O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

sexta-feira, 25 de maio de 2012

O Brasil e o trabalho escravo - Atlas digital publicado

O Brasil, e isso não é um título de glória, é o mais antigo "cliente" da mais antiga ONG existente no mundo, a Anti-Slavery Society. Acredito que não deva ter existido um só ano, desde o início do século XIX, quando essa sociedade inglesa foi criada, em que o Brasil não deva ter comparecido nas páginas dos relatórios anuais da ASS, na condição de acusado.
É triste, mas é assim...
Por isso devemos saudar a publicação de um Atlas do trabalho escravo no Brasil, para que talvez um dia (mas vai demorar, reconheço), o Brasil deixe de ser "cliente" da ONG inglesa, na condição de acusado...
Um dia eu também gostaria de fazer um Atlas de Relações Internacionais com meus bons amigos Hervé Thery e Neli Aparecida de Mello, se eles me derem esse privilégio.
Paulo Roberto de Almeida 


Geógrafo produz atlas do trabalho escravo
Jornal da Ciência edição 4504, 24/05/2012

Perfil típico é de homens, migrantes e analfabetos usados para atividades de desmatamento.

Eduardo Paulon Girardi, professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Presidente Prudente, é um dos geógrafos autores do Atlas do Trabalho Escravo no Brasil. Escrito juntamente com Hervé Théry, Neli Aparecida de Mello e Julio Hato, da Universidade de São Paulo (USP), o material caracteriza pela primeira vez a distribuição, os fluxos, as modalidades e os usos do trabalho escravo no País, nas escalas municipal, estadual e regional.

Segundo o Atlas, o perfil típico do escravo brasileiro do século XXI é um migrante maranhense, do Norte do Tocantins ou do Oeste do Piauí. Também é típico que seja do sexo masculino e analfabeto funcional. Em geral esses trabalhadores são levados para as fronteiras móveis da Amazônia, em municípios de criação recente, onde são utilizados principalmente em atividades vinculadas ao desmatamento.

A obra utiliza fontes oficiais e consolidadas do Ministério do Trabalho e da Comissão Pastoral da Terra e detalha as ocorrências por setores da economia e em todo o território nacional. Atividades relacionadas com pecuária ou carvão vegetal, em certas regiões da Amazônia, estão entre os exemplos de risco muito alto de existência de trabalho escravo.

Além do diagnóstico, o Atlas oferece dois outros produto: o Índice de Probabilidade de Trabalho Escravo e o Índice de Vulnerabilidade ao Aliciamento. De acordo com o autor, essas são ferramentas inovadoras e essenciais para gestores de políticas públicas e que podem contribuir expressivamente para o planejamento governamental no combate a essa prática criminosa que ainda é adotada no Brasil. Ele destaca também que, com esses dados, financiadores e empresas podem evitar associações com empresários ligados ao trabalho escravo.

O livro está disponível somente em versão digital no endereço http://migre.me/9bewu. Ele foi lançado pela organização Amigos da Terra - Amazônia Brasileira.

PEC do trabalho escravo - Nesta semana, a Câmara dos Deputados aprovou em Plenário a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 438/01, do Senado, que permite a expropriação de imóveis rurais e urbanos onde a fiscalização encontrar exploração de trabalho escravo. Esses imóveis serão destinados à reforma agrária ou a programas de habitação popular.

Segundo o Código Penal (Decreto-Lei 2.848/40), quem explora trabalho escravo já está sujeito a reclusão de dois a oito anos e multa, além da pena correspondente à violência praticada. A pena é aumentada da metade se o crime é cometido contra criança ou adolescente ou por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem.

De acordo com o presidente da Câmara, o deputado Marco Maia (PT-RS), nos próximos dias será criada uma comissão mista de cinco senadores e cinco deputados para discutir a elaboração de um projeto de lei que regulamente a PEC. Para Marco Maia, é preciso fazer uma diferenciação entre o que é trabalho escravo e o que é desrespeito à legislação trabalhista.

O Código Penal define assim o crime de trabalho escravo: "Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto" (artigo 149).

O PL 3842/12 retira os termos "jornada exaustiva", "condições degradantes de trabalho" e "preposto" (o chamado gato) e inclui a necessidade de ameaça, coação e violência para a caracterização do trabalho escravo.

(Informações da Unesp e da Agência Câmara  

O fantasma da desindustrializacao - Alexandre de Freitas Barbosa

O problema de muitos artigos acadêmicos -- e o que vai abaixo, reconheço, é de melhor qualidade do que a média -- é que seus autores vivem num mundo que não existe, naquele em que basta ter um bom "projeto nacional" -- e ninguem, NUNCA, disse como chegar lá, se pelos tecnocratas do Executivo, no Congresso Nacional, numa assembleia de acadêmicos, ou uma mistura disso tudo -- que seja aceito por algum Príncipe consciente, educado (digamos, um Bismarck progressista), que possa não só fazer desse projeto nacional seu programa de governo, mas que disponha sobretudo de meios para implementá-lo, e isso independentemente dos orçamentos, das demais condições institucionais, dos acordos internacionais, do ambiente geral, interno e externo do país e de sua economia. Ou seja, é um mundo regido pela vontade e pela representação -- com minhas desculpas a Schopenhauer -- no qual a visão esclarecida de alguns acadêmicos consegue transformar a realidade por alguma varinha mágica ultra-eficiente e sobretudo rápida.
O artigo até faz um diagnóstico razoável dos problemas brasileiros. Seu único, e ENORME problema, é que parte do pressuposto que o Estado, esse ente formidável que tudo pode e tudo faz, pode orientar processos sociais de tal magnitude como o perfil e a substância da industrialização brasileira, e quase não há espaço, nesse esquema, para as forças de mercado, ou seja, para os processos reais.
Que tal se o Estado criasse as condições de base para que os industriais trabalhassem sem as travas -- tributárias, burocráticas, corruptoras, subvencionistas deformadas -- que existem hoje?
Que tal se, por uma vez, o Estado deixasse de ser o demiurgo que tudo sabe e tudo pode e deixasse o Brasil se aproximar das forças e tendências normais de mercado, em direção de suas vantagens comparativas?
Quem sabe um dia o Brasil vai ser um país livre do fascismo econômico, que também existe sob a forma mental dos acadêmicos que tudo sabem e tudo recomendam?
Paulo Roberto de Almeida  



A cortina de fumaça da "desindustrialização"
Alexandre de Freitas Barbosa
Valor Econômico, 24/05/2012

Alexandre de Freitas Barbosa é professor de História Econômica e Economia Brasileira do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB/USP). 

O debate a respeito da desindustrialização dá a sensação de que uma nova peste assola o País. A discussão vai se enredando num cipoal de dados e conceitos de desnortear. Cada qual vê a "desindustrialização" que quer, como se uma cortina de fumaça ocultasse o real e seus processos dinâmicos, muitas vezes inacessíveis a olho nu. De modo a colocar os pingos nos "is" e retomar a credibilidade do debate, não custa recorrer à história econômica brasileira e a alguns pressupostos teóricos mínimos.

O Brasil passou por um processo de industrialização entre 1930 e 1980. Antes de 1930, tínhamos crescimento de indústrias. O motor da economia estava na demanda externa, que nutria as nossas exportações de produtos primários, especialmente o café. A industrialização viabilizou o deslocamento do eixo dinâmico da economia, na feliz expressão de Celso Furtado. A economia avançava agora por meio das transformações geradas pela indústria, como explicitou a professora Maria da Conceição Tavares. Apesar de todas as distorções, o Brasil foi um dos poucos países da periferia capitalista que experimentaram uma autêntica mutação industrial, nos termos de Antônio Barros de Castro.

Esses ensinamentos devem ser levados em consideração se quisermos entender como do passado emergiu o presente e quais as oportunidades o futuro reserva para a indústria brasileira no novo quadro internacional.

Em termos bastante sintéticos, nos anos 80, a indústria manteve-se congelada, mas perdeu produtividade, tanto pelo fechamento forçado da economia para gerar superávits comerciais num contexto de estagnação, como também pelas transformações tecnológicas gestadas lá fora.

Nos anos 90, a indústria modernizou-se, apesar de ter se enfraquecido, perdendo elos da cadeia produtiva e eliminando empregos, em virtude de um regime macroeconômico que, além de profundamente instável, aguçava a pressão competitiva. Foi então que passou a circular pela primeira vez o fantasma da desindustrialização. Os neoliberais a defendiam: a industrialização havia ido longe demais. A esquerda não tinha dúvida: o Brasil se desindustrializara, tendo perdido o bonde da história.

Durante os anos 2000, o quadro mudou sobremaneira. O Brasil voltou a crescer e o regime macroeconômico - facilitado pelo ambiente externo, e pelas medidas de estímulo à demanda interna - permitiu que o produto e o emprego industriais se expandissem de maneira relevante, bem acima dos anos 90. Entretanto, mais precisamente no ano de 2011, o Produto Interno Bruto (PIB) total passou a crescer bem à frente do industrial, que inclusive se mostrou estagnado no ano passado.

Desde então, dois diagnósticos prevalecem. Muitos economistas situados à esquerda condenam a desindustrialização, tomando-a como um fato indiscutível. O País estaria matando a possibilidade de agregar progresso técnico e transformando-se numa grande fazenda exportadora. Desindustrialização rima com primarização.

Já os neoliberais - agora eles estão divididos - repartem-se em dois grupos. Uns encaram a desindustrialização como uma tendência de toda economia em estágio de maturidade. Outros admitem que há um problema industrial, que se deve à nossa reduzida competitividade, causada pelos impostos e salários, e à precária qualificação da força de trabalho, eterna culpada pela baixa produtividade.

Sugere-se aqui uma hipótese alternativa: o problema parece residir na (in)capacidade de se engendrar uma nova interação entre a indústria de transformação - que soubemos construir e manter a duras penas, deixando, entretanto, que algumas importantes rachaduras se instalassem - e a dinâmica econômica. Esta é, por sua vez, afetada pela nova realidade global em termos conjunturais (leia-se guerra cambial) e estruturais (ascensão chinesa com industrialização integral e competitiva a partir de cadeias produtivas fortes).

O baixo crescimento recente tem a ver com o fato de que o regime macroeconômico, neste novo contexto, deixou de trazer a expansão quantitativa e qualitativa da indústria. O conjunto de medidas adotadas pelo governo procura ajustar este regime, de modo a contemplar maior espaço para a produção industrial interna, sem o que será impossível chegar a uma taxa de investimento superior a 20%.

Ao contrário, supor que devamos celebrar a melhoria nos termos de intercâmbio trazida pela China, modernizando apenas a indústria que se mostrar competitiva, significa ocultar interesses escusos que não querem perder com a mudança de enfoque da política econômica.

No atual contexto, a indústria não precisa mais correr à frente do PIB, como acontecia durante a industrialização. Mas ela deve ser remodelada a partir de uma nova orquestração entre Estado, setor privado nacional e capital transnacional, que defina as suas frentes de expansão. Trata-se de decidir "a indústria que queremos e podemos ter", mantendo um núcleo duro capaz de gerar encadeamentos produtivos e de incorporar progresso técnico; e que possa se aproveitar do dinamismo dos setores de serviços, infraestrutura, construção civil e agrícola, expandindo o seu potencial de acumulação e da economia como um todo.

Vivemos, de fato, uma transição estrutural, que, no limite, pode acarretar o esvaziamento da nossa estrutura industrial, caso esta perca musculatura e capacidade para acompanhar o movimento da demanda interna e de ocupar novos nichos nos mercados internacionais. Mas é cedo demais para entregar os pontos.

Se quisermos alterar o nosso padrão de desenvolvimento, no sentido de ampliação da produtividade e de redução da desigualdade, uma indústria forte e competitiva - apontando para os setores de fronteira tecnológica e mantendo os setores intensivos em trabalho e recursos naturais - torna-se fundamental.

Não se trata de tarefa fácil, capaz de ser enfrentada apenas com ações de curto prazo e reuniões do governo com os setores organizados. Falta projeto nacional, que pense a indústria para além da indústria.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Da extrema miseria humana: no Afeganistao do taliban

Quando as forças ocidentais se tiverem retirado do Afeganistão (elas terão de fazê-lo algum dia, cansadas de ver soldados morrerem inutilmente), e o país tiver sido novamente "normalizado" pelos soldados talibãs, os aliados dos ocidentais terão de partir junto ou enfrentar a morte.
O país, mesmo que não volte a ser o refúgio e quartel-general da Al Quaeda, se tornará, inevitavelmente um maior produtor de ópio do que já é, atualmente. Mas, ele será também, provavelmente, o lugar mais miserável do mundo para as mulheres, como se pode ver pela amostra abaixo.
Quem vai salvar as mulheres do Afeganistão? Provavelmente ninguém...
Existe maior miséria humana do que essa?
Paulo Roberto de Almeida 

Más de 120 afganas envenenadas para evitar que reciban educación

Reuters – 23/05/2012
Niñas y niños en una clase en Afganistán. | Roberto Benito Leborans
Más de 120 alumnas y tres profesores han sido envenenados en el segundo ataque en dos meses atribuido a los radicales conservadores en el norte del país, según han declarado la policía afgana y funcionarios de educación.
El ataque se produjo en la provincia de Takhar, donde según la policía, los radicales se oponen a la educación de las mujeres y las niñas. Utilizaron un polvo tóxico no identificado para contaminar el aire en las aulas, lo que ocasionó que decenas de estudiantes quedaran inconscientes.
La agencia de inteligencia de Afganistán, la Dirección Nacional de Seguridad (NDS), ha dicho que los talibán parecen empeñados en cerrar las escuelas antes de la retirada en 2014 de las tropas de combate extranjeras.
“Una parte de la operación ofensiva de Al Faruq tiene por objetivo [...] cerrar las escuelas. El envenenamiento de niñas genera miedo. Ellos tratan de hacer que las familias no envíen a sus hijos a la escuela”, declaró el portavoz del NDS Lutfullah Mashal.
EL Ministerio de Educación de Afganistán ha asegurado que 550 escuelas en 11 provincias han cerrado por culpa de los insurgentes, sobre todo donde los talibán tienen un fuerte apoyo.
El mes pasado, 150 escolares fueron envenenadas en la provincia de Takhar después de haber bebido agua contaminada. Desde el año 2001, cuando los talibanes fueron expulsados del poder por Estados Unidos y las fuerzas afganas, las mujeres han vuelto a las escuelas, especialmente en la capital, Kabul.
Pero todavía hay ataques periódicos contra los estudiantes, maestros y centros escolares, por lo general en la parte más conservadora del país, al sur y al este, donde la insurgencia talibán tiene el mayor apoyo.

O fascismo em construcao... na Argentina (mas vai dar ideias aos companheiros)

Não temos, nem de longe, a disposição para retornos significativos em direção ao fascismo como parece ter a Argentina, mas não faltaria disposição aos companheiros para fazer a mesma coisa, se pudessem.
Eles devem lamentar que nossa sociedade seja tão refratária a esse tipo de violência "democrática" que eles recomendariam também no caso brasileiro. 
O artigo, obviamente, é enviesado. Esse órgão a soldo do fascismo tupiniquim, que é o Carta Maior, ficaria encantado se o Brasil seguisse o mesmo caminho...
Que glória dividir, esquartejar, diminuir esses entes monopolistas pertencentes ao PIG (o fantasmático Partido da Imprensa Golpista) que são o grupo Globo, o conglomerado Abril, esse asqueroso Estadão...
Paulo Roberto de Almeida 

Justiça determina a "desmonopolização" do Grupo Clarín
A Suprema Corte argentina determinou que o Grupo Clarín tem até o dia 7 de dezembro de 2012 para "desinvestir" em seu conglomerado midiático. O Clarín havia apresentado uma medida cautelar no dia 1º de outubro de 2009 sobre o artigo 161 da Lei de democratização de meios de comunicação, que estabelece “a obrigatoriedade de desinvestir para aqueles grupos que superam o limite da regulação legal”.
Francisco Luque - Buenos Aires

Buenos Aires - Depois de três anos de debate, a Suprema Corte argentina determinou que o Grupo Clarín tem até o dia sete de dezembro de 2012 para "desinvestir" em seu conglomerado midiático. O Clarín havia apresentado uma medida cautelar no dia 1º de outubro de 2009 sobre o artigo 161 da Lei de democratização de meios de comunicação, que estabelece “a obrigatoriedade de desinvestir para aqueles grupos que superam o limite da regulação legal”.

Por decisão unânime, o Tribunal se pronunciou no processo "Grupo Clarín SA e outros sobre medidas cautelares”, afirmando que “as medidas cautelares são resoluções jurisdicionais precárias e não podem substituir a solução de fundo porque afetam a segurança jurídica”. Ainda que a demanda do Grupo Clarín tenha se enquadrado no marco do direito de defesa da competição, o Grupo também esgrimiu razões de proteção à liberdade de expressão. Neste sentido, a sentença sustenta que a Corte foi muito clara e consistente em seu reconhecimento ao longo de uma extensa e importante jurisprudência. Entretanto, no processo “não há mais que uma menção ao tema” – liberdade de expressão -, já que a parte autora – Clarín - “não acrescentou nenhum elemento probatório que demonstre de que maneira resultaria afetada essa liberdade”.

Textualmente, o artigo da Lei de Meios de Comunicação afirma que "os titulares de licenças dos serviços e registros regulados por esta lei, que na data de sua sanção não reúnam ou não cumpram os requisitos previstos pela mesma, ou as pessoas jurídicas que, no momento de entrada em vigor desta lei fossem titulares de uma quantidade maior de licenças, ou com uma composição societária diferente da permitida, deverão ajustar-se às disposições da presente em um prazo não maior que um (1) ano de que a autoridade de aplicação estabeleça os mecanismos de transição".

Os juízes Ricardo Lorenzetti, Elena Highton, Carlos Fayt, Juan Carlos Maqueda, Raúl Zaffaroni e Enrique Petracchi avaliaram, através de sua resolução, que o prazo de 36 meses “resulta razoável para a vigência da medida cautelar e se ajusta aos tempos que tarda a via processual tentada”.

No dia 1º de outubro de 2009, o Clarín solicitou que se ditasse uma medida de “não inovar” para suspender o tratamento legislativo da Lei de Medios. O pedido foi indeferido pela justiça civil e comercial federal. Em outubro de 2010, em uma decisão unânime, a Corte confirmou a medida cautelar.

A Corte Suprema afirmou em sua sentença que “quando as cautelares se tornam ordinárias e substituem a sentença definitiva, se cria um direito precário, o que constitui uma lesão ao objetivo de afiançar a justiça, garantido no próprio Preâmbulo da Constituição Nacional”.

A Autoridade Federal de Serviços de Comunicação Audiovisual (AFSCA) celebrou a decisão e afirmou que "a resolução garante a segurança jurídica e a equidade para todas as partes, de um modo compatível com o interesse geral e a propriedade privada, na medida em que, anteriormente e por via de regulamentação, a AFSCA já havia prorrogado o prazo até o dia 28 de dezembro de 2011 para o resto dos grupos do setor". 

“A Corte Suprema considerou que a questão litigiosa fica circunscrita ao campo do estritamente patrimonial afirmando que, em função dos elementos probatórios, a norma em questão não afeta a liberdade de expressão". Também afirmou que “em todo o direito comparado existem normas de regulação do mercado dos meios de comunicação sem que sua constitucionalidade tenha sido questionada". 

A Lei de democratização de meios de comunicação foi aprovada no dia 10 de outubro de 2009, com 44 votos a favor e 24 contra. Consta de 165 artigos e o eixo central está colocado nos seguintes pontos:

- O desinvestimento (ou desmonopolização). O artigo 161 obriga as empresas de radiodifusão a vender, no prazo de um ano, os meios que não se ajustem aos limites da nova regulação.

- Novo regime. As distribuidoras de cabo não poderão ter canais de tv aberta e só é permitido ter um sinal de cabo de alcance local. Nenhuma empresa pode operar mais de 10 licenças (até então eram 24).

- Autoridade de aplicação. Foi criada a Autoridade Federal de Serviços de Comunicação Audiovisual (Afsca), um ente formado por dois membros escolhidos pelo Governo, três pelo Congresso (um pela situação e dois opositores) e dois surgidos de um Conselho Federal dominado pelos governadores.

- Meios do Estado. Ficou estabelecido que o espaço radioelétrico se dividisse em 3/3, com uma parte para os privados, outra para o Estado e uma última para empresas administradas por ONGs.

- Concessão de licenças. O Poder Executivo se reserva essa faculdade para as cidades com mais de 500.000 habitantes.

- Conteúdos. Ficam estabelecidos limites mínimos de produção nacional (em programas e música) nas rádios e canais de TV.

- Telefônicas. Suprimiu-se a autorização para participar do negócio da TV a cabo. Mas poderiam chegar a fazê-lo associadas à cooperativas.

- Publicidade. Regula a distribuição da grade nos canais privados, mas não se refere à publicidade oficial. 

O supremo idiota da educacao brasileira: Paulo Freire

Muitos leitores deste blog, embora eu não possa precisar quantos exatamente, devem ficar chocados quando eu me refiro a certas pessoas como idiotas. Seria um insulto, um exagero meu, um despeito contra quem supostamente ficou famoso, e contra quem eu teria sérias restrições, representando, portanto, alguma inveja minha ou crítica indevida.
Várias vezes referi-me a Paulo Freire, como o supremo idiota da educação brasileira (pior, acho que falei em calamidade educacional que exportamos para o resto do mundo), e tive comentários discordantes, alguns até raivosos. Enfim, todo mundo tem o direito de discordar dos meus posts e, desde que as críticas sejam fundamentadas, não tenho nenhuma objeção a publicar aqui.
E eu tenho o direito de chamar idiotas de idiotas, mas reconheço que também preciso fundamentar minhas "acusações" de idiotice. O problema, eterno, terrível, é que leio muito, mas nem sempre tenho tempo de resumir, sintetizar, explicar tudo o que leio, justificando, portanto, meus julgamentos, geralmente sérios, mas embasados em leituras não reveladas. Concordo, também, em que chamar alguém de idiota, simplesmente, não é muito eficiente, em termos práticos, pois muita gente acha o idiota em questão um grande intelectual, e o interlocutor pode ficar chocado pela minha expressão de desprezo pelo "intelequitual".
Enfim, existem muitos idiotas, no Brasil e no mundo, que mereceriam ser desmascarados, mas eles são muitos, efetivamente, e como o mundo também tem muitos idiotas, sempre tem público para certas idiotices.
O Brasil, como sempre digo, não é tão atrasado materialmente -- já que o progresso é uma fatalidade, como já disse alguém -- como ele é atrasado mentalmente, e nos últimos tempos, os responsáveis políticos e econômicos -- e sobretudo os "educacionais" e pedagógicos -- têm se esforçado para atrasá-lo ainda mais, retrocedendo o Brasil meio século para trás. Talvez até mais, mas isso veremos mais adiante...
Por isso que a atribuição a Paulo Freire do título de patrono da educação brasileira combina com esse atraso. Só atrasados mentais seriam capazes desse crime contra a educação brasileira. Mas existem várias outras idiotices sendo cometidas em outros setores.
Paulo Freire permanece, no entanto, um caso exemplar, e para mim dramático. Ele já influenciou 5o anos de formação de professores e pedagogos, e vai continuar influenciando pelo menos uma geração mais (estou sendo otimista, claro) nos anos à frente. Por isso mesmo sou, como já disse, absolutamente e relativamente pessimista quanto ao futuro da educação brasileira: acho que vamos continuar recuando, mentalmente, do pré-primário à pós-graduação, sem possibilidade de recuperação.
Agradeço à Juliana por esta matéria que retiro de seu blog sobre Paulo Freire, de um "filósofo" que classificam como conservador, e que eu chamaria apenas de polêmico.
Ele tem razão na maior parte do que afirma, só errando quanto à produção científica brasileira que vem sendo citada: ela tem aumentado, não sei se em qualidade, mas pelo menos em quantidade. E conviria também distinguir entre a boa qualidade dos papers que são publicados nas áreas de biológicas, e hard sciences em geral, do lixo que caracteriza, provavelmente, mais da metade do que sai nas chamadas humanidades.
Com essa ressalva, fica o texto de Olavo de Carvalho, que remete a outros autores que poderiam ser pesquisados pelos interessados.
Paulo Roberto de Almeida 
De Olavo de Carvalho:

Viva Paulo Freire!

Vocês conhecem alguém que tenha sido alfabetizado pelo método Paulo Freire? Alguma dessas raras criaturas, se é que existem, chegou a demonstrar competência em qualquer área de atividade técnica, científica, artística ou humanística? Nem precisam responder. Todo mundo já sabe que, pelo critério de “pelos frutos os conhecereis”, o célebre Paulo Freire é um ilustre desconhecido. As técnicas que ele inventou foram aplicadas no Brasil, no Chile, na Guiné-Bissau, em Porto Rico e outros lugares. Não produziram nenhuma redução das taxas de analfabetismo em parte alguma. Produziram, no entanto, um florescimento espetacular de louvores em todos os partidos e movimentos comunistas do mundo. O homem foi celebrado como gênio, santo e profeta. Isso foi no começo. A passagem das décadas trouxe, a despeito de todos os amortecedores publicitários, corporativos e partidários, o choque de realidade. 

Eis algumas das conclusões a que chegaram, por experiência, os colaboradores e admiradores do sr. Freire: “Não há originalidade no que ele diz, é a mesma conversa de sempre. Sua alternativa à perspectiva global é retórica bolorenta. Ele é um teórico político e ideológico, não um educador.” (John Egerton, “Searching for Freire”, Saturday Review of Education, Abril de 1973.) “Ele deixa questões básicas sem resposta. Não poderia a ‘conscientização’ ser um outro modo de anestesiar e manipular as massas? Que novos controles sociais, fora os simples verbalismos, serão usados para implementar sua política social? Como Freire concilia a sua ideologia humanista e libertadora com a conclusão lógica da sua pedagogia, a violência da mudança revolucionária?” (David M. Fetterman, “Review of The Politics of Education”, American Anthropologist, Março 1986.) 

“[No livro de Freire] não chegamos nem perto dos tais oprimidos. Quem são eles? A definição de Freire parece ser ‘qualquer um que não seja um opressor’. Vagueza, redundâncias, tautologias, repetições sem fim provocam o tédio, não a ação.” (Rozanne Knudson, Resenha da Pedagogy of the Oppressed; Library Journal, Abril, 1971.) “A ‘conscientização’ é um projeto de indivíduos de classe alta dirigido à população de classe baixa. Somada a essa arrogância vem a irritação recorrente com ‘aquelas pessoas’ que teimosamente recusam a salvação tão benevolentemente oferecida: ‘Como podem ser tão cegas?’” (Peter L. Berger, Pyramids of Sacrifice, Basic Books, 1974.) “Alguns vêem a ‘conscientização’ quase como uma nova religião e Paulo Freire como o seu sumo sacerdote. Outros a vêem como puro vazio e Paulo Freire como o principal saco de vento.” (David Millwood, “Conscientization and What It's All About”, New Internationalist, Junho de 1974.) “A Pedagogia do Oprimido não ajuda a entender nem as revoluções nem a educação em geral.” (Wayne J. Urban, “Comments on Paulo Freire”, comunicação apresentada à American Educational Studies Associationem Chicago, 23 de Fevereiro de 1972.) “Sua aparente inabilidade de dar um passo atrás e deixar o estudante vivenciar a intuição crítica nos seus próprios termos reduziu Freire ao papel de um guru ideológico flutuando acima da prática.” (Rolland G. Paulston, “Ways of Seeing Education and Social Change in Latin America”, Latin American Research Review. Vol. 27, No. 3, 1992.) 

“Algumas pessoas que trabalharam com Freire estão começando a compreender que os métodos dele tornam possível ser crítico a respeito de tudo, menos desses métodos mesmos.” (Bruce O. Boston, “Paulo Freire”, em Stanley Grabowski, ed., Paulo Freire, Syracuse University Publications in Continuing Education, 1972.) Outros julgamentos do mesmo teor encontram-se na página de John Ohliger, um dos muitos devotos desiludidos (http://www.bmartin.cc/dissent/documents/Facundo/Ohliger1.html#I). Não há ali uma única crítica assinada por direitista ou por pessoa alheia às práticas de Freire. Só julgamentos de quem concedeu anos de vida a seguir os ensinamentos da criatura, e viu com seus própios olhos que a pedagogia do oprimido não passava, no fim das contas, de uma opressão da pedagogia. Não digo isso para criticar a nomeação póstuma desse personagem como “Patrono da Educação Nacional”. 

Ao contrário: aprovo e aplaudo calorosamente a medida. Ninguém melhor que Paulo Freire pode representar o espírito da educação petista, que deu aos nossos estudantes os últimos lugares nos testes internacionais, tirou nossas universidades da lista das melhores do mundo e reduziu para um tiquinho de nada o número de citações de trabalhos acadêmicos brasileiros em revistas científicas internacionais. Quem poderia ser contra uma decisão tão coerente com as tradições pedagógicas do partido que nos governa? Sugiro até que a cerimônia de homenagem seja presidida pelo ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, aquele que escrevia “cabeçário” em vez de “cabeçalho”, e tenha como mestre de cerimônias o principal teórico do Partido dos Trabalhadores, dr. Emir Sader, que escreve “Getúlio” com LH. A não ser que prefiram chamar logo, para alguma dessas funções, a própria presidenta Dilma Roussef, aquela que não conseguia lembrar o título do livro que tanto a havia impressionado na semana anterior, ou o ex-presidente Lula, que não lia livros porque lhe davam dor de cabeça.

Progressos da educacao na googlelizacao - novos instrumentos

Durante muito tempo, nos acostumamos a identificar o Google com "cópia" na internet para um rápido trabalhinho escolar, tanto que se popularizou o termo, ou o verbo, "to google", ou seja, "googlelizar", significando, habitualmente o copy and paste dos alunos preguiçosos.
Mas todo vício vem com a sua cura, ao que parece. O Google desenvolveu inúmeras ferramentas para ajudar nos trabalhos sérios, inclusive com instrumentos de busca e seleção de materiais que podem ajudar os professores a aperfeiçoarem suas aulas.
Agradeço à educadora Juliana por ter-me chamado a atenção para esta matéria, em seu blog.
Paulo Roberto de Almeida 

Search Education, o novo site de pesquisas educacionais do Google

Do Estadão:

Se você digita uma palavra no Google, em menos de um segundo o buscador vai apresentar alguns milhares de resultados que mencionam o termo. Alguns deles, de fato, podem ajudar muito na sua busca; outros, nem tanto. Para ensinar estudantes e professores a separar o joio do trigo e ajudá-los a fazer pesquisas mais qualificadas, o Google lançou, este mês, o site Search Education (www.google.com/insidesearch/searcheducation). Ainda completamente em inglês, o site é voltado a professores interessados em ensinar estratégias de pesquisa a seus alunos ou a usuários que querem otimizar suas buscas. 

“Nós decidimos ensinar a pesquisar porque o Google tem uma gama de ferramentas, mas a maioria das pessoas só conhece parte delas”, diz Tasha Bergsin-Michelson, educadora do Google. Uma das seções do site é a Lessons Plans, ou planos de aula, em português. Nela, é possível encontrar os tutorias em três níveis de dificuldade que ensinam educadores com mais ou menos intimidade com o Google a pesquisar. Os vídeos dão dicas de como escolher os termos de pesquisa mais adequados, entender o resultado da busca, restringir a pesquisa para chegar a melhores resultados e até avaliar a credibilidade da fonte de informação.

A estratégia do Google de falar aos professores tem como objetivo fazer o treinamento chegar aos alunos para torná-los capazes de aprender sozinhos e de ser bons questionadores. “Nós precisamos cultivar a autonomia da aprendizagem nos nossos estudantes, para que, quando eles saírem para o mundo, depois do ensino médio, na faculdade, na carreira ou na vida, eles saibam como pesquisar e pensar criticamente”, diz Anne Arriaga, bibliotecária e membro da equipe de educadores do Google. No Search Education, os professores encontram também uma série de sugestões para desafiar os alunos. Dividido por disciplinas como história, geografia, biologia, o Google Day Challenge propõe atividades em que os estudantes serão testados tanto no conhecimento da matéria quanto nas ferramentas do buscador. Pelo site, o professor recebe dicas de como conduzir o exercício.

As atividades específicas foram desenvolvidas a partir do currículo norte-americano e, por enquanto, não há previsão de que a ferramenta seja traduzida ou adaptada para o ensino brasileiro. Para os vídeos gerais, que falam sobre as funcionalidades do Google, no entanto, as dicas podem ser muito úteis. O único problema é que todos os tutoriais são em inglês. Quem não domina o idioma, porém, pode recorrer à ajuda do próprio Google para decifrá-los. Ao clicar no botão CC, na parte inferior da tela, é possível selecionar a opção de ter a transcrição do áudio. Com o áudio transcrito, é só jogar o texto para ser traduzido pelo Google Tradutor.

A miseria educacional brasileira, crescente, no terceiro ciclo

A miséria educacional é completa, extensa, absoluta, relativa e crescente. Desculpem o excesso de adjetivos pessimistas, mas eu conheço -- parafraseando José Marti -- as entranhas do monstro. Já "frequentei", a convite e por contatos, e conheço o funcionamento e a "produção" de muitas universidades federais, especialmente as faculdades da minha área de humanidades, pois sou chamado a bancas, seminários e a dar parecer sobre artigos.
Tenho, portanto, muitos motivos para ser absolutamente pessimista quanto à situação atual e quanto à degradação futura dessas instituições que condensam um pouco todos os males da educação brasileira, desde o pré-primário até o pós-doutoramento.
Os adeptos do regime atual poderão protestar, mas eu também já os ouvi, mais do que gostaria, nessas reuniões sindicais que decidem pela greve, como atualmente. A indigência mental dos argumentos só perde para a decadência moral dos propósitos. Estou verdadeiramente assustado e preocupado com o que vejo.
Não tenho nenhuma dúvida de que a situação vai continuar a se deteriorar, com greve ou sem greve.
Abaixo mais um desabafo sobre a questão.
Paulo Roberto de Almeida 



Reinaldo Azevedo, 24/05/2012

Quando Luiz Inácio ApeDELTA da Silva recebeu uma baciada de títulos de Doutor Honoris Causa — de todas as universidades públicas do Rio —, fez um discurso escandalosamente mentiroso. Apontei aqui as suas falácias. Entre outras indelicadezas com a verdade, multiplicou por dois o número de universitários do país. Há alguns anos, tenho escrito que em poucas áreas se mente com tanta desenvoltura como no ensino superior — justamente o setor que, em tese, concentra a elite intelectual do país. Como isso é possível? Ora, as nossas universidades, especialmente nos cursos de humanidades, reúnem mais comunistas do que Pequim, Pyongyang e Havana juntas… Dominam o aparelho universitário e ajudam a levar a farsa adiante.
Muito bem! Uma das grandes obras de Fernando Gugu Haddad, sob os auspícios do ApeDELTA, seria a gigantesca expansão das universidades federais. Há muita pilantragem na conta, é verdade, mas é fato que algumas instituições foram criadas. Em quais condições, no entanto, elas operam? Vejam este vídeo sobre o campus Rio Paranaíba, da Universidade Federal de Viçosa. Volto depois:

Voltei
Eis aí. Inaugurou-se um novo campus da Universidade Federal de Viçosa (que Lula conta como uma nova instituição) sem acesso por asfalto, sem iluminação e esgoto tratado — na Universidade Federal Rural de Pernambuco, em Garanhuns, a, perdoem-me a crueza, merda corre a céu aberto. Os depoimentos também deixam evidente a carência na estruturação técnica do corpo docente.
Nessas horas, o que tende a dizer o lulo-petismo? “Ah, não havia nada lá. Ao menos nós fizemos alguma coisa!” Foi mais ou menos esse o sentido das declarações de Aloizio Mercadante (ver posts abaixo), que substituiu Haddad. Para ele, essa infraestrutura deficiente é só a “dor do parto”. Qualquer pessoa do mundo chamaria de desleixo e falta de planejamento.
A greve
Estão em greve 70% das universidades federais do país. O assunto quase não é notícia. No ano passado, os institutos federais de ensino (também os de nível técnico) ficaram parados quase cinco meses. Poucos se interessavam pelo assunto. Por quê? Fácil de responder. Porque são os intelectuais e as ONGs petistas que hoje pautam boa parte dos veículos de comunicação. O partido também é majoritário nas associações e sindicatos de professores. Se os pelegos petistas não conseguiram impedir o movimento, é porque a situação, com efeito, não é das melhores — embora eu insista que a greve, nesses casos, prejudica, na verdade, os alunos. Servidores públicos deveriam pensar meios simbólicos de fazer seu protesto chegar à sociedade. Bem, essa é outra questão. Volto ao ponto.
As mentiras da era Lula-Haddad começam a chegar ao grande público. Aos poucos, estamos vendo como se fez a propalada expansão do ensino superior federal. Uma aluna de veterinária da Universidade Federal do Tocantins me manda a seguinte mensagem:
“O problema de infraestrutura é grave. No meu curso de Medicina Veterinária, a gente tem muitos problemas com aula prática. Como pode um estudante de veterinária sem aula prática de anatomia, radiologia, citologia e por aí vai? O governo abre cursos e não dá condição nenhuma de o professor ensinar e de o aluno aprender. E a gente é obrigado a ouvir essa ladainha desses políticos! É revoltante!!!!”
Henrique, um professor, escreve:
“Sou professor de um curso criado pelo REUNI e sou testemunha da falta de planejamento e do descaso na criação de cursos. A Universidade criou o curso sem ter a infraestrutura e os professores necessários. Temos mais professores contratados do que efetivos (concursados), e não há perspectiva de novas vagas. Não temos laboratórios, e a primeira turma irá se formar sem nunca ter feito práticas básicas da área. A seleção exclusivamente feita pelo ENEM não seleciona. Nossos alunos entram sem saber resolver uma mísera equação de 1º grau, e a taxa de reprovação é alta, levando ao abandono. Mas, na propaganda do governo, tudo parece perfeito. Só olhando de perto para ver o quanto se festeja uma mentira.”
A leitora Vera L. informa:
O retrato do Hospital do Fundão, ligado à UFRJ, é o retrato do governo do PT. Os médicos residentes andam à cata de pacientes para poderem ESTUDAR! A UFRJ abriu uma faculdade de medicina em Macaé SEM hospital de referência para os alunos que serão futuros médicos! Agora, eles vêm de Macaé para o Hospital do Fundão, onde há falta de TUDO, principalmente de pacientes, por falta de infraestrutura. As universidades federais do governo do PT só existem funcionando nas PROPAGANDAS do MEC a PREÇO DE OURO, PAGAS com NOSSO DINHEIRO. Lá TUDO funciona.
Os Hospitais Federais do RJ NUNCA antes tão precários. Há uns 10 anos, todos eram referência de bom atendimento. (…) Enquanto a USP se torna uma das melhores universidades do MUNDO, as federais nas mãos do PT estão em petição de miséria. Esse é o JEITO PT de governar que ELES querem para São Paulo, com Haddad de candidato. Que Deus livre SP dessa tragédia”
Pior: voltem lá ao vídeo do campus da Universidade Federal de Viçosa: a infraestrutura que serve à universidade entrou no radar do clientelismo, das emendas parlamentares, dos arranjos políticos…
Se vocês tivessem estômago, valeria frequentar algumas salas de debate dos professores sindicaleiros do ensino superior… Sabem onde está localizado, para eles, o centro do mal do ensino superior do país? Acertou quem respondeu “São Paulo”, muito particularmente a USP, onde radicaloides e boçalides repetem o mantra: “Fora Rodas”. Fernando Haddad, com a competência demonstrada até aqui, é um dos que gostam de falar do suposto “autoritarismo” vigente nas universidades estaduais paulistas. Essa gente tem mesmo é um pacto contra a competência e contra a verdade.
Os números
No discurso dos títulos a baciadas, Lula afirmou que chegou ao governo com 6 milhões de universitários e que, hoje, eles serim 12 milhões. Mentira! Segundo o Censo Universitário, no fim de 2010, assinado por Haddad, havia 6,37 milhões de estudantes no terceiro grau — 14,7% estão na modalidade “ensino à distância”, que tem virado, no Brasil, uma “picaretância”. Disse ter criado novas universidades federais. Mentira também! Deve chegar, no máximo, à metade. Algumas “universidades novas” são campi avançados ou divisão de instituições anteriores. Em 2010, as universidades públicas brasileiras formaram 24 mil estudantes A MENOS do que em… 2004!
As universidades federais brasileiras mais incharam do que cresceram. Lula e Haddad foram criando alguns puxadinhos e puxadões Brasil afora, sem oferecer as condições mínimas necessárias para um ensino de qualidade. As mentiras têm sido reproduzidas por aí, com base em releases distribuídos por assessorias de comunicação.
É chegada a hora de visitar os campi dessas novas “universidades federais” criadas por Lula e Haddad e saber como funcionam. Vamos ver como estão seus laboratórios, bibliotecas e salas de aula, conhecendo também os docentes, seu regime de trabalho e sua qualificação intelectual e técnica.
Já conhecemos os milagres de Lula. Agora só falta conhecermos a verdade.

Coronelismo, enxada e PT: a escolha do atraso

Basta olhar os mapas eleitorais das três últimas eleições gerais no Brasil, para constatar esta fabulosa transmutação do pretensamente "moderno" em irrecusável atraso: as bases eleitorais do PT se mudaram para os chamados grotões, e as práticas mais nefastas do clientelismo, do voto de cabresto, do fisiologismo, das alianças com o que existe de mais atrasado nesses cantos recuados do Brasil, se perpetuam hoje nas políticas ditas de "inclusão" que nada mais são do que a preservação da pobreza, da dependência política e social, enfim, o curral eleitoral com que trabalharam todos os coronéis da política brasileira, desde os tempos do Império. Esse é o partido que pretende fazer avançar o Brasil, e que na verdade consagra o atraso e corroi as instituições.
Paulo Roberto de Almeida 

O poder do latifúndio nos domínios do PT

José Nêumanne
O Estado de S.Paulo, 23/05/2012
Petrolina e, como a cidade às margens do São Francisco, Pernambuco inteiro, pela voz de seu governador, Eduardo Campos (do clã Alencar, do Cariri cearense), indignaram-se com as críticas ao ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, por ter destinado 90% de todas as verbas da pasta ao seu Estado. Também a Paraíba mobilizou suas tropas retóricas para atacar qualquer um que lembrasse a circunstância de o novo ministro das Cidades do mesmo governo soi-disant socialista de Dilma Rousseff, Aguinaldo Ribeiro, ser neto de Agnaldo Veloso Borges, vilão histórico da esquerda acusado de ter mandado matar os líderes camponeses João Pedro Teixeira e Margarida Maria Alves. Agora vem o repórter Leonencio Nossa, da sucursal de Brasília deste jornal, lembrar que o dono da empreiteira Delta - campeã de obras do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) e citada nas denúncias contra o bicheiro Carlinhos Cachoeira -, Fernando Cavendish, é bisneto do coronel Veremundo Soares, de Salgueiro.
A Salgueiro do tempo dos coronéis tornou-se lendária pela citação num dos clássicos do repertório de outro sertanejo de Pernambuco, Luiz Gonzaga, em sua homenagem ao pai, o sanfoneiro Januário, do Vale do Araripe: "De Itaboca a Rancharia, de Salgueiro a Bodocó, Januário é o maior". Hoje em dia, a região notabiliza-se pelo comércio de carros roubados e pelas plantações de Cannabis sativa, que a tornaram uma espécie de capital informal do "perímetro da maconha". Assim como as plantações de coca florescem nos sovacos dos Andes bolivianos e em outros locais inóspitos, a "erva maldita" cresce e dá bons lucros num território que antes era definido como "polígono das secas" e agora recebe a crua denominação de semiárido. Neste ano, em que ocorre o mais penoso período de estiagem no Nordeste em 30 anos, por mais que incendeie roças da matéria-prima para a droga com a qual os viciados costumam se iniciar, a polícia não dá conta de seu avanço sertão adentro.
A exclusão do nome do bisneto do coronel Veremundo dos convocados a depor na CPI do bicheiro goiano reforça as evidências históricas de que a força inesgotável das oligarquias com poder sediado no sertão representa para a região específica e para todo o Brasil uma praga pior do que o flagelo das secas periódicas e a maconha perene.
Na falta de chuvas deste ano, a situação aflitiva das populações sertanejas é amenizada pela esmola estatal da Bolsa-Família. A famosa bravata de dom Pedro II, que prometeu empenhar o último diamante da coroa imperial para evitar que um cearense morresse de fome, foi assumida pela República assistencialista, que adotou o "neocoronelismo" com cartão magnético e trocou o voto de cabresto pelo sufrágio do guidom. Pois o jegue foi substituído pela moto, financiada a perder de vista, mas também a perder da vida, pois o comprador é dizimado nas rodovias em acidentes fatais e dificilmente sobrevive à própria dívida. No entanto, os animais criados pelas famílias dos camponeses pobres são sacrificados pela inclemência climática e pela insensibilidade do Estado ausente.
O poder do latifúndio no passado foi tema de clássicos da sociologia brasileira, tais comoCoronelismoEnxada Voto, de Victor Nunes Leal, CoronelCoronéis - Apogeu e Declíniodo Coronelismo no Nordeste, de Marcos Vinicios Vilaça e Roberto Cavalcanti de Albuquerque, e Família Coronelismo no Brasil - Uma História de Poder, de André Heráclio do Rêgo. A "inclusão" dos costumes desse mandonismo na República petista tem merecido um estudioso à altura desses citados expoentes da sociologia do latifúndio, o professor Luiz Werneck Vianna, que no artigo As cidades e o sertão, publicado nesta página, esclareceu: "Está aí a mais perfeita tradução da quasímoda articulação, no processo de modernização capitalista do País, entre o moderno e o atraso, ilustração viva do ensaio de José de Souza Martins A Aliança entre Capital e Propriedade da Terra: a Aliança do Atraso (in A Política do Brasil Lúmpen e Místico, São Paulo, Editora Contexto, 2011) e que se vem atualizando por meio da conversão do imenso estoque de capital social, econômico e político do latifúndio tradicional, que se processa no circuito da política e mediante favorecimento da ação estatal, em que seus herdeiros se reciclam para o exercício de papéis modernos. Para quem é renitente em não ver, este é o lado obscuro do nosso presidencialismo de coalizão, via escusa em que os porões da nossa História se maquiam e mudam para continuarem em suas posições de mando". Ou seja, "ou fingimos que mudamos ou eles mudam contra nós" - parafraseando o príncipe de Salina, protagonista do romance O Leopardo.
O maquiavélico conselho do cínico protagonista da obra-prima de Giuseppe Tomasi di Lampedusa ao sobrinho Tancredi traduz a aliança entre os socialistas pragmáticos do PT e os senhores da terra do semiárido. Não se trata de acusar o neto pelos crimes atribuídos ao avô nem de atribuir ao bisavô os deslizes do bisneto, e sim de reconhecer a renitente sobrevivência do semifeudalismo rural sertanejo nos costumes políticos do Brasil contemporâneo. A transposição do Rio São Francisco, anunciada para matar a sede dos sertanejos, não passa de truque retórico para dar cunho social a uma obra faraônica, que custará caro ao contribuinte e entregará a água a quem já tem a terra para irrigar. A estéril discussão sobre os efeitos do clima no semiárido, sem consequências práticas, representa a manutenção do domínio político e econômico dos oligarcas, confirmado por fatos.
Este ano, a prefeitura de Campina Grande, centro universitário de alta tecnologia, será disputada por Daniela, irmã de Aguinaldo Ribeiro e neta de Agnaldo Veloso Borges, por Romero Rodrigues, primo do senador Cássio, parente de Zé Cunha Lima, de Brejo de Areia, e por Tatiana Medeiros, apoiada pelo prefeito Veneziano Vital do Rêgo Segundo, parente do célebre Chico Heráclio do Rego, personagem-síntese do mandonismo no sertão.
JORNALISTA E ESCRITOR,  É EDITORIALISTA DO 'JORNAL DA TARDE'

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Que tal fechar a ABIN?

Os arapongas se destinam, supostamente, a defender o Estado de Direito, as instituições públicas, prevenindo ataques e desmantelando ameaças ao funcionamento normal do aparelho de Estado.
Nos últimos dez anos (e mesmo antes), e provavelmente no futuro também, os inimigos do Estado fazem o que querem, sem que haja, como deveria haver, prevenção, desarticulação, identificação dos líderes.
Curiosamente isso nunca ocorreu, seja com MST, com CUT, ou outros movimentos que poderiam ser chamados de terroristas.
Acho melhor fechar a ABIN, um órgão notoriamente castrado e sem qualquer função aparente, menos a de gastar o nosso dinheiro inutilmente...
Paulo Roberto de Almeida



Prédio do Ministério da Fazenda é invadido por trabalhadores rurais







Prédio do Ministério da Fazenda é invadido por trabalhadores rurais

A mobilização ocorreu simultaneamente em vários estados, segundo a coordenadora-geral, com o objetivo de destravar a pauta de reivindicações do movimento, encaminhada ao governo federal em abril

Agencia Brasil: um orgao parecido com os fascistas de Hitler...

Andei lendo um pouco de história, nos últimos dias, sobretudo um livro que dava destaque a Alfred Rosenberg, o ideólogo do NSAPD, o partido nazista alemão, e que se vangloriava de ter influenciado Hitler na confecção de Mein Kampf.
Curiosamente, encontrei vários pontos em comum com o trabalho que Rosenberg fazia no Volkisher Beobachter, o jornal oficial do movimento nazista, e o trabalho da Agência Brasil, tal como relatado abaixo.
Rosenberg também publicava notícias distorcidas, por vezes as mais ridículas, como a Agência tristemente chamada de Brasil (e que mereceria ser fechada). Em qualquer desgraça que acontecesse em qualquer canto da Alemanha, Rosenberg procurava algum "dedo" judeu, e se não existisse, ele pelo menos sugeria que poderia haver algum escondido em alguma parte. A Agência que não merece o nome tem militantes sectários, não jornalistas, entre seus comensais...
Tudo a ver, de fato...
Paulo Roberto de Almeida 



A fonte oficial
Carlos Brickmann, 23.05.2012

A luta partidária para demonizar os adversários está tão grande que contaminou o noticiário. Uma reportagem da Agência Brasil - que, sendo do Governo, é reproduzida sem maiores cuidados em pequenos jornais, blogs, portais, é lida em emissoras de rádio, é divulgada em tevês locais - publicou informações incorretas a respeito de Policarpo Junior.

O senador Fernando Collor, do PTB de Alagoas, ex-presidente da República, apresentou requerimento solicitando declarações do jornalista à CPI dos Bingos, de 2006. A Agência Brasil publicou a notícia do requerimento transcrevendo-o, sem analisá-la: "O requerimento para resgatar informações prestadas pelo jornalista Policarpo Junior (...) à CPI dos Bingos (...)" Só que Policarpo Junior não prestou depoimento algum à CPI do Fim do Mundo (apelido que foi dado à CPI dos Bingos e que quase se transformou em seu nome oficial).

Diante dos protestos pela evidente falsidade da notícia, a Agência Brasil corrigiu o erro, doze horas depois - cometendo um erro ainda maior: disse que as declarações de Policarpo Junior tinham sido feitas à CPI da Loterj, na Assembléia do Rio, e ao Conselho de Ética da Câmara, e atribuiu as informações à assessoria de Fernando Collor. Um telefonema para o alvo dos ataques? Não, nada disso: bastou uma declaração da assessoria de Fernando Collor. E Fernando Collor, desde o início da atual CPI, deixou claro que seu alvo era Veja.

Talvez ainda esteja irritado com a revista pela entrevista com seu irmão Pedro, que iniciou o processo que culminaria com seu impeachment. A Agência Brasil se comportou como a Velhinha de Taubaté, a imortal criação de Luiz Fernando Veríssimo, a última pessoa do país que acreditava no Governo. Só que, no caso, a Velhinha de Taubaté acreditava em Fernando Collor.

O caso é que Policarpo Junior não esteve na CPI da Loterj nem na Comissão de Ética da Câmara. E, portanto, não falou nada. Dois erros seguidos, iguais, ambos demonizando o adversário do momento. E o consumidor de informação? Ora, quem está preocupado com ele, se o importante é xingar o adversário?

O Brasil e sua cooperacao internacional - artigo analitico

Meu amigo Bruno Ayllon Pino, espanhol que conhece como poucos o Brasil, me envia uma nota que parece ter interesse para todos aqueles que estudam a cooperação prestada pelo Brasil.



Caras e caros
O newsletter D+C (Devolpment + Cooperation) da Alemanha publicou uma materia sobre o Brasil e sua cooperaçao.


Acho que é interessante conhecer o que se escreve ao respeito na Alemanha.
abraços
Bruno
-- 
Bruno Ayllón Pino

Editora Contexto e Jaime Pinsky - 25 anos de trabalhos meritórios

Cinco anos atrás, a Editora Contexto comemorou seus primeiros vinte anos de vida. Comemorei o fato à minha maneira: lendo o livro que ela compôs para a ocasião, sobre os avanços (ou recuos) do Brasil no período, e fazendo uma resenha. Ela agora comemora, em 2012, 25 anos de trabalho exemplar e publica mais um livro.
"25 Anos: o contexto histórico", organizado pelo seu editor, Jaime Pinsky, com a participação de diversos colaboradores (alguns já presentes no dos 20 anos).
O lançamento-debate vai ser feito na Livraria Cultura de S.Paulo (Av. Paulista), no dia 4 de junho, as 19hs. (Apareça cedo, senão não vai ter lugar...).


Aqui abaixo a resenha que eu fiz do livro dos 20 anos. Quando puder, farei a dos 25 anos (se o editor for gentil e me enviar um exemplar...).
Não estou de acordo com alguns capítulos do primeiro volume (como se pode ver abaixo), que achei fracos e desfocados, e provavelmente não estarei de acordo tampouco com alguns da nova edição. Mas reconheço o valor de uma reflexão séria sobre nosso país, mesmo quando ela sofre certos desvios acadêmicos e pretensamente inteluctualoides. A iniciativa é boa e deveria haver mais desse tipo de empreendimento em outras editoras (mais focadas no lucro, talvez).
O importante é o debate, de qualidade.
Paulo Roberto de Almeida 

Colocando o Brasil num contexto de vinte anos

Jaime Pinsky (org.)
O Brasil no contexto, 1987-2007
São Paulo: Contexto, 2007, 256 p.; ISBN: 978-85-7244-353-1; R$ 33,00

Personalidades egocêntricas encomendam obras de arte com um foco enaltecedor de suas supostas qualidades: elas são egoisticamente centrípetas. O editor-historiador Jaime Pinsky é uma personalidade centrífuga e o lema de sua editora é, apropriadamente, “promovendo a circulação do saber”. Ele realmente tem muito a comemorar em vinte anos de disseminação ativa da cultura universitária, que ajudou a promover no Brasil pós-ditadura. Em lugar de uma grande festa, ele oferece um balanço honesto e uma avaliação sóbria de como o Brasil mudou – algumas vezes, para pior – nas duas primeiras décadas de existência da sua editora.
Uma consulta ao índice confirma que o retrato cobre campos relevantes da vida nacional: economia, trabalho e renda, política externa, política interna, direitos humanos, cultura, saúde, esportes, mulheres, jornalismo, turismo, cidades, nutrição, alfabetização, comportamento e estudos da língua. As mudanças mais perceptíveis foram provavelmente observadas na língua e nos comportamentos, com a geração internet e um intenso recurso a novos modismos de origem americana. A economia e a política também sofreram grandes mudanças, mas o balanço nessas áreas pode não ser dos mais gratificantes, uma vez que as decepções se acumulam em ambas.
Antonio Corrêa de Lacerda refaz a trajetória de luta contra a inflação, mas é obrigado a constatar que as políticas econômicas mobilizadas foram incapazes de promover a retomada do crescimento. Márcio Pochman analisa as transformações estruturais no mercado de trabalho e lamenta as tendências à flexibilização da legislação trabalhista, sem registrar que a rigidez desta última está na origem da informalidade e do desemprego. Demétrio Magnoli não poupa o irrealismo da atual política externa, acusando-a de nostálgica do “Brasil potência”. Na política interna, Leandro Fortes enfatiza o crescimento do fisiologismo e da corrupção: ele acredita que ocorreu uma “despolitização deliberada do povo brasileiro nas últimas duas décadas”. O paradoxo é que “a cultura política nativa estagnou-se nas bordas do século XIX, embora movida a urnas eletrônicas”. No campo dos direitos humanos, Marco Mondaino constata que o Brasil legal avançou, mas mantém o abismo desumano do Brasil real, cruel para os pobres.
O texto sobre as cidades é sociologicamente impressionista, perdendo a oportunidade de efetuar um diagnóstico dos graves problemas urbanos acumulados em duas décadas de baixos investimentos em infra-estrutura. Da mesma forma, o ensaio sobre alfabetização se perde em considerações tipicamente acadêmicas sobre a “psicogênese da língua escrita”, o construtivismo e o letramento, deixando de lado o contexto desse grave problema: ele não é tão somente residual, uma vez que o analfabetismo funcional estende-se assustadoramente (mas disso não há traço no texto). O médico Aristodemo Pinotti oferece, em contrapartida, uma boa apresentação das mudanças ocorridas na saúde, com a consolidação do SUS, a ampliação da cobertura, avanços na prevenção primária e a expulsão da classe média do sistema público. O capítulo seguinte informa que a desnutrição recuou bastante no Brasil, sendo hoje basicamente marginal; os problemas do sobrepeso e da obesidade “ganham corpo”, se ousamos a expressão. Na política cultural, fomos do “neopopulismo difuso para a valorização do mecenato privado agenciado pelo Estado”.
Nas “transformações da língua”, acompanhamos a salada cultural dos neologismos, as inovações do “tucanês” e do “lulês”, sem esquecer os ataques nacionalistas do deputado Aldo Rebelo contra os estrangeirismos e a voga do politicamente correto. As mulheres obtiveram grandes conquistas, mas sua participação política ainda é restrita. O texto sobre comportamento é pouco objetivo, enfocando as trajetórias diferentes de três mulheres de 20, 30 e 40 anos. Para o jornalismo, João Batista Natali prefere concentrar-se nas mudanças técnicas, que podem ameaçar a sobrevivência do papel e tinta. Nos esportes, Heródoto Barbeiro acompanha o crescimento do profissionalismo e o impacto da globalização, ao passo que o turismo recebe tratamento desigual, combinando dados objetivos e impressões do autor. Ataliba de Castilho, finalmente, realiza um excelente levantamento dos estudos lingüísticos no Brasil, com uma bibliografia atualizada e uma discussão bem estruturada dos progressos alcançados pela Lingüística no país, inclusive graças ao próprio trabalho da Editora Contexto na difusão de bons títulos nessa área.
Não se oferecem conclusões, nem Jaime Pinsky realiza, em sua introdução, uma síntese dos problemas tratados, contentando-se em apresentar os autores e se perguntar se os sonhos de democracia, de justiça social e as aspirações de cultura, saúde e alimentação balanceada podem ser realizados. Os autores são todos “prata da casa” e as receitas obtidas com a venda do livro são destinadas a projetos educacionais beneméritos. Excelente decisão para uma editora voltada para a “disseminação do saber”. Vamos agora aguardar o livro dos trinta anos, em novo contexto...

Paulo Roberto de Almeida
(Brasília, 25 de março de 2007)

Stefan Zweig - NYRBs editions




Dear Paulo Almeida,
We are pleased to announce the publication of Confusion by Stefan Zweig. This novella, in a new translation by Anthea Bell, is introduced by George Prochnik. For a limited time we are offering all NYRB Classics by Stefan Zweig at 30% off.

By Stefan Zweig
Introduction by George Prochnik
A new translation from the German by Anthea Bell


Roland is a young student who, after spending his early university days in Berlin strolling the streets and seducing young ladies, has agreed to focus on his academic career in a provincial university. He becomes fascinated by his new professor and is inspired to concentrate on his studies. The relationship benefits both of them since Roland persuades his teacher to finish the great work of scholarship that he has been laboring at for years.
Yet the professor's moods dramatically veer between enthusiasm and despair, and he disappears unexpectedly for days at a time. Furthermore, the professor's relationship with his much younger and beautiful wife is not as it should be. A puzzled Roland finds himself struggling as he tries to understand his own tenuous relationship with the couple.
As George Prochnik writes in his introduction: "In Confusion, people are befuddled about their feelings, their work, their duties, and their drives. Events spin round and round in a mad dance of discombobulation. Zweig brilliantly evokes the way that confusion can function as a pathogen—taking over the life of one person who then spreads that misapprehension willy-nilly among his intimates and on down through the generations."

$14.00 | Special Offer: $9.80


Read George Prochnik's introduction.

"Confusion is one of his finest and most exemplary works... a perfect reminder of, or introduction to, Zweig's economy and subtlety as a writer." —Robert Macfarlane, The Times Literary Supplement
Other titles by Stefan Zweig, also at 30% off

Introduction by
Peter Gay
Translated by
Joel Rotenburg

$12.95
Special Offer: $9.07

Introduction by
Joan Acocella
Translated by 
Phyllis and Trevor Blewitt

$16.95
Special Offer: $11.87 

Introduction by
André Aciman
Translated by 
Anthea Bell

$14.00
Special Offer: $9.80

Translated by
Joel Rotenberg

$14.00
Special Offer: $9.80
New York Review Books, 435 Hudson Street, Suite 300, New York, NY 10014
Forward to a friend
| Update email address