador terminasse de modo conclusivo)?
Finalmente, aparece sempre o tema do planejamento no Brasil, o que também confirma que o nosso país está longe, muito longe de ser liberal, ou aberto, já que entendo que essa preocupação com o planejamento tem a ver com as tais de “políticas públicas”, setoriais ou outras. Bem, vou continuar tratando destas questões também. Esclareço que não sou contra planejamento, pois ninguém, nenhuma empresa, nenhuma instituição, atualmente, pode trabalhar sem planejamento. O que sou contra é essa crença mágica de que políticas setoriais e planejamento estatal são capazes de resolver nossos problemas mais relevantes.

Espero não cansar meus leitores com esses temas recorrentes, mas entendo também que muita gente entra no meu site ou visita meu blog em busca justamente desses temas identificados como mais buscados.
Boa noite a todos, voltemos ao trabalho.

Paulo Roberto de Almeida
(4/07/2011)

domingo, 3 de julho de 2011

Universidades brasileiras: avestruzes introvertidos...

Sim, o avestruz supostamente é conhecido por colocar a cabeça num buraco na terra, quando em perigo. Não sei se é folclore essa história, ou se tem fundamentos reais.
Um avestruz introvertido, então, é a pior situação possível: além de estúpido, só vive a sua própria situação.
Enfim, não sei quanto aos avestruzes, mas o que eu tenho certeza é que as universidades brasileiras são piores do que avestruzes introvertidos, pois sem perigo nenhum, sem qualquer ameaça externa, decidem se fechar estupidamente ao exterior.
Nem todos, ou todas, são assim, obviamente, mas a maioria é: muita gente estudou no exterior, e os programas de cooperação se desenvolvem, mas o fato é que não temos estrangeiros aqui, tanto estudantes (salvo alguns de países assistidos), quanto professores (apenas de curta duração).
A matéria abaixo trata dessa triste realidade:
Paulo R. de Almeida

Home » Blogs » Ronaldo Lemos's blog
Universities in Brazil are too closed to the world, and that's bad for innovation
By Ronaldo Lemos
Posted on June 15th, 2011 at 11:18 am

When Brazilian president Dilma Roussef visited China in the beginning of May, she came back with some good news (maybe too good to be entirely true). Among them, theannouncement that Foxconn, the largest maker of electronic components, will invest US$12 billion to open a large industrial plant in the country. The goal is to produce iPads and other key electronic components locally.

The announcement was praised, and made it quickly to the headlines of all major newspapers. There is certainly reason for excitement. Brazil lost important waves of economic development, including industrialization (which only really happened in the 1940´s), or the semiconductor wave, an industry that has shown but a few signs of development in the country until now.

Leiam o resto aqui.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...