O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Milton Friedman, um dos gênios da economia do século XX

Centurians — Milton Friedman

A Series Dedicated To Long Lived Genius


Centurian status requires more than just longevity. It requires a life-long history of impact and genius. Milton Friedman may have been one of the most eloquent. At a diminutive five feet tall, what he lacked in stature he made up for in presence and communication. He received his PhD in 1946 and spent the 60 years making the Chicago School of Economics one of the the finest.


After obtaining his PhD and a new role at the University of Chicago, Milton would spend the next 30 years examining free markets, monetary policy, and other economic principles. In 1976, he would win a Nobel Prize for his work. The following year he retired.

Centurians Don’t Really Retire

Retirement for Friedman was likely more exciting than his professorship had been. He joined the Hoover Institute, started a PBS series, wrote numerous books, traveled the world, and advised a president. He began to become the face of economics. The dismal science had found a charismatic and pleasant new teacher.

His first step into the spotlight was a college tour. Friedman appeared in front of numerous audiences of young college students and took questions on policy and economics. The lectures were recorded, many are now available on Youtube. In these appearances, Milton nimbly responded to impromptu questions and engaged in free form debate.

In 1979, Friedman even brought economics to day time television. He appeared on the Phil Donahue defending free markets and economic freedom.


He followed this success with a new book in 1980 — Free To Choose: A Personal Statement. Co-authored with his wife Rose, more on her later, the book was a defense of free market systems and a tremendous success.


Having Fun

Along the way, Milton kept his sense of humor. His lectures were full of smiles and pleasantries. He was the voice of freedom, choice, and prosperity. His critics will claim that he never had a lasting impact on public policy. Many claim that despite his fame, he had a limited track record for real outcomes. Perhaps that is fair, but Friedman and his colleagues from the Chicago School did plenty to return a diversity of opinion to a discipline that had been dominated by Keynesian principles.

Partnership

As we close this article, it is worth noting Friedman’s most important partnership — his wife Rose. Rose may eventually merit her own article in this series, but for now let’s at least note how important her work and partnership were to Friedman. Their marriage itself lasted 68 years, may even still be going depending on your point of view. And so what began as collaboration became a life-long partnership.

Nothing is so permanent as a temporary government program.” ― Milton Friedman

Friedman passed in 2006 at the age of 94, his wife Rose a few years later. Whether you subscribe to his theories or not, there is little debate that he left his mark on history. Thanks for reading and stay tuned for more Centurians.


A Series Dedicated To Long Lived Genius

circa-navigate.corsairs.network 

Want more from Friedman, consider:

Capitalism and Freedom

A later work would secure Friedman the Nobel Prize, but Capitalism and Freedom was the book that announced his arrival…

sails.corsairs.network 

For more on economics:

Analyst’s Crucible (Economics)


China: o mais moderno país do mundo

3. China wants to be the world leader on Artificial Intelligence by 2030

Meanwhile, China’s internet of things (IoT) industry has quietly grown at a rate of 25% annually to $142 billion in size. The government is encouraging China to become a leader in new emerging technology industries like IoT and artificial intelligence (AI), under the “Made in China 2025” and “Internet Plus” plans. This is spurring domestic innovation at unprecedented levels. The national plan on becoming the world leader in AI by 2030 was released earlier this summer, leading many companies to consider their China investment strategies in a different light; Google, for example, seems to be putting together a China-based AI team.

7. China is introducing 350kph trains

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China is expanding its high-speed rail network, already the largest in the world by far. Image: The Economist

China already has the largest high-speed train network in the world but it’s planning to increase it even further by 2020. It has become even faster, too, with the introduction of the next-generation, 350kph Fuxing trains and is extending new technologies, such as driverless subway trains and maglev lines, into its municipal transport systems as well. However, one of the biggest announcements to hit the news this month — China’s plan to build a hyperloop network of very high-speed trains travelling in hermetically sealed tubes — is garnering some more sceptical views.

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Oliveira Lima: 150 anos do nascimento - Coloquio na PUCRS, 3-4/10/2017

LECTURES, SEMINARS AND EVENTS
Colóquio Oliveira Lima 150 anos - PUCRS 2017

O evento se realizará nos dias 3 e 4 de outubro de 2017 na PUCRS em Porto Alegre em comemoração ao sesquicentenário de nascimento do diplomata e historiador brasileiro Manoel de Oliveira Lima. O Colóquio reunirá pesquisadores de diversas áreas das Ciências Humanas e Sociais para discutir a obra e o legado de Oliveira Lima.
As informações sobre o evento e chamada de trabalhos se encontram no site http://www.pucrs.br/eventos/inst/oliveiralima.
O Colóquio celebra o sesquicentenário de nascimento de Manoel de Oliveira Lima (Recife, 25/12/1867, Washington, 24/03/1928) reunindo especialistas de diversas áreas das Ciências Sociais e Humanidades para discutir as principais facetas da sua longa e prolífica carreira como diplomata, historiador, jornalista e crítico literário. A data é propícia não apenas para celebrar a vida e a obra de um dos intelectuais mais importantes de sua geração, mas também serve como parte de um esforço de resgate. Hoje, é fácil perder a noção de quem foi Oliveira Lima e do espaço que ocupou no seu tempo. Mas não é exagero colocá-lo entre os grandes intelectuais do seu tempo e um dos brasileiros mais influentes fora do país.
Um “torpedo diplomático” que sofria de “incontinência da pena” nas palavras de Joaquim Nabuco. Um “Dom Quixote gordo” aos olhos de Gilberto Freyre. Controverso, polêmico, dissidente, divergente, rebelde, são todos adjetivos comumente utilizados para descrevê-lo. Alguns são melhor empregados que outros, mas todos certamente precisam ser entendidos em relação ao contexto em que lhe foram atribuídos. Crítico mordaz, apreciador de um bom debate, polemista convicto e defensor empedernido da sua independência de opinião, chegando até as raias da intransigência e possivelmente do bom senso em algumas ocasiões, o diplomata pernambucano conquistou admiradores fieis quase na mesma medida em que granjeou inimigos e desafetos e merece uma celebração a altura da sua contribuição para a literatura, a historiografia e a diplomacia no Brasil.
O presente Colóquio, portanto, aproveitando-se da ocasião dos 150 anos de nascimento de Manoel de Oliveira Lima, se propõe a discutir, numa abordagem multidisciplinar, as principais facetas da sua carreira. Com isso, espera-se divulgar a sua obra e debater sobre o legado de Oliveira Lima para as diversas áreas em que atuou, como a historiografia, a literatura, a diplomacia e o jornalismo.
  • Aproveitar a ocasião dos 150 anos de nascimento de Manoel de Oliveira Lima para, a partir de uma abordagem multidisciplinar, discutir as principais facetas da sua carreira. Com isso, espera-se divulgar a sua obra e debater sobre o legado de Oliveira Lima para as diversas áreas em que atuou, como a historiografia, a literatura, a diplomacia e o jornalismo.
  • Analisar a obra de Oliveira Lima em suas diversas facetas, estreitando o diálogo multidisciplinar entre as diversas áreas do conhecimento implicadas em suas obras, tais como a História, a Sociologia, a Ciência Política, a Literatura e as Relações Internacionais.
  • Analisar a produção historiográfica mais recente e atualizar o debate sobre a obra e atuação diplomática de Oliveira Lima.
  • Divulgar o conhecimento histórico acadêmico produzido sobre a obra e atuação política de Oliveira Lima aos pesquisadores das áreas de História, Sociologia, Ciência Política,  Literatura e Relações Internacionais e demais interessados.
Alunos de graduação e pós-graduação e pesquisadores das áreas de História, Sociologia, Ciência Política,  Literatura e Relações Internacionais e demais interessados na vida e na obra de Manoel de Oliveira Lima.
O Colóquio Oliveira Lima 150 anos se realizará nos dias 03 e 04 de outubro de 2017 na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Escola de Humanidades (Prédio 5, sala 407.1).
Comissão Organizadora
Dr. Luciano Aronne Abreu
Dra. Nathalia Henrich
Dia 03 de outubro
Horário Atividade
9h30min às 10h Abertura
Prof. Dra. Duilia F. De Mello (The Catholic University of America)
10h às 11h30min Mesa Redonda Oliveira Lima: Historiador
Prof. Dra. Teresa Malatian (UNESP)
Prof. Dr. Marcos Galindo (UFPE)
Prof. Dra. Nathalia Henrich (PUCRS)
Moderador: Prof. Dr. Luciano Aronne de Abreu
14h às 15h30min Mesa Redonda Oliveira Lima: Crítico literário
Prof. Dr. Ricardo Souza de Carvalho (USP)
Prof. Dr. Antonio Arnoni Prado (UNICAMP)
Moderador: Prof. Dr. Helder Gordim da Silveira (PUCRS)



Dia 04 de outubro
Horário Atividade
10h às 11h30min Mesa Redonda 
Oliveira Lima: Diplomata 
Prof. Dra. Katia Gerab Baggio (UFMG)
Prof. Dr. Helder Gordim da Silveira (PUCRS)
Moderadora: Prof. Dra. Nathalia Henrich (PUCRS)
14h às 15h30min Apresentação de trabalhos


http://www.pucrs.br/eventos/inst/oliveiralima/

Partido NOVO: Gustavo Franco preside a Fundacao NOVO


Temos a satisfação de informar que o economista Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, um dos formuladores do Plano Real e recém-filiado ao partido, aceitou o desafio de presidir a Fundação NOVO.
A Fundação terá como principais objetivos: elaborar propostas para programas de governo; desenvolver estudos de políticas públicas; conduzir atividades de educação política; e realizar convênios e parcerias com outras instituições no Brasil e no exterior.
De acordo com Gustavo Franco, “nos últimos anos os horizontes se ampliaram extraordinariamente para as ideias pró-mercado e para novas abordagens sobre o desenvolvimento tendo como base o indivíduo, o progresso pessoal e a liberdade para empreender. O NOVO oferece um veículo e uma oportunidade muito valiosa para que essas ideais se apresentem de corpo inteiro no espectro partidário e estabeleçam sua importância nos debates nacionais”.
Gustavo é carioca, 61, economista formado pela PUC-Rio e Ph.D pela Universidade de Harvard. É sócio fundador da Rio Bravo Investimentos e professor da PUC-Rio. Foi presidente do Banco Central e exerceu outras atividades no serviço público entre 1993 e 1999. Tem vários livros publicados.
A vinda de uma pessoa competente, alinhada e comprometida com os valores do NOVO, como o Gustavo, é mais um passo rumo à construção de um país admirado.

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Cesse tudo o que a musa antiga canta...: lancamento do livro de Ricupero em Brasilia anulado

Que Camões me perdõe o uso, talvez indevido, dessa estrofe dos Lusíadas, mas creio que esse abuso se justifica. Explico e ilustro, a partir do anúncio de lançamento deste livro:

O embaixador Rubens Ricupero, que iria lançar em Brasília (dias 9 e 10 de outubro) o seu livro – A Diplomacia na Construção do Brasil, 1750-2016 (Rio de Janeiro: Versal, 2017, 780 p.) – teve de postergar, ou anular, sua viagem à capital por motivos de força maior (literalmente...).
O programa de lançamento era intenso, como revelado nesta minha postagem de alguns dias atrás: 
http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/09/ricupero-livro-diplomacia-na-construcao.html 
 
O último capítulo do livro, antes do Posfácio (datado de 27 de julho de 2017), termina da seguinte maneira: 

Ao alcançar este meu Cabo da Boa Esperança, certamente me enganei em julgar terminado o livro, da mesma forma que se equivocou Diogo Cão, a tomar a foz do rio Zaire pelo fim da África. Ergueu mesmo assim seu marco, deixou outro corrigir-lhe o erro e seguiu avante, dizendo: 

"A alma é divina e a obra é imperfeita.
Este padrão sinala ao vento e aos céus
Que, da obra ousada, é minha a parte feita:
O por-fazer é só com Deus".

No caso do lançamento, eu nunca me tomei por Deus – impossível, até mesmo por ser um irreligioso igualmente imperfeito – mas o "por-fazer" era comigo mesmo, com marco ou sem marco, no caso, todos eles virtuais, nesta fase.
Havia até preparado o painel: 

e o banner de lançamento do livro no Itamaraty:


Outros lançamentos estavam previstos, como na UnB: 
http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/09/rubens-ricupero-e-construcao-do-brasil.html
O Centro de Estudos sobre as Relações Internacionais do Brasil Contemporâneo
<https://mailtrack.io/trace/link/645b08bb1a6eefabc8a730336c0451d65a92e810?url=https%3A%2F%2Fsites.google.com%2Fview%2Fribrasil&userId=949769&signature=e988d976afc773a1>,
laboratório do programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da
Universidade de Brasília, convida para a Mesa Redonda “A diplomacia na
construção do Brasil – 1750 – 2016”, a propósito do lançamento do livro de
autoria do Embaixador Rubens Ricupero. O evento terá lugar no dia 10 de
outubro de 2017, as partir das 17:30h, como se vê no Programa abaixo.
*PROGRAMA*
*14h 30 min – Abertura*

- Prof. José Flávio Sombra Saraiva, diretor do Instituto de Relações
Internacionais da Universidade de Brasília

*14h 40 min – Mesa Redonda*

- Embaixador Rubens Ricupero – A diplomacia na construção do Brasil
(1750 – 2016)
- Prof. Estevão Chaves de Rezende Martins, professor titular do
Departamento de História da Universidade de Brasília – Debatedor
- Ministro Paulo Roberto de Almeida, diretor do Instituto de Pesquisa de
Relações Internacionais da Fundação Alexandre de Gusmão (Ministério das
Relações Exteriores).

*Moderador*
- Prof. Antônio Carlos Lessa, professor do Instituto de Relações
Internacionais da Universidade de Brasília.

*Sessão de autógrafos do livro A diplomacia na construção do Brasil (1750 –
2016)*
O evento terá lugar no Auditório do Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília (Campus Universitário Darcy Ribeiro – Asa Norte –
Brasília – DF), no dia 10/10/2017, das 14h 30 min às 16h 40 min.

e na CNI: 

http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/09/cni-convida-para-o-lancamento-do-livro.html

Tudo cancelado, até nova oportunidade. Para os que não sabem, exatamente, porque os eventos foram cancelados, creio que estas duas postagens são suficientes: 



Para não frustrar aqueles desejosos de conhecer o livro, transcrevo abaixo uma pequena resenha que elaborei em intenção da imprensa periódica: 



Construindo a nação pelos seus diplomatas: o paradigma Ricupero

Paulo Roberto de Almeida

Em meados do século XX, os candidatos à carreira diplomática tinham uma única obra para estudar a política externa brasileira: a de Pandiá Calógeras, publicada em torno de 1930, equivocadamente intitulada A Política Exterior do Império, quando partia, na verdade, da Idade Média portuguesa e chegava apenas até a queda de Rosas, em 1852. Trinta anos depois, os candidatos passaram a se preparar pelo livro de Carlos Delgado de Carvalho, História Diplomática do Brasil, publicado uma única vez em 1959 e durante muitos anos desaparecido das livrarias e bibliotecas. No início dos anos 1990, passou a ocupar o seu lugar o livro História da Política Exterior do Brasil, da dupla Amado Cervo e Clodoaldo Bueno. Finalmente, a partir de agora uma nova obra já nasce clássica: A Diplomacia na Construção do Brasil, 1750-2016 (Rio de Janeiro: Versal, 2017, 780 p.), do embaixador Rubens Ricupero, ministro da Fazendo quando da introdução do Real, diretor-geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento nos anos 1990, atualmente aposentado.
O imenso trabalho não é uma simples história diplomática, mas sim uma história do Brasil e uma reflexão sobre seu processo de desenvolvimento tal como influenciado, e em vários episódios determinado, por diplomatas que se confundem com estadistas, aliás desde antes da independência, uma vez que a obra parte da Restauração (1680), ainda antes primeira configuração da futura nação por um diplomata brasileiro a serviço do rei português: Alexandre de Gusmão, principal negociador do Tratado de Madri (1750). Desde então, diplomatas nunca deixaram de figurar entre os pais fundadores do país independente, entre os construtores do Estado, entre os defensores dos interesses no entorno regional, como o Visconde do Rio Branco, e entre os definidores de suas fronteiras atuais, como o seu filho, o Barão, já objeto de obras anteriores de Ricupero.
O Barão do Rio Branco, aliás, é um dos poucos brasileiros a ter figurado em cédulas de quase todos os regimes monetários do Brasil, e um dos raros diplomatas do mundo a se tornar herói nacional ainda em vida. Ricupero conhece como poucos outros diplomatas, historiadores ou pesquisadores acadêmicos a história diplomática do Brasil, as relações regionais e o contexto internacional do mundo ocidental desde o início da era moderna, professor que foi, durante anos, no Instituto Rio Branco e no curso de Relações Internacionais da Universidade de Brasília. Formou gerações de diplomatas e de candidatos à carreira, assim como assessorou ministros e presidentes desde o início dos anos 1960, quando foi o orador de sua turma, na presidência Jânio Quadros.
Uma simples mirada pelo sumário da obra confirma a amplitude da análise: são dezenas de capítulos, vários com múltiplas seções, em onze grandes partes ordenadas cronologicamente, de 1680 a 2016, mais uma introdução e uma décima-segunda parte sobre a diplomacia brasileira em perspectiva histórica. Um posfácio, atualíssimo, vem datado de 26 de julho de 2017, no qual ele confessa que escrever o livro foi “quase um exame de consciência... que recolhe experiências e reflexões de uma existência” (p. 744). Ricupero concluiu o texto principal pouco depois do impeachment da presidente que produziu a maior recessão da história do Brasil, e o fecho definitivo quando uma nova crise “ameaça engolir” o seu sucessor. O núcleo central da obra é composto por uma análise, profundamente embasada no conhecimento da história, dos grandes episódios que marcaram a construção da nação pela ação do seu corpo de diplomatas e dos estadistas que serviram ao Estado nessa vertente da mais importante política pública cujo itinerário – à diferença das políticas econômicas ou das educacionais – pode ser considerado como plenamente exitoso.
A diplomacia brasileira começou por ser portuguesa, mas se metamorfoseou em brasileira pouco depois, e a ruptura entre uma e outra deu-se na superação da aliança inglesa, que era a base da política defensiva de Portugal no grande concerto europeu. Já na Regência existe uma “busca da afirmação da autonomia” (p. 703), conceito que veio a ser retomado numa fase recente da política externa, mas que Ricupero demonstra existir embebido na boa política exterior do Império. A construção dos valores da diplomacia do Brasil se dá nessa época, seguido pela confiança no Direito como construtor da paz, o princípio maior seguido pelo Barão do Rio Branco em sua diplomacia de equilíbrio entre as grandes potências da sua época. Vem também do Barão a noção de que uma chancelaria de qualidade superior devia estar focada na “produção de conhecimento, a ser extraído dos arquivos, das bibliotecas, do estudo dos mapas” (p. 710). Esse contato persistente, constante, apaixonante pela história, constitui, aliás, um traço que Ricupero partilha com o Barão, o seu modelo de diplomata exemplar, objeto de uma fotobiografia que ele compôs com seu antigo chefe, o embaixador João Hermes Pereira de Araujo, com quem ele construiu o Pacto Amazônico, completando assim o arco da cooperação regional sul-americana iniciada por Rio Branco setenta anos antes.
O livro não é, como já se disse, uma simples história diplomática, mas sim um grande panorama de mais de três séculos da história brasileira, uma vez que nele, como diz Ricupero, “tentou-se jamais separar a narrativa da evolução da política externa da História com maiúscula, envolvente e global, política, social, econômica. A diplomacia em geral fez sua parte e até não se saiu mal em comparação a alguns outros setores. Chegou-se, porém, ao ponto extremo em que não mais é possível que um setor possa continuar a construir, se outros elementos mais poderosos, como o sistema político, comprazem-se em demolir. A partir de agora, mais ainda que no passado, a construção do Brasil terá de ser integral, e a contribuição da diplomacia na edificação dependerá da regeneração do todo” (p. 738-9). O paradigma diplomático já foi oferecido nesta obra; falta construir o da nação.

[Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 27 de setembro de 2017]


Don't panikiert, os que desejam comprar o livro. Podem fazê-lo nas boas livrarias ou encomendá-lo diretamente à editora, como abaixo: 
 http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/09/ricupero-livro-diplomacia-na-construcao.html

Bem, por enquanto, ficamos assim: 

Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandre e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram:
Que eu canto o peito ilustre lusitano,
A quem Netuno e Marte obedeceram!
Cesse tudo o que a musa antiga canta, que outro valor maior alto se alevanta!


Luis de Camões, Os Lusíadas, Canto I, estrofe 3

Pela transcrição: 
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 27 de setembro de 2017
 
 


 

Diplomacia lulopetista: a imagem do desastre - Editorial Gazeta do Povo

editorial Gazeta do Povo, 27/09/2017

A imagem do desastre

A diplomacia do PT destruiu uma tradição de equilíbrio, bom senso e excelência, perseguiu diplomatas não alinhados, abandonou interesses nacionais e apoiou regimes ditatoriais

http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/a-imagem-do-desastre-8y9imwbxdmy5jup8isxg59ea1

 
O embaixador Rubens Ricupero, um dos mais destacados diplomatas brasileiros, que ademais já foi ministro do Meio Ambiente e da Fazenda nos anos 1990, está lançando um novo livro, que se soma a seu prolífico legado como historiador e ensaísta. Na obra A diplomacia na construção do Brasil – 1750-2016, Ricupero analisa o papel da diplomacia brasileira na consolidação das fronteiras nacionais e na identidade da nação. Em entrevista à Folha de São Paulo, nesta terça-feira (26), o diplomata deu um diagnóstico certeiro sobre a atual imagem do país lá fora: “Ninguém quer sair na foto com o Brasil”. Esse derretimento da imagem brasileira no exterior, à semelhança da mais grave crise econômica da nossa história, é outra das heranças malditas do governo do Partido dos Trabalhadores.

O embaixador Ricupero até tenta contemporizar, bem no tom do diplomata experiente que é, elogiando algumas iniciativas do ex-presidente Lula e do ex-chanceler Celso Amorim, que esteve à frente do Itamaraty entre 2003 e 2010. Mas a verdade é que a diplomacia petista obliterou o Ministério das Relações Exteriores e fez terra arrasada de uma tradição de dois séculos de equilíbrio, bom senso e excelência, perseguindo diplomatas não alinhados, aparelhando descaradamente a máquina ministerial, abandonando interesses nacionais óbvios e apoiando financeiramente regimes ditatoriais. O Itamaraty, que sempre se orgulhara de fazer política de Estado, e não de governo, foi praticamente posto de joelhos pela sanha ideológica de uma diplomacia rasteira e nitidamente enviesada, estranha à vocação universalista do Brasil.
O Itamaraty foi posto de joelhos pela sanha ideológica de uma diplomacia rasteira e nitidamente enviesada
Ainda mais, o avanço da operação Lava Jato e de suas ramificações nos Judiciários estrangeiros está revelando que muito desse processo se deveu não só à cegueira ideológica e ao autoritarismo tacanho, mas deu-se às custas da mais desbragada corrupção. Aqui como lá os companheiros só faziam lambuzar-se nos recursos sofridos do contribuinte brasileiro, notadamente pelo financiamento do BNDES a obras de interesse duvidoso no exterior. Isso só foi possível por uma operação de marketing pedestre, que contou com a vista grossa de muitos formadores de opinião e observadores desaviados: “Esse é o cara!”, declarava o ex-presidente Barack Obama sobre Lula em 2009, para a jactância dos petistas que, à época, convenientemente se esqueceram do seu antiamericanismo atávico.
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Para ficar só no exemplo mais notável do completo naufrágio da diplomacia petista, a criação de 44 novas embaixadas entre 2003 e 2010 e a expansão dos quadros do Itamaraty sempre foram justificados pela necessidade de fazer comércio e estreitar laços com parceiros de grande potencial econômico, bem como para fortalecer a campanha pelo assento permanente do Brasil no Conselho de Segurança da ONU. Ilusão de ótica: o país continua alijado do centro do poder geopolítico e com a pauta comercial concentrada nos poucos parceiros tradicionais (China, Estados Unidos, Europa, Mercosul e Japão).
Leia também: Diplomacia que se apequena (editorial de 27 de julho de 2014)
Que grande campanha publicitária foi essa, que não deixa nada a dever às maquinações do marqueteiro João Santana? Da mesma forma que o desempenho econômico brasileiro nos anos 2000 era vendido como mérito exclusivo do PT, enquanto se menosprezavam a bonança internacional do período e o legado positivo da estabilização econômica dos anos 1990, o protagonismo externo era creditado exclusivamente ao messianismo do “lulo-amorismo”, desconsiderando a inserção delicada e bem-sucedida do Brasil na ordem internacional, com a adesão a uma série de regimes, como o de não proliferação nuclear e os de direitos humanos, além do início de uma integração responsável com a América do Sul. Plantou-se a mentira estratégica, colheu-se a desmoralização quase completa.
Ricupero cita a importância do Brasil em matéria agrícola e ambiental. Mas nenhuma das posições em que a diplomacia brasileira ainda tem relevo é mérito dos delírios de grandeza da diplomacia “altiva e ativa” de Amorim. A imprescindibilidade do Brasil nas negociações comerciais agrícolas, por exemplo, é fruto do dinamismo e da eficiência do setor agrário, que remonta pelo menos à criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa, em 1973. A centralidade nas discussões ambientais, por outro lado, deve-se ao fato de o país possuir a maior biodiversidade do mundo e uma das matrizes energéticas mais limpas do planeta, escolha política que antecede em muito o petismo. Mesmo as conquistas na proteção ao patrimônio natural da floresta Amazônica, que tanto se alardeia estarem em risco sob o governo de Michel Temer, começaram a degringolar ainda na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff.
O alto custo dessa trama macabra dos petistas no Itamaraty ainda será contabilizado por muito tempo. As dimensões do desastre são muitas e o próprio Ricupero reconheceu que “ninguém pode imaginar que o Itamaraty alavancará o Brasil se o país não acaba com a corrupção, não volta a crescer [e] não combate a miséria”. Mas não é só. Além de reformas de que o país precisa para retomar a estrada do crescimento sustentável e de punição exemplar, na forma da lei, para todos os corruptos que estenderam seus tentáculos sobre o Brasil desde 2003, será necessário garantir que nossa diplomacia seja resgatada – e ainda há diplomatas capacitados para tanto – e permaneça sempre como uma diplomacia de Estado. Não de governo, e muito menos dos companheiros.

http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/a-imagem-do-desastre-8y9imwbxdmy5jup8isxg59ea1?utm_source=gazeta-do-povo&utm_medium=box-lista&utm_campaign=mais-quente-dia

 

 

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Conselho de Relacoes Internacionais, em Sao Paulo - Rubens Antonio Barbosa (OESP, 26/09/2017)


CONSELHO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Rubens Barbosa
O Estado de S. Paulo, 26/09/2017

As relações internacionais e a politica externa são domínios pouco frequentados pelos políticos brasileiros, com as exceções de praxe.  A percepção é a de que trabalhar nessa área não dá voto e tem pouca repercussão interna. Mesmo no comercio exterior, são poucos os congressistas que estão acompanhando as politicas internas e a evolução das negociações internacionais.
Poucos se dão conta de que, com as transformações profundas por que passa o cenário global, praticamente desapareceu o limite que sempre existiu entre a agenda do que ocorre no mundo e a formulação e a execução da politica econômica e de comércio exterior doméstica.
Se o presidente Trump adotar medidas internas para proteger a indústria norte americana, as empresas industriais brasileiras que mantém comércio com aquele pais terão de se ajustar. As negociações de acordos de livre comércio podem demandar a alteração de normas legais internas, como estamos acompanhando com os mega acordos regionais, que estão criando regras e padrões que vão forçar os países a se ajustarem, se quiserem manter suas exportações. Decisão da Organização Mundial de Comércio questiona a política industrial brasileira nos setores automotriz e de informática e, caso o órgão de apelação em Genebra decida contra o Brasil, o governo vai ter de compatibilizar os subsídios, os incentivos e o apoio a pedidos de conteúdo nacional às regras multilaterais não discriminatórias. Tudo isso tem de ver com politica econômicas e industriais internas e com a geração ou a perda de empregos.
            São Paulo é a 19ª maior economia do mundo, a 2ª maior economia da América do Sul (atrás do Brasil) e a 3ª da América Latina, depois de Brasil e México. É o maior polo de atração de investimentos na América Latina e conta com a maior concentração de corporações multinacionais em todo o continente. Dentro desse contexto é difícil explicar a inexistência  de um forum representativo para discutir essas questões.
            Sua economia é a mais internacionalizada do Brasil. O Estado exportou US$ 52,6 bilhões em 2016, respondendo por 28,4% das exportações brasileiras e recebeu em 2015 cerca de 30% do fluxo de investimentos diretos no Brasil. São Paulo está inserido na economia global e é reconhecido por sua liderança econômica e por sua atuação internacional.
            A marginalização do Brasil no cenário internacional representa hoje um problema para as empresas que deve ser melhor examinado para encontrar formas de superá-la. Recuperar a projeção externa e reinserir-se nos fluxos dinâmicos do comércio exterior são alguns dos maiores desafios que a sociedade brasileira enfrenta. A presença brasileira nos fóruns internacionais, inclusive na área de comércio e meio ambiente, cria uma demanda interna para empresas e diferentes setores da sociedade que poderia ser atendida pela criação de um forum desse tipo.         
            Faltava no governo de São Paulo um forum consultivo que pudesse mobilizar diferentes setores – oficiais, empresariais, da sociedade civil – para discutir, do ponto de vista do interesse paulista, políticas na área externa e de comércio exterior.
Com uma visão atualizada das relações do Brasil com o mundo e até certo ponto com uma percepção que vai na contramão da ação dos políticos em nosso pais, o governador Geraldo Alckmin decidiu instituir o Conselho Consultivo de Relações Internacionais do governo do Estado de São Paulo, que hoje se instala e se reúne pela primeira vez. De maneira pioneira e com visão de futuro, a criação do Conselho é um reconhecimento da importância das relações internacionais para o desenvolvimento social e econômico do Estado.
Dentre suas atribuições, o Conselho deverá informar sobre as principais tendências nas relações internacionais; formular recomendações sobre o posicionamento do Estado de São Paulo no exterior visando a conciliar suas ações com os objetivos da Politica Externa Brasileira; propor uma estratégia para o Estado na área internacional na próxima década. O novo Conselho está integrado por representantes do governo estadual, empresários, especialista em relações internacionais e do meio acadêmico, sob a presidência do governador do Estado.
            Essa plataforma terá uma visão da inserção internacional do Brasil levando em conta a posição relativa preponderante do Estado, onde diversos subsistemas financeiro, manufatureiro, tecnológico, intelectual e migratório, que compõem o sistema econômico nacional, possuem centros nevrálgicos. Será importante agregar ao debate das relações internacionais e comércio externo do Brasil, propostas de ação próprias de São Paulo.
            O Conselho deverá firmar-se como um "locus" dentro do governo paulista para a discussão de temas relevantes para a comunidade empresarial e de todas os setores que tenham atividades na área externa.
Como no próximo ano São Paulo vai sediar o World Economic Forum latino-americano, o Conselho poderá dar uma contribuição importante assessorando o governo paulista na elaboração do programa e na escolha de personalidades para participar desse relevante evento. Esse é um dos exemplos em que o Conselho poderá dar subsídios para a sucesso de atividades internacionais organizadas pelo governo estadual.
A discussão de estratégias na área internacional para o Estado de São Paulo vai permitir um exame sobre a politica econômica, a politica industrial e a politica de comércio exterior para os próximos anos. Espera-se que o Governador Alckmin possa aproveitar a oportunidade da instalação do Conselho para se posicionar sobre os desafios internos e externos que terão influência na definição de políticas nas áreas prioritárias de atuação do novo colegiado.

Rubens Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE).




Em nota, Planalto ataca Ricupero e o chama de 'desantenado' - Nota do Planalto


Em nota, Planalto ataca Ricupero e o chama de 'desantenado'

Marlene Bergamo/Folhapress



O ex-ministro Rubens Ricupero concede entrevista à Folha em seu apartamento em São Paulo
DE BRASÍLIA, 26/09/2017 15h50
O governo do presidente Michel Temer atacou nesta terça-feira (26) o embaixador Rubens Ricupero e disse que ele está "desantenado" e fazendo "autopropaganda".
Em nota, o Palácio do Planalto criticou declaração feita pelo diplomata, em entrevista à Folha, de que deve ter pouca gente que queira atualmente sair ao lado do presidente em fotografias.
Segundo o embaixador, o oposto ocorria com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que durante seus dois mandatos era um "vitorioso".
"Ricupero parece saudoso de uma atuação espalhafatosa, que chamava muita atenção e não rendia frutos concretos. Ricupero se mostra desantenado, escondendo fatos e propagandeando falsidades para justificar suas afinidades eletivas", criticou o governo.
No documento, o Palácio do Planalto afirma que autoridades internacionais pediram audiências ao presidente em viagem aos Estados Unidos e que o diplomata "esconde o que é ruim e mostra o que é bom à sua autopropaganda".
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Leia a íntegra da nota:
O ex-embaixador Rubens Ricupero continua fiel à própria lei: esconde o que é ruim e mostra o que é bom à sua autopropaganda. Ele espalha que ninguém quer aparecer na fotografia com o presidente Michel Temer.
Aos fatos: em recente viagem a Nova Iorque, foram várias as audiências pedidas por chefes de Estado, inclusive o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, a quem Ricupero afirma não ter procurado o chefe de governo do Brasil.
Consulta ao site da Presidência da República mostrará reunião entre o israelense e o presidente Temer na semana passada. E mais imagens com Narendra Modi (Índia), Donald Trump (EUA), Xi Jinping (China), Shinzo Abe (Japão), Angela Merkel (Alemanha), Wladimir Putin (Rússia) entre outros.
Foram várias as visitas de Estado a convite ou pedidos de reunião bilateral ao presidente Temer. O Brasil hoje exerce a liderança do processo de negociação do Mercosul com a União Européia e com a Aliança do Pacífico. É integrante ativo e relevante do Brics, preside a CPLP.
A diplomacia do governo brasileiro prevaleceu em relação a situação da Venezuela, seguindo a tradição do diálogo e do respeito aos fundamentos da Declaração dos Direitos Humanos.
Ricupero parece saudoso de uma atuação espalhafatosa, que chamava muita atenção e não rendia frutos concretos. Ricupero se mostra desantenado, escondendo fatos e propagandeando falsidades para justificar suas afinidades eletivas.