domingo, 2 de novembro de 2025

O que é uma tirania? Não é difícil entender... - Paulo Roberto de Almeida

O que é uma tirania? Não é difícil entender... 

O conceito de tirania pode causar medo em certas pessoas. No entanto, a compreensão do que seja uma tirania é relativamente simples, para os que desejam apreender a raíz do fenômeno. Por isso mesmo, permito-me repostar uma antiga reflexão a esse respeito, aqui mesmo colocanda, em intenção daqueles mais dubitativos:

quarta-feira, 28 de junho de 2023

Definições simples: a de uma tirania, por exemplo

Paulo Roberto de Almeida


A diferença entre um governo normal e uma tirania é quando o chefe de governo ignora completamente os órgãos de Estado para mandar e desmandar a seu bel prazer, ou quando decide, por exemplo, massacrar o seu próprio povo, ou outros povos, sem nenhum objetivo concreto, a não ser por puro terror e desejo de vingança pessoal.
Putin é exatamente isso e só isso.
Lula ainda não percebeu?
O que mais seria preciso ocorrer, nessas categorias indignas de qualquer postura civilizada, para que ele e o seu assessor para assuntos internacionais se convençam de que eles estão justamente apoiando um criminoso de guerra, um violador do Direito Internacional, um monstro depravado e sedento de sangue?
O BRICS e o tal de Sul Global ainda não estão convencidos disso?
Onde está a consciência moral, ou simplesmente ética, desses mandatários?

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 28/06/2023
Postagem original:
https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/06/definicoes-simples-de-uma-tirania-por.html


Diplomatas Escritores Imortais, João Almino (organizador); lançamento dia 18/11, na ABL

ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (ABL) - FUNDAÇÃO ALEXANDRE DE GUSMÃO (FUNAG) apresentam o livro que será lançado na ABL, dia 18 de novembro de 2025:

Diplomatas Escritores Imortais
João Almino (organizador)

Apresentação:
Embaixador Raphael Azeredo, Presidente da Fundação Alexandre de Gusmão
Merval Pereira, Presidente da Academia Brasileira de Letras

1. Introdução: O Itamaraty e a Academia Brasileira de Letras
João Almino

2. Barão do Rio Branco (20/04/1845, Rio de Janeiro; 10/12/1912, Rio de Janeiro)
Luís Claudio Villafañe Gomes Santos

3.Rui Barbosa (5/11/1849, Salvador; 1/03/1923, Petrópolis)
Arno Wehling

4. Joaquim Nabuco (Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo) (19/08/1849, Recife; 17/01/1910, Washington)
Leslie Bethell

5.Aluísio Azevedo (14/04/1857, São Luís; 21/01/1913, Buenos Aires)
Orna Levin

6.Domício da Gama (23/10/1862, Maricá, RJ; 8/11/1925, Rio de Janeiro)
Tereza Cristina França

7. Manuel de Oliveira Lima (25/12/1867, Recife; 24/03/1928, Washington)
Paulo Roberto de Almeida

8. José Pereira da Graça Aranha (21/06/1868, São Luís; 26/01/1931, Rio de Janeiro)
Leonêncio Nossa

9. Carlos Magalhães de Azeredo (7/09/1872, Rio de Janeiro; 4/11/1963, Roma)
Gilberto Araújo

10. João Neves da Fontoura (16/11/1887, Cachoeira do Sul; 31/03/1963, Rio de Janeiro)
Alexandre Morelli

11. Rui Esteves Ribeiro de Almeida Couto (12/03/1898, Santos, SP; 30/05/1963, Paris)
Elvia Bezerra

12. Afonso Arinos de Melo Franco (27/11/1905, Belo Horizonte; 27/08/1990, Rio de Janeiro
Rubens Ricupero

13. João Guimarães Rosa (27/06/1908, Cordisburgo, MG; 19/11/1967, Rio de Janeiro)
Heloisa Vilhena

14. Antonio Houaiss (15/10/1915, Rio de Janeiro; 7/03/1999, Rio de Janeiro)
José Carlos Azeredo

15. Sergio Corrêa da Costa (19/02/1919, Rio de Janeiro; 29/09/2005, Rio de Janeiro)
Rogério Farias

16. João Cabral de Melo Neto (9/01/1920, Recife; 9/10/1999, Rio de Janeiro)
Antonio Carlos Secchin

17. Alberto da Costa e Silva (12/05/1931, São Paulo; 26/11/2023, Rio de Janeiro)
Lilia Schwarcz

18. Sergio Paulo Rouanet (23/02/1934, Rio de Janeiro; 3/07/2022, Rio de Janeiro)
João Almino

19. José Guilherme Merquior (22/04/1941, Rio de Janeiro; 7/01/1991)
João Cezar de Castro Rocha

Brasília: Funag; Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2025.

 


Convite: dossiê “Política Externa, Crise do Multilateralismo e Novos Desafios da Ordem Global” - Revista Neiba

Transmito informação recebida de organizadores de um número especial da revista Neiba:

“É com enorme alegria que compartilho que está aberta a chamada de artigos para o dossiê “Política Externa, Crise do Multilateralismo e Novos Desafios da Ordem Global”, a ser publicado em 2026 na Revista Neiba, Cadernos Argentina-Brasil. 📢 
Tenho o privilégio de coordenar essa edição ao lado de Larissa Rosevics (IRID/UFRJ) e Patricia Nasser de Carvalho (UFMG), colegas que admiro profundamente e com quem compartilho o interesse por compreender as transformações em curso na política internacional e seus impactos sobre a política externa dos Estados.
Vivemos um momento de fragmentação crescente da ordem global, em que o protecionismo, as tensões geopolíticas e a crise de legitimidade das instituições multilaterais desafiam as estratégias tradicionais de inserção internacional. Nesse contexto, o dossiê busca reunir contribuições originais, teóricas e empíricas, que analisem como países e coalizões, especialmente do Sul Global, têm respondido a esses novos desafios.

São bem-vindos artigos que abordem temas como:
 🌍 A guerra comercial e suas repercussões sobre a política externa e o comércio internacional;
 🏛️ As crises e reformas do sistema multilateral;
 🤝 As estratégias de países emergentes e as relações Sul-Sul;
 📈 As respostas institucionais e comparativas às novas dinâmicas globais.
O objetivo é ampliar o debate sobre os desafios e as oportunidades da atuação internacional dos Estados em um cenário de reconfiguração das regras do jogo global.
🗓️ O prazo para submissões vai até 23 de março de 2026, diretamente pelo portal da revista

 As diretrizes completas estão disponíveis neste link: https://lnkd.in/dYXhU2Ye

Será um prazer receber trabalhos que dialoguem com essas questões e contribuam para esse debate tão urgente sobre a política externa e o futuro da ordem internacional. 🌐💬
Fernanda Nucci”

sábado, 1 de novembro de 2025

Um retorno (forçado) aos anos 1990? - Paulo Roberto de Almeida

Um retorno (forçado) aos anos 1990?

Lembro perfeitamente da queda do muro de Berlim (outubro de 1989), do golpe contra Gorbachev em Moscou (agosto de 1990) e do fim da União Soviética (em dezembro do mesmo ano). 1991 foi a implosão final no que restava de socialismo no mundo (o que sobrou, Cuba e Coreia do Norte, não tinha a menor importância). 

Estávamos entre Genebra e Montevidéu, mas seguíamos tudo pela CNN internacional, pela qual também seguimos a Operação Tempestade no Deserto e a primeira guerra do Golfo, no início de 1991 (estávamos então viajando entre a Argentina e o Chile). Foi quando constatei o imenso atraso da Argentina nas suas províncias do interior (o que lembrava o Brasil dos anos 1960, ou a Iugoslávia ainda do início dos anos 1980, quando se tinha de pedir a uma telefonista para fazer uma simples ligação internacional, e esperar por algum tempo).

Acompanhei a longa agonia da Rússia nos anos 1990, com imagens de aposentados buscando algo de valor nos lixos de Moscou, se não era uma simplesmente comida. A outrora poderosa Rússia tinha um PIB inferior ao Brasil, e o Ocidente tinha de vir em ajuda para amenizar a transição do socialismo ao capitalismo, que foi feita com muita corrupção e preservação dos oligarcas do velho regime.

Pano sobre as duas décadas seguintes, de lenta e deformada reconstrução, e chegamos à terceira década do século XXI, quando um neoczar empreende a reconquista dos antigos impérios czarista e soviético, tentando “fazer girar para trás a roda da História”, como diria Marx.

Convencido de que força é poder, ele avança sobre os vizinhos, como faziam os déspotas dos anos 1930. Nunca se conformou com a “maior tragédia do século XX”, que tinha sido, para ele, a “dissolução da URSS”.

Ele não aprendeu as lições da História.

A dissolução do império soviético não se deu por nenhuma ofensiva da Otan ou dos paises ocidentais, ao contrário: estes estavam até ajudando os países socialistas, concedendo empréstimos (que nunca foram pagos) e faciltando à cooperação no âmbito da CSCE, a Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa (que virou uma organização, com sede em Viena), da OCDE, da UE e da própria Otan. A UE criou o BERD, que passou a financiar a transição. A maior parte dos antigos satélites e “incorporados” ao império (como os balticos) aproveitou o maná e transitou com êxito para a UE e sistemas democráticos de mercado.

Ficaram de fora a Bielorrussia, a Ucrânia e a própria Rússia (não contando as satrapias soviéticas da Ásia central).

Putin, a partir de 2000, tratou de retomar ao sistema conhecido e repressivo da cleptocracia guiada e comandada por ex-kgbistas, como ele, e novos plutocratas bilionários saídos do Ancien Régime soviético.

Parecia que funcionaria, mas a ambição expansionista fez o que se observa agora: Putin conduz seu regime opressivo de volta aos anos 1990. A ironia é que os motivos são os mesmos: economia de guerra.

Nos anos 1980, a URSS fez tilt, deu dois suspiros e depois morreu, em parte devido ao keynesianismo militar produzido por Reagan com seu programa de Guerra nas Estrelas, que a economia soviética não conseguiu acompanhar.

Agora é a economia de guerra a que o Putin obrigou o país com sua guerra de agressão à Ucrânia, que ele esperava “liquidar” em poucas semanas (com base nas informações equivocadas dos novos kgbistas, seus comparsas do FSB e dos generais corruptos). Ele conseguiu liquidar alguns bilionários dissidentes, mas não com a vontade indômita do povo ucraniano e a de seu líder.

Já levou a Rússia aos anos 1990, mas vai conseguir afundá-la ainda mais, pois não sabe mais o que fazer.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 1/11/2025


Semana Universitária da Universidade de Brasília de 2025 - Centro de Estudos Globais (UnB)

 A Escola de Relações Internacionais integra a programação da Semana Universitária da Universidade de Brasília de 2025, que ocorre entre 3 e 7 de novembro. A iniciativa é promovida pelo Centro de Estudos Globais, em parceria com a Editora Contexto, e tem como objetivo promover formação e atualização em temas centrais da política internacional contemporânea.


Estruturada em 13 masterclasses e 2 seminários científicos, a Escola oferece um percurso formativo que combina rigor conceitual, clareza didática e orientação prática. As atividades são organizadas a partir dos livros da Coleção Relações Internacionais da Editora Contexto, voltada ao ensino e à difusão de fundamentos e debates atuais da disciplina.

Entre os ministrantes estão docentes e pesquisadores reconhecidos na área, como Antonio Carlos Lessa, Júlia Gonçalves, Alcides Costa Vaz, Isabela Garbin, Francisco Doratioto, Danielly Ramos, Iara Costa Leite, Niels Soendergaard, Angélica Szucko e Matilde Souza. Os temas abrangem desde Direitos Humanos, Economia Política Global e Segurança Internacional, até Política Externa Brasileira, Integração Europeia, Política Ambiental Global e Inteligência Artificial na pesquisa científica.

Os eventos serão realizados on-line, com transmissão pelo Canal do Centro de Estudos Globais no YouTube. A participação é gratuita e aberta ao público universitário e à comunidade interessada. Para consultar toda a programação e se inscrever acesse:

🔗 Informações e inscrições: https://public.amplenote.com/Da3jfj3ic4fbVbZBxb8SctfL 
🎓Aos participantes inscritos, será emitido Certificado de Extensão da Universidade de Brasília.
📧 Dúvidas e informações: estudosglobais@unb.br
📺 Transmissão: Canal do Centro de Estudos Globais – https://youtube.com/@estudosglobais

Dúvidas a serem esclarecidas - Paulo Roberto de Almeida

Algumas dúvidas pessoais a serem confirmadas pelos entendidos:

1) A Rússia de Putin já é um Estado terrorista?

2) Os EUA de Trump já são um Estado autoritário?

3) A Argentina de Milei já conseguiu salvar seus cidadãos da prisão mental do peronismo?

4) O Brasil das últimas décadas já tem suas instituições contaminadas pela criminalidade organizada?

5) O futebol-industrial já se tornou uma nova religião?

6) Israel de Netanyahu já se converteu num Estado mais ou menos similar aos Estados que anteriormente perseguiram o povo judeu?

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 1/11/2025


Post Scriptum: as dúvidas provocadoras foram esclarecidas pela Inteligência Artificial; vejam no link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2025/11/duvidas-provocadoras-respondidas-pela.html?m=1 

Trump deveria ter cuidado ao apoiar uma mudança de regime na Venezuela - Daniel McCarthy (The Spectator)

 Grato a Carlos U. Pozzobon pela transcrição e comentário final:

Trump deveria ter cuidado ao apoiar uma mudança de regime na Venezuela.

Daniel McCarthy - The Spectator

Poucos americanos encontraram motivos para comemorar na Guerra do Iraque ou na intervenção na Líbia. Regimes foram mudados com sucesso, mas o que se seguiu a Saddam Hussein e Muammar Gaddafi foi guerra civil, instabilidade regional e migração em massa que exportou muitos dos problemas dessas nações para seus vizinhos. Agora, o governo de Donald Trump quer fazer com o déspota venezuelano, Nicolás Maduro, o que George W. Bush fez com Saddam e Barack Obama com Gaddafi. Mas isso também fará com as Américas, incluindo os Estados Unidos, o que a guerra contra o terror fez com o Oriente Médio, o Norte da África e a Europa.

Os erros de política externa de Bush e Obama deram a Trump um de seus temas de campanha mais fortes em 2016. Seu primeiro mandato se destacou pelo sucesso em manter os Estados Unidos fora de novas guerras. Ele nunca foi avesso ao uso da força – como atesta o fantasma do comandante iraniano Qasem Soleimani – mas mesmo quando envolveu os EUA em um novo conflito no Oriente Médio durante seu segundo mandato, Trump evitou buscar uma mudança de regime. Ele atacou o programa nuclear do Irã e prontamente encerrou a guerra de Israel com a República Islâmica. Faz sentido abandonar o que funcionou para ele a fim de adotar objetivos que não funcionaram para Bush ou Obama?

Em seu primeiro mandato, Trump tentou uma espécie de mudança de regime de fachada na Venezuela. Um político da oposição, Juan Guaidó, declarou-se unilateralmente "presidente interino"; Trump reconheceu a reivindicação. Mike Pompeo, então secretário de Estado, deu sequência à ação nomeando um neoconservador convicto, Elliott Abrams, como representante especial dos EUA para a Venezuela. Abrams esteve profundamente envolvido no apoio, durante o governo Reagan, a paramilitares anticomunistas na América Latina, incluindo o escândalo Irã-Contras.

Embora Abrams não esteja mais no cargo, as medidas tomadas pelo governo este ano – como a destruição de barcos venezuelanos que, segundo a Casa Branca, transportam drogas para os EUA, a aprovação de operações da CIA no país e o envio de navios de guerra para uma zona de ataque – indicam que a mudança de regime ainda está na agenda.

Mas se as experiências de Bush e Obama não forem um alerta suficiente, Trump deveria considerar o que aconteceu quando Ronald Reagan, e Jimmy Carter antes dele, intervieram em El Salvador. Os resultados foram os mesmos que vimos no início deste século: a guerra civil enviou ondas de refugiados e imigrantes para o exterior, inclusive para os EUA, onde algumas das novas comunidades salvadorenhas formaram gangues, notadamente a MS-13, hoje uma das mais violentas da América.

A tensão no governo Trump não se resume à divisão entre falcões e pombas na política externa – ela se dá entre os falcões e os defensores de restrições à imigração. A estratégia de intervenção também não faz sentido como tática para impedir que drogas ilegais, especialmente o fentanil, cheguem aos Estados Unidos. O caos e os fluxos populacionais desencadeados pela mudança de regime são uma dádiva para as redes de narcotráfico e para os traficantes de pessoas. É verdade que Maduro e seu antecessor, Hugo Chávez, causaram alguma migração ao permanecerem no poder, mas as pessoas que fogem por causa do socialismo geralmente são de classe média e amantes da liberdade. A guerra desenraíza a todos, especialmente os pobres.

Apesar de ter afirmado durante a campanha eleitoral de 2016 que George W. Bush deveria ter tomado o petróleo do Iraque, Trump provavelmente não está cogitando uma invasão para se apoderar dos consideráveis ​​recursos petrolíferos da Venezuela. Ele está conduzindo uma campanha de "pressão máxima" para dar um exemplo com Maduro. Trump quer mostrar que há recompensas para os amigos dos Estados Unidos e punições severas para seus inimigos. O destino de Maduro servirá de lição para qualquer outro país da América Latina que pense em se tornar inimigo de Washington. Pelo menos, essa é a teoria – mas os EUA têm um longo histórico de usar sua força na América Latina e, com isso, criar mais inimigos.

O modelo que Trump deveria adotar não é a estratégia de Reagan na América Latina, mas sim aquela que venceu a Guerra Fria na Europa: estabilizar os amigos e aliados dos Estados Unidos e ajudá-los a prosperar, acentuando assim o contraste entre a vida sob a liberdade e sob o socialismo. A percepção desse contraste inspirou os europeus a se libertarem.

Se os latino-americanos desejam a liberdade, como os argentinos exigiram nas eleições que levaram Javier Milei ao poder e fortaleceram seu partido no legislativo, eles podem conquistá-la, assim como os europeus orientais fizeram. Por outro lado, os exemplos dos lugares onde os EUA mais recorreram à força durante a Guerra Fria são esmagadoramente negativos. Mesmo o grande triunfo da guerra política da era Reagan no Afeganistão, que derrotou um fantoche soviético, criou as condições que levariam o Talibã ao poder e dariam à Al-Qaeda um refúgio para atacar os EUA. Uma vitória de Pirro, sem dúvida.

O interesse do governo Trump em derrubar Maduro antecedeu o mandato de Marco Rubio como secretário de Estado, e fontes afirmam ser injusto culpar Rubio pela inclinação neoconservadora da política para a Venezuela. Mas, se houver uma guerra, ela será de sua responsabilidade tanto quanto de Trump, e se der errado, ele será responsabilizado – principalmente pelo presidente. Rubio conquistou o respeito de muitos no movimento MAGA que antes o consideravam um republicano à la Bush: fraco em imigração, neoconservador em política externa. Ele corre o risco de dar razão aos seus detratores se adotar um programa de mudança de regime remanescente da época de Pompeo.

Quanto a Trump, ele vê a força como mais uma forma de pressão nas negociações. Ele não bombardeará aliados em negociações comerciais, mas usará o poderio militar americano para mudar a forma como os adversários pensam. E se ele não está prestes a iniciar uma guerra com a China, está totalmente preparado para demonstrar o que pode fazer com Maduro. Fazer uma declaração educativa, em vez de mudar o regime, pode ser seu objetivo. Mas há uma ala do Partido Republicano que quer mais do que isso, e Trump gosta de dar a todos em sua coalizão algo que desejam muito. Nesse caso, porém, ele não pode agradar aos falcões sem desagradar também aos defensores de restrições à imigração, assim como aos pacifistas.

Obama, Bush II e Reagan demonstraram que, quando os Estados Unidos tentam derrubar outros regimes, o resultado é a migração em massa, que afeta consideravelmente a Europa e os próprios EUA. Mudanças de regime no exterior também costumam levar a mudanças de regime no país.

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Minha opinião: não é possível comparar países da América Latina com muçulmanos. O Iraque desejava uma democracia ao ser invadido por Bush? O Afeganistão também? Qual a eficácia de uma paz duradoura no Oriente Médio se a política de Trump de bombardear as instalações nucleares iranianas terminaram endurecendo ainda mais o regime? O autor da matéria de The Spectator tem meia razão: regimes sem uma oposição organizada (caso de El Salvador) não se transformam em democracia com a simples derrubada de seus ditadores. Porém, a Venezuela tem uma oposição organizada, ainda que a maioria exilada, com capacidade de assumir o poder e resgatar os refugiados espalhados de norte a sul. É preciso lembrar o velho ditado: "pior do que está não fica". Toda revolução é um fenômeno de alto risco. Assistir a Venezuela transformar-se numa Cuba não pode ser pior do que a mudança pela força do regime.”


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