O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

sábado, 5 de abril de 2014

O academico aloprado (petista, claro) e o economista sensato: o primeiro quer enganar, o segundo apenas explica...

Inacreditável como esses gramscianos petistas não sabem fazer contas. Com isso, eles vão enganando muita gente, como já enganaram, para ganhar. O problema, depois, é governar.
Como explica Mansueto, alguém precisa pagar a conta.
A herança maldita que está sendo deixada pelos companheiros já está pesada demais.
Paulo Roberto de Almeida


Mansueto Almeida, 5/04/2014

Fazia tempo que não lia um artigo tão “bom” em defesa do aumento da carga tributária, impostos indiretos e a continuidade do processo de desindustrialização como este do professor André Singer na Folha de São Paulo (clique aqui).
Explico. O professor explica algumas das demandas das centrais sindicais em passeata que ocorrerá esta semana como uma luta de “cada classe social no jogo que se arma em torno da eleição de outubro e do programa a ser executado pelo futuro governo, qualquer que seja ele”.
O que o professor não esclarece é que para atender integralmente essas demandas (legítimas) das centrais sindicais será necessário um brutal aumento da carga tributária. Quando falo “brutal” quero dizer elevar a carga tributária em pelo menos 10 pontos do PIB nos próximos 4 anos. Assim, não se trata de uma luta do bem contra o mal, como parece sugerir o professor da USP. Vamos ver os quatro pontos levantados pelo professor André Singer que são as demandas das centrais sindicais.
(1) Continuidade de valorização do salário mínimo (SM): Sim, o crescimento real do SM desde 2003 foi de 72%. Mas até mesmo as centrais sindicais reconhecem que não será possível continuar com aumentos reais acima do crescimento da produtividade. Com salários crescendo acima da produtividade, ganha quem consegue repassar aumento de custo para preços, ou seja, ganha o setor de serviços e perde a indústria. Adicionalmente, além dos efeitos no mercado de trabalho, crescimento do salário mínimo implica maior despesa previdenciária e assistencial, isso não ocorre nos outros países.
A sociedade quer manter a politica de valorização do salario mínimo nos moldes atuais? OK, mas então será preciso explicar quem pagará mais impostos. Como 49% da arrecadação de impostos no Brasil é imposto indireto, isso significa mais imposto indireto e produtos mais caros ainda. Em outra ocasião explico porque não dá para conseguir esse extra via imposto direto.
(2) Fim do fator previdenciário e valorização das aposentadorias: aqui vou confiar na declaração do próprio governo do PT. O ministro da previdência do governo Dilma, Garibaldi Alves, tem afirmado recorrentemente que é impossível acabar com o fator previdenciário sem estabelecer uma idade mínima para aposentadorias e o próprio ministro, em mais de uma vez, já falou da grande distorção que é o sistema de pensões no Brasil (ver aqui). O Brasil gasta com pensões em torno de 3% do PIB, o dobro da média de países desenvolvidos que gastam 1,5% do PIB.
Assim, quando Singer fala que: “cresce a exigência do capital para que se estabeleça uma idade mínima de aposentadoria e haja menos gastos com pensões por morte e com o seguro-desemprego” não está sendo honesto. Essa agenda não é do capital, mas sim do próprio governo que sabe que, se nada for feito, precisaremos aumentar mais ainda a carga tributária. Será que o ministério da previdência é um representante do grande capital?
(3) Redução dos juros e do superávit primário: Novamente o professor passa a impressão que o aumento de juros é injusto pois tira recursos públicos de outras áreas essenciais. O problema é que com uma inflação de 6% ao ano mesmo com o quase congelamento dos preços administrados, sem o aumento de juros a inflação estaria ainda maior. Se o governo não quer aumentar a taxa de juros, ele poderia fixar o centro da meta de inflação em 6,5% e não em 4,5%. Quanto maior for a meta de inflação, menor será a taxa de juros necessária para trazer a inflação para o centro da meta. Mas será que os trabalhadores querem isso? Será que é bom ter mais inflação para ter uma taxa de juros menor? será os trabalhadores votariam em um candidato que prometesse elevar a meta de inflação para 10% ao ano para reduzir os juros?
(4) Transporte público de qualidade, 10% do Orçamento da União para a saúde, 10% do PIB para a educação: Esse é o meu grupo preferido. Quem é contra essa agenda? Que eu saiba ninguém, mas o problema é sempre quem paga a conta. O Brasil gasta com educação algo perto de 5,5% do PIB. De onde vamos tirar 4,5% do PIB a mais? Aumentando impostos?
Transporte público de qualidade exige mais recursos. No âmbito dos municípios, prefeitos podem aumentar IPTU e, no caso do governo federal, é possível o governo aumentar novamente a CIDE (que hoje está com alíquota “zero”) e utilizar recursos para investir em transporte público. Novamente, estamos falando de aumento de carga tributária. É isso que a sociedade quer?
Por fim, o aumento do gasto com saúde para 10% do orçamento da União. O gasto com saúde do governo federal no ano passado, 2013, foi de R$ 83,3 bilhões, ou 9,1% da despesa total não financeira do Governo Central que foi R$ 914 bilhões. Chegar aos 10% em valores do ano passado significaria um gasto adicional de 8 bilhões. Esse valor que falta já está em restos a pagar, valor foi empenhado mas não gasto.
Agora se os 10% for em cima do orçamento total (que inclui as transferências para estados e municípios) o valor seria muito maior. Por exemplo, a receita primária esperada pelo Governo Central este ano é de R$ 1,3 trilhão. Logo, 10% disso significa R$ 130 bilhões; ou um crescimento de 56% em relação ao executado no ano passado para a função saúde. Esse crescimento seria equivalente a 1 ponto do PIB.
Conclusão:
Seria muito bom os trabalhadores entrarem nesta briga, mas seria bom que suas demandas fossem também seguidas de um debate sobre como financiar o aumento dos gastos. A agenda acima só é possível com um aumento brutal da carga tributária em mais de 10 pontos do PIB nos próximos quatro anos.
E os juros? O gasto do governo com juros, em 2013, foi de 5,2% do PIB. Mesmo com a hipótese heróica de um calote total na dívida pública, a economia seria de 5 pontos do PIB. Não seria suficiente para financiar a agenda acima e precisaríamos também de mais carga tributária. Infelizmente, sonho não resolve problemas. Essa foi a frase que faltou no artigo do professor André Singer.
Faltou também  na lista de demandas das centrais sindicais o fim imediato dos subsídios para os ricos, ou seja, acabar imediatamente com os empréstimos do Tesouro para bancos públicos e aumentar a TJLP. Não entendo porque as centrais sindicais não batem neste ponto. Ao que parece, todo mundo está querendo aumento de carga tributária ou, como fizemos no passado, que a inflação resolva nossos problemas. E ai, quando teremos a passeata em defesa do aumento de 10 pontos do PIB de carga tributária?

mansueto | 5 de abril de 2014 às 7:12 PM | Categorias: Economia | URL: http://wp.me/pAMib-11g

Eleicoes 2014: transferencia de votos e prognosticos com base em pesquisas de opiniao - Alberto Carlos Almeida

A avaliação do governo Dilma está no limbo
Alberto Carlos Almeida
Valor Econômico, 4/04/2014

César Maia reapareceu. Durante 2009 e no início de 2010, ele defendeu o argumento complexo e mirabolante de que Lula não seria capaz de transferir votos para Dilma. Em seu ex-blog Cesar Maia, em abril de 2010, ao ilustrar a incapacidade de transferência de votos de Lula para Dilma, o ex-prefeito do Rio disse: "Em fevereiro do 2009 fiz uma análise do personagem Dilma Rousseff lembrando que a transferência de votos entre políticos de personagens diferentes é muito difícil. No caso de Lula e Dilma, trata-se de personagens antípodas. Aliás, o personagem Dilma - séria, tecnocrática, vertical, inflexível - foi criado pelo próprio Lula pós-mensalão. Lula, do ponto de vista da psicologia social, é um personagem feminino, próximo, amigo, acarinhável, vitimizável. Dilma é um personagem, do ponto de vista da psicologia social, masculino, distante, vertical. Talvez Patrus fosse um personagem com perfil mais próximo a Lula. Agora é tarde, Inês é morta".

Ler esse texto hoje, quando sabemos que Dilma derrotou Serra por uma margem de 12 pontos percentuais (em nenhuma eleição recente nos Estados Unidos o vencedor abriu uma margem tão folgada no voto popular), é um exercício revelador do desacerto da análise. O texto de Maia indicava que se tratava de um raciocínio sofisticado, inteligente, brilhante, genial. A realidade foi mais dura e simples. O eleitorado que avaliava o governo como ótimo ou bom, ao tomar conhecimento de que Dilma era a candidata governista, decidiu passar a votar nela.

Esse processo de aumento de conhecimento do candidato governista se acelerou e se massificou com o início do horário eleitoral gratuito. Todos os argumentos supostamente brilhantes foram anulados pela realidade, foram atropelados por um rolo compressor denominado conversão de avaliação positiva do governo em votos para o candidato governista.

Cesar Maia, em todo aquele período eleitoral, utilizou metáforas pouco conhecidas e tentou cunhar novos termos: luta de espadachins, jogo de xadrez, jogo go e também "jogo de coordenação", segundo ele uma expressão que significa processo de distribuição de informações e de troca de opiniões entre as pessoas até que a intenção de voto se transforme em decisão de voto. Foram muitas metáforas e muitos termos não usuais. O que realmente aconteceu é que à medida que o eleitorado tomou conhecimento de que Dilma era a candidata do governo, passou a votar em Dilma. Como a maioria aprovava o governo, a maioria decidiu, no decorrer do último ano, abandonar Serra e passar a votar em Dilma.

Os dados mostram que em janeiro de 2009, em segundo turno, Serra tinha 63% de votos de quem avaliava Lula como ótimo e bom. Essa proporção veio caindo desde então, atingiu 43% em maio de 2009, ficou estabilizado daí até dezembro e continuou caindo em seguida para 31% em maio de 2010 e 21%, apenas, em agosto. Dilma conheceu trajetória oposta à de Serra. Em janeiro de 2009, tinha somente 15% de quem avaliava o governo Lula como ótimo ou bom. Ela subiu para 39% em maio de 2009, ficou estabilizada em quase 50% no primeiro semestre de 2010 e subiu bastante depois que começou a propaganda na TV, convertendo em votos 70% do ótimo e bom de Lula. Óbvio e ululante.

Cesar Maia reapareceu e afirmou, na semana passada, que os erros de Aécio e do PSDB podem levar Dilma a vencer no primeiro turno. Será que mais uma vez o ex-prefeito do Rio vai errar em suas análises?

O Instituto Análise fez um levantamento de 104 eleições para governador ocorridas no Brasil entre 1994 e 2010. A partir de 1998 passou a haver reeleição. De lá para cá, 46 governadores eleitos quatro anos antes disputaram a sua reeleição. A primeira descoberta importante é que todos os governadores que disputaram a reeleição com a soma de ótimo e bom igual ou maior do que 46% foram reeleitos.

Sérgio Cabral está nesse grupo. Ele foi reeleito em 2010, quando sua avaliação positiva estava em torno de 60% no fim de setembro. Aécio Neves, em 2006, estava com mais de 65% de ótimo e bom; Eduardo Campos tinha em 2010, às vésperas da eleição, mais do que 70% de ótimo e bom. Aqueles que ficaram mais próximos do limite de 46% foram Joaquim Roriz em 2002; Cássio Cunha Lima, que tinha 47% em 2006; Roseana Sarney, com 48% em 2010; e Jarbas Vasconcelos, com 50% de avaliação positiva em 2002.

Igualmente importante é a conclusão desse mesmo estudo: todos que tiveram menos de 34% de ótimo e bom foram derrotados em seu objetivo de ser reeleitos - Miguel Arraes, em 1998; Yeda Crusius, no Rio Grande do Sul, em 2010; José Bianco, em Rondônia, em 2002; e Valdir Raupp, no mesmo Estado, quatro anos depois; Ana Júlia, no Pará, em 2006; Germano Rigotto, no Rio Grande do Sul, no mesmo ano; e Paulo Afonso, em Santa Catarina, em 1998. Esses sete governadores não conseguiram ser reeleitos porque sua avaliação estava abaixo de 34% de ótimo e bom. Trata-se de uma avaliação muito ruim - quando isso acontece, o desejo de mudança é mais disseminado do que o desejo de continuidade. O eleitorado foi claro nessas sete eleições: queremos trocar de governo.

Atualmente, o governo Dilma tem 36% de ótimo e bom. Se ela estivesse disputando uma eleição para um governo estadual, não estaria na faixa cuja vitória é certa, acima de 46% de ótimo e bom, nem na faixa na qual a derrota é certa, abaixo de 34% de ótimo e bom. O atual patamar de avaliação do governo Dilma, entre 35 e 45% de ótimo e bom, a põe na faixa na qual 42% dos governadores que disputaram a reeleição foram vitoriosos, ao passo que 58% foram derrotados. Dilma é candidata à reeleição, mas não para um governo estadual. Ela é candidata a presidente. Assim, alguns poderiam argumentar que as eleições de governador são um parâmetro ruim para analisar uma eleição presidencial. Pode ser que sim, pode ser que não.

Nas duas reeleições ocorridas no Brasil, Fernando Henrique em 1998 e Lula em 2006, os candidatos foram vitoriosos com uma avaliação muito próxima dos 46% de ótimo e bom dos governadores reeleitos: Fernando Henrique tinha 43% às vésperas da eleição e Lula, 47%. Considerando-se as margens de erro das pesquisas, é possível que Fernando Henrique tivesse uma avaliação um pouco melhor, talvez 44 ou 45% de ótimo e bom. O fato é que a diferença entre os 43% de FHC e os 46% acima do qual todos os governadores foram reeleitos é irrisória. Os dois candidatos a presidente que disputaram a reeleição se encaixam na regra dos governadores.

O Instituto Análise também estudou as eleições para prefeito. Foi analisado qual é o patamar de ótimo e bom a partir do qual as chances de um prefeito ser reeleito é de 100% ou próximo disso. Ao contrário do que acontece nas eleições para governadores, há prefeitos que são derrotados mesmo com uma avaliação positiva na casa dos 60%. O inverso também ocorre com frequência: prefeitos com avaliação muito negativa, menor do que 34% de ótimo e bom, são vitoriosos.

Isso se dá porque o prefeito está mais próximo do eleitor do que o governador ou o presidente. Muitas vezes a vida pessoal do prefeito é bem conhecida em seu município - mesmo em lugares populosos, sabe-se onde o prefeito mora, que viagens ele fez no último ano, como é sua vida familiar etc. Isso faz que a avaliação de governo tenha outros competidores, todos bem menos impessoais do que simplesmente a aprovação ou desaprovação de um governo.

Os cargos de presidente ou de governador estão muito distantes do eleitor. São cargos que suscitam uma relação mais impessoal entre o representante e o representado. Dificilmente ele se encontrará com um deles em uma campanha eleitoral ou durante o mandato. A melhor maneira de escolher, a mais racional e mais eficiente, é por meio de um critério igualmente distante e impessoal. Eis que nesses casos a avaliação do governo tem um peso maior. É nesse sentido que talvez seja possível aproximar a eleição de presidente com as eleições de governador. Além disso, não devemos nos esquecer de que muitos de nossos Estados são, em área geográfica e população, maiores do que numerosos países.

O estudo de 104 eleições para governador e 2 para presidente serve de alerta para o governo Dilma. A avaliação do governo Dilma está no limbo. Considerando-se o estudo das eleições para governador, caso a avaliação caia de três a cinco pontos percentuais, a oposição tende a se tornar favorita para vencer. Caso a avaliação melhore de três a cinco pontos percentuais, vá para perto de 40% de ótimo e bom, e caso ocorra com Dilma o mesmo que ocorreu com Fernando Henrique e Lula - que melhoraram sua avaliação depois de agosto do ano eleitoral -, ela se torna favorita para vencer. Limbo vem do latim "limbus", que significa beira. O governo Dilma está entre duas beiras, na beira do inferno e na beira do céu. Já Cesar Maia não tem eira nem beira.


Alberto Carlos Almeida, sociólogo, é diretor do Instituto Análise e autor de "A Cabeça do Brasileiro".

Eleicoes 2014: popularidade da candidata do PT cai, petistas se preocupam...

O pessoalzinho começa a engrossar o coro que se sabe: vão cristianizar a dita cuja antes mesmo da campanha.
Paulo Roberto de Almeida 

Folha de S.Paulo, 5/04/2014

A pesquisa Datafolha divulgada neste sábado (5) pelo site do jornal "Folha de S.Paulo" indica que a presidente Dilma Rousseff (PT) teria 38% das intenções de voto e venceria no primeiro turno caso a eleição fosse hoje e ela tivesse como adversários o senador Aécio Neves (PSDB), o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), e incluísse partidos menores.
Nesse cenário, Aécio teria 16% das intenções de voto, e Campos, 10%. Votos em branco ou nulos seriam a opção de 20%. O outros 9% responderam que não saberiam em quem votar.
O Datafolha entrevistou 2.637 pessoas em 162 municípios na quarta (2) e quinta (3), com margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Em relação à pesquisa feita em fevereiro e comparando o mesmo cenário, a intenção de votos em Dilma caiu de 44% para 38%. Aécio manteve os mesmos 16% de intenções de voto e Campos tinha 9%.
Cenários
De acordo com a pesquisa Datafolha, em cinco cenários, a única candidata que poderia levar as eleições para presidente para um eventual segundo turno seria Marina da Silva, com 27% das intenções de voto - o que representa uma elevação de 4% em relação ao levantamento de fevereiro deste ano. Neste caso, Dilma teria 39% das intenções de voto, e Aécio, 16%.
Sem os partidos menores, Dilma teria 43% das intenções de voto, Aécio, 18%, e Campos, 14%.
Caso Lula fosse o candidato do PT na disputa para a presidência, ele teria 52% das intenções de voto. Aécio teria 16%, e Campos, 11%.
No cenário com Lula, Marina e Aécio, o candidato do PT teria 48% das intenções de voto, Marina 23%, e Aécio, 14%.
Segundo o levantamento do Datafolha, a queda na aprovação da presidente Dilma Rousseff em relação à última pesquisa está relacionada com a deterioração das expectativas de inflação, com o emprego e com o poder de compra da população. Ao mesmo tempo, a pesquisa também mostra que, hoje, para 63% dos entrevistados, a presidente faz menos pelo país do que eles esperavam - contra 34% há pouco mais de um ano atrás.

Cenário A (com os partidos menores)
- Dilma: 38%
- Aécio: 16%
- Campos: 10%
- Brancos/nulos: 20%
- Não sabe: 9%

Cenário B (sem os partidos menores)
- Dilma: 43%
- Aécio: 18%
- Campos: 14%
- Brancos/nulos: 19%
- Não sabe: 6%

Cenário C
- Dilma: 39%
- Marina: 27%
- Aécio: 16%
- Brancos/nulos: 13%
- Não sabe: 6%

Cenário D
- Lula: 52%
- Aécio: 16%
- Campos: 11%
- Brancos/nulos: 16%
- Não sabe: 5%

Cenário E
- Lula: 48%
- Marina: 23%
- Aécio: 14%
- Brancos/nulos: 11%
- Não sabe: 4%

O Globo, 5/04/2014

A queda tanto na aprovação do governo Dilma como na corrida presidencial na pesquisa Datafolha, publicada neste sábado, acendeu sinal amarelo na cúpula do PT. Para dirigentes do partido ouvidos agora pelo Blog foi confirmado o pior cenário para a presidente Dilma com a percepção negativa do quadro econômico e a expectativa de que a inflação vai aumentar.

A constatação interna é de que a perda de seis pontos na corrida presidencial vai criar um ambiente interno pelo “Volta, Lula”. O Palácio do Planalto também teme o movimento no PT pela substituição de Dilma pelo ex-presidente nas eleições de outubro, já que Lula aparece com desempenho bem superior ao da presidente. A avalição no núcleo palaciano é que esse é o maior obstáculo de Dilma.

Ontem, em São Paulo, Dilma e Lula se encontraram por três horas para tentar acertar os ponteiros. Para um dirigente petista, a maior dificuldade hoje “é a própria capacidade da presidente Dilma em reagir ao cenário político adverso, já que até o momento os seus principais adversários, Aécio Neves, do PSDB, e Eduardo Campos, do PSB, não conseguiram melhorar seus respectivos desempenhos na pesquisa Datafolha”.

Apesar desse levantamento (publicado hoje) não ter aferido o efeito do escândalo envolvendo irregularidades na Petrobras, a percepção no PT é que o noticiário negativo das últimas semanas influenciou na avaliação do governo Dilma.

Entre os números do Datafolha, causou forte preocupação na cúpula do PT avaliação negativa de 31% na região Sudeste. Também preocupou o índice de 25% de ruim e péssimo em todo país. Na pesquisa Datafolha, a queda na aprovação do governo Dilma foi de cinco pontos, de 41% para 36% de ótimo e bom em todo o país.

Ainda sobre 1964: um depoimento de fonte primaria sobre o presidente Goulart

Recebo, de um amigo mais velho, este depoimento pessoal, sobre um "despacho" de técnicos, sobre a "luta" contra a inflação, já na fase agônica do governo Goulart.
A Sunab, para quem não sabe, era a Superintendência de Abastecimento, um órgão criado na era Vargas para cuidar dos estoques de alimentos e, como soe acontecer no Brasil inflacionário, começou a também fixar preços, tanto para o produtor -- o que obviamente reduziu a oferta -- como para o distribuidor e varejista, tudo para não alimentar a inflação e beneficiar o consumidor. Como sempre ocorre, nesses casos, todos os controles de preços são irracionais e contraproducentes, pois acabam provocando aquilo mesmo que pretendiam evitar. Mas isto já é teoria econômica, vejamos o lado real da coisa.
Vale como testemunho histórico. Acrescento abaixo, minha resposta a este amigo.
Paulo Roberto de Almeida 

Um depoimento sobre sobre 1964

On Apr 5, 2014, at 11:26, Rxxxxx <rxxxxxx@uol.com.br> wrote:

Meu caro Paulo Roberto: 
Em 1964 eu tinha 27 anos e era assistente do superintendente da Sunab depois de brigar com o Celso Furtado no Min. Planejamento(isto fica para outro dia). 
A equipe da Sunab, inclusive seu superintendente era extraordinária, formada em sua maioria por gente do Banco do Brasil que nesta  época se constituía na nata do funcionalismo público, todos com larga experiência na área agrícola e de abastecimento. Eram todos absolutamente honestos, é bom que se diga. 
Pois muito bem um belo dia tivemos que viajar pra Brasilia para despachar com o Presidente da República. Jango já [estava] em pleno presidencialismo. 
Fomos recebidos por ele numa sala cheia de gente um barulho infernal. Todos dirigentes sindicais que denominávamos de "pelêgos". 
Jango, de perna esticada, nos recebeu neste gabinete aonde durante 20 minutos expusemos nossos planos de abastecimento. Tínhamos preparado uma exposição de uns 40 minutos.
Olhava pro chão e no final nos disse: "Os senhores façam aquilo que acharem melhor". 

E fomos embora. No avião eu olhava para o superintendente e ele pra mim, como que dizendo: "que merda". 
Nesse dia tudo o que aconteceu não me surpreendeu. (...) Jango estava enfadado e sabia que estava se suicidando politicamente. Queria sair à la Getulio Vargas [mas] sem suicídio. 
Brizola de um lado e os problemas do país de outro. Ele estava esmagado. Essa de falar que caiu por causa das reformas e, pior, por causa da intervenção americana, é papo furado de esquerdista delirante. O erro foi não haver uma transição para um governo cvil tampão que Castelo queria e que Costa e Silva e outros impediram.
Aí deu no que deu 
abs Rxxxxxx


Minha resposta a ele: 

Grato meu caro, por este depoimento de primeira mão, de fonte primária, como se diz. 
Isso apenas nos confirma a nulidade, a mediocridade, a pusilanimidade que era o Jango.
A questão seria saber se, em algum momento, ele acreditou que poderia conduzir as suas reformas de base -- para as quais era mais empurrado do que tomava iniciativa --, ou se já achava que tudo aquilo era um teatro, e estava apenas esperando para tudo acabar e voltar para a sua fazenda.
Ao que parece, ele ele provocou conscientemente aquela situação de impasse, para talvez ficar na história como um "sacrificado" pelas forças de oposição, mas sem suicídio, claro, pois nunca teve coragem para tanto...
O abraço do
------------------------------
Paulo Roberto de Almeida

A destruicao do Estado brasileiro - Everardo Maciel

Destruindo o Estado brasileiro

Everardo Maciel
O Globo, 04/04/2014
Constitui singular paradoxo a crescente destruição do Estado brasileiro nos governos de partidos de tendências, ao menos no discurso, estatizantes.
A mídia oferece, dia após dia, abundantes exemplos de má gestão, incúria contumaz, desqualificação técnica nas decisões. É notório o fracasso das políticas públicas de segurança pública, educação, saúde, mobilidade urbana etc.
A razia realizada na Petrobras e Eletrobras produziu uma catástrofe, com expressiva perda de valor de mercado, endividamento elevado e recorrentes prejuízos. O dano é de tal magnitude que se anunciado, em passado recente, seria tido como alucinação.
No Banco do Brasil e na Caixa Econômica há uma contínua e crescente perda de qualidade nos serviços prestados, sem falar na temerária política de crédito do BNDES.
Esse estranho desapreço pelo Estado explica, também, as práticas de fisiologismo e de aparelhamento, sua variedade radical. Os ministérios passam a ser um múltiplo do número de partidos que integram a denominada “base aliada”, aos quais se somam as “tendências” e as bancadas, em cada uma das casas congressuais, dos partidos.
As “indicações”, contudo, não se limitam aos ministérios. Alcançam, além disso, as diretorias das autarquias, fundações, agências reguladoras e estatais, o que gera um caldo de cultura próprio para o florescimento de todas as modalidades de corrupção.
Para os conselhos de administração das estatais são designadas autoridades de elevado coturno como forma apenas de elevar seus vencimentos, fraudando descaradamente o conceito de teto de remuneração dos servidores públicos.
Esse processo é de tal sorte exuberante que, em Brasília, a demanda dos órgãos públicos ultrapassou os limites fixados no plano urbanístico para projetar-se sobre os espaços antes destinados à atividade privada, assumindo proporções mastodônticas.
Receio que nenhuma pessoa bem informada, salvo os responsáveis pelas atividades de protocolo, conheça, simultaneamente, os nomes dos ministérios e de seus respectivos titulares.
Para justificar esse estado de coisas se recorre à cínica tese da governabilidade, deduzida do chamado presidencialismo de coalização, que frequentemente se converte em colisão por motivos poucos virtuosos.
Como reação primitiva à promiscuidade na provisão das funções públicas de confiança, exsurge o corporativismo, que tanto quanto o fisiologismo e o aparelhamento é uma forma nociva de indevida apropriação do Estado.
A aversão à meritocracia se estende ao Judiciário. É particularmente ultrajante a trajetória de humilhações a que se submetem magistrados, membros do Ministério Público e advogados que almejam assento nos tribunais. São obrigados a recrutar, quase sempre sem o mínimo pendor para a tarefa, apoio de políticos e dos membros dos tribunais para exercer aquilo que deveria decorrer tão somente de sua qualificação jurídica e moral. No limite, esse perverso ritual tende a comprometer a imparcialidade dos julgamentos.
Nesse quadro patológico, tem destaque o desprestígio do princípio constitucional da eficiência. Não há avaliações, minimamente consistentes, dos servidores ou dos serviços públicos. Não se buscam soluções para os problemas com base em critérios de eficiência, que sequer existem. A cada deficiência se responde, toscamente, com expansão do efetivo de pessoal, sem nenhuma preocupação com suas repercussões sobre o equilíbrio fiscal.
Ainda no âmbito da eficiência, é lamentável a banalização das greves no serviço público. Tornou-se comum o que deveria ser um recurso extremo, revelando a supremacia do interesse corporativo sobre o coletivo, tendo o povo como vítima indefesa. Sem lei, por negligência dos Poderes Executivo e Legislativo, as greves hoje são limitadas, precariamente, por uma decisão do STF.
Esse Estado inchado e ineficiente, que flerta com o abismo, decorre, principalmente, da voracidade intervencionista combinada com uma visão centrada na perpetuação do poder.
Sua reconstrução é tarefa para estadistas.

Judeus na Inquisicao espanhola: uma historia de cinco seculos



In Spain, a Family Reunion, Centuries Later

At twilight, I roamed a honey-colored labyrinth of brick houses in Segovia’s medieval Jewish quarter, walking a cobblestone path in the footsteps of my distant ancestor from 16 generations ago.
In the shadows, I reminded myself that every element in his story is true: a Vatican power struggle; an Inquisition trial that confused our family’s religious identity for generations; and a neighborhood infested with spies, from the queen’s minions to the leather maker and butcher.
I was hunting for documents, landmarks and even medieval recipes that could bring to life the family history of Diego Arias Dávila, a wealthy 15th-century royal treasurer to King Enrique IV who was loved and loathed for the taxes he extracted. Call it ancestral tourism, a quest for roots, branches and a family reunion across centuries.
My quest was inspired, in part, by the ancient Spanish custom of Holy Week religious processions: brotherhoods of penitents in robes and peaked hoods that for centuries marched through the narrow lanes in different regions in cities like Seville, Málaga and Segovia. The first time I saw them was in the south of Spain, passing an old Jewish quarter of whitewashed houses where the images plunged me into a medieval era when inquisitors in anonymous hoods confronted suspected heretics, including my own ancestors.

During Easter week, the brotherhoods in Segovia, in central northern Spain, parade with lifelike wooden sculptures of Jesus and Mary past the Gothic cathedral in the center of town and the illuminated Alcázar, the towering castle of the kings of Castile and León.
I feel shivers of the past each time I walk the path along the limestone ramparts — facing the dusky blue Guadarrama mountain range. Perhaps in some ways I know the Arias Dávila family better than my own generation. When I learned their fate, I felt my own identity shatter and shift, changing who I am.
Their dramas are preserved in Inquisition folder 1,413, No. 7, in handwritten script and housed in the Madrid national archives. Almost 200 pages are devoted to their daily habits, gleaned from neighbors turned spies — wedding rituals, burial clothes, prayers and frequently the adafina lamb stew of chick peas and cinnamon they savored, slow cooked on hot embers overnight and served on the Sabbath.
For these rituals, Diego Arias Dávila — and other Jewish ancestors who were Christian converts — were investigated by the Spanish Inquisition in 1486 for heresy. Their religious crime: maintaining a double Jewish life in secret.

On this journey to Segovia, perhaps I could find their missing tomb — their remains whisked away to evade the reach of inquisitors looking for telltale signs of Jewish burial rituals. Or maybe I could reclaim the shards of the identity of my family who converted to Christianity centuries ago to survive but guarded a Jewish legacy in secret for generations from Spain to Costa Rica to California.
Not many people come to explore the roots of a family tree in this rocky crag of about 55,000 people, nestled between two river valleys 55 miles north of Madrid. But there are plenty of tourists who arrive in Segovia by bus and train, bound for the granite Roman aqueducts that loom over the entrance to the historic quarter and the taverns serving the Segovian specialty of baby suckling pig. Most vanish before sunset.
Then the rhythm of the city shifts to a meditative, unhurried one. For me, it’s a contemplative time to savor Segovia’s historical charm by its Gothic 16th-century cathedral and a leafy plaza of outdoor cafes where Queen Isabella was crowned — power used in 1492 to expel thousands of Jews who faced the choice of fleeing, converting to Christianity or preserving their religion in secret.
Ana Sundri Herrero, of the city’s tourism center, told me during one of my visits last spring and summer that there isn’t much demand for genealogy information although Spain has a vast diaspora of emigrants that dates back centuries.

Other countries with a more recent history of mass migration, such as Ireland and Scotland, are aggressively promoting genealogical records on government-sponsored websites to increase tourism. And Irish and Scottish businesses have seized it as an attraction. The Shelbourne Hotel in Dublin offers a special genealogy butler to guide guests. The Four Seasons hotel in Prague also offers a genealogy service to fashion tours to track the neighborhoods of grandparents.
For my own quest, I cobbled together a strategy with a right and left-brain approach that started with an emotional immersion in Andalusia and then a methodical genealogical search to track family lines that led north to Segovia.
For one summer, my husband, Omer, and daughter, Claire, and I moved to the south of Spain, to Arcos de la Frontera. We settled in one of the white houses, an ex-bordello clinging on the side of a limestone cliff and a short walk from the remains of a Jewish quarter and a synagogue transformed into an orphanage during the Inquisition.
I moved there to learn the history and geography of the country and to understand why ancestors left or stayed and submerged their identity. I traveled to Arcos frequently, fascinated that food, art, music and culture could help me travel back in time — especially the brotherhoods that in some cases played historic roles as enforcers during the Inquisition.


I felt chills at the sharp notes of saeta music — distinctive to the region and sung a cappella in the streets during Holy Week. The music echoes the rising and falling chant of the Jewish Kol Nidre, a Yom Kippur prayer. And some flamenco experts believe that converts sang the saetas to passing Holy Week images of Jesus and Mary to demonstrate loyalty, but with a double meaning for insiders.
For the left brain side of my hunt, I started researching all the family branches. My search dated back to 2001, after a move from New York to Europe, a moment in middle age that strikes most of us when we think about roots and what we can pass on to our children.
In my work as a journalist, people had long inquired about my byline, Carvajal, a Sephardic Jewish name that in some spelling variations means lost place, rejected. But I knew nothing about the past. My father, Arnoldo Carvajal, had grown up in Costa Rica and emigrated to San Francisco with his mother and sister while a teenager. He married, and with my mother raised six children. We were Catholic, attended weekly Sunday Mass, ate fish on Fridays and wore it all: Catholic school uniforms of green plaid skirts and medieval-style scapulars tucked around our necks.
After I started my search, I found many clues to our submerged Jewish identity from relatives, but I hit brick walls on the Carvajal line. A 19th-century Costa Rican ancestor had not registered a husband, giving her Carvajal name to a newborn, registered as a "natural son," the polite Spanish term for illegitimate.

I had made a critical error by not looking at other family lines, ignoring an ancestral habit of intermarriage among Costa Rican cousins. I realized later it was a sign that they were marrying one another to protect secrets and preserve rituals like the menorah that my cousin said he found in my great-aunt’s bedroom after she died in 1998.
My grandmother’s line on the Chacón side led to Spaniards who abandoned prosperous lives in Andalusia in the 16th century. One was a judge who died of a heart attack on the way to the Spanish colony of Costa Rica, and another, his young son, who drowned on the same journey in the Río Negro in Honduras. Each new generation fit together in a crossword puzzle of wives and husbands — a search for birth and death certificates that emerged in fits and starts, aided by sites likefamilysearch.org or ancestry.com.
Segovia startled me when it surfaced in my puzzle. I knew of no family tie to the city. But my grandmother’s line leapt a new generation in the 16th century, to Isabel Arias Dávila, the wife of the first governor of Costa Rica, who emigrated from Segovia during the Inquisition.
With that name, I rapidly learned about the Inquisition trial that tangled the family’s identity for generations and forced others to lead new lives as conquistadores in Spanish colonies. The patriarch was Diego Arias Dávila, whose family converted when he was a boy and whose son Juan was the bishop of Segovia for 30 years.


The bishop’s internal political struggle with the inquisitor Tomás de Torquemada turned into an epic legal clash that reached all the way to the Vatican. The Grand Inquisitor battled the bishop by probing his family for evidence of their double life. His parents and grandmother were investigated posthumously, among them Diego Arias Dávila.
I knew the contours of their story the first time I arrived last spring in Segovia’s Jewish quarter, which dates back to the 13th century. Today it still gives the eerie sense at some moments that little has changed among the three-story houses where inhabitants once worshiped at one of five synagogues, some still intact.
The mansion of Abraham Seneor — a contemporary of Diego Arias Dávila and a royal financial adviser who converted in 1492 — has been meticulously restored by the city and was transformed into a museum for the Jewish quarter in 2004. There conversos like the Arias Dávila family worshiped in secret in a private synagogue, according to accounts of the time.
Up until the early 1990s, Segovia did not promote this quarter, which is set off from the rest of the walled city by brick arches that were gated in the 15th century to separate Jews from Christians. But since then the local government and state invested heavily to restore the quarter. Now its streets have an air of calm: clean brick and stone facades, rhythmic detailing of balconies and hanging plants at the windows.
To restore my own family history, I knew I needed a very special kind of guide. On my own, I had failed to find the missing tomb of Diego Arias Dávila, though I had located the family coat of arms in the cathedral of Segovia.
Typically most cities in Spain have a cronista, a historian with a passion for the place and its quirks. I had found one earlier in Arcos de la Frontera, Manuel Pérez Regordán, a retired accountant who was so obsessive that he self-published four volumes of history told through each one of its little streets.
In Segovia, the tourist office led me to a high school teacher named María Eugenia Contreras, who is researching the Arias Dávila family for a doctorate.
It was María Eugenia who guided me through Segovia’s tranquil neighborhoods, passing a park with nesting storks where the Mercedes convent once stood. It was the site of the last official tomb of Diego Arias Dávila, and his wife, Elvira, also a Christian convert. But even Maria Eugenia did not know what happened to their remains. They had been moved too many times. She gave me a huge gift, though, when she told me about a Salamanca professor who had painstakingly transcribed the handwritten Inquisition testimonies of 200 witnesses against the family.
I found the title — in pristine condition — through an online used-book store in Spain. It was a window into their lives — the lettuce and unleavened bread they ate at Passover, their donations of oil to the local synagogues and the telling anecdote that as he lay on his deathbed at 86, Diego Arias Dávila thundered at the Franciscan friars who had come to administer last rites to go to the devil.
He lived in an enormous palace on the southern side of the city that is dominated by its fortress tower and plastered in Segovia’s unique limestone patterns. Today, a neighboring street is named for the family. A sign also marks the landmark tower, but with no reference to the Inquisition.
The first time I tried to enter the palace, I was turned away because it was closing time. The next morning, the first floor was bustling with people waiting to pay bills. Fittingly, the Arias Dávila palace has been transformed into government tax offices — a perfect legacy for a royal treasurer.
In theory, I should have felt something, but I didn’t. I studied the palace’s coffered ceilings and the stone carvings of the coat of arms of the Arias Dávila family, but the government office could be anywhere with its counters, red chairs and bureaucrats.
Instead I felt the pangs of yearning for home — añoranza in Spanish — when I sat in a windswept little plaza at sunset near the city’s stone walls. It was loud with birdsong. A few neighbors occupied plastic chairs, and tables were cluttered with iced tinto de verano wine cocktails.
The square lies near Calle Martínez Campos, where a vanished synagogue stood that was funded by Diego’s wife, Elvira, and her presence, after reading the Inquisition transcripts, was inescapable. I wondered, as I sat in the square, if Segovia had absorbed some of her burdens and if places, like people, can be scarred by history.
Elvira converted as a young girl with her family in the 15th century in the midst of spreading anti-Semitism.
Yet it was clear from the Inquisition testimony that she yearned to maintain family bonds: taking pleasure in Jewish weddings and holidays, leaving explicit instructions before her death about who should be at her bedside. Those family ties remained so strong that she managed to share something precious with us 16 generations later. Perhaps some things are meant to be.
I was startled when I discovered her real name was actually Clara, changed after her conversion. It means clear and bright. By coincidence — or maybe not — we named our daughter the French version, Claire.
As I sat in the little plaza in Segovia, watching the pale stone walls and the blue night deepen, I knew that I could not change what is past. But I can change the story we tell about ourselves, and by doing that I can change our future.
Doreen Carvajal is a correspondent at the International New York Times in Paris and author of a memoir, “The Forgetting River.”
Correction: April 4, 2014
An earlier version of a picture caption with this article misstated the location where the photo was taken. The photo, of the author’s grandmother, father and aunt, was taken in Costa Rica, not the Dominican Republic.

Petrobras-Pasadena: mais uma comprovacao da intencionalidade do desfalque em favor do partido totalitario

Se algo precisasse ainda ser provado, o que já está manifestamente claro para aqueles que seguem apenas a lógica formal, e prescindem de relatórios de investigação policial, parece que já tem as provas por um órgão do próprio governo.
É só seguir a lógica formal:
A > B; B > C; logo: A > C; CQD...
Paulo Roberto de Almeida

Feito para dar errado

Revista Veja, 5/04/2014

Documento do TCU mostra que o contrato de aquisição da refinaria de Pasadena tinha tantos furos que o rombo bilionário na Petrobras era o único desfecho possível.

A marca da ruína na Petrobras vai durar 

Transformada em braço do partido, instrumento de política econômica e foco de corrupção, a empresa resistirá à gestão petista, mas vai demorar para recuperar a excelência

DEU NO QUE DEU - A refinaria, no Texas, e o ex-presidente Gabrielli: análise do TCU revela que a diretoria não calculou custos básicos embutidos no negócio, assumiu todo o risco sozinha e pôs a estatal nas mãos dos belgas

DEU NO QUE DEU - A refinaria, no Texas, e o ex-presidente Gabrielli: análise do TCU revela que a diretoria não calculou custos básicos embutidos no negócio, assumiu todo o risco sozinha e pôs a estatal nas mãos dos belgas      (Sérgio Lima/FOLHAPRESS)

Mais que um retrato a óleo do Brasil, a Petrobras sempre foi o orgulho de todos os brasileiros. Não apenas mais um daqueles símbolos ufanistas sonoros e coloridos, de aves que por aqui gorjeiam e verdes inigualáveis, mas como ponta de lança do progresso, exemplo de meritocracia, laboratório de alta tecnologia, carreira dos sonhos dos jovens mais brilhantes e indutora do crescimento econômico. Há onze anos essa complexa e bilionária estrutura funciona sob o comando do PT, partido no governo, que detém o controle executivo e gerencial da empresa. Nem o mais ardoroso militante petista pode, em sã consciência, afirmar que a Petrobras está em melhores condições agora do que antes de 2002. Não há lente ideológica capaz de produzir hoje uma imagem animadora da Petrobras.

O consenso dos analistas da indústria petrolífera é que a Petrobras está soçobrando sob a bateria de abusos de que vem sendo vítima. É consenso também que o potencial da Petrobras é tão grande que, deixada em paz pelo governo, em pouco tempo retomará a trajetória que fez dela, no auge, uma das empresas petroleiras mais valiosas do mundo. Mas abusaram do aparelhamento político da Petrobras, transformando-a em uma fonte de escândalos de corrupção. A Petrobras foi feita de ferramenta para tentar corrigir erros absurdos de política econômica, sendo obrigada a amargar prejuízos bilionários para segurar os preços do diesel e da gasolina nas bombas e, assim, mascarar a inflação. O resultado é desastroso para a empresa e para o Brasil. Se não tivesse sido submetida a esse sacrifício, teria cumprido seu bilionário plano de investimentos, responsável por 1% do PIB brasileiro. As reportagens que se seguem narram histórias relacionadas a essa lenta demolição — que precisa ser estancada logo.     

  • O PLANO ERA ENRIQUECER

    O vice-presidente da Câmara, o petista André Vargas, e o doleiro Alberto Youssef, operador da quadrilha que atuava na Petrobras, associaram-se para fraudar contratos no governo — e, juntos, ganhar uma fortuna

  • O CLUBE DOS CORRUPTOS

    Para fazer negócios com a Petrobras, empresários precisavam pagar pedágio que variava de 300 000 a 500 000 reais

  • AÇÃO ENTRE AMIGOS

    Em depoimento, o mensaleiro Marcos Valério revelou que a Petrobras foi usada para financiar negócios do PT

  • FEITO PARA DAR ERRADO

    Documento do TCU mostra que o contrato de aquisição da refinaria de Pasadena tinha tantos furos que o rombo bilionário na Petrobras era o único desfecho possível

  • A COLÔMBIA DÁ LIÇÕES AO PT

    Com foco nos resultados e livre do uso político pelo governo do momento, a Ecopetrol desbancou a Petrobras como modelo de gestão para as estatais petrolíferas da América Latina

Belgica: protesto contra austeridade acaba em batalha

Tsk, tsk, tsk, como se diz nas histórias em quadrinhos. Não precisava toda essa violência, que só deve se explicar porque os manifestantes estavam protestando CONTRA certas coisas.
Certamente seria mais pacífico se eles manifestassem a favor de outras coisas. Por exemplo:
"POR MAIS DEFICITS PUBLICOS"
"POR MAIS DIVIDA PUBLICA"
"POR MAIS INFLAÇÃO"
"POR MAIS DESVALORIZAÇÃO CAMBIAL"
"POR MAIS DINHEIRO CHINÊS, E ÁRABE"
"POR MAIS CARNAVAL"

Seria bem mais simples, e tranquilo...
Paulo Roberto de Almeida
Una multitudinaria manifestación de las principales centrales sindicales europeas contra la austeridad ha acabado este viernes en batalla campal a las puertas de las instituciones comunitarias en Bruselas. La extrema violencia con la que se han empleado unos 200 representantes de los estibadores de los puertos belgas y franceses ha dejado al menos nueve heridos y graves desperfectos en el mobiliario urbano y en los comercios del distrito europeo de la capital belga. Los convocantes de la marcha —entre los que se encuentran los dos principales sindicatos españoles, CC OO y UGT— se han desmarcado de estos actos, que han achacado a “grupúsculos ajenos” a la manifestación.
Varios testigos destacan la violencia extrema con la que han actuado este grupo de manifestantes, que han agredido a fotoperiodistas y policías. Los choques han comenzado a mitad del recorrido, cuando estas personas han empezado a lanzar adoquines y piedras a los policías que custodiaban la marcha y la han emprendido a puñetazos con un grupo de fotógrafos de agencias de prensa. “Sin mediar palabra, han empezado a pegarnos. Querían lincharnos”, relata uno de ellos, que ha recibido un fuerte golpe en la mandíbula. “Llevo 30 años de profesión y no había visto nunca tanta violencia en una manifestación”.
Al término de la marcha, los choques se han recrudecido. A los estibadores de los puertos de Amberes y Brujas se han sumado los de Dunkerque, Gante y Calais y juntos han iniciado una auténtica batalla campal contra la policía belga a apenas 50 metros del edificio de la Comisión Europea. El dispositivo policial se ha limitado a defenderse con cañones de agua y pelotas de goma mientras rodeaba el perímetro de las instituciones comunitarias. Los funcionarios europeos que abandonaban su puesto de trabajo a esa hora (las dos de la tarde) no salían de su incredulidad.
Los sindicatos convocantes se han apresurado a negar que los actos vandálicos tengan que ver con los sindicalistas. Según su versión, los choques se han limitado al tramo final del recorrido y han sido ocasionados por un grupo “ajeno” a la concentración. “Estos episodios violentos han sido muy aislados y en absoluto deslucen la manifestación, que ha sido una fiesta de los trabajadores”, señala un portavoz de la Confederación Europea de Sindicatos (CES) que, sin embargo, sí ha reconocido “problemas” en la organización del dispositivo de seguridad interno de la marcha. “No hemos conseguido que este grupo de alborotadores no se infiltrara”, resume.

Contra la austeridad

La manifestación, a la que han asistido entre 25.500 personas, según la policía, y 55.000, según la CES, pretendía ser un “aviso serio” a la UE sobre el rumbo de salida de la crisis y abogaba por la aprobación de un plan de inversiones que movilice 260.000 millones —el 2% del PIB comunitario— en diez años. “La gente está bastante cabreada porque ve que las políticas de austeridad se extienden como una mancha de aceite”, ha señalado el secretario general de UGT, Cándido Méndez, al término de la marcha. “La mayor parte de manifestantes eran belgas, holandeses, franceses y alemanes. Es una prueba de que las políticas de austeridad también se dejan sentir en los países del norte de Europa”, ha apuntado el dirigente sindical. Su homólogo en CC OO y presidente de la CES, Ignacio Fernández Toxo, ha remarcado la importancia de esta jornada de movilización y ha reclamado a la UE y los Gobiernos europeos que emprendan un camino “diferente de la austeridad”. A su juicio, lo que Europa necesita en este momento de salida de la crisis económica es un “verdadero plan de inversiones, un Plan Marshall del siglo XXI”.
Los líderes de los dos principales sindicatos españoles han solicitado al presidente del Gobierno, Mariano Rajoy, una reunión en la que detallarán las líneas maestras del plan de acción acordado por unanimidad en el seno de la organización sindical europea. Su objetivo principal es, según los sindicatos, dinamizar la anémica actividad económica europea “anestesiada por años de austeridad e inmovilismo”. Tanto Toxo como Méndez han recordado que en Europa hay 26 millones de parados, 10 más que en 2008 cuando comenzó la crisis, y siete millones y medio de jóvenes europeos ni tienen trabajo ni estudian.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

O Itamaraty nao acredita em livre-comercio, com os EUA, ou com qualquer outro pais...

Compreensível: um acordo de livre comercio entre o Brasil e os EUA é virtualmente impossível, assim como parece ser a possibilidade de acordos de livre comércio entre os EUA e a UE, ou entre a UE e o Mercosul.
E, no entanto, os EUA têm acordos de livre comércio na América do Norte (Nafta), com Israel, com o Chile, Peru Colômbia, Austrália e Nova Zelândia, com a Coreia do Sul, e com vinte outros países.
A UE tem acordos comerciais com Chile, México, e vinte outros países.
O Chile tem acordos de livre comércio com os EUA, a UE, a China, Japão e mais de vinte outros países.
Ou seja, mesmo que sejam difíceis, acordos de livre comércio são factíveis e possíveis. E mesmo sendo difíceis, países ao redor do Brasil tem feito esse tipo de acordo.
Esses países estão piores ou melhores com esse tipo de acordo, ou seja, numa situação de maior ou menor bem estar?
E o Brasil, estaria pior com esse tipo de acordo, como parecem acreditar nossos dirigentes, nossos diplomatas, nossos empresários?
Não acredito.
Acho que ele estaria melhor.
Mas, o problema do Brasil é que os decisores não acreditam em livre comércio.
As simple as that...
Paulo Roberto de Almeida

Jornal do Senado, 04/04/2014

Presidente da entidade defende na CRE que o livre comércio aumentaria a competitividade da economia brasileira, que estaria parada

Seis meses após o adiamento da visita de Estado que a presidente Dilma Rousseff faria a Washington, em razão da publicação de denúncias de que mensagens eletrônicas dela haviam sido espionadas pela NSA (agência de segurança nacional norte-americana), uma proposta ousada marcou o debate sobre o relacionamento bilateral realizado ontem pela Comissão de Relações Exteriores (CRE): a assinatura de um acordo de livre comércio entre o Brasil e os Estados Unidos.
A proposta é do presidente da Câmara Americana de Comércio no Brasil (Amcham), Gabriel Rico. Na opinião dele, o Brasil precisa ampliar a competitividade da economia e buscar maior inserção nas cadeias globais de produção. O acordo de livre comércio tem o apoio — segundo Rico — de 93% das empresas que integram a entidade, tanto brasileiras como norte-americanas.
— O Brasil precisa dar um salto muito grande na sua competitividade, que tem que vir junto com a negociação do acordo. Quando se expõe a um acordo de livre comércio, uma economia é obrigada a se repensar. Se um país fica parado, só um lado leva vantagem — afirmou Rico, lembrando que os Estados Unidos já estão começando a negociar acordos de livre comércio com a União Europeia e com os países da região da Ásia-Pacífico.
Também convidado para a audiência pública, realizada a pedido do presidente da comissão, Ricardo Ferraço (PMDB-ES), o diretor do ­Instituto Brasil do Centro Internacional Woodrow Wilson, Paulo Sotero, ressaltou igualmente a oportunidade de debater a negociação de um acordo com os Estados Unidos. Ele recordou que o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, defendeu a ­negociação desse acordo, no final do ano passado.
A iniciativa foi recebida com cautela, porém, pelo representante do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Carlos Antonio da Rocha Paranhos, que lembrou a falta de consenso sobre a questão.

— Evidentemente, a concentração de esforços apenas em acordos comerciais não constitui consenso interno e não pode ser vista como ­panaceia — disse Paranhos.
VEJA MAIS

Copa-estadios superfaturados: sim, vivemos na Republica Federativa da Mafia...

Uol Notícias, 4/04/2014
O estádio Mané Garrincha, propagandeado pelo governo federal e pelo Distrito Federal como um exemplo de sucesso de público e renda, pode levar até cerca de mil anos para recuperar aos cofres do DF o valor investido na obra. A arena teve um resultado operacional de R$ 1,371 milhão no primeiro ano de funcionamento -- um período em que o estádio recebeu 30 eventos entre jogos e shows, incluindo uma apresentação da cantora norte-americana Beyoncé e a partida de maior renda na história do Campeonato Brasileiro. O custo total da obra é até agora calculado em R$ 1,6 bilhão pelo TC-DF (Tribunal de Contas do Distrito Federal). Neste ritmo o estádio irá levar exatos 1.167 anos para recuperar o que custou. 
Considerada a previsão do tribunal de contas de que o custo chegará a R$ 1,9 bilhão quando todas as obras de sustentabilidade e no entorno do local estiverem concluídas e a taxa de ocupação se mantenha no mínimo como neste primeiro ano -- tido como "um êxito" pelo ministro do Esporte, Aldo Rebelo, e "um exemplo contra o derrotismo" pelo secretário-executivo da pasta, Luis Fernandes -- o tempo para retorno do investimento chega a 1.385 anos. A conta não considera oscilações nas taxas de câmbio, inflação e outras variantes no período.
O Mané Garrincha em Brasília é o estádio mais caro dentre os 12 construídos ou reformados para a Copa do Mundo, e irá receber sete partidas da competição este ano. Até agora, o local recebeu uma média de um evento a cada duas semanas e meia.
De acordo com o governo do DF, de maio, quando a arena foi inaugurada, até agora, a arrecadação para os cofres públicos com aluguel e taxas de uso do espaço foi de R$ 2,871 milhões. Como a conta de luz e água custou R$ 1,5 milhão ao governo no mesmo período, o Mané Garrincha rendeu R$ 1,371 milhão líquido nos primeiros 11 meses de funcionamento.
Segundo a Secopa-DF (Secretaria Especial da Copa do Mundo do Distrito Federal), na conta não está incluído o custo de manutenção do espaço, já que a construção possui cinco anos de garantia e outros 20 anos para a cobertura. Dos custos também está excluído o que é gasto com pessoal e material de segurança e limpeza.
"Estes serviços são realizados por contrato celebrado pela Secretaria de Planejamento, para atender a diversos órgãos do GDF. Ou seja, não se trata de um contrato exclusivo para atender a arena brasiliense", afirma a Secopa-DF por meio de sua assessoria de imprensa. "É importante destacar que a grande demanda por serviços de limpeza e segurança no estádio ocorre durante os eventos e, portanto, as despesas são de responsabilidade dos organizadores", completa a nota enviada à reportagem.
Assim, se incluirmos o preço fixo de limpeza e segurança e o fato de que daqui a cinco anos a manutenção ficará por conta do governo do DF, o custo operacional deve elevar-se ainda mais. Até o final de 2014, está prevista a inauguração do sistema e captação de energia solar, o que deve baratear a conta de luz.
'Elefante dourado'
No dia 26 de maio, o Mané Garrincha recebeu a partida de maior renda na história do Brasileirão: o jogo entre Santos e Flamengo, despedida de Neymar do time da Baixada Santista, gerou uma arrecadação na bilheteria de R$ 6,9 milhões de acordo com a CBF. Foi também o maior público da edição do campeonato, com 63.501 torcedores. Apesar disso para o dono do estádio de 72 mil lugares, o governo do DF, a renda com o aluguel foi de apenas R$ 4 mil. 
Em 2013, o Mané Garrincha recebeu 10 jogos do Brasileirão e, com eles, também obteve a melhor média de público do campeonato, com cerca de 36 mil pessoas por jogo. Desde inaugurado, o estádio já recebeu 655 mil pessoas ao todo. Foram 24 partidas de futebol -- entre campeonatos Brasileiro e Brasiliense, abertura da Copa das Confederações e um torneio internacional de futebol feminino -- três shows e dois eventos institucionais.
Os números autorizaram o ministro do Esporte a referir-se à arena como "elefante dourado" em entrevistas e pronunciamentos oficiais, para contrapor o sucesso ao temor que o estádio de Brasília se tornasse um "elefante branco".
"Já está consagrado o êxito da reconstrução do Mané Garrincha. Isso é importante para Brasília, e muito mais para o Brasil", afirmou Aldo Rebelo nesta terça-feira (1), durante inspeção da Fifa e do COL (Comitê Organizador Local) no local. "A Copa, para nós, é uma oportunidade de ouro que significa a geração de milhares de empregos", emendou o governador do DF, Agnelo Queiroz. "Sempre que somos questionados sobre elefantes brancos, apresentamos como grande exemplo o Mané Garrincha, contra esse derrotismo", arrematou o secretário-executivo do Ministério do Esporte.
Na ocasião o titular da Secopa-DF, Claudio Monteiro, irritou-se com a pergunta de jornalistas sobre a suspeita do TC-DF de que a obra da arena tenha tido um superfaturamento de pelo menos R$ 400 milhões. "É a turma do fura-bolo, que quer estragar a festa", disse, prometendo que vai responder um a um os questionamentos do órgão de controle.
Contradição
O que existe é uma contradição: enquanto o estádio gera lucros para quem usa o espaço  -- sejam jogos de futebol de times grandes ou shows internacionais -- a arrecadação é baixa para o governo, tendo em vista que conseguiu para os cofres públicos apenas R$ 2,871 milhões em quase um ano, mesmo com todo esse sucesso. Até agosto do ano passado, o aluguel da arena possuía um custo fixo de R$ 4 mil, independentemente do porte do evento.
A partir de então, um decreto assinado pelo governador definiu uma nova tabela de preços. Além dos custos operacionais, quem quiser usar o estádio para um jogo de futebol tem de pagar 15% do valor da renda bruta a título de aluguel. No caso dos clubes fecharem pacotes de quatro ou mais jogos, a taxa cai para 13%. As seleções brasileiras não pagam nada para jogar ali.
O decreto prevê ainda uma tabela de preços para utilização do Mané Garrincha em eventos culturais, religiosos, artísticos, educacionais e recreativos. Para uso apenas do gamado e da arquibancada inferior o aluguel sai por R$ 200 mil. Com a inclusão da área VIP, sobe para R$ 250 mil. Para utilização também dos camarotes o valor é de R$ 300 mil. O custo para uso de todo o estádio é de R$ 500 mil ou 13% da renda bruta do evento, considerado o maior valor entre os dois.
Futuro incerto
Além dos sete jogos da Copa do Mundo, que não geram renda ao governo, e outras seis partidas anunciadas nesta semana pelo titular da Secopa-DF (finais do Candangão, a final da Copa Verde, em abril, Botafogo x Goiás pelo Brasileirão, um jogo da Copa do Brasil e uma partida ainda indefinida), o calendário está indefinido para o Mané Garrincha após a Copa.
De acordo com a Secopa-DF, há conversas para mais partidas do Campeonato Brasileiro e para shows, mas nada concreto. Em 2016 a arena deve receber partidas do futebol olímpico, e em 2019 a Universíade.
No que depender do futebol brasiliense, o estádio só não fica vazio em uma final. "Para abrir o estádio precisa de uma empresa de limpeza com 50 funcionários, e mesmo para usar apenas o anel inferior você precisa de pelo menos 200 brigadistas", diz Regis de Carvalo, gerente de futebol do Brasília, time local.
"A média de um jogo, por baixo, é R$ 60 mil. Numa partida final você até consegue fazer uma renda superior a esse valor. Mas num jogo local entre times do Campeonato Brasiliense você não consegue", diz. A média de público do time no campeonato local foi de 500 pessoas. 
De acordo com a FBF (Federação Brasiliense de Futebol), os ingressos custam de R$ 1 a R$ 20. "Geralmente acabamos com jogos deficitários, isso sem usar o Mané Garrincha", resume a situação Josafá Dantas, presidente da entidade. "Outros campeonatos também têm rendas baixas. E se você comparar nosso futebol com o de outras regiões, ainda somos debutantes. Somos mais novos. Isso não quer dizer que não tenhamos de lutar para melhorar", completa.
'Não se paga a curto prazo'
"Ressaltamos que os resultados financeiros de shows, partidas de futebol e demais eventos realizados no Mané Garrincha não devem ser mensurados tendo em vista tão somente o retorno para a arena. Nem o Estádio Nacional de Brasília nem qualquer outra arena do mundo se paga em curto prazo", diz a assessoria de imprensa da Secopa-DF. "Não se pode aferir a eficiência do estádio se baseando, apenas, na geração de lucro financeiro. O estádio é um instrumento de desenvolvimento econômico e social para todo o Distrito Federal. E já vem demonstrando isso".
Segundo o governo do DF, cada evento no estádio injeta cerca de R$ 12 milhões na economia local e gera pelo menos dois mil empregos. Diz que quando há atividade no local, o faturamento do comércio no entorno da arena aumenta em até 30%. 

A Secopa-DF afirmou, em diversas repostas ao UOL Esporte ao longo do último ano, que prepara um edital de licitação para fazer uma concessão do local à iniciativa privada, mas até agora não há prazo para isso acontecer nem apareceram interessados no projeto.
Veja Também