sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

A necessidade de reforma política no Brasil - Pedro Jobim (Infomoney)

 No Brasil, os maiores problemas são de natureza mais fundamental. Mas quem se importa? https://www.infomoney.com.br/colunistas/pedro-jobim/no-brasil-os-maiores-problemas-sao-de-natureza-mais-fundamental-mas-quem-se-importa/ via @InfoMoney - Uma análise política sobre a necessidade de reformas políticas nas instituições de governança que não serão feitas, tendendo, portanto, ao declínio inevitável.

No Brasil, os maiores problemas são de natureza mais fundamental. Mas quem se importa?

Sem uma reforma política, a tendência é o agravamento dos sintomas da ingovernabilidade e a eclosão de recessões cada vez mais intensas, que tendem a aprisionar o país no populismo eterno ou criar condições para uma ruptura desorganizada

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Brasil

O Brasil é um país cuja renda per capita está estagnada desde 1980. De lá para cá, vivemos de tudo. Hiperinflação, crises de balanços de pagamentos, confisco de ativos, impeachment de dois dos cinco presidentes diretamente eleitos no período, o maior escândalo de corrupção e espoliação de recursos de Estado já registrado no mundo ocidental, a prisão de dois ex-presidentes da República e de três presidentes da Câmara dos Deputados, além da maior recessão observada nos mais de cem anos de contabilização do PIB.

Estaríamos simplesmente amargando as consequências de sucessivas más escolhas nas eleições? Não nos parece. Este artigo desenvolverá argumentos sugerindo que a raiz de nossos recorrentes problemas está na falta de cuidado no desenho da governança de nosso regime político. Para isso, é necessário examinar com algum nível de detalhe as fragilidades intrínsecas às repúblicas, desde sua origem, pelo que peço ao leitor um pouco de paciência.

Um exame superficial da história ocidental desde a antiguidade clássica mostra que as repúblicas democráticas são formas de governo instáveis. À parte a possibilidade mais corriqueira e frequente de degeneração a ditaduras regulares, elas são suscetíveis à transmutação ao que se conhece por “ditadura da maioria”.

Se a vontade da maioria prevalecer em um número suficiente de questões, as liberdades individuais e as garantias fundamentais, como direitos políticos e o direito à propriedade privada, tendem a se atrofiar. O resultado, nesses aspectos, é muito semelhante ao observado em regimes despóticos “regulares”, isto é, nos quais não há funcionamento formal de uma casa legislativa e o poder se concentra nas mãos de uma só pessoa.

Esta deficiência intrínseca dos regimes democráticos é estudada desde Aristóteles – que, quase 3 mil anos atrás, já apontava a excessiva instabilidade da quase pura democracia ateniense e não escondia sua preferência pelos regimes mais balanceados de Esparta e Cartago.

Os romanos, tendo aprendido com as experiências dos gregos, introduziram diversos melhoramentos (“checks and balances”) que tornaram seu regime republicano mais estável.

O poder central era dividido entre dois cônsules eleitos pelos cidadãos, com mandato de um ano, sendo permitida a candidatura de um ex-cônsul somente após dez anos do final de seu mandato. A atividade legislativa ficava a cargo do Senado, um elemento oligárquico, que, a partir de uma certa altura, passou a dividir suas atribuições com a Assembleia da plebe, presidida pelos tribunos, que tinha também o poder de legislar e, sob determinadas condições, vetar leis oriundas do Senado.

O fim da República romana, que obviamente não será aqui discutido em detalhes, teve origem no ciclo que envolvia a ampliação do universo de cidadãos aptos a votar, a expansão territorial e o enorme enriquecimento pessoal das lideranças políticas.

As conquistas da República exigiam campanhas militares longas e caras, cuja chefia, por sua vez, tornava-se objeto de grande cobiça. A pilhagem das riquezas dos povos subjugados enriquecia seus líderes, que assim podiam, além de acumular enorme riqueza pessoal, armar suas facções e, literalmente, comprar o voto dos eleitores mais pobres, por meio da distribuição de alimentos ou do patrocínio de espetáculos públicos.

A extensão progressiva da condição de cidadão romano, primeiro, a italianos e, depois, aos demais povos tributários, garantia a popularidade dos políticos, fechando o ciclo. Tibério Graco, Caio Mário e Júlio César estiveram entre os primeiros populistas da história, tendo sido responsáveis pelo fortalecimento das assembleias populares e pelo aumento do poder dos tribunos ante o patriciado senatorial.

Mesmo com todos os “checks and balances” instituídos, a República romana não resistiu ao populismo, fenômeno político irmão da “ditadura da maioria”, e à expansão territorial exagerada, dando lugar ao Império cerca de 500 anos após sua fundação.

A “não escalabilidade” do regime republicano é uma constatação que salta aos olhos de qualquer estudante de História. As repúblicas das cidades-estado gregas, a romana e, mais recentemente, das cidades italianas das Idades Média e Moderna foram relativamente bem sucedidas, entre outros motivos, por terem (ou, enquanto tiveram, no caso de Roma) dimensões territoriais modestas.

Embora esteja longe de ser a única explicação, esse padrão histórico contribuiu para a inexistência de repúblicas com dimensões geográficas significativas ao longo dos mil e oitocentos anos que separam o início do Império Romano da promulgação da Constituição dos Estados Unidos da América, em 1787.

Boa parte do trabalho de Alexander Hamilton, James Madison e John Jay ao escrever os textos de “O Federalista” foi direcionado a convencer a população da colônia de Nova York da viabilidade de se estabelecer uma república, a ser formada pela federação das já emancipadas treze colônias – e portanto, dotada de expressiva extensão territorial – a ser guiada, agora, pelos princípios da separação de poderes enunciados por Montesquieu e desenvolvidos adicionalmente por John Locke, que, segundo os autores da carta, contribuiriam para tornar a república mais estável do que suas predecessoras.

Três mecanismos adicionais de estabilidade desenhados pelos artífices da Constituição dos EUA eram explicitamente direcionados a limitar os efeitos de uma eventual degeneração do regime à “ditadura da maioria”, que era temida especialmente por Madison.

Um deles é a instituição do colégio eleitoral para a eleição presidencial, que limita o peso relativo dos estados mais populosos na escolha do mandatário. Outro, o sistema bicameral, com a eleição de dois senadores por estado – que, originalmente, sequer eram eleitos pelo voto direto, mas pelas assembleias regionais.

Por fim, o instituto do filibuster, mecanismo inspirado no senado romano, onde não havia limite temporal para os debates que antecediam a votação de determinadas leis. Esse é um dispositivo fundamental para insular os direitos das minorias e atenuar o faseamento das políticas públicas com o partido do governo. Hoje, são necessários 60 senadores para interromper os debates nas diversas matérias legais em que o mecanismo de filibuster continua presente.

Mesmo tendo nascido, na escala temporal civilizatória, apenas “ontem”, a experiência de estabilidade do regime político dos Estados Unidos da América já se constitui na mais longa que se tem registro. Desde 1789, as eleições para presidente dos EUA são realizadas pelo colégio eleitoral a cada quatro anos, sem exceções.

Ainda que as salvaguardas previstas pelos fundadores dos EUA tenham sido, até aqui , extremamente eficazes para a preservação de seu regime político, elas não têm sido suficientes para evitar que a sobrevivência da república democrática naquele país venha sendo ameaçada por fenômenos que guardam estreita relação com o ocorrido em Roma dois milênios atrás. A redução das diferenças nos direitos políticos entre residentes – mesmo os ilegais – e cidadãos é, talvez, neste aspecto, a componente que guarda maior similaridade.

Como a tendência (atual) majoritária entre os imigrantes é a orientação de voto pelo partido democrata, os governos dos estados controlados por aquele partido, numa ótica essencialmente curto-prazista, têm dificultado sua extradição e lhes facilitado a conquista de cidadania, ao passo que, no plano federal, o partido trabalha politicamente pela ampliação dos programas de assistência, de modo a manter essas e outras frações da população sob dependência do Estado.

Noutra frente de ataques à estabilidade da república, o partido democrata trabalha há décadas pelo fim do colégio eleitoral. Ele também pleiteia a transformação do distrito de Columbia e de Porto Rico em estados – o que quebraria, talvez por um longo período, o equilíbrio de forças políticas no senado. E, reeditando o movimento de Franklin Roosevelt dos anos 1930, quer aumentar o número de juízes da Suprema Corte (“pack the court”), com o objetivo de diluir sua atual maioria de juízes conservadores.

Essas são todas ações que, por sua vez, dependem do fim definitivo do filibuster no Senado e vêm se tornando possibilidades cada vez mais concretas, que fragilizariam os “checks and balances” desenhados pelos artífices da Constituição dos EUA, tornando o país uma virtual “ditadura da maioria” conduzida por políticos populistas. Esta perspectiva é extensivamente desenvolvida por Victor Davis Hanson em seu extraordinário livro “The Dying Citizen” e também no recente artigo “The birth, benefits and burdens of western citizenship”.

Após esta longa introdução, voltemos agora ao Brasil.

A origem das repúblicas latino-americanas obviamente não foi orgânica, como em Roma, ou pensada e arquitetada por estadistas que haviam estudado profundamente os defeitos das antigas repúblicas e as formas de aperfeiçoá-las, como nos EUA.

Quando o Império do Brasil caiu de maduro, declarou-se a República, pegando-se emprestado um apanhado de ideias das constituições da França e dos EUA para redigir-se a carta de 1891. Aqui, ao contrário dos EUA, jamais houve federalismo verdadeiro. Já existia um país constituído por províncias, nunca tendo sido dada opção a cada uma delas de aderir ou não ao novo (ou ao antigo) regime. A Constituição dos EUA foi referendada por 39 dos 55 delegados na Convenção da Filadélfia – o esforço dos estadistas no convencimento da população, evidenciado, entre outros exemplos, pela elaboração dos já mencionados artigos de “O Federalista”, mostram que o risco de não haver acordo era significativo. De fato, a constituição de um governo central para liderar a federação das colônias emancipadas talvez seja o único caso de um “govermment by consent”, à maneira teorizada por Hobbes e Locke.

Apesar de o Brasil ser um país com dimensões continentais, equivalentes à dos EUA, e, portanto, em que a governança da república devesse ser, em tese, cautelosamente desenhada para que se procurasse atenuar os problemas acarretados pela elevada dimensão territorial – já conhecidos desde o tempo de Roma – isso jamais foi feito. Não foi feito no início da República, e nem nunca, depois, de forma verdadeiramente séria, nos mais de 130 anos desde a mudança do regime.

O voto distrital para deputado – presente nos EUA desde sempre – é um mecanismo que aumenta a ligação entre representantes e representados, sendo fundamental para a convergência de seus interesses, especialmente no caso de repúblicas com vasta extensão territorial. No Brasil, esse mecanismo simplesmente nunca existiu ou sequer foi seriamente considerado.

O instituto do foro privilegiado, que protege a classe política e incentiva o patrimonialismo, existe no Brasil desde a Lei do Governo Geral de Tomé de Sousa e sobreviveu a todas as constituições, incluindo a atual, de 1988. Mais recentemente, descobrimos também que esse mecanismo destrói a independência dos poderes, pois, num sistema em que a elite política tem extenso passivo criminal, ela torna-se refém do Judiciário, ficando anulado, na prática, o mecanismo de controle da suprema corte pelo senado.

Recentemente, uma das consequências da falta de contrapesos ao órgão máximo do judiciário foi a reabilitação eleitoral do ex-presidente Lula , uma figura condenada por diversos juízes e tribunais, em três instâncias diferentes , por mais de um crime, cujo legado provocou a maior recessão de que se tem notícia no Brasil. Mas, e aí? Existe alguém de fato preocupado com isso?

O Brasil, assim como vários outros países latino-americanos, tem condições próximas às ideais para que a república democrática degenere em “ditadura da maioria” toureada por políticos populistas: território extenso, Estado de Direito (rule of law) fraco, riquezas naturais e/ou uma dinâmica econômica privada suficiente para sustentar o rent-seeking da classe política, além de contar com uma grande parcela da população em situação de dependência do Estado para sua sobrevivência – outro importante pilar de sustentação deste regime degenerado.

Nossos vizinhos Venezuela e Argentina já se encontram nesse caminho há tempo suficiente para que a perda de rumo possa se caracterizar como definitiva, deixando a reabilitação e a esperança fora do campo de visão. Já o Chile acaba de iniciar sua jornada nessa direção, que ao que tudo indica, pode ser mais veloz – no sentido de poder chegar mais rapidamente a seu destino – do que a de seus vizinhos.

A economia brasileira foi capaz de crescer a taxas elevadas por décadas, graças à juventude de sua população, baixos estoques de capital físico e importantes vantagens comparativas – condições que, sob princípios mínimos de governança, foram suficientes para garantir contínuo aumento da renda nacional por bastante tempo.

Mas esse tempo acabou há mais de quarenta anos. Se não formos capazes de questionar e propor mudanças no plano mais fundamental de organização do Estado – a constituição e a organização dos poderes – podemos esquecer qualquer possibilidade de avanço consistente.

Hoje, estamos assim: o Poder Legislativo (que, na ausência de voto distrital, quase não tem vínculo com seus eleitores) é devidamente alimentado pelo fundo eleitoral público e pelas emendas de relator, que o permite cuidar dos interesses particulares de seus membros. A instância máxima do Judiciário decide o que bem entende, interfere em atribuições dos demais poderes, anula condenações ao sabor de sua conveniência política e não deve satisfações a nenhum outro poder. E o sufrágio popular para presidente da República, piorado pela permissão de reeleição e exercido por uma população empobrecida e cada vez mais dependente do Estado, torna-se, progressivamente, uma competição de populismo, repleta de promessas vazias, mentiras e estelionatos eleitorais. Os quadriênios intercalam uma sucessão de escândalos de corrupção, deterioração fiscal e criação de programas sociais cada vez mais custosos.

Em meio a essa realidade, em que a governança de uma República que nunca foi pensada vai escorrendo pelos dedos a olhos vistos, economistas e líderes empresariais insistem em seguir elencando as “reformas” que precisam ser feitas e sem as quais o país não “retomará o caminho do crescimento”. É verdade. E todos os 2% da população que acompanham a imprensa escrita já sabem quais elas são. O que é incrível a esta altura é que parte da elite ainda possa acreditar que, com a governança e contrato social atuais, essas reformas um dia acontecerão, de fato.

Sem uma reforma política, tão improvável quanto profunda, a tendência nítida é o agravamento dos sintomas da ingovernabilidade e a eclosão de recessões cada vez mais intensas e duradouras, que tendem a aprisionar o país no populismo eterno, ou eventualmente, criar condições para uma ruptura desorganizada.

A verdade é que, hoje, o Brasil e os brasileiros estão, na falta de uma expressão melhor, entregues à própria sorte.


quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Mini reflexão de leve sabor barringtoniano - Paulo Roberto de Almeida

 Mini reflexão de leve sabor barringtoniano

Paulo Roberto de Almeida 

Aprofundando uma reflexão interrogativa sobre nossa trajetória como nação. Sociedades não costumam fazer assembleias gerais para decidir sobre o seu próximo destino: só ao cabo de revoluções ou guerras civis. Ainda não é o nosso caso. Pelo menos espero.

O Brasil, definitivamente, não vive um ciclo toynbeeano de ascensão e declínio civilizatório. Nossa trilha é um pouco mais “abaixo”, não em termos de avanços materiais ou progressos tecnológicos, mas no terreno dos valores e princípios morais de uma sociedade que deveria ser regrada.

Certas sociedades, enfrentando profundas crises, como a República de Weimar ou a Venezuela dos anos 1990, acabam se entregando a um bando de sacripantas criminosos que terminam por levá-la ao paroxismo da autodestruição. 

Estaria o Brasil se aproximando dessa “atração fatal”?

Não pensem que certas “deformações” de um ciclo normalmente e tendencialmente ascensional estejam restritas a países que passaram por profundas crises sociais e econômicas como a Alemanha de Weimar ou a Venezuela pré-Chávez. Elas podem afetar, igualmente, nações aparentemente bem-sucedidas, mas bastante diversas em sua composição “civil”, com estamentos privilegiados mas decadentes, e diferentes estratos de “desclassificados”, mas dotados de franquias eleitorais, como ocorre atualmente com a maior parte dos Estados-nacionais do sistema onusiano.

Nessas fricções do processo histórico e no itinerário da evolução de nações assim confrontadas a desafios adaptativos podem surgir espaços, abrir “janelas”, para que oportunistas dotados de “boa” retórica consigam empolgar as massas com suas propostas disruptivas. Pode ser o começo do declínio, mais ou menos dramático segundo as forças sociais mobilizadas ao redor do personagem: um Mussolini, um Hitler, um Chávez, um Trump, um Bozo.

Não está claro o que pode advir desse tipo de “atração fatal”. O que está claro é que tal tipo de fenômeno deveria, pelo menos, afastar essas teorias deterministas da História. A história de cada nação em particular é um livro aberto ao imponderável, ao contingente, ao inesperado, ao acidental e até ao dramático. 

Espero apenas que o Brasil não esteja no vórtice de alguma “atração fatal”.

Paulo Roberto de Almeida

São Paulo, 6/01/2022

PS.: O Barrington Moore a que eu me refiro não é tanto o sociólogo histórico das Origens Sociais da Ditadura e da Democracia e mais o autor do pequeno panfleto sobre as “misérias humanas”.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Sobre uma falsa analogia em torno de supostos imperialismos rivais - Paulo Roberto de Almeida

 Sobre uma falsa analogia em torno de supostos imperialismos rivais

Paulo Roberto de Almeida 


A história não se repete; analogias são em geral falsas ou indevidas. 

A tal “armadilha de Tucídides” é uma fantasmagoria criada pelo relativo declínio dos EUA e pela dificuldade em aceitar as novas realidades. 

Não há sequer termo de comparação possível no caso do conflito entre Atenas e Esparta e a atual postura adversária dos EUA para com a China.

As pessoas deveriam primeiro ler Tucídides, que continua a ser uma grande fonte de reflexões sobre os erros de diplomacia que pode cometer uma potência estabelecida, tornada arrogante e dominada pela hubris. 

Atenas foi derrotada por seus próprios erros, não por algum destino fatal determinado pela potência de Esparta.

A melhor reflexão a partir do grande livro de Tucídides está na “oração aos mortos”, a defesa da democracia por Péricles. Os EUA parecem ter esquecido algumas lições. Os episódios propriamente militares são irrelevantes para o cenário atual.

Os acadêmicos americanos que difundem essa falsa analogia da “armadilha” prestam um desserviço à sua própria inteligência.

Paulo Roberto de Almeida

4/01/2022

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Revista Interesse Nacional n. 56: pobreza e desigualdade

 Caros leitores, 

 

A questão da desigualdade social no Brasil, tida como crucial na atual conjuntura, foi tema escolhido pelo Conselho Editorial da Revista para merecer abordagem nesta edição. Mais do que a pobreza em si, o Brasil enfrenta um cenário de fome aguda que leva seres humanos a vasculharem o lixo e correrem atrás de calangos para comer. Como tratar essa dramática realidade, foi a tarefa assumida por articulistas convidados que destacaram dois pontos: a questão dos investimentos em educação desde a mais tenra idade nas periferias e o reconhecimento de que atravessamos mais uma linha da demarcação social do País, onde a favela já não é o limite.

 

No final do ano passado, o debate global em torno dos desafios relacionados às questões ambientais reverberavam depois da Cúpula do Clima em Glasgow, na Escócia, e, aqui na edição, alguns aspectos correlatos à preocupação de salvar o planeta ganham destaque. Um diz respeito à efetivação da regulamentação dos instrumentos de mercado do Acordo de Paris, que vão exigir equacionamento de metodologias. Ao Brasil, caberá criar governança interna para participar do comércio no mercado do Artigo 6. Outro ponto relevante e quase despercebido seria a necessária restauração do Bioma da Mata Atlântica, que já perdeu 88% de sua área original, e não escandaliza a opinião pública tanto quantoà devastação da Amazônia.

 

Da pauta internacional, tratamos da continuidade ou mudança da condução da política e da economia pelos dirigentes chineses, que mexem com as relações comerciais dos quatros cantos do planeta; assim como o advento de outra guerra civil nos EUA, como decorrência do grau de polarização na sua política interna. Ambas as questões merecem reflexões atentas na edição da Revista.

 

E, por fim, mas não menos relevante, ao se considerar desenhar perspectivas possíveis, surge o candente tema da Inteligência Artificial. Como avaliam os articulistas, “quando o assunto é IA, o futuro nunca esteve tão perto”. O uso da tecnologia cognitiva busca solucionar problemas que até hoje não puderam ser resolvidos pela mente humana, ou para potencializar o alcance de soluções que hoje têm escopo limitado. Os tais algoritmos mensurados pela IA estão mediando a vida do cidadão do século XXI e trazem consigo um problema: seu uso intensivo revela inúmeras violações de direitos humanos. Como estabelecer arcabouços regulatórios é a questão.

 

Que o ano de 2022 seja palco de produtivos debates para a Nação. A Revista Interesse Nacional segue sua trajetória de abrir espaço para a saudável troca de ideias.

 

Então, boa leitura:

 

Link:   http://interessenacional.com.br/

 

Feliz novo ano, os editores

 


Não foi a antidiplomacia de Bolsonaro que fez o Brasil voltar ao CSNU - Hussein Kalout (OESP)

O retorno do Brasil ao Conselho de Segurança da ONU: é preciso contar a verdade; leia o artigo


Não foi o governo Bolsonaro que articulou a volta do Brasil ao Conselho de Segurança, e é um acinte dizer que este retrono é um 'eixo da política externa' de um Presidente que sempre desprezou a ONU
       
Hussein Kalout*, O Estado de S.Paulo
03 de janeiro de 2022

“Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.” – (Mateus 22:21). 

Sobre o retorno do Brasil ao Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), para o exercício de mandato de dois anos (2022-2023), é preciso contar esse conto por inteiro para preservar a verdade histórica e o apego aos fatos. Mais do que contar a verdade, compele irromper o festival de distorções apregoados pelo Presidente e seu governo em torno desse assunto.

Política externa é política pública complexa e multifacetada, de difícil compreensão pelo público em geral. Normalmente, o debate fica restrito a círculos muito específicos, que, se mal-intencionados, conseguem facilmente manipular e distorcer a natureza do jogo diplomático para fins politiqueiros.

Em vez de explicar os seus intrincados meandros, com a atenção necessária a períodos pretéritos capazes, ao percurso do processo decisório, ao conjunto de ações engendradas e à racional estratégica por trás de cada passo, pode-se facilmente criar percepções imprecisas com base num fato descontextualizado. O resultado é a subversão da verdade.

É direito inalienável do povo, do parlamento e dos centros de conhecimento saberem como se deu, verdadeiramente, o retorno o Brasil ao órgão mais relevante das Nações Unidas. Nesse sentido, urge reestabelecer a verdade, para que aqueles que trabalham com o tema (política externa) não caiam, enfim, em armadilhas retóricas, narrativas fabricadas e distorções interesseiras.

Descortinar a bizarra fábula que vem sendo sustentada pelo Presidente, pelos seus múltiplos auxiliares na área internacional e por alguns meios de comunicação, é imperativo para que as novas gerações saibam o que o Itamaraty fez pelo país no passado-recente – antes da chegada deste desgoverno.

Não foi o governo Bolsonaro que articulou a volta do Brasil ao Conselho de Segurança – clube de elite da cúpula geopolítica da ONU. É estapafúrdia e risível a tese espalhada pelos corredores da República de que o Brasil foi eleito para compor o CSNU como forma de reconhecimento “ao prestígio internacional” do governo de Jair Bolsonaro. É igualmente um acinte sem precedente dizer que a volta do Brasil ao CSNU é um eixo da política externa de um Presidente que sempre desprezou a ONU, tendo ameaçado até mesmo abandonar a organização.

A verdade histórica e os fatos são os seguintes, caros leitores:

1. A escolha de um país para integrar o Conselho de Segurança da ONU se dá por meio de uma “eleição negociada” e rotativa no âmbito de cada um dos cinco Grupos Regionais das Nações Unidas. O Grupo de Países da América Latina e Caribe, conhecido no jargão diplomático de GRULAC (criado em 1964 e formado por 33 Estados Membros), é o foro apropriado onde o Brasil apresenta a sua postulação. Após a escolha regional, a indicação segue para uma ratificação burocrática em votação no âmbito da Assembleia Geral da ONU.

2. Entre 2012 e 2014, no primeiro governo Dilma, o Brasil acabou não apresentando a sua candidatura no âmbito do GRULAC e isso fez com o que o país parasse, por assim dizer, no final da fila. O nosso turno de retornar o Conselho, somente, se daria, lá para 2033 – seria um hiato de 22 anos já que o Brasil ocupara uma das vagas rotativas no biênio 2010-2011.

3. No início do segundo governo Dilma, entre 2015 e 2016, o Itamaraty inicia um processo de diálogo com países da região com o objetivo de encurtar esse hiato. Nesse período, o então ex-chanceler Mauro Vieira, passou a prospectar quais países estariam propensos a ceder ao Brasil a sua vaga mediante apoio para outras posições-chave no âmbito do sistema das Nações Unidas. República Dominicana, São Vicente e Granadinas e Honduras foram identificados como potenciais países.

4. Abriram-se sondagens então com os três países em diferentes estágios e a partir de estratégias específicas. República Dominicana sinalizou que não pretendia ceder a sua posição – face a supostas pressões advindas de Washington. O foco prioritário passou a ser São Vicente e Granadinas. Porém, a crise política no Brasil interrompeu o ciclo de conversas e posteriormente, o país caribenho, que havia recebido forte apoio da Venezuela, decide seguir com a vaga. Restava como opção: Honduras.

5.  Em meados de 2016, o Embaixador Mauro Vieira é indicado pelo governo Temer para assumir o posto de Representante Permanente do Brasil junto à ONU, em Nova York. Assume o Itamaraty o Senador José Serra, por uns nove meses e, posteriormente, é sucedido pelo então Senador Aloysio Nunes Ferreira na chefia da Chancelaria brasileira. Com Aloysio Nunes Ferreira, o processo de negociação com parceiros caribenhos e latino-americanos avança – por volta de abril de 2017. Além de Honduras, outras possibilidades passam a ser estudadas.

6.  Em representação ao GRULAC estariam, a princípio, no CSNU, Bolívia (biênio 2017-2018), República Dominicana (biênio 2019-2020), São Vicente e Granadinas (biênio 2020-2021), México (biênio 2021-2022) e Honduras (biênio 2022-2023). Ao pisar em Nova York para assumir as suas novas funções, o Embaixador Mauro Vieira abre um diálogo direito nos bastidores com a Representante Permanente de Honduras na ONU, Mary Elizabeth Flores Flake, no intuito de testar a flexibilidade política de Tegucigalpa. Ao largo dos meses subsequentes, o diálogo entre Vieira e Flores Flake avança ao ponto em que, a parte hondurenha, revela a intenção do país centro-americano de postular a Presidência da 73˚AGNU.

7. Naquele momento, Honduras cogitava lançar a própria Flores Flake para a Presidência da Assembleia Geral da ONU – mandato que se estenderia de setembro de 2018 à setembro de 2019 – e, para que a empreitada hondurenha ganhasse robustez, o apoio do Brasil no âmbito da América Latina se caracterizava como indispensável.

8. No primeiro trimestre de 2018, o diálogo nos bastidores entre Brasil e Honduras ganha concretude e após intenso processo de negociação, a chancelaria brasileira decide franquear o seu apoio a Honduras em troca da vaga para o CSNU. Selado o acordo, em junho de 2018, Flores Flake disputa a Presidência da 73˚AGNU com a então chanceler do Equador, María Fernanda Espinosa, que acaba levando o pleito.

9. É importante sublinhar que o Brasil não teve que disputar com nenhum outro país do GRULAC a vaga para o CSNU para o biênio 2022-2023. O acordo selado entre Brasil e Honduras, em 2018, foi respaldado e respeitado por todos os países latino-americanos e caribenhos. Quando, em junho de 2021, o Brasil teve a sua indicação confirmada pela Assembleia Geral, o país era candidato único do GRULAC para a vaga. Tratava-se de um regresso ao Conselho de Segurança com o cronômetro rodando em contagem regressiva e com data certa para se concretizar. Ou seja, não se tratou de diretriz nenhuma do governo Bolsonaro.

Infinitas inverdades sobre supostas “conquistas da política externa” hão de emergir neste ano eleitoral – decisivo para o futuro do Brasil. No mercado da ilusão, a usina de mentiras venderá para quem quiser crer, uma “política externa equilibrada”, enquanto o Brasil segue implementando a mesma política destrutiva no campo das relações internacionais. O padrão de voto do Brasil nos foros multilaterais segue sendo hoje o mesmo do início do governo em praticamente todas as áreas. Afinal, o Presidente é o mesmo, o governo é o mesmo e a “política externa” é, portanto, a mesma (com retoques cosméticos aqui ou ali no discurso. Uma mudança na estampa e não na essência).

Convém não esquecer que o governo Bolsonaro desmoralizou até a medula o nome do Brasil no sistema multilateral ao longo de seus três anos de governo – não apenas por atacar as próprias instituições do sistema das Nações Unidas, mas, por tentar, permanentemente, desacreditá-las.

Política de Estado não se faz com retóricas vazias, distorções dos fatos ou via “marquetagem infanto-juvenil”, seja para subverter a verdade, a história ou para contar um monte de contos da carochinha – sobre este e tantos outros temas. O fato é que a antecipação do retorno do Brasil ao CSNU abrangeu dois governos (Dilma e Temer) e foi realizado de forma meticulosa, silenciosa e estratégica, ao largo de quatro anos (2015-2018), em defesa do interesse nacional. Diga-se de passagem, aliás, que a agressividade do governo Bolsonaro contra o multilateralismo e especialmente contra vários países da América Latina colocaram todo o trabalho feito sob enorme risco. O Brasil acabou eleito porque os demais países respeitam acordos firmados e tradições, ou seja, fomos eleitos não por causa do atual governo, que nada teve a ver com a história, mas apesar desse governo.

No charlatanismo diplomático do governo apenas acredita quem quer!

* HUSSEIN KALOUT, é Cientista Político, Professor de Relações Internacionais, e Pesquisador da Universidade Harvard. Foi Secretário Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (2017-2018).

https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,o-retorno-o-brasil-ao-conselho-de-seguranca-da-onu-e-preciso-contar-a-verdade-leia-o-artigo,70003940455

Há uma guerra civil no horizonte dos EUA? - David H. Freedman (Newsweek)

 Newsweek, Nova York – 29.12.2021

Millions of Angry, Armed Americans Stand Ready to Seize Power If Trump Loses in 2024

David H. Freedman

 

Mike Wompus" Nieznany is a 73-year-old Vietnam veteran who walks with a cane from the combat wounds he received during his service. That disability doesn't keep Nieznany from making a living selling custom motorcycle luggage racks from his home in Gainesville, Georgia. Neither will it slow him down when it's time to visit Washington, D.C.—heavily armed and ready to do his part in overthrowing the U.S. government.

Millions of fellow would-be insurrectionists will be there, too, Nieznany says, "a ticking time-bomb" targeting the Capitol. "There are lots of fully armed people wondering what's happening to this country," he says."Are we going to let Biden keep destroying it? Or do we need to get rid of him? We're only going to take so much before we fight back." The 2024 election, he adds, may well be the trigger.

Nieznany is no loner. His political comments on the social-media site Quora received 44,000 views in the first two weeks of November and more than 4 million overall. He is one of many rank-and-file Republicans who own guns and in recent months have talked openly of the need to take down—by force if necessary—a federal government they see as illegitimate, overreaching and corrosive to American freedom.

The phenomenon goes well beyond the growth of militias, which have been a feature of American life at least since the Ku Klux Klan rose to power after the Civil War.Groups like the Proud Boys and the Oath Keepers, which took part in the January 6thriot at the Capitol and may have played organizational roles, have grown in membership. Law enforcement has long tracked and often infiltrated these groups. What Nieznany represents is something else entirely: a much larger and more diffuse movement of more-or-less ordinary people, stoked by misinformation, knitted together by social media and well-armed. In 2020, 17 million Americans bought 40 million guns and in 2021 were on track to add another 20 million. If historical trends hold, the buyers will be overwhelmingly white, Republican and southern or rural.

America's massive and mostly Republican gun-rights movement dovetails with a growing belief among many Republicans that the federal government is an illegitimate tyranny that must be overthrown by any means necessary. That combustible formula raises the threat of armed, large-scale attacks around the 2024 presidential election—attacks that could make the January 6insurrection look like a toothless stunt by comparison. "The idea that people would take up arms against an American election has gone from completely farfetched to something we have to start planning for and preparing for," says University of California, Los Angeles law professor Adam Winkler, an expert on gun policy and constitutional law.

Both Democrats and Republicans are rapidly losing faith in the integrity of U.S. elections. Democrats worry that voter suppression and election interference from Republican state officials will deny millions of Americans their say at the polling booths. A PBS NewsHour/ NPR/ Marist poll in early November reported that 55 percent of Democrats saw voter suppression as the biggest threat to U.S. electionsRepublicans claim, contrary to the evidence, that Democrats have already manipulated vote counts through fraud to steal a presidential election. An October CNN poll found that more than three-quarters of Republicans falsely believe Joe Biden's 2020 election win was fraudulent.

According to the Constitution, Congress and the Supreme Court are supposed to settle those sorts of dueling claims. Given the growing intensity and polarization of political life, would either side accept a decision that handed a contested 2024 election result to the other?

Such a decision would more likely bring tens of millions of protesters and counter-protesters into the streets, especially around the U.S. Capitol and possibly many state capitols, plunging the country into chaos. Although many Democrats might be inclined to demonstrate, a larger percentage of Republican protesters would almost certainly be carrying guns. If the Supreme Court ruling, expected in mid-2022, on New York State Rifle & Pistol Association v. Bruen establishes an unrestricted right to carry a gun anywhere in the country, bringing firearms to the Capitol in Washington, D.C. could be perfectly legal. Says Winkler: "The Supreme Court may be close to issuing the ruling that leads to the overthrow of the U.S. government."

If armed violence erupts the 2024 elections, quelling it could fall to the U.S. military, which may be reluctant to take arms against U.S. citizens. In that case, the fate of the nation might well be decided by a simple fact: a big subset of one of the two parties has for years been systemically arming itself for this very reason.

"I hope it's just too crazy to happen here," says Erica De Bruin, an assistant professor of government at Hamilton College, who studies coups around the world. "But it's now in the realm of the plausible."

Enemy at the Gates

Many Republicans are increasingly coming to see themselves less as citizens represented by the federal government, and more as tyrannized victims of that government. More than three-quarters of Republicans reported "low trust" in the federal government in a Grinnell College national poll in October; only a minority of Democrats agreed. From this point of view, peaceful elections will not save the day. More than two out of three Republicans think democracy is under attack, according to the Grinnell poll, which echoes the results of a CNN poll in September. Half as many Democrats say the same.

Mainstream news publications are filled with howls of protest over political outrages by Republican leaders, who are reflecting the beliefs of the party mainstream. But the small newspapers in the rural, red-state areas that are the core of the Republican party's rank and file are giving voice to a simpler picture: Politics are dead; it's time to fight. "Wake up America!" reads a September opinion piece excoriating Democrats in The Gaston Gazette, based in Gastonia, N.C. "The enemy is at our gates, God willing it is not too late to turn back the rushing tide of this dark regime." The piece goes on to quote Thomas Paine's exhortation to colonists to take up arms against the British. "We are in a civil war," a letter published in September in The New Mexico Sun likewise warns Republicans, "between the traditional Americans and those who want to impose socialism in this country and thus obtain complete government control of its citizens."

Evidence that a significant portion of Republicans are increasingly likely to resort to violence against the government and political opponents is growing. More than 100 violent threats, many of them death threats, were leveled at poll workers and election officials in battleground states in 2020, according to an investigation by Reuters published in September—all those threat-makers whom Reuters could contact identified as Trump supporters. In October 2020, 13 men were charged with plotting to kidnap Michigan Governor Gretchen Whitmer, a Democrat; all of them were aligned with the political right. Nearly a third of Republicans agree that "true American patriots may have to resort to violence in order to save our country," according to a September poll conducted by the Public Religion Research Institute, a non-partisan group. That's three times as many as the number of Democrats who felt the same way.

Guns are becoming an essential part of the equation. "Americans are increasingly wielding guns in public spaces, roused by persons they politically oppose or public decisions with which they disagree," concludes an August article in the Northwestern University Law Review. Guns were plentiful when hundreds of anti-COVID-precaution protestors gathered at the Michigan State Capitol in May 2020. Some of the armed protesters tried to enter the Capitol chamber.

Those who carry arms to a political protest may in theory have peaceful intentions, but there's plenty of reason to think otherwise. An October study from Everytown for Gun Safety and the Armed Conflict Location and Event Data Project (ACLED) looked at 560 protests involving armed participants over an 18-month period through mid-2021, and found that a sixth of them turned violent, and some involved fatalities.

One indication of how far Republicans may be willing to go in violently opposing the government is their sanguine reaction to the January 6 insurrection at the U.S. Capitol. Republicans by and large see no problem with a mob of hundreds swarming and forcing their way into the seat of American government. Half of Republicans said that the mob was "defending freedom," according to a CBS/YouGov poll taken just after the insurrection. Today two-thirds of Republicans have come to deny that it was an attack at all, according to an October survey by Quinnipiac University. "There's been little accountability for that insurrection," says UCLA's Winkler. "The right-wing rhetoric has only grown worse since then."

Most Republican leaders are circumspect when it comes to supporting violence against the government, but not all. Former Milwaukee County Sheriff David Clarke, a controversial character who remains popular among many Republicans, reportedly told an enthusiastic gathering of Trump supporters in October that if and when a "serious" insurrection springs up, "there's very little you're going to be able to do about it."

 

Georgia Representative Marjorie Taylor Greene, another prominent Republican popular with the rank and file, opined that the January 6insurrectionists were simply doing what the Declaration of Independence tells true patriots to do, in that they were trying to "overthrow tyrants." The real threat to democracy, she added, are Black Lives Matter protesters and Democratic "Marxist-communist" agents. Greene and Representative Madison Cawthorn, a Republican from North Carolina, have referred to some of the insurrectionists as "political prisoners."

Trump himself, of course, has nurtured a constant undercurrent of violence among his supporters from the beginning of his first presidential campaign. In 2016 he publicly stated he could shoot someone in the street without losing any of his political support, and he went on to encourage attendees at his rallies to assault protesters and journalists. When demonstrators at a rally in Miami were being dragged away, Trump warned that next time "I'll be a little more violent." At a 2016 rally in Las Vegas, he openly complained to the crowd that security wasn't being rough enough on a protester they were removing. "I'd like to punch him in the face, I'll tell you," he said.

 

Para acessar a íntegra:

https://www.newsweek.com/2021/12/31/millions-angry-armed-americans-stand-ready-seize-power-if-trump-loses-2024-1660953.html

Daria para acelerar a marcha da história? - Paulo Roberto de Almeida

 Começo o ano de 2022, desejando, na verdade, já estar em 2023. 

Qualquer coisa que aconteça doze meses adiante, qualquer gajo que assuma a presidência, um ano à frente, não conseguirá, mesmo que tente, reproduzir os anos loucos dos novos bárbaros, em especial este último ano do degenerado. Acelera máquina do tempo!

Vamos apressar o término da boçalidade ambiente, da miséria cultural, da estupidez cultuada como governança, da notória incompetência erigida por ineptos como se fosse política de Estado, do retrocesso generalizado como norma, do adesismo oportunista da milicada aproveitadora, da destruição do ensino e da pesquisa e da crueldade evidente no lugar das políticas de saúde pública.

Quero fazer rodar mais rápido o relógio do tempo, para fazer cessar o sofrimento mental de ter uma cavalgadura, cercada por meliantes da política, no comando da nação. Nada é mais humilhante para um diplomata do que ter um sujeitinho tão desprezível conspurcando a imagem do Brasil no plano internacional.

Paulo Roberto de Almeida

3/01/2022


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