sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A tragedia educacional brasileira - Editorial OESP


A demagogia das cotas

Editorial O Estado de S.Paulo, Sexta, 17 de Agosto de 2012
Ao aprovar o projeto de lei que obriga as universidades e as escolas técnicas federais a reservar 50% de suas vagas para alunos da rede pública, na semana passada, o Senado não se limitou a fazer demagogia com as chamadas políticas de ação afirmativa. Sua decisão, além de mascarar o problema da má qualidade do ensino médio, é quase inócua, em seu alcance, uma vez que 45% dos 900 mil alunos matriculados nas 59 instituições federais de ensino superior cursaram o ensino básico em escolas municipais ou estaduais.
A constatação é do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (Fonaprace), que acaba de divulgar o Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação das Universidades Federais Brasileiras. O trabalho foi realizado a partir de um levantamento iniciado em novembro de 2010 e concluído em julho de 2011. A base de dados foi fornecida pelo Ministério da Educação (MEC) e cada instituição pesquisada forneceu, online, informações quantitativas e qualitativas que foram avaliadas pelos técnicos do Fonaprace. A pesquisa é por amostragem, tem um índice de confiabilidade de 95% e levou em conta somente os alunos das universidades federais matriculados em cursos presenciais. Em outras palavras, o levantamento não cobre os cursos a distância, oferecidos por meio de sistemas de televisão e internet.
Esse é o terceiro levantamento do gênero já feito pelo órgão - o primeiro foi realizado entre 1996 e 1997. A terceira edição da pesquisa mostra que os maiores contingentes de estudantes das universidades federais egressos da rede pública estão nas Regiões Norte e Sul, com 71,5% e 50,5%, respectivamente. Nas instituições federais de ensino superior situadas no Centro-Oeste e Nordeste, o contingente de universitários vindos da rede pública de ensino básico é de 40,5% e 41,5%, respectivamente. O Sudeste é a região que registrou o menor índice: 37%.
O levantamento do Fonaprace fez outras constatações importantes. Ele mostra, por exemplo, que o número de alunos negros, pardos e índios e pobres vem crescendo significativamente, ano a ano, nas universidades federais. Entre 2004 e 2011, o aumento desse segmento de estudantes nas instituições mantidas pela União foi de quase 50% e os maiores crescimentos foram registrados nas universidades federais do Norte e do Nordeste.
Em termos socioeconômicos, a pesquisa revela que 69% dos estudantes das instituições federais de ensino superior situadas na Região Norte são das classes C, D e E e 63% pertencem a famílias que recebem até três salários mínimos mensais. No Nordeste, 52% dos alunos das federais pertencem às classes C, D e E e 50% são membros de famílias com renda de até três salários mínimos. Os menores contingentes estão nas instituições federais de ensino superior situadas nas Regiões Sul e Sudeste, onde 34% dos alunos pertencem às classes C, D e E.
No plano nacional, os estudantes da classe A representam 15% do corpo discente das universidades federais, com maior concentração nas instituições da Região Centro-Oeste. O levantamento mostra ainda que somente 28% de pais e 33% de mães dos alunos das universidades federais possuem nível superior completo. Também revela que 57% dos alunos utilizam transporte público para irem às aulas e 11% têm bolsa de permanência. Segundo o Fonaprace, esses números desmoralizam dois mitos que ainda sobrevivem na sociedade brasileira - de que os alunos das universidades federais são, em sua maioria, ricos e que se dirigem a essas instituições com automóvel próprio.
Além de relegar para segundo plano a questão de fundo, que é a reforma do ensino médio, o projeto aprovado pelo Senado impõe enormes encargos burocráticos às universidades federais - a ponto de o MEC alegar que elas não têm a menor condição de cumpri-los dentro do período previsto de quatro anos. Mais grave ainda, se for sancionado pela presidente da República, o projeto comprometerá a autonomia pedagógica dessas universidades, que ficarão impedidas de adotar os critérios que julgarem necessários para avaliar o mérito acadêmico, em seus processos seletivos.

O dinossauro brasileiro move lentamente o rabo - The Economist

A matéria da Economist, como sempre objetiva e levemente irônica, toca nos pontos essenciais do problema. O dinossauro estatal brasileiro, o seja, o Estado disfuncional, gasta muito mais (relativamente e proporcionalmente) consigo mesmo do que em investimentos produtivos, ou seja, paga regiamente a seus marajás e políticos (e juízes e outros apaniguados), do que trata de resolver os problemas básicos dos brasileiros: saúde, educação, infraestrutura, segurança pública, enfim, essas coisas básicas que deveriam compor o menu de qualquer candidato a estadista, ou pelo menos praticante da verdadeira economia política, segundo Adam Smith. 
Em lugar de tratar do básico, o dinossauro fica se metendo onde não deve -- inclusão social, digital, telefônica, sexual, e por aí vai -- em lugar de deixar os mercados resolverem a provisão de bens e serviços a custos razoáveis, que são absurdamente caros apenas porque esse mesmo dinossauro intrusivo pretende se meter onde não deve e com isso recolhe impostos extorsivos para serviços miseráveis.
Paulo Roberto de Almeida 


Brazil’s economy

Facing headwinds, Dilma changes course

The government announces plans to privatise infrastructure, and disappoints striking bureaucrats

IN RECENT years Brazil’s government has been able to avoid tough spending choices. Faster economic growth and falling tax evasion have translated into steadily rising revenues, allowing the federal government to hire more workers and pay them more, as well as to boost pensions and social transfers (see chart 1). But the fat times are over. In 2011 economic growth was only 2.7%; this year 2% looks optimistic. Tax revenues are rising only a little faster than inflation. The government can no longer satisfy everyone.
The noisiest demands come from public-sector workers. Teachers at federal universities have been on strike for three months; they have recently been joined by federal police, tax officials and staff at some regulatory agencies. Around 300,000 have walked out, almost half the federal workforce. Police have blocked roads and worked to rule at airports, causing travel chaos. Striking customs officials have left goods stuck in ports. The strikers’ demands would swell the federal government’s salary bill by up to 50%; inflation is running at 5.2%.
The president, Dilma Rousseff, has made clear her irritation. Most federal employees have had big pay increases since 2003, when her Workers’ Party (PT) came to power. On average, federal salaries are now around double the private-sector rate for equivalent jobs, points out Raul Velloso, a public-finance specialist in Brasília.
Ms Rousseff has said that any pay rises will be limited to the lowest paid, or tied to productivity—and that public money would be better directed to helping private companies avoid lay-offs. Strikers have been threatened with docked pay and state governments authorised to use their own staff as cover. All this marks a big shift: the strikes are being led by the Central Única dos Trabalhadores, a powerful group of unions with strong links to the PT.
Even if the president wins this battle of wills, it has already disrupted her plans. For months officials have been promising new measures to boost growth by cutting the custo Brasil, as the fearsome cost of doing business in the country is known. To turn an honest centavo,businesses must cope with awful roads, high energy costs, archaic labour laws and a Byzantine bureaucracy. But announcements were postponed as the government reworked its sums to find some crumbs for the strikers.
On August 15th, before an audience of business leaders at the presidential palace, Ms Rousseff unveiled plans for auctions to bring private firms into building and running infrastructure. Investors will be invited to build or upgrade and then operate toll roads totalling 7,500km (4,700 miles) and railways covering 10,000km. Investment will total some 133 billion reais ($66 billion), the government estimates, with almost half spent in the next five years. The auctions will start early next year. Among the projects to be handed over are some from the government’s flagship Growth Acceleration Programme (PAC) of hitherto public investment. Contracts for ports and airports will follow. Partnership with the private sector was the “thriftiest” approach, said the president: “We want better infrastructure to cut costs for businesses and taxpayers, and most of all to ensure more and better-paying jobs.”
Brazil’s current-account surplus relies on shipping out mountains of soya beans, iron ore and such like—the stuff is mostly moved along bumpy roads to antiquated, badly run ports, only to sit idle before loading, sometimes for weeks. Air passenger numbers have doubled in the past decade and are expected to do so again in the next. The country’s rail network is an eighth the size of that in the United States, and much of it is in terrible condition. Although federal spending on infrastructure has risen recently, excluding housing it is still only 1.1% of GDP.
Ms Rousseff, like her party, is instinctively hostile to anything akin to privatisation. But she has clearly concluded that without private-sector involvement, the infrastructure Brazil needs will never be built. Clearing such a backlog would strain any government—and in Brazil, where current spending has long crowded out investment, it is simply impossible. To make matters worse, around two-thirds of federal spending goes on pensions or other non-discretionary items, points out Mr Velloso (see chart 2). And even when the cash is there, an incompetent public sector often cannot get projects off the drawing board. Infraero, the state firm that mismanages Brazil’s airports, often fails to carry out budgeted improvements. Many PAC projects are running years behind schedule.
A policy shift away from short-term boosts to demand towards ambitious infrastructure upgrades should increase Brazil’s long-term growth, says Gray Newman of Morgan Stanley, an investment bank. But bringing in private firms cannot turn things around immediately. Cumbersome and illogical planning and environmental laws often halt infrastructure projects for months—or for ever. This week a federal court ordered a halt to work on Belo Monte, a controversial hydroelectric scheme in the Amazon, for example. And contracting out can work only if the PT overcomes its distaste for decent private profits: the many risks in project-execution mean that otherwise investors will stay away.
The other half of the government’s promised attack on the custo Brasil—modest but broad-based tax cuts—has still not been confirmed. It has hinted that a cut in payroll taxes granted last year to sectors heavily exposed to foreign competition, such as shoes and software, may be extended to all employers. Three or four of the 28 taxes on electricity could also be abolished, reducing some of the world’s highest bills by 10-20%.
Both moves would benefit consumers and cut business costs across the economy. They would also signal a change of direction: previous tax cuts have been narrow and temporary. But budgetary pressures may mean that they are watered down or further delayed. Brazilian business must hope Ms Rousseff holds her nerve.

A tragedia educacional brasileira: o gargalo do ensino medio - Comentario recebido

A propósito deste meu post

QUINTA-FEIRA, 16 DE AGOSTO DE 2012


o comentarista Nico apresentou estes argumentos, que me julgo no dever de elevar à condição de postagem, en bonne et due forme, dada sua pertinência e total relevância para o debate atual sobre os problemas da educação brasileira.
Devo dizer que concordo - mas isso é secundário -- com seus argumentos, e acrescentaria mais:
Já saindo de um ensino fundamental que é singularmente ineficiente para alfabetizar convenientemente os alunos -- e que comporta inutilidades demagógicas do tipo "estudos afrobrasileiros" e "espanhol" obrigatórios -- os estudantes do ensino médio são absolutamente massacrados por um currículo avassalador -- com outras inutilidades obrigatórias, que existem apenas para dar emprego aos companheiros desempregados pela sua própria incompetência -- e depois têm de fazer um vestibular que realmente mistura alhos com bugalhos, que obriga candidatos de humanidades a saberem perfeitamente Física e Química, e que obriga os candidatos destas áreas a saberem perfeitamente história e redação.
A inadequação da educação brasileira, e os gargalos do ensino médio e do vestibular levam os "responsáveis" - que são tanto políticos demagogos quanto os "pedagogos" desse Ministério do Atraso Educacional que se chama MEC -- com sua vasta "alcatéia" do que eu chamo de "saúvas freireanas" -- a buscarem "puxadinhos" e improvisações catastróficas, para resolver suas contradições, criando outras em seu lugar.
Devo dizer que sou absolutamente pessimista quanto às possibilidades desses problemas serem corrigidos any time soon, pois ainda devemos contar com as máfias de sindicatos de professores, manipulados por militantes ignaros de causas anacrônicas, que vão continuar contribuindo para o atraso e a tragédia educacional brasileira.
Paulo Roberto de Almeida 


Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Cotas antisociais e racistas vao rebaixar a educac...": 

Existe um pequeno detalhe. Não vou entrar no mérito do texto, pois concordo quase que de todo. Mas uma coisa muito me incomoda (embora não me coloque em posição favorável às cotas). Salvo algumas universidades, como a UFRJ, o vestibular é aplicado de maneira grosseiramente tosca. A grade curricular do Ensino Médio brasileiro já é surreal, exigindo dos estudantes conhecimentos técnicos de Química, Física e afins que só deveriam ser conhecidos na graduação. Mas aí o exame de acesso ao ensino superior consegue ser ainda mais bizarro. O sujeito vai prestar o vestibular para História, e tem que responder questões relativamente complexas de Biologia e Química. Pera lá né. Além do adendo, não basta estudar em escola particular para ser aprovado em curso concorrido (Engenharia Civil, Direito, Farmácia, Medicina etc) em uma boa universidade. A imensa maioria dos calouros destes cursos fez cursinhos para a assimilação das técnicas (leia-se decoreba), pelo qual seus pais pagam o olho da cara. Por este motivo, discordo veementemente que quem seja aprovado no vestibular seja melhor preparado para o curso do que quem não o foi (guardadas as devidas proporções, claro, um indivíduo que acerta 20% em Língua Portuguesa e interpretação tem que voltar para os bancos da escola). O vestibular hoje é apenas um filtro, que seleciona quem teve o melhor treino. Um fato interessante é que as notas mais altas na redação dos vestibulares são de estudantes das humanas (Filosofia, Sociologia, História). Seu desempenho nas questões objetivas das ciências naturais não raro não os classificam de forma suficiente para que fossem aprovados, por exemplo, em Direito, um curso muito mais concorrido. Mas será que, porque um indivíduo acertou menos questões de Física, será um advogado, promotor ou juiz inferior ao que acertou mais questões? Por isso creio que reduzir a questão das cotas à "vai baixar o nível" meio que radical. Existe ainda o pequeno grande detalhe de que o indivíduo só será aprovado nas disciplinas da graduação se o professor concordar que ele domina o assunto. Se analfabetos funcionais estão se formando, quem falha são os docentes. Mas o curioso é que, à exemplo do vestibular, as provas na graduação frequentemente são aplicadas naquele esquema "múltipla escolha A, B, C, D ou E choose one and good luck". Assim tenho contato com estudantes na metade do curso que não sabem nem interpretar um texto de maneira satisfatória, e que para escrever dez linhas é um suplício. Porém suas notas apontam que são indivíduos com domínio de 75~85% dos assuntos que tem estudado.
Eu não sou especialista em métodos avaliativos, psicologia da educação e nem qualquer coisa minimamente semelhante. Mas me parece que temos falhado gravemente na formação do nosso povo, já faz gerações, e continuamos insistentemente errando sistematicamente.
Nico

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Brasil: a nova agenda social - livro de Edmar Bacha e Simon Schwartzman (orgs.)


Brasil : a nova agenda social / Edmar Lisboa Bacha, Simon Schwartzman (organizadores).
Rio de Janeiro : LTC, 2011.

Introdução -  Edmar Lisboa Bacha e Simon Schwartzman

Parte 1 – Políticas de Saúde

2. Uma Nota sobre o Princípio da Integralidade do SUS – Mônica Viegas Andrade e Kenya Noronha

Parte 2 – Previdência Social e Políticas de Renda

4. Previdência Social: Uma Agenda de Reformas – Paulo Tafner e Fabio Giambiagi
7. O Contrato Social da Redemocratização -Samuel de Abreu Pessoa

Parte 3 – Políticas de Educação

10. Pré-Escola, Horas-Aula, Ensino Médio e Avaliação – Naercio Aquino Menezes Filho

Parte 4 – Políticas de Segurança Pública

12. Segurança Pública nas Grandes Cidades - Sergio Guimarães Ferreira

Bibliografia

Índice remissivo

Sobre os Autores

Cotas antisociais e racistas vao rebaixar a educacao - Fernando Reinach


Cota desrespeita inteligência
Fernando Reinach
O Estado de S.Paulo, 16 de agosto de 2012

Todo professor responsável enfrenta o desafio de lidar com a diversidade dos alunos. Parte da diversidade resulta de diferenças na motivação deles. Enquanto alguns chegam famintos por novos conhecimentos, outros preferiam estar longe da sala de aula.
Mas também existe a diversidade dos conhecimentos na mente de cada aluno. Enquanto alguns sabem o suficiente para compreender o conteúdo da aula, outros têm dificuldade ou ainda são incapazes de acompanhar a matéria. Claro que essas duas categorias se entrelaçam. Muitos alunos perdem a motivação por estarem despreparados para acompanhar a aula, outros a perdem pelo fato de a aula não ser suficientemente desafiadora e instigante.
O dilema é sempre o mesmo. Ao puxar o ritmo do aprendizado, o professor motiva os preparados, mas aliena os retardatários. Se optar por ajudar os retardatários, perde o interesse dos mais adiantados.
Desde o surgimento da escola na sua forma atual, em que muitos alunos são ensinados por um professor, o problema da heterogeneidade das classes tira o sono de docentes dedicados. Esse problema está na origem do ensino seriado, em que alunos da mesma idade e conhecimento são agrupados em uma sala de aula e sua promoção para a próxima série depende do cumprimento de certas metas.
Esse mecanismo, que garante um mínimo de homogeneidade, é a mãe dos exames de avaliação, da temida reprovação e das aulas de recuperação, talvez o melhor mecanismo para reduzir a diversidade. Nas cortes europeias, em que os jovens príncipes eram educados individualmente por tutores, esse problema não existia. Mas, assim que o ensino formal foi massificado, mecanismos capazes de organizar alunos em grupos relativamente homogêneos foram desenvolvidos. O custo de desrespeitar essa regra básica é um aproveitamento menor dos alunos e uma diminuição na eficiência e velocidade do ensino.
Aprovação automática. Há alguns anos foi introduzida no Brasil a aprovação automática dos alunos, independentemente do conhecimento adquirido. Além de ser uma maneira barata e simplista de isentar o sistema educacional da responsabilidade de dar aulas de reforço e acompanhamento, essa medida aumenta a heterogeneidade das classes, dificulta o trabalho dos professores e diminui a eficiência do ensino. Nossos professores agora têm de motivar, durante uma mesma aula, alunos preparados e despreparados. Mas ninguém reclamou muito. Professores e diretores se livraram da meta básica de todo educador: fazer a maioria de seus alunos aprender, de maneira estimulante, o currículo de cada série. O governo pode mostrar estatísticas de aprovação róseas e os pais se livraram da frustração de ter seus filhos reprovados. O resultado é que a pressão por um sistema educacional melhor foi aliviada.
Agora uma nova lei promete aumentar a heterogeneidade entre os alunos das universidades federais. É o sistema de cotas para alunos que estudaram em escolas púbicas. Não há dúvida de que é injusto que toda a população pague pela manutenção das universidades federais e somente os mais ricos, vindos de escolas privadas, ingressem nessas instituições. A questão é saber se as cotas são a melhor solução para essa distorção.
Com o novo sistema de cotas, 50% das vagas nas universidades federais serão disputadas por todos os alunos. O restante será disputado por alunos de escolas públicas. Esse novo sistema vai gerar dois grupos de alunos em todas as classes, em cada um dos cursos de todas as universidades federais.
Quão diferentes serão esses grupos? Se os melhores alunos da escola pública tivessem preparo semelhante ao dos melhores alunos das escolas privadas, a nova lei seria desnecessária. O alunos da escola pública já ocupariam hoje mais de 50% das vagas. Mas esse não é o caso e metade das vagas será ocupada por alunos menos preparados (mas não menos inteligentes). Basta simular esse tipo de seleção com base nos resultados dos vestibulares passados para verificar quão diferentes serão esses dois grupos.
Qual será o efeito dessa medida sobre a qualidade do ensino ministrado nas universidades federais? Como o ensino será ministrado nessas novas classes, em que metade dos alunos será menos preparada que a outra metade? Os professores adequarão o ensino a essa metade, desestimulando os mais preparados, reduzindo o nível de toda a universidade? Ou será que o nível das aulas será mantido, alienando os alunos menos preparados e desencadeando reprovações em massa?
Será que os defensores dessa lei acreditam que os professores das universidades federais são tão capazes, motivados e tão bem remunerados que facilmente darão conta desse novo desafio? Ou será que as universidades federais adotarão o sistema que existia nas pequenas escolas primárias do interior do País, em que todos os alunos do curso primário eram colocados na mesma sala, organizados por fileiras. Os de 7 anos numa fileira, os de 8 em outra e assim por diante, enquanto o professor dividia seu tempo entre as fileiras.
Qualidade ameaçada. O mais provável é que esse aumento na heterogeneidade diminua a qualidade do ensino nas universidades federais. Só resta esperar que na esteira dessa nova lei não venha a obrigação da aprovação automática nas universidades federais ou um novo programa de cotas que garanta para os alunos egressos dessas universidades 50% das vagas no funcionalismo público.
Antes de sancionar a nova lei, o governo deveria visitar diversos programas experimentais financiados pelo setor privado. Muitos desses programas, ministrando aulas complementares nos finais de semana, conseguem colocar até 80% de alunos carentes, vindos do ensino público, nas melhores universidades brasileiras. Isso depois de concorrerem com os melhores alunos do ensino privado. Vale a pena ver o orgulho estampado na face desses jovens.
Na minha opinião, as cotas colaboram para a piora do ensino público e são um desrespeito à inteligência e à autoestima dos alunos das escolas públicas. Precisamos não de cotas, mas de um ensino público melhor.
O ingresso de 50% de alunos do sistema público nas universidades federais deveria ser uma meta do Ministério da Educação e não mais uma maneira de diminuir a pressão da sociedade por uma educação de melhor qualidade.

* BIÓLOGO

Reflexoes 'a margem de um processo (ou Acao Penal)...

Existem pessoas perfeitamente desonestas.
Existem pessoas perfeitamente mentirosas.
Existem pessoas oportunistas e de má-fé.
Existem fraudadores contumazes.
Existem ladrões costumeiros e habituais.
Existem bandidos originais e normais, e os anormais e reincidentes.
Existem pessoas sem qualquer caráter, e que pretendem ser honestas.
Existem desonestos do mais alto coturno (ou qualquer outro sapato...).
Existem pessoas que eu nunca convidaria para um café (ou chá).
Existem pessoas às quais eu não apertaria a mão, ou teria qualquer outro gesto amistoso
Existem pessoas que prefiro ignorar...

E no entanto, elas invadem a minha casa, e insistem em se declarar inocente de tudo.
O mundo é mesmo cheio de pessoas detestáveis...
Paulo Roberto de Almeida 

Argentina: novo menu de faquires (a 3 reais por dia)


Governo argentino diz que é possível comer com R$ 3 por dia
Professores de Nutrição da Universidade de Buenos Aires dizem que são necessários no mínimo 24 pesos, ou cerca de R$ 12
Bom Dia Brdasil, 16 de agosto, 2012

O governo de Cristina Kirchner, que é acusado de tentar esconder a inflação no país, causou muita polêmica nesta semana após anunciar que uma pessoa pode se alimentar na Argentina com apenas seis pesos por dia, o equivalente a cerca de R$ 3.
A estimativa foi feita pelo Instituto Nacional de Estatística e Censo da Argentina, que mede os índices oficiais do país. A notícia, entretanto, virou piada nas redes sociais.
Inflação de 8% ou 25%?
De acordo com a ala não-governista da central de trabalhadores do país, uma pessoa precisa de pelo menos 19 pesos (cerca de R$ 9,50) por dia para se alimentar na Argentina. Professores de Nutrição da Universidade de Buenos Aires vão ainda além e dizem que são necessários no mínimo 24 pesos (cerca de R$ 12 reais).
Trata-se de mais uma polêmica envolvendo os números oficiais da economia argentina. Enquanto o governo de Cristina Kirchner diz que a inflação do país não passa de 8% ao ano, consultorias independentes dizem que essa taxa é superior a 25%.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...