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segunda-feira, 27 de maio de 2013

Demagogia e incompetencia do governo criam a falsa crise do Bolsa Familia

Poucos jornalistas e pouquíssimos acadêmicos -- já nem me refiro aos políticos, pois eles costumam ser demagogos consumados, sejam da situação ou da oposição -- têm a coragem de falar mal do Bolsa Família.
Não é o meu caso.
Desde o início do programa, quando ele ainda envolvia "poucos" cinco ou seis milhões de famílias (herdadas, como se sabe, da "herança maldita" do neoliberalismo tucanês), eu já me posicionei contra, e foquei explicitamente no que me parecia ser o seu alvo principal: não reduzir ou eliminar a miséria, longe disso, mas ser um poderoso curral eleitoral a serviço dos companheiros.
Digo e repito: o objetivo oficial é o menos importante nessa história toda, pois ele sempre foi concebido para ser exatamente o que é: uma máquina corruptora das vontades individuais, fazendo com que brasileiros de modesta extração social se convertam em servos do Estado, em assistidos permanentes, e tudo isso com objetivos eleitoreiros, e corruptores, muito bem montados.
A oposição sempre foi medíocre, cega e impotente, aliás incapaz, incompetente, e covarde, por não denunciar um programa eleitoreiro que ela talvez também quisesse ter.
Essa é mais uma desgraça brasileira, que vai prejudicar profundamente o Brasil e os brasileiros durante muitos anos à frente. Infelizmente.
Mas não com a minha omissão e a minha conivência.
Sempre vou denunciar a demagogia, a mentira e a fraude.
Paulo Roberto de Almeida

Reinaldo Azevedo, 27/05/2013

Segundo consta, essa é cara da miséria profunda do Brasil; de famílias que precisam de R$ 32 a R$ 360 para não ficar na inanição…
É ridículo!
É patético!
O governo decidiu empreender uma investigação severa (!!!) para saber quem estava por trás dos tumultos provocados pela boataria envolvendo o pagamento do Bolsa Família. Antes que pudesse encontrar um bode expiatório (ainda está para aparecer um…), a verdade veio à tona: a culpada era a própria Caixa Econômica Federal, que efetua os pagamentos. O banco antecipou a disponibilidade de rendimentos sem prévio aviso, alguém descobriu, a coisa começou a correr de boca em boca, de celular em celular e nas redes sociais — afinal, os pobres e a “pobras” do Brasil já são digitalmente incluídos, certo? —, e aí foi aquilo que se viu.
Tão forte quanto o boato de que o programa poderia acabar era o de que havia um pagamento extra. Ora, como a CEF fizera, de fato, a antecipação, quem foi verificar seu saldo no caixa eletrônico viu que havia mesmo um dinheiro inesperado lá. O pobrezinho, coitado!, sacou do bolso o celular e ligou para o outro pobrezinho. “Ó, tem dinheiro mesmo…” E aí foi aquela correria de gente gorda e feliz — que bom! — buscar a graninha sem a qual, entendo, não é possível sobreviver, né? Foi um espetáculo melancólico, sob vários aspectos.
Em primeiro lugar, destaque-se a irresponsabilidade da Caixa e de figurões do governo. É evidente que a antecipação de um benefício que chega a milhões de pessoas deveria ter sido previamente comunicada aos interessados. Bastava emitir uma nota oficial, e ela chegaria às TV e as rádios. E fim de conversa. O banco deu de ombros, e aconteceu o quiproquó. Maria do Rosário, José Eduardo Cardozo e Dilma Rousseff aproveitaram o episódio para imaginar conspirações. A ministra dos Direitos Humanos, que tem o hábito de pôr as palavras adiante do pensamento, acusou a oposição — como se houvesse alguma maneira de os adversários de Dilma se beneficiarem de um boato que seria de pronto desmentido. Cardozo e Dilma preferiram ver coisas estranhas, sem acusar ninguém. Como a ministra já havia feito o servicinho sujo, as palavras ambíguas do ministro da Justiça e da presidente só deram curso à suspeição infundada e estúpida.
Os bolsistas
Em segundo lugar, mas ainda mais importante porque a questão remete ao futuro, exclamo: “Que bom que não sou tucano!”. Não sendo, dispenso-me de entrar no campeonato de generosidades e posso, então, relatar o que vejo e me conceder o direito ao estranhamento. Vocês deram uma olhadinha nas fotos dos nossos “miseráveis”, que supostamente dependem do Bolsa Família para sobreviver? Uma foto, sei bem, não é estatística, estudo técnico, prancheta contábil, nada disso. E também não chamo, obviamente, a minha percepção de ciência. Estou apenas exercitando o primeiro passo de uma eventual descoberta, que é estranhar o que vejo, fazendo algumas indagações.
Então é essa a cara dos muito pobres? Cada família pode receber do governo, a depender do seu perfil, um mínimo de R$ 32 e um máximo de R$ 306. O Bolsa Família, que reuniu várias bolsas já existentes no governo FHC, foi criado, originalmente, para atender à pobreza extrema.
Quando Lula assumiu o poder, os programas chegavam a 5 milhões de famílias. Hoje, são mais de 13 milhões, atingindo um universo de mais ou menos 40 milhões de… eleitores! Voltem à foto (e procurem outras na rede). Obviamente, esses que correram para a Caixa porque se espalhou a informação de que havia lá um dinheiro inesperado — e não por causa do boato do suposto fim do programa — não constituem a cara da miséria brasileira coisa nenhuma.
É claro que existe pobreza extrema no país e que programas de renda são necessários. Mas será mesmo que deveria atender a tanta gente? A renda oficial, aquela que pode ser controlada pelo Fisco, não costuma ser a renda real das pessoas e das famílias, que encontram caminhos informais para ganhar dinheiro e sobreviver. O que o Bolsa Família faz, isto sim, e vai durar muito tempo, é cevar milhões com o assistencialismo — com evidente desdobramento eleitoral.
Virtuoso ou vicioso?
Aquele espetáculo patético certamente enche os olhos dos populistas: “Ah, finalmente, temos um país mobilizado em defesa de uma causa!”. É nada! Temos uma fatia do país organizada para pegar uns trocos oferecidos pelo Estado. Não! Eu não os chamo de aproveitadores ou coisa do gênero. Nada disso! Se o dinheiro está ali, disponível, dentro da mais estrita legalidade, por que não pegar? A questão é saber que país se está construindo assim e para onde isso nos leva. Não me parece que seja para um bom caminho.
Mas como falar contra? Como apontar que há algo de estupidamente errado nisso? Precisaríamos ter partidos que falassem em nome de outros valores, que dialogassem também com quem efetivamente paga a conta. Mas não há! Ao contrário. A oposição acaba empurrada para a defensiva.
Também não estou dizendo que o Bolsa Família deixa o povo vagabundo. Quem afirmava isso era Lula, em 2003. Dizia que as bolsas deixavam os pobres preguiçosos, e eles paravam de plantar macaxeira!!!
“Olhem o Reinaldo… Critica o Bolsa Família, mas não o Bolsa BNDES!!!” Quem disse que não? E duramente! De novo, os arquivos estão aí. Temos um governo que vai navegando numa fórmula que parece mágica que ensina os pobres do Bolsa Família a ser pobres e os ricos do Bolsa BNDES e a ser ricos — e os dois extremos são, obviamente, muito gratos.
Caminhando para o encerramento
A trapalhada feita pela Caixa, cuja direção mentiu ao informar que não havia operado mudança nenhuma nos pagamentos, serviu para trazer à tona um coquetel de mistificações. E demonstrou também a que ponto pode chegar a fala irresponsável de algumas “otoridades”.

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Addendum informativo (e ilustrativo, e demonstrativo, e dignificante)...


“Meu dinheiro nunca aumentou. Só ganho 134 reais e não está dando nem para comprar uma calça para a minha filha que tem dezesseis anos. Porque uma calça para uma jovem de dezesseis anos é mais de 300 reais”.
Francisca Flores, residente em São Luís do Maranhão, beneficiária do Bolsa Família há oito anos, em entrevista ao Jornal da Cidade, revelando o que faz com o dinheiro do maior programa de compra de votos do mundo.

By Augusto Nunes

Aumenta o numero de idiotas no mundo? - Repostando um artigo de Paulo Roberto de Almeida

Como o debate parece incrivelmente atual, permito postar aqui um artigo que não tinha sido colocando no meu site ou neste blog, existindo apenas em uma revista eletrônica com a qual não mais colaboro, e que pode, portanto, deixar de estar disponível.
Meus objetivos eram possivelmente outros, quando escrevi este artigo, e portanto, ele não responde a todas as preocupações ou temas do momento.
Paulo Roberto de Almeida

Está aumentando o número de idiotas no mundo?

Paulo Roberto de Almeida 
Espaço Acadêmico, n. 72, Maio de 2007

Com o perdão daqueles mais sensíveis à crueza da questão-título, respondo diretamente à pergunta. E a resposta é, ao mesmo tempo: sim e não! Explico um pouco melhor aqui abaixo.
Sim, infelizmente pode-se constatar empiricamente – mas isto poderia ser confirmado por alguma investigação “científica” – que está aumentando, para cifras nunca antes registradas nos meios de comunicação, o número de imbecis, idiotas ou simples energúmenos, cujas opiniões, elucubrações ou meras manifestações de “pensamento” conseguem ser captadas por esses meios de comunicação, encontrando assim um eco mais amplo nos veículos impressos e audiovisuais.
Por outro lado, nunca foi tão volumosa a produção científica ou a simples escolarização de massas antes excluídas do acesso à educação (de qualquer nível e qualidade). Com isso, a cultura científica se dissemina em meios antes entregues às mais variadas influências “culturais”, desde o curandeirismo shamânico até o fundamentalismo religioso pretendidamente “cientista”. Assim, a humanidade “progride”, ainda que isto possa ser descrito como sendo uma “fatalidade natural” do acúmulo do conhecimento científico e que esse saber esteja em muito poucas mãos (e cérebros).
Com esses dois processos se desenvolvendo simultaneamente, a resposta à pergunta central é, portanto, dupla e contraditória: nunca foi tão grande o número de pessoas partilhando de um mesmo conjunto de explicações simplistas – e basicamente erradas, quando não idiotas – sobre as complexidades do mundo e da vida, ao mesmo tempo em que aumenta gradativamente o número daquelas capazes de galgar as escarpas ásperas da ciência e de adotar explicações racionais, a fortiori racionalistas, para esses mesmos problemas. Uma coisa não exclui a outra, portanto.
Como sabem todos aqueles que lidam com sistemas educativos, quando se amplia o acesso às instituições formais de ensino a uma clientela a mais extensa possível, parte da qual era antes excluída desses meios, é inevitável a queda de qualidade da educação formal, uma vez que se está lidando com os mais despreparados e carentes de toda e qualquer informação. Pessoas que antes eram “educadas” nas superstições e crendices “normais” dos meios populares, na baixa cultura dos estratos inferiores da sociedade, passam, de um momento a outro, a dispor de maior acesso aos canais da sociabilidade e aos meios de comunicação de massa, como revistas, jornais e internet. Alguns até conseguem sucesso nos meios profissionais e se tornam pessoas de renda elevada, detendo capacidade de influir na tomada de decisão de empresas e de governos, e de influenciar, portanto, uma maior número de indivíduos à sua volta. Se essas pessoas conseguiram adquirir, através da escola e dos livros, uma cultura superior, logicamente estruturada e cientificamente embasada, tanto melhor: elas poderão disseminar uma cultura superior àquela que tinham em seus meios de origem e contribuir assim para a elevação espiritual da humanidade. Se, ao contrário, elas passaram impunes pela educação formal e conservaram – até aumentaram, por hipótese pessimista – as mesmas superstições de origem, os mesmos preconceitos primários, as mesmas explicações ingênuas que compõem o lote comum da humanidade desde tempos imemoriais, então só podemos prever o pior: o aumento das opiniões não-fundamentadas, e das respostas equivocadas às questões mais complexas da vida e da sociedade. Pode-se até prever a consolidação da ignorância num verdadeiro “sindicato dos energúmenos”, cujos filiados crescem a olhos vistos.
Isto se aplica, por exemplo, aos obcecados pela astrologia e pelas explicações “mágicas” sobre o “sucesso” na vida (no amor, nas finanças, na longevidade) e, sobretudo, em relação ao crescimento do fundamentalismo religioso e de variantes do criacionismo, que só posso explicar como representando a imbecilização congenital de pessoas até medianamente bem dotadas de acesso à educação formal e a meios decentes de vida. De fato, estou cada vez mais surpreendido com o crescimento dessas interpretações literais sobre a origem do universo, da vida na Terra e da criação dos homens e dos demais seres vivos, “explicações” que afetam basicamente a história e a biologia (com todas as suas variantes na geologia, na antropologia ou na arqueologia).
Sem querer ofender ninguém em particular – mas possivelmente ofendendo, mas não me desculpando por isso –, só posso atribuir ao triunfo da ignorância o fato de que mais e mais pessoas resolvem aderir a essas versões ingênuas, simplistas e profundamente equivocadas sobre a origem da vida e seu desenvolvimento na face da Terra. Essas mesmas pessoas, obviamente, recusam a teoria da evolução e suas conseqüências práticas, sendo portanto totalmente ineptas para qualquer tipo de carreira científica, pelo menos nas áreas de biologia, de geologia e de outras ciências naturais (para não falar da torturada e tortuosa história da humanidade).
Sem pretender chamar ninguém em particular de idiota – mas possivelmente chamando, e não me desculpando por isso –, surpreende-me, sim, que tantas pessoas resolvam aderir a uma visão do mundo terrivelmente comprometedora de suas chances futuras de progresso numa cultura superior e em carreiras científicas que poderiam contribuir para o seu próprio bem-estar individual e para uma qualidade de vida melhor para toda a humanidade (eventualmente para si próprias, se elas por acaso se encontrassem em uma situação de emergência que requeresse o mínimo de conhecimento especializado, geralmente de tipo científico).
É evidente que, em todas as épocas históricas e em todas as sociedades, a cultura científica sempre foi algo extremamente restrito e profundamente elitista, tocando em poucos membros da comunidade. Com a ampliação e a extensão das instituições escolares, essa cultura se estende progressivamente a um maior número de pessoas, mas seu estabelecimento e desenvolvimento dependem, em última instância, do próprio esforço individual e do empenho pessoal na absorção e compreensão de complexos problemas técnicos que passam então a se disseminar em escala ampliada. Essa cultura científica sempre estará em competição com a cultura ingênua, com as explicações simplistas e desrrazoadas ou até com a ignorância mais completa – que, aliás, não se peja de aparecer –, travestida em “conhecimento popular”, ou em senso comum.
A razão disso é simples: independentemente do seu meio social de nascimento, do nível de renda e do background familiar, as pessoas nascem igualmente dotadas, ou seja, com algumas habilidades inatas e uma mesma ignorância cultural fundamental. A cultura e a educação serão nelas “instaladas” à medida de sua exposição a fontes superiores de cultura e de educação, ou então elas conservarão as mesas “ferramentas” de saber dos seus meios de origem ou daqueles meios a que foram expostos no curso da vida. É muito duro adquirir uma cultura científica e uma explicação “superior” sobre a vida, uma vez que isto requer estudo constante, leituras aplicadas, raciocínio não-elementar e alguma “transpiração” na busca de instrumentos explicativos de realidades complexas, em todo caso não-óbvias.
Em outros termos, conformando-se às tendências inatas à preguiça e à acomodação, na ausência de perigos ou de estímulos externos à criatividade e à inovação, a maior parte da humanidade adapta-se ao puro senso comum e às explicações elementares, que são obviamente rudimentares, quando não preconceituosas ou francamente equivocadas. Apenas uma pequena parte da humanidade é levada – ou é obrigada – a responder a desafios externos ou à sua própria curiosidade intelectual (que também é inata, mas requer algo mais do que simples ações reativas a estímulos ambientais). Resulta disso a divisão tradicional entre a cultura científica e a cultura popular, já examinada na obra de epistemologistas e de historiadores da ciência, não cabendo aqui qualquer relativismo cultural ou manifestação de “correção política” quanto às virtudes pretensamente igualitárias ou dotadas de alguma “genialidade natural” da segunda em relação à primeira.
Este me parece ser o “molde sociológico” através do qual seria possível analisar a “emergência” e a “disseminação” de explicações equivocadas, francamente deletérias e (por que não dizer?) totalmente idiotas sobre o mundo real, que resultam dessas crenças “criacionistas” ou anti-evolucionistas que, a exemplo dos EUA, também tendem a se propagar no Brasil a um ritmo impressionante. Para onde quer que se olhe, a constatação parece ser a mesma: mais e mais pessoas, incapazes de se alçar a uma cultura superior – que chamamos de científica –, se deleitam, quando não se comprazem com explicações religiosas simplistas ou com meras superstições. O que é pior: dotadas de acesso aos meios de comunicação – hoje em dia, qualquer um tem acesso à internet, e muito cachorro de madame possui webpage –, essas pessoas passam a expor sem maiores restrições sua profunda ignorância, seus preconceitos tradicionais, seus equívocos de senso comum transmitidos desde o berço a um número incontável – e propriamente incontrolável – de outras pessoas.
Como a exploração da credulidade alheia tornou-se, igualmente, uma prática comum em nossos tempos mercantilistas, sobretudo em algumas vertentes da “indústria religiosa” – que baseia sua ação na “teologia da prosperidade”, antes de mais nada, a prosperidade individual dos próprios “ministros” da nova religião –, é evidente que a imbecilidade humana, como explicitado no título deste ensaio, tenha tendência a aumentar. Torna-se inevitável o triunfo de alguns imbecis – nem por isso menos aptos a extrair renda de pessoas ignorantes e ingênuas – que não sofrem nenhum constrangimento em estender o mais possível sua ignorância enciclopédica em todas as longitudes e latitudes abertas ao seu pouco engenho e baixa arte. Trata-se de um aumento relativo e também absoluto, ou seja: mais e mais pessoas, dotadas de “cultura ingênua”, são mobilizadas pelos espertalhões de plantão, nem todos imbecis ou idiotas; longe disso, pois alguns fazem disso uma profissão altamente lucrativa.
Por outro lado, é normal que grande parte da humanidade, agora provista de meios de subsistência relativamente satisfatórios, sobreviva e prospere fisicamente (obviamente graças aos progressos da ciência, que alguns tão alegremente ignoram). Agora são indivíduos arrancados de um estado de letargia intelectual para uma situação de exercício ativo de banalidades de senso comum, quando não de imbecilidades coletivas facilmente disseminadas pelo acesso irrestrito aos meios modernos de comunicação. É o triunfo das nulidades, como queria um sábio brasileiro, é a vitória da ignorância de modo amplo, uma vez que os meios técnicos não distinguem entre a boa e a má “cultura”, entre a verdade e a falsidade, entre a racionalidade e o ilogismo mais absoluto.
Na outra ponta, nunca foi tão grande o conhecimento acumulado pela espécie humana sobre sua própria existência e o meio que a cerca. Como a ciência e o conhecimento são cumulativos e, em princípio, não “extinguíveis” – salvo catástrofes humanas e naturais muito amplas –, a única previsão possível nesse terreno é a expansão e aperfeiçoamento do saber científico, em benefício do conjunto da humanidade, mesmo os mais imbecis. Ou seja, mesmo aqueles fundamentalmente estúpidos a ponto de recusar uma explicação científica para a origem de seus males eventuais, podem ter suas vidas salvas pelos progressos da medicina e assim, num exercício de “darwinismo involuntário”, continuar a disseminar impunemente a sua ignorância e seus preconceitos à sua volta ou a uma geração de idiotas mais à frente. Um exemplo: aqueles que recusam a transfusão de sangue podem ser salvos por injunção legal ou pela mudança temporária de religião – alguns não idiotas a esse ponto –, a tempo de permitir a operação médica e sobrevivência. (Alguns darwinistas radicais talvez não estejam de acordo com essa sobrevivência dos ineptos, mas a perspectiva humanitária comanda que façamos todo o possível para salvar nossos semelhantes.).
Em resumo: a ciência e a racionalidade progridem a olhos vistos, e elas tornam a vida de todos melhor e mais longa. Elas sempre serão restritas a um número relativamente pequeno de seres humanos, em todo caso até que a educação de qualidade e o espírito de pesquisa se tornem mais amplamente disponíveis nas sociedades. A ignorância e o preconceito recuam no conjunto, mas eles continuarão a ser muito comuns, na medida em que também constituem características tradicionais – eu não diria inatas por respeito ao gênero humano – das sociedades.
Concluindo: a imbecilidade humana tem, sim, aumentado, pela força dos números, mas ela comanda cada vez menos os destinos da raça humana, graças aos progressos da ciência. Ou estarei errado?

 

Investimento Direto Estrangeiro e solucao de controversias: uma nota da Unctad

A Unctad, a despeito de seu perfil enviesadamente terceiro-mundista (e ligeiramente intervencionista) produz alguns bons papers de pesquisa, se descontarmos justamente esse lado excessivamente keynesiano de seus fundamentos de trabalho.
Abaixo uma nota que acabo de receber, que pode ser útil aos que estudam o problema das disputas entre Estado e investidores no plano dos mecanismos disponíveis internacionalmente.
Paulo Roberto de Almeida


Dear Members of the World Investment Network, 

It is my pleasure to share with you UNCTAD's IIA Issues Note entitled


The Note comes out at a time when the number of new claims reached a new peak, and the debate about the pros and cons of the investor-State dispute settlement (ISDS) mechanism has been gaining momentum. This is especially true in countries and regions where ISDS is on the negotiating agenda and where countries face controversial investor claims. 

ISDS is included in the majority of today's 3,000 plus international investment agreements (IIAs).  It grants foreign investors the right to initiate international arbitrations against host governments and to seek monetary compensation for losses suffered as a consequence of governmental conduct. 

Over the last few years, an increasing number of concerns have emerged about the current ISDS system. These relate, among others things, to a perceived deficit of legitimacy and transparency; contradictions between arbitral awards; difficulties in correcting erroneous arbitral decisions; questions about the independence and impartiality of arbitrators, and concerns relating to the cost and length of arbitral procedures. 

These concerns have prompted broad-based discussions of the ISDS system’s reform in the international investment-development community. To give shape to this debate, the Note identifies five main reform paths: 
·        Promoting alternative dispute resolution; 
·        Tailoring the existing system through individual IIAs; 
·        Limiting investor access to ISDS; 
·        Introducing an appeals facility; 
·        Creating a standing international investment court. 

Each of the five reform options comes with its specific advantages and disadvantages and responds to the main concerns in a distinctive way. Some of the options can be implemented through actions by individual governments while others require joint action by a larger group. The options that require collective action would go further in addressing the existing problems, but would also face more difficulties in implementation.The Note calls for a multilateral policy dialogue on ISDS to search for a consensus about the preferred course for reform and ways to put it into action. 

I hope that you find our IIA Issues Note interesting and useful. 

Best regards, 

James Zhan 
Director 
Investment and Enterprise Division 
UNCTAD 
Palais des Nations, Geneva 
Tel:+41229175797 

Be part of the new generation of investment policy-making. Join us here! 
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Capitalismo de Estado - Jorge Arbache; Paulo Roberto de Almeida


In the times of state capitalism
Jorge Arbache *

Special to The BRICS Post 

May 27, 2013, 4:13 am

In January 2012, the Economist published a provocative special report on State capitalism, which, according to the magazine, is a model that “tries to meld the powers of the State with the powers of capitalism.” Since then, the issue has gained attention around the world and has contributed to the debate on the recent economic crisis and the models of economic development.
The growing clout of the emerging economies on the world stage and their resilience to the financial crisis are, however, the drivers of the buzz that has been generated around ‘state capitalism’.
China's state-backed companies have been under increasing criticism for propagating an unsustainable model. [Xinhua Images]
China’s state-backed companies have been under increasing criticism for propagating an unsustainable model [Xinhua Images]
Contrary to ‘state intervention’ often seen in several developing countries, ‘state capitalism’, according to the magazine, makes use of market instruments and methods to reach its goals. The report justifies its focus on the recent experiences in emerging countries, especially that in China, because “it reflects the future rather than the past”.
State capitalism manifests in several ways and it can be complex as well as sophisticated, such as the public policies aimed at supporting the private South-Korean conglomerates, or the setting up of sovereign wealth funds from Asia and Gulf States with growing influence on capital markets and investments.
There can however be no overlooking the fact that ‘State capitalism’ in emerging countries is mirrored by equally aggressive ‘State intervention’ in the economy in developed countries. The Norwegian State-owned oil company, Statoil, and American and European policies for subsidies in the agricultural sector are familiar examples.
The very large-scale, unprecedented government interventions in the economies of countries at the epicentre of the financial crisis via quantitative easing, bailouts, and other measures have brought about massive repercussions in the allocation of resources and the formation of prices not only on a domestic level, but also internationally. Several other interventionist policies were put in place more recently, such as the reinstatement of the ‘Buy American’ Act by President Obama, the very aggressive Swiss intervention in the exchange rate, and the recently introduced new Japanese economic policy, the “Abenomics”, in reference to prime minister Shinzo Abe, which seeks to undervalue the yen to boost exports.
"The recent election of Mr Roberto Azevedo to the World Trade Organisation reignited the hopes that the Doha Round can still provide the world with a reasonable and fair trade agreement" [AP]
“The recent election of Mr Roberto Azevedo to the World Trade Organisation reignited the hopes that the Doha Round can still provide the world with a reasonable and fair trade agreement” [AP]
Such interventions in the developed economies, many of which are opportunistic, are especially intrusive due to the size of these economies and the fact that their currencies are an international store of value, creating and worsening international macroeconomic imbalances, besides affecting the already highly asymmetric conditions of competition.
Indeed, these policies have been impacting the production mix and the external accounts of several developing and emerging countries. In Brazil, for example, the exchange rate appreciated extensively and the import penetration increased rapidly, thus driving the government to raise the IOF, a tax levied on financial foreign operations aiming at reducing the level of speculative inflow of foreign currency into the country.
Experiences with different hues of ‘State capitalism’ suggest there is a common tension, of varying levels, between pragmatism and ideology.
Using ‘State capitalism’ policies seems to be becoming popular around the world as the economic crisis and uncertainties grow. The failure of the ultra-liberal economic policies, such as some employed by the United States prior to the crisis, and China’s State capitalism, help us understand why one of the likely legacies of the financial crisis for politicians is the lesson that governments should not limit their role in the economy.
While the attractiveness of State capitalism is understandable within the context of economic crisis, its multiplication on a global scale has harmful implications. In fact, it seems to be highly unlikely that many countries will, simultaneously, benefit from State capitalism owing not only to the fallacy of composition, but also to the negative externalities brought on by them, which tend to upset the economic system, encourage trade and currency wars and raise political tensions between countries.
 Brazilian finance minister Guido Mantega has been the fiercest critic of developed countries going for currency manipulation. [Getty Images]
Brazilian finance minister Guido Mantega has been the fiercest critic of developed countries going for currency manipulation [Getty Images]
For these reasons, making these policies popular will likely hinder the recovery of the world economy. It also raises questions on making the choice between national interests and international commitments, such as those made by the G20, with implications for the credibility of the multilateral system. If, in the short term, State capitalism policies are attractive as a policy tool, in the medium and long term everybody is likely to be worse off, especially developing countries and those that embrace and follow more open policies.
To mitigate the proliferation of State capitalism and its potential risks to the world economy, and to trade in particular, renewed support to the multilateral trade and more transparent rules on currency manipulation will be critical.
The recent election of Mr Roberto Azevedo to the World Trade Organisation reignited the hopes that the Doha Round can still provide the world with a reasonable and fair trade agreement. But that won’t be easy, especially under the current uncertainties of the global economy and the prolonged crisis in the Eurozone.
Large economies, especially the United States, the European Union, China, and Japan, will also have to acknowledge the interdependence of national micro and macroeconomic policies and their impacts on other economies, especially the developing nations. It will also be necessary to double the efforts in coordinating policies and managing conflicting interests.
The views expressed in this article are the author's own and do not necessarily reflect the publisher's editorial policy.

* Jorge Arbache is an economist with large experience in the areas of government, academia, international organisations and private the sector. He is an expert on the Brazilian economy with several dozen academic articles and books published. Jorge is currently senior economic advisor to the president of the Brazilian Development Bank (BNDES).

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Agora, meus comentários, mais no plano filosófico do que no plano prático: 


Capitalismo de Estado é uma contradição nos termos. Se é capitalismo, não pode ser de Estado. Se é Estado, não pode ser capitalista.
São duas realidades completamente distintas, que se situam em dois universos distintos da mesma esfera societal, ou seja, sociedades e povos organizados possuem ambas as dimensões, mas cada uma se pauta por regras completamente diferentes, objetivos totalmente diversos, por mecanismos e instrumentos completamente distintos, embora possa haver certo overlapping em determinadas funções.
Estado é uma dimensão das relações sociais que pode, ou deve, abarcar toda a sociedade.
O capitalismo é apenas uma forma das economias de mercado que não necessariamente abarca toda a sociedade, mas apenas uma parte dela, que tem a ver com o modo (mercantil) de produção e distribuição de bens de mercado, ou seja, de consumo.
O Estado é muito mais do que isso, e pode, pelo menos pretende, disciplinar o capitalismo e colocá-lo a seu serviço, mas sendo suas lógicas completamente diferentes, os resultados podem ser altamente indesejáveis.
Por exemplo: a lógica do Estado é a concentração do poder, o total monopólio da força física de constrangimento individual, alegadamente em defesa da propriedade (o que o capitalismo agradece) e da segurança dos cidadãos, o que nós todos agradecemos.
A lógica do capitalismo (se existe alguma, mas não atribuo nenhuma dimensão metafísica a ele, e sim prefiro falar de capitalismos e de capitalistas) não é a concentração de poder, e sim a atomização dos poderes das empresas capitalistas individuais, atuando em concorrência, sempre.
Por isso mesmo, a colusão entre capitalismo e Estado é uma das coisas mais nefastas e perigosas que existem, pois significa dar a capitalistas (que compraram dirigentes estatais) mais poder do que eles deveriam ter, e dar ao Estado poderes de captação de renda dos cidadãos-consumidores que ele não deveria ter; essa osmose é potencialmente nociva a todos, capitalistas, Estados, mas principalmente aos cidadãos, que se tornam indefesos.
É evidente que o Estado também pode fazer coisas que estão além e acima da capacidade do capitalismo, ou do conjunto dos capitalistas, como são as grandes obras de infraestrutura, defesa, relações exteriores, capacitação geral e elementar da mão-de-obra, enfim, essas funções típicas do Estado que nenhum capitalista pode fazer se não existir um mercado muito bem determinado para sua atuação. Ou seja, o capitalismo pode desempenhar algumas das funções do Estado, mas sempre de modo parcial, regulado, específico, se as formas mercantis se apresentarem de modo satisfatório, pois o capitalismo tem de se basear no lucro, no retorno, nos resultados positivos, coisas que o Estado não precisa, ou não tem como prioritário.
Empresas estatais são invariavelmente mal administradas, e nocivas ao próprio Estado e aos cidadãos, pois se apoiando em mecanismos não mercantis para buscarem seus resultados, o que pode, e deve, ser antieconômico, do ponto de vista dos cidadãos, ou da simples eficiência e racionalidade econômica. Como elas servem a objetivos políticos, invariavelmente seus resultados são menos eficientes do que aqueles que seriam obtidos numa pura relação mercantil.

Agora no plano prático: os EUA são o maior país capitalista existente na face da terra, certo?
Quantas empresas públicas possui o Estado americano?
Ou melhor, qual é o capitalismo de Estado nos EUA?
Paulo Roberto de Almeida 
Hartford, 27 de maio de 2013

Desencontros presidenciais: Brasil e Alemanha, e seus presidentes...

Seria patético, se não fosse ridículo...


Ernesto Caruso, 25/07/2013

        Circulou no noticiário que a presidente Dilma pediu ao presidente da Alemanha, Joachim Gauck, apoio desse Estado para os trabalhos da Comissão da Verdade, que apura violações aos direitos humanos no Brasil entre 1946/1988, mas que se fixa e ecoa por cara publicidade, no período 1964/88, e exclusivamente sobre os que combateram os comunistas. Razões sem contrarrazões, efeitos sem causa. A reunião ocorreu no 31° Encontro Econômico Brasil-Alemanha. E era “econômico”. Inusitado e irônico, não só pelo tema em pauta, mas também pelo passado dos interlocutores em polos opostos.

        Alemanha e Brasil tiveram experiências amargas com os comunistas, com a diferença em que lá, a parte oriental esteve sob o tacão das botas vermelhas do pós-guerra, 1945, até a queda do Muro de Berlin, 1989. Mundo tão bom de viver que quase 3 milhões fugiram para o lado ocidental, 1949/1961 (ano da construção do muro). Mais de mil cidadãos foram metralhados na tentativa de escapar daquele inferno. No Brasil os comunistas foram derrotados em 1935 e no interregno 60/70.
        Já na década de 20 a subversão comunista se fazia presente na Alemanha vinculada ao nome de Olga Benário que era alemã, fugitiva, condenada, depois homiziada na Rússia, veio como guarda-costas de Prestes, conduziram a Intentona de 1935, foi deportada mediante pedido de extradição para Alemanha no governo Vargas, responsável pelo ato com aval do Supremo Tribunal Federal em 1936, bem antes do mundo saber da existência do extermínio nazista dos judeus.
Anos 70, Alemanha Ocidental, assaltos a bancos, sequestros e mortes, atos terroristas da Fração do Exército Vermelho/RAF (Grupo Baader-Meinhof). Julgados, Gudrun Ensslin, Andreas Baader e Jan-Carl Raspe foram condenados à prisão perpétua. Ulrike Meinhof havia se suicidado em sua cela. Os outros três também se suicidaram posteriormente. Foram considerados crimes do Estado? Famílias indenizadas?
Confusão mental, insegurança, desespero. Suicídios comuns; vários são citados no Brasil, como exemplo, se lê na entrevita de Carlos Araújo quando perguntado sobre quem trocara os dólares do cofre do Ademar, uma a Dilma e outra a Maria Auxiliadora, uma médica que depois acabou se matando na Alemanha.
Dois fatos ligam os tribunais revolucionários do Brasil à Alemanha pelos túneis de sangue inocente. Um marcado pela incompetência do grupo comunista Colina que pretendendo se vingar da captura de Guevara pelo capitão Gary Prado do Exército boliviano, assassinou em 1968, Edward Ernest Maximilian, major do Exército alemão, também aluno da Escola de Comando e Estado Maior do Exército. Dentre os terroristas, João Lucas Alves, ex-sargento, que segundo a entrevista de Cláudio Galeno, se hospedava na residência dele e Dilma Roussef.
O outro fato foi o sequestro do embaixador da Alemanha, E. Von Holleben, em 1970 pela Vanguarda Popular Revolucionária. Na ação, um segurança foi morto e dois ficaram feridos.
Como poderia atender o presidente Joachim Gauck — filho de pai preso e deportado para a Sibéria — o hilariante pedido? Ao que consta, exerceu papel importante na reunificação da Alemanha e na queda do Muro de Berlim, sendo responsável pelo arquivo da Stasi, órgão responsável pela segurança do Estado na República Oriental. Não deve ser a pessoa indicada, ou será incoerente, se apoiar o governo atual, eleito democraticamente, mas que no passado a presidente e partidários cometeram os mesmos desatinos vividos pelo povo alemão, assim como em outras nações infiltradas de organizações clandestinas comunistas/terroristas com a estrela vermelha como símbolo.
Nomes e siglas não faltam a lembrar das atrocidades terroristas, como as Brigadas Vermelhas (Itália), Exército Vermelho (Alemanha), Montonero e Exército Revolucionário do Povo (Argentina), Tupamaros (Uruguai), Sendero Luminoso (Peru), FARC, ainda viva (Colômbia), e no Brasil, Aliança Libertadora Nacional (ALN)/Ala Marighela, Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), Vanguarda Armada Revolucionária Palmares, Comando de Libertação Nacional (COLINA), Política Operária (POLOP), MR-8, etc. Operação Condor é fichinha.  
A comissão da meia verdade sabe de tudo isso em profundidade, mas não conta ao povo brasileiro e sim que se lutara pela democracia. Deve ser do tipo República “Democrática” da Alemanha, a oriental, sob títeres filossoviéticos. 

Roberto Civita: uma licao de sabedoria, em tres letras: LER



Em 2008, quando Roberto Civita completou 50 anos na Abril, uma publicação comemorativa trazia uma entrevista constituída de respostas que tinha dado ao longo de sua vida profissional a algumas questões centrais que dizem respeito à imprensa, ao Brasil e ao mundo, hauridas de discursos, palestras, depoimentos etc. 
VEJA.com, 27/05/2013

Como o senhor definiria o Brasil?
O Brasil é um fascinante, exasperante e bendito país!
Qual a razão do otimismo?
Nasceu em casa. Conto uma historinha para ilustrar o que aconteceu pouco antes do golpe militar de 64. Um jantar na casa do meu pai com uns oito ou dez amigos dele e os caras dizendo: “Eu estou tirando o meu dinheiro do Brasil…”, “Estou vendendo a minha fábrica…”, “Vou voltar a viver na Europa…”. O tom era esse. Eu calado porque eram todos de outra geração. Então, meu pai disse: “Pois eu estou comprando uma nova rotativa que custa 5 milhões de dólares”. Os amigos reagiram: “Você está maluco?”, “O que é que deu em você, enlouqueceu?”, “Você não está vendo o que é que está acontecendo neste país? O Brasil vai virar comunista…”, “Acabou tudo e você está investindo…”. A resposta do meu pai foi: “Se tomarem a minha empresa, pelo menos vão tomá-la com uma gráfica decente… É melhor que fiquem com uma gráfica grande”.
O comunismo não veio, o Brasil não acabou e passou até a se modernizar mais rapidamente…
É como dizem os hindus: a sorte é metade do sucesso. Mesmo assim, o que não falta é exasperação, certo? Era agosto de 1983. Eu dava uma palestra na Abril e dizia: “O Brasil está cansado e frustrado com a crise, com a corrupção, com a falta de perspectivas e com um governo que não governa”. Felizmente, concluí a palestra com uma nota otimista, e da qual muito me orgulho. Disse então: “Da mesma maneira que reencontramos os caminhos da democracia e soubemos mergulhar na abertura sem perder o equilíbrio, tenho a certeza de que — muito antes do que se possa imaginar — reencontraremos o caminho do crescimento econômico. Para isso, vai ser preciso repensar e mudar muitas coisas. Mas não tenho dúvida de que, juntos e com muita inteligência e ainda mais trabalho, saberemos fazê-lo”.
Existe uma fórmula mágica para o sucesso?
Sim. Eu a conheço e já registrei com o nome de A Fórmula Mágica da Sorte e do Sucesso (ou — pelo menos — da Sabedoria) em Alguns Minutos por Dia ou Seu Dinheiro de Volta.
Nossa! O senhor pode nos contar como ela funciona?
Trata-se, muito simplesmente, de LER.
Isso é uma sigla?
Verbo. Ler o quê? Tudo o que cair em suas mãos! Folhetos, folhetins, fascículos, panfletos e literatura de cordel. Jornais (grandes, pequenos, nanicos e alternativos), revistas (gerais, profissionais, técnicas… até da concorrência), boletins, fichas de receita, anúncios, embalagens, bulas, enciclopédias, circulares, relatórios, o manual de proprietário do seu carro, quadrinhos, dicionários, programas de teatro, discursos, cartas de amor e — se possível — até alguns livros… Em qualquer lugar. E especialmente no trânsito, no banheiro, no ônibus, no avião, na praia, no elevador, no metrô, no intervalo do jogo no Estádio do Morumbi e — naturalmente — na sala de espera do médico ou dentista. Onde quer que você esteja. Em qualquer momento disponível. Quando não conseguir dormir, quando se encontrar em qualquer fila, no café-da-manhã, na hora do almoço (ou — se estiver de regime — no lugar do almoço), entre duas partidas de tênis no clube, durante os comerciais… até em vez de assistir a uma novela! O importante é reservar tempo para ler. Escolha a hora que quiser. Acorde mais cedo. Durma mais tarde. Mude algum programa. Mas… leia!
Mas funciona mesmo?
A “fórmula mágica” deve ser testada ao longo de, digamos, 23 anos. Até lá não aceitamos reclamações. Falando sério, estou convencido de que a leitura é a receita mais simples para o conhecimento, a atualização permanente, o acesso ao mundo das idéias, a compreensão e a sabedoria. Quanto mais você ler, mais surpresas como estas terá: “Em vez de ser a condição natural do homem e da sociedade, a liberdade é algo que poucos alcançaram, em poucos lugares, através de esforço, dedicação, autodisciplina e engenhosidade social. A liberdade é a exceção da História, não a regra; é aquilo que os homens buscam, não o que possuem”. (Arthur Schlesinger) Ou, ainda, sobre liberdade: “Se uma nação espera ser ignorante e livre ao mesmo tempo, espera ser algo que nunca existiu e que nunca existirá”. (Thomas Jefferson) Ler não envolve apenas a busca de verdades eternas ou receitas universais. Ler é também diversão, entretenimento e bom humor. Alexandre Dumas escreveu sobre o matrimônio: “A cruz do casamento é tão pesada que são necessárias duas pessoas para carregá-la, às vezes três”. E, finalmente, um velho provérbio chinês, aplicável a todos os nossos planejamentos: “É muito difícil fazer profecias, principalmente com relação ao futuro”.
Mas haja memória…
Se me permitirem acrescentar mais uma recomendação àquela básica, eu lhes diria: sempre que possível, leiam com um lápis ou caneta na mão. Marquem os trechos que acharem importantes. Recortem artigos de jornais e revistas. Colecionem as frases ou parágrafos de que gostarem, como outras pessoas colecionam selos, figurinhas, autógrafos, conchas ou chaveiros. Classifiquem seus achados, arquivem-nos, troquem-nos com seus amigos… E voltem, sempre, para saboreá-los. Descobrirão que a sua coleção através dos anos revelará muitas coisas importantes a respeito de si próprios. Bem, se isso não trouxer sorte e sucesso, garanto que — no mínimo — trará sabedoria e muita satisfação.
As revistas podem competir com esses autores fabulosos que o senhor citou?
Podem porque elas são o mais seletivo, segmentado, regionalizado, brilhante, íntimo, aproveitável, portável, rasgável, eficiente, dramático, inteligente, lindo, duradouro e maravilhoso veículo de comunicação que existe.
E com as novas tecnologias?
A revolução iniciada por Gutenberg foi tão importante que ainda não terminou, já passados 500 anos. E, na essência, o que fazemos hoje em matéria de imprensa obedece aos mesmos propósitos que levaram o nosso patriarca a construir a sua primeira prensa: levar informação relevante (no caso dele, os ensinamentos da Bíblia) a um número maior de pessoas, por um custo mais acessível. Na Era da Informação — e apesar de tanta velocidade e diversidade — não podemos deixar de lado a fundamental importância da verdade, da honestidade, da objetividade, da solidariedade, e da “inteligência sensível”. Ou seja, daqueles princípios fundamentais que alicerçam a civilização desde os seus primórdios e sem os quais todo o resto será em vão.
Certas coisas não mudam, não é?
O mundo das publicações está mudando muito rapidamente (e vai continuar mudando ainda mais rapidamente). E a Abril pretende não apenas acompanhar mas liderar essas mudanças.
O que não muda?
Nossa credibilidade continua sendo nosso principal ativo. Daí a fundamental importância da rígida separação entre editorial e publicidade. É o certo a fazer, moral, ética e filosoficamente, como também (e felizmente) o que convém fazer pensando a longo prazo. É o que, afinal, transformou cada uma das nossas publicações na revista líder do seu setor. E é o que vai mantê-las nessa posição e fazê-las crescer e continuar contribuindo para o desenvolvimento do país no futuro.
O que mais não muda?
Quanto mais reflito, e quanto mais tempo sou editor, mais me convenço de que jornalista não precisa de diploma de jornalista, mas sim de uma boa e sólida formação que começa em casa, passa pela escola básica, e pode até chegar à universidade. Um jornalista precisa de escolas, sim — escolas sem rótulos, que ensinem história, literatura, economia, ciência, filosofia, direito… o universo! Um jornalista precisa aprender a pensar, analisar, questionar, usar a cabeça. Um jornalista precisa ler muitos livros, precisa ser curioso, querer saber sempre o porquê das coisas, todas as coisas. E precisa gostar de contar o que descobre, de contar histórias…
Além de querer tem de saber também…
Alguém com esse perfil acima vai ter apenas de aprender o ofício, a técnica, o “como fazer”. Eu não apenas acredito nisso, como pratico há mais de trinta anos.
Quando o senhor sabe que uma publicação está no caminho certo?
Existem muitas variáveis, mas a infalível é quando os jornalistas de uma revista acreditam que o leitor é o seu verdadeiro patrão. Quando eles trabalham unicamente para atender às necessidades desses leitores, por meio de um jornalismo sério, bem pautado, bem apurado, bem escrito, bem editado — resultando em revistas honestas, bonitas, úteis e surpreendentes.
Talvez nunca a imprensa tenha sido tão mal avaliada como agora, o senhor concorda?
Imprecisão, arrogância parcialidade (decorrente da defesa de interesses próprios em detrimento do interesse público), desprezo pela privacidade, insensibilidade, glorificação do bizarro, trivial e banal são queixas mais ou menos comuns atribuídas à imprensa em todos os tempos. Mais do que um elenco de pecados capitais da nossa imprensa, esses itens constituem um roteiro dos males a evitar, um vade mecum do que não deve ser feito.
Como evitá-los?
Primeiro, e principalmente, é preciso respeitar o público leitor. O público não é burro. No máximo ele é mal informado, ocupado com outras coisas, facilmente distraído, muitas vezes por culpa nossa. Os jornalistas devem conhecer melhor seu público. Temos a obrigação de entender que o processo de comunicação envolve não apenas transmitir mas também verificar o que foi captado e entendido do outro lado. E que a compreensão das notícias pelo público é parte essencial do processo. Ou seja, devemos prestar muita atenção no que nossos leitores pensam, acreditam, sentem, escrevem e dizem. Nesse contexto, vale a pena considerar a declaração de William Broyles Junior, ex-editor de Newsweek, quando disse: “Todo jornalista deveria ser entrevistado, analisado e dissecado por outros jornalistas durante certo tempo. Essa simples experiência contribuiria mais para melhorar o jornalismo do que todas as escolas de jornalismo juntas”.
O senhor mesmo gosta de dizer, citando Thomas Jefferson, que apesar de todos os defeitos é melhor ter imprensa imperfeita do que nenhuma, certo?
Aos críticos, nunca é demais repetir: não criamos os fatos, não inventamos a natureza humana, não somos deuses com o poder de alterar o curso dos acontecimentos. Não podemos mudar por muito tempo a verdadeira imagem de personagens ou sufocar as naturais repercussões dos eventos. Não podemos passar as 24 horas do dia ao lado de todas as figuras importantes ou acompanhar a evolução de todos os eventos significativos e significantes; por isso, somos obrigados a selecionar e trabalhar esse material com uma lente de aumento. Nesse processo de seleção, síntese e magnificação, tornam-se mais gritantes certos traços que, de outra forma, ficariam diluídos se porventura tivéssemos o dom da onipresença, ubiqüidade e onisciência — e nossos leitores não fizessem outra coisa que não nos ler o dia inteiro. Nosso Rui Barbosa definiu bem a necessidade da imprensa ao afirmar que ela é “a vista da nação. Através dela a nação acompanha o que se passa ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam ou roubam, percebe onde lhe alvejam ou nodoam, mede o que lhe cerceiam ou destroem, vela pelo que lhe interessa e se acautela do que a ameaça”.
Para finalizar, se fosse preciso escolher um único indicador de qualidade da imprensa, qual seria?
Quanto mais independente do governo, maior será a contribuição da imprensa e da livre-iniciativa ao desenvolvimento do país.

Alianca do Pacifico vs Mercosul: Dez a Zero?

Ou 50 anos em 5, mas não é repetição do JK: o que o Mercosul vai demorar 50 anos para fazer, a Aliança do Pacífico está fazendo em 5 anos...
Paulo Roberto de Almeida

Os membros fundadores da Aliança do Pacífico (Chile, Peru, Colômbia e México) combinaram na cúpula de Cali (Colômbia), que terão até 30 de junho para chegar a um acordo sobre os detalhes do desmantelamento alfandegário que deve afetar, na primeira fase, cerca de 90% do comércio entre os quatro membros. A cúpula serviu para dar um impulso a este ambicioso processo de integração regional e não apenas na área do comércio. Os líderes concordaram em criar um visto único de turista válido para os quatro países e realizar campanhas de promoção turística conjunta. Eles também concordaram em compartilhar embaixadas e expandir a rede de escritórios comerciais conjuntos.
            
2. A prova de sua força está nas presenças da cúpula de Cali: além dos presidentes dos países membros – Eduardo Santos (Colômbia), Sebastián Piñera (Chile), Ollanta Humala (Peru) e Enrique Peña Nieto (México) – os presidentes de dois países candidatos para entrar no clube, Laura Chinchilla (Costa Rica) e Otto Perez Molina (Guatemala), e os primeiros-ministros dos dois países observadores, o espanhol Mariano Rajoy e o canadense Stephen Harper -, além de delegações da Austrália, Nova Zelândia, Japão e Uruguai.

Petrobras-Pasadena: os detalhes sao MUITO PIORES do que o todo...

PETROBRÁS GARANTIU PREÇOS BAIXOS A SÓCIO DE PASADENA (EUA) POR 15 ANOS
O Estado de S.Paulo, 27/05/2013

Documentos internos da Petrobrás sobre a compra da refinaria de Pasadena (EUA) pela estatal, obtidos com exclusividade pelo ‘Broadcast’/‘Agência Estado’, sugerem uma série de falhas por parte dos gestores da companhia na confecção do negócio. As decisões fizeram com que a Petrobrás pagasse US$ 1,18 bilhão pela compra da refinaria que, oito anos antes, valia US$ 42,5 milhões. E, no fim da aquisição, no ano passado, valia quase um décimo do que foi pago.
        
Os documentos mostram que a Petrobrás se comprometeu a vender, por 15 anos, petróleo a um preço que garantisse aos belgas um retorno mínimo no negócio de 6,9% ao ano, já excluindo taxas e impostos. Ou seja, em caso de cenário adverso, o que posteriormente acorreu, a estatal ficaria com o ônus e teria de vender petróleo à sócia por preço fora de mercado.

Economia: finalmente chegamos ao que queriam os companheiros: mais inflacao, menos crescimento

Se não foi deliberado, pelo menos foi buscado, com a inconsciência dos neófitos e a confusão dos incompetentes.


Relatório Focus vê inflação maior e crescimento menor em 2013

Projeção para a inflação subiu para 5,81%; para o PIB, estimativa caiu para 2,93%

27 de maio de 2013 | 9h 05
Eduardo Cucolo, da Agência Estado
BRASÍLIA - A projeção de inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor amplo (IPCA) para 2013 subiu de 5,80% para 5,81%, de acordo com a pesquisa Focus divulgada nesta segunda-feira, 27, pelo Banco Central (BC). Há quatro semanas, a estimativa estava em 5,71%. Para 2014, a projeção segue em 5,80%. Há quatro semanas, estava em 5,71%. A projeção de inflação para os próximos 12 meses subiu de 5,64% para 5,66%, conforme a projeção suavizada para o IPCA. Há quatro semanas, estava em 5,55%.
Nas estimativas do grupo dos analistas consultados que mais acertam as projeções, o chamado Top 5 da pesquisa Focus, a previsão para o IPCA em 2013 no cenário de médio prazo subiu de 5,87% para 5,98%. Para 2014, a previsão dos cinco analistas segue em 5,40%. Há um mês, o grupo apostava em altas de 5,76% e de 6,05% para cada ano, respectivamente.
Entre todos os analistas ouvidos pelo BC, a mediana das estimativas para o IPCA em maio de 2013 subiu de 0,35% para 0,37%, acima do 0,32% previsto há quatro semanas. Para junho de 2013, subiu de 0,29% para 0,30%. Há quatro semanas, estava em 0,29%.
A previsão de crescimento da economia brasileira em 2013 recuou de 2,98% para 2,93% na pesquisa. Para 2014, a estimativa de expansão segue em 3,50%. Há quatro semanas, as projeções eram, respectivamente, de 3,00% e 3,50%. A projeção para o crescimento do setor industrial em 2013 recuou de 2,50% para 2,43%.
Para 2014, economistas preveem avanço industrial de 3,10%, ante 3,50% da pesquisa anterior. Um mês antes, a Focus apontava estimativa de expansão de 2,83% para 2013 e de 3,75% em 2014 para o setor.
Analistas mantiveram ainda a previsão para o indicador que mede a relação entre a dívida líquida do setor público e o Produto Interno Bruto (PIB) em 2013 em 35,00%. Para 2014, a projeção segue em 34,90%. Há quatro semanas, as projeções estavam em, respectivamente, 34,50% e 33,90% para esses dois anos.
Selic
A previsão para a taxa básica de juros (Selic) no fim de 2013 foi mantida em 8,25% ao ano. Já para o fim de 2014, a mediana das projeções subiu de 8,25% para 8,50% ao ano. Há quatro semanas, as duas projeções estavam em 8,25% ao ano.
A expectativa para a Selic no fim de maio segue em 7,75% ao ano, o que indica alta de 0,25 ponto porcentual em relação aos atuais 7,50% ao ano na reunião do Copom desta semana.
A projeção para Selic média em 2013 segue em 7,81% ao ano. Estava em 7,81% há quatro semanas. Para 2014, subiu de 8,33% para 8,50% ao ano. Estava em 8,50% há quatro semanas.
Nas estimativas do grupo Top 5 a previsão para a Selic no fim de 2013 no cenário de médio prazo subiu de 8,25% para 8,38% ao ano. Para o fim de 2014, passou de 8,25% para 8,50% ao ano.

Estaria aumentando o numero de idiotas no mundo? O debate do momento...

Já que uma pesquisa perguntou (ou afirmou, sei lá) se a humanidade não estaria regredindo, em termos de QI, eu acabei me lembrando de um trabalho já antigo, no qual eu me fazia a mesma pergunta.
Acabei respondendo pelo sim e pelo não.
Mas confiram, algum dos links deve funcionar.Este, por exemplo: http://www.espacoacademico.com.br/072/72pra.htm
Paulo Roberto de Almeida

1746. “Estaria a imbecilidade humana aumentando? (uma pergunta que espero não constrangedora...)”, Miami-São Paulo (em vôo), 23 abril 2007, 5 p. Considerações sobre o aumento da idiotice no mundo, com base no fundamentalismo religioso e nas explicações simplistas sobre a vida e o mundo. Publicado em Via Política (29.04.2007, link: http://www.viapolitica.com.br/diplomatizando_view.php?id_diplomatizando=37). Publicado, sob o título de “Está aumentando o número de idiotas no mundo?”, na revista Espaço Acadêmico (ano 6, nr. 72, maio de 2007; ISSN: 1519-6186; link:http://www.espacoacademico.com.br/072/72pra.htm). Republicado, sob o título “O Apogeu dos Idiotas", na revista Mirada Global (www.miradaglobal.com), no dia 25.05.07 (links: em português:http://www.miradaglobal.com/index.asp?id=editorial&principal=200104&idioma=pt; em pdf: http://www.miradaglobal.com/pdf/200104por.pdf; em inglês sob o título “The Height of Idiots”,http://www.miradaglobal.com/index.asp?id=editorial&idioma=en&principal=200104; em pdf: http://www.miradaglobal.com/pdf/200104ing.pdf; em espanhol, “El Apogeo de los Idiotas:http://www.miradaglobal.com/index.asp?id=editorial&principal=200104&idioma=es; em pdf: http://www.miradaglobal.com/pdf/200104esp.pdf). Publicado na Revista Acadêmica Espaço da Sophia (Tomazina, PR: ISSN: 1981-318X, ano I, n. 3, p.1-6, junho 2007; edição eletrônica; link: http://www.espacodasophia.com.br/colunistas/artigos/paulo_roberto/paulo.pdf)

Comercio exterior: fim da bonanca internacional?

Queda de básicos tira US$ 20 bi da exportação

Cifra considera retração nas vendas externas em dois anos, afetada pela baixa de preços

Márcia De Chiara, de O Estado de S.Paulo
27 de maio de 2013

SÃO PAULO - A queda nos preços internacionais das matérias-primas agrícolas, metálicas e do petróleo deve tirar cerca de US$ 20 bilhões das exportações brasileiras entre 2011 e 2013, nas contas da consultoria GO Associados. Em 2011, as vendas somaram US$ 196,9 bilhões e em 2012 foram US$ 183,7 bilhões. Para este ano, a previsão é de US$ 176,9 bilhões, quase US$ 7 bilhões menos de receita - em comparação ao ano passado - obtida com a venda de produtos básicos, que respondem por 70% das exportações brasileiras.
Praticamente todos as matérias-primas agrícolas e minerais estão com os preços em queda no mercado internacional por duas razões: o baixo crescimento dos países desenvolvidos e as incertezas sobre o desempenho da China, o grande comprador desses produtos. Entre 2011, ano de pico das cotações das commodities, e abril deste ano, os preços médios em dólar no mercado de commodities agrícolas, minerais e energéticas acumularam queda de quase 12%, segundo o índice CRB (Commodity Research Bureau), referência mundial.
Além dos reflexos negativos na receita de exportação e no saldo comercial do País, os preços em queda já começaram a ter impactos nos planos das empresas. A Vale, a maior produtora de minério de ferro do mundo, cortou em US$ 7,8 bilhões os investimentos programados para este ano. O analista da corretora SLW, Pedro Galdi, lembra que a Rio Tinto também reviu investimentos. O minério de ferro responde por pouco mais de 10% das exportações totais do País, ou US$ 30 bilhões.
Outro sintoma da mudança de humor das empresas ligadas ao setor de produtos básicos aparece nas consultas recebidas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para obter financiamento. No setor químico, por exemplo, houve queda de 51,6% no volume registrado no primeiro trimestre deste ano ante igual período de 2012. No segmento de celulose, o recuo foi de 7% em igual período.
"O cenário hoje é de queda de preço das commodities e isso pesa no saldo comercial", afirma o diretor de pesquisa econômica da consultoria GO Associados, Fabio Silveira. Para este ano, ele projeta que as exportações brasileiras somem US$ 235 bilhões, recuo de 3% sobre 2012 ou US$ 7,6 bilhões menos. Dessa retração, US$ 6,8 bilhões serão provenientes da queda nas vendas de commodities agrícolas e minerais e das quase commodities, como produtos intermediários, além do petróleo.
Em termos de saldo da balança, Silveira calcula que o superávit este ano caia mais da metade: de US$ 19,4 bilhões em 2012 para US$ 8 bilhões. A retração será em boa parte provocada pelas commodities, além do aumento das importações.
Déficit. O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, acredita que a queda nos preços das commodities deve subtrair entre US$ 7 bilhões e US$ 8 bilhões das exportações brasileiras este ano. Além disso, Castro considera que a balança feche 2013 no vermelho, mas ainda não arrisca fazer projeções sobre o tamanho do buraco. Se a previsão se confirmar, será o primeiro déficit desde 2000. "Estamos no fio da navalha do déficit." No ano, até a terceira semana de maio, as exportações somam US$ 84,1 bilhões e as importações, US$ 89,2 bilhões. O déficit é de US$ 5,095 bilhões, segundo o Ministério da Indústria e Comércio.

Roberto Civita: um editor que acreditava no seu trabalho (Abril-Veja)


Por Augusto Nunes
VEJA.com, 26/05/2013

“Gosto de ser editor e o que eu sei fazer é revista”, dizia Roberto Civita. Mesmo depois de 1990, quando a morte de Victor Civita o levou a assumir o comando da Abril e chefiar o processo de diversificação do grupo fundado pelo pai, ele nunca se afastou da atividade que o seduziu definitivamente na década de 60, quando começou a por em prática os conhecimentos assimilados anos antes, na sua segunda temporada nos Estados Unidos. Nascido em Milão, Roberto Civita morou em Nova York de 1939 a 1949, quando veio para São Paulo. O bom desempenho no Colégio Graded garantiu-lhe uma bolsa de estudos nos EUA, onde percorreu, ao longo da década de 50, caminhos que o levariam à descoberta da vocação profissional e à volta definitiva ao Brasil.
Depois de interromper o curso de Física Nuclear na Universidade Rice, no Texas, para diplomar-se em jornalismo e economia na Universidade da Pensilvânia, Roberto Civita conseguiu um estágio na editora Time Inc, que controlava as revistas Time, Life e Sports Illustrated. Durante um ano e meio, familiarizou-se com todos os setores da empresa, da redação à contabilidade. Em 1958, quando Victor Civita perguntou ao filho que acabara de voltar o que pretendia fazer, ouviu a resposta que apressaria a entrada da Abril no universo jornalístico: “Quero fazer uma revista de informação semanal, como a Time, uma revista de negócios como a Fortune e uma revista como a Playboy”, respondeu.
O pai prometeu preparar a empresa para o passo audacioso, consumado em 11 de setembro de 1968, quando chegou às bancas a primeira edição de VEJA. Roberto Civita participou intensamente das experiências pioneiras que resultaram no lançamento de Realidade, Exame, Quatro Rodas ou Playboy. Mas nada o deixava mais emocionado que recordar a trajetória descrita pela primeira revista semanal de informação do Brasil. Foi ele quem a criou. E foi ele o primeiro e único editor de VEJA, hoje a maior publicação do gênero fora dos Estados Unidos.
“Ninguém é mais importante que o leitor, e ele merece saber o que está acontecendo”, lembrava aos recém-chegados. “VEJA existe para contar a verdade. A fórmula é muito simples. Difícil é aplicá-la o tempo todo”. Sobretudo em ambientes hostis à liberdade de expressão, aprendeu Roberto Civita três meses depois do parto da revista. Em 13 de dezembro de 1968, a decretação do Ato Institucional n° 5 transformou o que era um governo autoritário numa ditadura militar sem disfarces. A capa da edição que noticiou o endurecimento do regime exibiu uma foto do general-presidente Arthur da Costa e Silva sentado, sozinho, no plenário do Congresso que o AI-5 havia fechado. Os chefes militares não gostaram da imagem, e ordenaram a apreensão de todos os exemplares. A essa violência seguiu-se a instauração da censura prévia, que só em meados da década seguinte deixaria de tolher os passos de VEJA.
Risonho, cordial, otimista, Roberto Civita sempre acreditou que nenhuma atividade vale a pena se não for praticada com prazer. “Você está se divertindo?”, perguntava insistentemente aos profissionais com quem convivia. Mantinha-se otimista mesmo quando contemplava a face sombria do país. Para ele, o Brasil só conseguiria atacar com eficácia seus muitos problemas se antes aperfeiçoasse o sistema educacional, modernizasse o capitalismo nativo, removesse os entraves à livre iniciativa e consolidasse o estado democrático de direito. “O que VEJA defende, em essência, é o cumprimento da Constituição e das leis”, repetia. Também essa fórmula parece simples. Difícil é colocá-la em prática. Foi o que o editor de VEJA sempre soube fazer.

domingo, 26 de maio de 2013

Brasil-Argentina: uma análise equilibrada por um conhecedor - Dante Sica


Dez anos de kirchnerismo e a relação com o Brasil

26 de maio de 2013 | 2h 06
DANTE SICA - O Estado de S.Paulo
As administrações kirchneristas completaram dez anos de governo ininterrupto, período que a presidente Cristina Kirchner chamou de "década ganha" (em contraste com a chamada "década perdida" dos anos 80), com certo fundamento se a análise se restringir a comparar pontas do ciclo. Mas considerar estes últimos anos como um todo e como um único esquema de política econômica é, a nosso ver, um erro. Porque, de acordo com nosso diagnóstico, ele é composto por três etapas, não uma só. Uma diferença que não é irrelevante, já que os resultados a que se chega seguindo esse caminho abrem um leque de dúvidas quanto aos benefícios da década.
A primeira etapa é a da abundância, caracterizada por alto crescimento num ambiente de baixa inflação, em que a economia mostrava fortalezas macroeconômicas inéditas. Isso se traduziu rapidamente em melhoria dos indicadores sociais, acompanhada por uma política agressiva das autoridades nacionais nesse campo. Nessa etapa, soube-se aproveitar o vento de popa externo que favoreceu toda a região. A isso se somou um ponto de partida pós-crise de 2001-02 muito favorável, com recursos produtivos ociosos e um câmbio real muito elevado, o que possibilitou um crescimento a taxas inéditas sem se chocar com as restrições fiscais e externas, evitando repetir a história das décadas anteriores. Porém, lamentavelmente, durante esse período se falhou em assentar as bases para sustentar o crescimento.
Isso deu passagem a nova etapa, na qual, em vez de melhorar e mudar essas questões, se tentou remendar as falhas da anterior. Uma etapa em que ficou de lado a abundância, as restrições fiscal e externa começaram a operar em maior ou menor medida e, portanto, os graus de liberdade da política econômica se reduziram. Assim, em meio a uma volatilidade mais acentuada associada a essas margens menores e a um contexto externo conturbado, a economia mostrou maior heterogeneidade em termos de crescimento, com tendência à desaceleração e uma característica que distinguiu essa fase: inflação ascendente até se estabilizar em níveis elevados.
Esse período terminou em 2011. Nesse ano todos os remendos nas inconsistências vindas da etapa anterior se mostraram insuficientes para conter as pressões de todo lado sobre a política econômica, forçando uma mudança de regime. Isto é, não só modificações sobre uma mesma base de política econômica, mas uma mudança total das regras do jogo. Isso abriu nova etapa, a da escassez.
Esse período apagou o crescimento. O investimento despencou e a economia parou de gerar postos de trabalho no setor privado. A economia voltou assim a entrar em cheio, definitivamente, nos ciclos stop-and-go que a caracterizaram em todo o pós-guerra, com uma sucessão de recessões e expansões no marco da inflação alta, embora com uma diferença não desprezível: o contexto internacional, representado pelo preço da soja em torno de US$ 500 a tonelada, e uma pressão fiscal inédita, com uma arrecadação que subiu 10% do PIB em todos esses anos. Num cenário com essas características, é praticamente inexplicável que haja falta de dólares e problemas fiscais. Só o mau desempenho das autoridades pode explicar isso.
Uma década de relação oscilante com o Brasil - A relação com o Brasil foi sempre um reflexo dessas etapas por que transitou a economia argentina nas administrações kirchneristas. Os primeiros anos se caracterizaram por forte aumento das importações do sócio principal, o que deteriorou rapidamente o saldo comercial bilateral. Mas também foi marcada por intensa chegada de investimentos brasileiros, que vieram substituir os de países desenvolvidos. Decisões de investimento que foram enquadradas numa estratégia de internacionalização de empresas do país vizinho, na qual o mercado argentino desempenha papel importante.
Mas no contexto de aumento incessante das importações vindas do Brasil começaram a se fazer ouvir vozes reclamando regulamentações do comércio que protegessem a produção argentina, sobretudo no setor industrial, situação que se agravou com a crise internacional. Assim se intensificaram os primeiros acordos sobre cotas para diversos produtos sensíveis.
Esse panorama se agravou ainda mais já bem entrada a terceira etapa. A necessidade de sustentar o superávit comercial como única ferramenta de geração genuína de divisas na economia obrigou a Argentina a implementar restrições amplas e universais à importação de todo tipo de produtos. O objetivo foi reduzir os déficits comerciais mais significativos em nível setorial, alcançando vários itens de que o Brasil é um dos principais provedores, o que endureceu as posições. Em especial porque a redução das importações oriundas do Brasil muitas vezes não foi compensada por maior produção argentina, mas por um aumento simultâneo da entrada de produtos de outras origens.
Esse cenário piora se somarmos a análise dos maus sinais provenientes do lado do investimento, que têm muito que ver com esse clima negativo em matéria comercial, mas também com a crescente incerteza para fazer negócios na Argentina. O caso Vale, incluindo a forma como se tratou a situação em ambos os países, parece ser a gota d'água do velho formato em que se baseou a relação bilateral (ainda que por trás da decisão da empresa mineradora haja questões próprias de seu negócio), abrindo a porta para um novo cenário que terá de se definir em algum momento próximo.
Assim, a relação bilateral parece estar passando por um equilíbrio muito precário. No entanto, o vínculo histórico e estratégico que nos liga permitirá superar esta e qualquer outra contingência. A vontade política e a vocação de integração nos dois países sempre foram suficientes para resolver as questões em aberto. Mas as tarefas pendentes terão de seguir esperando um momento mais oportuno.
DANTE SICA É ECONOMISTA, DIRETOR DA CONSULTORIA ABECEB.COM, FOI SECRETÁRIO DE INDÚSTRIA DA ARGENTINA