A França está desvalorizada, bem sabemos, e os americanos só gostam mesmo de French fries, mas não desses arrogantes franceses, que vivem querendo afirmar independência frente ao grande império universal. Mas uma embaixadazinha em Paris não é de se desprezar, não é mesmo?
Basta pagar um pouco, e ela cai no seu colo, pelo menos para os padrões de campanhas presidenciais americanas. Que tal seis milhões de dólares (eu disse US$ 6.000,000.-).
Mas, para conquistar a representação junto à Corte de St. James a contribuição para a campanha presidencial pode ser um pouco mais baixa, na faixa de 2 milhões de dólares.
Essa decadência inglesa acabou desvalorizando o país, embora o candidato não precise falar qualqeur outra língua...
O que é isso para um bilionário? Nada, quase uma gorgeta, só que para o Partido Republicano ou o Democrata, depende de quem você está apostando para a presidência.
Enfim, se você der qualquer cem mil dólares, pode ir para a América Central...
E assim o Departamento de Estado é loteado...
Paulo Roberto de Almeida
Study Puts ‘Cost’ to Landing Embassy Post
By NICHOLAS CONFESSORE
The New York Times, January 31, 2013
It is the unspoken question on every big donor’s lips: How much do I have to give — really — to get appointed to a desirable diplomatic post by the president?
Like all modern presidents before him, President Obama has appointed friends and donors to about 30 percent of diplomatic posts, often in glamorous and safe locales in Europe and Asia. Donors and advisers involved in the diplomatic selection process say that competition for these posts is so tight this year, and Mr. Obama’s network of big donors and bundlers so vast, that those who have raised less than a million dollars are for the most part unlikely to be considered.
Officially, of course, there are no such requirements for would-be ambassadors. But in a recent study, two researchers — Johannes W. Fedderke and Dennis C. Jett, both professors of international relations at Pennsylvania State University — computed theoretical prices for different postings.
Titled “What Price the Court of St. James’s? Political Influences on Ambassadorial Postings of the United States of America,” the paper looks at diplomatic appointments in the Obama administration through January 2011. Dr. Fedderke and Dr. Jett theorize that the most desirable postings are those to countries “that are not obscure, dangerous, poor or of low interest to tourists.” Where “political campaign contributions (financial or otherwise) exercise an influence on the nature of posting received,” the desirability of a posting should correspond to the size of the campaign contribution.
The researchers compared available information on donors’ direct political contributions and “bundling” — money raised on behalf of Mr. Obama by supporters — with data on the national income of host countries, their relative level of safety, and the robustness of their tourist industries.
Not surprisingly, the authors found that politically connected ambassadors, including former aides as well as donors, were statistically more likely to be posted to countries in the Caribbean, North America and Central America. But those whose political connections to Mr. Obama were measured in dollars, rather than administration service, had an increased chance of representing the United States in Western Europe, and a markedly smaller chance of serving in, say, Central Asia or sub-Saharan Africa. The study found that political ambassadors who had made campaign donations of $550,000, or bundled contributions of $750,000, had a 90 percent chance of being posted to a country in Western Europe.
And what do these postings “cost?” Ambassadorial appointments do not, of course, come with price tags. But by combining information on what current ambassadors contributed along with data on the desirability of the ambassadors’ host countries, Dr. Fedderke and Dr. Jett arrived at “implied prices” for a selection of highly sought positions. The figures did not represent how much donors actually gave or raised to get the jobs, the researchers said, but rather their theoretical value in fund-raising terms. Those numbers in turn give a sense, Dr. Fedderke said, of how attractive each posting is in relation to the others.
“What we can observe is data on contributions and postings,” Dr. Fedderke said in an interview. “And on the basis of that, we can infer an implicit valuation on postings in monetary terms — even if they haven’t contributed that much.”
When isolating a country’s wealth over other factors, Luxembourg came in at the top of the chart, with a posting there valued at $3.1 million in direct contributions, while an appointment to Portugal was predicted to have a value of $602,686 in personal contributions. The model suggests that bundlers can get the same posts for less: Portugal was valued at about $341,160 in bundled contributions, Luxembourg at $1.8 million.
When factoring in a country’s tourist trade, however, France and Monaco top the list, with the level of personal contributions at $6.2 million and bundled contributions at $4.4 million.
The prices, authors note, vary considerably depending on which factors to emphasize. And in some cases, the actual nominees appeared to “overpay” for their positions — raising or giving more than the model would suggest was necessary — and in some cases “underpay.” That is because some donors bargain poorly for their positions, the authors suggest, while others may possess attributes (business experience, a personal connection to the president) that aid their case. But regardless of the model, Dr. Fedderke and Dr. Jett found, political ambassadors are more likely to be appointed to those countries that are wealthy, popular tourist destinations and safe.
And what price is the Court of St. James’s — diplomatic-speak for Britain, the nation’s most prestigious post? “The price for the Court of St. James’s,” the authors find, “appears to lie between $650,000 and $2.3 million.”
Related
Well-Trod Path: Political Donor to Ambassador (January 19, 2013)
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
Novos companheiros unidos, ainda assim serao vencidos...
Quem diria??!!
Zé Caroço, vulgo José Dirceu, e Paulo Maluf, unidos na mesma causa deletéria, da promoção da desfaçatez, da falta de vergonha, da criminalidade, pura e simples...
Nossas homenagens à honestidade bandida de cada um deles, agora unidos na mesma ação imoral.
Paulo Roberto de Almeida
Zé Caroço, vulgo José Dirceu, e Paulo Maluf, unidos na mesma causa deletéria, da promoção da desfaçatez, da falta de vergonha, da criminalidade, pura e simples...
Nossas homenagens à honestidade bandida de cada um deles, agora unidos na mesma ação imoral.
Paulo Roberto de Almeida
José Dirceu critica em blog ‘falso moralismo’ e defende eleição de Renan
'O que estamos assistindo em relação ao senador Renan Calheiros é, de novo, uma ofensiva midiática', afirmou o ex-ministro da Casa Civil
Maluf defende candidatura de Calheiros para o Senado
31 de janeiro de 2013 | 21h 25
De novo:
Eles se merecem...
Paulo Roberto de Almeida
quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
Prospeccao: cenarios futuros em seminario do CGEE
Prospecção
Workshop sobre cenários discute com especialistas nacionais e internacionais enfoques para conectar alternativas de futuro com processos decisórios atuais
Boletim de Notícias do CGEE, 31/01/2013
O Workshop Internacional sobre Cenários reuniu no início de dezembro de 2012, no CGEE, especialistas de diversos institutos nacionais e internacionais para discutir diversos aspectos sobre a construção e o uso de cenários, incluindo tipologias; formas de lidar com complexidade e emergência; maneiras de se construir narrativas conectando o presente a distintas possibilidades de futuro; possibilidades de visualização, comunicação e uso de resultados; e impactos em políticas e decisões empresariais.
O workshop é uma iniciativa do Núcleo de Competência Metodológica do Centro (NCM) e teve o intuito de trocar experiências e o aprendizado mútuo. "A ideia foi fortalecer a habilidade de todos os participantes em conectar alternativas de futuro com processos decisórios atuais, bem como identificar a possível criação de parcerias", resume Cristiano Cagnin, assessor técnico e organizador do evento.
Ao todo foram sete painéis. No primeiro, chamado "Use of scenarios at the Austrian Institute of Technology (AIT)", Susanne Giesecke, pesquisadora visitante do AIT no CGEE, explicou como o instituto trabalha com cenários para obter soluções eficientes para os problemas que podem surgir no futuro. Susanne falou sobre o projeto "Scenarios for Research and Innovation Futures 2030: Exploring new ways of doing research" que o AIT realiza em parceria com diversas instituições e universidades. O foco do projeto é analisar novas maneiras de realizar e organizar pesquisas em universidades, organizações de pesquisa, empresas e na sociedade em geral. O projeto explora tendências, opções estratégicas e padrões emergentes buscando traçar cenários de 2020 a 2030.
Brian MacAulay, da think thank britânica Nesta, falou sobre o uso de modelos para construir cenários e avaliar distintas opções de políticas públicas. Para Brian a conexão entre modelos de sistemas complexos com enfoques qualitativos e relações sociais permite a criação de conhecimento combinado com a identificação de elementos emergentes. Assim, as vantagens de explorar o futuro estão na pluralidade e na inclusão, pois permitem que pessoas com diferentes opiniões debatam e todos sejam ouvidos de forma que possam contribuir com diferentes aspectos sobre as questões propostas.
A apresentação seguinte foi de Riel Miller, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), sobre a disciplina da antecipação, que oferece, segundo Cristiano, "uma maneira robusta e consistente para o aprendizado e a troca, bem como para se incluir, de forma sistemática, aspectos transformativos e complexos na construção de narrativas". Além disso, Riel Miller discorreu sobre as maneiras de se capacitar equipes para lidar com emergências, complexidade e interconectividade.
Cláudio Porto, da Macroplan , empresa brasileira de consultoria em cenários prospectivos e administração estratégica, falou sobre a evolução dos estudos prospectivos no Brasil em quatro grandes estágios de maturidade. Cláudio destacou cinco grandes casos de construção de cenários no Brasil, entre eles, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a Eletrobrás, a Petrobras, Governo de Minas Gerais e o projeto Brasil em Transição 2011-2022. Para Porto, o Brasil ainda é frágil, como país, na construção de estratégias de longo prazo, apesar de ter progredido muito nos últimos 30 anos.
Renata Nascimento Szczerbacki, da Petrobras, destacou o processo de planejamento estratégico da empresa e como a construção de cenários faz parte desse processo. A especialista apontou que essa combinação é fundamental para guiar a empresa, em todos seus seguimentos, para períodos de 20 anos. Renata discorreu sobre o último trabalho realizado em 2010 com horizonte 2030 e cortes em 2020, 2015 e 2011. O uso de cenários é importante para direcionar os investimentos que a empresa fará, pois o retorno é a longo prazo.
Lia Krucken, da Fundação Dom Cabral, mostrou como a fundação utiliza estudos prospectivos para inovar na construção de cenários para grandes empresas. Cenários são utilizados para dar suporte ao desenvolvimento de estratégias, compreender de forma holística o problema sendo analisado, antecipar desafios e construir um processo de aprendizado organizacional adaptativo. Nesse processo, a captura de sinais emergentes é fundamental para a identificação antecipada de oportunidades e ameaças, bem como o desenvolvimento de estratégias capazes de se anteciparem tais desafios.
No final, Lélio Fellows, do CGEE, apresentou aos participantes uma nova forma de se construir cenários. É um processo desenvolvido pelo NCM do Centro, dividido em quatro passos simplificados: identificar cenários (globais e conectados ao contexto sob observação) a serem analisados; desenvolver um modelo de documento específico para captar drivers, incertezas, sinais fracos, surpresas e outras variáveis a serem organizadas de acordo com critérios relevantes para o contexto sob análise; identificar as variáveis independentes mais relevantes; e desenvolver cenários na forma de um quebra-cabeças. Para Lélio, existe a crença de que "trabalhar com cenários é caro e demorado, mas é a nossa capacidade de exigir e de solucionar problemas que fará com que as coisas aconteçam concretamente", afirmou o especialista.
As discussões ajudaram a identificar possíveis caminhos para fortalecer o uso de cenários no CGEE e em organizações parceiras. "Uma análise mais profunda de elementos como cenários transformativos, ferramentas interativas para a visualização e a prototipação de resultados, o uso de enfoques robustos para construção de futuros alternativos mais criativos e capazes de abraçar a espontaneidade, a experimentação e a complexidade, a capacidade de fazer sentido de conhecimento coletivo distribuído, bem como a habilidade de comunicar melhor os resultados e de conectar o processo de cenários ao ciclo de tomada de decisão, entre outros, são essenciais para o fortalecimento da capacidade institucional de subsidiar políticas públicas conectando alternativas de futuro ao presente " conclui Cristiano Cagnin.
A partir do workshop, o CGEE desenha atualmente possíveis colaborações com a Unesco para 2013 e fortalece a colaboração com o Austrian Institute of Technology (AIT).
Workshop sobre cenários discute com especialistas nacionais e internacionais enfoques para conectar alternativas de futuro com processos decisórios atuais
Boletim de Notícias do CGEE, 31/01/2013
O Workshop Internacional sobre Cenários reuniu no início de dezembro de 2012, no CGEE, especialistas de diversos institutos nacionais e internacionais para discutir diversos aspectos sobre a construção e o uso de cenários, incluindo tipologias; formas de lidar com complexidade e emergência; maneiras de se construir narrativas conectando o presente a distintas possibilidades de futuro; possibilidades de visualização, comunicação e uso de resultados; e impactos em políticas e decisões empresariais.
O workshop é uma iniciativa do Núcleo de Competência Metodológica do Centro (NCM) e teve o intuito de trocar experiências e o aprendizado mútuo. "A ideia foi fortalecer a habilidade de todos os participantes em conectar alternativas de futuro com processos decisórios atuais, bem como identificar a possível criação de parcerias", resume Cristiano Cagnin, assessor técnico e organizador do evento.
Ao todo foram sete painéis. No primeiro, chamado "Use of scenarios at the Austrian Institute of Technology (AIT)", Susanne Giesecke, pesquisadora visitante do AIT no CGEE, explicou como o instituto trabalha com cenários para obter soluções eficientes para os problemas que podem surgir no futuro. Susanne falou sobre o projeto "Scenarios for Research and Innovation Futures 2030: Exploring new ways of doing research" que o AIT realiza em parceria com diversas instituições e universidades. O foco do projeto é analisar novas maneiras de realizar e organizar pesquisas em universidades, organizações de pesquisa, empresas e na sociedade em geral. O projeto explora tendências, opções estratégicas e padrões emergentes buscando traçar cenários de 2020 a 2030.
Brian MacAulay, da think thank britânica Nesta, falou sobre o uso de modelos para construir cenários e avaliar distintas opções de políticas públicas. Para Brian a conexão entre modelos de sistemas complexos com enfoques qualitativos e relações sociais permite a criação de conhecimento combinado com a identificação de elementos emergentes. Assim, as vantagens de explorar o futuro estão na pluralidade e na inclusão, pois permitem que pessoas com diferentes opiniões debatam e todos sejam ouvidos de forma que possam contribuir com diferentes aspectos sobre as questões propostas.
A apresentação seguinte foi de Riel Miller, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), sobre a disciplina da antecipação, que oferece, segundo Cristiano, "uma maneira robusta e consistente para o aprendizado e a troca, bem como para se incluir, de forma sistemática, aspectos transformativos e complexos na construção de narrativas". Além disso, Riel Miller discorreu sobre as maneiras de se capacitar equipes para lidar com emergências, complexidade e interconectividade.
Cláudio Porto, da Macroplan , empresa brasileira de consultoria em cenários prospectivos e administração estratégica, falou sobre a evolução dos estudos prospectivos no Brasil em quatro grandes estágios de maturidade. Cláudio destacou cinco grandes casos de construção de cenários no Brasil, entre eles, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a Eletrobrás, a Petrobras, Governo de Minas Gerais e o projeto Brasil em Transição 2011-2022. Para Porto, o Brasil ainda é frágil, como país, na construção de estratégias de longo prazo, apesar de ter progredido muito nos últimos 30 anos.
Renata Nascimento Szczerbacki, da Petrobras, destacou o processo de planejamento estratégico da empresa e como a construção de cenários faz parte desse processo. A especialista apontou que essa combinação é fundamental para guiar a empresa, em todos seus seguimentos, para períodos de 20 anos. Renata discorreu sobre o último trabalho realizado em 2010 com horizonte 2030 e cortes em 2020, 2015 e 2011. O uso de cenários é importante para direcionar os investimentos que a empresa fará, pois o retorno é a longo prazo.
Lia Krucken, da Fundação Dom Cabral, mostrou como a fundação utiliza estudos prospectivos para inovar na construção de cenários para grandes empresas. Cenários são utilizados para dar suporte ao desenvolvimento de estratégias, compreender de forma holística o problema sendo analisado, antecipar desafios e construir um processo de aprendizado organizacional adaptativo. Nesse processo, a captura de sinais emergentes é fundamental para a identificação antecipada de oportunidades e ameaças, bem como o desenvolvimento de estratégias capazes de se anteciparem tais desafios.
No final, Lélio Fellows, do CGEE, apresentou aos participantes uma nova forma de se construir cenários. É um processo desenvolvido pelo NCM do Centro, dividido em quatro passos simplificados: identificar cenários (globais e conectados ao contexto sob observação) a serem analisados; desenvolver um modelo de documento específico para captar drivers, incertezas, sinais fracos, surpresas e outras variáveis a serem organizadas de acordo com critérios relevantes para o contexto sob análise; identificar as variáveis independentes mais relevantes; e desenvolver cenários na forma de um quebra-cabeças. Para Lélio, existe a crença de que "trabalhar com cenários é caro e demorado, mas é a nossa capacidade de exigir e de solucionar problemas que fará com que as coisas aconteçam concretamente", afirmou o especialista.
As discussões ajudaram a identificar possíveis caminhos para fortalecer o uso de cenários no CGEE e em organizações parceiras. "Uma análise mais profunda de elementos como cenários transformativos, ferramentas interativas para a visualização e a prototipação de resultados, o uso de enfoques robustos para construção de futuros alternativos mais criativos e capazes de abraçar a espontaneidade, a experimentação e a complexidade, a capacidade de fazer sentido de conhecimento coletivo distribuído, bem como a habilidade de comunicar melhor os resultados e de conectar o processo de cenários ao ciclo de tomada de decisão, entre outros, são essenciais para o fortalecimento da capacidade institucional de subsidiar políticas públicas conectando alternativas de futuro ao presente " conclui Cristiano Cagnin.
A partir do workshop, o CGEE desenha atualmente possíveis colaborações com a Unesco para 2013 e fortalece a colaboração com o Austrian Institute of Technology (AIT).
Judisches Bildung: a construcao de um povo pela educao - Book review
Se existe um povo que só existe pela educação, ou fundamentalmente pela educação, mesmo que seja educação religiosa, este é certamente, seguramente, totalmente, o povo judeu.
Provavelmente, junto com os chineses Han, eles representam a mais longa continuidade cultural e étnica na trajetória histórica de toda a humanidade. Os chineses têm uma continuidade sobretudo cultural, já que falam vários dialetos e atravessaram dezenas de dinastias numa mesma área geográfica. Pela escrita asseguram essa continuidade (inclusive pelo despotismo imperial).
Com os judeus é diferente: foram escravizados, derrotados, dispersos, eliminados, sujeitos a todo tipo de exação e sofrimentos. E no entanto persistiram, graças precisamente à educação. São um povo livre, no entanto, já que preservaram sua cultura, sua religião, sua identidade, independentemente das destruições e tentativas de extinção a que foram submetidos ao longo da história. O calendário judeu é sobretudo uma construção política moderna, mas que reflete basicamente uma continuidade real, meio submergida na legenda bíblica, mas sobretudo garantido pela identificação desse povo com uma história escrita que não tem paralelo em nenhum outro povo, nenhuma outra cultura.
Se alguém ainda duvida da importância da educação para o povo judeu, apresento um teste muito simples: compare a magnitude da população judia (menos de 1% dos habitantes do planeta, e provavelmente menos de 0,01% de toda a humanidade desde a Antiguidade) e que representam, no entanto, mais de 25% dos Prêmios Nobel nos últimos 100 anos, e provavelmente boa parte da cultura científica e cultural, em geral, da Humanidade, desde muitos séculos. Algum outro povo chega perto desse desempenho? Duvido. Contestadores podem apresentar os seus dados...
Abaixo a resenha de um livro sobre uma pequena parte dessa história multissecular, com meus agradecimentos tanto aos autores do livro quanto aos que foram, e são, o seu objeto próprio: sempre devemos ser reconhecidos aos que nos tornam mais inteligentes...
Paulo Roberto de Almeida
The Chosen Few: How Education Shaped Jewish History, 70-1492
------ EH.NET BOOK REVIEW ------
Title: The Chosen Few: How Education Shaped Jewish History, 70-1492
Published by EH.Net (January 2013)
Maristella Botticini and Zvi Eckstein, The Chosen Few: How Education Shaped Jewish History, 70-1492. Princeton, NJ: Princeton University Press, 2012. xvii + 323 pp. $39.50 (hardcover) ISBN: 978-0-691-14487-0.
Reviewed for EH.Net by Carmel U. Chiswick, Department of Economics, George Washington University.
The Chosen Few by Maristella Botticini (Bocconi University) and Zvi Eckstein (Tel Aviv University) reminds us – for those who need reminding – how Cliometrics can transform our understanding of historical events. They examine Jewish history from an economic perspective with results that are both innovative and insightful.
The book is structured around a skeleton of straightforward economic theory, fleshed out with data – quantitative and qualitative – obtained from an extraordinary array of documentary evidence. The historical period covered is a few decades short of 1,500 years, requiring us to step back and look through a very broad lens, yet the proof offers details on everyday economic life and on the timing of events. The economic model is simple but not simplistic, presented elegantly without bells and whistles, sophisticated but accessible to a general reader. (Technical language is wisely confined to appendices that spell out the model mathematically and present details on statistics that are new or controversial.) And the overall result is a new perspective that will change forever the way we understand the economic history of Jews over a broad spectrum of time and space.
The economic model developed by Botticini and Eckstein uses a human capital approach to look at the way investments in religious education interact with occupational choice and earnings. At the beginning of their story, approximately in the first century, Judaism was in transition from a religion centered on the Temple in Jerusalem to a synagogue-based religion that could be observed anywhere that Jews lived. Part of this transition required that every Jewish male learn to read from the Torah, making basic literacy a part of religious training that began at the age of 5 or 6 and encouraging further study for those so inclined. This meant that even ordinary Jewish men (and sometimes women) could read, and perhaps write, at a time when literacy was rare among the common people.
Botticini and Eckstein develop a model placing Jewish literacy within its economic context. When urbanization and commercialization raised the demand for occupations where reading and writing was an advantage, the religious training of Jews gave them a comparative advantage. This meant that investments in Jewish religious education earned a reward in the marketplace as long as Jews moved into those occupations, which of course they did. In contrast, when urban and commercial economies declined, Jewish religious training lost its economic advantage. This deceptively simple model is the framework for understanding the economic incentives not only for Jewish occupational clustering but also for the strength of Jewish attachment to Judaism.
At the beginning of their story, in the year 70, Botticini and Eckstein estimate a population of some 5 million Jews (about the size of today’s American Jewish population), half of whom lived in the Land of Israel under Roman rule and the rest in various places in Mesopotamia, Persia, Egypt, Asia Minor and the Balkans. Within the next century the Jewish population dropped by nearly half, and by the year 650 there were only one million Jews living mostly in Mesopotamia and Persia. Throughout this period most Jews, like most non-Jews, were farmers, a fact that Botticini and Eckstein document in some detail. War and famine, including the exile that dispersed Jews after the Romans destroyed Jerusalem, explain no more than half of this decline, which was considerably greater than the general population decline during this period. As long as Jews remained farmers, however, the literacy requirement provided benefits only in the religious sphere but not in the secular economy. Many farmers responded by not investing in their children’s Jewish education, and most of their descendants assimilated into the surrounding (often Christian) populations. Those who remained Jews would have been a self-selected group of people with either strong preferences for religious Judaism or a high ability for reading and writing.
The second part of their period, approximately from 750 to 1150, uses the same model to explain why Jews (most of whom still lived in Persia and Mesopotamia) shifted from rural to urban occupations, from a community of farmers to one of craftsmen and merchants. Under the Muslim Caliphates cities grew, trade thrived, and the demand for occupations benefitting from literacy grew accordingly. Literacy skills Jews acquired as part of their religious education transferred readily to these urban occupations and were rewarded with high earnings, generating an income effect that supported a Golden Age of Jewish culture. Those Jews who remained as farmers were self-selected for persons who invested little in religious education and eventually assimilated into the general (Muslim) population.
Botticini and Eckstein look at demographic trends during this period of prosperity and cultural flowering, observing that the Jewish population not only grew in size but dispersed to cities all along the trading routes from India to Iberia, from Yemen to Europe. They are at pains to show that these migrations were not motivated by push factors like discrimination or expulsion, but rather by the pull of new opportunities for urban craftsmen and merchants. In most places the Jewish community concentrated in large cities, but in Europe – where the cities were too small to support much activity in high-level urban occupations – the Jewish communities were smaller and scattered more widely in many towns. The Mongol invasions of the thirteenth century destroyed the cities of the Middle East, devastated its commerce, and dramatically reduced demand for urban occupations throughout the region. Jewish religious education no longer yielded secular benefits in the impoverished Muslim economy, and the number of Jews declined as they assimilated into the surrounding population to avoid costly investments in religious human capital.
The Golden Age of Jewish culture in the Muslim world created a spiritual and intellectual legacy on which European Jewry could build. In particular, the Talmud and Responsa literature (correspondence ruling on religious observance in everyday business and family matters) discussed the application of ancient (biblical) rules to contemporary activities. This literature took Jewish religious studies well beyond basic literacy to develop literary sophistication and hone decision-making skills. After the Mongol invasions destroyed the Muslim commercial economy, Europe became the new center of Jewish learning that nurtured these skills. During the fourteenth century Spain had the most sophisticated economy in Europe and Spanish Jewry flourished in both religious culture and secular occupations.
Wherever they lived, Jewish communities maintained an active correspondence with each other on religious matters, creating networks that benefitted commercial activities as well. These networks meant that urban Jews living in capital-scarce countries could borrow from Jews in more prosperous communities. After the Mongol invasions, when European economies began to expand in the fourteenth and fifteenth centuries, imperfect capital markets created arbitrage opportunities that made money lending an especially profitable business. Botticini and Eckstein argue convincingly that Jewish trading networks, mercantile experience, and universal literacy gave European Jews a comparative advantage in a very profitable profession for which few non-Jews had the relevant skills. They thus argue that religiously-motivated education (creating literacy and decision-making skills transferable to secular occupations) and religiously-motivated correspondence networks explain why money-lending had become the dominant occupation of European Jews by the fifteenth century.
Botticini and Eckstein’s simple yet sophisticated human capital analysis provides new insights into Jewish history for the fourteen centuries covered in this book. In the last chapter of The Chosen Few they promise us a new book carrying the analysis forward for the next 500 years, from 1492 to the present. Judging from the economic success of modern Jews, 80 percent of whom now live in the United States or Israel, their model suggests strong complementarity between skills developed by a Jewish religious education and those associated with business management and scientific investigation.
Intentional or not, The Chosen Few follows an expositional style that suggests this very hypothesis. Like the Talmud, each topic is introduced by a statement of fact (evidence) followed by questions about what those facts mean and how to explain them. They then consider a number of opinions (hypotheses), including their own, and discuss the pros and cons of each with respect to internal consistency and historical evidence. This methodology yields a very convincing Cliometric analysis that we can expect to inform all future economic histories of the Jews between 70 and 1492.
Carmel U. Chiswick is Research Professor of Economics, George Washington University, and Professor Emerita, University of Illinois at Chicago. She has published widely on the economics of religion, especially on Jews, and much of her work on this subject is collected in C. Chiswick, The Economics of American Judaism (Routledge, 2008).
Copyright (c) 2013 by EH.Net. All rights reserved. This work may be copied for non-profit educational uses if proper credit is given to the author and the list. For other permission, please contact the EH.Net Administrator (administrator@eh.net). Published by EH.Net (January 2013). All EH.Net reviews are archived at http://www.eh.net/BookReview
Provavelmente, junto com os chineses Han, eles representam a mais longa continuidade cultural e étnica na trajetória histórica de toda a humanidade. Os chineses têm uma continuidade sobretudo cultural, já que falam vários dialetos e atravessaram dezenas de dinastias numa mesma área geográfica. Pela escrita asseguram essa continuidade (inclusive pelo despotismo imperial).
Com os judeus é diferente: foram escravizados, derrotados, dispersos, eliminados, sujeitos a todo tipo de exação e sofrimentos. E no entanto persistiram, graças precisamente à educação. São um povo livre, no entanto, já que preservaram sua cultura, sua religião, sua identidade, independentemente das destruições e tentativas de extinção a que foram submetidos ao longo da história. O calendário judeu é sobretudo uma construção política moderna, mas que reflete basicamente uma continuidade real, meio submergida na legenda bíblica, mas sobretudo garantido pela identificação desse povo com uma história escrita que não tem paralelo em nenhum outro povo, nenhuma outra cultura.
Se alguém ainda duvida da importância da educação para o povo judeu, apresento um teste muito simples: compare a magnitude da população judia (menos de 1% dos habitantes do planeta, e provavelmente menos de 0,01% de toda a humanidade desde a Antiguidade) e que representam, no entanto, mais de 25% dos Prêmios Nobel nos últimos 100 anos, e provavelmente boa parte da cultura científica e cultural, em geral, da Humanidade, desde muitos séculos. Algum outro povo chega perto desse desempenho? Duvido. Contestadores podem apresentar os seus dados...
Abaixo a resenha de um livro sobre uma pequena parte dessa história multissecular, com meus agradecimentos tanto aos autores do livro quanto aos que foram, e são, o seu objeto próprio: sempre devemos ser reconhecidos aos que nos tornam mais inteligentes...
Paulo Roberto de Almeida
The Chosen Few: How Education Shaped Jewish History, 70-1492
------ EH.NET BOOK REVIEW ------
Title: The Chosen Few: How Education Shaped Jewish History, 70-1492
Published by EH.Net (January 2013)
Maristella Botticini and Zvi Eckstein, The Chosen Few: How Education Shaped Jewish History, 70-1492. Princeton, NJ: Princeton University Press, 2012. xvii + 323 pp. $39.50 (hardcover) ISBN: 978-0-691-14487-0.
Reviewed for EH.Net by Carmel U. Chiswick, Department of Economics, George Washington University.
The Chosen Few by Maristella Botticini (Bocconi University) and Zvi Eckstein (Tel Aviv University) reminds us – for those who need reminding – how Cliometrics can transform our understanding of historical events. They examine Jewish history from an economic perspective with results that are both innovative and insightful.
The book is structured around a skeleton of straightforward economic theory, fleshed out with data – quantitative and qualitative – obtained from an extraordinary array of documentary evidence. The historical period covered is a few decades short of 1,500 years, requiring us to step back and look through a very broad lens, yet the proof offers details on everyday economic life and on the timing of events. The economic model is simple but not simplistic, presented elegantly without bells and whistles, sophisticated but accessible to a general reader. (Technical language is wisely confined to appendices that spell out the model mathematically and present details on statistics that are new or controversial.) And the overall result is a new perspective that will change forever the way we understand the economic history of Jews over a broad spectrum of time and space.
The economic model developed by Botticini and Eckstein uses a human capital approach to look at the way investments in religious education interact with occupational choice and earnings. At the beginning of their story, approximately in the first century, Judaism was in transition from a religion centered on the Temple in Jerusalem to a synagogue-based religion that could be observed anywhere that Jews lived. Part of this transition required that every Jewish male learn to read from the Torah, making basic literacy a part of religious training that began at the age of 5 or 6 and encouraging further study for those so inclined. This meant that even ordinary Jewish men (and sometimes women) could read, and perhaps write, at a time when literacy was rare among the common people.
Botticini and Eckstein develop a model placing Jewish literacy within its economic context. When urbanization and commercialization raised the demand for occupations where reading and writing was an advantage, the religious training of Jews gave them a comparative advantage. This meant that investments in Jewish religious education earned a reward in the marketplace as long as Jews moved into those occupations, which of course they did. In contrast, when urban and commercial economies declined, Jewish religious training lost its economic advantage. This deceptively simple model is the framework for understanding the economic incentives not only for Jewish occupational clustering but also for the strength of Jewish attachment to Judaism.
At the beginning of their story, in the year 70, Botticini and Eckstein estimate a population of some 5 million Jews (about the size of today’s American Jewish population), half of whom lived in the Land of Israel under Roman rule and the rest in various places in Mesopotamia, Persia, Egypt, Asia Minor and the Balkans. Within the next century the Jewish population dropped by nearly half, and by the year 650 there were only one million Jews living mostly in Mesopotamia and Persia. Throughout this period most Jews, like most non-Jews, were farmers, a fact that Botticini and Eckstein document in some detail. War and famine, including the exile that dispersed Jews after the Romans destroyed Jerusalem, explain no more than half of this decline, which was considerably greater than the general population decline during this period. As long as Jews remained farmers, however, the literacy requirement provided benefits only in the religious sphere but not in the secular economy. Many farmers responded by not investing in their children’s Jewish education, and most of their descendants assimilated into the surrounding (often Christian) populations. Those who remained Jews would have been a self-selected group of people with either strong preferences for religious Judaism or a high ability for reading and writing.
The second part of their period, approximately from 750 to 1150, uses the same model to explain why Jews (most of whom still lived in Persia and Mesopotamia) shifted from rural to urban occupations, from a community of farmers to one of craftsmen and merchants. Under the Muslim Caliphates cities grew, trade thrived, and the demand for occupations benefitting from literacy grew accordingly. Literacy skills Jews acquired as part of their religious education transferred readily to these urban occupations and were rewarded with high earnings, generating an income effect that supported a Golden Age of Jewish culture. Those Jews who remained as farmers were self-selected for persons who invested little in religious education and eventually assimilated into the general (Muslim) population.
Botticini and Eckstein look at demographic trends during this period of prosperity and cultural flowering, observing that the Jewish population not only grew in size but dispersed to cities all along the trading routes from India to Iberia, from Yemen to Europe. They are at pains to show that these migrations were not motivated by push factors like discrimination or expulsion, but rather by the pull of new opportunities for urban craftsmen and merchants. In most places the Jewish community concentrated in large cities, but in Europe – where the cities were too small to support much activity in high-level urban occupations – the Jewish communities were smaller and scattered more widely in many towns. The Mongol invasions of the thirteenth century destroyed the cities of the Middle East, devastated its commerce, and dramatically reduced demand for urban occupations throughout the region. Jewish religious education no longer yielded secular benefits in the impoverished Muslim economy, and the number of Jews declined as they assimilated into the surrounding population to avoid costly investments in religious human capital.
The Golden Age of Jewish culture in the Muslim world created a spiritual and intellectual legacy on which European Jewry could build. In particular, the Talmud and Responsa literature (correspondence ruling on religious observance in everyday business and family matters) discussed the application of ancient (biblical) rules to contemporary activities. This literature took Jewish religious studies well beyond basic literacy to develop literary sophistication and hone decision-making skills. After the Mongol invasions destroyed the Muslim commercial economy, Europe became the new center of Jewish learning that nurtured these skills. During the fourteenth century Spain had the most sophisticated economy in Europe and Spanish Jewry flourished in both religious culture and secular occupations.
Wherever they lived, Jewish communities maintained an active correspondence with each other on religious matters, creating networks that benefitted commercial activities as well. These networks meant that urban Jews living in capital-scarce countries could borrow from Jews in more prosperous communities. After the Mongol invasions, when European economies began to expand in the fourteenth and fifteenth centuries, imperfect capital markets created arbitrage opportunities that made money lending an especially profitable business. Botticini and Eckstein argue convincingly that Jewish trading networks, mercantile experience, and universal literacy gave European Jews a comparative advantage in a very profitable profession for which few non-Jews had the relevant skills. They thus argue that religiously-motivated education (creating literacy and decision-making skills transferable to secular occupations) and religiously-motivated correspondence networks explain why money-lending had become the dominant occupation of European Jews by the fifteenth century.
Botticini and Eckstein’s simple yet sophisticated human capital analysis provides new insights into Jewish history for the fourteen centuries covered in this book. In the last chapter of The Chosen Few they promise us a new book carrying the analysis forward for the next 500 years, from 1492 to the present. Judging from the economic success of modern Jews, 80 percent of whom now live in the United States or Israel, their model suggests strong complementarity between skills developed by a Jewish religious education and those associated with business management and scientific investigation.
Intentional or not, The Chosen Few follows an expositional style that suggests this very hypothesis. Like the Talmud, each topic is introduced by a statement of fact (evidence) followed by questions about what those facts mean and how to explain them. They then consider a number of opinions (hypotheses), including their own, and discuss the pros and cons of each with respect to internal consistency and historical evidence. This methodology yields a very convincing Cliometric analysis that we can expect to inform all future economic histories of the Jews between 70 and 1492.
Carmel U. Chiswick is Research Professor of Economics, George Washington University, and Professor Emerita, University of Illinois at Chicago. She has published widely on the economics of religion, especially on Jews, and much of her work on this subject is collected in C. Chiswick, The Economics of American Judaism (Routledge, 2008).
Copyright (c) 2013 by EH.Net. All rights reserved. This work may be copied for non-profit educational uses if proper credit is given to the author and the list. For other permission, please contact the EH.Net Administrator (administrator@eh.net). Published by EH.Net (January 2013). All EH.Net reviews are archived at http://www.eh.net/BookReview
Congresso: o chiqueiro da politica - Congresso em Foco
A expressão não é minha, mas deste boletim digital que segue a atividade congressual, sem nenhuma complacência com suas excelências os bandidos que maculam as duas casas supostamente do povo. O editorial é contundente, mas creio que suas excelências merecem todas as acusações e muitas outras mais...
Paulo Roberto de Almeida
“chiqueiro (sentido figurado) – casa ou lugar imundo”
Sintomático que o presidente do Senado, José Sarney, tenha proibido a manifestação contra o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), convocada por várias entidades e apoiada pelo Congresso em Foco.
Os manifestantes pretendiam fazer ontem a lavagem simbólica da rampa do Senado para expressar a indignação que levou, até o momento em que é publicado este texto, mais de 250 mil brasileiros a subscrever o abaixo-assinado contra a volta de Renan à presidência do Senado.
O problema é que limpeza é algo que não combina muito com o Congresso. Nas últimas duas décadas, ele proporcionou seguidas demonstrações de afronta aos cidadãos que custeiam suas bilionárias despesas (perto de R$ 8 bilhões no ano passado): escândalo do orçamento em 1993, compra de votos para aprovar a emenda da reeleição em 1997, violação do painel em 2001, mensalão em 2005, sanguessugas em 2006, farra das passagens e atos secretos em 2009… a lista é infindável.
Mas sempre pode ser enriquecida, aumentando o tamanho dos golpes contra a cidadania, prova agora o processo em curso de eleição das Mesas do Senado e da Câmara. Estamos diante de uma daquelas tristes situações que nos levam a constatar que, em se tratando do Congresso brasileiro, sempre é possível piorar.
Exemplar é o caso de Renan. Na iminência de receber a maioria folgada de votos dos seus pares, foi até agora incapaz de esclarecer as denúncias que, seis anos atrás, o obrigaram a renunciar à presidência do Senado para preservar o mandato de senador.
Reconduzir Renan ao posto, antes de eliminar todas as dúvidas quanto à sua conduta, põe sob suspeita todo o Legislativo. Um poder que já apresenta um gigantesco passivo no que se refere ao “controle interno” dos seus integrantes e das suas ações. E daí? O Congresso, que tem um terço de seus parlamentares às voltas com acusações criminais, continua a dar sinais de preferir a imundície dos chiqueiros ao asseio das normas impostas por aquilo que, algo pomposamente, poderíamos chamar de moralidade pública.
Com menos pompa, poderíamos dizer que se espera atenção a pelo menos duas normas básicas: não roubar o dinheiro dos contribuintes e investigar ou colaborar com a investigação de crimes contra a administração pública, sobretudo quando os acusados forem deputados e senadores.
Oposta é a regra que prevalece no Congresso. Ali, cidadãos sob suspeita gozam de proteção oficial, tapinhas solidários nas costas, carro e despesas pagas pelo erário, e abusam da paciência de um povo que demonstra excessiva complacência em relação a políticos bandidos.
Desfilam pelos corredores do Legislativo desde políticos condenados a prisão até a espantosa figura de Paulo Maluf, alvo de um mandado da Interpol que lhe impede de pisar em qualquer outro país do mundo, sem ir imediatamente para a cadeia, mas que pode, legalmente, ser deputado no Brasil.
A precária mobilização popular, muito aquém do tamanho dos desaforos que o Parlamento tem metido pela goela abaixo da sociedade, contribui para o escárnio não ter fim.
Apoiado por todos os grandes partidos, inclusive da oposição, é dado como favorito na disputa da presidência da Câmara outro político sob fortes suspeitas, o atual líder peemedebista, Henrique Eduardo Alves (RN).
Questionados sobre possíveis desvios de conduta, ele e Renan reagem de modo semelhante. Ignoram a denúncia, ao mesmo tempo em que instruem adversários a atribuir os graves questionamentos que lhes são feitos a meros preconceitos contra nordestinos. Esta, aliás, é uma das imbecilidades preferidas da meia dúzia de militantes pró-Renan que nos últimos dias tenta infestar este Congresso em Foco com centenas de comentários, invariavelmente usando nomes falsos e termos ofensivos.
Como não há limites para o abismo moral, o PMDB, outrora valente combatente da ditadura e hoje confortável abrigo para novos e velhos suspeitos, prepara-se para eleger como líder outro parlamentar sob investigação, Eduardo Cunha (RJ). Também deve explicações à Justiça seu rival na disputa, Sandro Mabel (GO).
Em comum a Renan, Henrique, Eduardo Cunha e Mabel, a facilidade com que se aliam aos governos de plantão, sempre multiplicando os instrumentos a serviço de um tipo de política que, definitivamente, não cheira bem.
O Congresso em Foco sente-se no dever de manifestar perplexidade diante de tudo isso e se colocar à disposição dos brasileiros que pretendem ver um Congresso radicalmente diferente. Afinal, fazemos jornalismo na esperança de contribuir para as coisas mudarem para melhor – não para pior.
Veja ainda:
Renan é denunciado no caso dos bois
Tudo sobre a eleição das Mesas da Câmara e do Senado
Paulo Roberto de Almeida
A rendição do Congresso ao chiqueiro da política
Com um terço de seus parlamentares acusados criminalmente, o Congresso de Renan e Henrique dá sinais de preferir a imundície ao asseio das normas impostas pela moralidade pública|
por Congresso em Foco
| 31/01/2013 18:15
|
Agência Senado
Nossa opinião: no Congresso, cidadãos sob suspeita abusam da paciência de um povo tolerante demais com políticos bandidos
Os manifestantes pretendiam fazer ontem a lavagem simbólica da rampa do Senado para expressar a indignação que levou, até o momento em que é publicado este texto, mais de 250 mil brasileiros a subscrever o abaixo-assinado contra a volta de Renan à presidência do Senado.
O problema é que limpeza é algo que não combina muito com o Congresso. Nas últimas duas décadas, ele proporcionou seguidas demonstrações de afronta aos cidadãos que custeiam suas bilionárias despesas (perto de R$ 8 bilhões no ano passado): escândalo do orçamento em 1993, compra de votos para aprovar a emenda da reeleição em 1997, violação do painel em 2001, mensalão em 2005, sanguessugas em 2006, farra das passagens e atos secretos em 2009… a lista é infindável.
Mas sempre pode ser enriquecida, aumentando o tamanho dos golpes contra a cidadania, prova agora o processo em curso de eleição das Mesas do Senado e da Câmara. Estamos diante de uma daquelas tristes situações que nos levam a constatar que, em se tratando do Congresso brasileiro, sempre é possível piorar.
Exemplar é o caso de Renan. Na iminência de receber a maioria folgada de votos dos seus pares, foi até agora incapaz de esclarecer as denúncias que, seis anos atrás, o obrigaram a renunciar à presidência do Senado para preservar o mandato de senador.
Reconduzir Renan ao posto, antes de eliminar todas as dúvidas quanto à sua conduta, põe sob suspeita todo o Legislativo. Um poder que já apresenta um gigantesco passivo no que se refere ao “controle interno” dos seus integrantes e das suas ações. E daí? O Congresso, que tem um terço de seus parlamentares às voltas com acusações criminais, continua a dar sinais de preferir a imundície dos chiqueiros ao asseio das normas impostas por aquilo que, algo pomposamente, poderíamos chamar de moralidade pública.
Com menos pompa, poderíamos dizer que se espera atenção a pelo menos duas normas básicas: não roubar o dinheiro dos contribuintes e investigar ou colaborar com a investigação de crimes contra a administração pública, sobretudo quando os acusados forem deputados e senadores.
Oposta é a regra que prevalece no Congresso. Ali, cidadãos sob suspeita gozam de proteção oficial, tapinhas solidários nas costas, carro e despesas pagas pelo erário, e abusam da paciência de um povo que demonstra excessiva complacência em relação a políticos bandidos.
Desfilam pelos corredores do Legislativo desde políticos condenados a prisão até a espantosa figura de Paulo Maluf, alvo de um mandado da Interpol que lhe impede de pisar em qualquer outro país do mundo, sem ir imediatamente para a cadeia, mas que pode, legalmente, ser deputado no Brasil.
A precária mobilização popular, muito aquém do tamanho dos desaforos que o Parlamento tem metido pela goela abaixo da sociedade, contribui para o escárnio não ter fim.
Apoiado por todos os grandes partidos, inclusive da oposição, é dado como favorito na disputa da presidência da Câmara outro político sob fortes suspeitas, o atual líder peemedebista, Henrique Eduardo Alves (RN).
Questionados sobre possíveis desvios de conduta, ele e Renan reagem de modo semelhante. Ignoram a denúncia, ao mesmo tempo em que instruem adversários a atribuir os graves questionamentos que lhes são feitos a meros preconceitos contra nordestinos. Esta, aliás, é uma das imbecilidades preferidas da meia dúzia de militantes pró-Renan que nos últimos dias tenta infestar este Congresso em Foco com centenas de comentários, invariavelmente usando nomes falsos e termos ofensivos.
Como não há limites para o abismo moral, o PMDB, outrora valente combatente da ditadura e hoje confortável abrigo para novos e velhos suspeitos, prepara-se para eleger como líder outro parlamentar sob investigação, Eduardo Cunha (RJ). Também deve explicações à Justiça seu rival na disputa, Sandro Mabel (GO).
Em comum a Renan, Henrique, Eduardo Cunha e Mabel, a facilidade com que se aliam aos governos de plantão, sempre multiplicando os instrumentos a serviço de um tipo de política que, definitivamente, não cheira bem.
O Congresso em Foco sente-se no dever de manifestar perplexidade diante de tudo isso e se colocar à disposição dos brasileiros que pretendem ver um Congresso radicalmente diferente. Afinal, fazemos jornalismo na esperança de contribuir para as coisas mudarem para melhor – não para pior.
Veja ainda:
Renan é denunciado no caso dos bois
Tudo sobre a eleição das Mesas da Câmara e do Senado
Memoria das vitimas do Holocausto: defender a dignidade humana e a verdade por vezes custa caro...
Apenas um trecho de matéria da Confederação Israelita do Brasil (Conib), em parceria com a Associação Cultural Israelita de Brasília, na cerimônia do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, no dia 30 de janeiro de 2013, em Brasília:
Na solenidade promovida (...) foi também prestada uma homenagem a Aracy Guimarães Rosa, funcionária do consulado em Hamburgo, e Luis Martins de Souza Dantas, embaixador brasileiro na França, que, nas décadas de 1930 e 1940, salvaram centenas de judeus, ao obter vistos para o Brasil contrariando ordens do governo Getúlio Vargas.
Pois é, às vezes é preciso contrariar ordens superiores para manter a dignidade...
Na solenidade promovida (...) foi também prestada uma homenagem a Aracy Guimarães Rosa, funcionária do consulado em Hamburgo, e Luis Martins de Souza Dantas, embaixador brasileiro na França, que, nas décadas de 1930 e 1940, salvaram centenas de judeus, ao obter vistos para o Brasil contrariando ordens do governo Getúlio Vargas.
Pois é, às vezes é preciso contrariar ordens superiores para manter a dignidade...
A (Des)Ilusao (Latino-)Americana, ou Eduardo Prado revisitado - Demetrio Magnoli
Mais de 120 atrás, Eduardo Prado, um brilhante intelectual monarquista, inimigo, portanto, da República (nao tanto pelo regime em si, mas pelo furor jacobino que ele provocou na primeira fase), já se insurgia contra a integracao (nao latino-americana, mas) hemisférica.
Em seu livro "A Ilusao Americana" ele já denunciava o imperialismo americano (para gáudio dos antiamericanos de hoje), mas também proclamava, azedamente, que "a solidariedade americana é uma mentira".
Os companheiros de hoje se empenham no antiamericanismo primário e pretendem fazer a integracao exclusivamente latino-americana, com os resultados que se sabem...
Bem, a história é longa, e eu voltarei a ela um dia desses, por enquanto mais um artigo de um crítico da diplomacia lulo-petista.
Paulo Roberto de Almeida
Lula sabe
mais que os "intelectuais progressistas" reunidos em seu instituto para,
nas palavras do assessor Luiz Dulci, "definir um plano de trabalho para
o desenvolvimento e integração" da América Latina. Há muito reduzidos à
condição de intelectuais palacianos, os convidados celebraram os
"avanços" na integração regional e a miraculosa clarividência do
ex-presidente. O anfitrião, contudo, pediu-lhes algo diferente da
bajulação habitual: a formulação de uma "doutrina" da integração
latino-americana. No 11.º ano de poder lulista, o pedido traz implícito o
reconhecimento de um fracasso estrondoso de política externa - e da
crise regional que se avizinha.
"Não tem explicação, depois de mais de 500 anos, eu inaugurar a primeira ponte entre Brasil e Bolívia; não em explicação, depois de mais de 500 anos, eu inaugurar a primeira ponte entre Brasil e Peru", proclamou o ex-presidente, sem ser corrigido por nenhum dos intelectuais que decoravam o ambiente. O trem inaugural da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré chegou a Guajará-Mirim em abril de 1912. Os presidentes Café Filho e Paz Estenssoro inauguraram a Estrada de Ferro Brasil-Bolívia, em Santa Cruz de La Sierra, em janeiro de 1955. A Ponte da Amizade, sobre o Rio Paraná, uma ousada obra de engenharia, foi inaugurada em 1965, conectando o Paraguai às rodovias brasileiras e ao Porto de Paranaguá. As pontes que Lula inaugurou estavam previstas na Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA), aprovada na conferência de chefes de Estado de Brasília, em 2000, no governo FHC. De lá para cá, sob o lulismo, integração regional converteu-se em eufemismo para alianças políticas entre governantes "progressistas".
Desde 2003, com a nomeação de Marco Aurélio Garcia como assessor especial da Presidência, a política brasileira para a América Latina foi transferida da alçada do Itamaraty para a do lulopetismo, impregnando-se de reminiscências políticas antiamericanas, terceiro-mundistas e castristas. O coquetel conduziu-nos ao impasse atual, que Lula é capaz de identificar mesmo se tenta disfarçá-lo pelo recurso à bazófia autocongratulatória.
A "Doutrina Garcia" rejeita a ideia de livre-comércio, que funcionou como pilar original do Mercosul. A Argentina dos Kirchners aproveitou-se disso para violar sistematicamente as regras do Mercosul, desmontando o edifício da zona de livre-comércio. No seu instituto, Lula denunciou a "preocupação maior de relação preferencial com os EUA ou com a Europa ou com qualquer um, menos entre nós mesmos". Entretanto, na celebrada última década, a América Latina não aprofundou o comércio intrarregional, limitando-se a estabelecer uma "relação preferencial" com a China, que absorve nossas exportações de commodities. O primitivismo ideológico impede até mesmo a conclusão de um tratado comercial Brasil-México, elemento indispensável em qualquer projeto de integração latino-americana.
A "Doutrina Garcia" acalenta a utopia de uma integração impulsionada por investimentos estatais e de grandes empresas financiadas por recursos públicos. Contudo a estratégia de expansão regional do "capitalismo de Estado" brasileiro esbarrou nas resistências nacionalistas de argentinos, bolivianos e equatorianos, que assestaram sucessivos golpes em negócios conduzidos pela Petrobrás e por construtoras beneficiadas por empréstimos privilegiados do BNDES. Numa dessas amargas ironias da História, o espectro do "imperialismo brasileiro" reemergiu como acusação dirigida por líderes latino-americanos "progressistas" contra o governo "progressista" de Lula.
A "Doutrina Garcia" almeja promover a liderança regional do Brasil, preservar o regime autoritário cubano e erguer uma barreira geopolítica entre América Latina e EUA. Em busca da primeira meta, o Brasil colidiu com as pretensões concorrentes da Venezuela de Hugo Chávez, que criou a Aliança Bolivariana das Américas (Alba). A concorrência entre o lulopetismo e o chavismo paralisa a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), esvaziando de conteúdo suas reuniões de cúpula. Em busca das outras duas metas, que compartilha com o chavismo, o Brasil ajudou a converter a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) numa ferramenta de proteção da ditadura castrista e de desmoralização da Carta Democrática da Organização dos Estados Americanos (OEA). Dias atrás, Cristina Kirchner definiu a ascensão de Cuba à presidência rotativa da Celac como o marco de "uma nova época na América Latina". Ela tem razão: é o fim da curta época na qual os Estados da região levaram a sério seus proclamados compromissos com os direitos humanos e as liberdades públicas.
Distraídos, os intelectuais palacianos nada perceberam, mas a falência da "Doutrina Garcia" foi registrada no radar de Lula. De um lado, abaixo do celofane brilhante da Unasul e da Celac, desenvolve-se um processo que deveria ser batizado como a desintegração da América Latina. A principal evidência disso se encontra na emergência da Aliança do Pacífico, uma área de livre-comércio formada sem alarido por México, Colômbia, Chile e Peru, aos quais podem se juntar o Panamá e outros países centro-americanos. De outro, lenta, mas inexoravelmente, desmorona a ordem castrista em Cuba, aproxima-se uma incerta transição na Venezuela chavista e dissolve-se o consenso político kirchnerista na Argentina. Quando clama por uma nova "doutrina" da integração latino-americana, o ex-presidente revela aguda consciência da encruzilhada em que se colocou a política externa brasileira.
A consciência de um problema é condição necessária, mas não suficiente, para formular suas possíveis soluções. Lula e seu cortejo de intelectuais não encontrarão uma "doutrina" substituta sem lançar ao mar o lastro de anacronismos ideológicos do lulopetismo. Isso, porém, eles não farão.
Em seu livro "A Ilusao Americana" ele já denunciava o imperialismo americano (para gáudio dos antiamericanos de hoje), mas também proclamava, azedamente, que "a solidariedade americana é uma mentira".
Os companheiros de hoje se empenham no antiamericanismo primário e pretendem fazer a integracao exclusivamente latino-americana, com os resultados que se sabem...
Bem, a história é longa, e eu voltarei a ela um dia desses, por enquanto mais um artigo de um crítico da diplomacia lulo-petista.
Paulo Roberto de Almeida
Lula e a falência da 'Doutrina Garcia'
O Estado de S.Paulo, 31 de janeiro de 2013
Demétrio Magnoli *
"Não tem explicação, depois de mais de 500 anos, eu inaugurar a primeira ponte entre Brasil e Bolívia; não em explicação, depois de mais de 500 anos, eu inaugurar a primeira ponte entre Brasil e Peru", proclamou o ex-presidente, sem ser corrigido por nenhum dos intelectuais que decoravam o ambiente. O trem inaugural da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré chegou a Guajará-Mirim em abril de 1912. Os presidentes Café Filho e Paz Estenssoro inauguraram a Estrada de Ferro Brasil-Bolívia, em Santa Cruz de La Sierra, em janeiro de 1955. A Ponte da Amizade, sobre o Rio Paraná, uma ousada obra de engenharia, foi inaugurada em 1965, conectando o Paraguai às rodovias brasileiras e ao Porto de Paranaguá. As pontes que Lula inaugurou estavam previstas na Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA), aprovada na conferência de chefes de Estado de Brasília, em 2000, no governo FHC. De lá para cá, sob o lulismo, integração regional converteu-se em eufemismo para alianças políticas entre governantes "progressistas".
Desde 2003, com a nomeação de Marco Aurélio Garcia como assessor especial da Presidência, a política brasileira para a América Latina foi transferida da alçada do Itamaraty para a do lulopetismo, impregnando-se de reminiscências políticas antiamericanas, terceiro-mundistas e castristas. O coquetel conduziu-nos ao impasse atual, que Lula é capaz de identificar mesmo se tenta disfarçá-lo pelo recurso à bazófia autocongratulatória.
A "Doutrina Garcia" rejeita a ideia de livre-comércio, que funcionou como pilar original do Mercosul. A Argentina dos Kirchners aproveitou-se disso para violar sistematicamente as regras do Mercosul, desmontando o edifício da zona de livre-comércio. No seu instituto, Lula denunciou a "preocupação maior de relação preferencial com os EUA ou com a Europa ou com qualquer um, menos entre nós mesmos". Entretanto, na celebrada última década, a América Latina não aprofundou o comércio intrarregional, limitando-se a estabelecer uma "relação preferencial" com a China, que absorve nossas exportações de commodities. O primitivismo ideológico impede até mesmo a conclusão de um tratado comercial Brasil-México, elemento indispensável em qualquer projeto de integração latino-americana.
A "Doutrina Garcia" acalenta a utopia de uma integração impulsionada por investimentos estatais e de grandes empresas financiadas por recursos públicos. Contudo a estratégia de expansão regional do "capitalismo de Estado" brasileiro esbarrou nas resistências nacionalistas de argentinos, bolivianos e equatorianos, que assestaram sucessivos golpes em negócios conduzidos pela Petrobrás e por construtoras beneficiadas por empréstimos privilegiados do BNDES. Numa dessas amargas ironias da História, o espectro do "imperialismo brasileiro" reemergiu como acusação dirigida por líderes latino-americanos "progressistas" contra o governo "progressista" de Lula.
A "Doutrina Garcia" almeja promover a liderança regional do Brasil, preservar o regime autoritário cubano e erguer uma barreira geopolítica entre América Latina e EUA. Em busca da primeira meta, o Brasil colidiu com as pretensões concorrentes da Venezuela de Hugo Chávez, que criou a Aliança Bolivariana das Américas (Alba). A concorrência entre o lulopetismo e o chavismo paralisa a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), esvaziando de conteúdo suas reuniões de cúpula. Em busca das outras duas metas, que compartilha com o chavismo, o Brasil ajudou a converter a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) numa ferramenta de proteção da ditadura castrista e de desmoralização da Carta Democrática da Organização dos Estados Americanos (OEA). Dias atrás, Cristina Kirchner definiu a ascensão de Cuba à presidência rotativa da Celac como o marco de "uma nova época na América Latina". Ela tem razão: é o fim da curta época na qual os Estados da região levaram a sério seus proclamados compromissos com os direitos humanos e as liberdades públicas.
Distraídos, os intelectuais palacianos nada perceberam, mas a falência da "Doutrina Garcia" foi registrada no radar de Lula. De um lado, abaixo do celofane brilhante da Unasul e da Celac, desenvolve-se um processo que deveria ser batizado como a desintegração da América Latina. A principal evidência disso se encontra na emergência da Aliança do Pacífico, uma área de livre-comércio formada sem alarido por México, Colômbia, Chile e Peru, aos quais podem se juntar o Panamá e outros países centro-americanos. De outro, lenta, mas inexoravelmente, desmorona a ordem castrista em Cuba, aproxima-se uma incerta transição na Venezuela chavista e dissolve-se o consenso político kirchnerista na Argentina. Quando clama por uma nova "doutrina" da integração latino-americana, o ex-presidente revela aguda consciência da encruzilhada em que se colocou a política externa brasileira.
A consciência de um problema é condição necessária, mas não suficiente, para formular suas possíveis soluções. Lula e seu cortejo de intelectuais não encontrarão uma "doutrina" substituta sem lançar ao mar o lastro de anacronismos ideológicos do lulopetismo. Isso, porém, eles não farão.
* Demétrio Magnoli é sociólogo e doutor em Geografia Humana pela USP. E-mail: demetrio.magnoli@uol.com.br.
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