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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Capitalismo de Estado no Brasil - revista Epoca

Um levantamento inédito de ÉPOCA identifica 675 empresas na órbita do governo federal e revela a extensão da interferência estatal na economia
Revista Época, 13/06/2011

José Fucs e Marcos Coronato, com Keila Cândido, Matheus Paggi, Camila Camilo, Danilo Thomaz e Juliana Elias

A queda do Muro de Berlim parecia ter encerrado o debate sobre o tamanho do Estado na economia. Com a vitória de um sistema baseado na livre-iniciativa – o capitalismo – sobre outro baseado no planejamento estatal – o socialismo –, a conclusão era cristalina: o governo deveria limitar ao mínimo a regulação sobre as atividades privadas e cuidar (bem) dos serviços básicos, como saúde, educação, justiça e segurança. Deveria ser apenas um bandeirinha, no máximo o juiz do jogo econômico – nunca técnico, zagueiro ou artilheiro. Em setembro de 2008, porém, com a eclosão da crise global, os governos de quase todo o mundo tiveram de injetar trilhões de dólares para reanimar suas economias. Nos Estados Unidos e em outros países, o Estado assumiu o controle de bancos, seguradoras e até mesmo de montadoras de automóveis à beira da falência. Foi a deixa para a ressurreição dos críticos do modelo liberal, que predominara por quase três décadas e garantira ao planeta uma era de crescimento sem igual na história. Vozes antes relegadas a um papel secundário no debate voltaram à cena com ares de protagonistas. Uma delas, o economista americano Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia em 2001, afirmou recentemente a ÉPOCA: “Não é o tamanho do Estado que importa, é o que o governo faz”.

Vá lá. Mas o que, exatamente, faz o governo num país de economia complexa como o Brasil? Trata-se, como o próprio Stiglitz há de reconhecer, de uma questão importantíssima – mas de resposta dificílima. O governo brasileiro regula a atividade econômica? Regula. O Estado é dono de empresas? Também. É sócio de empresas que não controla totalmente? Certamente. E ainda é dono de bancos mastodônticos e de companhias gigantescas, que detêm participações em uma fauna de empresas de todas as espécies. Para não falar no controle que exerce sobre os fundos de pensão das estatais, os maiores investidores do mercado. De diferentes formas, o governo interfere na gestão de algumas das maiores empresas privadas nacionais, em setores tão distantes quanto metalurgia, criação de animais para abate ou telefonia. A teia de interesses estatais nos negócios é tão complexa, tem tantas facetas e envolve tantos conflitos de interesse que o próprio governo não consegue avaliá-la de modo preciso. Nem o Ministério do Planejamento, a que está ligado o Departamento de Coordenação e Controle das Empresas Estatais, nem a Secretaria do Tesouro Nacional, que controla o caixa federal, sabem quantas empresas no país têm participação estatal. E não há, em nenhuma repartição de Brasília, um diagnóstico completo da atuação e da influência do governo sobre nossa economia.

Nos últimos três meses, uma equipe de jornalistas de ÉPOCA dedicou-se a desfazer o nevoeiro que encobre essa questão. Com o apoio da empresa de informações financeiras Economática, mergulhamos em relatórios ministeriais, balanços e planilhas de dados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), das estatais, da Bolsa de Valores e das empresas privadas sob influência do governo. Restringimos nosso trabalho às participações do governo federal – um critério conservador para estimar o tamanho do Estado, por omitir as estatais em poder de Estados e municípios. Mesmo assim, o levantamento inédito, cujos resultados são apresentados a partir da página 71 e estão disponíveis de modo interativo em epoca.com.br e em nossa edição para iPad, revela um quadro preocupante. No futebol da economia brasileira, o governo não é apenas juiz, bandeirinha, técnico, zagueiro e artilheiro ao mesmo tempo. Ele também corta o gramado do estádio, costura as redes e – se quiser – pode até mexer no tamanho das traves.

“O governo é um dinossauro insaciável. Nunca tivemos um capitalismo de Estado tão evidente”, diz um economista

De acordo com o levantamento, existem hoje no país pelo menos 675 empresas de todos os setores com algum tipo de participação ou influência do governo federal. São participações diretas ou indiretas do Tesouro, dos bancos e das empresas estatais ou dos fundos de pensão (entidades híbridas, inegavelmente na órbita do governo). Dessas, o governo controla 276, se somarmos todos os tipos de participação. Levando em conta apenas as 628 empresas não financeiras, o faturamento soma R$ 1,06 trilhão, algo como 30% do nosso Produto Interno Bruto (PIB) ou 2,5 vezes as vendas dos 50 maiores grupos privados nacionais (leia o gráfico abaixo) . Nas 247 empresas não financeiras controladas pelo governo, as vendas somam R$ 468,5 bilhões, ou 13% do PIB. E o valor de mercado das 99 empresas cujas ações são negociadas na BM&FBovespa totaliza R$ 1,7 trilhão, ou 71% do valor de mercado das empresas na Bolsa. A interferência do Estado na economia via estatais, BNDES e fundos de pensão é tão intensa que, durante a pesquisa, ÉPOCA teve de atualizar os dados de muitas companhias que receberam recentemente dinheiro do governo, como o frigorífico JBS ou a Cipher, especializada em sistema de segurança de informação. “O governo brasileiro é um dinossauro com apetite insaciável. Nunca tivemos um capitalismo de Estado tão evidente”, diz o economista Rodrigo Constantino, sócio da Graphus Capital, uma empresa de gestão de recursos do Rio de Janeiro.

No Brasil, a visão do Estado-empresário nunca teve dificuldades para angariar fãs. “A partir do governo Lula, houve uma mudança no entendimento do papel que o Estado deve ter no capitalismo brasileiro”, afirma o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-ministro das Comunicações, ex-presidente do BNDES e um dos responsáveis pelas privatizações no governo Fernando Henrique Cardoso. “Eles renegaram a privatização, começaram a gastar demais e a interferir na gestão de empresas privadas. Começou a aparecer essa face do PT, de que o governo deve ser o agente mais importante de uma economia como a nossa.” Mas o próprio PSDB, preocupado em se livrar do estigma de privatista, estuda apresentar uma emenda constitucional para impedir que Petrobras, Banco do Brasil (BB) e Caixa Econômica sejam privatizados. “Os brasileiros amam o Estado, querem mais Estado”, diz o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central e ex-economista-chefe do Santander. “A ideia de que o governo resolverá todos os problemas está entranhada na cultura nacional.”

Em seus oito anos de governo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criou sete novas estatais: o Banco Popular do Brasil (BPB), que nem existe mais, a Hemobrás (para fabricação de hemoderivados), a Empresa Brasileira de Comunicações (EBC), a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a Pré-Sal Petróleo, a Ceitec (para fabricar chips e microcondutores) e a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, designada pela impronunciável sigla EBSERH, cujo objetivo seria prestar serviços gratuitos e apoiar o ensino e a pesquisa nos hospitais universitários federais (esta última não vingou, pois a medida provisória que a criava caducou). Além de criar as novas empresas, Lula investiu quase R$ 100 bilhões nas estatais já existentes e concedeu a elas empréstimos do Tesouro de quase R$ 200 bilhões, principalmente ao BNDES. Houve ainda o renascimento de estatais como a Telebrás, a holding de telefonia cujas subsidiárias foram privatizadas em 1998, e os investimentos bilionários feitos por BNDES, estatais e fundos de pensão na compra de participações em grandes grupos privados. O governo estimulou fusões generalizadas entre empresas privadas, como a Oi, da área de telefonia, resultado da união da Brasil Telecom com a Telemar. Nos primeiros seis meses do governo da presidente Dilma Rousseff, o avanço do Estado sobre o mundo dos negócios continua em ritmo acelerado. Alguns exemplos:

• Num leilão realizado no final de maio, o Banco do Brasil (BB) ganhou o direito de explorar o Banco Postal, a rede de serviços bancários dos Correios, a partir de 2012. Com um lance de R$ 2,3 bilhões, o BB superou a oferta do Bradesco, que operava o Banco Postal desde 2002;

• No final de maio, o BNDES anunciou a conversão de uma dívida de R$ 3,5 bilhões do JBS, o maior frigorífico de carne bovina do mundo, em ações da empresa e ampliou sua fatia no capital de 17% para 31%;

• Quase ao mesmo tempo, o governo patrocinou a troca de comando da Vale, a segunda maior mineradora global, por discordar de sua política de investimento. Embora afastado da Vale desde a privatização, em 1997, o governo usou sua força nos fundos de pensão que detêm o controle da empresa, para impor uma diretoria simpática a seus planos;

• Em abril, o Congresso Nacional aprovou um projeto do governo que criou mais uma estatal, a Empresa de Transporte Ferroviário de Alta Velocidade (Etav), para gerenciar o projeto do trem-bala entre Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro. Ele terá financiamento de R$ 20 bilhões a juros camaradas do BNDES (20% acima do gasto previsto para o Bolsa Família em 2011);

Embora a decisão de privatizar os aeroportos, anunciada em maio, seja um sinal importante, ela não significa que Dilma tenha subitamente aderido à causa da privatização, palavra demonizada por ela mesma durante a campanha eleitoral. A medida reflete apenas o reconhecimento tardio de que o governo não tem dinheiro para modernizar os aeroportos e prepará-los para a Copa do Mundo de 2014 e para a Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro. Só que o país precisa investir pesado em infraestrutura nos próximos anos – e não apenas para a Copa e a Olimpíada. Os gargalos de nossa economia oneram toda a produção e reduzem a competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional. Além dos aeroportos, é preciso modernizar e ampliar portos, estradas, ferrovias, a geração e distribuição de energia e os sistemas de água e esgoto. De acordo com cálculos do BNDES, as obras exigirão R$ 1 trilhão até 2014. E o governo não tem os recursos necessários para bancá-las. “Apesar de sermos um país que optou por ter um Estado grande, temos um Estado que investe muito pouco”, diz o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, hoje sócio da Gávea Investimentos. Também falta poupança interna para financiar todos os investimentos necessários. Sem o capital estrangeiro, portanto, é impossível alcançar a meta.

A decisão de fazer concessão de aeroportos não significa que Dilma tenha aderido à causa da privatização

De acordo com o banqueiro Henrique Meirelles, que comandou o Banco Central no governo Lula, se houvesse um ambiente de negócios mais atraente no país, o capital estrangeiro, sedento por boas oportunidades de investimento, viria em proporções cavalares. Há aí um espaço gigantesco a trabalhar. O Brasil é hoje o país emergente com a maior carga tributária do mundo, na faixa de 36% do PIB. Nossa legislação trabalhista obriga as empresas a pagar um salário adicional ao governo, além do que já paga ao trabalhador – é um fardo pesado. “O Brasil é um dos países em que é mais difícil empreender”, diz o empresário Jorge Gerdau, que aceitou recentemente comandar a Câmara de Gestão e Planejamento do governo Dilma. “Isso tem origem direta na ineficiência do Estado, prejudica a geração de emprego e renda e faz o Brasil perder oportunidades.” Na gestão de empresas, o Estado costuma ser bem menos eficiente do que a iniciativa privada. “Em geral, quanto mais coisas o governo tenta controlar, menos eficiente ele é”, diz o economista italiano Luigi Zingales, da Universidade de Chicago. Não é à toa que, segundo o levantamento mais recente do Fórum Econômico Mundial, o setor privado brasileiro está em 39º lugar no ranking de competitividade global, entre 139 países, enquanto o setor público ocupa apenas a 130ª posição.

Considerando tudo isso, é pouco provável que o governo consiga desatar o nó dos investimento, para permitir que o país cresça a taxas elevadas sem alimentar a inflação. Como é a iniciativa privada que financia a sede do Estado por recursos, de um jeito ou de outro, a conta da gastança chega. Depois dos trilhões gastos para erguer o mundo da crise, em diversos países – inclusive no Brasil – a dívida pública se multiplicou, e os governos começaram a cortar despesas para equilibrar o orçamento. No Primeiro Mundo, políticos conservadores estão ganhando as eleições com um discurso concentrado na austeridade fiscal e na contenção dos arroubos expansionistas do Estado. Nos EUA, os republicanos ganharam a maioria do Congresso nas eleições de 2010. Também no ano passado, o conservador David Cameron tomou o lugar do trabalhista Gordon Brown como primeiro-ministro na Inglaterra. Na Espanha, o fenômeno se repetiu em maio. A população mais esclarecida sabe que, no final, o custo sobra para ela, por meio do aumento de impostos, da inflação e das taxas de juro.

No Brasil, a estrutura de gastos públicos não dá muita margem de manobra. Do total de despesas, dois terços são consumidos apenas com a folha de pagamentos do funcionalismo federal e dos benefícios aos aposentados e pensionistas da Previdência Social. No início do ano, o Ministério da Fazenda até anunciou cortes tímidos, de R$ 50 bilhões, no gasto público. Mas esse número fica aquém das necessidades para equilibrar as contas. O essencial é deixar de lado o discurso ideológico e analisar friamente os benefícios de vender ativos – tradução: privatizar – no atual cenário. “É inevitável fazer a privatização”, diz o economista Roberto Macedo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. “O governo precisa sair da armadilha criada pelo Lula em 2006”, afirma Mendonça de Barros. “A Copa e a Olimpíada estão aí, e não dá para brincar. O PT é um partido pragmático e se dará conta de que é uma boa hora para quebrar o tabu das privatizações.”

CONTINUIDADE?
Até agora, Dilma seguiu a visão estatista adotada por Lula. A dúvida é se a falta de recursos para investimentos a fará reavaliar a privatizaçãoA última vez que o país implementou um programa consistente de desestatização foi nos anos 1990, na esteira das privatizações e da desregulamentação promovidas pela Inglaterra de Margaret Thatcher e pelos Estados Unidos de Ronald Reagan. O Estado obeso, herança da era Vargas e dos governos militares, passou por uma dieta notável nas gestões de Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. O governo se desfez de mineradoras, siderurgias, petroquímicas, telefônicas e empresas aéreas. Acabou com o monopólio da Petrobras. Com a privatização, empresas como Vale, CSN e Usiminas voltaram a florescer. Na telefonia, os resultados foram espetaculares. Políticos de centro-esquerda, como Bill Clinton nos EUA, Tony Blair na Inglaterra e o próprio FHC, se viram forçados a abrir mão do viés estatizante de seus partidos para manter-se no poder. O próprio Lula teve, na campanha de 2002, de abandonar antigas bandeiras intervencionistas do PT e comprometer-se a não rever as privatizações, respeitando os contratos assinados.

Depois da crise de 2008, apesar da retomada do crescimento, a ideia de que o Estado pode – ou deve – fazer tudo voltou a ganhar força. “Os países mais bem-sucedidos, como Japão, China, Coreia do Sul e Índia, abriram suas economias de forma gradual e adotaram políticas comerciais e industriais para promover e diversificar suas economias”, diz o economista Dani Rodrik, da Universidade Harvard, EUA, outro defensor do estatismo. “Acaba havendo uma compensação entre a elevação do custo, provocada pelas restrições ao comércio e ao fluxo de capitais, e os benefícios de uma economia mais forte, em que se estimulam setores que, de outro modo, não se desenvolveriam.”

Aqui, as autoridades têm se aproveitado da maré favorável a esse tipo de ideia para ampliar os braços do governo na economia brasileira, seja aumentando a participação em empresas, seja oferecendo crédito subsidiado pelo BNDES. “O BNDES se transformou numa gigantesca máquina de transferência da riqueza dos pagadores de impostos para os aliados do governo. A troca de favores é o meio para o sucesso e o melhor atributo é ser amigo do rei”, diz Rodrigo Constantino. A pretexto de combater a crise, o governo federal parece ter embarcado novamente na ideologia de um estatismo inconsequente.

É provável que, se ele procurasse se concentrar nos três pilares da ação estatal – educação, saúde e segurança –, em vez de alimentar o mito do Estado-empresário, o país funcionaria melhor. Haveria menos corrupção, menos tráfico de influência e menos apadrinhamento. A redução da ação do governo na economia não significa que os mercados devam ser deixados à vontade. O governo pode – e deve – cuidar de sua fiscalização e regulação estabelecendo normas que garantam a qualidade da produção e a boa prestação de serviços à população. Mas o juiz não pode querer chutar a bola no gol.

LASA: premio para melhor livro de relacoes inernacionais da AL

LASA Prize LucianoTomassini
PRÊMIO DO LIVRO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS DA AMÉRICA LATINA "LUCIANO TOMASSINI"

Prazo final: 1º de setembro de 2011
Para dar início ao Congresso de 2012, a Latin American Studies Association (Associação de Estudos Latino-Americanos) entregará o Prêmio do Livro de Relações Internacionais da América Latina "Luciano Tomassini" aos autores de livros que se destacaram na área de Políticas Externas e Relações Internacionais da América Latina publicados em qualquer país em inglês, espanhol, francês ou português. Os livros qualificados para a premiação de 2012 devem ter sido publicados entre janeiro de 2008 e junho de 2011. Antologias de seleções de vários autores não se qualificam. Os livros serão avaliados nos quesitos originalidade da pesquisa, qualidade da análise e escrita e importância da contribuição aos estudos da América Latina e do Caribe. Os livros podem ser indicados por autores, membros do LASA ou editores.

As pessoas que indicarem livros serão responsáveis pela confirmação da data de publicação e pelo encaminhamento direto de uma cópia a cada membro do Comitê do Prêmio, à custa do autor ou do editor. Um pacote de indicação deve incluir uma declaração justificando a indicação, cinco cópias do livro indicado (uma para cada membro do Comitê do Prêmio), endereço completo, número de telefone, fax e endereço de e-mail do indicado. Cada pacote deve ser enviado diretamente aos membros do comitê até 1º de setembro de 2011. Até 1º de fevereiro de 2012, o comitê escolherá o livro vencedor. O comitê também poderá conceder uma menção honrosa. O prêmio será anunciado na Cerimônia de Entrega de Prêmios da reunião de negócios da LASA2012 e o premiado será homenageado publicamente. O recebimento do prêmio não está sujeito à afiliação na LASA.

IMPORTANTE: como o premiado será anunciado no folheto do programa, o comitê precisa concluir o seu trabalho até 1º de março de 2012. A decisão deve ser comunicada a milagros@pitt.edu com informações para contato completas e materiais biográficos para o premiado.
Os membros do comitê de 2012 são:

Jorge Heine, Chair
Centre for International Governance Innovation (CIGI)
57 Erb St West
Waterloo, ON N2L 6C2
CANADA

Victor Bulmer-Thomas
55 Maze Hill
London SE10 8XQ
UNITED KINGDOM

Rafael Fernández de Castro
Cataratas 60-2
Colonia Ampliación las Águilas
México DF 01710
MEXICO

Monica Hirst
Dept.Ciencia Política y Estudios Internacionales
MEI-Seguridad Internacional
Miñones 2177-Buenos Aires 1428
ARGENTINA

Julia E. Sweig
1777 F Sstreet NW
Washington DC 20006

Latin American Studies Association
Attn: Luciano Tomassini Book Award
University of Pittsburgh
315 South Bellefield Avenue
416 Bellefield Hall
Pittsburgh PA 15260

XIco Graziano: frases de um agronomo frasista

METÁFORAS INFELIZES
XICOGRAZIANO
O Estado de S.Paulo, 15/06/2011

A agricultura esteve em voga na política destes dias. Melhor dizendo, participou das conversas. Vejam que curiosas frases foram ditas:
Do senador Demóstenes Torres, em entrevista à revista Veja: "Vivemos em um momento crítico, de total submissão. No final das contas, o Congresso se comporta bovinamente".
Do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, questionado a respeito de sua posição atual sobre as drogas: "Só quem é burro não muda de opinião diante de fatos novos".
Do jovem Dayvini Nunes, dono do apartamento alugado pelo ex-ministro Antônio Palocci: "Eu não tenho como bater de frente com essas pessoas. Sou um laranja".
A alusão pejorativa à agricultura tem se tornado, há tempos, uma característica típica da oratória brasileira. Não se conhece outra nação onde a linguagem carregue tamanho preconceito contra o campo. Triste povo que, mesmo sem o perceber, achincalha seus agricultores.
A lista das figuras de linguagem depreciativas do mundo rural soa enorme. "Vá plantar batatas" é uma das mais antigas. Diz-se que a frase nasceu na época gloriosa de Portugal, quando a navegação e a pesca emprestavam prestígio à sociedade, restando desdém pela vida sofrida na agricultura. Tida como alimento vulgar, a solanácea calejava e sujava as mãos dos que a produziam.
Alimento básico da civilização inca, a batata encantou os colonizadores espanhóis, que logo a levaram para a Europa. O sucesso de sua aceitação leva muita gente a pensar que o alimento tem origem alemã. Uma das razões decorre do fato de que, em 1740, Frederico II, o Grande, baixou norma obrigando seus súditos na Alemanha a consumirem batatas para enfrentar a constante ameaça da fome. Ainda hoje, sobre seu túmulo, no Palácio de Sans-Souci, depositam-se batatas para lembrar o gesto pátrio.
Nem sempre facilmente se explica a origem das metáforas negativas utilizadas com gêneros agrícolas. A própria batata, que mereceria uma homenagem, serve ao desabono.
Descascar um abacaxi, outro exemplo, não exige tanto esforço assim para justificar algo penoso, conforme a linguagem popular utiliza na descrição de missão inglória. Mas pegou.
O caso da laranja sempre me pareceu o mais estranho. No Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa se encontra que laranja, em economia, remete a indivíduo, nem sempre ingênuo, utilizado em práticas fraudulentas contra o fisco ou com dinheiro ilícito. Ser "laranja" significa, portanto, um disfarce do mal.
Mas qual seria a motivação semântica do termo? O engana trouxa recai sobre a laranja por ser ela azeda? Ou por causa da coloração amarela por fora, na casca, e branca por dentro, no bagaço? Ninguém duvida que o Palocci esconda algo estranho nessa história de sua grana milionária. Só não entendo eu qual o alegórico pecado da fruta.
Já o coitado do burro sai injustiçado sempre que, aos olhos de uma pessoa, outra não toma boas decisões. Dizer, entretanto, que fulano é burro afronta a natureza, pois o asinino é um animal bem inteligente. Cauteloso, o bicho fez história no transporte de cargas em terrenos difíceis e encostas íngremes, onde um cavalo facilmente despencaria. O burro, ou sua mulher, a mula, empacam por astúcia, não por teimosia.
Fernando Henrique, um homem sabidamente perspicaz, está correto. Quem não muda nunca de opinião é dogmático, perde razão. As Ideias e seu Lugar intitula um dos seus ensaios mais instigantes sobre as teorias do desenvolvimento. Ter ele caído na armadilha da linguagem preconceituosa mostra o quanto o vício está incorporado nos ditos populares. Para mostrar sua flexibilidade intelectual poderia alternativamente ter dito: "Não sou uma pedra"! Parada no mesmo lugar.
Do burro ao boi. O Congresso Nacional, aos olhos do povo, parece uma casa de doidos. O senador Demóstenes Torres, porém, teve alguma inspiração ao contrário, ligada à mansidão, para caracterizar em sua entrevista o lado bovino daquela Casa. A submissão do Congresso ao poder do Executivo é um sério problema apontado por ele, motivo de preocupação dos democratas republicanos. Agora, achar que toda boiada é lânguida significa desconhecer a complexidade da pecuária. Cutuca touro bravo pra ver!
Certo desprezo ao caipirismo se esconde no preconceito urbanoide contra o campo. Nas festas juninas o desdém aparece disfarçado nos exagerados fetiches do caboclo, tais como o chapéu de palha desfiado do tipo espantalho, aquele dentinho pintado de preto para parecer banguela, o sapatão velho de bico furado. Em vez de homenagem, refletem um horroroso mau gosto que deforma a visão das crianças sobre os homens do interior, depreciando-os, igualando-os todos ao triste personagem Jeca Tatu. Pedagogia zero.
O passado escravocrata e latifundiário, aliado aos problemas ambientais do presente, como o desmatamento, certamente ajuda a cultivar na opinião pública uma imagem negativa da nossa agricultura. Vista caolhamente, suas mazelas se destacam, as glórias se escondem. Nesse olhar deformado, o atraso ido subjuga a modernidade rural.
A ideologia urbana, auxiliada por infelizes metáforas, transforma o positivo em negativo, criando uma maldade que ridiculariza o mundo rural. Poderia ser diferente. Bastaria as pessoas se apegarem às jocosas figuras de linguagem. O Palocci caiu do cavalo. Fernando Henrique mexeu com um vespeiro. Demóstenes cutucou a onça.
Louco da vida com as autoridades alemãs, que equivocadamente jogaram sobre as costas dos agricultores espanhóis a culpa por aquele surto bacteriológico, bradou o representante da Espanha, Francisco Sosa-Wagner, brandindo nas mãos um exemplar do legume: "É preciso recuperar a honra do pepino".
Tá certo o homem!

AGRÔNOMO, FOI SECRETÁRIO DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO.
E-MAIL: XICOGRAZIANO@TERRA.COM.BR

Jorge Luis Borges: frases de um frasista ironico...

Jorge Luis Borges en 25 frases
Redacción BBC Mundo, Martes, 14 de junio de 2011

Borges falleció el 14 de junio de 1986 en la ciudad suiza de Ginebra.

Este martes se conmemora el 25º aniversario de la muerte del escritor argentino Jorge Luis Borges (Buenos Aires, 1899 - Ginebra, 1986), uno de los más célebres autores de la literatura del siglo XX.
Amante de la filosofía, la teología, la matemática o la mitología, de su pluma salió una ingente producción literaria compuesta por cuentos, poemas y ensayos.
BBC Mundo le presenta una selección de algunas de las frases más célebres que se le atribuyen al autor de obras capitales como Ficciones (1944), El Aleph (1949) o El Informe de Brodie (1970).

“Uno llega a ser grande por lo que lee y no por lo que escribe"

"Hay que tener cuidado al elegir a los enemigos porque uno termina pareciéndose a ellos"

"He cometido el peor pecado que un hombre puede cometer. No he sido feliz"

"Uno está enamorado cuando se da cuenta de que otra persona es única"

"Siempre he sentido que hay algo en Buenos Aires que me gusta. Me gusta tanto que no me gusta que le guste a otras personas. Es un amor así, celoso"

"Que cada hombre construya su propia catedral. ¿Para qué vivir de obras de arte ajenas y antiguas?"

"Quienes dicen que el arte no debe propagar doctrinas suelen referirse a doctrinas contrarias a las suyas"

"El infierno y el paraíso me parecen desproporcionados. Los actos de los hombres no merecen tanto"

"Hay comunistas que sostienen que ser anticomunista es ser fascista. Esto es tan incomprensible como decir que no ser católico es ser mormón"

"La belleza es ese misterio hermoso que no descifran ni la psicología ni la retórica"

"La Universidad debiera insistirnos en lo antiguo y en lo ajeno. Si insiste en lo propio y lo contemporáneo, la Universidad es inútil, porque está ampliando una función que ya cumple la prensa"

"Yo no hablo de venganzas ni perdones, el olvido es la única venganza y el único perdón"
"¿De qué otra forma se puede amenazar que no sea de muerte? Lo interesante, lo original, sería que alguien lo amenace a uno con la inmortalidad "

"Yo siempre seré el futuro Nobel. Debe ser una tradición escandinava"

"Somos nuestra memoria, somos ese quimérico museo de formas inconstantes, ese montón de espejos rotos"

"Me gustaría ser valiente. Mi dentista asegura que no lo soy"

"Para el argentino, la amistad es una pasión y la policía una mafia"

"Todas las palabras fueron alguna vez un neologismo"

"La felicidad no necesita ser transmutada en belleza, pero la desventura sí"

"Yo creo que habría que inventar un juego en el que nadie ganara"

"Si de algo soy rico es de perplejidades y no de certezas"

"Que otros se jacten de las páginas que han escrito; a mí me enorgullecen las que he leído"

"Todas las teorías son legítimas y ninguna tiene importancia. Lo que importa es lo que se hace con ellas "

"Sólo aquello que se ha ido es lo que nos pertenece"

"Creo que con el tiempo mereceremos no tener gobiernos"

Para ver mais: http://www.fundacionborges.com/

terça-feira, 14 de junho de 2011

Republica Mafiosa de Maua (mas vale para o Brasil tambem...)

Já postei muita coisa sobre essa tal de República Mafiosa, tudo sobre os procedimentos peculiares de certo partido...
Paulo Roberto de Almeida

O laranja-fantasma
Veja, 13/06/2011

A pequena foto no alto da página ao lado é um dos poucos registros que comprovam a existência de Gesmo Siqueira dos Santos, de 47 anos. Petista de carteirinha, ele é um híbrido de fantasma e "laranja". Não tem profissão definida, mas nada em dinheiro de origem desconhecida. Sócio ou ex-sócio de dezenas de empresas é dono de onze carros e comprador de 41 imóveis pagos à vista em uma década. Já foi alvo de 108 inquéritos policiais, a maioria por adulteração de combustível e fraude em documentos. Mais de trinta desses inquéritos viraram processos em São Paulo e produziram ordens judiciais para que ele fosse ouvido pelas autoridades. Mas os oficiais de Justiça dão um duro danado para encontrá-lo. Todos os endereços que constam em seus documentos são falsos. Investigado há uma década, prestou depoimento uma única vez - e sumiu. Na semana passada, Gesmo ganhou notoriedade nacional na esteira do caso Palocci. Ele "comprou" em 2005 o apartamento (hoje em nome de um sobrinho seu) de 640 metros quadrados e aluguel de 15000 reais em que vive a família do ex-ministro Palocci na capital paulista. Por tudo o que o seu currículo evidencia - e mais o que se pode, depreender dele -, é alarmante que o destino do petista Gesmo tenha "se cruzado com o do ex-ministro mais poderoso do governo Dilma.

Inquéritos da polícia e do Ministério Público mostram que Gesmo é um laranja profissional. Aparentemente, ganha a vida ocultando o patrimônio de clientes que não querem ter a fortuna revelada. Ele está no centro de um esquema criminoso e milionário de lavagem de dinheiro - que apenas começou a ser descascado. Uma investigação feita pela Delegacia de Investigações sobre Crimes de Lavagem de Dinheiro de São Paulo e pelo Grupo Especial de Repressão aos Delitos Econômicos, do Ministério Público paulista, revela que Gesmo tem sob seu domínio uma quadrilha de pelo menos quinze pessoas que emprestaram seu nome e CPF para o registro de 57 empresas (o tal sobrinho em cujo nome está hoje o apartamento em que vivem os Palocci seria mais uma dessas pessoas). Gesmo lava dinheiro de duas formas: simulando falsas operações imobiliárias e cometendo falcatruas que envolvem postos de combustível. Seu Modus operandi foi descoberto durante uma batida feita pela polícia em 2005 em seu escritório. Lá foram encontradas 22000 noras fiscais falsas, duplicadas ou pertencentes a empresas desativadas. Preenchidas com valores fictícios, simulavam vendas de combustível de distribuidoras para postos e de postos para consumidores. Por meio delas, Gesmo conseguia dar uma destinação contábil regular a valores de origem desconhecida. Além disso, ele adulterava o combustível dos postos de gasolina, o que lhe permitia "esquentar" dinheiro em cima de cada litro vendido. Gesmo tem um irmão, chamado Gildásio Siqueira Santos, que usa o mesmo esquema de postos para lavar dinheiro - com a diferença de que, ao contrário de Gesmo e de outras pessoas, pelo menos um entre seus clientes já foi identificado. É a facção criminosa paulista PCC. Conforme apurou o Ministério Público.

Os trambiques do fantasminha laranjão ocorreram especialmente no ABC paulista. Boa parte dos endereços falsos que ele apresenta é de Mauá, lugar que Gesmo conhece bem. Foi lá que, em 16 de abril de 1988, ele se filiou ao PT. O partido tem uma relação profunda com a cidade: além de ter sido uma das primeiras cuja prefeitura a legenda conquistou, ela foi palco de uma série de escândalos políticos e de corrupção protagonizados por petistas. No ano passado, o Ministério Público acusou a prefeitura do PT de ter participado de um esquema que desviou 615 milhões de reais dos cofres públicos. Foi também a partir de Mauá, em 2009, que o sigilo da filha do tucano e então presidenciável José Serra foi violado nas dependências da Receita Federal, por meio de procurações falsas fornecidas por um petista. O partido transformou Mauá num centro de malversações, malfeitos e maldades.

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E por falar em Brasil:

Lula promete ajuda para empresa que pagou por sua palestra
Bernardo Mello Franco
Folha de S.Paulo, 11/06/2011

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu ao presidente da Tetra Pak, Paulo Nigro, procurar autoridades do governo Dilma Rousseff para ajudar a empresa a reduzir impostos sobre embalagens de leite, informa reportagem de Bernardo Mello Franco na edição deste sábado da (íntegra disponível para assinantes do jornal e do UOL, empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha).

Ele disse que falaria com o ministro Guido Mantega (Fazenda) para defender um pleito da multinacional: reduzir o ICMS cobrado por alguns Estados sobre as embalagens de leite longa vida.

O petista fez a promessa ao fim de uma palestra fechada para convidados da Tetra Pak, na noite de quarta-feira. Seu cachê neste tipo de evento é estimado em R$ 200 mil --ele não confirma o valor.

Desde que deixou a Presidência, no fim do ano passado, Lula tem alternado sua agenda entre palestras e reuniões políticas do seu partido, o PT, de qual voltou a ser presidente de honra.

Los hermanos reincidentes (fariam tudo outra vez; alias, fazem...)

Os argentinos são os seres mais inexplicáveis do planeta Terra (ou talvez até de qualquer outro planeta conhecido e desconhecido nesta e em outras galáxias).
Fazem mais ou menos 80 anos (repito, oitenta anos) que eles erram, tropeçam, cometem equívocos, se enganam, fazem bobagens, abusam da lógica (e da paciência dos vizinhos) e, no entanto, ainda pretendem continuar errando, tropeçando, se equivocando, fazendo bobagens continuadas e a abusar da lógica formal, da informal e da paciência dos vizinhos.
Eu ainda quero ver um livro cujo título seria: Inacreditáveis Argentinos!
(ponto de exclamação ao final, comme il faut)
Não sei quem o escreveria, mas do meu ponto de vista um historiador econômico, mas não tenho certeza. Talvez um psiquiatra, dos bons, neurologistas, receitadores de remédios e, se precisar, de camisa de força.
Não um psicanalista, pois a Argentina já os tem aos montes, mais do que o resto da América Latina inteira, e não adiantou nada até agora. Acho até que lhes fez muito mal, como convencê-los, talvez, que eles eram superiores a todos os demais hermanos da região, quase como ingleses deslocados no Atlântico Sul (como reza uma velha piada), arrogantes como soiam ser os imperialistas britânicos nos bons tempos.
E os argentinos já foram arrogantes, e como. Hoje deveriam ser mais modestos, e aprender com seus erros (e alguns acertos, não vamos recusar; por exemplo, no futebol, se tirarmos essa figura bizarra, histriônica e ridícula que foi o Maradona, que fez tudo errado, como a maioria dos argentinos, aliás).
Pois saibam vocês que cem anos atrás, os argentinos possuíam a maior renda per capita da AL, eram mais ricos do que certos europeus, bem mais do que os brasileiros (evidentemente) e tinham cerca de 70% da renda per capita dos americanos, já então um dos povos mais ricos do mundo.
Cem anos depois o que temos?
Os argentinos só dispõem de 30% da renda per capita dos americanos, num dos recuos mais formidáveis que conhece a história econômica. Nós, brasileiros, continuamos distantes da renda per capita dos americanos, mas já nos aproximamos bastante da renda per capita dos argentinos, que são só um pouco mais ricos do que nós.

Mas, pasmem leitores, surpreendam-se, e eu quase não acreditei nos resultados quando vi: nos exames do PISA de 2006 e de 2009 -- Program for International Student Assessment, da OCDE, vejam no site www.oecd.org -- os estudantes de 15 anos da Argentina ficaram entre os piores do mundo, nos últimos lugares, depois do Brasil em leitura e matemática (não tenho certeza se em ciências também).
Isso é inacreditável: a terra de Sarmiento, de Mitre, de tantos intelectuais, e até de um ou outro Prêmio Nobel (nós até agora não ganhamos nenhum), ficou atrás do Brasil em desempenho escolar.
Essa é extraordinária, revela um tremendo atraso mental, que talvez explique o sentido da entrevista abaixo transcrita do empresário industrialista, que pede não só para continuar praticando as mesmas bobagens que fizeram durante tantos anos, como parece pedir para que concordemos em que eles estão certos...
Inacreditáveis argentinos!
Essa merece um livro...
Paulo Roberto de Almeida
PS: Só concordo com uma coisa que ele disse: que o Brasil também é protecionista.

Indústria argentina quer manter a proteção
Daniel Rittner | De Buenos Aires
Valor Econômico, 14/06/2011

Há pelo menos dez anos, o empresário têxtil José Ignacio de Mendiguren é o porta-voz mais conhecido da indústria argentina. Por isso mesmo, ele tem farta experiência nos conflitos comerciais com o Brasil. Ainda neste mês, Mendiguren embarcará para São Paulo com um grupo de lideranças da União Industrial Argentina (UIA), que preside desde abril, pela segunda vez.
Com o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, pretende abrir o caminho para acordos setoriais que possam reduzir o nível de tensão no comércio entre Brasil e Argentina. "Primeiro eu vou entregar a ele uma caixa de charutos. Com isso vou convencê-lo de qualquer coisa", afirma o empresário de 60 anos, dono da Texlona e conhecido como "El Vasco", pela ascendência basca.
Mas que ninguém, na Fiesp ou no governo brasileiro, espere facilidade nas conversas. Admirador do presidente Juscelino Kubitschek, ele garante que o Brasil também é protecionista, "mas com muita inteligência, sem reconhecer". E diz que a indústria argentina ainda não pode prescindir de mecanismos de proteção contra seus concorrentes.
"Não se pode sair da terapia intensiva, como em 2001, e correr a São Silvestre alguns anos depois", avalia Mendiguren. Naquele ano, ele presidia a UIA pela primeira vez, quando foi chamado pelo então presidente Eduardo Duhalde para assumir o recém-criado Ministério da Produção, em meio ao caos social e econômico vivido no país.
Na semana passada, quando recebeu o Valor na sede da instituição, na tradicional avenida de Mayo, as portas do edifício estavam trancadas. Momentos antes, manifestantes da Central de Trabalhadores da Argentina (CTA), que bloqueavam a avenida, atiraram pedras e quebraram vidros no hall de entrada da entidade.
Na entrevista, Mendiguren defende uma "agenda estratégica e visão de longo prazo" para o Mercosul. E sustenta que as medidas protecionistas adotadas pelo governo argentino devem ser entendidas como um mecanismo para compensar provisoriamente as diferenças dentro do bloco. Cita, por exemplo, a assimetria entre as condições de financiamento no Brasil e na Argentina. "No dia em que o industrial sair do Banco de la Nación com financiamento para abrir uma fábrica no Brasil, poderemos baixar a guarda".

Valor: No Brasil, os industriais argentinos têm a fama de reclamões, protecionistas e pouco competitivos. Como o sr. responde?
José Ignacio de Mendiguren: Com outra pergunta: o que faria um industrial brasileiro se tivesse enfrentado as mesmas circunstâncias que nós vivemos nas últimas três décadas? Nenhum outro país teve a volatilidade macroeconômica que vivemos, na Argentina, entre 1976 e 2001. Foi um período em que não só deixamos de crescer, como nos desindustrializamos. Tivemos oito modelos econômicos totalmente diferentes, e cada um deles terminava em grandes crises. Chegamos a ver cinco presidentes da República em dez dias, enquanto 18 moedas circulavam pelo país e decretava-se a maior moratória da história da humanidade. É nesse ambiente que tivemos que fazer negócios.

Valor: Ninguém ignora o histórico de dificuldades, mas setores do governo brasileiro dizem que já se passaram dez anos desde a crise de 2001 e que já houve tempo de sobra para se reindustrializar.
Mendiguren: Respeitemos os tempos. Não se pode sair da terapia intensiva, como em 2001, e correr a São Silvestre alguns anos depois. Uma questão não resolvida, na Argentina, é o financiamento. Só o que o BNDES empresta à indústria brasileira, em proporção do PIB, equivale a todo o crédito da economia argentina - algo perto de 12% ou 13%. Isso não é culpa do Brasil. É culpa nossa, mas não dá para comparar as duas economias. Enquanto o Brasil está estimulando a internacionalização de suas companhias, o que é um processo indispensável ao desenvolvimento de qualquer país, nós não temos crédito sequer para financiar a expansão interna.

Valor: Então o sr. defende as medidas protecionistas como um mecanismo compensatório das diferenças no Mercosul?
Mendiguren: Elas são, mas temporárias. Todos os países ricos do mundo chegaram ao desenvolvimento pela escada do protecionismo. E, depois de terem chegado lá, chutaram a escada. Mas entendo que são medidas provisórias. O Brasil está em outro estágio de desenvolvimento. Imagine o dia em que o industrial argentino sair do Banco de la Nación com financiamento para abrir uma fábrica no Brasil. Quando chegar esse dia, poderemos baixar a guarda.

Valor: A indústria argentina ainda não tem condições de sobreviver sem proteção?
Mendiguren: Existem dificuldades. Mas o mundo inteiro adotou formas de proteger suas indústrias, não só a Argentina, com a crise de 2008. Os estoques que não puderam ser colocados nos mercados tradicionais foram despejados em outras regiões, como a nossa. Isso pode destruir setores. Todos os países agiram a favor de seus mercados, seja por meio da guerra de moedas, seja por mecanismos de administração do comércio, que não são necessariamente tarifários, como restrições fitossanitárias, por exemplo. Todo o mundo foi pragmático nessa crise.

Valor: Mas parece ter havido um excesso de protecionismo na Argentina, que dura até agora.
Mendiguren: As formas é que talvez sejam distintas. O Brasil sempre aplicou essas medidas, mas com muita inteligência, sem reconhecê-las. Nós dizemos que vamos aplicar. Mas o efeito é o mesmo.

Valor: O Brasil também é meio protecionista?
Mendiguren: Meio?! Se você olhar com um olho só, o Brasil é meio protecionista. Quer que eu lembre todas as coisas que o governo brasileiro fazia quando a balança comercial com a Argentina lhe era desfavorável? Parava caminhões na fronteira com alimentos perecíveis. Diziam na alfândega que o peso exato da carga não era o mesmo do registro de exportação. Quando os produtos não coincidiam com o valor de referência que o Brasil determinava, o sistema informatizado caía de repente. Se quiséssemos, tínhamos que fazer o processo manualmente e a um custo adicional. Com os produtos lácteos, até hoje eles só podem entrar quando há problemas domésticos de oferta.

Valor: Então há um excesso de rigor quando os empresários brasileiros reclamam dos argentinos?
Mendiguren: Quando as condições macroeconômicas são favoráveis, os empresários argentinos têm uma história de sucesso para contar. A Argentina foi um dos primeiros países em desenvolvimento com multinacionais: Siam Di Tella, Bunge & Born e YPF. Há um caso emblemático, o da Alpargatas São Paulo, que foi montada pela Alpargatas Argentina. Cem anos depois, a filha comprou a mãe (hoje ambas são controladas pela Camargo Corrêa). Isso não ocorreu por culpa dos empresários, mas pelas diferenças macroeconômicas e industriais entre Brasil e Argentina.

Valor: Como se explica, apesar do câmbio favorável à Argentina, um desequilíbrio comercial tão grande com o Brasil?
Mendiguren: Não se deve olhar a taxa de câmbio nominal. O peso se desvalorizou, mas com um aumento da inflação que equivale mais ou menos à apreciação que teve o real. Mas não devemos nos ater aos problemas de conjuntura. A grande pergunta é se o Mercosul continua sendo uma vantagem aos setores empresariais dos dois países. Eu acredito que sim. Sou um defensor do Mercosul. Sou pró-Brasil, está claro?

Valor: Mas o Mercosul não está em seus melhores dias...
Mendiguren: O Mercosul se resolve com mais Mercosul, mas com mais institucionalização. Se Brasil e Argentina continuarmos nos olhando só como mercados, sem uma visão ampla de integração, vão persistir esses problemas. E cada problema se torna imenso, porque não existe uma agenda estratégica. O mundo está dando uma grande oportunidade à região. Há quase 1 bilhão de habitantes entrando na classe média, que demandam os nossos produtos. Temos que aproveitar essas condições favoráveis não só para crescer, mas para nos desenvolvermos, senão há um risco de primarização das nossas economias. Há uma diferença entre as duas coisas. O crescimento é espontâneo: crescemos pelos preços das nossas commodities. Mas o desenvolvimento precisa da criação de políticas e ferramentas para ir na direção que queremos. Essa é a oportunidade que Brasil e Argentina não podem perder. Não podemos apostar só nos recursos naturais.

Valor: Há quem diga no Brasil que as posições da indústria argentina têm dificultado avanços em direção a um acordo de livre comércio com a União Europeia. A Argentina está preparada para fazer concessões?
Mendiguren: Queremos um acordo, mas um acordo equilibrado. É certo que o Brasil tem uma posição diferente à da Argentina. Por quê? O Brasil tem cartas guardadas para negociar, como o setor de serviços ou as compras governamentais. A Argentina entregou tudo nos anos 90. Aqui, qualquer banco brasileiro pode vir e instalar-se amanhã. Nas licitações públicas, qualquer empresa pode vir. Ou seja, não é que o empresário argentino seja mais ou menos protecionista do que qualquer outro. Eu faço uma pergunta de outra forma. Quais as condições da nossa indústria, sem termos nada do que têm os empresários brasileiros: crédito, estabilidade, plano de desenvolvimento? Precisaríamos ter três cabeças.

Valor: Passando a questões domésticas, como o senhor avalia os governos de Néstor e de Cristina Kirchner?
Mendiguren: Acredito nos resultados para o nosso setor. Há muito tempo não vemos uma Argentina com a macroeconomia tão ordenada. A dívida está em 30% do PIB, não há déficit fiscal. E vemos que as condições internacionais positivas vão se manter. É preciso somente fazer os ajustes necessários para passar de um processo de crescimento a um processo de desenvolvimento econômico. Sou bastante otimista com a Argentina. E acho que o Brasil, pelos seus investimentos aqui, também é. A Argentina pode tranquilamente dobrar seu PIB nos próximos três mandatos presidenciais, um período de 12 anos, e ter uma redistribuição pela qual os salários voltem a significar 50% da renda nacional.

Valor: Mas há uma inflação cada vez mais preocupante, que beira 25% ao ano. Muitos economistas cobram um plano para atacá-la imediatamente.
Mendiguren: Não creio em choques, mas em um plano gradual, de metas de inflação que possam ir baixando gradualmente a alta de preços. A Argentina não tem um problema estrutural de inflação. Nos anos 80, tínhamos um dólar que disparava de repente e se refletia nos preços, uma economia indexada, um déficit fiscal tremendo que levava a uma emissão descontrolada. Ou seja, a inflação era estrutural. Hoje não ocorre isso.

Valor: O que a Argentina deve fazer para seguir crescendo?
Mendiguren: O que falta é mais investimento. A taxa de investimento não está caminhando com a mesma velocidade que as necessidades de uma economia em forte expansão. É preciso conhecer as regras do jogo, é verdade. Obviamente a segurança jurídica é importante para nós, mas isso somente não basta. Não sei qual é a segurança jurídica que tem a China, por exemplo. O que a Argentina precisa para sustentar o crescimento de 92% que teve a indústria, desde 2001, é definir que o rumo não será mudado. Que não voltamos aos tempos de Cavallo [Domingo Cavallo, ministro da Economia no governo Menem e pai do Plano de Conversibilidade, nos anos 90], de Martínez de Hoz [ministro da Economia na segunda metade dos anos 70, durante a última ditadura militar, de ideário fortemente liberal], sem mágicas, priorizando a geração de riqueza e de trabalho.

Valor: A Argentina deve adotar o Brasil como modelo para alguma coisa?
Mendiguren: Vocês estão há cinco décadas em um rumo que não se modifica. Sou um leitor dos diálogos entre os presidentes Juscelino Kubitschek e Arturo Frondizi. Em 1958, o Brasil e a Argentina tinham o mesmo PIB, mas tínhamos um terço dos habitantes. Olhemos a história: o Brasil nunca abandonou os seus planos, nem mesmo nos regimes militares, que aprofundaram o modelo de industrialização. Aqui, aplicaram um modelo neoliberal. O mausoléu de JK, em Brasília, é maior do que a Catedral de Buenos Aires. Enquanto isso, Frondizi não é nome sequer de uma travessa e está enterrado no túmulo de uma irmã sua, em um cemitério de Vicente López [município da Grande Buenos Aires].

A agenda internacional do Brasil - Marcelo de Paiva Abreu

Desafios da agenda econômica internacional
Marcelo de Paiva Abreu*
O Estado de São Paulo, segunda-feira, 13.6.2011

Qual é a atual agenda econômica internacional do Brasil? E em que medida se ajusta aos "interesses nacionais", isto é, a interesses que não sejam estritamente associados a determinados grupos econômicos ou classes sociais? No jargão dos economistas, que não reflitam meros "interesses especiais". É claro que sempre existirão interesses especiais beneficiados quando se trata de defender interesses nacionais. Mas o que deve ser encarado criticamente é o triste espetáculo de defesa de "interesses especiais" por representantes das "classes produtoras" enrolados na bandeira nacional e invocando "interesses nacionais". Seria salutar que o chororô cambial fosse pelo menos acompanhado da denúncia de suas causas principais: um governo que insiste em gastar muito e mal.

Não é simples separar a agenda econômica da agenda política. Alguns objetivos de natureza política são justificados, ao menos parcialmente, por suas implicações sobre o poder de barganha do Brasil em foros estritamente econômico-financeiros. Esse é o caso do velho anseio brasileiro por um lugar no Conselho de Segurança (CS) da ONU. No passado recente, a ênfase nesse objetivo foi certamente excessiva, configurando "postulação" do Brasil que, caso rejeitada, poderia levar facilmente à perda de face. Especialmente quando é altamente improvável que os cinco atuais membros permanentes do CS estejam dispostos a compartilhar o seu poder de veto com novos membros. O objetivo do Brasil quanto ao assunto deveria ser envidar esforços para tornar improvável que, no caso de expansão do Conselho de Segurança em termos aceitáveis - algo a definir -, o Brasil seja preterido. Mas a principal justificativa para a prioridade do tema é o fortalecimento da posição negociadora brasileira na Organização Mundial do Comércio (OMC) e no eixo G-20/FMI, pois, em matérias estritamente relacionadas ao tema segurança, o interesse brasileiro é secundário.

No terreno comercial, os interesses brasileiros continuam focados na redução do protecionismo nas negociações da Rodada Doha, a despeito do notável desinteresse dos EUA e da União Europeia e de diversas declarações contritas do G-20. Esse tem sido, de longe, o tema em que a diplomacia brasileira se tem revelado persistentemente mais coerente. A importância do Brasil na OMC é muito maior do que seria justificado pelo peso do Brasil no comércio mundial. Isso é fruto de muitas décadas de envolvimento sério da diplomacia comercial brasileira no assunto, só ocasionalmente marcado por posturas de baixa credibilidade, como foi o caso em meados da década de 1980.

No quadro regional, o governo deverá avaliar se há condições políticas para ou um avanço significativo na consolidação do Mercosul ou um recuo para uma zona de livre comércio, que devolverá preciosos graus de liberdade à formulação da política comercial brasileira, independentemente da Argentina. A situação atual do Brasil é similar à do asno de Buridan, que, faminto e sedento, equidistante do balde d"água e do monte de feno, acabou morrendo de fome e de sede. O custo de estar obrigado a negociar uma tarifa externa comum compatível com as restrições argentinas está ficando proibitivo.

No terreno financeiro, a estratégia cautelosa seria a gradual construção de good will no G-20/FMI, tomando como exemplo o que foi possível fazer em Genebra. A dificuldade aí é que, para isso, seria preciso que de forma persistente e crível as autoridades econômicas demonstrassem efetivo compromisso com políticas macroeconômicas responsáveis. Não há espaço para a construção de credibilidade num ambiente onde predomina a macroeconomia de fundo de quintal. Aquela que não crê, por exemplo, que investimento pressiona preços ou que não há relação entre política de juros e nível de inflação. Nessa área há muito dever de casa interno a fazer.

Finalmente, seria altamente recomendável a redução da notória propensão da diplomacia brasileira recente a considerar "estratégicas" relações com países cuja pauta prioritária pouco tem que ver com os efetivos interesses estratégicos brasileiros. Talvez a França seja o melhor exemplo de "parceiro estratégico" mal escolhido. A cooperação militar bilateral, em amplitude ainda a ser definida, não parece ser compensação suficiente para as notórias diferenças de posições quanto a diversos temas da agenda econômica, especialmente os agrícolas. Mesmo os Brics, com a possível exceção da África do Sul, têm interesses estratégicos bem diferentes dos do Brasil. A parceria estratégica com a China, em particular, que despertou tantas ilusões no passado, se tem revelado de digestão bastante difícil, com a consolidação da posição do Brasil, de um lado, como supridor de matérias-primas à China e, de outro, crescentemente deslocado como exportador de manufaturas pela China tanto em terceiros mercados quanto no mercado brasileiro.

A escolha de parceiros estratégicos que não sejam de mera conveniência passageira deveria ser alicerçada pela análise de quais são os interesses estratégicos do Brasil. E essa não parece ser a vantagem comparativa do atual governo.

*Marcelo de Paiva Abreu, doutor em economia pela Universidade de Cambridge, é professor titular no Departamento de Economia da PUC-Rio.

Nova frase da semana: quadrilhas juninas (and beyond...)

Aproveite junho, único mês em que a formação de quadrilhas é permitida para todos os cidadãos. No resto do ano, é só para aqueles que a gente sabe.

Carlos Brickmann, jornalista

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Penuria de ideias? - os economistas desenvolvimentistas so sabem reclamar...

Interessante esta entrevista com o professor Wilson Cano, da Unicamp. Ele toca nas questões corretas: a falta de competitividade da nossa indústria, a ausência da inovação, o "financeirismo" dos dirigentes industriais e, mais importante, a valorização do real e os juros elevados.
Constato, apenas, que ele fica em geral nas constatações gerais e nas reclamações mais comuns, e não chega a propor alguma política significativa ou medidas substanciais para superar os problemas que ele mesmo detectou.
Desses problemas. ele retira uma grande conclusão de ordem geral, a de que é preciso mudar a política econômica, tese geral dividida em vários elementos subsequentes: controlar o comércio exterior, restringir o ingresso de capitais, desvalorizar a moeda e abaixar os juros.
Em nenhum momento ele diz como fazer isso sem os efeitos negativos que cada uma das medidas assumiria individualmente, caso fossem implementadas.
Ele tampouco toca nas causas reais que causam os problemas detectados.
Quais sejam: o excesso de gastos públicos, o déficit nominal, a despoupança estatal, o baixo investimento causado pelo crowding-out do Estado, a excessiva tributação e os juros elevados causados pelos requerimentos de financiamento do Estado, cujos níveis redundam, obvia e necessariamente, na atração de capitais, quaisquer capitais, de todos os tipos, cores e volumes.
Surpreendente que um economista desenvolvimentista não consiga chegar a uma conclusão tão singela quanto esta...
Deve ser miopia...
Paulo Roberto de Almeida

Entrevista: WILSON CANO, ECONOMISTA
Brasil se desindustrializa e canta como cigarra a música da China
ELEONORA DE LUCENA
Folha de S.Paulo, 12/06/2011

PESSIMISTA, PROFESSOR DA UNICAMP PREVÊ FIM DE "FARRA DAS COMMODITIES" E RECLAMA DA AUSÊNCIA DE UMA ELITE INDUSTRIAL E DE UM GOVERNO MAIS "NACIONALISTA" NO PAÍS

SÃO PAULO - A desindustrialização no Brasil avança. O país está regredindo. Não basta ter uma política industrial. É preciso mexer no câmbio e reduzir muito os juros. O diagnóstico é do economista Wilson Cano, 73.
Nacionalista e admirador de Celso Furtado, Cano tem sua vida acadêmica ligada à história da Unicamp. Doutor e livre-docente em economia, hoje aposentado, ele é professor voluntário na Universidade.
Autor de diversos livros sobre desenvolvimento industrial, Cano está pessimista. Sente falta de empresários com visão estratégica e critica o modelo que "está exterminando o futuro", diz. Prevê o fim da farra dos altos preços das commodities, já que a China constrói novas fontes de abastecimento. Para ele, o Brasil erra como uma cigarra que canta com música chinesa.

Folha - Está ocorrendo desindustrialização?
Wilson Cano - O termo tem dois sentidos. No primeiro é um fenômeno que se vê com naturalidade: é a diminuição da proporção da renda e do produto gerado pela indústria no PIB geral.
Isso ocorre em sociedades que já atingiram um padrão de produção e de consumo, onde a urbanização é praticamente total e a diversificação de serviços é extraordinária. Nesses locais é normal aceitar que o peso da indústria no PIB esteja reduzido a 20%, como se aplica aos países da Europa Ocidental e aos EUA.
No mau sentido da palavra, desindustrialização significa uma precoce diminuição da presença da indústria num país em que ainda há muita coisa a fazer em termos de industrialização, como é o caso do Brasil.

Como explicar isso?
Nos anos 1980 o peso da indústria de transformação no PIB era de 33%. Hoje é de 16%. Tínhamos toda uma frente por desenvolver: espacial, petroquímica, química fina, informática, eletrônica, fármacos.
Entretanto estamos há 31 anos em crise. Nos 80 veio a crise da dívida. Depois o neoliberalismo com um crescimento medíocre, até 2003.
De 2004 para cá estamos vivendo um processo ilusório, em parte, porque estamos crescendo sem investimento. Estamos crescendo pelo consumo, pelo crédito. E a situação no mercado internacional que é excepcional, com os elevados preços de produtos primários.

O sr. escreveu recentemente que as políticas cambial e de juros podem ser exterminadoras do futuro. Como explica essa afirmação?
A relação manufaturados/exportações totais chegou a atingir 59% e hoje está na casa dos 40%. Se olharmos as estruturas produtivas e exportadoras segundo o grau de intensidade tecnológica estamos regredindo. Estamos na contramão da história econômica.

Há a questão do déficit comercial de produtos industrializados.
Ele é enorme e crescente. Principalmente em dois compartimentos: o automobilístico -que paradoxalmente é o que recebe o maior número de favores do Estado- e setor eletrônico, mostrando claramente as perdas que a nossa indústria vem sofrendo.

Quão grave é o processo?
Tínhamos homens como [Abraham] Kasinski, [José] de ponta, moderna. Um Mindlin (1914-2010), que eram dois baluartes da indústria teve que vender a fábrica para os americanos. O outro vendeu e se transformou em montador de motocicletas em Manaus e acabou vendendo para os chineses.
Há coisas que são irreversíveis. Como quando se destrói segmentos da elite industrial brasileira. Eram homens que sabiam o que significa uma indústria nacional.

Onde está a visão estratégica?
A estratégia deles é ganhar dinheiro lá fora pegando o dinheiro do BNDES para matar boi nos EUA. Os empresários estão preocupados em ganhar dinheiro com dólar barato. Fazem negócio lá fora ou simplesmente aplicam no sistema financeiro. Com essa taxa de juros, quem tem o dinheiro aplica no mercado financeiro sem ter que se preocupar com trabalhador, processo produtivo, imposto.

E o que deve ser feito?
O próprio ministro do Desenvolvimento disse a empresários que não tem jeito. Parece ser um governo conformista. O nacionalismo está meio fora de moda.

Isso compromete o futuro?
Sim, porque estamos cantando como uma cigarra. Estamos cantando com a música chinesa. Cantando por exportar galinha e soja e minério de ferro. Mas isso nunca deu futuro a ninguém. As lideranças aceitam que é muito bom ficar exportando essas coisas, mas esquecem da regressão industrial.

A farra das commodities vai acabar?
A China está abrindo frentes de produção na África e na América Latina para a produção de minério e de petróleo, grãos, carne. Estão buscando novas fontes abastecedoras. A China sabe que não pode continuar crescendo a 10% e pagando o preço que está pagando por essas matérias-primas.

Isso vai resultar em queda no preço das commodities no longo prazo?
Sim, sem dúvida.

O governo deveria controlar mais os capitais externos?
Há várias formas de controle sobre o fluxo internacional de capital. Estamos vendo uma anormalidade com esse dólar. O governo não tem feito muita coisa, porque para fazer alguma coisa teria que alterar profundamente esse modelo econômico.

Mas o país não está menos vulnerável?
Estamos cantando que diminuímos a nossa vulnerabilidade externa porque temos reservas internacionais de U$ 300 bilhões e a dívida externa pública diminuiu. Mas a privada aumentou. Temos reservas, mas temos mais de U$ 350 bilhões de investimento estrangeiro em carteira que podem rapidamente se mobilizar e sair do país.

Quais deveriam ser os principais pontos da política industrial que o governo está preparando?
Investir, inclusive em ciência e tecnologia nos setores de ponta que não conseguimos avançar na passagem dos anos 1980, notadamente fármacos e microeletrônica, em especial chips.
Eliminar a guerra fiscal e reformular a Zona Franca de Manaus. Rever profundamente a nossa política de comércio exterior.

Basta ter uma política industrial se câmbio e juros continuarem como estão?
Com a atual política econômica, nenhuma política industrial terá sentido. Não foi assim com as políticas dos países desenvolvidos, em especial todas as asiáticas.

O sr. fala que é preciso investir, inovar, exportar e financiar tudo isso. Qual sua receita para o governo?
Há que ter vontade política e consciência crítica para alterar o modelo macroeconômico. É preciso baixar os juros, mas para isso não podemos conviver com esse câmbio. É uma camisa de força.

A frase da semana - Ideli Salvatti sobre as diferencas entre homens e mulheres

Estou plenamente satisfeito com as definições da preclara nova ministra das relações institucionais. Agora eu sei, de fato, quais são as diferenças de gênero, e sei que as mulheres são superiores aos homens, em qualquer quesito que pudermos conceber...
Agora eu sei, por exemplo, que os homens não conseguem fazer coisas diferentes ao mesmo tempo (só fazemos coisas iguais em tempos diferentes), como tampouco sabemos fazer várias coisas de forma diferente: fazemos tudo igual.
O homem é um ser repetitivo e invariável.
Ufa, isso me deixa mais tranquilo.
Eu pensava que fosse um retardado ou coisa assim, já que não consigo acompanhar o desempenho de todas as mulheres que conheço.
Ainda bem que a ministra me esclareceu que isso é de nascença...
Paulo Roberto de Almeida

Os homens não têm o direito de se assustar com mulher (risos). Eles sabem muito bem, até porque todos eles respeitam suas respectivas mães, que mulher tem essa sensibilidade, quando precisa ser dura é dura, quando precisa ser carinhosa é carinhosa. Diferentemente de boa parte dos homens, conseguimos não só fazer várias coisas diferentes ao mesmo tempo, como também fazemos de forma diferente várias coisas.

Ideli Salvatti, ministra das relações institucionais (deveria ser ministro das relações entre gêneros)

A cigarra e o gafanhoto: a versao classica e a brasileira...

Um leitor de posts antigos, recuperou esta história, que ainda tem o seu sabor, a despeito de ser de cinco anos atrás.
Acho que nada mudou, o que vocês acham?
Segue a história e os comentários...

10 MARÇO 2006
254) Fábulas fabulosas: a versão clássica e a brasileira...

Uma variação da célebre fábula da cigarra e da formiga, adaptada para o nosso ambiente, trocando cigarra por gafonhoto e contrastando a versão clássica com uma outra, mais adaptada às circunstâncias atuais do Brasil...

A FORMIGA E O GAFANHOTO
A Versão Clássica:

Era uma vez, uma formiga que trabalhava duro, de sol a sol. Construindo sua toca e acumulando suprimentos para o longo inverno que se aproximava.
O gafanhoto viu aquilo e pensou: -Que idiota!
E passava o tempo todo dando gargalhadas, cantando e dançando. Assim passou todo verão... Ao chegar o inverno, enquanto a formiga estava aquecida e bem alimentada,o gafanhoto, que não tinha abrigo nem comida, morreu de fome.
MORAL DA ESTÓRIA:
Trabalhe duro! Seja previdente e responsável.

Versão Brasileira:

Era uma vez, uma formiga que trabalhava duro, no sol escaldante de verão, construindo sua toca e acumulando suprimentos para o longo inverno que se aproximava.
O gafanhoto pensou:
-Que idiota! E passou o verão dando gargalhadas, cantando e dançando como nunca.
Ao chegar o inverno, o gafanhoto, tremendo de frio, armou uma barraca de lona na entrada da toca da formiga e convocou toda a imprensa para uma entrevista e exigiu explicações!
- Por que é permitido à formiga, uma toca aquecida e boa alimentação, enquanto os gafanhotos estão expostos ao frio e morrendo de fome ?
Todos da imprensa compareceram à entrevista : (SBT, BAND, ZERO HORA,JORNAL DO BRASIL, ESTADÃO, REDE GLOBO, CBN e outros).
Tiraram muitas fotos do gafanhoto trêmulo de frio e com sinais de desnutrição!
As imagens dramáticas na televisão, mostraram um gafanhoto em deplorável condição, sentado num banquinho, debaixo de uma barraca plástico preto...
E, mais adiante, mostraram a formiga, em sua toca confortável, com uma mesa farta e variada!
O canalha do Datena apresentou um quadro de 15 minutos, mostrando o gafanhoto cambaleante!
O povo brasileiro fica perplexo e chocado com o contraste!
A BBC de Londres, manda ao Brasil, uma equipe para fazer uma reportagem especial a ser distribuída em rede para toda a Europa!
A CBS, nos EUA, interrompe uma entrevista coletiva sobre as ações no Iraque, antes da entrega do Oscar, para mostrar como anda a cidadania dos gafanhotos brasileiros...
A notícia recebe apoio imediato do PT, com a ressalva de que os recursos devem ser dirigidos ao programa Fome Zero do governo Lula...
E, cogita uma Emenda Constitucional, que se aumente os impostos para as formigas e ainda obriga as comunidades a promoverem a integração social dos gafanhotos.
A formiga, multada por supostamente não entregar sua quota de folhas verdes ao Ministério das Folhas e não tendo como pagar todos os impostos e contribuições que foram apurados retroativamente, pede falência!
A Câmara Federal instala uma comissão de inquérito para investigar a falência fraudulenta de inúmeras formigas abastadas.
O Ministério das Folhas nomeia uma comissão de auditores fiscais, suspeitando que as formigas tenham desviado recursos do FF5( folhas frescas nº 5 do Banco Central ) e suspeitas de lavar folhas.
O gafanhoto decide invadir a toca da formiga e lá acampa!
A formiga, pede ajuda da polícia e esta informa que não dispõe de efetivo para atender ocorrências desta natureza, e, que também por orientação do Secretário de Segurança que deseja evitar confronto com os SEM TOCAS, não pode atuar.
A formiga entra na justiça para obter a reintegração da toca, mas,o pedido é negado! O juiz invocou um novo ramo do direito, "O ECONÔMICO“, e sentencia que a formiga não provou a produtividade da Toca!
O Ministério da Reforma Agrária desapropria a Toca da Formiga, por não cumprir sua função social e a entrega ao friorento e desnutrido gafanhoto...
O Ministério da Justiça examinando exemplares do Jornal Última Hora, descobriu que o gafanhoto foi preso no passado, por promover algumas greves, assaltos e seqüestros (crimes políticos)...
e conseguiu sua inclusão no grupo dos perseguidos políticos com direito à indenização federal e pensão vitalícia!
Agora, começa novamente o verão, as formigas trabalham e os gafanhotos cantam e dançam...

MORAL?
Você decide!
POSTED BY PAULO R. DE ALMEIDA AT 3:57 PM
3 COMMENTS:

André Gomes said...
Hehe, essa é muito boa. De fato, nenhuma fábula clássica poderia se adequar ao Brasil...

SÁBADO, MARÇO 11, 2006 8:18:00 PM
JM said...
É fábula brasileira? Então as formigas e os gafanhotos viveram séculos de abismo sócio-econômico, não é?

DOMINGO, MARÇO 12, 2006 8:40:00 PM
Encontro Literário said...
Que besteira! No Brasil quem trabalha é que não tem nada, ou o minimo. o trabalho acaba com a essência do homem, que vive sua vida em função de enriquecer o patrão que te tempo para dançar e rir da cara dos outros.
Acorda!
E olha o mundo de frente, pq senso comum é veneno.

domingo, 12 de junho de 2011

Caso Battisti: desconformidade expressa em mensagem a Embaixada da Italia no Brasil

Ratifico, concordo e subscrevo (não poderia ser mais enfático, não é mesmo?) inteiramente, integralmente, totalmente (agora estou sendo redundante, mas acho que é preciso) as palavras deste manifestante solitário que se solidariza com a Itália num momento de inadimplência oficial do Brasil em relação ao tratado solenemente firmado no plano bilateral para extradição.

Mensagem à Embaixada Italiana
Posted Blog do Klauber, 12 Jun 2011 07:42 AM PDT

Exmo Sr. Embaixador
Como cidadão brasileiro, venho ao Sr manifestar minha total inconformidade e minhas extremas vergonha e tristeza com o que as autoridades brasileira têm protagonizado com relação ao caso Cesare Battisti, consciente de que a cumplicidade ideológica tem se sobrepujado ao império das leis, da justiça, do direito, da dor dos familiares das vítimas deste assassino cruel e da indignação legítima do povo italiano e até mesmo dos brasileiros de bem.
Seria uma benevolente concessão desta instituição que se dignasse a transmitir à nação italiana as vozes de repúdio que afloram deste solo, tal como esta que envio.
Respeitosamente,
Klauber Cristofen Pires

Mande a sua para o e-Email: ambasciata.brasilia@esteri.it

sábado, 11 de junho de 2011

Governo (des)controla ingresso de capital estrangeiro...

E vai continuar tentando...
Incrível esse governo: ele precisa de dinheiro, já que gasta mais do que arrecada.
Para isso paga juros mais elevados do que os existentes no mercado, em qualquer mercado, em qualquer lugar do mundo.
Depois ele reclama que está entrando dinheiro demais.
Para reduzir um pouco o ingresso desse dinheiro "estrangeiro" -- mas muito pode ser dinheiro brasileiro depositado no exterior, também -- ele introduziu (esse é o termo) um imposto de 6% de IOF sobre os capitais de curto prazo, mas isentou o IED (investimento estrangeiro direto), pois se trata de um capital a rigor bem vindo, já que dirigido aos setores produtivos.
Agora o governo descobre que parte desse IED pode não ser IED e sim "capital especulativo".
Não seria mais fácil o governo reduzir os juros?
Os empresários parariam de reclamar, e os investidores externos viriam em menor número, só IED mesmo, pois os capitais "especulativos" procurariam paragens mais benéficas.
Por que o governo não reduz os juros?
Ah, vão dizer que com juros mais baixos, ele não conseguiria se financiar no mercado e aí ficaria sem dinheiro para pagar suas obrigações.
Ué, uai, por que o governo não reduz os seus gastos?
Não seria tudo mais simples se o governo fizesse como cada um de nós? Quando estamos sem dinheiro, deixamos de ir a restaurantes, trocar de carro, comprar roupas, sapatos, bolsas, etc...
Por que o governo não faz o mesmo?
Essa é a pergunta de UM MILHÃO DE DÓLARES...
A resposta não vale um centavo de dólar...
Paulo Roberto de Almeida

Governo faz pente-fino sobre aplicação externa
O Estado de S. Paulo, 11 de junho de 2011

SÃO PAULO - O governo resolveu olhar com lupa o ingresso de investimentos estrangeiros diretos (IED) diante das suspeitas de que investidores poderiam estar usando essa porta de entrada para fazer outras aplicações e fugir do pagamento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

A preocupação já existia desde o início do ano, quando a alíquota do tributo foi elevada. Mas a equipe econômica resolveu desenvolver mecanismos mais fortes de rastreamento, para saber para onde, efetivamente, o dinheiro está indo.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, está empenhado em acompanhar esses movimentos de perto para fechar as brechas para ingresso de capitais de curto prazo, segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo. Para isso, ele escalou alguns técnicos para olharem com muita atenção os dados do IED.

A Receita Federal e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) devem participar do esforço. A avaliação interna é que as portas de entrada de capital especulativo estão diminuindo, mas o mercado acaba criando mecanismos para burlar a tributação. "O jogo é esse. Vamos continuar fechando as brechas. Ninguém está dormindo", disse uma fonte do governo.

Embora o Banco Central (BC) negue publicamente que tenha identificado que a conta de IED esteja sendo usada para fazer investimento em renda fixa e variável, a área técnica do banco também está reforçando os controles e o monitoramento.

Deterioracao das contas publicas (confirmado agora...)

Desde muito tempo eu venho alertando para a crescente deterioração das contas públicas, sem que eu manipule nenhuma estatística oficial ou dados comparativos com base em séries históricas continuadas. Se tratava de uma mera impressão, fundamentada apenas no que leio na imprensa todos os dias, nas orientações que constato em termos de investimentos e de gastos correntes com o próprio Estado. Ou seja, algo inteiramente subjetivo, mas ainda assim embasado em certa percepção da realidade, com base numa observação prima facie.
Por certo tempo acreditei que o governo Lula estava deixando uma bomba-relógio fiscal para o seu sucessor, qualquer que fosse ele (no caso ela, agora). Essa era outra impressão, baseada numa leitura provavelmente equivocada dos processos e mecanismos econômicos.
Bem, minha percepção está provada agora, como se pode constatar pela leitura da matéria abaixo, mas não existe essa bomba-relógio fiscal, ou seja, algo que vai explodir de repente.
O que existe são areias movediças, ou uma zona pantanosa, na qual nós vamos afundando a cada dia. Um dia, teremos a água pelo queixo e aí já será tarde para reclamar.
Eu continuarei na minha função de Cassandra, alertando para a caminhada em direção ao abismo...
Paulo Roberto de Almeida

Investimentos do governo federal têm queda real de 4,1%
Fernando Dantas
O Estado de S.Paulo, 11 de junho de 2011

Ao mesmo tempo, as despesas de pessoal subiram mais nos cinco primeiros meses de 2011 do que em 2010

SÃO PAULO - O ajuste fiscal nos primeiros cinco meses do ano, que de fato foi expressivo, baseou-se numa desaceleração drástica dos investimentos, que tiveram queda real de cerca de 4% de janeiro a maio, comparado a igual período de 2010. Ao mesmo tempo, as despesas de pessoal subiram mais nos cinco primeiros meses de 2011 do que em 2010, comparando-se a igual período do ano anterior. Na Previdência, o gasto real estimado cresceu 3,9% (menos da metade da expansão ocorrida de janeiro a maio de 2010), mas sem aumento real das aposentadorias.

Para o economista Mansueto Almeida, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que calculou esses números, "esse padrão de ajuste é claramente insustentável, porque os investimentos terão de voltar a crescer, e o salário mínimo será reajustado em 14% em 2012, puxando os gastos da Previdência".

De janeiro a maio de 2011, a despesa do governo federal (inclui os três Poderes e o Ministério Público, mas exclui estatais)atingiu R$ 284,5 bilhões, com um avanço em termos reais (descontada a inflação) de 3,4% ante igual período de 2010. "Houve de fato uma freada forte, e a despesa total está crescendo abaixo do PIB", diz Almeida. Em 2010, no mesmo período, a despesa real cresceu 13% ante 2009.

A reviravolta mais dramática em 2011 foi nos investimentos do governo federal, que a presidente Dilma Rousseff sempre disse que iria preservar. Eles atingiram R$ 17,2 bilhões de janeiro a maio, com queda real de 4,1% (R$ 733 milhões) ante igual período de 2010. De janeiro a maio de 2010, o investimento havia dado um salto real de 72%, ante igual período de 2009.

"Essa contenção dos investimentos não tem como continuar por muito tempo, com Copa, Olimpíada, carência de infraestrutura e necessidade de elevar a taxa de investimento para 23% do PIB, para se ter um crescimento sustentável perto de 5% ao ano", avalia Almeida.

Por outro lado, ele reconhece que houve avanços notáveis no custeio, que atingiu R$ 80,8 bilhões de janeiro a maio, com crescimento real de apenas 2,5% ante 2010, comparado com 20% em igual período do ano anterior (comparado a 2009).

No mesmo critério, foi expressiva a redução do ritmo de expansão das despesas da Previdência, estimado por Almeida em 3,9% de janeiro a maio - menos da metade dos 8,8% dos cinco primeiros meses de 2010 (sempre em relação a igual período do ano anterior). O custeio foi de R$ 80,8 bilhões de janeiro a maio, e a estimativa do gasto de Previdência foi de R$ 109,7 bilhões.

Para calcular esses números, Almeida usou dados oficiais do Tesouro até abril, e extraiu os dados já fechados de maio do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi) para investimentos, custeio e pessoal. No caso da Previdência, cuja extração do Siafi é mais complicada, ele optou por uma estimativa que considera conservadora, extrapolando para maio a média de janeiro a março. Ele excluiu abril, por ser um mês em que houve pagamentos de sentenças judiciais pela Previdência de mais de R$ 3 bilhões.

Da imoralidade fundamental na coisa publica

Do que se deduz da matéria abaixo, metade opinião, metade informação (mas esta é fundamental), o ministro extraordinário para assuntos ordinários só caiu porque a opinião pública, consultada discretamente pelo Palácio do Planalto, considerou que o tal ministro tinha extrapolado suas funções, para assumir, digamos assim, atividades extra-curriculares pelo menos obscuras e altamente lucrativas.
Se não fosse isso, a depender da presidente, do ex-presidente, do Procurador (!?) Geral (?!!!) da República (!), de todos os demais ministros, da classe política em geral e de metade do PT (apenas por razões de lutas clânicas, claro), ele continuaria exercendo seus talentos nas horas oficiais, nas horas vagas e nas horas extras, em triplo expediente de tarefas pouco republicanas.
O que mais me chocou na sua queda, e no momento da transmissão do cargo, foi vê-lo aplaudido como se fosse um herói da causa pública, e não um bandido que merecesse ser processado, como se ele tivesse sido expelido da cadeira palaciana por algum desentendimento qualquer, por intriga política, por injustiça da justiça (se houvesse), e não pelas trapaças que fez.
Inacreditável política brasileira, onde a imoralidade é a norma, onde a falta de ética é a ética fundamental desse pessoal. Roubar é preciso, pois faz parte dos comportamentos. Eis a nossa República.
Paulo Roberto de Almeida

CASA CIVIL
A linha muda numa tarde de domingo
Leandro Mazzini
Opinião e Notícia, 11/06/2011

Como uma pesquisa qualitativa derrubou o ministro, as surpresas de Temer e Lula, e o adeus ao 'Paloccinho'.

A visita de Hugo Chávez, presidente da Venezuela e financiador das FARC, ao Palácio do Planalto, há uma semana, não poderia ser pior momento para o então chefe da Casa Civil, e um acinte para o país inteiro ao ouvir o recado incentivador dele para um sorridente Antonio Palocci: “Fuerza! Fuerza!”. É o que diria Chávez a um brasileiro assalariado que não ganha R$ 6 milhões em poucas semanas para comprar um senhor apartamento?

Palocci é uma infeliz vítima dele mesmo, de sua ambição demasiada e da inescrupulosa vontade de esquecer que, apesar de o Brasil ser o que é, há avanços – principalmente contra a impunidade. E a população, junto à imprensa, está atenta. Não foi a oposição quem derrubou Palocci – Senadores e deputados adversários a cada dia mais se vendem às benesses de um bom relacionamento com o PT. Não foi a Justiça quem o defenestrou do cargo – o procurador-geral da República se fingiu de cego e não achou nada. Se a situação dependesse da presidente Dilma Rousseff, do ex-presidente Lula, dos opositores camaradas (nem todos, mas a maioria calou-se) e da Justiça, Palocci estaria agora no cargo rindo de tudo isso. Foi o povo quem o derrubou. O povo aliado à imprensa.

Não é uma tese, é um fato. Aqui uma revelação que confirma isso. Palocci soube que cairia no domingo (5) à tarde, quando recebeu o telefonema da chefe, direto do Palácio da Alvorada, com voz embargada porém decidida, “não dá mais”. A linha ficou muda por instantes. À sua frente, Dilma tinha o tracking (resultados de pesquisas qualitativas feitas com grupo de cidadãos selecionados) feito pela empresa que assessora o Palácio. Um baita resultado negativo. Os que assistiram à entrevista que se dizia “salvadora” e elucidativa do ministro na TV Globo não acreditaram em nada, ficou tudo pior para eles. Foi com base nessa pesquisa que Dilma decidiu tirar o subordinado.

Até terça-feira à noite, quando Palocci anunciava oficialmente sua saída através de uma nota oficial, muito aconteceu. O vice-presidente Michel Temer saiu bufando do gabinete da presidente ao saber por ela da troca de Palocci por Gleisi Hoffmann. Não fora consultado para nada. Do outro lado da linha numa ligação, Lula soltava seu desabafo incomodado, não gostara da indicação de Gleisi (por ele, Palocci ficava até o fim). Esses dois eventos deixaram claro o que muitos tinham em dúvida: Dilma manda ou não no seu governo. Agora, sim, manda, imprimi sua marca.

Dilma tomou uma decisão dura, para ela mesma. Palocci continuará rico, com um bom saldo na conta por suas consultorias, e em algum lugar do país. A Dilma, fica um grande vazio no Palácio do Planalto. Palocci era a sua base diária de percepção de poder e de política. Ela não fazia uma reunião sem a presença dele.

No dia da despedida oficial de Palocci, após palmas, Dilma soltou para um aliado: “Ai meu Deus, perdi meu Paloccinho”.

Mas o país ganhou. Pela moralidade. Por ora. Falta muito o que alcançar nesse quesito.

As sauvas do MEC e o atraso educacional do Brasil

No começo do século 20, Monteiro Lobato, fazendeiro e escritor, refletia sobre as agruras da agricultura brasileira, um setor atrasado no meio do atraso geral da economia nacional.
Ele concluiu que o problema eram as sauvas, as vorazes formigas que destruíam todas as colheitas, desde as sementes até as plantas maduras.
Cunhou-se então a famosa frase, desde muito tempo não mais ouvida:

Ou o Brasil acaba com as sauvas, ou as sauvas acabam com o Brasil.

Pois bem, a agricultura se modernizou e já não se ouve mais falar das sauvas. Pelo menos não na agricultura.
A razão é muito simples: elas se mudaram todas para o MEC.

Pois a frase atual deveria ser:

Ou o Brasil acaba com as sauvas do MEC, ou as sauvas do MEC acabam com a educação no Brasil.

Confesso que, com a ajuda das pedagogas freireanas, as sauvas do MEC estão conseguindo acabar com a educação no Brasil.
Segue um editorial do Estadão.
Paulo Roberto de Almeida

Nova trapalhada do MEC
Editorial - O Estado de S.Paulo
11 de junho de 2011

Menos de um mês depois da descoberta de que o Ministério da Educação (MEC) distribuiu na rede pública de ensino fundamental um livro de português da coleção Por uma vida melhor que defende a supremacia da linguagem oral sobre a linguagem escrita, admitindo que "é certo falar errado" e que corrigir erros é "preconceito", constatou-se que o órgão também entregou a 1,3 milhão de alunos livros de matemática da coleção Escola Ativa com erros primários em contas de subtração - além de vários problemas de revisão e muitas frases incompletas ou sem sentido. A coleção contém 35 volumes destinados a professores e alunos e pelo menos 5 livros ensinam que 10 menos 7 é igual a 4, que 18 menos 6 é igual a 6 e que 16 menos 7 é igual a 5.

Distribuídos em escolas da zona rural de 3.109 municípios, os 7 milhões de exemplares da coleção Escola Ativa - adquirida para prestar apoio às escolas rurais das Regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste - custaram cerca de R$ 13,6 milhões aos cofres públicos. Para apurar as responsabilidades e o montante exato dos prejuízos, pois os cinco livros terão de ser reimpressos e redistribuídos, o MEC abriu sindicância e pediu uma auditoria à Controladoria-Geral da União. O ministro Fernando Haddad tomou essa iniciativa depois que a reportagem do Estado solicitou informações sobre os graves problemas que vêm ocorrendo com as coleções compradas pelo Programa Nacional do Livro Didático.

Na sexta-feira da semana passada, os especialistas contratados pelo MEC concluíram que, em vez de publicar uma errata, como foi cogitado inicialmente, o órgão deveria recomendar aos professores que não utilizassem os cinco livros em sala de aula, tal a quantidade de "erros graves e grosseiros". No mesmo dia, a coleção Escola Ativa foi retirada da internet, "para correções", e o responsável por sua aquisição, no ano passado, André Lazaro, se demitiu do governo. Em 2010, ele dirigiu a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC (Secad) - e, desde a posse da presidente Dilma Rousseff, vinha atuando como secretário executivo da Secretaria Nacional de Direitos Humanos.

Para a cúpula do MEC, os erros nos cinco livros de matemática não decorreriam de má-fé, mas de inépcia administrativa e falha de revisão da Secad - o mesmo órgão que coordenou a produção do kit anti-homofobia vetado por Dilma. Na realidade, o problema parece ser o aparelhamento político da administração federal, com a substituição de técnicos especializados por "companheiros".

Desde a posse de Haddad, o MEC já se envolveu numa sucessão de trapalhadas administrativas. As mais graves aconteceram nas duas últimas edições do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Na edição de 2009, o vazamento das questões obrigou o MEC a adiar a prova, o que prejudicou o cronograma de muitas instituições universitárias, uma vez que os resultados do Enem contam pontos para os vestibulares. Na edição de 2010, houve problemas com a licitação para a escolha da gráfica, 21 mil cadernos de perguntas e o cabeçalho da folha de respostas foram impressos com erros, o sistema de informática do MEC não foi planejado para atender o número de candidatos inscritos e a Justiça Federal chegou a conceder liminares cancelando o exame, o que obrigou o governo a recorrer às pressas ao Tribunal Regional Federal, para não ter de adiá-lo.

Escrita por dez autoras, a coleção Escola Ativa foi criada em 1998, no governo Fernando Henrique, e vinha sendo distribuída anualmente, sem problemas. Em 2008, no segundo mandato do presidente Lula, o MEC decidiu revisá-la e atualizá-la, pedindo sugestões às autoras e deixando a parte executiva a cargo de uma equipe editorial formada por servidores da Secad. A coleção atualizada começou a ser distribuída entre fevereiro e março de 2011 e os erros primários nas contas de subtração em 5 dos 35 livros da coleção não foram detectados pelos revisores.

Essa é mais uma demonstração da incompetência reinante no MEC, por causa do aparelhamento político de seus quadros técnicos.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Deformacoes das politicas publicas: desemprego garantido...

Eu andava intrigado com algumas estatísticas deste governo: a despeito do crescimento do emprego, revelado por estatísticas desse área, havia um inexplicável aumento do volume de seguro-desemprego pago a "desempregados", segundo outras estatísticas.
Talvez a notícia abaixo ajude a explicar o mistério, a menos que seja, o que também é possível, fraude orquestrada por máfias sindicais, sempre ativas em qualquer tipo de empreendimento que envolva dinheiro público.
Enfim, já se sabia que programas generosos como o Bolsa-Família estava provocando deformações nos mercados laborais, com pessoas se recusando à formalização da relação trabalhista para continuar desfrutando da prebenda estatal, além de várias outras deformações causadas pelo subsídio oficial ao ócio e ao desemprego disfarçado.
Agora somos confrontados a isto.
Bem, quando existem estímulos errados, não se pode impedir as pessoas de serem "espertas"...
Como já disse alguém, as pessoas agem mediante estímulos; todo o resto é comentário...
Paulo Roberto de Almeida

PRA FRENTE, BRASIL! Para ter imóvel do “Minha Casa, Minha Vida”, pessoas pedem demissão para baixar renda e se enquadrar nos critérios do governo!
Por Julia Duailibi
Estado de S.Paulo, 10/06/2011

Beneficiários do programa Minha Casa, Minha Vida pedem demissão do trabalho para se enquadrar no limite de renda para adquirir um imóvel financiado pela Caixa Econômica Federal. Famílias que receberam ontem as chaves de seus apartamentos, em Blumenau (SC), disseram ao Estado que largaram o emprego para ter renda familiar de até R$ 1.395, teto estipulado pelo governo para obter o financiamento.

A presidente Dilma Rousseff esteve ontem na cidade para entregar 580 unidades do Minha Casa, Minha Vida, das quais 220 foram destinadas a pessoas que perderam suas moradias em 2008, quando parte do Estado foi devastada por fortes chuvas.

“Eu tive que sair do meu serviço para ter acesso a isso. Na assinatura do contrato, tive que sair do emprego”, afirmou Maria Janete da Silva, de 52 anos, que trabalhava havia 14 anos na Souza Cruz e assinou contrato com a Caixa no mês passado. Instalada numa moradia provisória, ela recebeu ontem as chaves do apartamento de 41,36 m², durante a cerimônia que contou com a participação de Dilma.

Janete contou que ganhava cerca de R$ 700 por mês atuando no controle de qualidade da empresa. Somando esse valor ao salário do marido, auxiliar de caminhoneiro, a renda superava o teto da Caixa. Ela optou pelo desligamento do emprego, pouco antes de apresentar a documentação ao banco.

“Se tivesse a carteira de trabalho, não conseguiria. A Caixa é bastante rigorosa”, disse Janete, que vive com dois netos e o marido no prédio de uma faculdade desativada, alugado pela prefeitura para abrigar 41 famílias - 14 receberam um imóvel ontem.

Pedir as contas. “Minha irmã também teve dificuldade. Ou separa o marido da mulher ou tem que pedir as contas do emprego”, disse Eliete Terezinha da Silva, de 36 anos, que também vive na moradia provisória. Desempregada, ela não conseguiu se enquadrar nos critérios da Caixa porque já tinha obtido financiamento para compra de um imóvel anterior.

Eliete disse que perdeu a casa nas chuvas de 2008 e que não tem condições financeiras de comprar outra. “Minha filha começou a trabalhar e ganha R$ 700. Se a outra começar a trabalhar, já passa o valor.”

Como comprar um carro por menos da metade do preço...

Enfim, vai ser preciso viajar à Bolívia, mas se você puder, o mercado vai estar favorável aos compradores de ocasião, prevendo-se inclusive um súbito e grande afluxo de novas ofertas. Pode até ser que comerciantes locais tomem nota das preferências do cliente e se apressem em satisfazê-las. Mas tem de ser rápido, pois a janela de oportunidade vai se fechar rapidamente...
Paulo Roberto de Almeida

Evo Morales vai legalizar todos os carros roubados que circulam na Bolívia e ainda espera arrecadar US$ 200 milhões!
Reinaldo Azevedo, 09/06/2011

Desde o governo do golpista Luiz Garcia Meza, que ficou apenas um ano no poder, no começo da década de 80, a Bolívia não tinha um governo abertamente criminoso. Mas eis que chegou Evo Morales, o querido companheiro de Lula, aquele com quem ele já dividiu palanque e guirlanda de folhas de coca. À Bolívia, o Brasil já deu uma refinaria da Petrobras de presente e financiamento do BNDES para fazer uma estrada que só serve ao transporte de… folhas de coca. Oitenta por cento da cocaína consumida no Bananão vem daquele país. Mas, vocês sabem, seguimos a máxima de Chico Jabuti Alheio: procuramos falar grosso com os EUA e fino com os bolivianos.

Ontem, Dilma anunciou um plano de proteção às fronteiras. É puro factóide. Foi só uma cascata para tentar responder a uma série de reportagens do Jornal Nacional. Do outro lado da linha, na Bolívia, “meu querido Evo” (como Lula chama aquele índio de araque) também agiu: ele sancionou uma lei aprovada por sua turma no Parlamento que, ATENÇÃO!, LEGALIZA TODOS OS CARROS ROUBADOS QUE CIRCULAM NO PAÍS. Noventa por centro deles têm origem no Chile e no Brasil. A maioria vai para Yungas e Chapare, zonas de produção de coca.

Não pensem que Evo é do tipo que não explica as suas medidas. Ele expôs o alcance social da decisão: são carros comprados pelas pessoas pobres por serem mais baratos! Faz ou não faz sentido? E ainda sentenciou: “Todos temos direito de ter nosso carro”.

Severo, o falso índio avisou: “A partir de hoje, os que tiverem carros sem documentos devem apenas registrá-los, num prazo de 15 dias; depois disso, não vamos perdoar”. Uau!!! O governo vai cobrar pela legalização. Esperto, este monumento moral pretende arrecadar uns US$ 200 milhões com taxas. O governo do Chile já decidiu reforçar a vigilância em áreas de fronteira. Vale dizer: cuidem-se, brasileiros! A menos que vocês confiem na competência de José Eduardo Cardozo!

É evidente que uma delinqüência dessa natureza mereceria um protesto formal do Brasil na OEA e naquela porcaria chamada Unasur… Nada vai acontecer. O Brasil compreende os irmãos mais pobres e lhes entrega o patrimonio dos brasileiros.

STF metendo os pes pelos pes (e ficando deitado...)

Acho que o Estadão foi até leniente com o STF e seus juízes (não todos, mas a maioria, claro).

O STF e a libertação de Battisti
Editorial - O Estado de S.Paulo
10 de junho de 2011

Ao rejeitar o recurso impetrado pelo governo italiano contra a decisão do presidente Lula de não extraditar o ex-ativista Cesare Battisti, tomada no último dia de seu governo, o Supremo Tribunal Federal (STF) encerrou - em sessão tumultuada - um caso que começou como um problema político, evoluiu gerando tensões diplomáticas e culminou com interpretações polêmicas de conceitos jurídicos tradicionais. O julgamento foi marcado por acaloradas discussões entre os ministros Joaquim Barbosa e Luiz Fux e o relator Gilmar Mendes e terminou em bate-boca depois que este último afirmou que os colegas favoráveis à libertação de Battisti estavam ignorando a Constituição, reduzindo o papel do STF a "uma atividade lítero-poético-recreativa".

O caso começou em 2008 quando o então ministro da Justiça, Tarso Genro, contrariando parecer da Procuradoria-Geral da República e decisão do Comitê Nacional para os Refugiados, concedeu a Battisti o status de refugiado político, evitando com isso sua extradição. Battisti fez parte de um grupo terrorista de esquerda, nos anos 70, fugiu para a França e, depois, para o Brasil. Julgado à revelia, foi condenado pela Justiça italiana à prisão perpétua por participação em quatro assassinatos. Ele negou a autoria dos crimes e disse que sofreu perseguição política.

Classificando a iniciativa de Genro como "grave e ofensiva", o Ministério de Assuntos Estrangeiros da Itália acusou o Brasil de não cumprir o tratado de extradição firmado com a Itália em 1989 e recorreu ao Supremo. Em vez de dar uma solução clara e objetiva ao caso, a Corte tomou uma decisão ambígua, autorizando a extradição, mas deixando a última palavra para o presidente da República.

Alegando que essa decisão era confusa, o governo italiano entrou com pedido de esclarecimento, perguntando ao STF se Lula teria liberdade total para dar a "última palavra". O então relator do processo, ministro Eros Grau, admitiu que os poderes de Lula não eram "discricionários" e que ele não poderia ignorar o tratado de extradição. Pressionado pelo ministro da Justiça, por um lado, e pelo governo da Itália, por outro, o presidente Lula deixou claro que concederia asilo a Battisti, mas adiou a decisão ao máximo e solicitou à Advocacia-Geral da União um parecer que fundamentasse sua decisão. Cumprindo a determinação, o órgão preparou um parecer político, com roupagem jurídica, dando a Lula as justificativas "técnicas" de que precisava para decidir pela permanência de Battisti no Brasil, com o status de imigrante. Isso levou a chancelaria italiana a entrar com o recurso que acaba de ser negado pelo Supremo, por 6 votos a 3. O julgamento encerrou o caso na Justiça brasileira, mas o imbróglio jurídico, político e diplomático vai continuar, pois a Itália já anunciou que levará o caso para a Corte Internacional de Justiça, em Haia.

A decisão do Supremo causou perplexidade por dois motivos. O primeiro é de caráter político. Os advogados de Battisti alegaram que ele sofreria risco de "discriminação e perseguição política", caso fosse extraditado. Seis ministros da Corte acolheram o argumento, esquecendo-se de que a Itália vive há mais de seis décadas em plena normalidade política e constitucional. O segundo motivo é de caráter jurídico. Os mesmos ministros alegaram que a extradição é "ato de soberania nacional e de política externa, conduzida pelo chefe do Executivo". Com isso, eles consagraram o desrespeito flagrante ao tratado de extradição que o Brasil firmou, soberanamente, com a Itália, há 22 anos.

Em vez de agir como Corte constitucional, como é seu papel, o Supremo infelizmente se deixou levar por pressões políticas. Elas foram tão fortes que um dos ministros que votaram a favor da extradição de Battisti, em 2009, mudou de opinião, no julgamento da quarta-feira. Ao longo de sua história, o Supremo deu importantes contribuições para o prevalecimento do Estado de Direito e para a segurança jurídica. Infelizmente, a Corte não se inspirou nessas contribuições, no julgamento de Cesare Battisti.

Da coluna de Dora Kramer (parte):

Battisti. O Supremo decidiu, está decidido. Mas, desta vez, equívocos em série podem levar o Brasil ao Tribunal Internacional de Haia por alegação do governo italiano de descumprimento do tratado de extradição entre os dois países, na decisão do então presidente Lula de não mandar Cesare Battisti de volta ao país que o condenou à prisão perpétua por quatro assassinatos.

Equívocos iniciados com a decisão do então ministro da Justiça, Tarso Genro, de contrariar parecer de órgão técnico de sua pasta pela extradição; continuados com a transferência da palavra final a Lula pelo Supremo apesar de sentença favorável à exigência da Itália; culminados com o veredicto presidencial baseado na suposição de que a Itália não seja um Estado de pleno Direito.

Resultado: depois da bizarra mediação de acordo com o Irã, eis o Brasil de novo exposto desnecessariamente ao risco do constrangimento internacional.

Guardando os ovos (literalmente)

Dilma não recebe iraniana Nobel da Paz, e esta se nega a fala com assessor
Por Flávia Foreque
Folha de S.Paulo, 10/06/2011

De passagem por Brasília, a ativista de direitos humanos iraniana e Nobel da Paz (2003) Shirin Ebadi, 63, recusou ser recebida ontem no Palácio do Planalto por Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência para assuntos internacionais. Ebadi tentou, mas não conseguiu uma audiência pública com a presidente Dilma Rousseff, mas foi informada de que Garcia estaria disposto a encontrá-la. “Ela veio a Brasília para encontrar Dilma Rousseff e se sentiu muito mal com a recusa. Ela entendeu que a recusa foi [resultado de] uma pressão do governo iraniano”, disse Flavio Rassekh, coordenador da visita de Ebadi no Brasil. O Planalto alegou que não faz parte da agenda da presidente receber personalidades que não sejam chefes de Estado e de governo. Numa tentativa de dirimir o mal-estar provocado pelo episódio, a ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) enviou carta para Ebadi reforçando o apoio da presidente à causa dos direitos humanos.
“Aproveito para manifestar o perene compromisso do Estado brasileiro com a defesa e a proteção da vida humana e a contrariedade às penas de morte cruéis ou degradantes”, afirma trecho da carta.

O texto prossegue: “Nesta batalha por um mundo mais justo, sem sombra de dúvidas, a senhora, a presidenta Dilma Rousseff e o Estado brasileiro se encontram no mesmo lado, no lado dos direitos humanos”. Rosário disse ainda estar disposta a “regressar de pronto” para encontrar a ativista em Brasília-a ministra passou o dia no Pará, em compromissos sobre o tema da violência no campo. Em audiência no Congresso Nacional, Ebadi pediu o apoio do Brasil à causa dos direitos humanos na Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), em Nova York. “Nós vamos ter uma sessão da ONU em setembro, onde o assunto do Irã será discutido novamente. E eu quero de vocês, os bons representantes do povo do Brasil, e da respeitada presidente do país, que com seus votos mostrem o compromisso com os direitos humanos e fiquem ao lado do povo do Irã”, disse ela.

Pisando em ovos... (mesmo quebrados e esmagados...)

Hesitação do Brasil em apoiar sanções contra a Síria na ONU irrita potências
Por Gustavo Chacra
Blog no Estadão, 10/06/2011

O sinal de que o Brasil não deve apoiar a resolução contra o regime sírio de Bashar Assad no Conselho de Segurança das Nações Unidas irritou EUA, França, Grã-Bretanha e Alemanha. Diplomatas desses países disseram estar decepcionados com a posição brasileira de não votar a favor do texto que condena o governo sírio pela onda de repressão a opositores que já deixou mais de mil mortos.

Essa posição em relação ao Brasil foi informada ao Estado horas depois de o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, ter afirmado em entrevista na ONU que “a Síria é um país central quando se leva em conta a estabilidade no Oriente Médio”. “A última coisa que gostaríamos é contribuir para exacerbar as tensões no que pode ser considerada uma das regiões mais tensas de todo o mundo”, disse o ministro.

O chanceler evitou revelar o voto brasileiro, dizendo que o governo “seguirá monitorando a situação antes de adotar uma posição”. Mas, para os países defensores da resolução, levando em conta as consultas na tarde de ontem, há sinais de que o Brasil não votará a favor.

Um diplomata ocidental disse ontem que “a sensação é de incompreensão com a posição do Brasil”. “Conhecemos os valores democráticos dos brasileiros e esperávamos que eles se colocassem a favor da resolução. Tivemos a preocupação até mesmo de não colocar no texto nenhum trecho que pudesse dar chance para uma intervenção externa na Síria. Pedimos apenas reformas lideradas pelos próprios sírios, libertação dos prisioneiros e o fim da violência contra os opositores. Mas parece não ter sido suficiente para convencer os brasileiros”.

A resolução proposta por Grã-Bretanha, França, Alemanha e Portugal, com o apoio dos EUA, é bem mais branda do que as duas aprovadas contra o regime de Muamar Kadafi, na Líbia. Na primeira delas, que impôs sanções ao líder sírio, o Brasil votou a favor. Na segunda, que estabeleceu uma zona de exclusão aérea, os brasileiros se abstiveram - ao lado de China, Índia, Rússia e Alemanha.

Além dos brasileiros, apenas China, Rússia e Líbano já se manifestaram contra a resolução. A Índia também tende a seguir o caminho dos outros três membros dos Brics. A posição da África do Sul ainda é incerta.

Mesmo sem o apoio destes seis países, a resolução, ainda sem data para ser votada, poderia ser aprovada com os nove votos a favor, que é o mínimo necessário. O risco seria a Rússia e a China usarem o poder de veto para impedir a aplicação do texto. Os dois países são parceiros comerciais de Damasco e os russos mantêm relações políticas próximas com o regime dos Assads há décadas. O porto de Latakia, na costa síria, é o principal entreposto de Moscou no Mar Mediterrâneo.

Candidata dos antiglobalizadores ao FMI: todo o meu apoio

Não existem pessoas mais adequadas, ou talvez mais necessitadas, de contato com as perversas organizações capitalistas do que os antiglobalizadores, que são especialmente néscios nessas coisas de mercados, especulação, derivativos cambiais e outras patifarias capitalistas.
Por isso mesmo eu apoio a candidata da ATTAC, a mais antiglobalizadora das organizações altermundialistas -- como eles gostam de se chamar a si mesmos -- da França, o país mais antiglobalizador do planeta (descontando, claro, um bando de antiglobalizadores bolivarianos espalhados por ai).
Reproduzo o apelo patético do pessoal da ATTAC para que o governo francês apresente, junto com a candidatura de sua ministra da Economia, o que poderíamos chamar de anticandidatura dos antiglobalizadores.
Não vou telefonar a Bercy, tanto porque eu precisaria pagar uma ligação internacional para uma chamada que seria chamada, propriamente, de ridícula, mas registro aqui, de todo modo, minha solidariedade com esses antiglobalizadores românticos e equivocados...

Soutenez la candidature d'Attac au FMI en appelant Bercy

Aujourd'hui, 10 juin, est le dernier jour pour que les gouverneurs du FMI fassent connaître leurs candidats à la succession de Dominique Strauss-Kahn. Attac France présente sa Co-présidente, Aurélie Trouvé, qui a reçu le soutien de dizaines de milliers de personnes et organisations en à peine 48h. Pour officialiser la candidature, Attac a envoyé hier une lettre ouverte à Christine Lagarde, gouverneur du FMI.

Pour appuyer cette candidature en ce jour crucial, nous vous demandons d'appeler massivement le Ministère de l'économie et des finances toute la journée pour :
exprimer votre soutien à la candidature d'Aurélie Trouvé au FMI.
demander des éclaircissements sur la position que tiendra la France puisque deux candidates françaises se sont déclarées.
interpeller sur l'opacité du processus de nomination, à la totale discrétion d'experts non élus, en France comme à Washington.
demander des explications sur le financement des nombreux déplacements de Christine Lagarde qui voyage à nos frais pour présenter sa candidature partout dans le monde.

Numéros à appeler :

Ministère de l'Économie, des Finances et de l'Industrie :
tél.: 01 40 04 04 04
courriel : dircom-cnt@dircom.finances.gouv.fr

Ministère du Budget, des Comptes publics et de la Réforme de l'État :
tél.: 01 44 87 17 17
courriel : dircom-cnt@finances.gouv.fr

Attac France, le 10 juin 2011

Pour en savoir plus : http://www.france.attac.org/dossiers/un-nouveau-fmi

Pastoral da Terra: um hino a natureza (segundo alguns)

Confesso não entender muito de agricultura: sou um cidadão urbano, por vocação, e não costumo exibir nenhum apelo telúrico, nenhuma nostalgia daquela vida bucólica, em que meus ancestrais se debatiam, nos campos e florestas do Brasil.
Bem, mas sei reconhecer a lógica, a economia, a simples realidade material.
O Código Florestal tem, sim, de organizar terras de ocupação humana e algumas de preservação. Tenho a impressão que o pessoal preservanionista está exagerando.
Pelo menos é o que diz alguém que sabe fazer contas e foi conferir os números.
Paulo Roberto de Almeida

Basta! Chegou a hora da luta armada! Eis aqui a melhor pistola contra a boçalidade!
Reinaldo Azevedo, 9/06/2011

Qualquer número sobre a ocupação de terras que as ONGs ricamente financiadas vendam nas redações vão parar em jornais, revistas e sites. Eis que o Ipea entrou na jogada para colaborar com a mistificação. A Folha de hoje divulga (ver dados abaixo) os seguintes números: os imóveis rurais ocupariam hoje 571,7 milhões de hectares, e o passivo ambiental seria de 159,3 milhões. Bem, se fosse assim, isso significaria que os celerados quereriam destruir 28% da área plantada ou com pastagens. Ocorre que a situação é muito pior. Vejam esta tabela. Volto em seguida.
(imagem também neste link)
Os dados referentes à agropecuária são do Censo Agropecuário de 2006, do IBGE. As outras fontes estão ali especificadas.

Atenção: a agropecuária mais competitiva do mundo ocupa apenas 329.941.393 dos 851 milhões de hectares do Brasil — ou 38,8%. Mas atenção: dentro desses quase 330 milhões de hectares, 98.479.628 (30%) são matas e florestas, que compõem as Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal. Isso significa que sobram para a atividade agroindustrial 231.461.765 milhões de hectares — ou 27% do total.

Sendo assim, queridos, se o passivo ambiental brasileiro é, como dizem os ongueiros verdes, de 159,3 milhões de hectares, então será preciso entregar ao mato 69% da área atualmente destinada à agricultura e pastagem. Restariam para produzir comida 72.161.765 hectares, ou 8% do território brasileiro.

Voltem ao quadro. Fosse como querem os dementes, a agropecuária ficaria com 8% do território, mas as unidades de conservação federais, estaduais e municipais ocupariam quase o dobro: 14,4%. Os índios, que compõem menos de 0,5% da população, têm reservas que somam 12,6% do território. E há quem queira aumentá-las.

Eis aí: essa é a loucura brasileira. Tirem cópia desta tabela. Andem com ela no bolso. Usem como arma — a informação — contra a boçalidade!