quarta-feira, 12 de março de 2025

Pequenas notas "negativas": inflação, vacinas, morticínio na Ucrânia - Paulo Roberto de Almeida



Não! O novo secretário antivacinal da Saúde, nos EUA, ainda não é responsável pelas recentes mortes por sarampo em alguns estados daquele país mais desenvolvido e avançado do mundo. Esses estados já apresentavam uma baixa cobertura vacinal tradicionalmente, numa taxa bem abaixo da ideal.
Sim, o antivacinal convicto Robert Kennedy Jr. será o responsável exclusivo pelas próximas e futuras mortes de pessoas (adultos e crianças) por sarampo e outras enfermidades que poderiam ser facilmente combatidas por campanhas de vacinação em massa.
Serão feitas? Duvido que ocorra em nível federal, tanto porque os estados possuem "soberania" nessa e em outras esferas (como pena de morte, por exemplo).

De certa forma, a postura antivacinal já é uma espécie de "pena de morte" sobre cidadãos inocentes, sobretudo crianças.

Não! O governo Lula não é o responsável direto pelos aumentos de preços de alimentos (e de outras coisas também). Preços sobem pelo desequilíbrio entre a demanda, em expansão, e a oferta, que não consegue atender o mercado.
O governo Lula só é "culpado" pelo aumento do emprego e da renda, coisas boas em si, mas que estimulam a demanda, em descompasso com o potencial de crescimento ou de oferta total de bens e serviços.
Muito da demanda ampliada é o resultado direto do aumento da liquidez, inteiramente a cargo do governo, no seu afã de "colocar mais dinheiro no bolso do cidadão", como quer o presidente.

Vai que uma coisa "case" com a outra... 


Não! Trump não é o responsável direto pelo aumento do número de mortes (assassinatos) provocados pelas forças russas em sua guerra de agressão à Ucrânia, que já completou três anos. Putin é o principal responsável pelo morticínio, que ele provocou deliberadamente e que pretende manter indefinidamente, até conseguir cumprir seus objetivos insanos.
Trump é apenas responsável pelo número de mortes ADICIONAIS de ucranianos, e pela destruição continuada do patrimíonio material do país, no seguimento de sua interrupção de ajuda militar e cessação de fornecimento de inteligência tática.
Sim, ambos, Trump e Putin, são responsáveis por diversas grandes e pequenas tragédias, não só na Ucrânia, mas no mundo inteiro.
O mundo ficou temporariamente dominado por dois autocratas.

Pânico, manias e crises, nouvelle manière - Paulo Roberto de Almeida

Pânico, manias e crises, nouvelle manière 

Recessões são geralmente produzidas por um ciclo econômico cujos principais vetores — oferta, demanda, massa circulante de pagamentos, taxas de juros e câmbio, contas públicas nacionais — ficam momentaneamente em desacordo e em desequilíbrio uns com os outros. No caso atualmente em discussão, pode se tratar de uma recessão feita pela vontade única e exclusiva de um solitário aprendiz de feiticeiro, um idiota excepcionalmente qualificado para causar o máximo de destruição econômica possível. Poderá passar à História como Trump’s recession.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 22/03/2025

Holodomor (A Grande Fome) - o genocídio de milhões de ucranianos através da fome pelo regime stalinista - Airton Dirceu Lemmertz

Holodomor (A Grande Fome) - o genocídio de milhões de ucranianos através da fome pelo regime stalinista: 

Via Airton Dirceu Lemmertz

  - vídeos (YouTube): 
https://www.youtube.com/watch?v=h5YH0goVaR4 (Vogalizando a História); 
https://www.youtube.com/watch?v=UDz_P07YABs (Cortes do Inteligência [OFICIAL]); 

terça-feira, 11 de março de 2025

Holodomor: o genocídio fabricado por Stalin contra os camponeses ucranianos- BBC

 https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60348621 

Holodomor: a grande fome que matou milhões na Ucrânia durante o comunismo soviético de Stalin

Ucranianos atingidos por grande fome, o Holodomor

CRÉDITO, MUSEU HOLODOMOR

Legenda da foto, Estimativas apontam que mais de 3 milhões de ucranianos morreram de fome entre 1932-1933

Noventa anos atrás, milhões de ucranianos morreram em uma grande fome durante o regime soviético de Joseph Stalin.

E até hoje, o Holodomor, como o evento ficou conhecido, continua a dividir opiniões tanto de historiadores quanto do público.

Há os que o rotulam como genocídio e traçam paralelos com o Holocausto — o assassinato em massa de milhões de judeus, bem como homossexuais, ciganos, Testemunhas de Jeová e outras minorias, durante a 2ª Guerra Mundial, a partir de um programa de extermínio sistemático implementado pelo partido nazista de Adolf Hitler.

Outros rejeitam tal definição e consideram a comparação inadequada, apesar de reconhecerem a dimensão humana da tragédia. 

Afinal, a grande fome foi uma política de extermínio deliberadamente planejada por Stalin ou consequência da industrialização soviética?

Em meio a visões distintas, as redes sociais acabaram por acirrar ainda mais essa discussão, tornando-se plataforma de vozes exaltadas contra e favor do comunismo.

Vítima de Grande Fome na Ucrânia

CRÉDITO, DIÖZESANARCHIV WIEN/BA INNITZER

Grande Fome na Ucrânia

CRÉDITO, DIÖZESANARCHIV WIEN/BA INNITZER

O que foi o Holodomor?

O Holodomor, ou Fome-Terror, ou mesmo Grande Fome, foi uma crise generalizada de fome que atingiu a Ucrânia durante o regime comunista soviético liderado desde 1922 por Joseph Stalin (1878-1953).

O nome vem das palavras em ucraniano "holod" (fome) e "mor" (praga ou morte). 

Alguns historiadores, como Timothy Snyder, da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, que fez uma extensa pesquisa na Ucrânia, estimam o número de mortos em cerca de 3,3 milhões. Outros dizem que o número foi muito maior.

Qualquer que seja o número real, é um trauma que deixou uma ferida profunda e duradoura nessa nação de 44 milhões de habitantes.

Grande Fome na Ucrânia

CRÉDITO, DIÖZESANARCHIV WIEN/BA INNITZER

Aldeias inteiras foram dizimadas e, em algumas regiões, a taxa de mortalidade chegou a 30%. O campo ucraniano, lar da "terra negra", algumas das terras mais férteis do mundo, foi reduzido a um deserto silencioso.

Cidades e estradas ficaram repletas de cadáveres daqueles que deixaram suas aldeias em busca de comida, mas morreram ao longo da jornada. Houve relatos generalizados de canibalismo.

Em 2013, a ucraniana Nina Karpenko, então como 87 anos, contou, em entrevista à BBC, como conseguiu sobreviver.

"Um pouco de fubá barato, palha de trigo, folhas secas de urtiga e outras ervas daninhas" — essa era a essência da vida durante o terrível inverno e o início da primavera de 1932-33 na Ucrânia. 

Quando as aulas recomeçaram no outono seguinte, dois terços das carteiras estavam vazias, segundo Karpenko. Seus colegas de classe haviam morrido.

Joseph Stalin

CRÉDITO, BIBLIOTECA DO CONGRESSO DOS EUA

Legenda da foto, Joseph Stalin é acusado de deliberadamente deixar ucranianos morrer de fome

Individual x coletivo

Mas a dor do Holodomor não vem apenas do número de mortos. Muitas pessoas acreditam que suas causas foram intencionais e decorrentes da ação humana. 

E, segundo elas, o homem por trás disso tinha nome e sobrenome: o então líder soviético, Joseph Stalin.

Em outras palavras: um genocídio.

Elas alegam que Stalin queria submeter o campesinato ucraniano rebelde à fome e forçá-lo a integrar suas propriedades em fazendas de exploração coletiva.

A coletivização daria ao Estado soviético controle direto sobre os ricos recursos agrícolas da Ucrânia e lhe permitiria controlar o fornecimento de grãos para exportação. As exportações de grãos seriam, então, usadas para financiar a transformação da URSS em uma potência industrial.

A maioria dos ucranianos rurais, que eram agricultores independentes de pequena escala ou de subsistência, resistiu à coletivização. Eles foram forçados a entregar suas terras, gado e ferramentas agrícolas, e trabalhar em fazendas coletivas do governo ("kolhosps").

Houve milhares de protestos, que foram reprimidos pela polícia secreta soviética (GPU) e o Exército Vermelho. Dezenas de milhares de agricultores foram presos por participar de atividades antissoviéticas, fuzilados ou deportados para campos de trabalho forçado.

Grande Fome na Ucrânia

CRÉDITO, DIÖZESANARCHIV WIEN/BA INNITZER

Além da repressão em massa, o Kremlin passou a requisitar mais grãos do que os agricultores podiam fornecer. Quando resistiram, brigadas de ativistas do Partido Comunista varreram as aldeias e levaram tudo o que era comestível.

"As brigadas levaram todo o trigo, cevada — tudo — então não sobrou nada", disse Karpenko. "Até mesmo feijões que as pessoas tinham reservado para uma eventualidade".

"As pessoas não tinham nada a fazer a não ser morrer."

Ao passo que a fome aumentava, as autoridades soviéticas tomaram medidas extras, como fechar as fronteiras da Ucrânia, e os camponeses se viram impedidos de viajar para o exterior onde poderiam obter comida. 

Isso significou uma sentença de morte, dizem especialistas.

"O governo fez todo o possível para impedir que os camponeses entrassem em outras regiões e buscassem pão", afirmou à BBC Oleksandra Monetova, do Museu Memorial Holodomor de Kiev.

"As intenções das autoridades eram claras. Para mim é um genocídio. Não tenho dúvidas."

Mas para outros, a questão ainda está em aberto. 

A Rússia, em particular, se opõe ao rótulo de genocídio, classificando-o de "interpretação nacionalista" da fome.

Autoridades do Kremlin insistem que, embora o Holodomor tenha sido uma tragédia, não foi intencional, e outras regiões da União Soviética também sofreram na época — e isso, de fato, aconteceu. 

Grande Fome na Ucrânia

CRÉDITO, DIÖZESANARCHIV WIEN/BA INNITZER

Kiev e Moscou entraram em conflito sobre a questão no passado. 

Atualmente, além da Ucrânia, pelo menos 15 países — entre os quais Portugal e Canadá, e Argentina, Colômbia, Paraguai, Peru, Equador e México na América Latina — consideram o Holodomor um genocídio. 

O Brasil não faz parte desse grupo. 

Em 2018, o Senado dos Estados Unidos adotou uma resolução que definiu o Holodomor como genocídio. 

Grande Fome na Ucrânia

CRÉDITO, DIÖZESANARCHIV WIEN/BA INNITZER

'Holocausto comunista'?

Se ainda há intenso debate sobre se o evento pode ser considerado um genocídio, a comparação com o Holocausto também divide opiniões entre especialistas. 

Em comum, as duas tragédias resultaram em milhões de mortes.

Do ponto de vista legal, o Holocausto é considerado genocídio porque possui tanto o que a Convenção sobre Genocídio da ONU chama de "elemento mental" ("intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, enquanto tal") e "elemento físico". Este inclui cinco atos, que são:

  • Matar membros do grupo
  • Causar danos físicos ou mentais graves a membros do grupo
  • Infligir deliberadamente ao grupo condições de vida calculadas para provocar sua destruição física total ou parcial
  • Impor medidas destinadas a prevenir nascimentos dentro do grupo
  • Transferir à força crianças do grupo para outro grupo

Quem considera o Holodomor como genocídio, acredita que muitos desses atos foram praticados pelo regime stalinista contra os ucranianos.

Na visão de Eric D. Weitz, professor de História da City University de Nova York, nos Estados Unidos, o problema da definição de genocídio da ONU é que "não inclui grupos definidos por sua orientação política ou origem de classe".

Ele especula que "nas negociações da década de 1940, a União Soviética e seus aliados forçaram a exclusão dessas categorias por medo de que suas políticas para o campesinato e opositores políticos poderiam ser consideradas genocídios".

Nessa linha, alguns especialistas apontam ainda que o regime soviético tinha claras intenções de destruir a "identidade nacional ucraniana". 

"Os assassinatos na Ucrânia não foram numerosos apenas na fome de 1932-1933. O número de mortos na Ucrânia depois que os bolcheviques chegaram ao poder também foi bastante alto. Nos anos antes da fome, o regime bolchevique tentou acabar com os sentimentos nacionalistas do povo ucraniano passando por expurgos da elite intelectual, impondo língua russa e dissolução da igreja nacional", diz um artigo na revista romena de Ciências Políticas Studia Politica assinado por Alexandra Ilia.

"O fato de que os bolcheviques estavam tentando destruir a identidade nacional dos ucranianos também pode significar que a fome pode não ter sido uma tentativa fracassada de forçar a coletivização, mas uma tentativa bem-sucedida de esmagar a Ucrânia como um todo", acrescenta.

Ilia vai além e argumenta que tanto no nazismo quanto no comunismo "havia algumas razões ideológicas subjacentes à intenção de matar".

"Os perpetradores do Holocausto haviam estabelecido sua crença na falsa biologia e no antissemitismo, sob uma visão nacional-socialista do mundo. Os responsáveis pelo Holodomor, por outro lado, eram fanáticos comunistas, acreditando na falsa sociologia, procurando eliminar a classe kulak (camponeses mais prósperos) mas também trazer uma nação (Ucrânia) de joelhos para fortalecer sua influência sobre ela. Embora as razões para cometer assassinato pareçam muito diferentes, a ideologia que ocasionou isso contém alguns pontos comuns", diz.

Michael Mann, autor de The Dark Side of Democracy: Explaining Ethnic Cleansing (O Lado Negro da Democracia: Explicando a Limpeza Étnica), argumenta que no comunismo "o povo era o proletariado, e as classes opostas ao proletariado eram inimigos do povo. Os comunistas eram tentados a eliminar as classes através do assassinato. Chamo isso de classicídio".

Grande Fome na Ucrânia

CRÉDITO, DIÖZESANARCHIV WIEN/BA INNITZER

'Descomunização'

As atrocidades cometidas pelo comunismo personificado por Stalin ainda estão vivas na memória dos ucranianos.

Após a anexação da Península da Crimeia pela Rússia em 2014, o Parlamento da Ucrânia aprovou, em abril de 2015, uma ampla legislação sobre "descomunização".

Foi proibida a promoção de símbolos de regimes e propaganda comunistas. Monumentos foram removidos e milhares de ruas, renomeadas. Os três partidos comunistas foram banidos de participar de eleições. 

Pela mesma legislação, símbolos e propaganda do nacional-socialismo também foram proibidos.


Trump-Zelenski e o diálogo meliano - Rubens Barbosa O Estado de S. Paulo

Opinião:  Trump-Zelenski e o diálogo meliano

Poucas vezes a conhecida observação de que ‘a História se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa’ foi tão apropriada

Por Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo, 11/03/2025 | 03h00


O confronto entre os presidentes Donald Trump e Volodmir Zelenski na Casa Branca traz lembranças históricas e indica incertezas para o futuro.

Ocorreu-me recordar um episódio – o diálogo meliano – registrado pelo historiador grego Tucídides na sua conhecida História da Guerra do Peloponeso, retratando o conflito entre Atenas e Esparta, ocorrido em (431 a.C.-404 a.C.).

Melos, uma pequena ilha dórica no mar Egeu, optou por manter posição neutra na guerra. Atenas, visando a expandir seu império e a demonstrar seu poder, exigiu a submissão dos melianos. A negativa de Melos, baseada em princípios de justiça e na esperança de auxílio espartano, contrastava com a perspectiva implacável dos atenienses. Diante da recusa de Melos em se submeter, Atenas impôs sua vontade pela força: a cidade foi sitiada, seus homens executados e as mulheres e crianças tornadas como escravas.

Na negociação entre Atenas e Melos, em 416 a.C., os representantes atenienses afirmam que “o justo nas discussões entre os homens, só prevalece quando os interesses de ambos os lados são compatíveis e que os fortes exercem o poder e os fracos se submetem”. “Os fortes fazem o que podem e os fracos sofrem o que devem”. “A decisão é mais quanto à própria salvação, evitando oferecer resistência diante do que é muito mais forte”. “Melos não tem possibilidade de resistir e deve submeter-se para evitar sua destruição”. “Nenhum povo considera bom apenas o que lhe agrada e justo o que serve aos seus interesses”. “O interesse próprio anda lado a lado com a segurança, enquanto é perigoso cultivar a justiça e a honra”. “Meras esperanças, relativas ao futuro, são insuficientes para justificar qualquer expectativa de sucesso levando em conta os recursos disponíveis, comparados com aqueles que existem contra”. “Os que agem como convém em relação aos mais fortes procedem corretamente”. “Os desejos fazem ver o irreal como se já estivesse acontecendo”.

Por sua vez, os melianos, sustentando uma posição ética diante da opressão, argumentam que “a justiça deve prevalecer sobre a força” e que Esparta, sua aliada natural, virá em sua ajuda. Com isso, defenderam a legitimidade de sua neutralidade e a crença de que os deuses e a aliança com Esparta lhes favoreceria. “Para seus cidadãos, a amizade (com Atenas) é prova de fraqueza, o ódio (de Atenas) é uma demonstração de força”. “Ceder imediatamente é perder toda a esperança, mas a continuação da luta ainda poderá manter-nos de pé”.

O diálogo meliano é um exemplo do realismo político, em que a força e o interesse próprio prevalecem sobre a moralidade e a justiça. A crueza da afirmação “os fortes exercem seu poder e os fracos se submetem” reflete uma visão cínica das relações internacionais, que segue sendo atual na política internacional e oferece, ainda hoje, elementos para uma reflexão profunda sobre a natureza do poder e os limites dos ideais de justiça em um mundo dominado pela força e pelo interesse de autonomia dos países.

O episódio explicita o custo do uso da força e da brutalidade da guerra, bem como as limitações da justiça em um mundo dominado pelo mais forte. A negociação entre Atenas e Melos não só ilustra o realismo político já existente 400 anos antes de Cristo, mas também levanta questões universais sobre o poder, a justiça e a moralidade, temas que continuam a ser debatidos na política contemporânea.

O diálogo enfatiza a ideia de que a justiça só existe entre iguais em poder e de que a realidade das relações internacionais é marcada pela dominação dos mais poderosos. Impressiona a atualidade da postura ateniense de pragmatismo no contexto da realpolitik nos dias de hoje, com o uso da força econômica e comercial para obter vantagens políticas.

Tudo isso ficou exposto para o mundo na discussão acalorada no Salão Oval da Casa Branca, em frente às câmeras das televisões. “Você não tem cartas hoje para continuar a guerra”, “vocês vão perder o armamento que os EUA lhes fornecem”, a “Europa não tem condições de ajudar”. “Você tem de agradecer a vontade dos EUA em terminar a guerra, que vocês não têm condição de manter”, “sem os EUA você não tem nenhuma força”, foram algumas das afirmações de Trump, atualizando as frases do diálogo de Melos.

“Mostraremos claramente que é para o benefício de nosso império, e também para a salvação de vossa cidade, que estamos aqui dirigindo-vos a palavra, pois nosso desejo é manter o domínio sobre vós sem problemas para nós, e ver-vos a salvo para a vantagem de ambos os lados”, em outras palavras, parafraseando os atenienses, vociferou Trump a Zelenski.

O que aconteceu no Salão Oval – uma armadilha ao presidente ucraniano criada pelo presidente dos EUA e seu e vice – foi algo sem precedente nos 250 anos da história dos EUA. Poucas vezes a conhecida observação de que “a História se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa” foi tão apropriada para descrever um diálogo sobre como terminar uma guerra.

Se a política externa dos EUA se mantiver nos próximos anos, como explicitada no encontro – a ruptura do tratamento da Rússia como adversária dos últimos 60 anos e o distanciamento da Otan e da Europa – trará profundas transformações no cenário global e no próprio conceito de Ocidente.

 

Presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), foi embaixador do Brasil em Londres (1994-99) e em Washington (1999-2004)

 

https://www.estadao.com.br/opiniao/rubens-barbosa/trump-zelenski-e-o-dialogo-meliano/


segunda-feira, 10 de março de 2025

Interpretando uma foto altamente simbólica

Putin deve estar dizendo para si próprio:

"Nunca pensei que fosse tão fácil enganar esse idiota, e com isso consigo desativar a política externa do meu outrora inimigo."

De fato não parece muito difíl, quando se é um tirano com grandes projetos em face de um aprendiz de ditador...


Mercosul: o último tango em Washington? - Assis Moreira (Valor Econômico)

 Acordo de livre comércio Argentina-EUA? Esqueçam!

Acordo de livre comércio Mercosul-EUA? Impossível!

Acordo de livre comércio Mercosul-China? Inimaginável!

Não vai acontecer NADA, como aliás já ocorre desde o início do século. (PRA)

Mercosul: o último tango em Washington?
Assis Moreira
Valor Econômico, segunda-feira, 10 de março de 2025
Países do bloco examinam negociações em curso, enquanto Milei visa acordo com Donald Trump

A partir desta semana começam efetivamente as reuniões da presidência rotativa da Argentina no Mercosul. Será a ocasião para os parceiros tentarem identificar como o governo de Javier Milei planeja realmente atuar à frente do bloco.
Milei insiste que trabalha intensamente em um projeto de acordo comercial com os EUA, aproveitando a afinidade ideológica com Donald Trump. De seu lado, Trump disse estar aberto à possibilidade de avançar num tratado comercial com o ‘grande lider’ Milei.
Por enquanto, o que há é retórica e nada de concreto. Entre sócios do Mercosul, alguns interlocutores acreditam que Milei vai respeitar as regras do Mercosul, sob pressão de parte de seu setor privado. Outros apontam para sua imprevisibilidade e o veem capaz de colocar em risco o mercado vizinho para produtos argentinos.
Milei fala algo diferente a cada momento. Já acenou que tentaria um acordo 4+1 (Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e a Bolívia) com os EUA. Depois, se não desse, a Argentina iria fazer a negociação sozinha, o que é ilegal, viola as regras do Mercosul. O bloco estabelece que seus países membros devem negociar acordos comerciais de maneira conjunta.
No Congresso argentino, Milei disse que no caso de não poder obter flexibilização das condições para acordos, está disposto a sair do Mercosul, reclamando que o bloco ‘só beneficiou os industriais brasileiros em detrimento da economia argentina’.
Milei poderá abrir uma caixa de Pandora. Se sair do Mercosul, a situação estará clara: haverá um período de dois anos no qual a Argentina continuará sob direitos e obrigações do bloco. Depois, sofrerá tarifas dos parceiros, assim como levantará barreiras aos ex-sócios, causando destruição de riqueza nos dois lados.
Já no cenário em que a Argentina negociar com os EUA, mas querendo permanecer no Mercosul, apesar da mega perfuração das regras básicas, a reação do bloco não é automática. Será preciso que os parceiros abram procedimento para avaliar a violação argentina e os estragos previsíveis.
Certo mesmo é que o presidente da Argentina pode dar um golpe na já dificil integração econômica na América do Sul, assim como Trump vem fazendo na América do Norte na imposição de choque tarifário contra os vizinhos e sócios Canadá e México com argumentos ‘idiotas’.
No Mercosul, como no Nafta, o setor automotivo seria um dos mais afetados. Cerca de 28% das exportações argentinas para o Brasil no ano passado foram veículos em geral. Por sua vez, 22% das exportações brasileiras para a Argentina foram veículos e 9,7% partes e acessórios.
Não é para os EUA que a Argentina passaria a exportar carros que não poderia vender para o Brasil. Um acordo, modesto, poderia envolver vários produtos industriais suspensos hoje do Sistema Geral de Preferências (SGP americano), mas sem valor expressivo, na avaliação de fontes.
Esta semana, os países do bloco oficialmente passarão em revista negociações que estão realmente em andamento.
A União Europeia informou que a revisão legal do acordo com o Mercosul está quase concluída. Logo começarão as traduções dos tetos. Depois, em poucos meses poderia tentar ratificar o acordo para entrada em vigor num cenário geopolítico completamente diferente. Os europeus parecem ainda mais desesperada para implementar o acordo, que dará boa vantagem para as empresas europeias no Mercosul (tarifa menor), na competição com a China e os EUA.
Também há possibilidade de ainda na presidência argentina até julho o Mercosul concluir as negociações de acordo de livre comércio com a Associação Europeia de Livre Comércio (Efta, na sigla em inglês), formada por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein.
Para os países do Efta, o acordo é importante para assegurar pelo menos as mesmas preferências que serão obtidas pelas empresas dos países da EU. Isso e dá uma evidente vantagem competitiva nos negócios com um mercado de mais de 260 milhões de habitantes como é o caso do Mercosul. Os países do Efta são pequenos, mas muito ricos.
A China continua insistindo em ter um acordo comercial com o Mercosul. Mas o bloco reage com enorme prudência em relação aos asiáticos em geral. O setor privado considera arriscado e complicado movimento nessa direção, especialmente no contexto de política industrial. No Brasil, há segmentos que consideram que não dá para baixar a guarda para os asiáticos, ainda mais quando todo mundo está com um pé atrás em relação a abertura de mercado.

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Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...